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METZ, Christian. “Au-delà de l’analogie, l’image”. In Communications, Éditions du Seuil, 1970, pág. 1
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hodierna para ler imagens pressupõe que as tomamos desta forma. Acresce que, muito
embora o resultado final ou aparência dos ícones permaneça analógico, a tecnologia da sua
produção é eminentemente digital e, sem dúvida, o abandono ou mitigação da ideia de
analogia como característica determinante do signo visual (o ícone) ficou a dever-se ao
desenvolvimento das imagens computorizadas, cuja tecnologia de construção deixou de
poder definir-se, como acontecia no mito fundador de Plínio, como uma projecção de um
objecto sobre um plano. As novas imagens já não resultam de um real objectivável, mas de
um elevado nível de abstracção, o da linguagem de programação. E no entanto o resultado
final a que se chega continua frequentemente a perseguir uma vontade de semelhança e as
novas imagens, em grande parte dos casos, dizem-se realistas, mesmo hiper-realistas, e
disso parecem não querer afastar-se. O desejo de, na superfície, reencontrar a analogia,
parece ser assim uma motivação forte do digital, o que nos leva a pensar que ele se liga a
razões profundas, não essencialmente técnicas, mas de carácter psíquico: sendo a imagem
analógica, de há muito, dominante na nossa cultura, parece manter-se no visual uma
necessidade de certificação, e nas imagens a insistência na conservação de um elo
primitivo, como se elas mesmas não pudessem mais assegurar-se a partir do momento em
que entram em ruptura com o mundo.
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O que importa aqui realçar, também, é que a maioria das imagens/ícones contêm
relações arbitrárias e são formas de linguagem rica, onde interferem inúmeros códigos; isto
as diferencia de outros sistemas de significação muito especializados (como, por exemplo,
o dos sinais de trânsito), em que a distinção entre linguagem e código tende a anular-se.
Por outro lado, e a montante do sistema, conviria indagar a própria noção de
semelhança e o seu carácter construído e temporalmente marcado: “Só hoje
compreendemos porquê, há menos de um século, se destruíram os quadros de Cézanne e
Renoir, não só pelo insólito do seu estilo, mas porque, de facto, eles eram insultantemente
irreais.”2
Hoje em dia é a tecnologia digital que opera mudanças nos nossos modelos clássicos de
realismo e nas crenças a ele associadas, do mesmo modo que o cromatismo fotográfico o
havia feito já, alterando uma realidade anteriormente certificada a preto e branco. Instituída
do lado de quem vê, tanto ou mais do que do lado daquilo que é visto, a analogia depende
assim do inconsciente visual, do regime de olhar vigente, do momento histórico em que se
produzem as representações. Deste regime fazem parte as propriedades supostamente
intrínsecas das imagens, mas sobretudo as relações que com elas estabelecemos, sendo que
estas últimas são, inevitavelmente, social e culturalmente inscritas. Neste sentido,
poderíamos dizer que não há imagens, senão usos delas. Ao uso que delas fazemos estão
associadas todas as variáveis do receptor e, em particular, as suas expectativas. Há além
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ARNHEIM, Rudolf. Arte y percepción visual. 8ª ed. Alianza, 1989, pág.158
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disso, nas imagens, chaves textuais (trabalhadas por marcadores de modalidade como a cor,
a iluminação, a perspectiva ou a textura) que nos conduzem a aceitá-las como mais ou
menos dignas de confiança ou consideração, que lhes conferem a sua seriedade particular e
o seu valor. Este último é função das crenças e necessidades dos grupos sociais, por outras
palavras, é sempre um juízo social.
No modo como representam os seres, as coisas, os lugares e os acontecimentos, as
imagens estabelecem-nos como existentes ou não-existentes, como factos ou produtos da
imaginação ou ainda como caricaturas do real. Elas dizem-nos o que é verdadeiro ou falso,
mágico ou sagrado, fantasioso ou verosímil e, nesse sentido, constituem mecanismos de
legitimação do mundo e inserem-nos numa determinada relação com ele.