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IMAGEM,
Para uso exclusivo dos estudantes desta UC, Universidade do Minho, 2016.
ambiguidades e definições
“A imagem não é um conceito; ela prescreve uma das mais importantes formas
de organização da sociedade”.
Pierre Francastel
diversos, que se torna difícil circunscrever o seu âmbito e chamar para a discussão
deriva da raiz latina imitari, que significa reproduzir por imitação, do substantivo latino
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imago, ou seja, figura, sombra, imitação, o que traduz a ideia de analogia ou
significa tornar duplo e da raiz grega eikon (ícone retrato), mantendo aqui o conceito
que vemos nas águas ou à superfície dos corpos opacos, polidos e brilhantes e todas
as representações deste género1 (citado por Joly, 1999: 13). A imagem é concebida,
representaria por analogia. “Imagem” está pois ligada a noções como semelhança,
primeiro lugar, e ainda que apenas aos olhos de uma consideração ingénua ou
ou presente no acto de tal reprodução”. Assim, “a imagem não faria mais do que
‘aproximar’ de algum modo um objecto longínquo no espaço e/ou no tempo, (...) como
se existissem algures modelos verdadeiros que depois são copiados (e estas cópias
não poderiam ser senão exemplares empobrecidos desse modelo)” (1994: 177).
Bíblia que proíbe a fabricação de imagens e a adoração das mesmas. Neste sentido, a
imagem não é vista apenas como estátua (cópia análoga de alguém real ou não) mas
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Sublinhados próprios.
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já como ameaça, como se a imagem tomasse o lugar da coisa representada. Uma
discussão à volta da natureza divina destas está bem patente na “Querela das
enquanto representação, por analogia, por cópia, de entes divinos, enquanto que
iconoclastas receiam que a imagem funcione, por si, como um Deus, que ela adquira
vida própria, que seja auto-suficiente e autotélica, que não seja já a cópia, o objecto
segundo, que se separe do “corpo” que representa para se tornar ela própria o corpo.
substituam àquilo que representam. Esta ideia de substituição parece estar presente
um poder que, nos nossos dias, a imagem tornada omnipotente e omnipresente pela
(animal, vegetal, humano, água, fogo, etc.), o de se fazer coisa, ao tomar a aparência
visual da coisa. Esta ideia de poder ser tudo a partir da aparência visual aplica-se
utilizações parece justificar isto mesmo: “parece que a imagem pode ser tudo e
também o seu contrário – visual e imaterial, móvel e imóvel, sagrada e profana, antiga
1999: 27).
2 O termo é de M. Joly (1999: 26) que, no entanto, o utiliza para se referir à capacidade do termo imagem
ser utilizado para nos referirmos a quase tudo, e não pela capacidade da imagem de se substituir às
coisas reais, tal como o deus Proteu.
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chama a atenção Joly (1999), que, mesmo naqueles media, a fotografia, a pintura, o
desenho, a gravura e todos os meios de expressão visual coexistem. Por outro lado,
das origens das imagens. A imagem não surgiu com a televisão ou com a publicidade.
No início era a imagem. Ainda hoje podemos encontrar vestígios humanos, feitos nos
Aquela remissão para um objecto, a semelhança com o objecto, pode não ser
outro lado, e segundo o mesmo autor, na imagem reflectida no espelho de água: “não
imagem”, não são eliminados ou acrescentados elementos, isto é, não são tornados
espelhado são idênticos (Caprettini, 1994). Esta é a imagem especular, que requer a
isto é, uma ‘indicação’ visual em vez de discursiva de um objecto que está, pelo
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Assim, o termo imagem é também correntemente empregue para falar de
fenómenos que não têm propriamente uma existência representada: como as imagens
afirma Sartre (referido por Villafañe, 1996: 44): “o conteúdo não tem exterioridade no
caso da imagem mental”. Pode ainda falar-se, portanto, de “imagem” sem que esta
tenha nem mesmo uma existência física realmente visível: é o caso das
ainda as imagens oníricas. A imagem não é pois somente material e visual: segundo
Gervereau, uma vez que reconhecemos que imagem tem que ver com imaginário, ela
verbal quando se trata de uma metáfora ou descrição (Mitchell, 1986); este uso do
Refira-se ainda uma outra acepção do termo “imagem”, desta feita ligada às novas
síntese produzidas por computador, a máquina que se pode dizer que tem a
três dimensões).
Face a esta diversidade, Mitchell (1986) propõe-se tratar as imagens como uma
família cuja genealogia pode ser discutida numa árvore que integra cinco ramos:
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projecções), perceptuais (dados dos sentidos, formas sensíveis e aparências), mentais
descrições). Ainda assim, e apesar de este autor recusar a ideia de que tem
uniforme, “mas tudo isto pressupõe que para lá da diversidade dos usos e das
inúmeras acepções e utilizações da palavra “imagem”, pode dizer-se, com Joly, que
“ela designa algo que, embora não remetendo sempre para o visível, toma de
Perea, Villafañe (1996) aponta para uma classificação geral das imagens em naturais,
mentais e criadas, sendo estas últimas as únicas que permitem uma difusão massiva
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Mitchell afirma que o facto de se “chamar a todas estas coisas [pinturas, estátuas, ilusões ópticas,
mapas, diagramas, sonhos, alucinações, etc.] pelo nome da ‘imagem’, não significa necessariamente que
todas elas têm algo em comum” (1986: 9).
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Também segundo Gervereau (1997: 9), “a imagem existe em função de um receptor”; a palavra
“imagem” faz apelo “a uma correlação imediata com uma forma de representação naquela ou naquele
que a lê ou a ouve”.
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e, por conseguinte, que podem assumir-se como veículo de comunicação visual.
divulgação e podem ser categorizadas ainda, por exemplo, como fixas ou móveis.
Voltar-se-á mais adiante a estas categorias, sendo agora mais importante definir a
externa” (22), portanto, o permanente e invariável. A teoria do autor aponta para três
visual do mundo e implica, pois e antes de mais, uma percepção selectiva dessa
podendo agrupar-se em três tipos: morfológicos (ponto, linha, plano, textura, cor e
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Existe uma estreita ligação entre percepção e representação, sendo ingénuo,
segundo aquele autor, pensar numa representação surgida do nada. Mesmo que a
representação supõe, por seu turno, a explicitação de uma forma particular de tal
do seu grau de iconicidade, da sua natureza ou do meio que a produz” (30). A imagem
Caprettini (1994) quando afirma: “a imagem que, portanto, mantém, na base de uma
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Referências bibliográficas:
Alvarenga, A. (1993), A Imagem Fixa: Estudo das suas variáveis Visuais, Braga,
Universidade do Minho, CEFOPE.