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EDUCAÇÃO FINANCEIRA PARA ADOLESCENTES

Volume I – Vida Durante O Ensino Médio

MARCELO MACIEL

Criador do canal BATMONEY

Texto por Marcelo Maciel © 2020

Ilustração: Natália Coelho

Todos Os Direitos Reservados


AGRADECIMENTOS

Agradeço a produção deste livro à toda comunidade Bastter.com e, principalmente, ao Bastter,


por me ensinar tudo que sei sobre educação financeira e demais conceitos dentro de sua filosofia:
auto-capacitação, motivação para sempre ser melhor e poder ajudar ao próximo. Presto meus
agradecimentos à minha esposa Ana Luiza por todo apoio; e por ter me dado o melhor presente que
um homem pode ganhar: meus dois filhos, Mateus e Gustavo.
DEDICATÓRIA

Dedico este livro ao meu filho Mateus (25/11/2018 – 01/12/2018) que, em apenas 06 dias de
vida, me ensinou o que é amar, o que é sofrer, o que é lutar pela vida, o que é fracassar. Me ensinou
que as coisas não estão sob nosso controle e que a vida é, de fato, muito curta. Mateus me mostrou
que devemos lutar por aquilo que desejamos enquanto temos força e saúde, a fim de aproveitar os
bons momentos da vida perto daqueles que amamos. O resto é resto.
SOBRE O AUTOR

Marcelo Maciel, nascido em Brasília/DF, é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade de


Brasilia – UnB. Atualmente, trabalha na Controladoria-Geral do Distrito Federal no cargo de Auditor
de Controle Interno.

Atuante do mercado financeiro desde 2010. Tornou-se Educador Financeiro em 2018,


desenvolvendo métodos para que o pequeno investidor amador alcance a independência financeira,
de forma tranquila, através de investimentos nas bolsas de valores brasileira e internacional.

É criador do canal BATMONEY no youtube.

Desde 2019, é moderador da área de línguas (#VAILÁEFALA) da bastter.com.


Sumário
PREFÁCIO......................................................................................................................................7

CAPÍTULO I - ESCOLA ................................................................................................................... 10

CAPÍTULO II - REGIMES DE PREVIDÊNCIA ...................................................................................... 18

CAPÍTULO III – POR QUE POUPAR? ............................................................................................... 35

CAPÍTULO IV – AS DIMENSÕES DO DINHEIRO ................................................................................ 39

CAPÍTULO V - AS ARMADILHAS DE CONTRAIR DÍVIDAS .................................................................. 46

CAPÍTULO VI - O QUE É INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA ................................................................... 53

CAPÍTULO VII – INVESTIMENTOS: NOÇÕES BÁSICAS ...................................................................... 59

CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 82

PÓSFÁCIO ................................................................................................................................... 85
PREFÁCIO

A motivação que me fez escrever esse livro pode ser dividida em duas:

1 – Oportunidades de emprego a quem tem apenas o ensino médio.

O ciclo “natural” intelectual/educacional das pessoas brasileiras segue o seguinte fluxo: Ensino
Fundamental, Ensino Médio, Graduação, para depois buscar o primeiro emprego. Isso é o que,
provavelmente, todos os pais desejam a seus filhos: que eles cursem uma boa faculdade antes de
entrar no mercado de trabalho. Mas, é claro que há inúmeros postos de trabalho que não exigem um
curso superior. Principalmente, com o avanço da tecnologia, internet, informática.

Além disso, há diversos motivos que determinada pessoa decida não cursar a universidade e
entre no mercado de trabalho, logo após a conclusão do ensino médio:

. não obteve êxito em uma universidade pública e não tem condições financeiras de pagar uma
faculdade particular;

. desejo de trabalhar em um área que não necessita de curso superior. Exemplo: Cabeleireiro,
Comerciante, Técnico de Telecomunicações, Jogador de Futebol, etc;

. necessidade de uma renda mais imediata para ajudar os pais nas despesas de casa;

. trabalhar e cursar a faculdade ao mesmo tempo.

Diante dessa situação, você (adolescente, jovem) que cursa o Ensino Médio já precisa dos
conhecimentos sobre Educação Financeira que serão tratados neste livro. Porque, assim que você
obtiver seu diploma (de Ensino Médio), já poderá ingressar no mercado de trabalho e começar a
obter renda. A partir do momento que você passar a obter renda, você já precisa planejar sua vida
financeira.

A primeira motivação resume-se a isso: que o jovem que ingressou no mercado de trabalho –
independente dele estar cursando uma universidade ou não - já tenha conhecimento suficiente para
saber que deve-se gastar menos do que ganha; não contrair dívidas; e poupar parte da renda mensal.
Essa é a fórmula simples de construir o caminho rumo à tranquilidade financeira1.

2 – Aprender sobre as armadilhas financeiras existentes no mundo

Nesse tópico, o objetivo é que você aprenda dois assuntos: a) saber identificar golpes financeiros
praticados por aproveitadores, estelionatários2, fraudadores, etc. b) saber como funciona a bolsa de
valores3.

Mas, Marcelo.....não é muito cedo para um adolescente aprender sobre como funciona o
mercado acionário (bolsa de valores)? Não. Sabe por quê? Porque a bolsa de valores é um ambiente
que permite a apresentação de ideias ilusórias de enriquecimento rápido; em que o investidor
inexperiente e desavisado acredita que pode ficar milionário em apenas alguns anos. Golpes,
esquemas financeiros serão apresentados a esses jovens. Cada dia que passa uma nova fraude
financeira é inventada, procurando novas vítimas. O adolescente que forma-se no Ensino Médio já
deve estar preparado para isso.

Qual a chance de um jovem de 16 anos escrever no Google: “como ficar rico rapidamente”? Ou
ainda: “como ganhar dinheiro sem trabalhar”? Essa pesquisa gera aproximadamente 4,5 milhões de
resultados. A grande maioria dos artigos apresentados são “receitas de bolo” elaboradas por blogs e
sites de investimentos, consultores financeiros e analistas/especialistas em mercado financeiro.
Todos apresentam a fórmula mágica do passo a passo de como ficar rico, rapidamente; salvo raras
exceções. Isso atrai o jovem a entrar no mercado financeiro de forma errada. A bolsa de valores é

1
O conceito de tranquilidade financeira não é objeto dessa obra. Ele será explicado no livro Volume II. No
Capítulo VI, o conceito de independência financeira será explicado. Considere que Tranquilidade Financeira é
um conceito mais amplo, em que a independência financeira faz parte.
2
Estelionatário: aquele que usando de má fé, burla a confiança de outrem, com finalidade de usufruir - por
meios fraudulentos - valor financeiro, em prejuízo material e danos morais de outrem. Uma determinada
pessoa, apresenta-se como profissional em determinada área, levanta valor financeiro, para efetuar
determinado trabalho, e não cumpre o prometido.
3
Bolsa de Valores: mercado organizado onde se negociam ações de empresas de capital aberto. As ações
representam a menor fração do capital social de uma empresa, ou seja, é o resultado da divisão do capital
social em partes iguais. Capital social é o investimento dos donos na empresa, isto é, o patrimônio da empresa.
uma ferramenta muito poderosa para o alcance da independência financeira; mas pode ser uma
“arma” perigosíssima para quem quiser aventurar-se na busca do enriquecimento rápido.

Em resumo, você (leitor) irá aprender que:

. como ganha-se dinheiro? Com trabalho, e para isso é necessário estudar, criar, inovar e investir
na sua capacitação.

. como fica-se rico? Poupando, e para isso é necessário educação financeira.


CAPÍTULO I - ESCOLA

“Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância.”

Derek Bok

Será que alguém lembra o nosso primeiro dia na escola? Provavelmente, não. Nós éramos muito
pequenos; nossos pais nos colocam na escola desde muito cedo. Ela é a base de tudo. É lá que iremos
desenvolver nossas primeiras habilidades: falar, memória, ler e escrever, cálculo mental e as
habilidades básicas do pensamento. Na escola, também serão apresentados os valores inerentes ao
ser humano: ordem, sinceridade, obediência, generosidade, justiça, companheirismo,
responsabilidade, trabalho.

Porém, a educação deve ser complementada dentro de casa. Alguns desses valores aprendidos na
escola serão também ensinados pelos pais, diariamente. Valores como pudor, amizade, moderação,
ajuda aos outros, solidariedade. Não é saudável os pais deixar toda a educação de seus filhos a cargo
da escola. O diálogo entre pai-filho é tão importante quanto a frequência das salas de aula. É um
complemento. É extremamente comum um filho perguntar o que o pai faz, qual seu trabalho. Com a
explicação do pai, a criança pode achar legal ou muito chato e começar a vislumbrar possíveis
profissões que ela queira exercer no futuro.

Quem nunca teve vontade de ser médico e salvar vidas? Mas depois da primeira vez que foi fazer
exame de sangue, sentiu-se mal, vomitou e descartou ali mesmo qualquer possibilidade de estudar
medicina na vida. Quem é apaixonado por animais e já pensou em ser veterinário? Quem é
apaixonado por música, só pensa em tocar guitarra e quer ser um astro da música quando crescer?
Porém, muitas dessas decisões vão ter influência dos seus pais; e de outras pessoas que não tem
nada a ver com a história. Muitas pessoas vão dizer que se você for ser “isso” quando você crescer,
você vai passar fome. Porque as perspectivas do mercado de trabalho não são boas; porque os
obstáculos são muito grandes. Não importa a carreira que você decida seguir na vida, você deve se
capacitar; você deve ser diferenciado no mercado. Você tem que oferecer mais do que os outros
oferecem. Isso exige estudo, trabalho, dedicação. Nunca será fácil. O mundo não foi feito para ser
fácil. Como a reflexão que introduziu esse capítulo, a preparação para a vida é cara. Mas procure
experimentar o contrário, para ver o que acontece.
Esse livro é voltado aos jovens que estão cursando o Ensino Médio. Sendo assim, vamos conversar
sobre as possibilidades que o jovem recém-formado no Ensino Médio possui. Dividiremos em três
blocos de situação: 1) as que ele foca apenas nos estudos e não obtém renda de nenhuma maneira;
2) as que ele foca nos estudos, porém também trabalha; 3) nas demais em que ele apenas trabalha.

1 – Foco nos estudos:

. fazer um curso pré-vestibular, caso não tenha sido aprovado em nenhuma universidade;

. cursar uma universidade;

. fazer um intercâmbio no exterior para estudar algum idioma;

. estudar para concurso público que exige apenas Ensino Médio como escolaridade;

. cursar um curso técnico;

2 – Foco nos estudos com obtenção de renda (aqui, vamos considerar que o jovem está
cursando uma universidade):

. trabalhar de carteira assinada em alguma empresa;

. trabalhar no negócio dos pais;

. fazer estágio: em empresa privada ou órgão público;

. dar aulas particulares (em domicílio ou nas escolas, cursinhos pré-vestibulares)

. empreender: criar uma empresa/um negócio; Exemplo: venda de docinhos de festa;


. ser servidor público (caso tenha sido aprovado em concurso que exija apenas Ensino Médio
como escolaridade)

3 – Quem só trabalha:

. trabalhar de carteira assinada em alguma empresa;

. trabalhar nos negócios dos pais;

. empreender: criar uma empresa/um negócio;

. ser servidor público (caso tenha sido aprovado em concurso que exige apenas Ensino Médio
como escolaridade)

Independente se o jovem está na situação 02 ou 03, eles possuem algo em comum: eles recebem
renda. A partir daqui, ele já tem que saber como lidar com o dinheiro. Não vamos tratar aqui sobre
finanças pessoais e como o jovem deve gastar o dinheiro dele. Vamos apenas entender porque ele
deve gastar menos do que recebe, poupando parte da sua renda mensal. Ele pode gastar o dinheiro
dele da forma como ele quiser, desde que ele gaste 80%4 do que ele recebe. Os outros 20% serão
aplicados em investimentos de valor. Mas para que servirão esses 20%? Quando você irá usufruir
deles? Essas perguntas serão respondidas ao longo do livro, mas vamos dar início ao estudo do ciclo
natural da vida.

4
A relação aqui de 80/20 é apenas um exemplo. Poderia ser 90/10, 70/30, conforme a experiência e vivência
de cada pessoa.
CICLO NATURAL DA VIDA

A nossa vida educacional inicia-se no maternal. Depois vem:

*INSS: Instituto Nacional do Seguro Social = é o órgão público que administra a aposentadoria dos
trabalhadores da iniciativa privada. Ou seja, é o órgão que arrecada o dinheiro das contribuições dos
trabalhadores ativos e – ao mesmo tempo – paga a aposentadoria aos aposentados.

Já vimos que é possível entrar no mercado de trabalho sem a necessidade de um curso superior.
Isso não irá fazer diferença na nossa análise porque, a partir de agora, iremos conversar mais sobre
APOSENTADORIA.
“Mas, Marcelo....aposentadoria é algo que as pessoas irão fazer quando estiverem com 60, 70
anos; por que um jovem de 16 anos deve-se preocupar com isso agora?” A resposta está descrita
abaixo por vários motivos, mas a principal razão é que precisamos nos afastar da maioria e do senso
comum5. Como assim? O senso comum é o modo de pensar da maioria das pessoas. E, nesse assunto
especificamente sobre aposentadoria, o senso comum é muito perigoso. Vamos aprender como a
maioria pensa e porque devemos nos afastar desses pensamentos.

O senso comum é:

. trabalhar até poder aposentar, para depois viver do provento de aposentadoria (ou seja, às
custas do governo, pois é ele quem paga essa aposentadoria);

. acreditar que os regimes de previdência6 existem para ajudar o cidadão;

. acreditar que o governo te deve algo e por isso você deve ser sustentado por ele de alguma
forma: seja com renda, com saúde ou com educação;

A maioria pensa/sente:

. que não vê a hora de poder aposentar para não ter que trabalhar mais;

. que educação financeira é algo muito complexo e que apenas engenheiros, matemáticos e
economistas são capazes de entender;

. quem poupa não vive a vida.

5
Senso comum: é o modo de pensar da maioria das pessoas, são noções comumente admitidas pelos
indivíduos. Significa o conhecimento adquirido pelo homem partir de experiências, vivências e observações do
mundo.
6
Regimes de Previdência são abordados no Capítulo II.
O intuito desse livro é fazer com que o jovem elimine esses pensamentos da sua cabeça e afaste-
se das fontes (pessoas, livros, blogs, grupos de WhatsApp, etc) que fazem ele pensar dessa forma. A
educação financeira fará com que ele não tenha que se preocupar com aposentadoria. Basta ele
poupar parte da sua renda mensal.

O jovem dessa idade não tem que decidir qual curso fazer na universidade, o que impactará
diretamente na profissão que ele irá exercer pelo resto da vida? A escolha da profissão que iremos
exercer, assim como a mulher que iremos casar, é a decisão mais importante da vida. É a mais difícil.
Um jovem de 16-18 anos está preparado para isso? Tanto que é muito comum estudantes
universitários decidirem estudar outra disciplina na metade do curso; profissionais mudam de linha
de carreira o tempo todo. É impossível prever o futuro. Há pessoas que conseguem fazer a mesma
tarefa por 30-40 anos. Há pessoas que só conseguem fazer por 2-5 anos. Mas existe uma coisa que
não será diferente, independente da função que você exerça: você gastará menos do que recebe.
Para isso, voltamos ao ciclo citado no início desse capítulo.

Antigamente era assim:


Hoje, é assim:

Isso é o que a maioria pensa. Mas, a partir da leitura desse livro, você já não é mais maioria. Seu
pensamento agora será:
Ao longo desse livro, vamos abordar todos esses assuntos de diversas maneiras. Mas antes,
precisamos aprender o que – de fato - é a aposentadoria, o que são os regimes de previdência, para
entendermos porque precisamos eliminar esses conceitos da nossa cabeça.
CAPÍTULO II - REGIMES DE PREVIDÊNCIA

“Aposentadoria… é quando você para de viver pelo trabalho e começa o trabalho para viver.”

Antes de começarmos a estudar os regimes de previdência, precisamos aprender sobre o


Esquema Ponzi e o conceito de pirâmide financeira.

ESQUEMA PONZI

Imagine que seu colega de faculdade - chamado Nemo - apresente uma proposta de negócio:
fabricar brigadeiro e vender para os alunos da faculdade. Você não vai precisar trabalhar. Você só
precisará repassar R$ 1.000 para o Nemo, esperando receber R$ 100 todo mês de volta, o que seria
10% de retorno mensal sobre o seu investimento inicial (10% de R$ 1.000 = R$ 100). O que Nemo
fará com esses R$ 1.000?

Ele irá comprar os ingredientes para fabricar o brigadeiro. Ele vendeu os brigadeiros por R$ 2.000.
Ou seja, ele conseguiu um lucro de 100%. Com o dinheiro da venda dos brigadeiros, ele vai:

. te pagar R$ 100: juros prometidos quando você entregou os R$ 1.000 a ele;

. comprar R$ 1.000 de novos ingredientes para fazer mais brigadeiro;

. embolsar os R$ 900 restantes, totalizando os R$ 2.000 de receita;

Só que o Nemo avisa que se você der mais R$ 1.000, ele conseguirá fabricar mais brigadeiro e
agora você receberá R$ 200 por mês, mantendo os 10% de retorno (10% de R$ 2.000 = R$ 200). Caso
você não tenha esse outros R$ 1.000, você pode chamar outro amigo para entrar no esquema. E você
convida seu amigo Bob Esponja.

Bob Esponja dá R$ 1.000 ao Nemo. Nemo agora tem R$ 2.000 para fabricar brigadeiros (R$ 1.000
seu e R$ 1.000 do Bob Esponja). Ele fabrica e consegue vender os doces por R$ 4.000. O que ele faz
com esse dinheiro?
. paga R$ 100 a você: juros prometidos quando você entregou os R$ 1.000 a ele;

. paga R$ 100 ao Bob Esponja;

. guarda R$ 2.000 para comprar novos ingredientes;

. embolsa os R$ 1.800 restantes, totalizando os R$ 4.000 de receita;

Vocês percebem que o esquema está dando certo e chamam mais amigos para entrarem com R$
1.000. Dois novos amigos entram: Picachu e Tico; ambos com R$ 1.000 cada. Agora, Nemo possui R$
4.000 para comprar ingredientes e vender os brigadeiros. Mas Nemo não faz mais isso. Ele decidiu
transformar isso em uma pirâmide financeira. Então, o que Nemo irá fazer com os R$ 4.000:

. pagar R$ 100 a você;

. pagar R$ 100 ao Bob Esponja;

. pagar R$ 100 ao Picachu;

. pagar R$ 100 ao Tico;

. gastar os R$ 3.600 restantes.

Nemo não precisa vender brigadeiros para pagar vocês. Ele está pagando vocês com o dinheiro
dos novos entrantes. Como vocês continuam recebendo o prometido (10% ao mês), a notícia
espalha-se e mais pessoas se interessam pelo esquema e vão entrando. Mais 08 pessoas entram com
R$ 1.000 cada. Agora são 12 no esquema, porém R$ 4.000 das primeiras quatro pessoas já foram
gastos. Nemo possui agora R$ 8.000. O que ele faz com esses R$ 8.000:

. paga R$ 1.200 aos investidores (12 x R$ 100);

. gasta os R$ 6.800 restantes.

Enquanto vocês estiverem recebendo os R$ 100 mensalmente, a notícia vai espalhando-se e mais
pessoas vão entrando. Porém, chega um momento em que as pessoas param de entrar. O esquema
já possui 40 integrantes, cada um colocou R$ 1.000. E Nemo precisa de R$ 4.000 (40 x R$100) para
honrar os 10% de retorno. Mas Nemo só possui R$ 400. O que Nemo faz?
. paga R$ 100 a você;

. paga R$ 100 ao Bob esponja;

. paga R$ 100 ao Picachu;

. paga R$ 100 ao Tico;

. dá calote nos demais 36 integrantes.

As pessoas que não receberam começam a questionar e pedem os R$ 1.000 de volta. Nemo só
conseguirá devolver esse dinheiro se mais pessoas entrarem no esquema. Mas ninguém mais entra.
O esquema quebrou. A pirâmide caiu. Isso é uma pirâmide financeira, conhecida como Esquema
Ponzi.

Vamos agora para um exemplo um pouco mais difícil, porém mais perto da realidade porque
envolve criptomoedas. Vou contar uma história com dois personagens.

João: possui 20 anos, mora com os pais e cursa universidade de Economia.


Marcos: possui 20 anos, mora com os pais e sempre procura métodos para ganhar dinheiro
rapidamente.

João é bem relacionado na faculdade, conhece muitas pessoas. Ele apresenta uma proposta de
investimento a Marcos, envolvendo compra/venda de bitcoins (criptomoedas – moeda virtual).
Como funciona esse investimento? Marcos entrega R$ 1.000 a João, tendo uma promessa de retorno
de 5% ao mês. Ou seja, a cada mês, João irá receber de volta R$ 50. E o que João irá fazer com esses
R$ 1.000 e como ele conseguirá pagar R$ 50/mês a Marcos? João supostamente irá realizar
operações financeiras de compra/venda de bitcoins e com parte do lucro dessas operações, ele
entregará R$ 50 a Marcos, mensalmente. Diante disso, surgem algumas dúvidas que Marcos deveria
levar em consideração:

1 – Qual o risco dessa operação? Eu posso perder tudo que eu colocar?

2 - João é um bom operador de bitcoin, de fato?

Porém, Marcos não analisa isso. Ele fica simplesmente atraído pela alta taxa de rentabilidade
desse investimento: 5% ao mês. Ele faz uma simulação na calculadora que se ele colocar R$ 100.000
ao invés de R$ 1.000, ele consegue acumular R$ 332.000 em 2 anos. A vontade de ficar rico rápido é
só o que interessa a Marcos. Dessa forma, Marcos espalha para todos os seus amigos sobre essa
proposta, isso gera uma reação em cadeia e todo dia mais gente entra nesse esquema de João.
Então, mesmo que as operações que João faça com as bitcoins não deem certo, que ele tenha
prejuízo, João tem dinheiro para pagar esses R$ 50 de Marcos. Justamente, porque cada vez mais
pessoas entram no esquema colocando “dinheiro novo”. Na prática, como funcionaria:

Janeiro:

Marcos entra com R$ 1.000

João deixa R$ 50 guardado para o pagamento de fevereiro.

João aplica R$ 950

Fevereiro: mais pessoas entram no negócio


João paga R$ 50 a Marcos

Investidor A entra com R$ 1.000

Investidor B entra com R$ 1.000

João deixa guardado R$ 150 (3x R$ 50) para o pagamento de março

João aplica R$ 1.850 (R$ 2.000 – R$ 150)

Março: mais pessoas entram no negócio

João paga R$ 50 a Marcos, ao Investidor A e ao Investidor B

Investidor C entra com R$ 5.000

João deixa guardado R$ 150 de Marcos, A e B e R$ 250 do Investidor C

João aplica o restante

E isso vai seguindo. Mais pessoas vão entrando. Marcos verifica que o investimento está dando
certo e coloca mais dinheiro, e assim por diante. Você consegue enxergar que não importa o
resultado das aplicações que João faz? Que ele, de repente, nem faz aplicação. Ele simplesmente
gasta com o que ele quiser. Justamente, porque ele está remunerando os investidores com o
dinheiro dos novos participantes. Por isso que, enquanto houver novos participantes, o esquema vai
funcionando. O que acontece quando novas pessoas param de entrar? João não vai ter mais dinheiro
para remunerar os investidores. E aí....o esquema todo vai por água abaixo, ele quebra. A pirâmide
formou-se no início e , agora, ela quebrou.

A primeira pessoa que realizou um esquema fraudulento desse foi Charles Ponzi. Assim,
pirâmides financeiras são chamadas de Esquema Ponzi.
“O Esquema Ponzi é uma sofisticada operação fraudulenta de investimento do tipo esquema em
pirâmide que envolve o pagamento de rendimentos anormalmente altos (lucros) aos investidores, à
custa do dinheiro pago pelos investidores que chegarem posteriormente, em vez da receita gerada
por qualquer negócio real.”7

Por que é importante saber o que é uma pirâmide financeira? Por dois motivos:

1 – para o leitor nunca envolver-se em uma, ao longo da sua vida. Ele saberá identificar um
esquema fraudulento no momento em que lhe for apresentado. Como as promessas de lucro são
altas, esses esquemas são atrativos. Então, a pessoa ingênua (despreparada) acaba envolvendo-se
sem nem perceber.

2 – para entender porque o sistema de aposentadoria brasileiro (os regimes previdenciários) são
insustentáveis e estão fadados ao fracasso.

No Capítulo VII – INVESTIMENTOS, o assunto sobre pirâmide financeira será retomado com mais
detalhes.

REGIMES DE PREVIDÊNCIA

De forma muito direta, Previdência Social (PS) é o seguinte: se você trabalha e recebe renda, você
paga uma parcela da sua renda para a PS. Essa PS irá arrecadar esse dinheiro e vai pagar:

7
Fonte: Wikipedia
Fonte: www.inss.gov.br

E quem vai receber essas aposentadorias e benefícios? As pessoas que cumprirem alguns
requisitos determinados em lei. Não há necessidade de discutirmos todos os conceitos apresentados
nas figuras acima. Eu quis apenas demonstrar todos os benefícios que o governo paga quando as
pessoas cumprem esses requisitos. Infelizmente, isso faz com que as pessoas fiquem na dependência
do governo, em vez de ir atrás de construir riqueza por conta própria, para que elas tenham uma
velhice tranquila no futuro. E o que acontece quando a Previdência Social não tiver mais dinheiro?
Aquelas pessoas que dependem desses benefícios irão morrer de fome.

Agora vamos procurar entender porque a Previdência Social é muito parecido com uma pirâmide
financeira descrita no início deste capítulo.

Vamos começar por essa figura:


O que o quadrante de 1970 quer dizer? Que a população ativa - aquela que trabalha - era bem
maior que os aposentados: aqueles que não trabalham. Se estes não trabalham, como eles
conseguem renda para sobreviver? Eles são sustentados pela Previdência Social, que por sua vez são
sustentados pelos ativos, conforme o fluxo abaixo:
Em 1970, esse sistema era sustentável porque existiam mais ativos do que aposentados.

O que ocorre no quadrante de 1990? A mesma coisa, porém agora a quantidade de pessoas ativas
diminuiu, concorda? Mas por que isso ocorreu? Porque menos pessoas nasceram. Os casais estão
tendo cada vez menos filhos. Isso faz com que a quantidade de pessoas ativas diminua. Mas, em
1990, os aposentados permaneceram na mesma quantidade. Como AINDA os ativos são maiores que
os aposentados, esse sistema é sustentável.

O que acontece em 2020? A situação inverteu-se. Agora, os ativos estão em menor quantidade. O
sistema pode continuar sustentável por um certo tempo porque a Previdência Social ainda possui um
saldo dos anos anteriores (da década de 70-90). Mas, a partir de agora, o sistema torna-se deficitário:
entra menos dinheiro do que sai. Exemplo:

Arrecadação da PS = R$ 100 bilhões → arrecadados dos trabalhadores ativos


Despesas da PS = R$ 150 bilhões → pagos aos aposentados

Déficit da PS = R$ 50 bilhões

De onde saiu esses R$ 50 bilhões de déficit? Do saldo que o fundo da Previdência Social juntou ao
longo dos anos. Você consegue enxergar que se essa situação continuar, o dinheiro vai acabar? A
fonte vai secar.

O que acontece em 2030? A situação agrava-se. Menos pessoas nasceram, o que diminuiu os
trabalhadores ativos, além de ter aumentado a quantidade de aposentados. Isso faz com que o
déficit da PS aumente:

Arrecadação do PS = R$ 80 bilhões → arrecadados dos trabalhadores ativos

Despesas do PS= R$ 200 bilhões → pagos aos aposentados

Déficit do PS = R$ 120 bilhões

A fonte continua secando. Por que esse sistema de previdência se parece com uma pirâmide?

1 – Porque a base da pirâmide (os ativos) sustenta o topo (os aposentados);

2 – O que deve ocorrer para que a base continue sustentando o topo? Os ativos sempre terão que
ser maior que os aposentados. Mas isso não está acontecendo. A pirâmide está invertendo-se: os
aposentados estão crescendo (topo expandindo), enquanto os ativos estão diminuindo (base
contraindo). Próximo passo é a queda da pirâmide;
Fonte: IBGE

3 - O sistema só é sustentável se a base (trabalhadores ativos) continuar sustentando o topo da


pirâmide (os aposentados).

Sendo assim, se - por algum acaso - você escutar seus pais falando sobre Reforma da Previdência,
ou no Jornal Nacional na televisão, saiba que é por causa do apresentado acima. De tempos em
tempos, o governo faz reformas nesse sistema para tentar suavizar o rombo da previdência.

Então, você pode escutar seus pais falarem coisas do tipo:

“Eu ia aposentar com 65 anos, agora vou ter que trabalhar até os 72.”

“Faltavam apenas 04 anos para eu aposentar; agora aumentou para 09.”


E por que seus pais estarão preocupados com isso? Porque eles não acumularam patrimônio ao
longo da vida. Eles não construíram riqueza pensando no futuro. Eles sempre contaram com a ideia
de que na velhice, eles seriam sustentados pelo governo. E por que você - meu caro leitor - não vai
precisar se preocupar com isso? Porque - após a leitura desse livro e contínuo aprendizado em
Educação Financeira - você já estará preparado para focar nas coisas importantes:

a) Nunca depender do governo;

b) Trabalhar para ganhar dinheiro;

c) Estudar, investir em você para ter sempre melhores condições de


trabalho;

d) Poupar para acumular patrimônio;

e) Cuidar da sua saúde e da sua família;

f) Praticar esportes;

Ao longo da vida, quando as pessoas estiverem discutindo sobre reforma da previdência, o que
você vai pensar? Você não pensará sobre isso, porque seu pensamento estará voltado para seu
trabalho, sua família, sua construção de riqueza, seu acúmulo de patrimônio. Isso é que vai fazer
você ter uma vida tranquila e bem sucedida.

A previdência social no Brasil estipula um teto salarial e um teto de contribuição (dados de 2019):

. Teto Salarial = R$ 5.839,00

. Teto de Contribuição = R$ 682,55

O que cada um quer dizer?

O teto de contribuição é o máximo que cada trabalhador irá pagar mensalmente para o INSS. Se o
seu salário é maior que o teto salarial, você irá pagar R$ 682,55, mensalmente. Ou seja, não importa
se você recebe R$ 10.000,00 ou R$ 30.000,00 de salário mensal; se é acima do teto, você irá pagar R$
682,55. A sua contribuição não é proporcional a quanto você ganha porque existe esse teto.
O teto salarial é quanto os aposentados irão receber do governo quando estiverem inativos
(aposentados). Então, quando o trabalhador aposentar, ele vai receber no máximo o teto salarial: R$
5.839,00.

Em suma, a previdência social no Brasil funciona da seguinte maneira8:

Considerando um trabalhador que:

. trabalhou ativamente por 35 anos: dos 25 aos 60 anos de idade;

. viverá até os 77 anos (expectativa de vida no Brasil);

. obteve um salário de R$ 10.000,00 ao longo da sua vida;

. ele contribuiu com R$ 682,55/mês por 35 anos = R$ 286.440,009

. ele recebeu do governo, após sua aposentadoria, R$ 5.839,00/mês por 17 anos = R$


1.191.156,00

Procure entender se essa conta fecha. Ele contribuiu com apenas R$ 286.440,00 e recebeu R$
1.191,156,00. De onde veio essa diferença de R$ 904.716,00? Da base da pirâmide: das contribuições
das pessoas que ainda estão na ativa. Como que um sistema desse pode ser sustentável se cada ano
que passa existem mais inativos do que ativos? Esse é o resumo bem enxuto da previdência social no
Brasil.

O exemplo acima foi para um trabalhador que viva até os 77 anos de idade. Se ele por um acaso
viver até os 90 (13 anos a mais), essa diferença seria absurdamente maior.

É por isso, que você - meu caro leitor - vai construir o pensamento de nunca depender do
governo, nunca se preocupar com aposentadoria, com previdência social e qualquer outro conceito
relacionado a isso que apareça para você ao longo da sua vida.

8
Referência: Dezembro 2019
9
Os cálculos aqui estão brutos. Esses valores não estão sendo considerados taxa de juros, inflação e correção
monetária. Essa aproximação não influencia no entendimento da pirâmide financeira.
O seu foco será no seu trabalho, para você ganhar dinheiro, poupar e construir sua própria
riqueza. Será que diante do que foi apresentado neste capítulo você conseguiria responder a
seguinte pergunta: Por que poupar?

Se ainda não tem condições de respondê-la, vamos expandir nosso conhecimento sobre esse
assunto no próximo capítulo.
CAPÍTULO III – POR QUE POUPAR?

“É fundamental que seja desenvolvida a percepção de que o dinheiro é uma consequência direta
do trabalho, e o trabalho, por sua vez, uma consequência quase direta dos estudos.”

Equipe Organizze

Para explicar o assunto desse capítulo, que fala sobre a importância de poupar parte da sua renda
mensal, eu irei recorrer ao seguinte artigo:

FINANCIAL ADVICE FOR MY DAUGHTER 10 , do escritor Morgan Housel, colaborador do


Collaborative Fund. Escrito em 04 de junho de 2019.

Esse artigo foi traduzido do inglês para o português por mim em Setembro de 2019. Ao final, vou
tecer alguns comentários sobre o tópico abordado.

10
O vídeo sobre esse artigo está disponível em: https://youtu.be/711iyzLsiRE
CONSELHO FINANCEIRO PARA MINHA FILHA

“Eu e minha esposa demos boas-vindas a minha filha ao mundo, ontem.

Seu único trabalho, agora, é comer e dormir. Mas, um dia, quando ela precisar de conselho sobre
finanças.....é isso que eu irei dizer a ela.

É fácil de pensar que riqueza e pobreza é causada por escolhas que nós fazemos. Mas é mais fácil
ainda subestimar o papel do acaso na nossa vida.

A vida de todo mundo é o reflexo das experiências vividas e das pessoas que conheceram, que na
sua maioria está fora do seu controle e são movidas pelo acaso. Nascer em famílias diferentes, com
valores diferentes, em países diferentes, em gerações diferentes, e a sorte de quem você conhece ao
longo do caminho tem um papel maior nos resultados do que as pessoas gostam de admitir.
Eu quero que você acredite nos valores e nas recompensas do trabalho árduo. Mas que saiba que
o sucesso não é somente por causa de muito trabalho, e nem toda pobreza é causada por preguiça.
Tenha isso em mente quando for julgar alguém, incluindo você.

O dividendo11 mais alto que se paga é fornecer a habilidade de controlar seu tempo. Ser capaz de
fazer o que você quiser, quando você quiser, onde você quiser, com quem você quiser, pelo período
que quiser. Isso gera um nível de felicidade maior do que qualquer coisa chique pode jamais oferecer.

A excitação de ter alguma coisa chique passa rapidamente. Mas uma carreira com horas flexíveis
e com trabalho perto da sua casa nunca vai ficar ultrapassado. Ter dinheiro guardado para te dar
tempo e opções durante emergências nunca vai ficar ultrapassado. Poder se aposentar quando você
estiver pronto nunca vai ficar ultrapassado. O objetivo final é independência. Mas independência não
é preto no branco, tudo ou nada. Cada real que você poupa é como ter um pedaço do seu futuro;
caso contrário esse pedaço será administrado por outra pessoa, independente das prioridades
dessa pessoa.

Seus pais vão trabalhar duro para te sustentar e abrir portas para você. Mas nós não vamos te
mimar. Nós não estamos tentando ser maus. Mas ninguém pode aprender o valor de R$ 1 sem ter
experimentado o poder de sua escassez. Aprender que você não pode ter tudo que você deseja é a
única maneira de entender a diferença entre uma necessidade e um desejo. Isso vai te ensinar a fazer
orçamento, a poupar e como dar valor ao que você já tem. Aprender a ser frugal12 com dignidade é
uma habilidade de vida essencial que vai ser muito importante durante os inevitáveis sobe/desce da
vida.

Napoleão deu uma definição para o que seria um militar gênio. É uma pessoa que consegue fazer
as coisas medianas, quando todo mundo ao seu redor está perdendo a cabeça. Gerenciar dinheiro é a
mesma coisa. Você não precisa fazer coisas incríveis para conseguir coisas boas ao longo do tempo.
Você só precisa constantemente não fazer besteira por longos períodos. Evitar erros catastróficos; o
maior deles seria afundar-se em dívidas. Esse conselho é mais poderoso do que qualquer dica chique
sobre finanças.

Aprender a viver com menos é uma das alavancas financeiras mais poderosas, porque você tem
mais controle sobre isso, em comparação com coisas como a sua renda ou a rentabilidade de seus
investimentos. A pessoa que ganha R$ 50 mil, mas só precisa de R$ 40 mil para ser feliz é mais rico
que a pessoa que ganha R$ 150 mil, mas precisa de R$ 150 mil para ser feliz. E o investidor que
consegue 5% de rentabilidade, mas possui poucas despesas provavelmente estará melhor do que o
investidor que consegue 7% de rentabilidade e precisa de cada centavo dela.

11
Dividendo: lucro de algum investimento. Imagine que você abriu uma padaria, juntamente com seu irmão.
Cada um colocou 50% do capital inicial: você colocou R$ 100 mil e seu irmão, o mesmo montante. Todo mês a
padaria dá um lucro líquido de R$ 2 mil. Então, R$ 1 mil vai para você e R$ 1 mil para seu irmão.
12
Verificar a nota de rodapé 18 no Capítulo IV.
O quanto você ganha não determina o quanto você tem. E o quanto você tem não determina o
quanto você precisa.

Não tem problema você mudar de ideia. Quase ninguém tem a vida decidida aos 18 anos. Então,
é tranquilo você se formar na faculdade e acabar não gostando do trabalho, ou que aquela
graduação não era sua paixão. Está tudo bem se você iniciar em uma carreira e depois decidir que
quer fazer outra coisa. E é natural admitir que seus valores e seus objetivos evoluíram. Perdoar você
mesmo por mudar de ideia é um superpoder, especialmente quando você é novo.

Tudo tem um preço. E eu não estou falando de preço financeiro, em dinheiro. O preço de uma
carreira ocupada é tempo longe da família e de amigos. O preço de um retorno de mercado no longo
prazo é incerteza e volatilidade. O preço de mimar crianças é a vida protegida delas. Tudo que vale a
pena tem um preço, e a maioria desses preços está escondida. Eles geralmente valem a pena pagar,
mas nunca ignore que eles são custos verdadeiros. Quando você aceitar isso, você vai ver que coisas
como tempo, relacionamento, autonomia e criatividade são moedas tão valiosas como dinheiro.

O verdadeiro sucesso é quando as pessoas que vc deseja que te amem, realmente te amem. E
amor vem exageradamente de como você trata as pessoas, mais do que o nível de riqueza. O
conselho sobre finanças mais importante que eu posso dar é que dinheiro não vai te dar o que você
quer e o que todos querem. Nenhuma quantia de dinheiro pode compensar uma falta de caráter,
honestidade e afeto verdadeiro perante os outros.

O seu mundo será diferente que o meu, assim como o meu mundo é diferente do dos meus pais.
Então, tudo bem se você rejeitar esse conselho. Todo mundo é diferente, e ninguém tem todas as
respostas certas. Nunca pegue o conselho de alguém sem contextualiza-lo com seus próprios valores,
objetivos e circunstâncias.

Seu pais te amam. Seja bem vinda ao mundo. Por favor, nos deixe dormir!”

Dinheiro não é tudo. Nunca torne-se escravo do dinheiro ou você nunca irá conquistar as coisas
boas da vida. O dinheiro em si é apenas um meio para que a gente consiga controlar nosso tempo,
independente de ninguém. É um meio para que a gente cuide da nossa família e consiga manter
aqueles que a gente ama ao nosso redor. O dinheiro é um meio para conseguir liberdade. Liberdade
de fazer o que quiser na hora que quiser, sempre respeitando o próximo. O dinheiro é um meio para
conseguir tranquilidade na vida. Alcançar a paz.

Poupe hoje para não depender de ninguém, amanhã.


CAPÍTULO IV – AS DIMENSÕES DO DINHEIRO

“Se o dinheiro é o seu Deus, sua vida será um inferno.”

Bastter

Como as pessoas enxergam o dinheiro?

Dinheiro é a coisa mais importante da vida?

As pessoas que são ricas são mais felizes? As pessoas que são pobres são tristes?

Será que o dinheiro compra felicidade? Não, dinheiro não compra felicidade; mas ele pode
comprar tranquilidade, pode comprar paz. Porém, só se consegue comprar tranquilidade se você
souber que esse é o objetivo do dinheiro e nada mais. O dinheiro em si não tem importância, a sua
paz, sim. Pessoas que são obcecadas por dinheiro perdem o foco das coisas boas da vida: construir
uma família, ter amigos verdadeiros, praticar esportes, manter-se saudável e viver em harmonia com
as pessoas ao seu redor. A obsessão ao dinheiro desperta o lado ruim do ser humano: a arrogância, o
desrespeito, a indisciplina, o interesse aos bens materiais de outras pessoas, a inveja.

Mas o que seria essa paz que o dinheiro pode comprar? Paz é conseguir realizar compras online
sem se preocupar com taxa de entrega; é evitar filas imensas em postos de gasolina que vendem
combustível mais barato; é pagar o estacionamento coberto do shopping, sem cerimônia; é arcar
com prejuízo de uma batida de um motoqueiro no seu carro, mesmo que tenha sido culpa dele, para
evitar dor de cabeça. Muitas vezes a paz pode ser confundida com conforto. Mas o conforto possui
níveis de luxo. Neste livro, iremos eliminar esses níveis. Não importa qual classe social você
enquadre-se. Uma pessoa que tem um salário de R$ 2.000,00 pode ter paz da mesma forma que uma
pessoa que ganha R$ 20.000,00, porém com confortos diferentes.

Sendo assim, não estaremos discutindo aqui a classe social de cada um. Vamos apenas dividir as
pessoas em dois tipos: a) aquelas que poupam, ou seja, gastam menos do que recebem; b) aquelas
que não poupam. Em seguida, veremos a diferença entre riqueza e ostentação. Afinal de contas,
quando alguém compra um carro luxuoso é porque essa pessoa gosta de carro e do conforto que ele
proporciona ou é para mostrar para o próximo que ela é rica e possui muito dinheiro? Quando as
pessoas postam foto no instagram de uma viagem em Paris é porque querem mostrar uma bela
paisagem ou para que as outras pessoas saibam que ela tem dinheiro e condições de viajar para
Europa? Por que, então, ela não posta foto quando vai para o interior do Ceará ou de Minas Gerais
visitar um parente? É importante ser rico ou ostentar? Nenhuma dessas opções. O importante é ter
PAZ.
Então, agora reflita, como você enxerga o dinheiro?

RIQUEZA X OSTENTAÇÃO

“Quem tem 100 e deve 100, nada tem.”

A imagem de uma pessoa rica é aquela que possui muitos bens materiais. Mora em uma casa
grande (luxuosa), possui vários carros luxuosos, realiza bastantes viagens. Definitivamente, uma
pessoa que possui essas condições deve ser rica. Porém, não é possível saber disso sem ter
conhecimento da situação financeira daquela pessoa. Ela pode ter adquirido todos esses bens
através de dívidas, o que a levaria a possuir um passivo enorme junto aos bancos e financeiras. Nesse
caso, ela não seria rica, mas sim uma pessoa que possui muitos bens materiais a custo de dívidas.

Uma pessoa rica é aquela que acumulou patrimônio substancial ao longo da vida. Para ter
conseguido acumular esse patrimônio, essa pessoa seguiu a fórmula da riqueza:

RIQUEZA = GASTAR MENOS DO QUE RECEBE

Os ricos, com patrimônio acumulado, sempre viveram abaixo das suas condições. Eles não
anteciparam consumo (contração de dívidas); eles simplesmente gastaram menos do que
receberam, e com isso conseguiram acumular patrimônio. Esse patrimônio acumulado irá garantir
uma renda no futuro, quando as pessoas estarão menos produtivas no trabalho e,
consequentemente, receberão um salário menor. A ideia da tranquilidade financeira é essa:
acumular patrimônio suficiente para que este gere uma renda passiva13 (juros, alugueis e dividendos)
no futuro e a renda ativa - aquela proveniente do trabalho - não seja mais necessária.

Porém, o senso comum não é acumular patrimônio para garantir a segurança da sua família. O
que as pessoas gostam é de gastar e mostrar para os outros o quanto de dinheiro elas têm. Qual a
graça de ter muito dinheiro se os outros não sabem? As pessoas estão mais acostumadas a
preocupar-se com a vida dos outros do que com a sua própria. Elas ficam vendo notícias, fotos de um

13
O conceito de renda passiva será melhor explicado no capítulo VI.
artista que comprou o carro do ano; ou está viajando para um local paradisíaco. Esse
comportamento fútil cria o conceito da ostentação:

“É o ato de, com muito excesso e orgulho, exibir realizações, posses e habilidades de si próprio,
normalmente fazendo referência à necessidade de mostrar luxo ou riqueza. O objetivo normalmente
é que o alvo sinta uma sensação de satisfação, admiração ou inveja.”14

A mídia gosta de mostrar a riqueza dos famosos; e o cidadão comum gosta de ficar
acompanhando isso. Porém, o verdadeiro rico sabe que a riqueza dos outros não acrescenta em nada
na vida dele; logo, ele não se preocupa com isso. Ele vai preocupar-se apenas com sua família, com
seu trabalho, sua saúde, seu lazer.

Veja se os grandes empresários, como Flávio Augusto e Jorge Paulo Lehmann15, ficam ostentando
nas redes sociais. Eles não ficam mostrando seus carros, sua viagens, suas mansões. E por que não?
Porque eles sabem que a riqueza deles só diz respeito a eles; ficar mostrando isso não irá acrescentar
em nada na vida de ninguém. O que eles demonstram é o caminho para atingir sucesso. E tudo
resume-se ao investimento na sua educação, capacitação, no seu trabalho e força de vontade. Ficar
acompanhando a riqueza dos outros só vai fazer com que você desperte sentimentos ruins como
inveja, senso de injustiça, complexo de mediocridade. E isso não vai te levar a lugar algum. Você deve
focar no seu trabalho, na sua capacitação para sempre ter melhores condições de trabalho e sempre
ganhar mais. Só assim você poderá construir um patrimônio para o futuro.

“Pode apostar que muitos dos pais dos seus amigos que moram em bonitos apartamentos e
andam em carros luxuosos estão totalmente endividados. Aquilo que eles exibem são bens que
pertencem a bancos e financeiras. Os bens financiados produzem uma riqueza aparente que encobre
a real situação da pessoa que é o endividamento.

Se estas pessoas venderem todas as coisas que possuem, provavelmente, não terão dinheiro
suficiente para quitar as dívidas. Isto é o que chamamos de viver de aparência.”

14
Fonte: Wikipedia
15
Flávio Augusto é o fundador da escola de inglês WISE UP, proprietário do time ORLANDO CITY SOCCER CLUB,
com uma fortuna avaliada em aproximadamente R$ 1,2 bilhão. Jorge Paulo Lehmann é sócio do 3G Capital,
conhecido por ser dono da cervejaria AMBEV entre várias outras empresas. Lehmann possui uma fortuna
avaliada em R$ 22 bilhões.
Trecho retirado do LIVRO NEGRO DO FINANCIMANETO DE IMÓVEIS, do autor Leandro Ávila
(adaptado).

DIMENSÃO 01: SALÁRIO (RENDA ATIVA)

Vamos considerar que há 03 maneiras de enxergar o dinheiro; ele possui 03 dimensões. E como
cada família enxerga o dinheiro irá determinar o estilo de vida que cada uma vai ter. A primeira
dimensão é o salário. A partir daqui, você pode ser controlado ou descontrolado. A pessoa
controlada irá partir para a dimensão seguinte, que será tratada adiante. O descontrolado está
fadado a contrair dívidas a depender do seu nível de ostentação. Como a grande maioria das pessoas
só enxerga esta dimensão do dinheiro, elas costumam definir a riqueza dos outros (e a sua) pela
ostentação.

Porém, enxergando apenas esse lado do dinheiro, você torna-se eternamente dependente do seu
salário e/ou do governo (aposentadoria). E o que acontece quando você não puder trabalhar mais?
Ou se o sistema previdenciário quebrar? Essa dependência traz uma necessidade maior de girar a
roda na corrida dos ratos.
“Corrida do ratos: termo usado para um exercício sem fim, auto-destrutivo ou inútil. Lembra a
imagem dos esforços inúteis de um rato de laboratório tentando escapar correndo em uma roda ou
em volta de um labirinto.”

No nosso contexto, corrida dos ratos é a situação de um trabalhador que conta as horas para que
o dia do pagamento chegue e o salário entre na conta-corrente do banco. Assim, ele pode pagar as
despesas mensais e eventuais dívidas. É o trabalhador que não evolui; todo dinheiro que entra, sai.
Não possui reservas para possíveis emergências. Se perder o emprego, sua vida vai desmoronar
porque não possui nenhuma outra renda. É aquela pessoa totalmente dependente do salário. Sua
vida resume-se a:

As pessoas acreditam que um alto salário fará com que você nunca tenha problemas financeiros.
Porém, tudo vai depender do seu (des-) controle. Se você vive abaixo dos seus meios, e poupa parte
do que ganha, então você é capaz de construir uma reserva financeira de emergência. Caso
contrário, mesmo que você possua uma casa luxuosa, o carro do ano, mas não poupa nada, você está
descoberto. Sem proteção. Qualquer imprevisto financeiro que ocorrer, você não terá dinheiro para
honrar e - provavelmente - terá que contrair dívidas para sair daquela situação ou vender algum bem
(seu carro, por exemplo).

Em suma, a corrida dos ratos não depende diretamente do montante do seu salário. Como cada
emprego gera diferentes salários, isso faz com que haja vários modelos de corrida dos ratos.
DIMENSÃO 02: CAPACIDADE DE POUPAR

A fórmula da riqueza é gastar menos do que recebe; ou seja, poupar parte da sua renda. Quanto?
Quanto você puder; quanto mais, melhor. Não há resposta correta para quantos % deve-se poupar
mensalmente. O equilíbrio e o bom senso são importantes. A inflação16 não é um bom balizador, pois
a inflação oficial brasileira divulgada pelas entidades financeiras muito provavelmente não é a sua
realidade. E, na velhice, é natural que os custos com saúde e lazer tornem-se mais elevados. O
conforto e a qualidade de vida que você deseja e irá construir ao longo da sua vida será mais elevada
que a inflação, sendo assim - quando você não puder mais trabalhar ou estiver menos produtivo -
você deverá ter patrimônio acumulado para poder manter esse padrão de vida.

O quanto que você poupa hoje vai determinar o seu padrão de vida no futuro: você poderá
mantê-lo ou terá que diminuir (abrir mão de conforto)? Sua capacidade de poupar também vai
determinar se os juros vão trabalhar para você ou se você pagará juros aos bancos, através de
empréstimos e financiamentos. Por algum motivo, as pessoas conseguem pagar um boleto de R$
1.000,00 durante 48 meses (do financiamento de um carro, por exemplo); mas elas não conseguem
depositar R$ 1.000,00 durante 48 meses na poupança, e comprar o carro à vista. Como se isso
tivesse alguma diferença. A disciplina é a mesma. Mas as pessoas escolhem não acreditar nisso.
Qual a diferença de ter um compromisso com você mesmo ou com o banco? Você cumprindo o
compromisso com você, você vai terminar com mais patrimônio porque os juros vão estar a seu
favor; se você escolher favorecer o banco, você vai ficar mais pobre; seu dinheiro vai servir para
sustentar o banco.

Esse é o senso comum. As pessoas passam a vida pagando dívidas, achando ser algo normal,
simplesmente porque todo mundo faz. Esse é o primeiro passo para as famílias entrarem na corrida
dos ratos: viver dependente do salário para sempre. Para fugir dessa corrida sem fim, há de se partir
para a segunda dimensão de como enxergar o dinheiro: a poupança. A única maneira de acumular
patrimônio, para gerar renda no futuro, é poupar parte do seu salário, no presente. Tendo isso em
mente, você passa a focar nas coisas importantes: seu trabalho, sua educação, sua família, sua saúde.
A vontade de mostrar às pessoas que você possui dinheiro, possui bens não vai mais existir. Deixe
isso para aquelas pessoas presas na Dimensão 01. São pessoas que acham que o dinheiro é a coisa
mais importante do mundo; e vivem para ele. Na verdade, dinheiro é apenas um meio de termos
tranquilidade, paz. Para que a gente aproveite a vida com a nossa família com saúde.

Essa mudança de foco fará que você organize-se para viver abaixo dos seus meios. Só irá adquirir
bens que você consiga pagar à vista. Você não vai sustentar bancos. Os juros sempre estarão

16
Inflação: refere-se a um aumento contínuo e generalizado dos preços em uma economia.
trabalhando para você. E com essa mentalidade, entra a importância da educação financeira. Quais
serão os investimentos adequados para você? Esse é o assunto da próxima dimensão.

DIMENSÃO 03: INVESTIMENTOS

Por que estudar Educação Financeira? Dentre outros motivos, para aprender sobre investimentos.
Por que investir? Para acumular patrimônio. A maioria responderia essa pergunta dizendo que
investimentos é para ganhar dinheiro, para ganhar uma renda extra. Esse pensamento leva as
pessoas a focarem em coisas erradas, mas isso será tratado melhor no último capítulo deste livro.
Deve-se estudar educação financeira para aprender a escolher ativos de valor, visando o acúmulo de
patrimônio. E esse patrimônio acumulado no futuro irá gerar uma renda de forma sustentável.

A geração de renda consistente é o que definirá qual padrão de vida você poderá ter no futuro de
forma tranquila e, principalmente, de maneira independente. A independência aqui significa que
você não precisará de renda ativa (aquela proveniente do seu trabalho) ou de aposentadoria do
governo. Para isso, tem-se que enxergar as três dimensões do dinheiro: 1) salário, 2) capacidade de
poupar e 3) investimentos. Esse é o conceito de Tranquilidade Financeira.

As três dimensões não são excludentes entre si, logo deve-se cuidar delas ao mesmo tempo,
sempre. Cada uma que for desconsiderada trará consequências desagradáveis. O homem racional17 e
frugal18 cuida da:

. dimensão 01: para ter uma vida boa no presente;

. dimensão 02 e 03: para não depender sempre da dimensão 01;

. dimensão 03: para não depender dos outros (bancos, fundos, gestores financeiros) para
administrar seu próprio dinheiro. Se você estudar, ninguém cuidará do seu dinheiro melhor do que
você.

OBS: @MIDASRJ, usuário da bastter.com, contribuiu para esse capítulo.

17
Homem racional: é o ser que pensa, raciocina segundo a razão. É capaz de refletir, emitir juízos, dominar e
modificar a natureza através de suas conquistas técnico-científicas bem como elaborar conceitos e ideias. A
posse e o uso da razão o diferencia dos outros animais.
18
Homem frugal: aquele que é comedido, simples e modesto. Alguém que poupa alguma coisa, uma pessoa
prudente e econômica no uso dos recursos consumíveis, como, comida, dinheiro, água, luz, evitando o
desperdício, o esbanjamento e a extravagância.
CAPÍTULO V - AS ARMADILHAS DE CONTRAIR DÍVIDAS

“Na prática, dívida significa: antecipar uma compra que você não pode fazer no presente em troca
de um empobrecimento no futuro.”

Leandro Ávila

Premissa: as dívidas tratadas aqui neste capítulo referem-se àquelas contraídas por pessoas
físicas, tais como:

. financiamento da casa própria (imóveis);

. financiamento de carro;

. empréstimo bancário para reforma da casa;

. empréstimo bancário para viajar de férias;

. cheque especial;

. rotativo do cartão de crédito;

. empréstimos consignados na folha de pagamento;

. outros tipos de empréstimo pessoa física.

As dívidas tratadas aqui não fazem referência a dívidas de pessoa jurídica (empresas), seja para
projeto de expansão do negócio ou empréstimos para abertura de novos negócios.
POR QUE AS PESSOAS CONTRAEM DÍVIDAS?

Para antecipar consumo. Dívida é simplesmente para você consumir algo que você não
tem capacidade de comprar à vista naquele exato momento. E por que todos fazem isso?
Porque isso é o senso comum. Tudo está voltado para que você tenha dívidas. Mas por quê?
Porque quem ganha com isso são o governo e os bancos. Eles querem que você sustente o
sistema: sustente os bancos, além do governo. Mas como assim? Por que eles ganham com
essas dívidas contraídas pelas pessoas?

Bancos: ganham porque você paga juros e taxas;

Governo: ganha porque você paga imposto, assim com os bancos pagam impostos do
lucro auferido pelos juros recebidos.

Então, o governo e os bancos não têm interesse em difundir Educação Financeira - de


verdade - para que você não faça dívidas. Eles não querem difundir Educação Financeira para
que você acumule riqueza de forma independente, sem precisar de terceiros. Se eles fizerem
algo do tipo, a população passará a deixar de sustentar o sistema. Então, tenha em mente
que, se houver alguma campanha de Educação Financeira promovida por bancos ou pelo
governo, saiba que - de uma forma ou de outra - eles indicarão algo para você continuar
sustentando o sistema, pagando impostos e taxas de forma desnecessária.

Vamos ver como tudo está voltado para a contração de dívidas.

Quando você for ao banco com seus pais, observe os banners (cartazes), as propagandas
que existem ao redor do banco: financiamento da casa própria / as melhores taxas para o
seu carro novo / consórcio: o sonho da casa própria / baixa de juros no rotativo do cartão de
crédito. São “atrações” para você sustentar o sistema. Se o banco está oferecendo algo a
você, então não serve para você; serve para o banco.

Vá a algum banco e veja se tem um cartaz assim:

APLIQUE APENAS R$1.000,00 NO TESOURO SELIC E COMPRE SEU CARRO À VISTA EM 4


ANOS

Por que não existe esse tipo de propaganda? Por dois motivos: a) nessa situação, o banco
não ganha nada; b) ninguém quer comprar o carro daqui a 4 anos, as pessoas querem
comprar agora. Como isso é algo que todo mundo faz, as pessoas acham normal e não
enxergam o quanto a dívida é prejudicial para o seu patrimônio. Elas acham que se a parcela
da dívida couber no orçamento, então está tudo bem. Isso é ter uma visão muito falha sobre
patrimônio, riqueza, controle de risco e tranquilidade financeira.

No momento que eu escrevia esse livro, eu recebi a seguinte mensagem pelo celular,
enviada pelo banco em que eu possuo conta:

E depois eu percebi que eu recebo essa mensagem todo mês, por volta do dia 08 de cada
mês. Mesmo sem NUNCA ter parcelado fatura do cartão de crédito, o banco me envia essa
mensagem; querendo que eu parcele.

Mas por que o banco quer que eu parcele a fatura do cartão? Que tipo de empresa não
gostaria de receber pagamentos à vista? Ter dinheiro disponível de imediato? O único tipo
de empresa que gostaria de não receber pagamentos à vista são justamente os bancos.
Porque eles ganham dinheiro com os juros do cartão de crédito. Então, é claro, eles vão fazer
de tudo para que eu parcele a fatura do cartão, para que eu pague juros: enquanto eu
sustento o sistema, eles ficam ricos.

Você será bombardeado de todos os lados para que você contraia dívidas: mensagens de
sms, WhatsApp, redes sociais, televisão, youtube, rádio. Em todos os lugares, por todas as
pessoas e instituições: bancos, financeiras, cooperativas de crédito, agiotas, empresas de
fachada, etc.

Quando você contrai uma dívida, você paga pelo bem (carro, imóvel, etc) e juros. Porém,
o montante que se paga de juros, no geral, é maior do que pelo montante pago pelo bem. É
muito normal o bem valer X e você pagar 2X no final, a depender do prazo do financiamento.

Bem = X

Juros = X

TOTAL pago pelo bem = 2X


Vamos para um exemplo real de um financiamento de carro:

Valor do Carro 0km = R$ 90.000

Valor do Carro dado como entrada (o seu usado) = R$ 40.000

Valor das Parcelas (48x) = R$ 1.391,55

O Custo Efetivo Total (CET)19 do financiamento fica conforme abaixo:

19
Simulação realizada em www.icarros.com.br
Ou seja, um bem que vale R$ 90.000,00 estará saindo por R$ 106.794,55. O montante de
juros que você está dando ao banco é de R$ 16.794,55. Você estará pagando 18% mais caro
por esse carro. As pessoas indisciplinadas financeiramente fazem isso a cada 3, 4 anos. Ficam
sustentando bancos, em vez de poupar para comprar os bens à vista, sem pagamento de
juros.

O prazo desse financiamento foi de apenas 04 anos: é um prazo curto. No Capítulo VII,
iremos ver a simulação do financiamento de uma casa, em que as pessoas fazem por 30
anos. Você verá que é muito mais prejudicial por causa do fator mais importante: TEMPO.
Quanto maior o prazo do seu financiamento, mais juros você paga.

Como você vai acumular patrimônio ao longo da vida se você está pagando muito mais
pelos bens que você adquire? Não tem como. Você tem que fugir dos juros. Há algumas
situações em que a contração de dívidas é aceitável, possui um sentido. Vamos citá-las em
seguida. Porém, independente de qual tipo de dívida você contrair, você fará a mesma coisa:
irá antecipar as parcelas da dívida o máximo que você puder.

1 - Casa Própria

. é impossível definir o que é melhor: morar de aluguel ou na sua casa própria; como a
maioria das pessoas não possui dinheiro para comprar uma casa à vista, então
financeiramente falando, morar de aluguel - com certeza - é melhor. Porém, essa decisão de
moradia não é apenas financeira. Vários outros fatores entram na conta. Em geral, é inútil
ficar discutindo o que é melhor. Mas saiba uma coisa: se sua família decidiu morar na casa
própria e - para isso - resolveu fazer um financiamento, então agora uma decisão é muito
simples: todo dinheiro que sobrar no mês será para antecipar as parcelas do
financiamento20.

2 - Aquisição de Carro para Trabalho

. se você precisa de carro para trabalhar, então você não tem escolha, pois o recebimento
de renda é o que vai sustentar sua família. Logo, a dívida é aceitável. Ressalta-se que

20
Considera-se que a família já possui uma Reserva de Emergência (RE). Com a RE feita, o resto que for
poupado todo mês deve ser designado para a antecipação de parcelas da dívida. RE é um montante guardado
para imprevistos que possam ocorrer: batida de carro, cirurgia de última hora, desemprego, etc. A RE deve ser
de 6 a 12 vezes a despesa mensal da família.
necessidade de carro é se o uso do carro é inerente ao seu trabalho: táxi, motorista de
aplicativo, entregador de encomendas, etc. O uso do carro para mero deslocamento por
questão de conforto não é justificativa para a contração de dívidas. Nesse caso, você deveria
ser capaz de comprar o bem à vista para poder usa-lo apenas por conforto.

3 - Aquisição de Carro por questões de segurança

. Sua segurança e da sua família não tem preço. Seu bairro pode ser muito perigoso, transporte
público pode não chegar, etc. Porém, avalie a situação de morar em outro lugar.

4 - Questão de vida ou morte

. Emergência familiar com saúde. Se você já gastou tudo que você tem, mas ainda precisa de
dinheiro para o tratamento de câncer de seu familiar. Infelizmente, diante dessa situação, dívidas
terão que ser feitas.

Não há absolutamente nenhum outro motivo para a contração de dívidas. E, independente, de


qual delas você contraiu, a sua conduta será a mesma: tudo que sobrar no mês será usado para
antecipar as últimas parcelas do seu financiamento.

Por que os bancos são tão ricos?

No nosso exemplo do financiamento do carro, os juros cobrado são de 12,42% a.a.


Essa simulação foi feita na época em que a Taxa Selic estava a 4,5% a.a. Ou seja, de uma
forma geral, você empresta seu dinheiro ao banco esperando receber 4,5% de juros:
isso ocorre quando você faz uma aplicação na poupança do seu banco; enquanto o
banco empresta ao comprador do carro esse mesmo dinheiro esperando receber
12,42%.

Essa diferença nos juros de 7,92% (12,42% - 4,5%) é o que chamamos de spread
bancário. E, aqui no Brasil, esse spread é um dos maiores do mundo. Por isso, que os
bancos brasileiros são os mais rentáveis do mundo.

O banco pega dinheiro emprestado pagando 4,5% ao credor.

O comprador pega dinheiro emprestado pagando 12,42% ao banco.

O banco lucra 7,92% em cima desse dinheiro.


TIO PATINHAS FEELINGS
CAPÍTULO VI - O QUE É INDEPENDÊNCIA FINANCEIRA

“Não é arriscando mais que se ganha mais. Ganhar mais é que permite você arriscar mais.”

Bastter

A definição mais direta do que seria independência financeira é: fase da sua vida em que você não
precisa mais da sua renda ativa21 para viver. Viver aqui inclui arcar com as despesas da sua
subsistência, realizar as viagens que você deseja, poder fazer viagens de última hora, trocar de carro
com mais frequência (caso você queira), presentear sua esposa e filhos quando quiser e reaplicar
ainda parte da sua renda passiva22.

Despesas da sua subsistência: comida, saúde (remédios, plano de saúde, dentista), despesas da
casa (água, energia, diarista, aluguel, IPTU). Uma das etapas da independência financeira é quando o
seu patrimônio acumulado lhe proporcionar uma renda passiva para cobrir essas despesas.

Realizar viagens que você deseja: basicamente é a programação de férias. Poder se programar
conforme o que você quiser. Escolher um local e a quantidade de dias. Não precisar “economizar” na
hospedagem, comida e passeios; poder escolher o hotel que quiser, comer nos restaurantes que
achar interessante, realizar os passeios que desejar.

Viagens de última hora: coisas de “última hora” encontram dois obstáculos: tempo e dinheiro. A
falta de tempo está ligada a compromissos, sejam eles profissionais ou pessoais. Dinheiro está ligado
ao custo, propriamente dito. Às vezes você tem a disponibilidade para ir, mas não possui o dinheiro.
E vice-versa. A independência financeira vai te permitir ter o tempo, pois você será “o dono do seu
próprio nariz” e vai te permitir ter o dinheiro também, já que você também terá liberdade financeira.

21
Renda Ativa: aquela renda proveniente do seu trabalho, seja você um médico, advogado, pedreiro,
funcionário público, comerciante, empresário, etc.
22
Renda Passiva: renda proveniente do seu patrimônio, dos seus ativos financeiros. Um imóvel alugado
fornecerá a renda do aluguel. Ações na bolsa de valores fornecerão a renda dos dividendos. Títulos de renda
fixa fornecerão a renda dos juros. O valor de um ativo é medido pela capacidade dele fornecer renda passiva
consistentemente ao longo do tempo.
Trocar de carro com mais frequência: a posse de um carro ultrapassa, na maioria das vezes, a
mera necessidade de um meio de deslocamento seguro. Ter um carro (luxuoso) é sinal de status
social, é uma maneira de mostrar aos outros que você possui dinheiro23. Mas considerando que um
prazo razoável de troca de carro seria cinco anos - por causa da depreciação do bem -, pode ocorrer
de você não conseguir trocar em 5 anos pelo custo envolvido. E, mesmo querendo trocar em 5 anos,
você só consiga em 8 ou 10 anos. A liberdade financeira pode permitir que você troque seu carro em
menos tempo. Não que isso seja necessário, mas é apenas um exemplo.

Presentear esposa e filhos quando quiser: senso comum é você receber presentes nas datas
comemorativas: aniversário, natal, dia dos pais/mães, etc. E presente é algo que custa dinheiro. Às
vezes, a pessoa não tem dinheiro para determinado presente, mas não quer criar um clima ruim na
família e compra mesmo assim: faz uma dívida, deixa de pagar alguma despesa da casa ou deixa de
comprar coisas mais importantes como comida ou remédio.

Reaplicar parte da sua renda passiva: esse item é importante para evitar que você gaste toda sua
riqueza e acabe sem nada. Se quando você atingir a independência financeira, e suas despesas
aumentarem consideravelmente, no sentido de que você gasta toda sua renda passiva, então a
chance de você começar a dilapidar seu patrimônio é grande. A reaplicação de parte da renda
passiva é importante para manter seu patrimônio intacto. Assim, você, de fato, terá mais chances de
ter tranquilidade para o resto da vida.

E aí, surge a pergunta que não quer calar: Quando eu vou atingir a independência financeira? E
mais……”quanto eu tenho que poupar para eu atingir a independência financeira?”. Essa é a dúvida
de todo mundo. E, por muitas vezes, as pessoas apenas vão ao meu curso presencial esperando que
eu dê essa resposta. Mas sinto informar que essas perguntas não possuem respostas exatas. Por um
motivo muito simples: eu não prevejo o futuro. E, acredito, que nenhum homem tem esse dom. Mas
haverá especialistas, youtubers, palestrantes que vão passar a ideia que eles conseguem prever o
futuro e que você também consegue. Basta você colocar no youtube ou google algo do tipo:

Melhores Investimentos Para 2020

Quais Ações Ter em 2020

23
Esse assunto foi melhor tratado no Capítulo IV – AS DIMENSÕES DO DINHEIRO, no subtópico Riqueza X
Ostentação.
Ações Pagadoras de Dividendos Para 2020

O Futuro Da Economia

Atingindo o Primeiro 1 Milhão

Em geral, esses vídeos não agregam em nada, apenas passam ilusões. É pura futurologia. É
impossível prever como uma empresa ou ação irá se comportar nos próximos dias, semanas, meses
ou anos. Análise de ações para você ser sócio, visando construção de patrimônio no longo prazo,
não é feito observando dividendos pagos, seja no passado ou no futuro. Cada vez que você vai
estudando e tornando-se mais experiente, naturalmente você perceberá que as notícias - a mídia,
em geral - não vão ajuda-lo em nada. Seja em relação aos seu investimentos ou a sua vida
profissional.

As pessoas gostam de estipular metas ilusórias na vida, tais como: ter R$ 5 milhões quando
completar 40 anos. Isso é algo extremamente improdutivo e sem sentido. São tantas variáveis
envolvidas no atingimento dessa meta que pensar nisso beira o absurdo. Colocar uma meta desse
tipo faz você:

1 - prever nos próximos 15 anos (exemplo):

. taxa de juros

. inflação

. taxa de retorno dos seus investimentos

. sua taxa de poupança (seu aporte: o quanto você poupa por mês)

2 - considerar que você não terá nenhum imprevisto ou emergência;

3 - mesmo que você atinja R$ 5 milhões quando completar 40 anos de idade, esse montante pode
não ser suficiente. Se você criou um padrão de vida muito alto, pode ser que a renda passiva
proveniente desses R$ 5 milhões não sejam suficientes para mantê-lo. E, na verdade, você teria que
ter juntado R$ 10 milhões.
Ou seja, não adianta focar no resultado, que seriam os R$ 5 milhões do exemplo acima. O foco
deve estar no processo de acúmulo de patrimônio, que é algo muito simples: APORTE + TEMPO +
VALOR. Poupe o máximo que você puder (APORTE). Permaneça nos investimentos o máximo que
você puder (TEMPO). E estude para aprender o que são ativos financeiros de valor. Você fazendo
isso, naturalmente, você estará colocando todas as chances ao seu favor para o atingimento da
independência financeira. E quando isso vai ocorrer? Impossível dizer.

Vamos a leitura do artigo abaixo:

PSICOLOGIA DO DINHEIRO24

“Deixe-me contar a história de dois investidores que não se conheciam entre si. Mas seus
caminhos se cruzaram de uma maneira interessante.

Grace Gorner ficou órfã aos 12 anos. Ela nunca se casou. Ela nunca teve filhos. Ela nunca dirigiu
um carro. Ela viveu grande parte da sua vida sozinha em uma casa de 1 quarto e trabalhou sua vida
inteira como secretária.

Todos a consideravam uma mulher adorável. Mas ela viveu uma vida humilde.

O que fez com que os 7 milhões de dólares que ela deixou para caridade quando morreu aos 100
anos de idade ainda mais confuso. Pessoas que a conheciam perguntaram: Onde Grace conseguiu
todo esse dinheiro?

Mas não havia nenhum segredo. Não havia herança. Grace fazia pequenas poupanças de um
escasso salário e aproveitou 80 anos de juros compostos no mercado de ações. Era isso.

Semanas depois da morte de Grace, uma outra história não-relacionada sobre investimentos
apareceu nos jornais.

Richard Fuscone, ex vice-presidente da divisão na América Latina do banco Merril Lynch, decretou
falência de sua fortuna pessoal, tendo hipotecas de suas duas casas sendo executadas. Uma delas de
quase 20 mil metros quadrados e uma parcela mensal de 66 mil dólares mensais.

24
Escrito por Morgan Housel em 2018. Traduzido por mim em Novembro de 2019.
Fuscone era o oposto de Grace Gorner; formado em Harvard e na Universidade de Chicago, ele foi
tão bem-sucedido no universo dos investimentos que ele aposentou-se aos 40 anos com a ideia de ter
uma “busca pessoal e interesses em fazer trabalhos de caridade”.

Mas empréstimos pesados e investimentos sem liquidez o finalizaram. No mesmo ano, Grace
Gorner deixou uma verdadeira fortuna para caridade.

Richard ficou em frente a um juiz de falência e disse:

“Eu fui devastado pela crise financeira. A única fonte de liquidez que tenho são as coisas que
minha mulher puder vender em termos de mobília da casa.”

O propósito dessas histórias não é dizer que vc deva ser como Grace e evitar ser como Richard. É
apenas apontar que não há nenhuma outra área em que essas duas histórias sejam possíveis.

Em qual campo, uma pessoa sem formação, sem experiência relevante, sem recursos, e sem
conexões consegue superar vastamente alguém que teve o melhor ensino, as mais relevantes
experiências, os melhores recursos e as melhores conexões?

Nunca haverá uma história de uma Grace Gorner fazendo cirurgia cardíaca melhor que um
cardiologista formado em Harvard. Ou fabricando um chip mais rápido que os engenheiros da Apple.
Isso é impensável.

Mas essas histórias acontecem nos investimentos.

Isso acontece porque investir não é estudar finanças. Investir é o estudo de como as pessoas se
comportam com dinheiro. E comportamento é difícil de ensinar, mesmo para pessoas muito
espertas.

Você não pode resumir comportamento com fórmulas para memorizar ou modelos matemáticos
para seguir. Comportamento é algo inato, varia de pessoa para pessoa, é difícil mensurar, muda ao
longo do tempo, e as pessoas costumam negar sua existência, especialmente quando vão descrever
elas mesmas.

Grace e Richard mostraram que gerenciar dinheiro não é exatamente sobre o que vc sabe, mas
sim como vc se comporta. Mas não é assim que finanças é usualmente ensinada ou discutida. A
indústria financeira fala muito sobre o que fazer, e não fala o suficiente sobre o que acontece na sua
cabeça quando vc tenta fazer.”
Por que eu decidi colocar esse artigo aqui nesse capítulo?

Porque ele demonstra que pessoas comuns com baixo salário, baixa escolaridade, podem
construir grandes riquezas através do mercado de capitais. E, para isso, você precisa fazer o quê?
Poupar. Constantemente…todo mês…você precisa poupar e realizar seu aporte em ações de boas
empresas.

O artigo ainda demonstra que pessoas com ótima formação acadêmica, muito ricas, podem ir à
falência. Tudo está relacionado a como você comporta-se com o dinheiro.

Uma das personagens do artigo (Sra. Grace Gorner) não tinha metas de ter tantos dólares no ano
199X. Ela simplesmente foi comprando ações aos poucos. Naturalmente, ela acumulou uma riqueza
imensa ao longo da vida.

O Morgan Housel fala no artigo: “investir não é estudar finanças . Investir é o estudo de como as
pessoas se comportam com dinheiro.”

E é exatamente isso. Como as pessoas se comportam com dinheiro? Elas procuram rentabilidade,
achando que conseguem prever futuro.

Elas procuram exercer lucro, achando que a bolsa de valores foi feita para fazer dinheiro e fogem
do plano de acúmulo de patrimônio.

Elas ficam procurando ações baratas, na ilusão e na pretensão que conseguem encontrar
empresas subvalorizadas.

Elas ficam seguindo notícias, achando que os especialistas do mercado vão ajuda-las a ficar rico.

Elas acham que bolsa de valores foi criada para sustentar a classe média, fornecendo um salário
mensal para os operadores.

Esse comportamento das pessoas perante os investimentos é o que faz com que elas nunca
cheguem na tranquilidade financeira. Porque ficam se preocupando com coisas que não interessam,
que as pessoas não controlam: rentabilidade, lucro e preço.

Enquanto a gente precisa focar em aporte, tempo e valor. Coisas que a gente controla.

Não é foco desta obra aprofundar-se na filosofia de investimentos. Alguns termos apresentados
aqui serão melhor tratados na continuação desse livro, o Volume II.
CAPÍTULO VII – INVESTIMENTOS: NOÇÕES BÁSICAS

“Investir em conhecimento rende sempre os melhores juros.”

Benjamin Franklin

Conforme já visto, os investimentos possuem o objetivo de acumular patrimônio. Para isso, deve-
se explorar os juros compostos que determinada aplicação proporciona. É o famoso “fazer com que
os juros trabalhem para você”. A fórmula dos juros compostos é:

JUROS COMPOSTOS = APORTE*(1+TAXA)^tempo

A fórmula apresenta que o tempo é exponencial. Ou seja, ele acaba tornando-se o fator mais
importante na explosão dos juros compostos. Por isso, o foco para acúmulo de patrimônio deve ser
sempre o longo prazo. A explosão dos juros compostos acontece, mas ela demora. Seguem alguns
exemplos:

ITAÚ → Tempo para explosão: 18 anos


AMAZON → Tempo para explosão: 18 anos

Os investimentos, em linhas gerais, podem ser divididos em duas categorias: Renda Fixa e Renda
Variável. Neste livro, não serão abordados os tipos de cada investimento; porém, serão explicados os
conceitos de Renda Fixa e Variável, além dos seus objetivos dentro da filosofia da Tranquilidade
Financeira.

Vamos aprender porque na Renda Fixa os juros compostos não explodem de forma eficiente.
Assim, a bolsa de valores torna-se a ferramenta financeira mais poderosa para o acúmulo do
patrimônio. Justamente, porque nela - através dos investimentos em ações - os juros compostos
explodem, de verdade.

O que é renda fixa? Renda Fixa é você emprestar dinheiro para alguém e esperar receber juros em
troca. Você pode emprestar seu dinheiro para:

. o Governo Federal, através do Tesouro Direto;

. os bancos, através da Poupança, CDB, LCI, LCA e outras aplicações de renda fixa;
. as empresas, através das Debêntures.

Todas essas aplicações citadas acima possuem algo em comum: você empresta dinheiro a essas
entidades e espera receber juros em troca. Para explicar o conceito de Renda Fixa, primeiramente
vamos entender o que é a Renda Variável.

IMÓVEL → Renda Variável

Imagine que você possua um apartamento no valor de R$ 200 mil. E ele está alugado, gerando
uma renda anual de R$ 10 mil. Nesse formato, surge a seguinte pergunta:

. Em 10 anos, esse apartamento estará valendo quanto? Mais que R$ 200 mil ou
menos? Vamos considerar que após 10 anos, ele estará valendo R$ 300 mil. Em
seguida, vamos explicar o porquê.

. Em 20 anos, esse apartamento estará valendo quanto? Mais que R$ 300 mil ou
menos? Vamos considerar que estará valendo R$ 500 mil. Em seguida, vamos
explicar o porquê.

Em suma, temos a seguinte situação:


Historicamente, a tendência é que o valor dos imóveis acompanhem a inflação. Em algum
momento, durante alguns anos, pode ocorrer dele valorizar menos que a inflação ou até
desvalorizar. Em 10 anos, ele pode estar valendo R$ 150 mil (desvalorização de R$ 50 mil)? Pode. Ao
longo dos 10 anos, ele pode chegar a valer R$ 150 mil e depois subir para R$ 300 mil? Pode. Após 10
anos, é mais provável que ele esteja com um valor superior a R$ 200 mil porque a tendência é que o
imóvel acompanhe, pelo menos, a inflação. Após 20 anos, a ideia é a mesma.

Diante desse “vai-e-vem” de preços do apartamento ao longo dos anos, é que considera-se o
investimento em imóveis como uma Renda Variável. O valor do ativo, nesse caso o imóvel, pode
variar para baixo ou para cima.

Em suma, verifica-se que o investidor possui um retorno patrimonial do imóvel de duas formas:

1 - da valorização do imóvel: ganho de capital

2 - do aluguel: renda passiva

Considerando agora que você utilize esse valor recebido do aluguel (renda passiva) para pagar
despesas de alimentação, conta de energia, escola dos filhos, etc. Você continua acumulando
patrimônio porque o seu ativo (imóvel) continua valorizando ao longo dos anos. Como a tendência é
ele acompanhar, pelo menos, a inflação é dito que o investimento em imóveis te protege bem da
inflação, no longo prazo.

AÇÕES → Renda Variável

Imagine que você possua ações de duas empresas brasileiras de capital aberto na bolsa de
valores: a fabricante de bebidas AMBEV e a operadora de planos odontológicos ODONTOPREV.
Vamos considerar que você investiu R$ 100 mil na AMBEV e esta paga R$ 5 mil ao ano em dividendos
(distribuição dos lucros da empresa). Considere, também, que você investiu R$ 100 mil na
ODONTOPREV e esta paga R$ 5 mil ao ano em dividendos.

Nesse formato, surge a seguinte pergunta:


. Em 10 anos, as ações da AMBEV estarão valendo quanto? Mais que R$ 100 mil
ou menos? Vamos considerar que após 10 anos, elas estarão valendo R$ 200 mil. Em
seguida, vamos explicar o porquê.

. Em 20 anos, essas ações estarão valendo quanto? Mais que R$ 200 mil ou
menos? Vamos considerar que estarão valendo R$ 500 mil. Em seguida, vamos
explicar o porquê.

Em suma, temos a seguinte situação:

A AMBEV é uma empresa top de linha do Brasil. É uma empresa que apresenta lucros
consistentes há mais de 10 anos. Ela é uma empresa que, ocorrendo inflação sobre seus custos
(insumos, maquinário, mão de obra de sua equipe), a empresa consegue repassar essa despesa mais
alta para os seus produtos. E o cliente paga. Por isso, a cerveja e o refrigerante Guaraná Antarctica -
por exemplo - estão cada vez mais caros: inflação. A AMBEV repassa esse custo adicional aos clientes,
que arcam com isso.

Ou seja, é natural que os lucros da AMBEV ao longo dos anos acompanhem, pelo menos, a
inflação. E, como vamos ver mais adiante, no longo prazo, a cotação das ações acompanha os lucros
da empresa. Por isso, é natural que após 10 anos as ações da AMBEV estejam valendo mais. E daqui a
20 anos, também.
Em algum momento, durante alguns anos, pode ocorrer das ações valorizar menos que a inflação
ou até desvalorizar. Em 10 anos, elas podem estar valendo R$ 50 mil (desvalorização de R$ 50 mil)?
Pode. Ao longo dos 10 anos, elas podem chegar a valerem R$ 50 mil e depois subir para R$ 200 mil?
Pode. Após 10 anos, é mais provável que as ações estejam com um valor superior a R$ 100 mil
porque a tendência é que elas acompanhem, pelo menos, a inflação. Após 20 anos, a ideia é a
mesma.

Em relação às ações da ODONTOPREV, o pensamento é o mesmo. A ODONTOPREV é uma


empresa boa que apresenta lucros consistentes há mais de 10 anos. Se os insumos de laboratório,
mão de obra dos dentistas aumentarem por causa da inflação, a empresa consegue repassar esses
custos aos clientes. Sendo assim, é natural que os lucros da ODONTOPREV acompanhem - pelo
menos - a inflação; e a cotação segue os lucros, no longo prazo. Por isso, a tendência é que após 10
anos as ações da ODONTOPREV estejam valendo mais que R$ 100 mil.

Diante desse “vai-e-vem” de preços das ações ao longo dos anos, o mercado acionário é uma
Renda Variável. O valor do ativo, nesse caso a ação, pode variar para baixo ou para cima.

Em suma, verifica-se que o investidor possui um retorno patrimonial das ações de duas formas:

1 - da valorização das ações: ganho de capital

2 - dos dividendos: renda passiva

Considerando agora que você utilize esse valor recebido dos dividendos (renda passiva) para
pagar despesas de alimentação, conta de energia, escola dos filhos, etc. Você continua acumulando
patrimônio porque o seu ativo (ações) continua valorizando ao longo dos anos. Como a tendência é
ele acompanhar, pelo menos, a inflação é dito que o investimento em ações de boas empresas te
protege bem da inflação, no longo prazo.

TESOURO DIRETO → Renda Fixa

Imagine que você aplicou R$ 200 mil em títulos do Tesouro Direto (TD). E ele paga R$ 10 mil ao
ano em juros. Nesse formato, surge a seguinte pergunta:
. Em 10 anos, esses títulos estarão valendo quanto? Mais que R$ 200 mil ou
menos? Eles estarão valendo exatamente R$ 200 mil. Em seguida, vamos explicar o
porquê.

. Em 20 anos, esses títulos estarão valendo quanto? Os mesmos R$ 200 mil.

Em suma, temos a seguinte situação:

A maior característica da Renda Fixa é que o principal, nesse caso os R$ 200 mil, não se valoriza
ao longo dos anos; ele é FIXO. Ou seja, como existe inflação, o principal é corroído. No futuro, esses
R$ 200 mil não vão comprar os mesmos itens que comprava no passado. Há perda do poder de
compra. Por isso, surge o trocadilho de que a Renda Fixa é, na verdade, uma Perda Fixa; porque
perde-se poder de compra já que o principal é corroído pela inflação ao longo dos anos.

Por causa desse “congelamento” do principal é dado o nome de Renda Fixa: o principal é FIXO. O
valor do ativo, nesse caso o título do Tesouro Direto, não valoriza. Em suma, verifica-se que o
investidor possui um retorno patrimonial da Renda Fixa de apenas uma forma:

1 - dos juros: renda passiva


Considere agora que você utilize esse valor recebido dos juros (renda passiva) para pagar
despesas de alimentação, conta de energia, escola dos filhos, etc. Você terá seu patrimônio corroído
pela inflação ao longo dos anos, porque o seu principal não se valoriza. Sendo assim, considera que a
aplicação em renda fixa não te protege da inflação. Você teria que reaplicar os juros eternamente na
mesma aplicação para tentar manter o mesmo poder de compra.

Para facilitar o entendimento de que apenas a Renda Variável te protege da inflação, vamos para
a seguinte situação:

1 - Imóvel: você decide emprestar para algum familiar que está passando por dificuldade.

. você não cobra o aluguel, mas combina que ele pague impostos e taxas;

. nessa situação, a renda passiva (aluguel) não existe mais;

. para o acúmulo do patrimônio, não há nenhum problema, porque o imóvel continuará


valorizando no longo prazo.

2 - Ações da AMBEV e ODONTOPREV: elas param de pagar dividendos.

. nessa situação, a renda passiva (dividendos) não existe mais;

. para o acúmulo do patrimônio, não há nenhum problema, porque as ações continuarão


valorizando no longo prazo25;

3 - Títulos do Tesouro Direto: eles param de pagar juros.

. nessa situação, a renda passiva (juros) não existe mais;

. como o principal não se valoriza, não há ganho de capital, o seu patrimônio será corroído pela
inflação. Seu dinheiro tenderá a zero.

25
Nada é garantido. É o estudo do presente tendendo no futuro. Há maneiras de se proteger das situações em
que os investimentos não derem certo e as empresas fiquem ruim. Mas esse assunto não será abordado nesta
obra.
Conclui-se que a Renda Fixa não serve para o acúmulo do patrimônio. Como o principal não se
valoriza, os juros compostos não explodem de forma eficiente. Por isso, ela não é considerada um
investimento. Ela será apenas uma aplicação financeira que dará apoio aos investimentos na Renda
Variável.

Diante dessa conclusão, é possível traçar os objetivos para cada tipo de investimento:

. Renda Variável: acumular patrimônio no longo prazo;

. Renda Fixa: reserva de emergência + objetivos com prazo definido + proteção no curto prazo26.

Sendo assim, quando você estiver trabalhando, auferindo renda e for montar sua carteira de
investimentos, você terá parte do seu patrimônio na Renda Fixa e parte na Renda Variável. Essa
divisão de quanto colocar em cada tipo de investimento estará atrelado ao seu perfil e sua
experiência como investidor. Ao longo dos anos, você formará seus critérios próprios para montar
sua carteira. Para exemplificar:

Investidor iniciante, Idade = 20 anos

Renda Fixa = 90% / Renda Variável = 10%

O que isso quer dizer? Que se o investidor poupa R$ 500/mês, ele irá colocar R$ 450 na renda fixa
(Tesouro Direto, por exemplo) e R$ 50 na renda variável (ações, por exemplo).

Investidor com 5 anos de experiência no mercado, Idade = 25 anos

Renda Fixa = 70% / Renda Variável = 30%

Investidor experiente, Idade = 35 anos

26
Esses conceitos não são objeto dessa obra.
Renda Fixa = 20% / Renda Variável = 80%

Conforme o investidor vai tornando-se mais experiente, o percentual mensal destinado à Renda
Variável vai aumentando, gradativamente. Isso ocorre porque sabe-se que a Renda Fixa não serve
para acumular patrimônio, porém para operar na Bolsa de Valores é preciso experiência. Um
iniciante não pode começar com 90% em ações. Deve-se iniciar conforme os exemplos acima. E,
também, não se pode ter 100% em renda variável, já que uma proteção de curto prazo é necessário,
pois a renda variável varia aleatoriamente no curto prazo.

CONTROLE DE RISCO

Esse é o conceito mais importante no mundo dos investimentos. Porém, é o que as pessoas
menos prestam atenção. Por quê? Porque, no geral, elas ficam preocupadas apenas com o resultado,
com a rentabilidade daquele investimento. Quando você foca apenas na taxa de retorno, você não
enxerga o risco adequadamente.

E como se avalia o risco de forma correta? Você deve tentar visualizar as consequências, caso o
seu investimento dê errado. Se tudo der errado, como você ficará? Você vai conseguir manter suas
despesas mensais ou você vai quebrar por completo e ficar sem dinheiro nem para comer?

Vamos a alguns exemplos.

1 - Imóvel na planta X Imóvel pronto

Vamos considerar que você não tem o dinheiro à vista para a compra do imóvel, como a grande
maioria das pessoas. Ou seja, o imóvel será adquirido através de financiamento, em outras palavras,
dívida. O senso comum quando trata-se de investimentos é a busca pela melhor rentabilidade. E,
quando trata-se de imóveis, a “melhor rentabilidade” estará ligada diretamente ao que é mais
barato. Considerando o mesmo imóvel (mesma localização, mesmo tamanho, mesmo conforto), qual
imóvel terá um preço menor: na planta ou um já construído? Mesmo que você não saiba nada
sobre imóveis, é intuitivo achar que o imóvel pronto terá um preço maior. Mas por quê? Essa
resposta estará diretamente ligada ao risco. Um imóvel pronto é mais caro porque o risco é menor.
Lembre-se da premissa básica dos investimentos: risco é diretamente proporcional ao retorno. Algo
mais rentável, será mais arriscado. Agora, vamos entender porque um imóvel na planta - que é mais
barato - possui um risco maior. Quais são os riscos associados a um imóvel na planta? Quais são os
riscos associados a um imóvel pronto? E quais riscos são comuns para os dois?

Risco Imóvel Planta Imóvel Pronto

de falência da construtora X

da construção em si: projeto mal elaborado,


X
má execução, desabamento, etc

Atraso na construção X

de invasão do terreno por índios, moradores


X
de rua, movimento sem terra, etc

interrupção da obra por: processo judicial,


falta de licença ambiental, falta de licença da X
Prefeitura, etc

de vizinho barulhento (seja no pavimento de


X X
cima, de baixo ou ao lado)

bairro ficar violento no futuro (falta de


X X
segurança)

construção de presídio, favela nas


X X
redondezas do imóvel

Existem outros riscos associados à compra de um imóvel, porém os citados acima já conseguem
demonstrar nosso ponto. Após análise da tabela acima, você consegue enxergar o que é mais
arriscado: comprar um imóvel na planta ou um já pronto? Claramente, comprar um imóvel na planta
é muito mais arriscado, por isso, ele vai ser mais barato.

Vamos visualizar, agora, como funciona quando compram um imóvel na planta e quando
compram um imóvel pronto. Por questões didáticas, vamos considerar que as condições de
financiamento serão as mesmas, para facilitar o entendimento.

Preço do Imóvel = R$ 500.000,00

Entrada de 30% = R$ 150.000,00 (pagamento à vista)

Valor Financiado = R$ 350.000,00

Taxa de Juros = 9% + TR na Tabela SAC

Prazo = 360 meses

1a Parcela = R$ 3.494,78; decrescente até a 360a Parcela = R$ 979,22

Custo do imóvel ao final = R$ 805.322,05 + R$ 150.000,00 = R$ 955.322,05

O imóvel sai praticamente duas vezes o preço inicial. O montante financiado foi de R$ 350.000,
mas o montante total de juros pago foi de R$ 455.322,65. Como você quer acumular patrimônio ao
longo da vida pagando por seus bens o dobro do preço real deles?

1.1 - Imóvel na Planta: compra

Prazo de entrega do imóvel = 4 anos


Como o imóvel está em construção, você terá que morar em outro local. Sendo assim, você terá
que pagar aluguel, além de pagar as prestações do seu imóvel adquirido na planta. Se tudo ocorrer
bem e nenhum daqueles riscos associados ocorrer, você vai pagar aluguel durante 04 anos, que é o
prazo de término da obra. Porém, você não pode analisar a compra desse imóvel nesse formato.
Antes de concretizar a compra, você deve avaliar o risco associado; ou seja, tem que levar em
consideração todas as situações citadas lá na tabela.

Você deve-se perguntar: e se a obra atrasar ou for interrompida por 2 anos? Eu terei condições de
pagar aluguel por mais 2 anos? Se a resposta for não, então a compra não deve ser feita. Você estaria
se arriscando demais.

Se a construtora falir, eu vou ter condições de pagar advogado para entrar com ação judicial para
reaver o dinheiro gasto nas parcelas do imóvel até esse momento? Se a resposta for não, então você
tem que considerar que há essa possibilidade de perder o dinheiro pago, e talvez nunca mais
recupera-lo.

Realizar o controle de risco adequado é analisar esses cenários negativos. Dependendo da sua
situação, é mais prudente (mais seguro) você viver de aluguel enquanto realiza a poupança (junta
dinheiro) para a aquisição do imóvel à vista. Esse seria o melhor dos mundos. Ou, pelo menos, que
consiga juntar dinheiro o suficiente para dar uma entrada de 70% do imóvel, por exemplo. Assim, o
seu financiamento fica muito menor.

1.2 - Imóvel Pronto: compra

Prazo de entrega do imóvel = imediata

Nessa situação, o imóvel já existe. Sua preocupação imediata é descobrir o histórico de problemas
que o imóvel já teve para providenciar o reparo/reforma antes de se mudar. Infelizmente, há
problemas que só se descobre depois que você já está habitando; mas é interessante mapear todos
os problemas com antecedência.

Em relação ao lado financeiro, o seu único custo será as parcelas do financiamento. Você não
possui dois boletos como no exemplo anterior (do aluguel + financiamento). Sendo assim, tudo que
você conseguir poupar no mês deve ser utilizado para antecipar as parcelas do imóvel. Adiantando
parcelas, você compra TEMPO e paga menos juros, terminando com mais patrimônio ao final. Além
de se proteger de uma possível explosão da inflação.

Veja que os juros cobrados nesse exemplo foi de 9% + TR. A taxa TR está ligada à inflação. Se esta
dispara, as suas parcelas irão aumentar de preço. E, pode ter certeza, sua renda não será ajustada da
mesma forma: no mesmo montante e/ou na mesma velocidade. O controle de risco é exatamente
isso: antecipar as parcelas do financiamento o máximo que conseguir, “comprando tempo”, para
livrar-se logo da dívida e evitar que uma inflação alta, no futuro, aumente o valor das suas
prestações.

VIÉS DE RESULTADO (Outcome Bias)

Como estamos falando sobre controle de risco, deve-se apresentar o conceito de viés de
resultado: é a tendência mental humana julgar a qualidade de uma ação ou estratégia de acordo com
o resultado obtido. Trazendo esse conceito para o universo das finanças pessoais (dívidas,
investimentos, educação financeira), o viés de resultado é quando você analisa determinado
investimento olhando apenas para o possível resultado que ele pode dar, baseado em resultados
anteriores. Se você focar sempre no resultado, além de não analisar risco adequadamente, você
chega a conclusões absurdas. Tais como:

. meu tio fumou cigarro por 60 anos e viveu até os 92 anos. Ou seja, cigarro não faz mal à saúde;

. meu primo jogou R$ 100 na loteria e ganhou R$ 20 milhões. Ou seja, loteria é um ótimo negócio;

O exemplo clássico é o da roleta russa: jogo em que se coloca uma bala em um revólver que
suporta 6 balas. A arma é apontada para a cabeça da pessoa. Esta atira. Se ela sobreviver, ganha U$ 1
milhão. Caso contrário, ela morre. Qual a probabilidade do jogador ganhar U$ 1 milhão?

Concorda que é de 83%? A cada 6 pessoas que jogam roleta russa, 5 ganham U$ 1 milhão. O
problema é que a 6a pessoa morre. É um risco baixo (⅙ = 17%) para um resultado (dano)
catastrófico. A roleta russa permitiria que você chegasse a uma roda de amigos e dissesse:

“ Você ficou sabendo que o Joca, o Antônio, o Bruno, o João e o Caio ganharam U$ 1 milhão na
roleta russa?

- Sério?

- Pena que o Marquinhos morreu. Você teria coragem?”


O viés de resultado, automaticamente, sem as pessoas saberem, é utilizado para justificar más
decisões ao longo da vida, principalmente em relação a investimentos. Veja o exemplo de alguém
que financiou um apartamento com o objetivo de alugá-lo.

O sujeito comprou um apartamento. Como não havia dinheiro para comprar à vista, ele financiou
o apartamento por 30 anos. Ele resolveu fazer isso porque 3 amigos dele fizeram a mesma coisa e,
até agora, está dando tudo certo. Qual é a ideia aqui?

. o apartamento está financiado em 30 anos, ou seja, 360 parcelas de R$ 1.500,00;

. O financiamento foi a juros de 9% a.a + TR

. ele conseguirá alugar esse apartamento por R$ 2.000,00, segundo o que o mercado está
pagando hoje. Esta informação foi dada pelos 3 amigos dele que já alugam seus respectivos
apartamentos;

. Se a parcela é R$ 1.500 e ele aluga por R$ 2.000, então o lucro é de R$ 500. Dinheiro fácil.

“Se até agora deu certo para os meus 3 amigos, vou entrar nessa também.”

O que ele fez aqui? Realizou o investimento olhando apenas para o resultado: lucro mensal de R$
500. Ele não analisou nada do risco. E como fazer isso? Pensar nos cenários maléficos que podem
ocorrer:

a) Ele não conseguir alugar e ter que arcar com a parcela de R$ 1.500;

b) Ele conseguir alugar, mas por um valor abaixo de R$ 1.500, e ter que
arcar com parte da parcela;

c) A inflação disparar, o que vai alterar a TR (taxa de financiamento) e o


valor da parcela aumentar consideravelmente; talvez até ultrapassando o valor total que ele
recebe de aluguel;

Esses são cenários completamente possíveis de ocorrer. Por qual motivo? Cada uma das situações
acima pode acontecer por diversas razões: crise, vizinho barulhento, inflação. São cenários que não
conseguimos prever, pode ocorrer em um futuro próximo. O controle de risco é analisar como ficará
sua situação se algum desses cenários ocorrer. Dito isso, você nunca deve basear suas decisões de
investimento olhando apenas o resultado. Mas é claro que é o que a maioria faz. É o senso comum:
analisar apenas o resultado e deixar o risco de lado. Controle de risco não é feito perguntando o
quanto você vai ganhar; mas perguntando o quanto você pode perder.
COMO IDENTIFICAR UMA PIRÂMIDE FINANCEIRA

Talvez esse seja o tópico mais importante do livro. Porque ele mexe diretamente com a ganância
do ser humano: a busca rápida do enriquecimento. E pior: enriquecimento de forma fácil, sem
esforço, sem trabalho. Claro que isso não existe. Ficar rico exige estudo, trabalho, suor, muito
esforço, abrir mão de lazer, entre outros sacrifícios.

Porém, o mercado financeiro permite o enriquecimento rápido. As especulações financeiras que


ocorrem no mercado - de tempos em tempos - acabam consagrando alguns sortudos ricos da “noite
para o dia”. Isso é o fenômeno das chances. A sorte existe. A mega-sena é um exemplo clássico disso.
Alguém - um dia - ganha.

O problema é que as pessoas procuram atalhos para essa riqueza rápida. Elas buscam formas de
ganhar dinheiro sem esforço. E adivinha…..haverá muitas pessoas dispostas a te “ajudar” a
conquistar isso: os estelionatários, pessoas que organizam pirâmides financeiras, fraudes e outros
crimes relacionados. Pode ter certeza que se você procurar esquemas fraudulentos em curso (que
estão acontecendo nesse momento), haverá centenas. As pirâmides financeiras não caem da noite
para o dia. Algumas duram poucos meses, outras duram poucos anos. A maior pirâmide financeira da
história - orquestrada por Bernie Madoff nos Estados Unidos - demorou 15 anos para cair27. E só caiu
por causa da crise financeira mundial de 2008 (a crise do subprime).

Primeiro vamos entender por que as pessoas se envolvem em pirâmides financeiras; segundo,
vamos aprender como identificar uma pirâmide e ficar longe delas.

Por que as pessoas entram em pirâmides financeiras?

1) Vontade do enriquecimento rápido. São os atalhos da vida, além da


ideia de você achar que é mais esperto que os outros. Que você é o único que conhece a
grande oportunidade do mercado. Esse sentimento tem muito a ver com arrogância e
imaturidade.

2) Mentalidade de que investimento é para ganhar dinheiro. Isso é


muito errado!!!!! Você vai ganhar dinheiro com o seu trabalho (sua renda ativa).

27
A história de Bernie Madoff é relatada no filme O Mago das Mentiras, com os atores Robert De Niro e
Michelle Pfeiffer.
Investimento é para acumular patrimônio. Dito isso, a busca por rentabilidade não faz
sentido porque é impossível saber quanto um investimento vai render. Você deve procurar
ativos de qualidade, com resiliência, que tenha valor. Isso é que vai gerar riqueza no futuro,
quando você tiver construído um patrimônio consistente.

Como identificar uma pirâmide financeira?

As pirâmides financeiras possuem, em geral, duas características clássicas:

1) Promessas de lucros altíssimos, bem acima do mercado.

2) Não existe um produto ou uma prestação de serviço envolvido no


negócio. Tudo é uma espécie de “caixa-preta”, sem informações claras do que o
investimento realmente faz.

Para entender cada uma das características acima, temos que entender alguns conceitos.

O governo brasileiro define a taxa básica da economia brasileiro que é chamada de TAXA SELIC.
Entre 2018-2019, essa taxa girou em torno de 6% ao ano. Ou seja, se você realizar uma aplicação
financeira que te dará um retorno de 6% ao ano, então - em tese - essa aplicação possui um risco
próximo de zero. Digamos que é quase garantido que você possua, de fato, essa taxa de retorno. Dito
isso, podemos definir que a aplicação financeira mais segura no país é o Tesouro Direto, em que você
empresta dinheiro ao governo.

Como nos investimentos existe uma relação direta entre risco/retorno, conforme você realiza
investimentos mais arriscados, a tendência é que o seu potencial retorno seja maior. Porém, na
renda fixa, essa relação não é respeitada de forma proporcional. Independente disso, podemos criar
a tabela abaixo para simplificar:

Investimentos: Risco X Retorno


Onde Aplicação Retorno* Risco
Tesouro Direto Título Tesouro Selic 6% a.a = 100% CDI próximo de zero
Bancão** Poupança 70% da Selic = 4,2% a.a 1
Bancão** LCI 105% do CDI = 6,3% a.a 2
Banquinho*** CDB 120% do CDI 3
Concessionária de Rodovias Debênture 150% do CDI 4
Bolsa de Valores Ações, Opções, etc Ilimitado 5
*considera-se Taxa Selic = CDI; logo, 6% a.a é o equivalente à 100% do CDI28

**Bancão: três grandes bancos brasileiros = Itaú, Bradesco, Banco do Brasil

*** Banquinho: bancos pequenos, que - no geral - estão em situação ruim

A tabela acima não é uma matemática exata. É apenas para ilustrar, de forma bem simplificada, o
que seria o investimento mais seguro no Brasil e o mais arriscado. Ela serve apenas para você
entender que se você procurar algum investimento que tenha um retorno acima dos 6% da Taxa
Selic, já existe um risco envolvido. Por isso, qualquer investimento que prometer garantia de retorno
acima de 6%, você já deve desconfiar. Nos investimentos, não existe garantia de nada. Se oferecerem
algo nesses termos, saiba que você está sendo enganado. Porém, nas pirâmides financeiras, as taxas
de retorno oferecidas são tão absurdas que fica difícil entender como as pessoas se iludem e caem
nesses golpes.

Os golpes de pirâmide financeira costumam oferecer algo como 5% ao mês, 10%, e - às vezes - até
1% ao dia. Vamos tentar entender, na prática, o que seriam esses valores.

Se você aplicar R$ 1.000,00 por mês durante um período de 05 anos na Taxa Selic 6% a.a, o que
daria 0,4868 a.m, você acabaria com um patrimônio final de R$ 69.555,29. Isso é composto de R$
60.000,00 do seu aporte acumulado, mais a parcela dos juros compostos que rendeu sobre o seu
aporte de R$ 9.555,29, totalizando os R$ 69.555,29.

O que isso quer dizer? Que dentro desses 05 anos, você conseguiu ter um rendimento de R$
9.555,29 correndo um risco próximo de zero, já que a aplicação foi no Tesouro Selic.

Veja agora os valores praticados pelas pirâmides financeiras:

28
CDI: Certificado de Depósito Interbancário. É a taxa de juros que um banco cobra do outro quando realiza
empréstimos entre eles. Na prática, a taxa CDI é igual à Taxa Selic. Ela é o balizador para todas as aplicações de
renda fixa no Brasil. Quando uma aplicação financeira está pagando 120% do CDI, quer dizer que ela está
pagando 1,2*6 = 7,2% a.a.
Pirâmides Financeiras - Esquemas Ponzi - PRAZO = 05 anos
Aporte Aporte
Onde Retorno Mensal TOTAL Juros Patrimônio FINAL
Tesouro
Selic 6% a.a R$1.000,00 R$60.000,00 R$9.555,29 R$69.555,29
Pirâmide 01 5% a.m R$1.000,00 R$60.000,00 R$293.583,00 R$353.583,00
Pirâmide 02 10% a.m R$1.000,00 R$60.000,00 R$2.974.816,00 R$3.034.816,00
Pirâmide 03 1% a.d R$1.000,00 R$60.000,00 R$22.881.193.909,00 R$22.881.253.909,00

Na prática, o que seria a Pirâmide 02:

Um estagiário de 20 anos que recebe R$ 1.000,00 de salário e mora com os pais. Ou seja, não
possui nenhuma despesa relevante. Ele começa a investir nessa pirâmide e depois de meros 05 anos,
ele já virou um multimilionário com um patrimônio acumulado de R$ 3.034.816,00 (três milhões e
trinta e quatro mil e oitocentos e dezesseis reais). Você acha razoável isso? O Brasil seria o país com
o maior número de multimilionários do mundo.

Na prática, o que seria a Pirâmide 03:

Um motorista de aplicativo que aufere renda de R$ 3.000,00/mês e possui despesas de R$


2.000,00. Ou seja, ele consegue investir R$ 1.000,00, mensalmente. Ele entra na pirâmide 03, que é
um esquema de operações com moedas criptografadas, que paga 1% ao dia. Em apenas 05 anos
trabalhando como motorista de aplicativo, ele acumula uma fortuna bilionária de R$
22.881.253.909,00 (vinte e dois bilhões e oitocentos e oitenta milhões e duzentos e cinquenta e três
mil e novecentos e nove centavos). Ou seja, ele já teria dinheiro suficiente para comprar algumas
ilhas espalhadas pelo mundo.

E quando a pirâmide cai, quebra, várias pessoas são lesadas e aparecem diversas reportagens
comentando sobre as vítimas envolvidas. Como você pode chamar de vítima uma pessoa que entrou
nesse esquema? Não há vítimas. Há espertalhões. Pessoas que quiseram atalhos para a riqueza. E,
para isso, acharam que eram mais espertas que todos os outros que não participaram. Ninguém os
forçou a participar. Enquanto a mídia e a sociedade continuarem tratando os envolvidos nessas
fraudes como vítimas, as pirâmides continuarão existindo com mais facilidade e frequência.

Após essa explanação sobre as taxas praticadas pelas pirâmides, vamos para as características já
citadas:

1 - Promessas de lucros altíssimos, bem acima do mercado

O que essa expressão “acima do mercado” significa? Significa que as taxas de retorno do
investimento estariam acima dos balizadores de mercado: na renda fixa, o balizador é a Taxa Selic
como já explicado; na bolsa de valores, o balizador é o índice bovespa (IBOV). Este, em 2018, teve um
retorno de 15% a.a.

Então, os investimentos plausíveis seriam:

. receber 6% para quem investiu na renda fixa, ocorrendo em um risco próximo de zero;

. receber 15% para quem investiu na bolsa de valores, ocorrendo em um risco de categoria 5,
conforme a Tabela;

Como não desconfiar de algo que paga 10% a.m, quando o mercado está pagando 0,4868% (Taxa
Selic)?

2 - Não existe um produto ou uma prestação de serviço envolvido no negócio. Tudo é uma
espécie de caixa-preta, sem informações claras do que o investimento realmente faz.

Para explicar esse item dois, eu vou dar exemplo de duas pirâmides bem comuns que existem por
aí.

2.1) Venda de Produtos (Ou não)

. como que funciona essa pirâmide? Supostamente, o fraudador - o “cabeça” do


esquema - possui um produto para apresentar e vender; por exemplo, um açaí
superproteico que substitui qualquer uma das três alimentações do dia, seja café-da-
manhã, almoço ou jantar.

. há palestras constantes (diárias ou semanais) para apresentação do produto,


mostrando os benefícios e o preço. Essas palestras não são para clientes comprarem
os produtos. Elas são para recrutar representantes/ vendedores do açaí. Assim, o
“cabeça” demonstra como você pode virar um franqueado.

. como virar franqueado? Você paga R$ 1.000 para virar representante e deve
comprar R$ 2.000 de produto para revender por R$ 4.000. Esses valores são apenas
exemplos. E você só vai obter retorno, de fato, se recrutar mais novos franqueados;
porque você não vai conseguir vender esses produtos por R$ 4.000. Mas recrutar
novas pessoas com a ilusão de que elas ganharão muito dinheiro recrutando novas
pessoas…..isso você consegue fazer. O seu lucro não vai vir da venda dos produtos.
Ele vai vir dos R$ 1.000 que cada novo franqueado recrutado vai pagar, além dos R$
2.000 de produtos que os mesmo irão comprar.
. quanto mais franqueados você recrutar, mais você lucra; quanto mais novos
franqueados os seus franqueados recrutar, mais você lucra; e por aí vai.

. a venda de produtos é uma farsa. O que sustenta o esquema é que cada vez mais
haja novos representantes pagando os R$ 1.000 de inscrição e os R$ 2.000 em
produtos.

. essa pirâmide é a mais clássica de todas. Existem inúmeras nesse formato, no


mundo. Enquanto tiver novos entrantes no esquema, a pirâmide permanece. O
pessoal da base dá dinheiro aos “cabeças” no topo da pirâmide.

. as investigações dos esquemas de pirâmides duram anos e quando elas caem, na


maioria das vezes, as autoridades não conseguem provar, de fato, a fraude
financeira; por isso, não vou citar os produtos que são pirâmides financeiras, mas
uma rápida pesquisa no google é possível conhecer as mais famosas.

De forma bem resumida: nesse tipo de pirâmide, se o interesse maior do dono do esquema é
fazer com que você recrute mais pessoas, em vez de vender produtos, pode ter certeza: é uma
pirâmide financeira.

2.2) Contrato de Mútuo (Empréstimo)

. como que funciona essa pirâmide? Você empresta dinheiro para a empresa
responsável pelo esquema (os “cabeças”) e ela promete um retorno fixo de X % a.m.
O que essa empresa vai fazer com esse dinheiro? Você não sabe. Ela pode dizer que
vai realizar operações no mercado financeiro, extrair pedras preciosas, comprar e
vender imóvel, ou os donos do esquema podem - simplesmente - gastar o dinheiro
em viagens, carros importados e mansões de luxo.

. os participantes da fraude entram com R$ 1.000. Quando recebem o prometido


nos primeiros meses, ganham confiança no esquema e entram com mais dinheiro:
R$ 300.000. Há pessoas que vendem apartamento para entrar nessas pirâmides. E,
enquanto isso, você não tem a mínima ideia em que, de fato, o seu dinheiro está
sendo investido.

. hoje em dia, esse tipo de pirâmide financeira está tornando-se cada vez mais
comum. Algumas já quebraram, mas novas são criadas, constantemente.
É claro que há vários outros tipos de pirâmides financeiras. O esquema fraudulento do Bernie
Madoff, citado no início desse tópico, já é um tipo diferente: foi através de um fundo de
investimento. Porém, eu citei apenas os dois mais conhecidos.

Acredito que você, jovem, já possui informações suficientes para reconhecer uma pirâmide
financeira quando for apresentado e poder afastar-se desse tipo de fraude.
CONCLUSÃO

“Se um dia já homem feito e realizado, sentires que a terra cede a teus pés, que tuas obras
desmoronam, que não há ninguém a tua volta para te estender a mão, esquece a tua maturidade,
passa pela tua mocidade, volta à tua infância e balbucia, entre lágrimas e esperanças, as últimas
palavras que sempre te restarão na alma: Minha Mãe, Meu Pai.”

Rui Barbosa

Meu objetivo com essa obra não é que você, adolescente, fique obcecado, bitolado, por construir
patrimônio já nesse instante. Você não deve fazer isso. Você está em tempo de brincar, estudar,
namorar, conhecer novos amigos, praticar esportes, etc.

A internet está aí para que você tenha acesso ao maior tipo de informações possíveis, mas muito
cuidado com essa “facilidade” que a tecnologia proporciona. Para poder filtrar as coisas ruins que a
internet empurra a você, é preciso estudo (por diferentes fontes: livros, escola), maturidade (que é
adquirida com o tempo) e - principalmente - orientação dos seus pais. Às vezes, nessa fase da vida,
você tende a não querer escutar seus pais. A idade entre 14-18 anos é quando você começa a ter um
pouco mais de liberdade para ir em festas, sair na rua sozinho, começar a namorar e, claro, fazer
coisas erradas.

Não me refiro a coisas erradas como experimentar drogas (incluindo bebidas alcoólicas) ou roubar
chocolate no supermercado. Claro que isso é errado, mas quero tratar de coisas mais simples, mais
corriqueiras do dia-a-dia de todo jovem. Me refiro a coisas erradas como não voltar para casa no
horário combinado, não fazer os deveres de casa, não estudar, ficar preso no tablet o dia inteiro, não
atender chamada dos seus pais, responder atravessado os mais velhos. E isso vai fazendo com que a
relação jovem-pais fique mais difícil. E é natural os pais tornarem-se mais chatos, mais reclamões, na
tentativa de manter a disciplina na casa. Para mantê-lo no caminho certo.

Enxergue seus pais sempre como aliados para sua formação, sua educação, sua vida. Mas é
preciso parceria, é preciso que você faça sua parte. Então, estude, divirta-se, namore, pratique
esportes, assista filmes, escute música, festeje e - claro - obedeça aos seus pais. E, lembre-se com
carinho deste livro ao longo da sua caminhada no Ensino Médio. Sugiro a leitura em 04 momentos da
sua vida como adolescente: início do 1o, 2o e 3o ano. E logo após você formar-se no Ensino Médio.

Ao longo da sua vida, você verá que os ensinamentos desse livro sobre os assuntos de Educação
Financeira - tais como poupança, não fazer dívidas, saber investir, trabalhar, ajudar aos
desamparados - são importantíssimos e nunca ficarão ultrapassados. Porém, tudo isso é um grão de
feijão dentro de uma plantação em comparação com o prazer de cuidar da sua saúde, da sua família,
praticar esportes, viajar, ter tranquilidade, ter paz.
Eu gostaria de finalizar esta obra com uma canção que fosse adequada ao momento, mas
simplesmente escolhi a primeira composição que me vem à cabeça quando eu penso em crianças,
jovens e, claro, nos meus filhos, diretamente. É uma canção do meu poeta/compositor/músico
brasileiro favorito e, quem sabe, um dia, você também passe a aprecia-lo.

Ao Nosso Filho, Morena

Oswaldo Montenegro

Se hoje tua mão não tem manga ou goiaba

Se a nossa pelada se foi com o dia

Te peço desculpas, me abraça meu filho

Perdoa essa melancolia

Se hoje você não estranha a crueza

Dos lagos sem peixe da rua vazia

Te olho sem jeito, me abraça meu filho

Não sei se eu tentei tanto quanto eu podia

Se hoje teus olhos vislumbram com medo

Você já não vê e eu juro que havia

Te afago o cabelo, me abraça meu filho

Perdoa essa minha agonia

Se deixo você no absurdo planeta


Sem pique-bandeira e pelada vadia

Fujo do teu olho, me abraça meu filho

Não sei seu eu tentei

Mas você merecia


PÓSFÁCIO

Do livro 50 regras que as crianças não aprenderão na escola: Antídotos do mundo real a sentir –
Charles J. Sykes.

1. A vida não é fácil, acostume-se com isso;


2. O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo
espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo;
3. Você não ganhará R$ 20.000 por mês assim que sair da escola. Você
não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você
tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone;
4. Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá
pena de você;
5. Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da
sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de
oportunidade.
6. Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então, não lamente seus
erros, aprenda com eles;
7. Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora.
Eles só ficaram assim por pagar suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são
“ridículos”. Então, antes de salvar o planeta dos “parasitas sugadores de sangue” da geração
dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
8. Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e
perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas, você não repete mais de ano e tem
quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida
real.
9. A vida não é dividida em semestres. Você não terá os verões livres e
poucos empregadores estarão interessados em ajuda-lo a encontrar o seu próprio “eu”. Faça
isso no seu tempo;
10. Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o
barzinho ou a boate e ir trabalhar;
11. Seja legal com os CDFs, nerds (aqueles estudantes que estudam mais
que os outros e os demais julgam ser chatos). Existe uma grande probabilidade de você vir a
trabalhar PARA um deles.

(Adaptado)

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