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CÓDIGO VISUAL

Abstract: Como noutros sistemas de representação, o sentido incorporado nas


imagens resulta de um processo de codificação. Neste caso, trata-se de sujeitar as regras
da percepção natural a esquemas de transformação, que podem ir desde a equivalência
(identidade) à total abstracção.

Apesar de conseguirmos decifrar de imediato certas imagens (ou certos níveis


delas), de um modo aparentemente espontâneo, é um logro pensar que a linguagem
visual é universal e que não precisa de ser aprendida. Mesmo a um nível muito básico
de leitura dos textos visuais, o domínio dos códigos pseudo-naturais resulta de um
processo sócio-ontogenético de desenvolvimento que requer condições para
desenvolver-se. Acima deste nível, e em todos os outros estratos de significação que nas
imagens se encaixam, é pertinente falar-se em alfabetização.

[Figura 1. Jean-Michel Basquiat, sem título, 1984]

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Os códigos intervenientes na linguagem visual são menos prescritivos que os
intervenientes na linguagem verbal, pelo que o leque de possibilidades sintácticas é,
naquele caso, maior, ou seja, a escrita visual possui um número quase ilimitado de
hipóteses compositivas para expressar o mesmo conteúdo. Estamos perante um sistema
dotado de uma grande flexibilidade e, por isso também, com um potencial polissémico
considerável.
O traço mais relevante da codificação visual prende-se com a dimensão espacial das
imagens: estas são percepcionadas como um todo (e não como uma cadeia de
sucessões) e diferenciam-se de outros sistemas, nomeadamente do verbal, por
estabelecerem um conjunto de relações espaciais e combinadas, num sistema a duas
dimensões.
De entre as inúmeras formas que as imagens podem tomar, os ícones destacam-se
como signos analógicos e motivados, contrastando com aqueloutros marcados pela
arbitrariedade. Mas os signos da imagem nem sempre são icónicos, pelo que as
convenções e a descontinuidade também nela se afirmam: um after-shave pode
significar desportivismo, uma lâmina de barbear sexualidade, o espaço sideral precisão
e rigor. Muito para além de uma mera análise denotativa, as imagens suscitam a
interpretação dos elementos que as integram e tornam-se capazes de exprimir alegria,
tristeza, serenidade, sedução, medo, desejo, frio, angústia ou prazer.
Há muito que os processos de codificação visual vêm sendo estudados: através da
trucagem, inserem-se numa fotografia elementos que não estavam presentes no
momento do registo

[Figura 2. Paul Higdon: Groucho e Rambo em Yalta];

2
a captação de um gesto ou a encenação de uma pose codificam também ao nível da
conotação; em publicidade, os objectos escolhidos para figurar numa cena visual
fornecem um contexto àquilo que se anuncia, sendo normalmente associados aos
sujeitos presentes na imagem e estabelecendo com eles uma relação emocional

[Figura 3. Schweppes, Ogilvy];

todos os aspectos de carácter gráfico e técnico (composição, enquadramento,


iluminação, cores utilizadas, focagem, angulação, efeitos de objectiva, etc.) são recursos
privilegiados de codificação

3
[Figura 4. Atlantis, 2003];

se estamos perante uma sequência de imagens, uma narração visual, é o modo como
se articulam nessa sequência, que condiciona a sua interpretação; em função do
tratamento que lhe é dado, a imagem pode ainda vincular-se a uma categoria
(documento, testemunho, manifestação artística), adquirir um estatuto, que igualmente
interfere no sentido que lhe outorgamos, ou porque o restringe, ou porque o
redimensiona, ao mesmo tempo que lhe confere um determinado valor.

CALADO, Isabel (2010) - Código Visual. In Dicionário Crítico de Arte, Imagem,


Linguagem e Cultura Aplicação interactiva disponível no Museu do Côa (Património
Mundial da Humanidade) e em www.arte-coa.pt.

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