Você está na página 1de 20

LINGUAGEM VISUAL -

MENSAGEM VISUAL
Autor: Ma. Eva Lacerda
Revisor: Aly David

[...]

Entendendo a Linguagem: Entre


o Real, Abstrato e Simbólico
Segundo o dicionário de língua portuguesa Michaelis (2020, on-line ),
uma definição do termo linguagem indica um “conjunto de sinais
convencionados que permitem a construção e a transmissão de
uma mensagem, apenas por aqueles que os conhecem; código”.
Outras definições para o termo envolvem a noção de sistema de
sinais e apontam para o objetivo comunicativo da linguagem.
Considerando as definições citadas, podemos entender a linguagem
como um sistema de códigos convencionados socialmente que tem
por objetivo central a comunicação, nesse sentido, a linguagem tem
um caráter estritamente social. Por exemplo, tratando-se da
linguagem verbal, é possível elencar uma multiplicidade de línguas
que correspondem à multiplicidade de culturas e etnias existentes
no mundo. Contudo, é relevante salientar que as linguagens não
necessariamente pressupõem um sistema de escrita, já que podem
ser estruturadas por meio de sinais, de sons, imagens e gestos além
dos signos. A linguagem do trânsito é um bom exemplo de como as
imagens, quando convencionadas socialmente, podem comunicar
uma mensagem. Observe a Figura 1.1:
Figura 1.1 - Sinais de trânsito
Fonte: Freepik.
Na Figura 1.1, é possível observar que nem todas as placas de
trânsito possuem algum tipo de escrita, contudo, são imagens que
são convencionadas como parte de uma linguagem e, portanto,
comunicam uma mensagem específica, direta e precisa como, por
exemplo, o aviso de animais selvagens na pista, de pedestres ou
ciclistas. Isso só é possível porque essa linguagem de imagens foi
convencionada socialmente, ou seja, todo motorista passa por um
treinamento para aprender a ler os códigos da linguagem de
trânsito, em que cada símbolo comunica uma mensagem específica.
Ou seja, as cores, linhas, o desenho das placas é padronizado como
uma série de códigos estruturados que comunicam uma mensagem
una, entendida por todos aqueles que sabem decodificá-la. Nesse
sentido, podemos compreender que as imagens, assim como as
palavras, também podem comunicar e passar uma mensagem.

O exemplo das placas de trânsito possibilita perceber que a imagem


pode ser linguagem quando convencionada socialmente para isso.
Assim, é preciso que haja uma “alfabetização” prévia para haver a
decodificação das mensagens comunicadas nesta linguagem. Mas
será que toda imagem produzida socialmente pode ser entendida
como uma linguagem? Toda imagem comunica? É possível ser
alfabetizado visualmente? Se as imagens possuem potencial
comunicativo e as artes visuais são uma forma de expressão por
meio de imagens, podemos considerá-la como uma linguagem?
Quem sabe ler arte? Essas são algumas das perguntas que podem
vir a sua mente ao definirmos o conceito de linguagem, mas para
entendermos a noção de linguagem visual, é preciso pensar este
conceito de uma maneira ainda mais ampla, isso porque a
linguagem visual possui particularidades que a diferem da
linguagem verbal ou a linguagem de símbolos altamente
estruturada e convencionada socialmente. É nesse sentido amplo do
termo linguagem que é possível pensar um conceito de linguagem
visual. Nos subtópicos a seguir, apresentamos algumas
possibilidades de respostas teóricas a essas perguntas.

Linguagem Visual: Uma


Construção Teórica sobre o
Potencial Comunicativo da
Imagem
Os estudos sobre os princípios e fatores comunicativos da imagem,
bem como seus efeitos sociais atravessam as áreas da semiótica,
artes, design , educação e linguística. A contemporaneidade cada vez
mais valoriza o sentido visual em seu estilo de vida, isso se faz
evidente tanto por um surgimento de uma cultura visual quanto
pelo desenvolvimento de ferramentas e tecnologias que nos
colocam em contato com um universo digital cuja as imagens
ocupam posição privilegiada na comunicação e interação entre
indivíduos. Os estudos que surgem em diversas áreas do
conhecimento que analisam a imagem, denotam o caráter social
que atravessam tanto os processos de elaboração de imagens,
como os de percepção das mesmas. É nesse contexto que as teorias
que defendem a ideia de uma alfabetização visual se
desenvolveram, objetivando a formação de criadores e de
receptores de mensagens visuais. Os estudos de Dondis (2003)
sobre a linguagem visual se amparam nessa noção de imagem
enquanto linguagem que comunica por meio de elementos
imagéticos.

Dondis (2003) destaca que o desenvolvimento do ícone, viabilizado


pelo sentido da visão, torna possível a superação dos demais
sentidos. Ou seja, se a criança antes percebia o mundo por meio do
olfato, da audição, do tato e das emoções, a visão passa a possibilitar
o reconhecimento de experiências vinculadas a esses sentidos a
partir do ícone. Para a autora, a importância do sentido da visão é
pouco percebida pelo indivíduo porque os processos fisiológicos
que envolvem o sentido da visão são naturais do homem e ocorrem
sem esforço, o que causa a falsa sensação de que ver é uma coisa
natural que não exige qualquer tipo de treino ou aperfeiçoamento.
Essa concepção de visão, como algo espontâneo, involuntário e
automático faz com que a ideia de se apreender a ver pareça
desnecessária, o que coíbe a busca pelo aprimoramento da
capacidade de ver.

Essa noção da imagem como algo natural ou neutro pode contribuir


para invisibilizar os aspectos social e comunicativo que atravessam
a produção e a percepção das imagens. A ideia de que as imagens
comunicam e tem intenção de comunicar pode ser observada desde
as mais antigas artes visuais produzidas na história. A função
comunicativa da arte é presente desde a arte paleolítica até as
pinturas renascentistas e demais movimentos artísticos. Essa ideia
pode levar a uma aversão à noção de arte como algo funcional,
porém, esse pensamento provém de uma falsa dicotomia entre
belas artes e artes aplicadas. Há uma concepção de senso comum,
que atribui às obras consideradas belas artes um status de objeto
não utilitário, cujo único objetivo é seu compromisso estético, ao
passo que as artes aplicadas estão irremediavelmente submetidas à
funcionalidade, noção originada na máxima “a forma acompanha a
função”. Contudo, a concepção de arte contemporânea transborda
essas fronteiras ao convergir artes, artes aplicadas e comunicação.
Há certamente um equilíbrio entre funcionalidade e forma mesmo
na arte produzida anteriormente a essa noção de arte
contemporânea.

Os afrescos de Michelangelo para o teto da Capela


Sistina demonstram claramente a fragilidade dessa falsa
dicotomia. Como representante das necessidades da
Igreja, o papa influenciou as idéias de Michelangelo, as
quais também foram, por sua vez, modificadas pelas
finalidades específicas do mural. Trata-se de uma
explicação visual da "Criação" para um público em sua
maior parte analfabeto e, portanto, incapaz de ler a
história bíblica. Mesmo que soubesse ler, esse público
não conseguiria apreender de modo tão palpável toda a
dramaticidade do relato. O mural é um equilíbrio entre
a abordagem subjetiva e a abordagem objetiva do
artista, e um equilíbrio comparável entre a pura
expressão artística e o caráter utilitário de suas
finalidades (DONDIS, 2003, p. 11).

O exemplo de Michelangelo denota que apesar da arte estar


atrelada a uma noção subjetiva estética, ela também possui uma
dimensão objetiva que por sua vez se apresenta como uma
funcionalidade comunicativa. Essa noção ambivalente de arte torna
inválida a oposição belas artes e artes aplicadas e torna possível
uma aproximação em direção à convergência entre as artes e a
comunicação.

Vamos Praticar
A definição de linguagem aponta para um sistema de códigos que
são convencionados socialmente e que variam de cultura para
cultura. Esse sistema de códigos tem como função central a
comunicação entre os indivíduos que dominam a linguagem e
estão aptos a fazer o processo de decodificação. Considerando
isso, assinale a alternativa correta a respeito das relações entre
linguagem e artes.
a) A noção de linguagem é restrita à escrita e à linguagem
verbal, portanto não abrange as artes.
b) Diferente das belas artes, as artes aplicadas se
apresentam como linguagem devido a sua dimensão
funcional.
c) c) A noção de linguagem abrange a escrita, a fala e a
língua de sinais, não havendo outras variações.
d) As artes visuais apresentam uma dimensão subjetiva e
objetiva que se expressa no seu fator comunicativo.
e) Por não possuir um sentido específico como as
palavras, as imagens não podem ser codificadas em
linguagem.

O papel do Alfabetismo e as
Linguagens
Compreender as artes como expressão dotada de capacidade
comunicativa social implica em focalizar a tríade que compõe os
processos artísticos: artista, obra e espectador. Olhar para além do
artista e a expressão materializada na obra, mas também para o seu
fruidor e como este percebe a obra. Neste tópico, vamos nos ater ao
terceiro agente dessa tríade e buscar compreender os processos de
recepção e treinamento da visão por meio do conceito de
alfabetização visual.

Como já mencionamos no tópico anterior, o conceito de linguagem,


entendido de maneira ampla pode abranger a linguagem imagética.
Na verdade, a própria linguagem fonética tem início com as imagens
e a capacidade de simbolização do homem. Um complexo processo
de pensamento por imagens se transformou paulatinamente em
abstração e conceitos que deu origem aos pictogramas e hieróglifos
que antecedem os sistemas escritos que se desenvolveram mais
tarde como pode ser observado na Figura 1.2.
Figura 1.2 - Hieróglifos Egípcios
Fonte: Julius Fekete / 123RF.
Neste sentido, podemos inferir que os processos de comunicação
escrita se originaram a partir da comunicação por imagens. Aos
poucos, esse processo levou ao desenvolvimento da linguagem
verbal e escrita, que imperou no mundo como superior à linguagem
visual. Hoje, podemos observar um movimento reverso em que a
linguagem visual vem ocupando cada vez mais espaço na
comunicação também sobre o pretexto de sua eficiência
comunicativa (DONDIS, 2003).

Contudo, o alfabetismo escrito ainda prevalece como forma central


de comunicação humana, basta pensar na quantidade de aulas que
são destinadas a disciplina de língua portuguesa nas escolas e o
espaço que as artes visuais ocupam no currículo escolar. A
comunicação escrita é tratada em nossa sociedade como forma
privilegiada de comunicação, oficializada como conhecimento
essencial em nossas instituições escolares. Vale destacar que a
linguagem verbal e a linguagem escrita são coisas bastante
diferentes, uma vez que é possível aprender a falar uma língua sem
dominar alfabetização do sistema escrito. Dessa forma, o processo
de alfabetização escrita implica em um aprendizado em etapas de
toda estrutura da escrita, isto é, primeiro aprendemos símbolos
abstratos que representam sons, quando são combinados
representam sílabas, formando palavras, frases e se ordenando em
uma estrutura complexa e bem delimitada por um longo processo
de condicionamento social em torno do sentido de tais símbolos.
Todo esse processo de ordenação que é feito por meio da
aprendizagem escolar ao longo de anos, faz a falta de ordenação e
convenção da linguagem visual parecer falha e limitada.

Considerando que a linguagem precisa ser estruturada em um


sistema de códigos convencionados socialmente, tal como ocorre no
processo de alfabetização da linguagem verbal escrita, é possível
falar em uma linguagem visual estruturada? No subtópico a seguir,
vamos buscar responder teoricamente esta questão à luz da
perspectiva de Dondis (2003).

Alfabetização Visual
A primeira questão que se impõe ao buscar elaborar uma noção de
alfabetização visual é a ideia de uma sistematização rígida dos
códigos da língua para que esta possa ser segregada em partes,
ensinada e aprendida e assim, convencionada socialmente.
Contudo, é preciso pensar nas diferenças entre a alfabetização da
língua escrita verbal e as especificidades que a linguagem visual
apresenta.

Reflita
É relevante salientar que há uma grande diferença entre a
alfabetização visual e a alfabetização verbal, uma vez que a lógica da
linguagem escrita é diferente: mais definida e estruturada do que a
linguagem visual. Nesse sentido, quando Dondis (2003) traz como
título de sua obra sobre os estudos de análise das estruturas e
elementos visuais, Sintaxe da linguagem visual , é importante
entender que o termo linguagem possui uma definição distinta da
ideia de linguagem escrita enquanto sistema de códigos
convencionados socialmente, uma vez que admite a imprecisão na
“leitura” dos códigos visuais e a falta de uma estruturação formal
dessa “língua”. Fonte: Dondis (2003).

Uma das principais diferenças entre as duas formas de linguagem


está no caráter específico e restrito da língua verbal em relação à
universalidade da linguagem visual. Isto é, enquanto a língua verbal
varia de forma contundente de cultura para cultura e de uma língua
para outra, a linguagem visual apresenta um caráter abrangente que
apresenta pouca variação cultural.

Existe, porém, uma enorme importância no uso da


palavra "alfabetismo" em conjunção com a palavra
"visual". A visão é natural; criar e compreender
mensagens visuais é natural até certo ponto, mas a
eficácia, em ambos os níveis, só pode ser alcançada
através do estudo (DONDIS, 2003, p.16).

Neste sentido, alfabetismo visual está relacionado com a noção de


que é possível treinar o olhar, ver é natural, porém, compreender as
mensagens visuais requer uma alfabetização da visão. Contudo, é
necessário fazer uma ressalva, a comunicação visual de fato não foi
estruturada socialmente de maneira tão específica como a
linguagem escrita e verbal, isso porque o mito da visão natural e
passiva e a valorização da comunicação escrita fez com que nossas
instituições de ensino não se ocupassem em convencionar um
sistema visual e treinar o olhar. Assim, o entendimento da
comunicação visual foi deixado de lado em prol de uma ideia de que
ao universo das imagens cabe a noção de intuição, subjetividade e
gosto pessoal e não do esforço da compreensão, do treino do olhar
e da percepção dos elementos visuais como comunicadores. Dessa
forma, podemos afirmar que as imagens e a visualidade não
dispõem de ordenações, sistemas de normas e metodologia tal qual
possui a linguagem escrita, essas diferenças entre linguagens não
devem ser ignoradas, mas é possível falar em uma abordagem de
alfabetização visual.
A sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação de
composições. Há elementos básicos que podem ser
aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos
dos meios de comunicação visual, sejam eles artistas ou
não, e que podem ser usados, em conjunto com técnicas
manipulativas, para a criação de mensagens visuais
claras. O conhecimento de todos esses fatores pode
levar a uma melhor compreensão das mensagens
visuais (DONDIS, 2003, p.18).

Nessa perspectiva, o alfabetismo visual está relacionado com os


estudos e análises dos elementos que compõem a linguagem visual
de forma a tornar viável o entendimento de algumas premissas
básicas na elaboração de mensagens visuais e sua interpretação. É
nesse sentido que a teoria de Dondis (1997) entende uma possível
abordagem de uma alfabetização visual.

Vamos Praticar
Leia a citação a seguir.

“A linguagem ocupou uma posição única no aprendizado humano.


Tem funcionado como meio de armazenar e transmitir
informações, veículo para o intercâmbio de ideias e meio para que
a mente humana seja capaz de conceituar” (DONDIS, 2003, p. 14).

DONDIS, A. Sintaxe da linguagem visual . 2. ed. São Paulo:


Martins Fontes, 2003.

A respeito desse assunto, assinale a alternativa correta sobre as


relações entre linguagem verbal e informação visual.

a) A linguagem visual ocupa espaço privilegiado em nossa


sociedade, fato que pode ser observado pela sua valorização
nas instituições de ensino.
b) O alfabetismo visual pode ser feito da mesma maneira
como ocorre o alfabetismo da linguagem verbal, já que
ambos envolvem processos semelhantes.
c) Devido a sua alta codificação e complexidade
estrutural, a linguagem verbal e escrita tende a ser mais
universal do que as informações visuais.
d) A imagem originou as primeiras formas de escritas,
conhecidas como pictogramas e hieróglifos que
posteriormente se estruturaram em códigos escritos.
e) A noção de alfabetismo visual está relacionada com a
ideia de que a linguagem visual apresenta uma codificação
ordenada, estruturada e convencionada socialmente.

Princípios e Fundamentos da
Mensagem Visual
A partir dos estudos realizados nesta unidade até aqui, podemos
observar que o conceito de linguagem verbal possui diferenças em
relação a ideia de uma linguagem visual. Enquanto a linguagem
verbal tem função comunicativa estruturada em códigos
convencionados, a informação visual também possui potencialidade
comunicativa mas não é ordenada e codificada da mesma maneira
que a linguagem falada, o que a torna mais universal e abrangente.
Nessa perspectiva, também discorremos sobre uso do termo
alfabetização visual fazendo um contraponto com a ideia de
alfabetização verbal e pontuando suas diferenças. Agora que você já
estudou algumas noções básicas para entender sob qual ponto de
vista a ideia de uma linguagem visual e uma abordagem de
alfabetização visual pode ser entendida, neste tópico, você vai
conhecer alguns princípios e fundamentos básicos para o estudo da
mensagem visual.

A abordagem teórica de Dondis (2003) identifica três dimensões da


mensagem visual: a individual, chamada pela autora de input , a
representacional, e a abstrata.
Input
A dimensão do input está relacionada a sistemas de símbolos que
representam objetos, ações, sentimentos etc. A definição de símbolo
pode compreender representações que são detalhadas e complexas
e vinculadas visualmente ao objeto que representa até símbolos que
são abstratos e não apresentam nenhuma relação direta
representacional de seu significado, tendo assim a necessidade de
convencioná-los socialmente, ou seja, a aprendizagem de símbolos
abstratos é semelhante a aprendizagem de uma língua.

Nível Representacional
Enquanto o input está relacionado aos símbolos, o nível
representacional tem relação com a o caráter direto da imagem.
Dondis (2003) argumenta que é possível conhecer e compreender
conceitos por meio de imagens sem a necessidade de um sistema
de codificação que intermedeie o processo, como é o caso da escrita.
Por mais que o sistema de códigos escritos seja eficiente para
explicar uma ideia, muitas vezes, ver uma imagem permite um
entendimento direto e rápido do que se fala, esta capacidade
perceptiva possível por meio da imagem, é o que Dondis (2003)
compreende como nível representacional associado ao caráter
imediato, ou seja, sem intermediários, da comunicação por meio da
informação visual. Observe o exemplo a seguir que refere-se aos
conceitos de igualdade e equidade na Figura 1.3.
Figura 1.3 - Informação visual e informação textual
Fonte: Elaborada pelo autor.
No primeiro caso, temos uma imagem ilustrativa de um modelo que
busca representar o conceito visualmente, no segundo caso o
mesmo conceito é apresentado de maneira escrita. Neste exemplo,
é possível observar que a mesma informação pode ser comunicada
em forma visual ou escrita, mas que as formas como percebemos
cada mensagem é distinta. A imagem tende a ser mais imediata e
direta por não necessitar do processo intermediário de
decodificação.

Nível Abstrato
Por fim, o último nível destacado por Dondis (2003) trata da
dimensão abstrata da mensagem visual. Essa dimensão aponta para
a ideia de que os significados e as mensagens visuais estão
amparadas não somente nos elementos visuais e seus sentidos, mas
na forma como eles compõem um todo. Assim, tem relação com o
estudo das características dos elementos visuais com ênfase nas
estratégias de combinações desses elementos para a formação de
uma composição que comunica.

Em todos os estímulos visuais e em todos os níveis da


inteligência visual, o significado pode encontrar-se não
apenas nos dados representacionais, na informação
ambiental e nos símbolos, inclusive a linguagem, mas
também nas forças compositivas que existem ou
coexistem com a expressão factual e visual (DONDIS,
2003, p.22).

Dessa forma, a mensagem visual deve ser considerada não pelos


significados isolados dos seus símbolos, mas pelo seu sentido tendo
em conta a composição e ordenação dos seus elementos enquanto
um todo.

A mensagem visual deve ser entendida assim como um conteúdo


ordenado que deve ser analisado considerando seus elementos
mais básicos e buscando entender como estão ordenados e
organizados a fim de causar efeitos e sentidos enquanto
composição. Esses elementos básicos que constituem as
mensagens visuais são seus elementos mais simples como o ponto,
a linha, a forma, a direção, a cor, o tom, a textura, a escala, a
proporção, a dimensão e o movimento.

Vamos Praticar
Observamos até aqui como a imagem possui um potencial
comunicativo capaz de compartilhar mensagens visuais por meio
da ordenação dos elementos básicos da linguagem visual, como o
ponto, a linha, o plano, a forma, a cor e a textura. Dondis (2003)
destaca o nível representacional argumentando que a imagem
possui um caráter direto, que, ao contrário da escrita, não
necessita de uma prévia codificação para o seu entendimento. O
texto a seguir descreve uma obra do Modernismo Brasileiro
chamada Abaporu, da artista Tarsila do Amaral. Após ler o texto,
pesquise a imagem da obra Abaporu e faça um paralelo entre a
obra e a capacidade de comunicar a mesma mensagem do texto
escrito.

Descrição da obra: O quadro apresenta uma figura com pés


imensos, sentada em uma planície verde, o braço dobrado num
joelho, a mão sustentando a cabecinha minúscula. Em frente dessa
figura, há um cactus e também o sol, representado por um círculo
amarelo entre a figura, o cactus e o céu azul. A impressão que dá é
que Tarsila, em sua obra, valorizou o trabalho braçal (corpo
grande) e desvalorizou o trabalho mental (cabeça pequena), pois
era o trabalho braçal que tinha maior impacto naquela época.

Agora é sua vez! Escolha uma obra que você goste e descreva-a por
meio da escrita. Ao final, reflita sobre as principais diferenças entre
as duas formas de comunicar mensagens: imagem e texto.

Percepção e Comunicação Visual


Vimos até aqui como os três níveis dos dados visuais funcionam por
meio de suas definições. Assim, sabemos que os três níveis
interagem entre si e as soluções visuais são possíveis por meio de
uma infinidade de técnicas que vão materializar a mensagem visual
e conectar intenção e objetivo em uma imagem. E a maior
ferramenta do criador visual para elaborar uma imagem que
comunique uma ideia específica é a composição, a organização e
ordenação dos elementos visuais básicos da imagem. Como a
informação visual difere-se da estrutura ordenada rigidamente da
linguagem verbal, a ideia de comunicar uma informação precisa cujo
sentido seja compartilhado torna-se uma tarefa desafiadora.
Portanto, pensar numa comunicação visual é compreender como a
composição e ordenação dos elementos visuais podem ser
percebidos pelo espectador. Neste sentido, o estudo da percepção
se torna fundamental, considerando especialmente os fatores que
são percebidos de maneira padrão pelo organismo humano.

Dessa forma, é relevante salientar a diferença de processos na


comunicação visual: o primeiro fator é o processo de comunicar, por
meio da elaboração de um objeto visual, uma mensagem
intencionada na forma como o designer ou artista dispõe os
elementos na imagem, outro fator, é como estes elementos são
percebidos. A percepção está ligada a dois mecanismos: um
mecanismo fisiológico e outro neurológico. O mecanismo fisiológico
tem relação com a forma pela qual captamos informações
exteriores por meio dos olhos, ou seja, pela captação da luz. A Figura
1.4, a seguir, apresenta a anatomia do olho humano com alguns dos
mecanismos que possibilitam a captação da imagem.

Figura 1.4 - Anatomia do olho humano


Fonte: Blueringmedia / 123RF.

saiba mais
Nossos olhos tem a capacidade de abranger uma visão periférica
de cerca de 180º. O mecanismo fisiológico da visão é composto por
uma íris que funciona como uma espécie de diafragma que
delimita a intensidade de luz que entra nos olhos e atinge a retina.
Você pode saber mais sobre como funciona o mecanismo
fisiológico do olho humano no vídeo Olho humano, a super
máquina.

Fonte: Pedrosa (2012).

Já o mecanismo neurológico está vinculado com a forma como


interpretamos, percebemos e compreendemos essas informações.
Nesse sentido, a teoria da Gestalt tem analisado a percepção das
coisas em direção a uma forma padrão de percepção humana.
Pesquisas vêm explorando aproximações entre os estudos da
percepção na área da psicologia e nas artes visuais e design ,
aplicando a teoria da Gestalt para pensar como a percepção
humana entende os elementos da linguagem visual e como estes
estudos podem contribuir para criadores de imagens e para o
desenvolvimento da leitura visual. O próprio termo Gestalt tem
sentido de “integração de partes em oposição à soma do ‘todo’”
(GOMES, 2009, p.18).

A Gestalt foi fundada no final do século XIX, vinculada à universidade


de Frankfurt, como uma escola de psicologia experimental cujo
precursor foi Von Ehrenfels e, mais tarde, teve destaque com Max
Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Teve destaque nos
estudos da percepção, fazendo experimentações que buscam
rebater a ideia de subjetivismo e busca compreender padrões de
percepção no que diz respeito à forma, ou seja, busca compreender
porque determinadas formas e composições são preferidas pela
percepção humana do que outras. Para isso, “[...] a psicologia da
forma se apóia na fisiologia do sistema nervoso, quando procura
explicar a oposição sujeito-objeto no campo da percepção” (GOMES,
2009, p.18). Por isso, a teoria da Gestalt teve relevância para os
estudos da imagem no campo das artes e design.

A teoria da Gestalt se apoia na ideia de que a percepção da imagem


acontece de maneira total e não parcial no cérebro humano. As
partes são percebidas dentro do todo e a sensação que causam são
influenciadas por este todo. Em outras palavras, essa teoria da
percepção entende que não é possível enxergar as partes
separadamente e independente do todo, pois nossa percepção é
global. Observe a Figura 1.5, nela os dois círculos centrais possuem
o mesmo tamanho, porém, temos a impressão de que o círculo da
esquerda é maior do que o círculo central da direita devido à
percepção do todo da imagem.
Figura 1.5 - Inter-relação entre o todo e as partes
Fonte: Elaborada pelo autor.
A teoria da Gestalt tem como premissa que todas as percepções
estão integradas ao sistema fisiológico do cérebro. Esse sistema
nervoso busca ordenar e organizar de maneira coerente as
informações visuais e formas, fator que explica a espontaneidade
como a preferência de determinadas composições e uma
padronização nos processos de percepção humanos, já que derivam
de um sistema cerebral comum aos indivíduos.

Vamos Praticar
As imagens são carregadas de mensagens visuais, que tem, assim
como a linguagem, um potencial comunicativo. Assim como no
caso da linguagem verbal, há um emissor da mensagem e um
receptor que precisa estar hábil a compreendê-la.

Considerando os fatores que envolvem a comunicação visual,


assinale a alternativa correta.
a) A percepção visual das imagens é semelhante a
interpretação textual, compartilhando com esta, um grau de
exatidão.
b) A percepção visual, no entendimento da mensagem
visual, está relacionada com fatores fisiológicos e
neurológicos.
c) Considerando que a linguagem visual é imprecisa e
sem ordenação estruturada, a percepção visual é sempre
subjetiva.
d) Os fatores que envolvem o processo de comunicação e
percepção visual são: intencionalidade e objeto visual criado.
e) Para que uma mensagem visual seja compreendida é
necessário que artista e espectador compartilhem um
mesmo contexto social.

conclusão
Conclusão
Caro(a) estudante, chegamos ao fim dos estudos da Unidade I. A
partir das leituras e exercícios feitos até aqui, você pôde conhecer
algumas abordagens teóricas sobre o estudo dos elementos da
linguagem visual. Para isso, discutimos o conceito de linguagem e
suas semelhanças e diferenças em relação à comunicação visual.
Apresentamos algumas questões relevantes para pensar o treino do
olhar e alfabetização visual, considerando a ideia de uma
aprendizagem voltada para as estruturas dos dados visuais. Além
disso, foi possível compreender alguns fatores básicos que
compõem as mensagens visuais, como os níveis input , nível
representacional e o nível abstrato, bem como fatores relativos a
como as imagens são percebidas pelo espectador e como os
estudos relacionados a esse processo contribuem para pensar uma
sintaxe da linguagem visual.
Referências
Bibliográficas
DONDIS, A. Sintaxe da linguagem visual . São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

GOMES, João Filho. Gestalt do objeto: Sistema de leitura visual da


forma. São Paulo: Escrituras, 2009.

LINGUAGEM. Michaelis, dicionário brasileiro de língua


portuguesa . Disponível em:
https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/linguagem. Acesso em: 07 abr. 2020.

PEDROSA, Israel. O universo da cor . Rio de Janeiro: Senac Nacional,


2012.

Você também pode gostar