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RESUMO
Buscou-se traçar uma análise concisa acerca do Direito a Imagem e do Direito de Arena no
ordenamento jurídico pátrio, face aos desafios do novel Direito Desportivo
*
* Mini currículo do autor(a) e endereço de e-mail.
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1 - INTRODUÇÃO
A inovação e criatividade humanas certamente nos trouxeram a uma nova era da
existência terrena. Contudo, a tecnologia faz surgir novas relações humanas, em velocidades
que não seriam imaginadas pelos pais do Direito Romano ou mesmo os jusfilósofos mais
notáveis do século XX. A imagem poderia ser conceituada como a estética de um indivíduo,
tudo aquilo que caracteriza esteticamente o ser. Nesse ínterim, surge a preocupação a respeito
da violação do direito à imagem. A rigor, o próprio conceito de imagem passa por uma
releitura.
Com a facilitação da transmissão de imagens e sons o homem moderno passou a ter
mais preocupação com a exposição de seus dados pessoais e com sua intimidade. Tornou-se
cada vez mais comum a violação dos direitos afetos a exposição da imagem própria.
Além disso, a imagem sofreu uma mudança em si mesma: tornou-se um bem. Um bem
passível de ser negociado. A imagem, agora convertida em coisa, passou a ser suscetível de
avaliação monetária, podendo ser objeto de posse, propriedade, cessão, transmissão e,
sobretudo, responsabilidade. O que antes era elemento intrinsecamente ligado a elementos da
honra e da intimidade, passou a perpassar quase todos os ramos do direito, notadamente o
Direito do Trabalho e no Direito Desportivo.
A Imagem possui seu aspecto moral, enquanto direito da personalidade, entretanto
também possui aspecto material, admitindo a exploração econômica de seu uso.
Tal direito sói ser confundido com outro, que também é fruto de novas relações
jurídicas criadas com a vida moderna, e deveras importante no âmbito do Direito Desportivo:
o Direito de Arena.
O Direito de Arena consiste na prerrogativa exclusiva das entidades desportivas de
negociar, autorizar ou proibir a transmissão ou a reprodução de imagens dos eventos
esportivos, e fundamenta-se no artigo 42 da lei Pelé, alterado pela lei 12.395/11.
1
DE FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Parte Geral e LINDB. 10ª Ed.
Salvador:Editora Juspodium.
3
6
Ibid, pág.327.
7
ARAÚJO, Luiz Alberto David. A proteção constitucional da própria imagem: pessoa física, pessoa jurídica e
produto. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p.39.
8
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Campinas: Bookseller, 2000. v.7. Pág.80.
9
MORAES, W., Direito..., v.443, p.72.
10
FACHIN, Antonio Zulmar. A proteção jurídica da imagem. São Paulo: Celso Bastos, 1999. p.65.
5
chamado “patrimônio moral” do indivíduo. Nesta última categoria, estaria inserido o direito à
imagem. Os críticos dessa corrente alegam que ela peca por usar conceitos próprios dos
direitos reais aos direitos de personalidade, causando, portanto, total inadequação científica.
Existem, ainda, teorias outras que colocam o direito a própria imagem como categoria
de direito à propriedade, como um direito autoral, ou mesmo como um direito à liberdade.
Tais teorias tem somente importância histórica, vez que nenhuma prosperou até os dias atuais.
Contemporaneamente, a doutrina especializada sobre o tema entende que o direito a imagem é
autônomo, sob a alegação que tentar enquadrá-lo em qualquer instituto jurídico preexistente
acarretaria dar a ele um enfoque limitado. A ideia-força de tal pensamento é a de que o
desenvolvimento de novas maneiras de capturar e utilizar a imagem terminaram por criar
novas relações jurídicas, que não podem ser enquadradas nas anteriormente conhecidas pelo
Direito. Deste modo, o direito a imagem tornou-se um dos pilares dos direitos de
personalidade, sob o prisma da proteção a integridade psíquica e moral do indivíduo
(FIGUEIREDO e FIGUEIREDO, 2016, pág. 308)11.
11
FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO, Roberto. Direito Civil, Parte Geral. 6ª ed. Salvador: Juspodivm,
2016
6
O Direito a Imagem encontra-se no rol dos direitos que possuem essas peculiaridades,
tendo guarida constitucional no artigo 5º, incisos V e X, bem como no artigo 20 do Código
Civil Brasileiro (CC/02). Tais dispositivos trazem a necessidade de autorização prévia do
titular para que a imagem possa ser veiculada. Observe-se que os Tribunais Superiores pátrios
tem o entendimento bastante consolidado no sentido de que a veiculação da imagem própria,
sem a devida autorização do seu titular, é fundamento suficiente para dano moral 12.
Os dispositivos legais, bem como sua interpretação doutrinária, trazem também a
necessidade de tal autorização ser autorizada por prazo determinado e para um fim específico,
vez que pela própria natureza desse direito, não seria possível pensar-se em uma disposição
perpétua da própria imagem, bem como seu uso para todo e qualquer fim.
A imagem do atleta profissional possui as mesmas características da imagem de
qualquer outra pessoa. Contudo, há que se fazer uma ligeira separação: a imagem profissional
e a imagem pessoal. A imagem profissional diz respeito àquela presente durante o exercício
da atividade. Já a imagem pessoal, esta diz respeito a vida íntima do atleta. Ao celebrar seu
contrato de trabalho, o atleta necessariamente cede à agremiação esportiva o direito de uso de
sua imagem, mas a imagem profissional. A prática do esporte, objeto do contrato de trabalho
do atleta, não é possível sem que essa cessão seja feita. Desse modo, pode-se concluir que o
contrato de trabalho do atleta é o instrumento de cessão de sua imagem profissional a
agremiação esportiva (SOARES, 2018, pág. 80).
Ressalte-se, contudo, que não há impedimento algum que o atleta negocie, em separado,
a sua imagem pessoal. De fato, atualmente essa prática é bastante comum, pois a renda do
esporte passou a não ser provinda exclusivamente do espetáculo desportivo, como também
pela comercialização de inúmeros outros produtos atrelados a atividade. Tal contrato, desta
maneira, não possui a natureza trabalhista, mas sim natureza cível, conforme dispõe a própria
legislação afeta ao tema13, apesar de haver muita jurisprudência em sentido contrário.
4 – DIREITO DE ARENA
O Direito de Arena é uma subespécie de Direito de Personalidade, mas de
fundamentação completamente distinta do Direito de Imagem. O Direito de Arena
fundamenta-se no pilar da integridade intelectual dos Direitos de Personalidade, no viés de
12
Súmula nº 403 do STJ: “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”.
13
A Lei nº 12.395/2011 incluiu o art. 87-A na Lei 9.615/98 (Lei Pelé), com a seguinte redação:
“Art. 87-A. O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste
contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato
especial de trabalho desportivo”.
7
um direito conexo de autor (SOARES, 2018, pág 99). Direitos conexos ao do autor podem ser
definidos como aqueles direitos que, de algum modo, estão entrelaçados e contíguos ao
Direito do Autor, mas com ele não se confundindo, pois decorrente de criação intelectual dele
distinta (SOARES, 2018, pág. 100).
Nesse contexto, a Lei 9.615/90 (“Lei Pelé”), conceituou o Direito de Arena como sendo
aquele pertencente “às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na
prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a
transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo,
de espetáculo desportivo de que participem”14. José Miguel da Costa Soares, em
preciosíssima lição, esclarece que é uma característica intrínseca da atividade do atleta exibir-
se em público e, portanto, o consentimento para a exposição de sua imagem profissional é
obrigatório, vez que necessário para o cumprimento de seu contrato de trabalho. Por esta
razão, o conjunto de todas as imagens profissionais dos atletas também não poderia pertencer
aos atletas, mas sim ao clube desportivo. Essa imagem coletiva é o Direito de Arena.
Oportuno relembrar que o artigo 52 do CC/02 15 terminou com as dúvidas que existiam a
respeito de as pessoas jurídicas serem titulares de Direitos da Personalidade.
Um ponto relevante para o tema é a questão de entender a natureza jurídica dessa verba,
se cível ou trabalhista. Em que pese ela ter sido entendida por muito tempo como de natureza
trabalhista, em vista de decorrer de um vínculo trabalhista (o próprio contrato de trabalho
entre atleta e agremiação desportiva), o artigo 42 da Lei nº 9.615/90, alterado pela lei nº
12.395/11, passou a dispor expressamente sobre a natureza cível da mesma. Em que pese a
disposição legal, ainda há bastante discussão acerca do tema na doutrina e na jurisprudência.
5 – CONCLUSÃO
Apesar da confusão que sói ocorrer nos tribunais brasileiros, notadamente tribunais
trabalhistas, o Direito de Imagem do atleta não se confunde com o Direito de Arena. São,
portanto, institutos distintos, que apesar de se situarem no campo dos Direitos da
Personalidade, encontram-se erigidos sobre pilares distintos, conforme a clássica lição de
Orlando Gomes (GOMES, 2007, pág 101)16.
14
Lei nº 9.615/98: Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na
prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a
retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que
participem.
15
CC/02. Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
16
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil.19ª ed.Rio de Janeiro:Forense, 2007
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REFERÊNCIAS
FACHIN, Antonio Zulmar. A proteção jurídica da imagem. São Paulo: Celso Bastos,
1999.
MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado. Campinas: Bookseller, 2000. v.7.
MORAES, Walter. Direito à própria imagem. Revista dos Tribunais, São Paulo, Ano 61,
v.443, 1972.