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Design, Estética e Visualidade

Licenciatura em Ciências da Comunicação

Departamento de Ciências da Comunicação

2021/2022

Licenciatura em Ciências da Comunicação


3. IMAGEM, DESIGN E COMUNICAÇÃO VISUAL

- Natureza e conceções de imagem


 
- A teoria da imagem: elementos, realidade e representação

- Princípios da comunicação visual e sintaxe do visual

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3. IMAGEM, DESIGN E COMUNICAÇÃO VISUAL
 
- Natureza e conceções de imagem

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Religião judaico-cristã:

-a imagem foi alvo de prescrições e polémicas em torno da ideia de imitação e


semelhança - 3º mandamento dproíbe a fabricação de imagens e a adoração
das mesmas.

A imagem não é vista apenas como estátua (cópia análoga de alguém real ou
não) mas já como ameaça, como se a imagem tomasse o lugar da coisa
representada.

Uma religião monoteísta não poderia tolerar a adoração de outros deuses


(imagens).

A discussão à volta da natureza divina das imagens está bem patente na


“Querela das Imagens”, no séc. IV, no Ocidente.

Os iconófilos percebem a imagem tão somente enquanto representação, por


analogia, por cópia, de entes divinos, enquanto que iconoclastas receiam que
a imagem funcione, por si, como um Deus, que ela adquira vida própria, que
seja auto-suficiente e autotélica, que não seja já a cópia, o objecto segundo,
que se separe do “corpo” que representa para se tornar ela própria o corpo.
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Debate em torno das imagens - espelha já o medo de que estas se substituam
àquilo que representam.
Esta ideia de substituição parece estar presente na expressão “imagem-
proteu” (Joly, 1999).

Na Odisseia, Proteu, um dos deuses do mar, possuía um poder que, nos


nossos dias, a imagem tornada omnipotente e omnipresente pela tecnologia
também parece possuir: o de se substituir a todas as formas que desejasse
(animal, vegetal, humano, água, fogo, etc.), o de se fazer coisa, ao tomar a
aparência visual da coisa.

Esta ideia de poder ser tudo a partir da aparência visual aplica-se


curiosamente à própria noção de imagem.

A sua multiplicidade de significados e utilizações parece justificar isto mesmo:

“parece que a imagem pode ser tudo e também o seu contrário – visual e
imaterial, móvel e imóvel, sagrada e profana, antiga e contemporânea, ligada à
vida e à morte, analógica, comparativa, convencional, expressiva,
comunicativa, construtora e desconstrutora, benéfica e ameaçadora”
(Joly, 1999: 27).
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O senso comum concebe a imagem, essencialmente, como imagem mediática
e, muitas vezes, enquanto imagem televisiva ou de vídeo.

Porém, considerar que contemporaneamente as imagens por excelência são


aquelas, é esquecer, como chama a atenção Joly (1999), que, mesmo
naqueles media, a fotografia, a pintura, o desenho, a gravura e todos os meios
de expressão visual coexistem.

Por outro lado, se os indivíduos se habituaram já a identificar imagem com


imagem mediática, isto diz bem da hegemonia da imagem tecnológica e
aponta já para uma perda de memória das origens das imagens.

A imagem não surgiu com a televisão ou com a publicidade.

No início era a imagem.

Ainda hoje podemos encontrar vestígios humanos, feitos nos tempos mais
remotos, que utilizam processos de descrição-representação e que são
considerados os primeiros meios de comunicação humanos.
São imagens que imitam algo, que remetem para o seu objecto,
esquematizando visualmente.
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Aquela remissão para um objecto, a semelhança com o objecto, pode não ser
apenas parcial, pode restringir-se a algumas propriedades do objecto.

As imagens podem surgir naturalmente do objecto, como no caso da sombra


de algo, de uma imagem reflectida na água, (Caprettini, 1994) ou num espelho.

No entanto, estas parecem desprovidas de qualquer “valor ‘simbólico’, de


uma intenção deliberada de serem produzidas, de serem enviadas a
alguém com algum objectivo, de entrar, em suma, voluntariamente num
circuito comunicativo” (1994:179).

Esta é a imagem especular, que requer a presença do objecto, que


desaparece ao desaparecer o objecto reflectido. Não existe representação,
mas apenas reflexo e “podemos aperceber-nos da diferença entre a produção
de uma ‘cópia’ (ou reprodução) em presença do modelo e a ‘representação’,
isto é, uma ‘indicação’ visual em vez de discursiva de um objecto que está,
pelo menos materialmente, ausente” (1994: 183).

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O termo imagem é também correntemente empregue para falar de fenómenos
que não têm propriamente uma existência representada: como as imagens
reflectidas, as especulares, ou ainda as naturais.

As imagens naturais derivam da realidade visual e são resultado da


percepção retínica do objecto da realidade.

Como afirma Sartre (referido por Villafañe, 1996: 44): “o conteúdo não tem
exterioridade no caso da imagem mental”.

Pode ainda falar-se, portanto, de “imagem” sem que esta tenha nem mesmo
uma existência física realmente visível: é o caso das representações ou
imagens mentais – a impressão de se estar a ver um objecto ou ainda as
imagens oníricas.

A imagem não é pois somente material e visual

Segundo Gervereau, uma vez que reconhecemos que imagem tem que ver
com imaginário, ela tem a ver então com “o fugaz e o imaterial” (1997: 9).

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Joly:

Actualmente, utilizamos também termos como “imagem de si” ou “imagem de


marca”, quando pretendemos fazer alusão a operações mentais individuais ou
sociais, de carácter psicológico ou sociológico.

“Imagem” pode ainda ser verbal quando se trata de uma metáfora ou


descrição (Mitchell, 1986); este uso do termo está bem presente na expressão
“falar por imagens”.

Outra acepção do termo “imagem”, desta feita ligada às novas tecnologias.

Discutem-se hoje as “novas imagens” (Joly, 1999: 25), imagens de síntese


produzidas por computador, a máquina que se pode dizer que tem a
capacidade de tornar a imagem manipulável ao ponto de alterar a relação
entre o real e o virtual.

Exemplos destas imagens são os jogos de vídeo, as imagens interactivas (que


colocam o observador num universo virtual) ou os hologramas (imagens laser
em três dimensões).

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Face a esta diversidade, Mitchell (1986) propõe-se tratar as imagens como
uma família cuja genealogia pode ser discutida numa árvore que integra cinco
ramos:

-gráficas (pinturas e desenhos (“pictures“), estátuas e design),


-ópticas (reflexos e projecções),
-perceptuais (dados dos sentidos, formas sensíveis e aparências),
-mentais (sonhos, memórias, ideias, “fantasmas”) e
-verbais (como já foi referido, metáforas e descrições).

Ainda assim, e apesar de este autor recusar a ideia de que tem


necessariamente que existir algo de comum nas várias utilizações do termo
“imagem”, Mitchell aponta para um tronco comum enraizado em três conceitos:

-parecença (“likeness”);
-semelhança (“resemblance”);
-similitude (“similitude”).

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