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INVISTA E VIVA TRANQUILO

O GUIA PRÁTICO
PARA O INVESTIDOR CONSCIENTE

João Bosco Oliveira Junior


Texto por João Bosco Oliveira Junior (Mille) © 2013

Ilustrações Dirceu Brambilla

Todos os direitos reservados


COLEÇÃO

www.bastter.com
“Quem comprar o que não precisa, venderá o que precisa.”

Provérbio preferido do velho Zé de Almeida pai do meu amigo Kiko


PARA

MIKAELA E GEANLUCCA

SOBRINHOS QUERIDOS
“Em tempos de mudança, os aprendizes herdarão a Terra, enquanto os
sabe-tudo estarão perfeitamente equipados para se desenvolverem num
mundo que já terá deixado de existir.”

-Eric Hoffer
SUMÁRIO

PREFÁCIO
CAPITULO UM O REENCONTRO
CAPÍTULO DOIS RECOMEÇO
CAPÍTULO TRÊS COLOCANDO O PLANO EM PRÁTICA
CAPÍTULO QUATRO A VIAGEM – SÁBADO
CAPÍTULO CINCO A VIAGEM – DOMINGO
CAPÍTULO SEIS IMÓVEIS
CAPÍTULO SETE RENDA VARIÁVEL
CAPÍTULO OITO RENDA VARIÁVEL - SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO NOVE RENDA VARIÁVEL - TERCEIRA PARTE
CAPÍTULO DEZ RENDA VARIÁVEL – QUARTA PARTE
CAPÍTULO ONZE INVESTINDO
EPÍLOGO
APÊNDICE
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PREFÁCIO

Sócio tem de querer comprar cada vez mais caro! Esta frase espetacular do
Mille (João Bosco) de uma genialidade impar sintetiza seu estilo na Bolsa.
Buscando ações de empresas espetaculares, que acha como ninguém e vai
comprando cada vez mais caro porque parece uma bruxaria como sobem as
ações que ele escolhe (Na verdade não tem nada de bruxaria, mas sim
muito estudo e análise das empresas somadas a uma percepção
extraordinária). Parecendo o personagem mineirinho, Mille vai analisando as
empresas manda e-mail, telefona, passa lá, vira até amigo do dono e
quietinho vai descobrindo o que tem valor e o que não tem. O que gera
caixa e o que não gera como ele diz. E se a empresa dá mole perdeu um
sócio.

Neste livro através de uma história deliciosa de se ler, quase um romance,


ou melhor, um causo, Mille vai passando e ensinando conceitos de
poupança e acumulo de patrimônio para uma vida tranquila e feliz desde o
início, o ajuste das finanças pessoais, até os diversos tipos de investimentos
e nos brinda no final com quatro capítulos de análise de empresas como
ninguém mais poderia fazer.

É uma honra prefaciar este livro, é uma honra ter o Mille na Bastter.com
passando seus conhecimentos para milhares de usuários e é uma honra
acima de tudo saber que apesar da distância posso considerar o Mille como
um grande amigo. Um grande amigo que me ensinou muito! Espero que
vocês aproveitem este livro como eu aproveitei. Eu já li três vezes! Você
não leu nenhuma? Corre!

Bastter
CAPITULO UM

O REENCONTRO

Guto era um rapaz de meia idade casado, com dois filhos adolescentes,
formado em engenharia e tinha um pequeno escritório no qual fazia
projetos e administrava obras para terceiros. Ele estava particularmente
radiante naquele dia, depois de tomar o café da manhã com sua família,
andando pelo centro de sua cidade absorto em pensamentos. Como tinha
conseguido chegar à tamanha realização profissional e pessoal ainda o
espantava, mesmo tendo consciência que seu sucesso não tinha sido
alcançado apenas pela sorte mas sim fruto do seu trabalho e planejamento.
Ainda assim sua posição atual e o caminho que percorreu para atingi-lo
deixava-o bastante satisfeito.

Em meio a esses pensamentos não percebeu que não prestava atenção ao


movimento na calçada e por isso não conseguiu evitar o choque com outro
senhor de meia idade e os dois homens foram lançados ao chão ao mesmo
tempo. Ele já estava ajudando o homem a levantar quando o reconheceu:

_ Adolfo, há quanto tempo, como vai essa força?

Adolfo foi um grande amigo de Guto na adolescência, se formou dentista, o


pai dele era um comerciante conhecido na cidade. Apesar dos bons
momentos que viveram na adolescência, perderam contato e Guto pouco
tinha visto Adolfo nos últimos anos.

Adolfo levantou tirando a poeira de sua calça, e, ao contrário de Guto,


estava numa manhã extremamente aborrecida, sem saber o que fazer e
ainda malogrando o esbarrão que o fizera sujar sua roupa e que ainda
deixara um pequeno hematoma em seu cotovelo. Não podia, contudo,
imaginar a sorte que esse esbarrão iria causar em sua vida e como ela seria
incrivelmente impactada:

_ Guto, que surpresa, não posso dizer que estou muito bem ultimamente,
aliás, estou muito longe disso.

_ O que aconteceu, Adolfo?

_ É uma longa história, não quero aborrecer você com meus problemas.

_ Você sempre me ajudou quando precisei Adolfo, vamos tomar um café na


padaria e você me conta seus problemas, e eu vejo se posso te ajudar.

Os dois amigos seguiram para a padaria da esquina, sentaram-se a mesa e


pediram dois cafés. Depois que a garçonete deixou a mesa Guto perguntou
a seu amigo:

_ Qual é o problema que o está incomodando, Adolfo?

_ Há uns meses atrás, um conhecido meu veio me falar de uma empresa


que estava proporcionando a ele um elevado ganho mensal, ele me explicou
como funcionava e eu logo me entusiasmei e quis fazer parte da empresa.

_ O que fazia essa empresa, Adolfo?

_ Sabe Guto, é até engraçado você me fazer essa pergunta, eu mesmo


tenho dificuldade em entender isso.

- Mas se você não entendeu o que a empresa faz para ganhar dinheiro,
como você se associou a ela?

_ Porque isso não me importou na época, Guto, nem a outras dezenas de


pessoas que eu conheci trabalhando para essa empresa, eu só conseguia
enxergar o ganho fácil com pouquíssimo trabalho que eu teria de fazer.

_ Você não se perguntou como a empresa conseguiria pagar as pessoas um


alto salário, ainda mais, com tão pouco serviço?

_ Claro que procurei saber, Guto, mas nas reuniões que eram feitas - Guto
o interrompeu.

- Espera um pouco, Adolfo, você quer dizer que você se associou a uma
pirâmide?
- No final da história foi isso mesmo, Guto. Como estava dizendo no
começo, à história que me foi contada fez sentido. Eu sei agora que foi a
ganância que não me deixou ver os pontos fracos da empresa, teve os
ganhos iniciais que me seduziam ainda mais, fazendo que cada vez mais eu
quisesse ter uma posição maior na empresa, e como você sabe essa
aspiração nesse tipo de empresa faz que você entre cada vez com mais
dinheiro para comprar essas novas posições.

_ Sim, Adolfo, infelizmente eu conheço como funciona esse tipo de


investimento. Você não foi o meu primeiro amigo que caiu nesse tipo de
golpe. Há um tempo atrás eu consegui ajudar um que estava nessa mesma
situação. Espero poder fazer alguma coisa por você também. Qual foi seu
prejuízo e como essa perda está afetando sua vida?

_ Perdi um bom dinheiro, Guto, sendo que uma parte me foi emprestada,
vendi ainda meu carro para aplicar o dinheiro na empresa. Pior ainda,
comprei um carro bem mais caro totalmente financiado. Fiz isso porque
estava entusiasmado com meus ganhos iniciais e achei que pagaria o carro
tranquilamente. Agora Guto o que você quis dizer que já ajudou alguém
com um problema parecido com o meu?

_ Esse meu amigo sabia que eu tinha conseguido boas realizações em


minha vida financeira e familiar, e me procurou para pedir um empréstimo
para ajudá-lo com seus problemas muito parecidos com os quais você tem
hoje. Depois de me inteirar do assunto disse a ele que um empréstimo
pouco ajudaria o que ele precisava era de um bom plano financeiro que
contemplasse ainda sua família, que estava incrivelmente desgastada pela
situação.

_ Guto, parece que você está espiando pelos meus ombros, eu também
estou com graves problemas familiares causados como você falou pela
exposição da minha família a esse meu fracasso financeiro. Além disso, meu
cunhado nem está conversando comigo porque o arrastei para a empresa,
causando uma grande perda financeira, o que também lhe acarretou
problemas familiares. No caso dele foi ainda pior porque ele sofre de
diabetes e esse estresse todo acabou por afetar sua saúde também. Já vi
que você não vai me emprestar dinheiro, então como você vai me ajudar?

_ No caso do meu amigo eu contei para ele como tinha feito um


planejamento que contemplasse todos os aspectos de minha vida desde o
financeiro passando pela minha família e a nossa saúde. Ele ouviu minha
história e procurou fazer um plano para ele também. Algumas ideias ele
copiou de mim outras ele mesmo desenvolveu o que também me ajudou a
melhorar meu plano com algumas das suas ideias e que não tinham me
ocorrido até aquele momento. No começo foi muito difícil para ele, pois
além de estar vivendo num modelo de vida mais restrito, que não lhe era
natural até aquele momento, existiam suas dívidas passadas que traziam
um peso ainda grande a sua qualidade de vida. Conforme o tempo foi
passando o plano que ele desenvolveu foi trazendo frutos o que
proporcionou o pagamento de suas dívidas e também um aumento na sua
renda. Como sua vida financeira se equilibrou ele conseguiu que sobrasse
dinheiro ao final de cada mês, que ele investiu em ativos que lhe geraram
rendimentos.

_ Então, Guto, para sair do enrosco financeiro que me encontro,


simplesmente tenho que fazer um plano financeiro que inclua também
minha família e saúde e segui-lo?

_ Basicamente sim, Adolfo, mas não se deixe enganar porque na teoria


parece bastante simples, mas na prática desenvolver e seguir um plano
completo como este não é fácil. Vai exigir viver com um orçamento enxuto
no começo, e isso pode gerar algumas desavenças na sua família por causa
do orçamento familiar mais apertado, ao qual eles com certeza estão pouco
familiarizados. Junto com o plano vem também à busca por conhecimento
que vai lhe ser útil para melhorar sua situação financeira. Com o tempo a
experiência adquirida também vai ser de suma importância, além de outros
fatores que discutiremos mais tarde.

- Guto, eu até posso viver sobre um orçamento curto para tentar melhorar
de vida, sou também um estudioso e curioso por excelência, então
compreendo as dificuldades que vou enfrentar e estaria disposto a isso. O
problema são as pressões que virão da minha família por viver com um
orçamento mais apertado. Eu não aguentaria e por isso não vou conseguir
desenvolver e colocar em prática um plano como discutimos.

- Adolfo, por acaso hoje você está vivendo sem pressões familiares? Seu
casamento pelo que você me contou não está em crise e ameaçado? Você
já não tem dificuldades em dar aos seus filhos as coisas que eles querem?
Não tenha dúvida que se você não der um basta em seu modo de agir, os
seus problemas tendem a aumentar até que você tenha grandes
dificuldades familiares e financeiras o que possivelmente também afetará
sua saúde.

_ Bem não tinha visto por esse lado Guto, mas agora que saí da pirâmide
talvez minha vida melhore por si só. Se pelo menos eu nunca tivesse ouvido
falar dessa maldita empresa.

_ Ter entrado nessa pirâmide, Adolfo, não foi o que causou os problemas na
sua vida e sim os problemas da sua vida é que te levaram a entrar nessa
pirâmide.

- Como assim, não entendi, Guto?

- É simples, Adolfo, viver uma vida sem um planejamento financeiro te


levou a uma situação na qual você gastava mais do que podia. Aliado a isso
sua família também vivia além de suas posses porque você não impôs
limites. Tudo isso lhe colocou numa situação preocupante, e quando veio a
possibilidade de ganhos fáceis, o canto da sereia se tornou simplesmente
encantador demais e você sucumbiu à esperança que seus problemas
seriam resolvidos.

_ Nunca pensei por esse lado, Guto, você está me mostrando causas
relativamente simples para problemas que se tornaram muito complicados
para mim. Você conseguiu passar ao largo desses problemas sem que o
afetasse, bem como a sua família? Sua família não lhe fez pressão para que
abandonasse um orçamento apertado, que os privava de coisas às quais
eles desejavam? Qual foi o resultado que seu plano lhe proporcionou?

- Ao longo de minha vida tive muitos problemas como qualquer pessoa


Adolfo, mas ter um equilíbrio financeiro e familiar fez que eu superasse
esses problemas sem colocar em risco meu trabalho, família ou saúde.
Mesmo quando enfrentei um problema grave de saúde de minha filha há
alguns anos, foi por poder contar com os rendimentos que minha carteira
de investimentos me proporcionava, que minha filha pode dispor de um
tratamento médico de alto nível. Hoje totalmente curada ela é minha razão
de viver, eu teria gasto todo meu dinheiro sem pestanejar na época, mas
somente o rendimento de minha carteira aliada à quantia que eu já
poupava na época foi suficiente para pagar o tratamento dela.

_ Eu não tinha ideia do problema de saúde de sua filha, Guto, deve ter sido
muito difícil a sua situação, mas você não me respondeu sobre a pressão
que a família normalmente faz quando vivemos sobre um orçamento
apertado, deixando de atender os desejos de nossos filhos e esposa.

_ Adolfo, eu não sei por que a maioria das pessoas acha que os gastadores
vivem melhor que os poupadores, que quem poupa, abre mão de seus
desejos e os gastadores não.

“Esse pensamento não podia estar mais errado em minha opinião, quem
poupa pode abrir mão de algumas coisas principalmente no começo da
jornada, o começo é sempre mais difícil porque os ganhos sobre nossos
investimentos ainda são pequenos, mas depois de algum tempo esses
rendimentos crescem e proporcionam a nossa família cada vez mais a
realização de seus desejos.”

“Esses rendimentos também se tornam um aliado extraordinário quando do


enfrentamento de problemas, como por exemplo, o que relatei a você sobre
minha filha. Quem não poupa acha que está vivendo melhor do que as
pessoas que poupam, mas os gastos além dos seus rendimentos começam
a afetar suas relações, seja no trabalho ou na família, além de mexer com
sua saúde. Depois de um tempo você simplesmente não pode suprir
nenhum dos desejos de sua família, além de ter que vender bens para
tentar equilibrar suas finanças, mas como dificilmente o problema que
causou o desequilíbrio financeiro foi corrigido, a pessoa fica sempre
correndo atrás do rabo, vendo sua situação ficar sempre pior do que antes.”

_ Não dá para negar que tudo que você está falando tem muito sentido,
mas também sinto um conflito interno em lhe dar ouvidos. Sempre fomos
muito amigos, mas viemos de famílias de lados sociais opostos. Minha
família sempre teve excelente situação financeira, o que me proporcionou
quase todas as vantagens que um adolescente poderia querer: Boas
escolas, cursos, viagens para aprender outras línguas, etc. Por outro lado
você veio de uma família de poucas posses, adorava seus pais, mas eles
não tinham os recursos que minha família possuía. Agora eu que tive todos
os recursos que um jovem poderia querer, me vejo em uma situação, que
vamos falar francamente, é desesperadora, e você que mesmo tendo sido
um excelente amigo e pessoa, mas que não teve os recursos que eu tive,
além de estar numa situação claramente muito melhor do que a minha,
ainda desenvolveu um plano que talvez possa me ajudar, quando o mais
sensato seria ter ocorrido o contrário. Espero que você tenha entendido o
que eu quis dizer sem se ofender, Guto.

_ Lógico que entendi, Adolfo, o que você descreveu é de fácil compreensão


mesmo que como você disse, difícil de assimilar. O que aconteceu com sua
vida e a minha, vamos dizer sem rodeios, já que estamos falando
abertamente, é que eu tinha um plano e você não.

_ Guto, a situação da minha família começou a se deteriorar quando meu


pai morreu.

_ Ainda éramos amigos quando seu pai faleceu, e logo depois eu me casei e
perdemos o contato, mas talvez seu pai tivesse um bom plano de vida e
não soube passar para você ou simplesmente você não conseguiu assimilar
o que ele tentou te passar. Quando somos jovens temos muitas vezes a
arrogância de achar que sabemos mais que os coroas.

_ Nunca tinha pensado desse jeito, Guto, mas agora me recordo que a
primeira coisa que fiz foi usar o dinheiro que meu pai tinha guardado para
comprar uma chácara para minha família desfrutar, e, de uma situação
anterior cômoda, passei a ter que buscar empréstimos para fechar o mês,
não somente porque às vezes precisava de dinheiro para pagar
fornecedores, mas minha despesa também subiu muito com as contas de
manutenção da chácara.

_ É muito comum acontecer isso, Adolfo, quando as pessoas recebem


heranças. Deixam de computar as despesas dos bens que estão comprando.
Esses bens que compramos que não geram renda, tem que estar
equilibrados, dentro das nossas receitas.

_ Como assim, Guto? Bens são bens, quando mais compramos melhor.
_ Nem sempre Adolfo. Nós compramos muitos bens achando que estamos
investindo sabiamente, mas muitas vezes, na verdade, estamos onerando
nosso orçamento com bens que vão sofrer forte desvalorização e que pouco
aproveitaremos. Compramos esses bens muitas vezes para mostrar status
para amigos e familiares. Desse modo ainda fazemos a pressão sobre nós
aumentar muito porque muitas vezes deixamos de sanar no começo erros
que detectamos no nosso comportamento, para não demonstrarmos nossos
problemas para nossos amigos e familiares. Isso é agravado porque
primeiro realmente estamos com problemas e segundo porque muitas vezes
nem gostamos das pessoas para quais estamos mostrando um padrão de
vida além do que podemos ter.

_ Sabe, Guto, eu realmente pouco aproveitei da minha chácara, mas


sempre tinha amigos e familiares lá e a maioria das despesas era eu que
pagava. Foi um alívio quando consegui vendê-la. Logo depois precisei
vender a loja do meu pai, pois na época não via como equilibrar as contas,
mas agora vejo que possivelmente a minha gestão é que foi falha. Todas
essas coisas que você me falou estão no seu plano de investimentos? Quero
que você me conte todos os passos para formar um plano para mim e
minha família.

_ Farei isso com muito prazer, Adolfo, mas agora não posso, tenho uma
reunião com um cliente, mas passe na minha casa no sábado na hora do
almoço que vou fazer um churrasco. Leve sua família. Sua Irmã e seu
cunhado também estão convidados se quiserem ir. Depois de almoçarmos,
conversaremos.

- Muito obrigado, Guto, até sábado.

- Tchau Adolfo.
CAPÍTULO DOIS

RECOMEÇO

No sábado na hora do almoço Adolfo, sua esposa Safira, sua irmã Kátia e
seu cunhado Jaime chegaram à casa de Guto e foram recebidos por ele e
sua esposa Vivi. Seguiram para a área gourmet da casa e passaram as
próximas horas comendo e conversando alegremente. Guto e Adolfo se
revezavam para ver quem conseguia constranger mais o outro com as suas
histórias de adolescentes.

No meio da tarde Guto chamou Adolfo e Jaime para irem para dentro da
casa para conversarem, depois de servir o café e deixar seus convidados a
vontade, começaram a conversar sobre os problemas financeiros que os
afligiam.

Jaime estava enfrentado problemas graves, tinha se endividado além do


que podia pagar, vinha sofrendo cobranças de pessoas, bancos e empresas
aos quais estava devendo, sem conseguir fazer o pagamento dessas dívidas
pontualmente. Ele sofria também com cobranças dentro da sua família, e a
sua saúde também tinha sido afetada.

_ E meu cunhado ter me colocado nessa pirâmide também não me ajudou


em nada.

Guto respondeu:
_ Sua entrada na pirâmide muito pouco teve a ver com seu cunhado Jaime.
Ele pode ter sido a porta de entrada, mas os meios para que isso
acontecesse foi você mesmo quem proporcionou. Seu estilo de vida sem
planejamento, com gastos maiores do que seus rendimentos é que
impulsionaram você a tentar o ganho fácil, sem mensurar os riscos à que
estaria exposto. Se sua vida estivesse em equilíbrio além de dificilmente
entrar nesse tipo de pirâmide, você teria alertado seu cunhado dos riscos
que ele estava correndo. Para podermos melhorar nossa vida Jaime, temos
que estancar o que estamos fazendo de errado e o primeiro passo é
reconhecer que o grande culpado pela nossa situação somos nós mesmos.

Adolfo retorquiu:

_ Desde nossa conversa durante a semana Guto, tenho pensado nisso. Eu


estava culpando tudo e a todos pela minha situação, menos a mim mesmo.
Hora culpava os bancos, depois o governo, cheguei até a culpar meu
próprio pai! Hoje vejo que paguei juros muito altos, os impostos pesaram
na minha firma, mas tudo isso ocorreu porque sem equilíbrio financeiro
precisei cada vez mais dos bancos. Se paguei impostos foi porque tive
lucro. Além disso, não soube equilibrar minhas despesas com minhas
receitas. Se o primeiro passo para se ter um plano financeiro vitorioso é
reconhecer nossa parcela de culpa então eu estou pronto para começar.

_ Então, Adolfo, vamos começar, primeiro você e o Jaime têm que buscar
um equilíbrio em suas contas em relação as suas despesas e receitas. Seu
primeiro passo Adolfo será devolver o carro que você financiou quando
esperava ter uma renda que suportasse essa compra. Como isso não se
concretizou esse financiamento vai se comportar como uma âncora na sua
vida por um bom tempo se você não se livrar dessa despesa. Nesse caso eu
posso te ajudar, vou te emprestar um carro até que sua situação melhore.

“Vocês deverão se reunir com suas famílias, explicar suas situações, e em


conjunto ver o que vocês podem cortar de gastos imediatamente.
Verifiquem se os cortes propostos serão suficientes para equilibrar suas
contas e ainda sobrar para o pagamento de suas dívidas. Se esses cortes
forem aquém do que vocês realmente precisam, expliquem o fato para suas
famílias e cortem um pouco mais. Aliado a isso procurem seus credores e
renegociem suas dívidas procurando adequá-las aos seus orçamentos.
Peçam redução nos juros e um parcelamento que vocês sejam capazes de
honrar.”

“Não tenham dúvidas, se vocês não fizerem novas dívidas, cada pagamento
que fizerem das antigas, os aproximarão do momento de conseguirem
quitá-las e desse modo conquistarão uma maior tranquilidade para suas
vidas”.
“Depois enquanto estiverem pagando suas dívidas, sempre que possível
poupem algum dinheiro, mesmo que seja muito pouco. Isso vai funcionar
positivamente psicologicamente, além de ser o recomeço para conseguirem
comprar ativos que lhe trarão um aumento na sua renda. No começo vocês
vão poder comprar poucos desses ativos e seus rendimentos serão
pequenos, mas com o passar do tempo eles serão o alicerce que lhes
proporcionarão a compra de mais e mais ativos que gerarão a vocês cada
vez mais renda, desde que comprados sabiamente”.

Jaime perguntou:

_ Que ativos são esses, Guto, que podemos comprar com tão pouco
dinheiro?

_ No começo serão pequenos depósitos na poupança ou renda fixa – Guto


respondeu.

Jaime o interrompeu:

_ Então na sua teoria, os rendimentos que vou ter na poupança vai


proporcionar-me uma renda que vai melhorar minha vida no futuro?
Desculpe-me, mas acho quase impossível de acontecer.

_ Não são somente os rendimentos Jaime, tem os aportes mensais que uma
vida financeira equilibrada pode acarretar. Você vai ver que quanto mais
sua vida for equilibrada, seu endividamento vai diminuir, podendo até
desaparecer, fazendo com que seus aportes conjuntamente com seus
rendimentos ajam em conjunto com efeito de juros compostos dentro da
sua carteira de investimentos.

_ Eu conheço juros compostos Guto, mesmo assim acho muito difícil ter
esse resultado que você está me falando.
_ Se você conhece os juros compostos Jaime, você deveria ter
compreendido os efeitos negativos ou positivos que esses juros têm nas
vidas das pessoas. Você falou que acha difícil partir de pequenos
investimentos e chegar numa posição que esses investimentos tragam uma
boa renda. Mas se esquece de que hoje esses mesmos juros compostos o
deixaram nessa situação na qual seu salário já não consegue arcar nem
mesmo com suas necessidades básicas, quanto muito de seu
endividamento. Mas se você lembrar, sua situação não começou do ponto
em que ela se encontra hoje, começou com pequenos juros que você não se
importava em pagar, depois os juros foram aumentando seu
endividamento, que aumentou ainda mais os juros, e assim sucessivamente
até você chegar à situação na qual se encontra hoje.

“Felizmente do mesmo modo que os juros compostos agem negativamente,


eles também agem positivamente. No começo os ativos que você vai poder
comprar são poucos e seus rendimentos pequenos, mas com a força dos
juros compostos, mês a mês, ano a ano, esses investimentos iniciais aliados
aos seus aportes mensais vão ser a base para você poder adquirir um
montante expressivo de investimentos, alguns até de valores mais altos,
como empresas ou imóveis. Mais para frente darei alguns exemplos de fatos
que ocorreram comigo.”

Os três passaram então a conversar sobre suas vidas, famílias, aspirações.


Mesmo Guto não tendo convivido com Jaime na juventude, gostou muito
dele, principalmente de seu jeito bonachão. Deram muitas risadas e
relaxaram, até o momento que voltaram a discutir sobre o começo de seus
planos financeiros.

Discutindo os próximos passos, ficou acertado que Adolfo devolveria o seu


carro financiado e passaria a usar o carro que Guto lhe emprestaria e, tanto
Adolfo como Jaime iriam ao banco e fariam um empréstimo para quitar os
cheques especiais e seus cartões de créditos. Esse empréstimo deveria ser
feito de modo que suas prestações coubessem em seus orçamentos. Essa
parte seria a mais fácil. Depois teriam que enfrentar cortes em seus gastos
familiares e tanto Jaime como Adolfo sabiam que a situação que
enfrentariam possivelmente lhes trariam aborrecimentos, mas estavam
dispostos a tentar. Tinham vindo a casa de Guto com esta determinação
que foi reforçada com o começo do esboço de um plano financeiro para os
dois e principalmente porque dessa reunião, eles saíram já com várias
propostas concretas de como buscar uma melhora nas suas vidas
financeiras num primeiro momento.

Ficou acertado que se eles conseguissem poupar algum dinheiro, mesmo


que pouco, depois do gasto com seus orçamentos e pagamentos de suas
dívidas, eles começariam a adquirir seus ativos financeiros inicialmente por
aplicações na caderneta de poupança ou renda fixa. Guto combinou com
eles que só iriam buscar outros ativos quando suas situações já estivessem
mais estabilizadas e principalmente quando eles estivessem estudado
outros tipos de investimentos.

_ As pessoas entram em muitas situações em que perdem o dinheiro que


investiram como aconteceu com vocês, às vezes por ganância, mas na
maioria das vezes porque investiram em ativos sem o conhecimento
adequado.

_ Gostei muito de ter vindo aqui, Guto – disse Adolfo –depois que
refizermos nosso orçamento, formos pagando nossas dívidas e começarmos
nossos investimentos, qual o próximo passo?

_ Primeiro coloque em prática tudo que nós discutimos hoje Adolfo, vocês
estão empolgados para começar, mas não tenham dúvidas que enfrentarão
desafios, por isso, é importante focar no que discutimos hoje, que formará
a base na qual vocês buscarão seus sucessos profissionais, financeiros e
familiares. Quando suas vidas voltarem ao equilíbrio, nós passaremos as
outras fases do plano.

Jaime comentou que realmente estava motivado, mas sabia que o caminho
a ser percorrido seria longo e tortuoso, e sentia que se ao menos tivesse
começado antes de sua situação ter chegado ao ponto lastimável na qual se
encontrava, tudo seria mais fácil de conseguir.

_ Jaime, sua situação é difícil reconheço, mas não tenha dúvida que nem de
longe você e o Adolfo estão no fundo do poço. Vocês dois tem profissões e a
exercem, por isso tem rendimentos, não estão desempregados como
grande parte dos que estão passando dificuldades iguais a vocês. Vocês se
formaram em cursos superiores, um é dentista o outro engenheiro elétrico,
sendo assim seus salários são maiores que a imensa maioria das pessoas,
tem imóveis próprios, e várias outras vantagens. Em resumo, o caminho vai
ser longo e tortuoso com certeza, mas suas missões não são nem de longe
irrealizáveis.

_ Verdade, Guto, não tinha pensado desse modo – disse Jaime.

Guto disse para eles colocarem em prática da melhor maneira possível tudo
o que eles tinham discutido e concordado naquela tarde, e que para
passarem à próxima fase deveriam atingir um bom equilíbrio financeiro
como tinha sido comentado.

_ Daqui a uns dois meses nós voltaremos a nos reunir, veremos o que
vocês já terão conseguido colocar em prática e discutiremos novas fases
para vocês melhorarem os seus planos. Nesse meio tempo vocês podem me
procurar sempre que tiverem dúvidas e acharem que eu possa lhes ajudar.

Os três amigos voltaram para junto de suas esposas, aproveitando o


churrasco a beira da piscina até a noite cair. Jaime e Adolfo notaram que
bela casa a família de Guto tinha, mas o que realmente mais os
deslumbraram foi à harmonia e a tranquilidade em que viviam. Não tiveram
dúvida de que foi o plano de Guto que tinha proporcionado tudo isso a eles
e que o plano realmente funcionava.
CAPÍTULO TRÊS

COLOCANDO O PLANO EM PRÁTICA

Dois meses tinham se passado desde que Adolfo e Jaime estiveram com
Guto em sua residência. Nesse meio tempo tiraram algumas dúvidas com
ele, mas não voltaram a se reunir porque ainda estavam equilibrando seus
orçamentos e renegociando suas dívidas. Em meados de dezembro quando
acharam que já tinham conseguindo uma reestruturação em suas contas e
em seus modelos de vida, ainda que soubessem que havia espaço para
novas melhorias, procuraram Guto para discutirem todos os avanços que
eles já haviam conseguido e também para obterem maiores informações
dos próximos passos a serem percorridos.

Não conseguiram achar Guto, pois ele estava viajando com sua família
durante o final do ano. Só conseguiram o encontrar no começo do ano e
marcaram um encontro na casa de Jaime para o final de semana.

Guto chegou à casa de Jaime no domingo a tarde, não pode vir para o
almoço, pois almoçou na casa de seus sogros Tânia e Mauricio. Adolfo e
Jaime o esperavam e depois dos cumprimentos habituais foram para a sala
e começaram a conversar.

_ Obrigado por ter vindo em um domingo para você continuar com nosso
aprendizado Guto – agradeceu Adolfo.
_ Para falar a verdade, além do prazer em estar com vocês, escapei de ter
que ficar o dia inteiro na casa de meus sogros. E vocês, como passaram o
final de ano? Conte-me como começaram a executar seus planos.

_ Nosso final de ano foi relativamente bom Guto, respondeu Jaime. Tendo
dado início ao nosso plano, já tiramos muita pressão de nossos ombros com
um maior equilíbrio em nossas contas e sem ter nossas dívidas nos
assombrando. O lado negativo foi não termos podido passar o Natal
comprando todas as coisas que gostaríamos.

_ Se vocês tiverem sucesso nos seus planos, finais de ano melhores virão
com certeza – comentou Guto.

Jaime e Adolfo passaram a contar a Guto que se sentaram junto com suas
famílias e explicaram a situação a eles, e que para surpresa de ambos,
mesmo tendo um ou outro ponto dos quais discordaram, de um modo geral
conseguiram fazer um orçamento bem realista com suas atuais condições
financeiras. Jaime contou que ele e Adolfo foram depois ao banco e
conseguiram trocar suas dívidas do cheque especial e cartões de credito por
um financiamento, sendo que as parcelas foram definidas pelo valor que
eles poderiam pagar. Mesmo assim precisaram fazer os empréstimos em
prazos maiores do que gostariam para que elas coubessem em seus
orçamentos.

A dificuldade maior comentou Adolfo foi à devolução do carro. Perder o que


ele já tinha pagado não o surpreendeu, mesmo assim teve grandes
aborrecimentos para concretizar a devolução. Mas o importante é que ele
tinha conseguido e que esse fardo não mais pesava no seu orçamento.

_ Vejo como você estava certo em falar que essa compra seria realmente
uma grande âncora para mim nos próximos anos, e entendi o que você quis
me dizer na nossa primeira conversa que nem todos os ativos que
compramos acrescentam valor a nossa vida, principalmente quando não
pensamos como vamos pagá-los e mantê-los depois da compra – disse
Adolfo.

Contaram a Guto que mesmo a despeito da situação financeira em que se


encontravam, estavam muitos satisfeitos com a resposta de suas famílias,
além de terem sentido que o ambiente familiar tinha melhorado. Os dois
viram que vivendo sob um orçamento claro e discutido em família os
estresses diminuíram porque tudo era acordado entre eles.

O mais prazeroso foi à renegociação de suas dívidas. Ficaram muito


satisfeitos com a redução dos juros que pagavam, trocando dívidas mais
caras por outras com juros menores. A busca pelo equilíbrio no valor que
pagariam por mês em relação aos seus orçamentos deu tão certo, que eles
demoraram a crer no resultado. Passaram de uma situação que só
conseguiam pagar os juros do cheque especial e o rotativo do cartão, para
uma situação em que pagavam o principal e os juros todo mês. Agora eles
enxergavam o final desse endividamento e não estavam mais como antes
que só enxergavam a situação piorando mês a mês.

Adolfo tinha conseguido poupar um pouco também, muito pouco ele disse,
mas que lhe proporcionou uma sensação gostosa e melhorou sua
autoestima.

_ Como você me disse os rendimentos ainda são irrisórios, mas tenho


esperança que com o passar do tempo eles comecem a gerar rendas
maiores.

Jaime ainda não tinha poupado nada, mas esperava começar em pouco
tempo.

_ Parabéns a vocês dois. Posso lhes dizer que a maioria das pessoas não
consegue reverter uma situação como a de vocês tão rapidamente assim,
mas como lhes falei anteriormente, vocês tinham vantagens para buscar
essas melhoras em suas vidas que a maioria das pessoas não dispõe –
comentou Guto.

_ Então, Guto, qual o próximo passo? – perguntou Jaime –

Guto falou para eles continuarem o que estavam fazendo, pois o principal
ainda era o pagamento de suas dívidas. Somente assim ia começar a sobrar
um dinheiro maior para eles conseguirem fazer aportes maiores e também
aumentar o valor dos seus orçamentos domésticos, melhorando a vida de
seus familiares e trazendo algumas recompensas pelos seus esforços.

_ Recompensas, Guto? Como assim? – Adolfo quis saber.

_ Essa é a próxima etapa do plano Adolfo, desenvolver um sistema de


metas e recompensas. Quando começamos um plano devemos ter em
mentes nossos objetivos e eles têm que ser claros e realizáveis. Não
adianta vocês terem como um objetivo muito distante no começo, pois
como vai demorar muito tempo para vocês chegarem nessa posição,
normalmente vai acontecer de duas uma: Ou vocês depois de um tempo
irão se desmotivar ou vão arriscar mais para chegar mais rápido nos seus
objetivos, o que normalmente traz perdas mais cedo ou mais tarde. Então
mesmo aspirando grandes objetivos temos que colocar metas realistas para
irmos avançando. Depois que atingirmos uma meta, passamos para a
próxima e assim sucessivamente. Quando menos esperarmos atingiremos
um bom resultado em nossa jornada.

_ Como iremos estipular essas metas, Guto? – Jaime perguntou.

_ Jaime, uma boa meta é aquela que nem é muito fácil de atingir que você
esta sempre a batendo, nem tão difícil que faça você se desmotivar. Na
situação que vocês estão hoje uma meta digamos de cinco mil reais seria
interessante. Depois que atingissem essa meta passariam a aspirar uma
meta de dez mil reais, depois de atingirem duas ou três metas vocês podem
aumentar o intervalo para de sete em sete mil reais ao invés de cinco mil
reais, por exemplo. Façam isso para não deixarem suas metas muito fáceis
de atingir, pois com o tempo seus rendimentos vão aumentar. Muito
provavelmente seus aportes também aumentarão conforme vocês forem
acabando de pagar suas dívidas, e vocês podem conseguir capturar
oportunidades que as pessoas que tem um bom plano estão mais aptos a
fazê-lo do que a maioria das pessoas.

_ Oportunidades? – quis saber Adolfo - interessante.

- Já chegaremos lá Adolfo, primeiro vamos falar das recompensas, o


objetivo de termos um plano financeiro e familiar é melhorar a vida de
nossa família, proporcionando a eles conforto segurança e prosperidade.

“Então nada mais justo que conforme nossas metas forem sendo batidas,
possamos usufruir de recompensas quando alcançarmos algumas dessas
metas. Usufruir de nossas realizações é muito importante para o plano, isso
nós dá mais motivação e vai melhorar nossa qualidade de vida. Pode ser
pouco no começo porque essas recompensas têm que ser condizentes com
as metas conquistadas, não dá para você fazer uma viagem ao redor do
mundo na primeira ou segunda meta conquistada, um jantar com a família,
por exemplo, seria mais indicado”.

“É importante a família inteira desfrutar das recompensas, porque todos vão


dar a sua contribuição para a evolução financeira e familiar que vocês
aspiram obter. Vocês e suas esposas cuidarão das finanças, seus filhos dos
estudos, e todos cuidarão do lar e principalmente de suas saúdes.

Guto contou a eles que já há alguns anos sua família viaja em dezembro
como recompensa pelas conquistas do ano. Conforme atingem suas metas
eles desfrutam de pequenas recompensas e em dezembro usam seus
rendimentos, para viajarem durante o mês inteiro. Isso mostra o ganho de
qualidade de vida obtido, conforme os rendimentos familiares vão
melhorando.

Em seguida eles passaram um tempo se divertindo traçando metas para


seus planos e discutindo qual seria a recompensa ideal para cada meta.
Depois de um tempo, Guto começou a falar sobre as oportunidades que
todos temos na vida e como um bom plano financeiro ajuda suas
realizações.

_ As oportunidades são oferecidas a nós a toda hora, pensem quantas


vezes já não lhes ofereceram automóveis, terrenos, empresas, comércios,
etc.
“A maioria do que nos é ofertado não são bons investimentos, alguns vão se
mostrar verdadeiras arapucas, ofertados por trambiqueiros e gente mal
intencionada, muitas vezes pessoas próximas a nós”.

“Mas de vez em quando pode surgir uma oportunidade para comprarmos


um bem que vai trazer valorização de nosso capital e, melhor ainda, um
aumento em nosso rendimento. Para conseguirmos aproveitar essas ofertas
necessitamos basicamente de duas coisas: A primeira é capital para a
compra, por isso, sempre devemos ter um dinheiro aplicado em renda fixa
ou poupança, a segunda é a capacidade de separar o joio do trigo no que
nos é ofertado a todo o momento. Essa capacidade obtemos com estudo,
experiência, bons relacionamentos, etc.”

“Antes de realizarmos qualquer investimento por menor que seja, devemos


refletir se o capital investido está seguro, se o retorno esperado sobre o
negócio é interessante, se conhecemos o investimento e principalmente
devemos avaliar se por um fator ou outro que não conseguimos prever
anteriormente à compra, se o negócio mostrar-se um investimento falho
que nos traga prejuízo, se esse prejuízo pode nos levar a ficar em uma
situação financeira precária. Nesse caso devemos deixar o negócio passar e
ficar vivos financeiramente mesmo que pareça um bom negócio. Outras
oportunidades surgirão, podendo até mesmo ser melhores do que aquela
que nós deixamos passar”.

_ Surgiram muitas oportunidades para você Guto? – Adolfo quis saber.

_ Como comentei antes, oportunidades surgem a todo o momento,


aproveitei várias delas durante minha vida, adquiri alguns imóveis a preços
e localizações bem interessantes que hoje estão alugados me trazendo um
bom rendimento passivo. Comprei vários automóveis que me
proporcionaram um bom ganho quando de sua venda, etc., vou contar
agora para vocês como uma oportunidade pode mudar nossa vida
rapidamente.

“Comecei a formar meu plano ainda solteiro, depois de alguns anos me


casei e logo tive filhos. Eu e minha mulher decidimos que somente eu
trabalharia e ela cuidaria de nossos filhos pequenos. Assim sendo, eu fui
trabalhando e fazendo meus aportes, reinvestindo meus rendimentos em
nosso plano. Essas aplicações eram pequenas porque eu tinha uma única
fonte de renda ativa, mesmo assim com o passar dos anos os rendimentos
de nossa carteira passaram a incrementar bastante o dinheiro que
podíamos aplicar durante o mês.”

“Quando nossos filhos já estavam maiores eles iam à escola de manhã e a


tarde ficavam na casa de meus pais, assim sendo, minha esposa começou a
ter algum tempo livre, e nesse momento surgiu à oportunidade da compra
de um comércio. Conversei com minha esposa e ela logo se animou,
analisamos se o negócio faria sentido para nós e também os perigos à que
estaríamos expostos. O pagamento não seria problema, pois seria
necessário um montante relativamente pequeno de nossas economias,
vimos que o negócio fazia parte do que entendíamos e ainda tínhamos um
amigo com experiência no ramo com o qual poderíamos contar para nos
ajudar. Achamos também que o máximo que iríamos ficar expostos
financeiramente se o negócio desse errado seria o dinheiro da compra e que
sua perda causaria algum desconforto, mas não nos traria graves
problemas. Sendo assim efetuamos a compra da loja e aconteceram duas
coisas: A primeira foi que minha mulher passou a ter sua própria renda, o
que fez que sobrasse mais dinheiro da minha renda para melhorar nossos
aportes mensais e nosso orçamento doméstico, sem contar que minha
mulher também passou a fazer pequenos aportes mensais em nossa
carteira de investimentos. A segunda é que o comércio trouxe uma
realização pessoal para minha mulher”.

_ Parabéns, Guto, a você e a sua família pelas suas conquistas – elogiou


Jaime – você faz parecer tudo tão fácil, mas com certeza o caminho é difícil
para chegar aonde você chegou. Fiquei na dúvida quando você fala em
rendimento ativo e passivo, qual a diferença entre eles?

_ Falarei sobre rendimentos ativos e passivos na próxima vez que nos


reunirmos Jaime. Também vamos discutir como vocês podem começar a
investir em imóveis com o rendimento que têm hoje, mas primeiro vamos
esperar que atinjam pelo menos umas duas metas para irem adquirindo
mais experiências em seus investimentos, além de melhorarem seus
aportes conforme vão diminuindo seus endividamentos. Nesse meio tempo
eu fico a disposição de vocês sempre quando precisarem.

_ Você está brincando com a gente Guto, como vamos investir em imóveis
com o pouco dinheiro que conseguimos poupar hoje? – Adolfo perguntou –

_ Calma, Adolfo, tudo a seu tempo, mas posso lhe dizer que esse
investimento é possível. Na próxima vez discutiremos os investimentos em
imóveis, os quais são muito importantes em nossa carteira de investimento.

Os amigos passaram mais alguns momentos conversando, se despediram e


Guto retornou a casa de seus sogros, sabendo que dificilmente escaparia do
humor de seu sogro Mauricio sempre mal humorado.
CAPÍTULO QUATRO

A VIAGEM – SÁBADO

Seis meses tinham se passado, Adolfo e Jaime já tinham alcançado suas


primeiras metas, por isso foram procurar Guto para pedirem a ele que os
ajudassem a evoluir com seus planos.

_ Então vocês bateram suas primeiras metas? - Guto perguntou com


satisfação.

_ Isso mesmo, Guto – respondeu Jaime – por isso achamos que estamos
prontos para começar a próxima fase. Na verdade, estamos muito ansiosos
para você nos mostrar como investir em imóveis com o pouco dinheiro que
conseguimos aportar mensalmente.

“Nossos aportes mensais aumentaram Guto, pois tanto meu endividamento


como o do Adolfo hoje estão resumidos somente aos nossos empréstimos
bancários. Carnês, dívidas com amigos, contas em comércios praticamente
já foram todas quitadas, nossos gastos estão equilibrados com nossos
orçamentos, que também aumentaram quando nossa dívida diminuiu. Como
você sabia que aconteceria se conseguíssemos colocar o plano financeiro
em prática, hoje vivemos muito melhor do que antes de você começar a nos
ajudar”.

“Passamos algumas dificuldades no começo, pois nosso orçamento ficou


restrito aos itens básicos de nossas vidas, quase não gastamos com
supérfluos, também convenhamos antes do plano se comprássemos
qualquer supérfluo seria com dinheiro que não tínhamos. Hoje nossos
orçamentos já comportam a compra de alguns itens fora do básico, o que
acabou por melhorar o nosso ambiente familiar”.

Guto visivelmente emocionado perguntou a Jaime.

_ E sua saúde, melhorou? Fiquei sabendo que sua diabetes estava


descompensada. Não adianta sua situação melhorar se você não cuidar de
sua saúde e da sua família.

_ Você está certo, Guto – disse Jaime – estou cuidando de minha saúde,
minha diabetes voltou a ficar controlada.

“Quando minha situação financeira piorou, não só minha diabetes como


minha pressão ficaram alteradas, a maior parte pelo estresse, mas a falta
de ânimo também contribui para essa piora. Não tinha vontade de praticar
esportes, além de descontar minha frustração comendo mais e com pior
qualidade”.

“Logo que minha situação se equilibrou voltei a ter ânimo para praticar
esportes, voltei à academia, minha ansiedade diminuiu muito, por isso,
comecei a comer melhor e sem exageros, sem contar a diminuição do meu
estresse. Assim sendo, meus indicadores de diabetes e pressão voltaram a
ficar dentro dos padrões”.

Depois do comentário de Jaime, Adolfo perguntou a Guto:

_ Então vamos marcar um dia para você nos falar dos próximos passos para
nossos planos? Que tal no próximo final de semana?

_ Olha Adolfo, ainda está cedo para vocês passarem aos próximos passos
em seus planos, tinha comentado com vocês que o ideal seria vocês
baterem duas metas pelo menos, vocês ainda não chegaram lá. Tem dois
motivos para você e o Jaime ainda ficarem em aplicações na poupança ou
na renda fixa:

“O primeiro é assegurar um montante para vocês usarem se tiverem


contratempos não previstos em suas vidas. Não adianta nada vocês
comprarem imóveis, posições em fundos, comércios, se tiverem que vendê-
los quando enfrentarem dificuldades e podem ter certeza que dificuldades
sempre virão. Um bom plano pode diminuí-las de intensidade e freqüência,
mas não pode fazê-las desaparecer. Depois, quando seus rendimentos
aumentarem eles também irão ajudá-los a enfrentarem suas dificuldades,
mas no começo é importante até para a tranquilidade de ambos, vocês
começarem seus investimentos pela poupança ou no máximo colocar uma
parte na renda fixa”.

“O segundo motivo são as oportunidades que vão surgir. Para aproveitá-las


temos que ter capital ou uma grande renda que suporte o investimento.
Como vocês ainda não tem uma grande renda, devem ter algum dinheiro
guardado para poderem investir”.

“Por ultimo, é muito importante ter disciplina. Se estava no planejamento


começarmos as próximas etapas do plano depois que vocês tivessem
atingido a segunda meta, é importante manter o planejamento. Agora,
mudando de assunto, qual foi à recompensa que vocês se proporcionaram
quando bateram suas primeiras metas”?

_ Fizemos uma programação com nossas famílias, Adolfo comentou, nada


muito caro, pois como você disse anteriormente, os prêmios devem ser
condizentes com a meta conquistada. Mas posso lhe dizer, além do senso
de dever cumprido que batia em nossos peitos, fazer tudo em família, desde
o planejamento até a realização da meta, além de nos aproximar, nos
proporcionou uma felicidade familiar que há muito tempo não tínhamos.

“Guto, eu e Jaime estamos muito ansiosos para continuar aprimorando


nossos planos, mas entendemos suas colocações e as respeitamos, vamos
continuar o que estamos fazendo e quando atingirmos a próxima meta
voltaremos a nos reunir”.

Passaram-se alguns meses quando Adolfo e Jaime alcançaram sua segunda


meta e procuraram Guto para que esse continuasse a ajudá-los a evolução
de seus planos. Eles foram ao escritório de seu amigo, logo que possível ele
os recebeu e assim que se acomodaram Adolfo comentou com ele:

_ É com muita alegria que lhe dizemos que batemos nossa segunda meta, e
estamos ansiosos para evoluir, se você achar que estamos prontos. Tenho
que te falar também que a vida nos mostrou como é importante não pular
etapas. Eu tive um contratempo no qual usei os aportes de dois meses,
além de um pouquinho do que tinha guardado. Se tivesse investido esse
dinheiro ou tivesse comprometido meus aportes com algum investimento
teria que vendê-los, possivelmente com prejuízo como tive quando precisei
devolver o carro que comprei financiado.

“Com isso demorei um pouco mais do que imaginava para alcançar a


segunda meta, mas consegui e ainda superei um problema que antes de ter
um plano me colocaria em uma situação extremamente desconfortável, à
qual, com certeza aumentaria em muito meu endividamento, pois, não teria
disponibilidades financeiras guardadas nem renda para enfrentá-la”.

_ A vida é um excelente professor Adolfo, Guto explicou, no futuro o


aumento de sua renda vai lhe proteger também, mas vamos focar nas boas
notícias. Segunda meta alcançada vamos nos reunir então, vocês já
desfrutaram da recompensa pela meta alcançada?

_ Ainda não, Guto – respondeu Jaime.


_ Então, vamos marcar para o próximo final da semana uma viagem até o
hotel fazenda de um amigo meu, será um excelente programa familiar, e
conseguirei um bom preço pela estada com meu amigo, pois, o prêmio tem
que ser condizente com a meta alcançada.

“Além de nos divertimos juntos com nossas famílias, ainda vamos conversar
muito sobre seus planos, vou telefonar agora mesmo para meu amigo e
fazer as reservas”.

No sábado pela manhã os três amigos com suas famílias chegaram ao hotel
fazenda, depois de se instalarem e almoçarem, ficaram à tarde curtindo a
piscina do hotel e passeando ao ar livre. Quando começou a escurecer, Guto
chamou Jaime e Adolfo para irem ao bar do hotel, se acomodaram em uma
mesa de canto, e assim que suas bebidas lhes foram servidas, começaram a
conversar.

_ Antes de começar a falar sobre os seus planos financeiros, quero dar


parabéns aos dois pelas suas realizações, elogiou Guto, se vocês não se
opuserem queria começar a falar sobre os rendimentos ativos e passivos.

Guto começou a explicação:

“Rendimentos ativos são basicamente aqueles pelos quais trabalhamos por


eles, são salários, retiradas, etc. Enquanto rendimentos passivos são
aqueles que não precisamos trabalhar para recebê-los, são aluguéis de
imóveis, rendimentos em negócios nos quais não precisamos estar na
empresa no seu dia a dia, juros de aplicações, dividendos de ações, etc.”

“Seus aportes financeiros e o reinvestimento dos frutos gerados por suas


carteiras de investimento, é o que vão lhes proporcionar um aumento em
seus ativos financeiros e um aumento gradual em suas rendas passivas”.

“As rendas ativas tendem a diminuir e até desaparecer com o tempo, por
vários motivos desde perda de saúde, passando pelo envelhecimento, até a
perda de competitividade pessoal. Com isso, as pessoas podem ter
dificuldades em manter seus empregos depois de certa idade, os negócios
próprios também podem vir a ter problemas, teoricamente às pessoas
trocariam suas receitas ativas por aposentadorias. Mas o que notamos é
que as maiorias das pessoas que se aposentam sentem a falta do
rendimento ativo, assim sendo, causando grandes rombos em seus
orçamentos. Isso acontece porque as aposentadorias com o tempo
desvalorizam o poder de compra que a pessoa tinha antes de parar de
trabalhar, fazendo com que o aposentado tenha um grave desequilíbrio
financeiro, e muitas vezes tendo que voltar ao mercado de trabalho se
sujeitando a empregos e salários bem inferiores aos quais estava
acostumado”.
“Para evitarmos essa situação que acontece com boa parte da população,
necessitamos gradualmente ao longo de nossas vidas adquirirmos ativos
que nos gerarão rendimentos passivos, para se acontecer por alguma razão
à perda de parte ou de toda nossa renda ativa, que os rendimentos
passivos nos permitam continuar vivendo com dignidade e equilíbrio”.

“Devemos contribuir com o plano de aposentadoria do governo e também


com um plano privado de aposentadoria, eles também irão ser úteis quando
nós quisermos parar de trabalhar, principalmente se acontecer conosco
algum problema de saúde ou acidente. Mas não podemos confiar somente
nesses planos. A situação de boa parte da população que fazem somente
desses planos de aposentadorias sua estratégia para viver seus derradeiros
anos de vida, vemos todo dia na televisão: Aposentados mal pagos,
dependentes de saúde pública e outros programas sociais”.

“Bons ativos financeiros se comprados com sabedoria ao longo da vida,


gerarão ao investidor um complemento de sua renda através da renda
passiva. Ao contrário das aposentadorias se essa renda vier através de
ativos de qualidade, não acaba com a morte do investidor, passando-a para
a próxima geração. Por isso, devemos buscar ativos seguros, não nos
deixando impressionar por rendimentos e ganhos ilusórios de muitos
negócios que nos são oferecidos. Se não pudermos enxergar a segurança
da aquisição, não devemos comprá-la. Um bom plano financeiro baseado
em aportes periódicos conjuntamente com reaplicação de rendimentos,
necessita que sejam adquiridos ativos seguros que tenham rendimentos
adequados, deixando os juros sobre juros exercerem seu poder de agregar
valor à carteira de investimento”.

_ Muito interessante esse assunto Guto, disse Jaime, depois de ouvir você
falar, tudo parece simples e lógico, fica difícil de acreditar que não
conseguimos pensar em tudo isso anteriormente.

Adolfo continuou:

_ Como saberemos quais ativos gerarão boas rendas Guto? Você disse
anteriormente que nem todos ativos trazem bons rendimentos.

_ Bem Adolfo, respondeu Guto, em primeiro lugar sempre analise a


segurança dos ativos que adquirir. Buscar altos rendimentos sem assegurar
a segurança do capital investido não faz sentido e geralmente acarretará a
perda do dinheiro investido.

“Às vezes vocês podem detectar alguma oportunidade que lhes


proporcionará um rendimento maior, um carro com um bom preço de
compra sendo assim com margens melhores de venda, um imóvel, etc. Mas
são situações esporádicas, na maioria das vezes um rendimento adequado é
tudo que conseguiremos quando compramos ativos que nos trazem
segurança”.
“Eu uso uma pergunta simples para definir se os ativos que quero comprar
gerarão renda ou não: Pergunto a mim mesmo: Esse ativo colocará ou
tirará dinheiro do meu bolso?”

Adolfo rapidamente disse que entendeu aonde Guto queria chegar e se


rendeu a simplicidade e lógica à qual sua mente tinha conseguido
desenvolver o seu plano financeiro simplesmente eficaz.

_ Na maioria das vezes quando compramos algum bem - continuou Guto -


achamos que estamos investindo, mas na verdade estamos fazendo
despesas que oneram nosso orçamento. Não há nada de errado em
comprar bens para satisfazer nossos desejos, desde que compreendamos as
despesas que esses desejos vão ter em nossos orçamentos, e que nossos
orçamentos sejam suficientes para arcar com essas despesas.

“Para conseguirmos ao longo de nossa vida formar uma carteira de


investimentos que nos proporcione uma boa renda passiva, temos que
direcionar nossos investimentos aos ativos que gerarão renda, como,
imóveis de aluguéis, aplicações financeiras, fundos, fundos imobiliários,
ações, negócios, etc.”

“Os bens que geram despesas como automóveis, eletrônicos, imóveis que
não geram renda, etc., compramos quando nossa renda suportar as novas
despesas. Quanto mais nossa renda melhorar, mais poderemos dispor dos
nossos desejos, sem dificuldades financeiras para mantê-los, e não
precisaremos devolver o bem porque não conseguimos pagá-lo ou mantê-
lo”.

_ Pelo seu pensamento nossas casas próprias são maus negócios Guto? –
perguntou Jaime - não posso dizer que concordo com você.

Guto retorquiu:

_ Ainda bem que você não concorda Jaime, pois não disse que ativos que
não geram renda são maus negócios, muito pelo contrário. Eu me orgulho
muito de minha casa, além de achar muito importante a pessoa ter um
lugar para chamar de seu.

“Eu disse que nossos bens ou precisam gerar renda ou para aqueles ativos
que não geram renda, precisam ter suas despesas e pagamentos
equilibrados com nossos orçamentos. Adquirimos aqueles que podemos
arcar e conforme nossa renda for melhorando poderemos ter casas,
chácaras, automóveis melhores. Quando compramos ativos que nossa
renda não suporta o que acontece é que possivelmente vamos ter que
vendê-los, quase sempre com grande prejuízo, como aconteceu com você
Adolfo com sua chácara.”
_ É verdade Guto, e olha que não tive dificuldades em comprá-la já que o
dinheiro que recebi de herança foi mais do que suficiente, mas não consegui
mantê-la, e hoje vejo o motivo.

Eles não perceberam, mas tinham ficado conversando por horas quando
suas esposas vieram procurá-los para se arrumarem para o jantar. Os
amigos se despediram marcando a hora que desceriam para o jantar e,
mais importante ainda, o horário em que se reuniriam no domingo para
discutirem sobre os investimentos em imóveis, que tanto Jaime como
Adolfo estavam ansiosos para começar a estudar.
CAPÍTULO CINCO

A VIAGEM – DOMINGO

Guto e sua mulher acordaram bem cedo no domingo e desceram para a


academia do hotel para fazerem suas atividades físicas antes do café da
manhã. Fazia poucos minutos que tinham começado seus exercícios,
quando Jaime e Adolfo com suas esposas apareceram na academia.

_ Fico contente de ver que você pratica o que diz Guto – Adolfo comentou
com satisfação.

_ Isso mesmo Adolfo, dinheiro sem saúde de pouco adianta – respondeu


Guto.

Passaram mais um tempo na academia, depois foram se aprontar e se


encontraram logo depois na mesa do desjejum. Quando terminaram suas
mulheres e os seus filhos foram direto para a piscina enquanto os três
amigos foram caminhar pelas trilhas do hotel fazenda.

Enquanto eles caminhavam Guto começou a lhes falar sobre investimentos


em imóveis:

_ Os investimentos em imóveis são muito importantes dentro de nossas


carteiras de investimentos. Com certeza, a maioria das pessoas se sente
confortável comprando imóveis. Essa compra deve respeitar os parâmetros
que comentei antes com vocês. Analisem todos os pormenores antes da
compra. Só façam o investimento se vocês se sentirem confortáveis em
todos os aspectos. Em primeiro lugar o imóvel em questão tem que ter boa
localização, sem problemas estruturais, livre e desimpedido de disputas
judiciais ou de dívidas. Em segundo lugar ele deve apresentar um
rendimento condizente com o capital investido e, em terceiro lugar o valor a
ser pago e as futuras prestações se houverem, devem ser bem equilibradas
com o dinheiro guardado e com seus orçamentos.
“Não cometam erros grotescos que a maioria das pessoas comete.
Procurem tirar as dúvidas que vocês possam vir a ter, bem como, todas as
questões que vocês não entendem com profissionais competentes, como,
advogados, engenheiros, corretores etc., Paguem alegremente a esses
profissionais pelas consultas. Um pouco de dinheiro gasto para analisar
todos os aspectos do investimento no imóvel, muitas vezes, pode evitar
grandes aborrecimentos e prejuízos Nunca se esqueçam de que
salvaguardar o dinheiro investido é de suma importância”.

_ Sabe Guto – disse Jaime – as pessoas normalmente se comportam assim


mesmo. Fazem grandes investimentos sem se preocupar em fazer análises
mais profundas. Eu mesmo já me comportei assim mesmo várias vezes.

_ Eu também – comentou Guto.

_ Essa lição eu aprendi amargamente – retorquiu Guto – perdi o valor que


dei de entrada em um imóvel, pela má fé do vendedor que me vendeu um
imóvel com ônus. Como disse a vocês, um plano financeiro é elaborado com
algumas diretrizes, mas sua evolução através do tempo é norteada pelas
nossas experiências positivas e negativas. Quem reconhece seus erros e
toma providências para não repeti-los tem maiores chances de se tornar
vitorioso.

“Não cometi nunca mais um erro parecido como esse, porque, detectei logo
o culpado que fui eu mesmo por não ter feito as pesquisas corretamente,
identificando a má fé do vendedor antes da compra do imóvel”.

Eles passaram a trocar experiências passadas enquanto terminavam a trilha


escolhida para o passeio, Guto falou a eles que depois do almoço se
encontrariam na piscina para debater com eles fundos imobiliários.

_ Fundos imobiliários? Nunca ouvi falar – comentou Jaime.

_ Depois do almoço vamos discuti-los como uma opção de investimentos.


Depois vocês decidem se esse tipo de investimento serve para vocês ou
não. Não se iludam, na teoria vai lhes parecer razoavelmente simples, mas
como qualquer tipo de investimento requer acompanhamento e estudo, e
principalmente, o investimento deve fazer parte de seu círculo de
competência – respondeu Guto.

_ Círculo de competência? – perguntou Adolfo.

_ Isso Adolfo, um dos grandes erros que cometemos quando investimos, é


que o fazemos sem conhecer e compreender sobre os ativos que estamos
adquirindo. Quanto mais os compreendermos, maiores nossas chances em
investir em ativos que podem nos trazer bons rendimentos, além de
reduzirmos os riscos. Não dá para eliminarmos esses riscos, por isso, como
falei anteriormente, nunca devemos comprar algo que nos coloque em um
risco maior do que podemos suportar se o investimento fracassar. Temos
sempre que ter em mente que nossas vidas são conduzidas pelos nossos
erros e acertos – respondeu Guto.

“Quando queremos investir em algum ativo, no qual temos pouco


conhecimento, devemos procurar estudá-lo até que tenhamos pelo menos
um entendimento satisfatório e principalmente os riscos que estaremos
expostos.”

“O que vai expandir nosso círculo de competência é o estudo sobre os


ativos que queremos adquirir e que ainda não sabemos muita coisa. É a
qualidade do nosso estudo aliado aos outros parâmetros de nossos planos
como segurança, controle de risco, rentabilidade, equilíbrio do valor a ser
pago em relação aos nossos orçamentos e poupança, etc., É o que pode
determinar o sucesso ou não dos investimentos em ativos aos quais vocês
não conheciam anteriormente”.

_ Nunca tinha pensado em círculo de competência Guto – comentou Adolfo


- com certeza além de fazer parte do meu plano a partir de agora, sempre
vou buscá-lo quando não o tiver e aprimorá-lo nos investimentos nos quais
já o tenha.

_ Muito bem lembrado Adolfo, tinha esquecido a parte do aprimoramento,


sempre devemos buscar evoluir com nossos estudos e nossa experiência
adquirida com o passar do tempo – respondeu Guto.

Eles então se despediram e foram aos seus quartos para descansar um


pouco, e se preparar para o almoço. Desfrutaram do almoço e, logo depois,
suas esposas e filhos voltaram a seus quartos para descansarem, enquanto
os três amigos se reuniram embaixo dos guarda-sóis à beira da piscina,
devidamente servidos de licores para os ajudarem a fazer a digestão.

Guto começou a conversa:

_ Como vocês devem saber existem vários tipos de investimentos através


de fundos, um deles são os fundos imobiliários, nos quais vocês compram
cotas de empreendimentos, e por isso, o investimento pode ser iniciado
com valores pequenos.

_ O que você quer dizer com valores pequenos Guto? – perguntou Jaime.

_ Existem fundos imobiliários em que suas cotas são vendidas por poucos
reais até alguns com cotas custando alguns milhares de reais – respondeu
Guto.

_ Então podemos supor que os mais caros são os melhores? - Continuou


perguntando Jaime.
_ Não necessariamente, Jaime – respondeu Guto -, depende muito do
momento e objetivo dos gestores quando do lançamento do fundo. Tem
fundos lançados a RS100,00 por cota enquanto outros a RS1. 000,00 por
cota, por exemplo.

“Como foi falado anteriormente se vocês quiserem investir em fundos


imobiliários, vocês devem estudá-los e trazerem esse investimento para
dentro dos seus círculos de competência. Como todo tipo de investimentos
existem os mais arriscados e os menos arriscados e existem acima de tudo
os fundos que fazem mais sentido para seus perfis como investidores. Tem
pessoas que compram esses fundos para receberem rendimentos como
comprariam imóveis para alugarem, outras preferem buscar fundos que
esperam vender com um bom lucro como comprariam imóveis e depois
tentariam lucrar com a venda do mesmo, outras pessoas comprariam esses
fundos para renda, mas dependendo do preço também os venderiam”.

_ Não entendi o que essas cotas representam. Você está comprando o que
especificamente quando adquire essas cotas, Guto? – perguntou Adolfo - e
de onde vem o rendimento que você comentou?

_ Um fundo imobiliário, na maioria das vezes nada mais é do que um


imóvel em que o seu valor é dividido em cotas e essas cotas são vendidas
para vários investidores. Os objetos do fundo podem ser imóveis em
construção ou já concluídos.

“Esses imóveis normalmente são empreendimentos de um valor relevante


que dificilmente um investidor comum poderia adquirir isoladamente.
Agências bancárias, grandes edifícios comerciais, galpões de logística,
shoppings centers, faculdades, hospitais, etc. Um fundo imobiliário pode
representar um empreendimento específico ou parte dele, ou um conjunto
de imóveis”.

_ Pelo que você está-nos contando Guto pode-se comprar posições em


agências de banco com um valor relativamente pequeno? – Adolfo
perguntou.

_ Isso mesmo, Adolfo, e se você mantiver um fluxo constante de aportes,


você pode ir comprando cotas todo mês e a eles se somar os rendimentos
que você recebe todo mês dos fundos imobiliários.

_ Nós recebemos os rendimentos como se fosse um aluguel Guto? -


Perguntou Jaime – recebemos todo mês?

Guto respondeu a Jaime.

_ Os recebimentos da maioria dos fundos imobiliários nada mais são que


aluguéis dos empreendimentos distribuídos conforme o número de cotas
que o investidor possui daquele fundo. Essa distribuição na imensa maioria
dos fundos é mensal, mas em alguns outros fundos há prazos diferentes.
Quando se interessar por algum fundo pesquise essa e outras informações
que julgar relevante. Quanto mais entender sobre o investimento, maiores
suas chances de fazer uma boa aplicação para sua carteira de investimento
e consequentemente aumentar seu rendimento passivo. Eu falo a maioria
porque existem fundos que investem em outros fundos e também em
alguns instrumentos financeiros. Esses fundos pagam aos seus cotistas o
rendimento que o fundo teve com suas aplicações. Todos esses rendimentos
são isentos de imposto de renda.

“Como os fundos que distribuem rendimentos como aluguéis, nada mais são
que empreendimentos que compram e alugam propriedades, esses
rendimentos somente serão pagos logicamente se os empreendimentos
estiverem alugados e seus aluguéis estiverem sendo pagos, por isso é
importante escolher bons empreendimentos com os melhores inquilinos
possíveis. Muitas pessoas vão atrás dos maiores rendimentos sem se
atentar aos riscos. Nós devemos nos preocupar em adquirir um excelente
empreendimento que tenha um rendimento adequado”.

“Mesmo porque altos rendimentos podem ser ilusórios e levar-nos a investir


em ativos ruins, trazendo prejuízos futuros. Às vezes pode se achar
excelentes ativos com excelentes rendimentos, mas na maioria das vezes
isso não ocorre”.

_ Nós não pagamos imposto de renda sobre fundos imobiliários? –


perguntou Adolfo.

_ Pela legislação em vigor, Adolfo, os fundos imobiliários têm seus


rendimentos isentos de imposto de renda. Você só paga imposto de renda
se vender suas cotas com lucro. O imposto nesse caso é de vinte por cento,
mas os rendimentos são isentos - respondeu Guto.

_ Muito interessante - comentou Jaime – e quais fundos são melhores de


adquirir? Os fundos que têm imóveis e recebem aluguéis ou aqueles que
investem em outros fundos e em instrumentos financeiros?

_ Existem bons fundos nos dois modelos, Jaime – respondeu Guto – e


também outros não tão interessantes. Devemos nos preparar para separar
o joio do trigo o melhor possível. Para conseguirmos fazê-lo, antes de
investirmos, procuramos nos preparar o mais que pudermos, através de
livros, pesquisas, etc.

“Comprem livros sobre o assunto, usem a internet, procurem as


informações de cada fundo no site da Bovespa e leiam a fundo seus
comunicados e prospectos, sempre levando em consideração a seção de
riscos que o fundo apresenta que é detalhado nesses prospectos”.

_ Fale um pouco desses riscos, Guto - sugeriu Adolfo.


_ Desde inadimplência, vacância, como comentamos, até problemas
estruturais, comerciais. Isso tudo é explicado nos prospectos de cada fundo
e que está disponível no site da Bovespa. Devemos estudar também cada
tipo de fundo para determinar seus prós e contras, por exemplo, agências
do banco do Brasil têm risco pequeno de vacância e inadimplência, mas
como são valorizados no mercado seus rendimentos normalmente não são
os mais rentáveis.

“Existem fundos que como estão em fase de construção, por exemplo,


possuem renda mínima garantida que normalmente são empreendimentos
nos quais rendimentos são pagos até que o imóvel esteja pronto para
serem alugados. Esses rendimentos muitas vezes seduzem o investidor,
mas ele deve ficar atento, pois algumas vezes depois de pronto, esses
imóveis não conseguem o mesmo nível de rendimento que estava sendo
garantido pelo empreendedor na fase de construção. Isso pode acontecer
por vários motivos, como saturação da área em que o imóvel foi construído,
problemas de alvarás, valorização menor que o anteriormente previsto etc..
Outras vezes o empreendimento pode conseguir depois de pronto um
rendimento melhor do que o que era pago quando estava vigorando a renda
mínima garantida.”

“Existem alguns fundos imobiliários que são constituídos visando à venda


dos empreendimentos, como um conjunto de prédios, loteamentos, etc.
Conforme as unidades vão sendo vendidas a administradora vai
amortizando esses valores aos seus cotistas, e esses fundos são encerrados
quando todo o dinheiro do empreendimento é amortizado. Muitas vezes
como a cada pagamento o valor da cota diminui e os valores amortizados
pagos aos cotistas são confundidos como pagamentos de rendimentos
regulares, muitos investidores desavisados e sem realizar um estudo,
compram essas cotas e tem prejuízos. Esse é um bom exemplo de como
rendimentos altos podem seduzir e enganar o investidor. Sempre quando
nos depararmos com um investimento que esteja proporcionando um
expressivo rendimento, devemos estudar a fundo o investimento para
entendermos o porquê que esse investimento está conseguindo gerar esse
rendimento.”

“Devemos estudar também o tipo de imóvel que faz parte do


empreendimento e seus inquilinos. Alguns empreendimentos por terem
somente um inquilino o risco é maior, porque cem por cento de suas
receitas podem deixar de serem pagas se o inquilino mudar ou se tornar
inadimplente. Em um imóvel com vários inquilinos esse risco se dilui. Por
outro lado, mesmo um imóvel com um inquilino pode se tornar uma boa
compra se o imóvel for muito superior aos seus equivalentes seja pela
construção impar ou pela sua localização, em que mesmo o inquilino saindo
do imóvel, o fundo não teria problemas em substituí-lo”.
“Existem fundos que o imóvel serve basicamente para um ramo de
atividade como hospitais, faculdades, etc. em que uma troca de inquilinos
normalmente não é feita rapidamente. Existem vários tipos de fundos, nós
devemos estudar cada tipo e ver quais nos interessam para compor nossa
carteira conforme nossos perfis de investidor e nossas aspirações. Se
buscamos lucrar com a compra e venda dos fundos ou se buscamos uma
renda para o nosso futuro”.

Jaime comentou:

_ Pelo que você está-nos contando, comecei a ter uma ideia sobre esses
fundos imobiliários, Guto, mas dá para perceber também que temos muito
a evoluir, para podermos começar a investir nesses fundos, por isso, que
quero lhe pedir uma disponibilidade maior no seu tempo para nos ajudar a
prepararmos para esse tipo de investimento.

_ Pode contar comigo, Jaime – disse Guto -, mas busque também aprender
com livros, leia sobre os fundos que você achar interessante na página da
Bovespa, e procure sites especializados em que você possa buscar material
de aprendizado e também trocar informações com outras pessoas. Eu
praticamente aprendi grande parte do que eu sei sobre fundos imobiliários e
ações no site de uma pessoa que depois se tornou um grande amigo e
companheiro que se chama Mauricio Hissa, que é conhecido como Bastter
pelas pessoas, apelido que deu nome ao site Bastter.com.

_ Bastter? Que nome é esse? – perguntou Jaime.

_ É o nome do cachorro dele que ele incorporou, não me pergunte, cada um


tem seu jeito – respondeu Guto.

“Mas não se deixem empolgar em demasia, mesmo gostando de investir em


fundos imobiliários, não deixem de investir uma parte do capital poupado
mensalmente na poupança e renda fixa. Como os fundos imobiliários no
começo vão ter rendimentos pequenos, vocês não vão poder contar com
eles se surgir alguma oportunidade de uma compra de imóvel ou comércio,
por exemplo.”

“Além que fazer pequenas aplicações mensais em ativos nos quais ainda
estamos aprendendo a analisar nos protegem de vários erros que tendemos
a fazer no início de um novo investimento. Por exemplo, podemos comprar
um fundo que não é adequado ao nosso perfil, ou por um motivo ou outro,
não rendeu o que esperávamos. E o mais frequente de acontecer,
detectamos depois que passamos a focar tempo e estudo nesse ramo de
investimento, um ou mais fundos mais atrativos para nós do que aqueles
que adquirimos inicialmente. Como começamos com pouco capital não
vamos ter muitos gastos ou prejuízos na troca, ou podemos até mesmo
deixar aquela posição inicial montada e começarmos a comprar os novos
fundos com o dinheiro dos aportes acrescidos dos rendimentos ainda que
pequenos que já estaríamos recebendo”.

_ Você falou em gastos, Guto, quais são eles? – perguntou Jaime.

_ Toda vez que trocamos investimentos, gastos são incorridos. Na troca de


veículos existe gastos com documentos, depreciação, etc., toda vez que
você negocia um imóvel você gasta com escrituras, corretagens, reformas,
etc., todo tipo de investimentos tem seus gastos quando os compramos ou
vendemos. A troca de investimentos deve ser bem pensada, normalmente
eu só faço em dois casos: O primeiro é se o investimento perdeu a
atratividade pela qual eu o adquiri ou se desde o primeiro momento se
mostrou um mau negócio por algum motivo, e que meu estudo inicial não
detectou. O segundo caso é se eu achar um investimento que seja muito
superior, fazendo sentido à troca – respondeu Guto.

Jaime continuou a perguntar:

_ Entendi, devemos investir com calma para nossos custos ficarem baixos e
também para podermos adquirir ativos que não vamos necessitar, nem
desejar trocar a toda hora. Tenho uma dúvida Guto, você fala em comprar
fundos imobiliários, receber rendimentos, como fazemos esses
investimentos e aonde recebemos esses recebimentos?

_ Através de corretoras de valores, se vocês quiserem investir em fundos


imobiliários ou até mesmo em renda variável devem se cadastrar em
alguma corretora de valores, podendo ser a do seu banco ou alguma
independente – respondeu Guto.

Jaime continuou a perguntar;

_ Qual corretora devemos escolher?

_ Depende muito de seu perfil. Tem corretoras que cobram corretagens


mais baratas, então para quem opera com mais frequência vai fazer mais
sentido, outras disponibilizam ferramentas mais completas, o que vários
investidores preferem. Na escolha entre uma ou outra corretora você
determina o que você mais espera obter dela – respondeu Guto.

_ Ferramentas? – perguntou Adolfo.

Guto sorriu:

_ Esqueci que vocês não estão acostumados com os jargões que usamos.
Nós chamamos assim os serviços que as corretoras nos disponibilizam como
análises gráficas, plataformas de investimentos, etc. Quando forem escolher
uma corretora vejam se ela tem os serviços que vocês querem dispor
quando forem investir.
_ Então escolhemos a corretora, logicamente que temos que mandar
recursos e depois disso ligamos para a corretora para comprar os fundos
imobiliários? - Perguntou Jaime.

_ Vocês podem fazer essas compras por telefone, mas normalmente as


corretoras cobram uma corretagem maior por esse serviço. No começo
vocês podem fazer desse jeito, assim pode-se evitar alguns erros porque
vocês não estão acostumados a usar o Home Broker das corretoras. Os
investidores com mais prática usam o Home Broker para comprar e vender
fundos imobiliários e ações - respondeu Guto.

_ Home Broker? O que é isso? - perguntou Adolfo.

_ É um sistema disponibilizado pelas corretoras, pelo qual vocês


acompanham o pregão na Bolsa de Valores, podendo colocar ordens de
compra ou venda de ações ou fundos imobiliários. Você tem acesso a esse
sistema através de seu próprio computador – respondeu Guto.

_ Então podemos investir de dentro de nossas casas? – Adolfo continuou a


perguntar.

_ Isso mesmo, Adolfo – respondeu Guto-, por isso mesmo, pela facilidade
em operar é que devemos fazê-lo com sabedoria e parcimônia,
principalmente no começo. Já vi dezenas de pessoas que se deram muito
mal com seus investimentos operando indiscriminadamente em seu Home
Brokers. Muitas pessoas passam de operadores a viciados, fazendo esses
investimentos virarem um jogo que eles têm pouquíssima chance de
sobreviver.

“Por isso repito, esse investimento tem que ser feito com pouco dinheiro no
começo. Primeiro para vocês verem se faz sentido para vocês e depois para
irem adquirindo conhecimento e experiência conforme vão fazendo suas
compras mensais com seus aportes”.

“Antes de investir em renda variável, ou seja, ações e fundos imobiliários,


devem entender e aceitar que esses ativos podem se valorizar como
também podem desvalorizar-se, às vezes expressivamente”.

_ Foi bom você falar em perdas, Guto, o que acontece se a corretora que
operamos quebrar? – Jaime perguntou.

_ Depois da liquidação financeira que é feita três dias da data que você
comprou seus ativos através da corretora, as ações ficam custodiados na
CBLC – Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – em seu nome. Em
caso de quebra da corretora, você tem que trocar para outra, transferindo
sua posição, e a BM&F Bovespa através da BSM – Bovespa Supervisão de
Mercados - garante o saldo em dinheiro que você tinha na corretora até
certo valor. Como esse valor pode mudar a qualquer momento, o ideal é
que você procure ficar sempre atualizado – respondeu Guto.

“Existem outras aplicações que as corretoras oferecem a seus clientes que


não são seguradas, então antes de adquirirmos outros investimentos que
não sejam em ações, devemos perguntar na corretora sobre o assunto e
assim investimos com maior clareza. Se adquirimos ativos que não sejam
custodiados na CBLC, pelo menos devemos ter o cuidado de não o fazer em
corretoras nas quais não temos confiança, somente para pagar uma taxa
menor, por exemplo.”

“Já comentamos bastante sobre fundos imobiliários, corretoras, Home


Brokers, etc., agora vamos aproveitar o resto do dia. Com o tempo vocês
vão estudando o que discutimos hoje e colocando em prática, se o
investimento lhes interessar”.

Adolfo interrompeu Guto:

_ Antes de acabarmos de conversar quero discutir o empréstimo do


automóvel que você me fez. Guto, quero comprá-lo, pois não estou
confortável com essa situação, e agora que minha situação melhorou quero
resolver essa situação, se você não quiser vendê-lo vou devolvê-lo a você.

Guto respondeu:

_ Fico muito contente em primeiro lugar por você estar numa situação
financeira melhor e em segundo lugar por querer comprar o carro que
emprestei a você. Mesmo sendo um carro bom e novo, seu modelo é
simples e a maioria das pessoas na sua situação, com um montante
sobrando mês a mês, iria querer comprar um automóvel mais caro.

_ No futuro espero poder comprar um automóvel de um modelo mais caro,


mas só vou comprá-lo quando eu achar que os valores a ser gasto e as
despesas que vou ter com um carro de maior monta estiverem equilibrados
com meu orçamento – comentou Adolfo.

Guto orgulhoso respondeu:

_ Você aprendeu bem suas lições, Adolfo, fico muito feliz em lhe vender o
carro que lhe emprestei. Depois você me passa como quer me pagar que eu
aceitarei suas condições.

Depois de resolvido a venda do carro a Adolfo, eles aproveitaram o resto do


dia na piscina do hotel com suas famílias, voltando a suas casas no final da
tarde com os ânimos restabelecidos e tanto Adolfo como Jaime mais
entusiasmados, não vendo a hora começarem a estudar tudo que tinha sido
discutido no final de semana. Assim que possível começariam a colocar em
prática o que foi discutido durante o final de semana.
CAPÍTULO SEIS

IMÓVEIS

Alguns meses se passaram desde aquele final de semana, no qual os três


amigos e suas famílias desfrutaram o hotel fazenda. Durante esse período
Jaime e Adolfo procuraram Guto algumas vezes para ele os ajudar a
escolher e abrir suas contas numa corretora de valores. Depois ele os
ajudou a começarem seus investimentos em fundos imobiliários. Ficou
estabelecido que eles comprassem os fundos imobiliários com uma parte de
seus aportes e o resto desse montante seria direcionado a renda fixa e a
poupança.

Jaime aproveitou que estava com a manhã livre e como o horário do almoço
se aproximava, passou no escritório de Guto para convidá-lo para
almoçarem juntos. Ele esperou Guto terminar de atender um cliente e em
seguida foram a um restaurante próximo, pediram pratos leves
acompanhados de sucos, sentaram-se a mesa e começaram a conversar
alegremente.

_ Então, Jaime, como estão as coisas? – perguntou Guto.

_ Estão indo, Guto – respondeu Jaime -, estou com minha vida bem mais
tranquila do que antes de montar um plano financeiro e segui-lo. Sei que
ainda estou no começo e o caminho é longo e tortuoso como você sempre
diz, mas pelos meus resultados, vejo que esse caminho leva a um lugar
melhor, se eu conseguir me manter trilhando o caminho.

“Já tenho algum dinheiro guardado, aquele monte de dívidas que eu tinha
antes, e que aumentavam cada vez mais por falta de planejamento estão
todas pagas, exceto o empréstimo do banco que fiz no começo do plano e
que ainda faltam algumas parcelas para quitar. Tanto Adolfo como eu
estudamos os fundos imobiliários e gostamos do investimento e começamos
a investir um pouco por mês”.

Guto perguntou:

_ E o que vocês estão achando dos fundos imobiliários?

_ Estamos gostando – respondeu Jaime – como estamos investindo há


poucos meses e com pouco dinheiro nosso rendimento ainda é pequeno,
mas já deu para perceber que esses rendimentos no futuro tendem a se
tornar representativos dentro de nossa carteira de investimentos. Sempre
que compramos mais cotas nossos rendimentos também aumentam desde
que nossos fundos estejam recebendo seus aluguéis normalmente.

Guto comentou:

_ É assim mesmo que funciona, Jaime, muito parecido com os imóveis


tradicionais que compramos. É a qualidade do imóvel e do inquilino que
determinará se a aquisição vai ser lucrativa ou não, e se os rendimentos
serão adequados.

“Conforme formos tendo dinheiro para investir, estudamos se naquele


momento faz mais sentido investir em fundos imobiliários ou em imóveis
tradicionais. Devemos prestar muita atenção em nosso estudo em fatores
como o valor disponível para investimento, as oportunidades que se
apresentam naquele momento, nossas aspirações, etc.”

“Enquanto formos investindo em imóveis ou fundos imobiliários nós


notaremos algumas diferenças entre eles” – Jaime o interrompeu:

_ Verdade, Guto, eu notei isso também, nos fundos imobiliários nós não
precisamos gerir o imóvel, temos os gestores que o fazem, escolhendo
inquilinos, cuidando das reformas, recebimentos dos aluguéis, etc. Eles
recebem uma taxa para administrar, mas como se eu tivesse um imóvel de
aluguel próprio, o deixaria para uma imobiliária administrar, essas despesas
no meu caso seriam similares. Pelo fato dos fundos imobiliários terem
gestores e nós termos somente uma participação pequena neles, se caso
quisermos investir nesses fundos, devemos aceitar o fato que teremos
pouca voz ativa em escolher ativos a serem comprados ou vendidos pelo
fundo, na escolha de inquilinos, no reajuste de aluguel, etc.

“Podemos aplicar nos fundos imobiliários valores pequenos mês a mês, o


que não seria possível nos imóveis tradicionais, e se necessitarmos de
dinheiro por algum motivo, podemos vender somente o montante
necessário, o que não seria possível num imóvel tradicional que teríamos de
vender integralmente.”

“Os rendimentos dos fundos imobiliários também são isentos de imposto de


renda, ao passo que esses recebimentos nos imóveis tradicionais não são
isentos. Queria tirar uma dúvida com você Guto, eu sei que a gestora cuida
das reformas dos imóveis, mas quem paga por essas reformas quando são
necessárias?”

_ Normalmente conforme vão sendo recebidos os aluguéis, a gestora


guarda uma parte desses recebimentos para formar um fundo de reserva,
para serem usados nesses casos, mas ás vezes esses fundos de reservas
podem ser insuficientes e os cotistas nesses casos vão ser chamados a se
cotizarem para cobrir os custos da reforma, – respondeu Guto.

_ E quanto à valorização das cotas e o aumento dos aluguéis, como


funciona? – continuou perguntando Jaime.

_ É muito parecido com os imóveis tradicionais também Jaime. Se você


comprar fundos imobiliários que tenham imóveis bem localizados, com
construções adequadas e bem alugados, os imóveis e os seus aluguéis
tendem a valorizar e consequentemente suas cotas também se valorizam. O
contrário também é verdadeiro, por isso que a escolha dos fundos
imobiliários é importantíssima Essa escolha é que vai determinar a
valorização das cotas e dos rendimentos do fundo – Guto respondeu.

“Os fundos imobiliários normalmente têm mais liquidez do que os imóveis


tradicionais, para comprar ou vender basta um clique no seu Home Broker
ou uma ligação para sua corretora. Na imensa maioria das vezes sempre
tem ordens de compra ou venda para esses fundos, salvo algum fundo com
baixa liquidez, o que foi bom mencionar, porque liquidez é um fator a ser
estudado. Veja se sempre tem negócios no fundo que você quer comprar.
Esse fato é importante porque fundos com liquidez proporcionam ofertas de
venda quando você quer comprar e vice-versa”.

_ Liquidez? – perguntou Jaime.

_ Procure comprar fundos e também ações que tenham sempre ofertas de


compra e venda, desse modo fica mais fácil para você comprar ou vender
cotas ou ações quando quiser. Observe se um determinado fundo ou ação
são bem negociados por meio número de negócios diários indicados no seu
Home Broker.

Guto continuou a comentar sobre os fundos imobiliários:

“Nos imóveis tradicionais como seus valores são maiores e seu mercado de
negociação é menor, na maioria dos casos restritos a uma cidade ou bairro,
sua liquidez é menor, além de necessitar documentos como certidões,
escrituras, etc., e de acompanhamento de profissionais para validarem sua
compra ou venda.”

Jaime completou:
_ Eu já tinha imaginado que a valorização dos fundos seria mais ou menos
como você descreveu muito parecido com os imóveis normais. Uma
diferença que notei também é que mesmo sendo possível a compra de um
fundo imobiliário num preço muito interessante, é mais fácil você achar
excelentes oportunidades em imóveis tradicionais, pelos motivos que você
enumerou. A liquidez do imóvel tradicional é baixa em relação ao fundo
imobiliário, e esse fator pode deixar um imóvel tradicional sendo vendido há
um preço e em condições atraentes, já que pode haver dificuldade maior
por parte do vendedor para conseguir efetuar a venda.

_ É isso mesmo Jaime, às vezes você pode achar verdadeiras pechinchas


em imóveis tradicionais, contudo, você tem que tomar cuidado para ver se
não são arapucas montadas. Quando achamos um imóvel em condições
muito favoráveis para a compra, de um momento para o outro,
fortalecemos nossa carteira de uma forma expressiva, além de melhorar a
qualidade de nossa vida familiar instantaneamente – comentou Guto.

“Por isso nosso estudo é tão importante para escolhermos fundos


imobiliários que nos tragam boas rendas passivas, utilizando nossos aportes
mensais conjuntamente com as reaplicações de nossos rendimentos.
Quando detectarmos um imóvel excelente para comprarmos é o dinheiro
que guardamos, aliado aos nossos rendimentos é que vão nos propiciar a
aquisição do imóvel.”

“Não se esqueça de comentar com o Adolfo o que discutimos hoje” – Guto


lembrou Jaime.

Os dois amigos conversaram mais um pouco, depois que terminaram de


almoçar se despediram e voltaram a seus afazeres.

Tinha se passado um pouco mais de um ano, desde o almoço entre Jaime e


Guto. Adolfo ligou para Guto para convidar a ele e sua família para um
jantar no sábado à noite, Guto alegremente aceitou o convite. Chegaram ao
restaurante japonês todos quase ao mesmo tempo. Adolfo e Jaime tinham
reservado uma sala privativa, e depois de todos retirarem seus sapatos,
foram acomodados em uma grande mesa, os homens ficaram num canto,
suas mulheres ao centro da mesa e seus filhos no canto oposto.

Passaram as próximas horas saboreando um excelente jantar japonês em


meio a conversas divertidas e quando as risadas diminuíram um pouco,
Adolfo tomou a palavra:

_ Quero brindar ao Guto por ter ajudado não só a mim, como também ao
meu cunhado Jaime quando mais necessitamos, e tendo assim nos dado os
meios para proporcionarmos as nossas famílias um ambiente feliz, de paz,
saúde e respeito, que não teríamos conseguido atingir sem sua ajuda que
nos trouxe de volta o equilíbrio financeiro e familiar há muito tempo
perdido.
O brinde de Adolfo foi seguido por todos ao redor da mesa, o que deixou
Guto um pouco envergonhado e bastante emocionado. Enxugando uma
lágrima que teimava em cair dos seus olhos Guto perguntou aos amigos:

_ Fico contente com a melhora em suas vidas, mas qual é o motivo de tanta
comemoração?

_ Como estamos quase batendo nossa oitava meta, esse jantar será a
nossa recompensa – respondeu Jaime.

Jaime foi logo repreendido por Guto:

_ Não acho certo desfrutar de recompensas, antes de vocês atingirem suas


metas.

Adolfo respondeu balançando a cabeça e sorrindo:

_ Não sei por que você vive teimando em apostar comigo, Jaime. Tinha
certeza que o Guto não ia concordar de desfrutarmos das recompensas
antes de fazermos jus a elas.

_ No que ele está coberto de razão, pois eu presenciei a importância da


disciplina em um plano financeiro e de vida. Mas Guto, eu e Adolfo temos
uma razão para anteciparmos a comemoração para hoje ao invés de
quando batermos nossa próxima meta, o que também não está longe de
acontecer – comentou Jaime.

“Hoje estamos comemorando a compra de nosso primeiro imóvel para


compor nossa carteira de investimentos e estamos muito confiantes que
essa aquisição vai nos proporcionar uma bela renda passiva durante nossa
vida”.

Guto respondeu cheio de orgulho:

_ Que maravilha, meus parabéns aos dois, conte-me mais do imóvel que
vocês adquiriram. Fizeram todas as pesquisas que comentamos
anteriormente? Pagaram um bom preço? Analisaram a localização do imóvel
e o valor do aluguel de imóveis semelhantes a esse que vocês estão
comprando?

Adolfo respondeu:

_ Contratamos um advogado para nos auxiliar com os documentos, e


queríamos pedir a você para ir olhar o imóvel amanhã cedo, antes de
assinarmos a escritura para você vistoriar as estruturas do imóvel.

Jaime interrompeu:

_ Quanto à compra propriamente dita, a oportunidade bateu em nossa


porta, como você tinha nos dito que poderia acontecer se estivéssemos
preparados. Ficamos sabendo de um pequeno salão comercial em uma
avenida no bairro que eu moro. Como gostamos do lugar eu e o Adolfo
fomos olhar o imóvel. O dono pediu um preço bastante razoável, mas
mesmo assim estava acima do que tínhamos disponível em nossas
aplicações.

“Continuamos a conversar com o dono do imóvel e ele nos contou que tinha
tido algumas ofertas pelo imóvel, mas todas elas envolviam pouco dinheiro
e dinheiro era o que ele necessitava por hora, além do fato que ele queria
ficar como inquilino do imóvel.”

“Falamos que se comprássemos o imóvel ele não precisaria mudar seu


comércio de lugar e que ficaríamos contentes se ele se tornasse nosso
inquilino, desde que apresentasse fiador. Lembramos de você Guto e
procuramos nos certificar dos pormenores antes que ocorram os
problemas.”

_ Fizeram muito bem e depois? – Guto já não segurando a curiosidade,


perguntou.

_ O dono do imóvel nos falou que fiança e contratos não seriam problema
se nós chegássemos a um acordo, seu pai ficaria como fiador – continuou
Jaime. Falamos para ele que poderíamos pagar cerca de setenta por cento
do valor à vista, mas não teríamos como aumentar esse valor. Ele pediu
para pensar e que nos procuraria em um ou dois dias.

_ Saímos do imóvel em um misto de euforia e decepção, porque gostamos


do imóvel, mas achamos que o dono não iria topar vendê-lo no preço
proposto por nós. Quanto ao valor o dono não aceitou uma redução, mesmo
porque o imóvel já estava sendo vendido num valor bem interessante. Mas
para nossa surpresa ele nos propôs vender o imóvel pelo preço pedido,
sendo que ele aceitaria setenta por cento em dinheiro e como ele ficaria
como nosso inquilino os outros trinta por cento seriam descontados em
aluguéis futuros, - comentou Adolfo.

“O mais engraçado é que essa solução não tinha passado por nossas
cabeças, aceitamos o acordo com o proprietário, com a condição de
fazermos o pagamento na escritura, o que nos daria tempo para fazermos
os devidos levantamentos necessários. Para concretizarmos o investimento
com segurança, só está faltando você realizar uma vistoria no imóvel Guto.
Se for possível para você queríamos que fosse amanhã, pois queremos
assinar a escritura rapidamente para não perdemos o negócio.”

_ Amanhã bem cedo vocês vão ao meu escritório que irei ver o imóvel com
grande satisfação – respondeu Guto - não sei se vocês perceberam que o
negócio somente se concretizou devido a certos requisitos pessoais que
vocês sempre demonstraram possuir. Esse é um dos motivos pelo qual
vocês estão conseguindo ter sucesso na concretização do plano financeiro,
no qual muitas pessoas não conseguem.

Jaime perguntou:

_ Quais são esses requisitos, Guto?

_ Em primeiro lugar não deixaram uma dificuldade que à primeira vista


vocês não enxergavam uma solução, se tornar um problema intransponível.
Depois vocês tiveram humildade para expor a situação para o proprietário
do imóvel claramente e honestamente, o que com certeza fez que o
proprietário sentisse confiança em negociar com vocês. E o mais
importante, souberam ouvir as necessidades do dono do imóvel sem
arrogância e prepotência como muitas pessoas o fazem, o que certamente
contou pontos a seu favor, o que deve ter motivado ele a fazer a proposta
pela qual vocês fecharam a compra do imóvel – Guto respondeu.

“Com certeza o proprietário do imóvel ficou tão ou mais satisfeito que


vocês, com o modo que o imóvel foi vendido.”

_ Sabe que você tem razão, Guto – Adolfo comentou - a única coisa que
não gostamos no imóvel foi um corredor lateral no qual não vimos à razão
do dono ter construído desse jeito, já que o salão ficou com uma área
menor por causa desse corredor. Depois que fechamos negócio com o
imóvel ele nos mostrou uma planta aprovada de três salas no pavimento
superior ao salão, sendo que a entrada se dará justamente por uma escada
nesse corredor. Para começarmos a construir essas salas teríamos somente
que retirar o telhado e começar a levantar a obra, pois toda a estrutura do
prédio foi feita para suportar o segundo andar do imóvel.

“O dono comentou conosco que nos mostrou a planta, porque gostou muito
de nós e queria que aproveitássemos ao máximo o potencial de nossa
compra, mesmo que trouxesse um infortúnio temporário a ele, devido à
obra para a construção das salas”.

“Mesmo sabendo que mais cedo ou mais tarde, descobriríamos que


poderíamos construir no segundo andar do imóvel, o inquilino poderia
dificultar a obra porque certamente a construção algum empecilho lhe
acarretará, o que possivelmente faria que nossa relação ficasse difícil e
desgastante, e quase certamente entraríamos em conflito, o que seria
desgastante para ambos os lados”.

Guto comentou:

_ Com certeza foi isso mesmo que aconteceu, por isso, em nossa vida é
fundamental sermos pessoas equilibradas, bem relacionadas, humildes, etc.
As oportunidades normalmente aparecem para as pessoas que primeiro
tenham se preparado financeiramente, e também que possuam um bom
convívio com as pessoas.

“Como vocês planejam começar a construção do segundo andar do imóvel


que compraram?”

_ Para responder a essa pergunta vamos estragar a surpresa que


esperávamos fazer para você. Daqui a dois meses vamos pagar a última
prestação de nosso empréstimo. Usaremos o dinheiro que guardávamos
para pagar as parcelas do empréstimo junto com o valor que aportávamos
por mês para construirmos às salas comerciais – respondeu Adolfo.

_ Muito bom – respondeu Guto - vocês vão ter quatro imóveis rendendo
aluguéis, sem nenhuma dívida. Excelente plano, a única ressalva que faço é
que vocês não deixem de aplicar um pouco pelo menos em renda fixa, para
não serem pegos de surpresa por algum contratempo. Depois de terminada
a construção vocês vão aumentar o orçamento de suas famílias?

_ Bem lembrado, Guto. Nós não tínhamos colocado no plano fazer aportes
em renda fixa, que como você notou vai ficar praticamente zerada, quando
pagarmos o imóvel – comentou Jaime - iremos então aplicar um pouco por
mês na renda fixa.

“Em relação a nossos orçamentos já tínhamos discutido em família que


iremos usar um terço dos aluguéis recebidos para aumentar nossos gastos
familiares e assim proporcionarmos uma vida melhor para nossas famílias.”

_ Gostei muito do plano de vocês em relação à compra do imóvel, e o modo


que equilibraram o pagamento com o que vocês tinham disponível na renda
fixa, desse modo, não irão precisar se desfazer dos seus fundos
imobiliários, os quais já devem estar rendendo alguma coisa. Gostei ainda
dos seus planos em relação à construção do segundo andar do salão
comercial que vocês compraram, sendo que vocês vão construir conforme o
dinheiro for ficando disponível, assim sendo, não vão necessitar se
endividar, o que é excelente.

“Estava pensando quando nós poderíamos começar a estudarmos sobre


renda variável, ou melhor, sobre ações porque fundos imobiliários já são
considerados investimentos em renda variável. Como fizemos com os
fundos imobiliários depois que vocês forem estudando sobre o assunto,
vocês decidem se consideram interessantes ou não investir em ações de
empresas. Para algumas pessoas o investimento vai ser interessante e para
outras não, depende muito do perfil e principalmente o emocional do
investidor.”

Adolfo interrompeu:
_ Ações de empresas? Eu acho interessante, mas não posso negar que
tenho muito medo de investir em ações. Você acha que estamos preparados
para passarmos a esse nível de investimentos, Guto?

_ Como comentei antes, se vocês vão estar preparados ou não, vai


depender de vários fatores e vocês deverão decidir no futuro sobre o
assunto. Atualmente com o investimento que vocês farão no imóvel que
compraram, não é uma boa época para começar a investir em ações, mas
vocês podem começar se quiserem a estudar sobre renda variável, lendo
livros que posso emprestar para vocês, estudando sobre o assunto pela
internet ou outros meios. Eu sei que vocês tiraram muitas dúvidas sobre
fundos imobiliários no site do meu amigo Bastter, e como na Bastter.com
tem várias seções de estudo sobre ações, vocês certamente irão encontrar
um bom material para seus estudos.

“É melhor deixar para começar um estudo mais apurado sobre renda


variável, depois que vocês terminarem a obra do imóvel que adquiriram,
quando seus aportes mensais forem restabelecidos, acrescidos da nova
renda que seus imóveis lhes trarão. Vocês poderiam começar a estudar
agora e se decidissem a investir em renda variável esperariam esse prazo
para começar o investimento.”

“Mas eu sei que em certos casos o investimento em ações pode ser viciante,
principalmente no começo, quando o investidor não enxerga os riscos, e
podem ter certeza que não são poucos, sendo assim, antes de começarmos
a nos aprofundarmos no assunto, melhor seria se vocês já tiverem
adquirido um estudo melhor e absorverem um pouco da experiência das
pessoas que investem em renda variável e que trocam informações lá no
site do Bastter. Tomem cuidado aonde vão procurar informações porque
várias pessoas postam notícias enganosas, com má fé para atraírem
investidores para montarem posição em empresas arriscadíssimas, na
tentativa de ganharem dinheiro quando os iniciantes levantarem a cotação
da ação para que eles possam vender suas ações levando normalmente os
investidores, principalmente os iniciantes, a grandes perdas.”

“Como já investem em fundos imobiliários vocês também irão se


acostumando com as altas e quedas das cotações tão normais nesse tipo de
investimento. Mesmo as ações normalmente tendo uma volatilidade maior
que os fundos imobiliários, as experiências que vão adquirir com esses
fundos vão ser muito importantes, se decidirem em investir em ações.
Voltaremos a esse assunto de forma mais completa quando iniciarmos
nosso estudo.”

Acertaram então, que se Jaime e Adolfo achassem interessante se


aprofundar no estudo sobre ações, começariam devagar por livros e por
estudos no site do amigo de Guto. Depois quando terminassem suas obras
no salão comercial, partiriam para um estudo mais amplo e completo.
Depois de tudo acertado passaram a conversas mais amenas e depois de
comerem a sobremesa, despediram-se alegremente e os três amigos, de
formas diferentes, foram embora com o sentimento de dever cumprido
junto com suas famílias.
CAPÍTULO SETE

RENDA VARIÁVEL

Depois de efetuarem a compra do imóvel, Adolfo e Jaime passaram os


meses seguintes juntando capital, para começarem a construção das salas
comerciais no segundo andar. Nesse meio tempo eles quitaram seus
empréstimos bancários, o que aumentou o montante disponível para
aplicação. Tomaram cuidado para aplicar um pouco do capital na poupança,
para preveni-los de algum imprevisto e continuaram fazendo seus aportes
nos fundos imobiliários.

Assim que pouparam o montante que acharam suficiente para o começo da


obra, eles a iniciaram e alguns meses depois ela estava concluída. Levaram
um tempo maior na execução da obra do que o inicialmente previsto para
não incorrer em dívidas.

Conseguiram alugar as salas comerciais antes do término das obras. Guto


acompanhou toda a obra de perto, e assim que os novo inquilinos se
mudaram, ele perguntou a Jaime e Adolfo se eles queriam se aprofundar
nos estudos sobre o mercado de ações.

Adolfo respondeu:

_ Durante esse tempo que construímos, seguimos seu conselho e lemos


alguns livros e acompanhamos o assunto em alguns sites, principalmente o
do seu amigo Bastter. Ainda não sabemos se vamos querer investir em
ações, mas tanto eu como Jaime queremos nos aprofundar no assunto.

_ Vamos marcar então um churrasco na minha casa no final de semana


para discutirmos sobre o assunto, e também para desfrutarmos da
companhia de nossas famílias – Guto convidou.

O convite foi logo aceito, e depois de combinarem a parte que caberia a


cada família providenciar, se despediram. No sábado de manhã Jaime e
Adolfo com suas famílias chegaram à residência de Guto e, depois de se
acomodarem, Jaime assumiu a churrasqueira, enquanto o resto do pessoal
se divertia na piscina. Depois de almoçarem e descansarem um pouco, os
amigos se reuniram para começarem a conversar sobre renda variável.

_ Existem várias formas de investir em ações – Guto começou a explicar -


uma delas é investir em fundos de índices, como o Ibovespa. Nesse caso
basicamente você ganha se o Ibovespa subir e vice-versa, podendo ser o
contrário se você vender o índice, que é um modo de apostar na baixa do
Ibovespa - Adolfo o interrompeu.

_ Mas isso não é o normal? Se o Ibovespa subir nossa posição em ações


também não vai subir?

_ Às vezes sim, outras não – respondeu Guto - o Ibovespa representa uma


média de algumas empresas listadas na bolsa, essas empresas
normalmente são as maiores empresas em valor e as mais negociadas do
Bovespa. Mesmo dentro desse índice as empresas têm diferentes graus de
representatividade, por exemplo, a Petrobras e a Vale juntas representam
perto de um quarto do índice, enquanto outras empresas representam
menos de um por cento. Por isso, vemos corriqueiramente, o Ibovespa
estar subindo, algumas empresas que fazem parte do índice estar subindo
mais que o Ibovespa, outras empresas subindo menos que o Ibovespa, e
ainda outras estarem caindo ou perto da estabilidade.

“Devemos levar em conta também, que a maioria das empresas listadas


não fazem parte do índice Ibovespa. Também existem fundos que aplicam
em determinados setores ou em empresas específicas. Existem investidores
que preferem investir nesses fundos a montar sua própria carteira de ações,
outras preferem montar suas próprias carteiras de ações”.

Jaime perguntou:

_ Qual é o melhor modo de investir?

_ Não existe o melhor modo Jaime – respondeu Guto - vai depender muito
do perfil do investidor. Para alguns, escolher as próprias ações vai ser
melhor, para outros não. Existem ainda os investidores que não tem o perfil
para investir em renda variável, os quais devem priorizar outros tipos de
investimentos.

_ Como vamos saber se temos o perfil certo ou não? - Perguntou Jaime.

_ Procuramos primeiro definir nosso perfil de investidor, se somos


conservadores, moderados ou agressivos. Como sabemos qual é o nosso
perfil de investidor? Simples, pelo nosso histórico passado de
investimentos. Investimos em aplicações tradicionais, imóveis, ou buscamos
investimentos mais agressivos? Quando investíamos sentíamos a vontade
em arriscar mais, ou preferíamos a segurança acima de tudo? – comentou
Guto.

“Pela minha experiência, investir em renda variável não é aconselhável se o


investidor for muito conservador ou muito agressivo. Se for extremamente
conservador ele não vai suportar as flutuações inerentes as aplicações em
renda variável, o que normalmente o fará comprar no topo do mercado,
pois ele sentirá uma falsa sensação de segurança com o mercado em alta, e
depois, venderá suas ações quando o mercado entrar em tendência de
baixa forte, quando seus sentimentos mudarem para uma sensação quase
de pânico. Se esse investidor for muito agressivo, possivelmente vai investir
em ativos arriscados e com valores relativamente altos, esse tipo de
investimento quase sempre o levará a grandes prejuízos”.

Adolfo questionou Guto:

_ O que você quer dizer com flutuações?

_ Quem investe em renda variável, deve compreender que sua posição vai
flutuar, às vezes intensivamente. Você e o Jaime devem ter observado, que
as cotas que vocês têm em fundos imobiliários sobem e caem de valor
diariamente, esse movimento é chamado de flutuação. Sendo que no
mercado de ações esses movimentos tendem a ser bem mais intensos, por
isso, esse investimento deve fazer parte do círculo de competência do
investidor, como vimos anteriormente. Se comprarmos ações de boas
empresas, poderemos, assim, aproveitar uma eventual baixa do mercado
para comprarmos mais ações, desde que as perspectivas futuras da
empresa continuem interessantes. Ao contrário, quando a ação sobe,
analisamos a empresa para decidirmos se vendemos nossa posição ou não.
Se decidirmos não vender, pois achamos que a empresa continuará sendo
um bom investimento no futuro, somente está um pouco cara, nós paramos
de comprar suas ações e ficamos somente reinvestindo seus dividendos.

“Por outro lado, se comprarmos ações de empresas ruins, um mercado


baixista pode reduzir nosso valor investido em ações drasticamente, e o
pior, como a empresa é ruim, mesmo a crise acabando ou diminuindo de
intensidade, o valor de suas ações pode nunca mais voltar ao que era
antes. Esse é o segredo do investimento de longo prazo no mercado de
ações: Procuramos sempre estar posicionados em empresas boas. Mas não
se iludam, conseguir esse posicionamento é dificílimo. Primeiro seu estudo
deve estar certo quando identificar uma boa empresa, e depois, mesmo se
você montou posição numa boa empresa, às vezes essa empresa por algum
motivo pode piorar. Se acharmos pelo nosso estudo que essa piora não é
passageira, deveremos vender nossas ações da empresa.”

“É a qualidade de nosso estudo em manter em nossas carteiras ações de


empresas boas, ao longo do tempo, que vai determinar nosso rendimento,
por isso, vemos investidores com alto grau de diferença de desempenho,
alguns tendo prejuízo, enquanto outros lucros e vice-versa. Isso ocorre com
investidores profissionais ou não.”

_ E como vamos saber quais empresas são boas ou não e quando elas ficam
ruins? - Perguntou Adolfo.

_ Prestando atenção na qualidade dos dirigentes da empresa, seu


endividamento, seu fluxo de caixa, e muitos outros fatores que vamos
estudar mais para frente – respondeu Guto.

“Vamos procurar encontrar empresas para investir que nos tragam retornos
através dos dividendos para aumentarmos nosso rendimento passivo e
também que os lucros não distribuídos aos acionistas sejam reinvestidos
sabiamente.”

Adolfo perguntou:

_ Dividendos? Quer dizer que a empresa vai pagar um valor em dinheiro


para nós, por termos suas ações?

_ Desde que a empresa tenha lucro, por lei ela deve distribuir no mínimo
vinte e cinco por cento do lucro para seus acionistas, salvo algumas
exceções. Depois voltaremos a falar sobre esse assunto.

“Procuramos detectar no nosso estudo as empresas que tem lucros fortes e


constantes, assim elas podem nos pagar bons dividendos e se os lucros que
a empresa não distribui na forma de dividendos forem reinvestidos com
sabedoria, não somente os dividendos serão maiores no futuro, bem como
seus lucros.”

_ Não deve ser fácil achar essas empresas, Guto? – perguntou Jaime.

_ Conforme nosso estudo vai se tornando eficiente e formos adquirindo


experiência, nossa chance de descobrirmos essas empresas melhoram.
Como a maioria das vezes que começarmos a montar posição, as escolhas
vão se mostrar erradas ou ineficientes é importante começar com
pouquíssimo dinheiro, e ir aumentando a posição com parcimônia, conforme
a empresa nos mostrar que ela é o que esperávamos que ela realmente
fosse. Nunca devemos investir em uma empresa um valor que pode nos
colocar em uma situação financeira complicada se a empresa for ou se
tornar muito ruim e suas cotações despencarem – comentou Guto.

“É importante começar a montar posição com pouco dinheiro,


principalmente se conhecermos pouco da empresa e do setor. Quando
iniciamos seriamente uma posição numa empresa, o nosso foco é dirigido
para a empresa e o setor, fazendo que tenhamos uma melhor compreensão
sobre eles, incorporando-os ao nosso círculo de competência. Quanto mais
tempo ficarmos sócios da empresa, melhor será nosso estudo sobre ela. Em
grande parte dos casos conforme vamos aprendendo sobre a empresa e o
setor, e formos lendo os balanços e ouvindo os webcasts, iremos perceber
problemas com a empresa ou setor, que não vimos quando do início de
nossas compras. Nesse caso nós as vendemos e seguimos em frente.
Algumas vezes vamos achar boas empresas com esse estudo e de tempos
em tempos poderemos achar uma empresa excepcional, o que pode
compensar às vezes que compramos ações de empresas ruins.”

_ O que nos leva a comprar ações de empresas ruins, Guto? Nosso estudo
não mostraria esse lado ruim da empresa logo de cara? – perguntou Jaime.

Guto respondeu:

_ No começo dos estudos nós tendemos a errar bastante, depois menos. É


muito comum quando começamos a investir, tentar a compra e venda de
ações com alto lucro, o que é difícil obter no longo prazo.

“No começo nosso estudo tende a ser bastante superficial, principalmente


pela nossa falta de experiência. Conforme formos nos aprofundando,
notaremos que existem fatores que impactam alguns setores mais do que
outros, e que alguns até só impactam setores específicos.”

“Quando sobe a gasolina essa alta impacta mais fortemente alguns setores
do que outros, bem como as altas ou quedas da inflação, do dólar, etc.
Quando há redução de IPI da linha branca, isso impacta as siderúrgicas e
não impacta em nada a construção civil, por exemplo. E mesmo nas
siderúrgicas a redução impacta mais nas empresas do setor que produzem
aços planos, do que as que produzem aços longos. Seus estudos iniciais não
detectariam tudo isso, mas depois de um tempo vocês leriam um balanço
ou ouviriam um webcast do setor com mais compreensão e identificariam
dentro das notícias que ouvimos todo dia, quais seriam mais impactantes
para nosso investimento.”

“Muitas vezes compramos ou vendemos ações baseados em notícias ou


opiniões que lemos em jornais, revistas, na internet, etc. Quando operamos
pelas opiniões de outras pessoas normalmente esse investimento não vai
ser rentável para nossas carteiras de investimentos. Mesmo que a noticia
seja correta, muitas vezes o mercado já a prefixou e a cotação não é
impactada pela notícia. E pior do que isso, na maioria das vezes, a notícia
está errada no todo ou em partes.”

“Ainda temos que levar em consideração que as pessoas que estejam te


dando dicas não o conhecem, nem o seu perfil de investidor, sendo assim,
essa dica poderá ser para um investimento de curto prazo e ser lida por um
investidor de longo prazo e vice-versa. E o mais importante, na maioria das
vezes você não vai saber quando a pessoa que te deu a dica mudou de
opinião.”

“Outras vezes, por exemplo, podem acontecer notícias, como a Petrobras


descobrindo um novo campo de petróleo, e quando a bolsa iniciar o pregão
as ações da empresa abrirem em queda ou estáveis. Isso ocorre porque ou
o mercado já esperava alguma notícia assim ou a descoberta não vai ser
impactante para a empresa. Por exemplo, para uma companhia como a
Petrobras uma descoberta na casa dos milhões de barris é positiva, mas
não tem o poder de elevar o lucro da empresa expressivamente. Já uma
descoberta na casa dos bilhões de barris como o TUPI pode elevar o lucro
expressivamente, e as cotações refletiram essa expectativa com expressiva
alta na bolsa no dia seguinte a descoberta.”

“Notícia ou informações que podem fazer as cotações da empresa flutuar


fortemente são raras e na maioria das vezes são divulgadas com a bolsa
fechada, o que fará que no leilão de abertura no dia seguinte, essa notícia
seja incorporada pelo mercado, fazendo que as cotações da empresa já na
abertura tenham forte valorização ou desvalorização, conforme o tipo de
notícia vinculada sobre a empresa. Esse movimento nos chamamos de GAP.
Pode acontecer dessas notícias por algum motivo saírem com o pregão em
andamento, mas nós dificilmente as aproveitaríamos. As notícias
disponibilizadas nos sites gratuitos têm quinze minutos de atraso em
relação aos sites especializados pagos, além disso, teríamos que estar
prestando atenção às notícias naquele momento, e acima de tudo, teríamos
que compreender os impactos que a notícia terá, e em que empresa e
setor.”

“Esses acompanhamentos são mais importantes para quem opera na bolsa


visando o curto prazo e nesse caso não posso ajudar vocês, pois as
ferramentas e os estudos são diferentes para quem opera no curto prazo,
do que para quem opera no longo prazo. Para quem opera no curto prazo,
há estudos gráficos, de tendências, etc. que muitas vezes nada ou pouco
tem a ver com a saúde financeira ou operacional da empresa. Para quem
opera no longo prazo o que importa é ficar posicionado nas empresas que
tenham um bom lucro e forte geração de caixa que suportem seus
investimentos, proporcionem dividendos aos seus acionistas e que se
mantenham competitivas no decorrer do tempo.”

Adolfo comentou;
_ Legal, Guto, é como você ter empresas nas quais não necessita trabalhar
ou administrá-las. Se tivermos a competência de nos posicionarmos nesse
tipo de empresas que você comentou, será outra forma de adquirirmos
renda passiva. Agora, fiquei com uma dúvida o que é webcast?

Guto respondeu

_ Webcast são apresentações que a empresa faz via telefone ou internet


sobre seus resultados, ou sobre algum fato relevante, que a diretoria acha
pertinente explicá-la aos seus acionistas e ao mercado em geral. Vamos
falar sobre isso amanhã. Você analisou bem Adolfo, uma posição em ações
de uma boa empresa geram uma renda passiva, que se aliará a renda dos
imóveis, fundos imobiliários, etc., de nossas carteiras de investimento.

“Amanhã começaremos a falar das empresas especificamente, vamos voltar


à piscina, Adolfo e o Jaime para a churrasqueira - brincou Guto.”

Eles voltaram para junto de suas famílias e passaram o resto do dia se


divertindo e quando a noite caiu, retornaram as suas casas para
descansarem, já que o domingo teria mais churrasco, piscina e muita
conversa sobre investimentos.

No domingo pela manhã eles voltaram à casa de Guto e logo depois do


almoço os amigos voltaram a conversar sobre investimentos em renda
variável. Dessa vez eles preferiram se abrigar embaixo do guarda-sol à
beira da piscina.

_ Vamos começar nossa análise pela administração das empresas, ela tem
que ser honesta e competente, e acima de tudo, deve ter seus interesses
alinhados aos acionistas minoritários. -Começou a explicação Guto.

_ Acionistas minoritários? - Perguntou Adolfo.

Guto respondeu:

_ Assim são chamados aqueles investidores que não tem participação


relevante na empresa, e que não participam das decisões da mesma.
_ E se a empresa quebrar, Guto? Podemos ser processados ou teremos que
ajudar a pagar as dívidas da empresa? – perguntou Jaime.

_ Se a empresa quebrar, o acionista minoritário perderá pelo menos grande


parte do dinheiro que investiu na empresa, mas não será processado ou
terá que cobrir algum passivo da empresa.

“Para evitar o máximo possível comprar ou manter empresas que estejam


passando por dificuldades, devemos analisá-las em vários aspectos, sendo o
primeiro a sua administração, e o comprometimento da empresa com o
acionista minoritário.”

“Uma empresa listada na bolsa normalmente vale milhões ou até bilhões de


reais, tem negócios complexos, mas na sua essência são bem parecidas
com as empresas com as quais interagimos no nosso dia a dia. Será que
nós podemos imaginar alguma empresa que conhecemos que foi mal
administrada, para podermos detectar o que estava sendo feito de errado
com ela, e que não queremos que se repita com as empresas que
montaremos posição.”

Adolfo e Jaime gargalharam ao mesmo tempo.

_ A minha empresa lógico, Guto - respondeu Adolfo em meio a risadas.

Guto também sorrindo comentou.

_ Vamos usar sua experiência então, Adolfo. Porque você acha que quase
faliu sua empresa? Necessitando vendê-la.

Adolfo respondeu:

_ Logo de cara, eu acabei com o capital de giro da empresa para comprar a


chácara e, como você sabe, por causa disso, fui obrigado a endividar a
empresa, e comecei a pagar juros que antes não pagava. Hoje vejo que não
tinha controle de compras e vendas, o que me deixava com muita
mercadoria que tinha pouca saída e pouca mercadoria que tinham boas
vendas, em resumo, tinha pouco controle do dia a dia da empresa.

_ Então não seria errado dizermos que devemos buscar uma administração
séria, honesta e competente? – perguntou Guto.

_ E como vamos saber avaliar a administração de uma empresa do


tamanho das que são listadas na bolsa, e na qual não interagimos com seus
administradores? - Quiseram saber Jaime e Adolfo.

Guto respondeu:

_ Nós podemos não interagir com os administradores, mas como vocês


lembraram, eles administram companhias abertas, sendo assim, eles tem
que informar seus resultados, suas realizações, suas aspirações e todas as
informações que eles julguem relevantes ao mercado.

“Assim sendo os diretores divulgam metas de crescimento, endividamento,


margens, etc. Devemos sempre acompanhar para vermos se eles estão pelo
menos cumprindo suas próprias metas.”

“Os bons administradores, procuram investir de forma semelhante a vocês


com seus planos, sem colocar a empresa em risco, caso o investimento não
tenha os resultados planejados. Quando estudarmos uma empresa, e
notarmos que a empresa comprou ou se fundiu com outra, e que o fruto
desse investimento não trouxe um incremento na sua geração de caixa, e
que, além disso, o endividamento aumentou muito, percebemos que na
maioria desses casos essa empresa não será uma boa compra para nossas
carteiras.”

“Antes de vocês perguntarem vamos ver fluxo de caixa, endividamentos,


margens etc. mais para frente.”

_ O que mais temos que prestar atenção para estudarmos as


administrações das empresas? - Guto – quis saber Jaime.

_ O comprometimento com os acionistas minoritários – respondeu Guto -


existem empresas que trabalham para proporcionar lucro para seus
acionistas majoritários e minoritários. O comprometimento em buscar
investimentos lucrativos, sem se endividar em excesso quando o
endividamento é necessário, buscar ferrenhamente o aumento de
produtividade como vamos ver mais adiante, terem um bom canal de
relacionamento com seus acionistas, disponibilizarem balanços e webcasts
com bastante clareza e simplicidade para a compreensão de todos seus
acionistas. Esse tipo de empresa é que procuramos ter em nossas carteiras.

“Por outro lado existem empresas, que buscam crescer sem se atentar que
caso esse investimento não corresponder ao anseio da empresa, além de
não gerar um incremento na sua geração de caixa, que compensasse o
endividamento gerado, ainda colocará a empresa em grande risco,
ocorrendo um aumento expressivo em seu endividamento e possivelmente
a emissões de novas ações, que diluirá seus acionistas, fazendo que o
número de ações da empresa aumente e consequentemente seu lucro por
ação diminua.”

_ Não entendi o que quer dizer diluição? – perguntou Adolfo.

_ Quando uma empresa emite novas ações, no jargão do mercado nós


chamamos de diluição, Adolfo – respondeu Guto. Se uma empresa tem cem
ações e você possui uma ação da mesma, sua posição na empresa é de um
por cento, se a empresa emite cem novas ações, você passa a ter uma ação
de um total de duzentas ações ou meio por cento. Isso causa uma
diminuição de sua posição, ou como chamamos uma diluição. Normalmente
você pode adquirir a mesma porcentagem que você tinha da empresa
quando ela emitiu as novas ações. Nesse caso, você poderia comprar uma
ação da empresa e ficaria com os mesmos um por cento que tinha antes da
emissão de ações, mas teria que colocar mais dinheiro.

“Em alguns casos essas diluições não seriam ruins, por exemplo, se a
empresa estivesse emitindo novas ações que proporcionariam um
investimento que lhe traria um rendimento muito superior a diluição
incorrida. Do contrário, essa diluição será prejudicial ao acionista, e não é
este tipo de empresa que procuramos para colocarmos em nossas
carteiras.”

“Como saberemos se a emissão de ações foi vantajosa ou não ao acionista


minoritário? Simples, vemos a evolução do lucro líquido e do lucro por ação.
Se o aumento do lucro líquido proporcionar um aumento em porcentagem
maior do lucro por ação do que a emissão de ações, ela foi vantajosa para o
investidor, do contrário não foi. Se não ocorrer um aumento no lucro líquido
depois da emissão de ações, essa diluição deverá ser bem nociva ao
investimento do acionista na empresa, enquanto essa situação perdurar.”

“As empresas que procuramos para compor nossas carteiras, além de não
fazerem emissões de ações, salvo nos casos que elas tenham um destino
lucrativo para esse dinheiro, recompram suas ações quando acharem
vantajoso para a empresa, principalmente quando o mercado está em
baixa.”

Adolfo perguntou:

_ Qual a vantagem da empresa recomprar suas ações, Guto?

_ Funciona opostamente as emissões de novas ações. Quando a empresa


recompra suas ações e as mantém na tesouraria ou cancelam essas ações,
o número de ações da empresa em circulação diminui o que acarretará um
acréscimo do lucro por ação e dos dividendos que a empresa paga a cada
acionista – Guto respondeu.

_ Aonde podemos ver se a empresa está emitindo ou recomprando ações,


Guto? Perguntou Jaime.

_ Vocês podem ver no site da Bovespa na seção das empresas listadas, e


também nos sites das empresas na seção de relações com investidores ou
RI, como usualmente a chamamos. Podemos cadastrar nosso e-mail no RI
de cada empresa que gostaríamos de acompanhar, e recebermos esses
informativos e fatos relevantes no nosso e-mail.

“Antes de montar posição em alguma empresa, ainda na fase do estudo,


devemos fazer uma lista de perguntas e dúvidas que possamos ter, e
mandar para o RI da empresa. Assim vemos se a empresa responde a
nossas perguntas, e se a resposta veio de maneira rápida e clara. Quando
não obtivermos resposta ou não a considerarmos satisfatória, será um fato
negativo da empresa e levaremos em conta na hora de decidirmos se
compramos ações dela ou não.”

Adolfo perguntou:

_ Porque essas respostas são importantes, Guto?

_ Além de sempre precisarmos tirar dúvidas com a empresa, muitas vezes


vamos ver notícias, dicas, opiniões sobre as empresas que temos posições.
A grande maioria das vezes os fatos reais da empresa serão diferentes do
que foi nos passado por essas notícias e, sendo assim, perguntamos no RI
da empresa o que de fato é realidade ou não e, desse modo vamos saber o
que fazer baseados em dados reais – respondeu Guto.

“Por tudo isso que é importante o investidor usar o RI das empresas, mas
nós somente vamos poder fazer uso do mesmo se ele responder nossas
perguntas, e de forma que entendamos o que está sendo respondido, e em
um tempo hábil. Quando montamos posição numa empresa com RI ruim,
nosso estudo sempre fica prejudicado.”

Como já estava ficando tarde eles voltaram para junto de suas famílias e
desfrutaram o resto do domingo. Ficou decidido que no próximo domingo
almoçariam na casa de Adolfo e continuariam à conversa sobre renda
variável.
CAPÍTULO OITO

RENDA VARIÁVEL - SEGUNDA PARTE

Guto e sua família chegaram à casa de Adolfo na hora do almoço e depois


de cumprimentarem Adolfo e sua família, eles esperaram Jaime chegar com
sua esposa e filhos. Tomaram alguns coquetéis de entrada e se dirigiram à
sala para almoçarem. Logo depois do almoço os amigos foram para o jardim
da casa, se acomodaram em um banco colocado embaixo de uma árvore e
voltaram a conversar sobre o mercado de ações.

_ Vamos voltar a sua empresa, Adolfo – disse Guto - você tinha controle de
quanto sua loja tinha de lucro e quais as margens do seu negócio?

Adolfo respondeu:

_ Eu tinha o controle do lucro de algumas coisas outras não, margens eu


não sei bem o que você quer dizer.

_ E endividamento, Adolfo? Pelo que sabemos você não tinha controle


nenhum, certo? Continuou a perguntar Guto.

_ Verdade, Guto – comentou Adolfo – perdi o controle do endividamento de


minha loja, e a situação rapidamente saiu do controle, acarretando que eu
tivesse que vender a loja, do contrário ela não sobreviveria.
_ Vamos falar sobre endividamento, e também sobre as margens, líquida,
Ebitda e bruta, que em conjunto formam o demonstrativo de resultados de
uma empresa – Guto comentou.

“A primeira parte do demonstrativo de resultados ou DRE de uma empresa


é formada pelo lucro bruto, para o obtermos pegamos a receita líquida da
empresa e diminuímos o CPV ou o custo dos produtos vendidos. Muitos
investidores gostam quando o CPV diminui. Nós pensamos um pouco
diferente, mesmo sabendo que algumas empresas conseguem diminuir o
CPV através de sinergias, investimentos, etc. e quando for esse o caso, a
empresa vai ganhar ponto positivo em nosso estudo naturalmente, mas
sabemos também que esse ganho normalmente ocorre somente em um
determinado período de tempo. O que realmente procuramos são as
empresas que aumentaram sua receita líquida em uma porcentagem maior
que seu CPV, tendo assim um ganho de produtividade, pois entendemos
que para a empresa crescer no longo prazo, ela vai vender mais produtos
ou prestará mais serviços, sendo assim, é natural que seus custos de
produção ou serviços também aumentem. O que queremos é que esse
custo suba menos que a receita, ou pelo menos mantenha os mesmos
patamares anteriores.”

“Para obtermos a margem bruta da empresa dividimos o lucro bruto pela


receita líquida.”

_ Interessante e lógico, Guto - comentou Jaime – a empresa crescendo é


natural que seus custos também subam. Se eu estivesse lendo esse
demonstrativo, não me atentaria a esse pormenor, e possivelmente acharia
ruim o crescimento de seus custos. O que devemos observar então é o
ganho de produtividade, e a manutenção ou melhora da margem bruta da
empresa.

_ Isso mesmo, Jaime – respondeu Guto.

“Depois de analisarmos o lucro bruto, continuamos a analisar o


demonstrativo de resultado, sendo que o próximo estudo será do lucro
Ebitda ou operacional. Para obtermos o lucro Ebitda pegamos o lucro bruto
e diminuímos as despesas VGA ou despesas com vendas, gerais e
administrativas.”

“O nosso estudo em relação ao lucro operacional é o mesmo em relação ao


lucro bruto, sabemos que podem existir situações que a empresa consiga
diminuir suas despesas VGA como vimos anteriormente, mas normalmente
as empresas que tem um crescimento sadio e rentável, precisam contratar
mais funcionários, aumentar seus gastos com vendas, propaganda, etc.
Consequentemente na maioria dos casos buscamos o aumento ou pelo
menos a estabilidade de suas margens operacionais, gerado por uma boa
produtividade da empresa.”
“Para obtermos a margem Ebitda dividimos o lucro operacional pela receita
líquida, como o próprio nome já explica esse lucro é o que a empresa obtém
com seu modelo de negócio, ou seja, com o dia a dia da empresa.”

_ Somente para ver se entendi, Guto – comentou Adolfo – o lucro


operacional é o que a empresa obtém com a fabricação e a comercialização
de seus produtos, incorridos suas despesas de produção, pessoal e de
vendas?

Guto respondeu:

_ Correto, Adolfo, o lucro Ebitda, também representa a geração de caixa


operacional da empresa.

“Agora passaremos para o lucro líquido, que é o que sobra para a empresa
depois de descontarmos do lucro operacional os impostos, depreciações e
amortizações e somarmos ou diminuirmos o resultado financeiro.”

“Com o lucro operacional a empresa paga seus impostos, são computadas


as despesas com depreciações e amortizações que diminuem o lucro
líquido, mas como não tem efeito caixa, essa despesa é revertida nas
demonstrações de fluxo de caixa” – Jaime o interrompeu.

_ Não entendi, Guto, como que não tem efeito caixa se é uma despesa?

Guto continuou a explicação:

_ Porque o desembolso já foi feito anteriormente, Jaime, a empresa já tinha


desembolsado o valor correspondente pelo investimento, em dinheiro ou
através de financiamento, quando esse investimento foi feito, só que pelas
regras contábeis ela deve lançar essa despesa através de períodos. Esses
períodos são estipulados pela legislação brasileira, como por exemplo, cinco
anos para veículos, vinte e cinco anos para imóveis, dez anos para
máquinas, etc.

“Então essa baixa contábil reduz o lucro líquido, mas depois como vamos
ver quando estudarmos as demonstrações de fluxo de caixa, a depreciação
e amortização são revertidas e junto com o lucro líquido e outras rubricas,
formam o caixa gerado pelas atividades operacionais no fluxo de caixa da
empresa. Isso faz com que às vezes a empresa possa ter muito mais
geração de caixa do que seu lucro líquido sugeria e ocorre porque o
demonstrativo de resultados é contabilizado pelo regime de competência e
o fluxo de caixa pelo regime de caixa.”

“O regime de competência considera os recebimentos das receitas ou


pagamentos das despesas em um determinado período, mesmo que esse
valor não tenha efetivamente entrado ou saído do caixa da empresa. Por
exemplo, uma compra feita no mês de junho com pagamento em outubro, a
despesa constará no mês de junho, mas seu pagamento somente será feito
em outubro. O período reportado pela empresa pode ser trimestral ou
anual.”

“O regime de caixa considera as receitas e despesas no momento do seu


recebimento ou pagamento independentemente do momento em que foram
feitas.”

Adolfo comentou:

_ Acho que entendi; a empresa compra um imóvel, máquina ou veículo e


faz o pagamento, mas o valor pago vai ser computado como despesa
periodicamente, conforme a lei brasileira determina.

Guto respondeu:

_ Perfeito, Adolfo, é assim mesmo.

“Quanto aos impostos não tem muito que falarmos. Somente, deveremos
ficar atentos se eles estão sendo pagos.”

“O que realmente deveremos prestar atenção é o resultado financeiro da


empresa. Muitas empresas até tem um bom lucro operacional, mas como
tem um alto endividamento, elas deixam grande parte desse lucro, em
pagamentos de juros sobre sua dívida.”

“Existem algumas companhias que conseguem ter lucros consistentes


mesmo tendo uma dívida alta. Normalmente são companhias que se
endividaram para comprar ou ampliar seus negócios, e mesmo tendo seus
lucros reduzidos pelo resultado financeiro, se os seus negócios tiverem forte
e constante geração de caixa, esse fato possibilita o pagamento de suas
dívidas sem maiores problemas se o caixa dessas empresas não for afetado
por problemas não previstos quando os investimentos foram feitos.
Algumas empresas elétricas e de concessões de rodovias tem esse perfil.
Revisão tarifária é um exemplo de imprevistos que podem afetar a geração
de caixa da empresa. Antes das autoridades divulgarem os termos das
renovações, dificilmente poderemos prever suas implicações para a
empresa, por isso, devemos sempre acompanhar essas revisões.”

_ Então existem empresas que se endividam para comprar ativos e se esses


investimentos forem feitos com equilíbrio entre a geração de caixa e o
pagamento das dívidas, esse endividamento pode ser considerado saudável
para a empresa? - Perguntou Adolfo.

_ Isso é chamado de investimento com capitais de terceiros – respondeu


Guto - é uma forma de a empresa alavancar seus investimentos, o que
muitas vezes, não seria possível somente com o capital próprio. Se esse
investimento for bem feito, irá gerar crescimento operacional, e um
incremento no lucro da empresa. Mas pela minha experiência são poucas
empresas que conseguem usar o capital de terceiros eficientemente, então
se escolhermos uma com esse perfil, o estudo e acompanhamento devem
ser bem profundos, e o controle de risco deve ser muito bem definido.

_ Controle de risco, o que é isso, Guto? – perguntou Jaime.

_ Vamos falar sobre o controle de risco, mais para frente, Jaime –


respondeu Guto.

“Voltemos a falar sobre as demonstrações de resultado. Como já


comentamos, existem empresas que tem sucesso em utilizar capital de
terceiros em suas operações. Existem também empresas que pelo seu
modelo de negócio ou pela sua estratégia de investimentos, utilizam pouco
capital de terceiros, isso quando o fazem. Se a empresa conseguir manter
os investimentos que necessita, sem precisar utilizar capital de terceiros,
pode ter uma vantagem competitiva, o que fará que tenha pouca ou
nenhuma dívida corporativa, e consequentemente pagará poucos juros,
podendo até receber mais juros do que paga, deixando seu resultado
financeiro positivo. Essas são as empresas que mais gostamos de manter
em nossa carteira de ações.”

“Se dividirmos o lucro líquido pela receita líquida obtemos a margem líquida
e como vimos nas outras margens, também queremos que a empresa
aumente sua margem líquida ou pelo menos a mantenha estável se ela já
for expressiva.”

_ Legal, Guto, deu para entender o conceito do que devemos procurar nas
empresas que investimos – comentou Jaime.

_ Verdade, Jaime, mas para conseguirmos colocar esses conceitos em


prática, leva tempo e dedicação. Nós ficamos mais eficientes conforme
nossos estudos avançam e adquirimos experiência, por isso, principalmente
no começo, devemos investir pouco dinheiro, e nunca, prestem bem
atenção a isso, nunca ultrapassem seus controles de riscos. Depois veremos
esse tópico mais para frente como combinado.

_ Acho que deu para entender perfeitamente o estudo sobre DRE, Guto,
mas será que você poderia dar um exemplo prático? – perguntou Adolfo.

_ Claro, Adolfo. Deixe-me procurar no meu celular um DRE que demonstre


um ganho de produtividade que buscamos nas empresas que estudamos.
Usaremos o DRE da Grendene. Vocês devem compreender que esse
exemplo é atual, não quer dizer que vai se repetir no futuro. Por isso,
acompanhamos no futuro se a empresa continua boa ou não.

Guto procurou o DRE da Grendene na página da empresa na internet, e


assim que achou mostrou a ambos o demonstrativo na tela de seu celular.
Os dois amigos visualizaram a tela, enquanto Guto explicava-a para ambos.
_ Como vocês podem ver o CPV aumentou em 17%, as despesas
operacionais ou VGA aumentaram em 15,3%. Como a receita líquida da
empresa aumentou 22,8%, a empresa teve aumento de produtividade,
fazendo que todas suas margens subissem e o lucro líquido aumentasse
24,7%. Esse ganho de produtividade possibilitou a diluição de seus custos
fixos em relação a receita líquida proporcionando um aumento do seu lucro
líquido maior do que a receita líquida aumentou, mesmo se considerarmos
que o resultado financeiro diminuiu no período.

Tanto Adolfo, como Jaime comentaram que tinham compreendido


perfeitamente. Jaime quis saber o que veriam a seguir.

_ Falaremos sobre endividamento. Iremos usar nossas vidas particulares


como exemplo, para podermos fazer uma analogia prática, e deixarmos
nosso estudo mais fácil de ser compreendido.

“Basicamente existem dois modos pelos quais pagamos nossas contas,


vocês sabem quais são?”

_ Consigo pensar somente em um modo, Guto, usamos nosso salário ou


retiradas para pagar as nossas contas – comentou Jaime.

_ Correto, Jaime – respondeu Guto – e quando não conseguimos pagar


nossas contas com nosso salário por algum motivo, e se não quisermos
ficar devendo dinheiro, teremos que vender algum bem para quitarmos
nossa dívida, concordam?

_ Verdade, Guto, eu mesmo tive que vender minha empresa e minha


chácara como você sabe – respondeu Adolfo. Mas as empresas não podem
rolar suas dívidas?

_ Podem, e muitas o fazem – respondeu Guto - mas elas não estarão


pagando suas dívidas desse modo, e sim as refinanciando. Muitos
investidores gostam de investir em empresas que usam intensivamente
capital de terceiros. Eles dizem que dívida não se paga, dívida se
administra. Como investimos visando o longo prazo, nós não
compartilhamos dessa visão e preferimos as empresas que tem suas dívidas
equilibradas. Não que não possa ter boas oportunidades em empresas que
se refinanciam, pode, mas são poucas empresas nessa situação que se
tornariam um bom investimento de longo prazo.

_ Nas empresas que procuramos montar nossas posições em ações,


devemos observar a relação do endividamento da mesma. Normalmente
dividimos o endividamento líquido da empresa pela sua geração de caixa,
medida pelo Ebitda, para analisarmos quanto tempo do seu lucro
operacional a empresa precisa para saldar suas dívidas.

_ Endividamento líquido, Guto? Não entendi – quis saber Adolfo.

_ É o endividamento total da empresa subtraindo as suas disponibilidades


em dinheiro. Se esse valor for negativo representa que a empresa tem
caixa liquido positivo, ou seja, tem mais dinheiro do que dívidas, respondeu
Guto.

“Preferimos as empresas que tem pouco endividamento em relação ao seu


lucro operacional, gostamos das empresas que tem essa relação de
endividamento menor do que um. Entre uma e duas vezes às vezes
podemos achar uma boa empresa para investir. Não gostamos dessa
relação acima de duas vezes, salvo alguma empresa que esteja investindo
agressivamente, e na qual achamos que esse investimento vai gerar um
aumento expressivo em seu lucro operacional, que vai conseguir diminuir
seu endividamento posteriormente – Guto continuou a explicação.”

“O endividamento excessivo se torna extremamente perigoso, justamente


no momento em que a empresa fica mais vulnerável, ou seja, nas grandes
crises, quando os bancos diminuem o montante de seus empréstimos, ficam
mais rigorosos. Nessa época os lucros das empresas normalmente se
retraem, fazendo com que suas cotações tenham expressiva redução,
causando grandes prejuízos ao investidor. A empresa pode também passar
por dificuldades momentâneas ou não, e se ela apresentar endividamento
excessivo nessa situação, possivelmente será penalizada pelo mercado.
“Devemos prestar atenção também, ao equilíbrio entre o que a empresa
tem para receber e o que ela tem para pagar. Para estudarmos essa relação
de curto prazo, obtemos no balanço patrimonial da empresa o Ativo
Circulante, e dividimos pelo Passivo Circulante, obtendo assim a razão da
liquidez Corrente da empresa, que é a capacidade da mesma de fazer os
pagamentos de suas dívidas dentro do prazo de um ano. Como no Ativo
Circulante entram os valores dos estoques das empresas, temos que tomar
cuidado em analisarmos se realmente a empresa tem condições de vender
esse estoque no prazo de um ano, e aos preços lançados no balanço.
Estoques ultrapassados e superavaliados, não são difíceis de encontrar nos
balanços de algumas empresas. Um barril de petróleo não fica ultrapassado
e seu valor é cotado internacionalmente, mas um software ou uma coleção
de roupas podem ficar ultrapassados, e terem seus valores de mercado
bastante reduzidos. Caso não tenhamos certeza que o estoque possa ser
vendido rapidamente, e aos valores lançados pela empresa no seu balanço
patrimonial, devemos desconsiderar os estoques quando formos calcular a
liquidez corrente, sendo que a razão encontrada se chama liquidez Seca,
que é a Liquidez Corrente sem que sejam levados em conta os estoques da
empresa.”

“Índices de Liquidez Corrente ou Seca em um patamar menor que um, em


geral não são confortáveis para a empresa. Indicadores maiores que um,
indicam que a empresa apresenta boa capacidade de pagamento de suas
dívidas de curto prazo. Como todos os outros indicadores, existem algumas
exceções, como as empresas que tem forte geração de caixa, e a
previsibilidade desse recebimento como companhias elétricas ou de
saneamento. Algumas dessas empresas se sentem confortáveis com sua
geração de caixa e no seu recebimento previsível, assim sendo, distribuem
quase todo esse caixa para seus acionistas na forma de dividendos,
diminuindo seu caixa e consequentemente impactando nos resultados de
seus índices de endividamento. Mas nem por isso a empresa vai ter
dificuldades no pagamento de suas dívidas, desde que não exagere na
distribuição de seu caixa, nem venha a ter problemas com sua geração de
caixa por algum motivo, o que pode ocorrer as vezes com uma ou outra
empresa. Por isso, devemos acompanhar de perto o equilíbrio entre a
geração do caixa da empresa, sua distribuição aos acionistas, e o
pagamento de suas dívidas.”

“Para analisarmos a capacidade de pagamento da empresa no longo prazo,


calculamos a Liquidez Geral da empresa, somando o Ativo Circulante ao
Ativo Realizável de Longo Prazo e dividimos pelo Passivo Circulante somado
ao Passível Exigível de Longo Prazo. A análise da Liquidez Geral é similar ao
da Liquidez Corrente ou Seca. Indicadores menores que Um na maioria dos
casos, não são confortáveis para a empresa, e indicadores maiores que Um,
mostram geralmente uma boa capacidade da empresa de cumprir com seu
endividamento.”
“Devemos levar em consideração quando formos calcular a Liquidez Geral
de uma empresa que o Ativo Imobilizado não entra na conta. Sendo assim,
devemos levar esse fato em consideração e analisar se a empresa
conseguiu equilibrar seu endividamento em relação aos seus ativos de
liquidez, para que ela não necessite vender seu patrimônio. Como vimos
anteriormente, poderia ter que fazer isso em um momento desfavorável a
empresa.”

“Quando percebemos que o índice de Liquidez Corrente ou Geral de uma


empresa não está em um nível que consideramos confortável, essa é uma
excelente situação para usarmos o RI da empresa, perguntado o motivo
dessa baixa capacidade de pagamento. Se a empresa responder de um
modo pouco convincente, que demonstre que ela realmente não conseguiu
gerar caixa com os seus investimentos suficientemente para pagar seu
endividamento, esse é um tipo de empresa que dificilmente vai fazer
sentido para nossa carteira de investimento.”

Guto continuou a explicação:

_ Vocês perceberam que suas vidas melhoraram conforme foram


equilibrando suas receitas com suas despesas, e poupando uma parte de
seus ganhos para investir. Realizando esses investimentos sabiamente,
vocês aumentaram suas rendas, conseguindo assim, aumentar seus
investimentos, melhorando seus orçamentos domésticos.

Jaime e Adolfo concordaram com a cabeça, e Guto continuou seu


comentário:

_ O que acontece com as empresas é bem similar a nossa vida pessoal. As


companhias que são bem administradas têm um bom produto ou serviço
para vender, conseguem manter boas margens de lucro e investem seus
lucros sabiamente, dificilmente vão precisar se endividar em excesso.
Mesmo que precisem fazer um investimento expressivo em seu modelo de
negócio, consequentemente aumentando seu endividamento vão tentar
equilibrar o pagamento dessa dívida, com a geração de caixa que esse
investimento vai lhe proporcionar. Sempre fiquem atentos ao equilíbrio
entre dívida e geração de caixa. Um percentual relativamente grande de
empresas não consegue atingir esse equilíbrio, o que faz com que não
sejam um bom investimento de longo prazo.

“Por último devemos prestar atenção na dívida da empresa em relação ao


seu patrimônio. Se a empresa não conseguir pagar seu endividamento com
sua geração de caixa, ela vai rolar a dívida ou usar seu patrimônio para
pagá-la. Quando estudamos uma empresa em que isso ocorre, analisamos
para vermos se é recorrente na empresa, se a rolagem da dívida vai
aumentar expressivamente sua relação de endividamento sobre seu lucro
operacional. Na maioria das vezes não queremos empresas que tenham alto
endividamento em relação ao seu patrimônio, salvo empresas que como
vimos anteriormente fazem seu investimento principal através de
endividamento, e depois usam a geração de caixa para pagá-la, como
algumas concessionárias, elétricas, etc. Nesse caso devemos analisar o
equilíbrio entre endividamento e a geração de caixa, porque não são todas
que fazem esse investimento sabiamente.”

“No caso de empresas que precisarem usar seu patrimônio líquido para
melhorar sua estrutura de capital, devemos prestar atenção no fato que os
ativos da empresa nem sempre valerão os valores aos quais estão lançados
no balanço patrimonial. Eles podem estar subavaliados ou mesmo
supervalorizados por motivos mercadológicos ou mesmo pelo momento que
a empresa ou setor atravessa. Pela nossa experiência na maioria das vezes
nas quais a empresa precisa desinvestir, pelo motivo de estarem passando
dificuldades financeiras e/ou operacionais, dificilmente os compradores irão
prefixar adequadamente seus ativos à venda.”

“Por ultimo nesses casos, devemos levar em consideração que um


desinvestimento feito pela empresa, pode afetar sua geração de caixa, pois
a empresa possivelmente diminuirá seu tamanho operacional.”

“De um modo geral, não gostamos de empresas que precisem vender


patrimônio para equilibrar seus caixas. Existem empresas que vendem
algum patrimônio, porque o mesmo deixou de ser interessante para o
modelo de negócio da empresa, sem que o reforço do caixa da empresa
tenha sido a razão principal para esse desinvestimento. Nesse caso,
analisamos a empresa para ver se esse fato foi isolado, ou, se é fato
recorrente a empresa investir e depois perceber que não devia o ter feito.”

Adolfo comentou:

_ Pelo modo que você comentou Guto, o acompanhamento do


endividamento das empresas é importante para o investidor.

_ Uma grande parcela de investidores é pega de surpresa justamente


porque o acompanhamento que fazem sobre as empresas nas quais eles
investem é falho. Não somente sobre endividamento, mas sobre a empresa
como um todo, por isso, que comentamos a importância da empresa que
investimos ter um bom RI, e que nós procuremos usar esse canal de
comunicação, sempre quando tivermos alguma dúvida sobre a empresa.

Os três amigos conversaram mais um pouco e encerraram a reunião,


combinando de se encontrarem no próximo final de semana, para Guto
continuar a falar sobre análises de empresas, dessa vez o encontro será na
casa de Jaime, que fará seu famoso estrogonofe no almoço.
CAPÍTULO NOVE

RENDA VARIÁVEL - TERCEIRA PARTE

No domingo seguinte os três amigos e suas famílias almoçaram na casa de


Jaime, depois de repetir por duas vezes o estrogonofe, Guto se deu por
satisfeito, se serviu da sobremesa e esperou todos terminarem de comer.
Logo depois do almoço os três amigos se reuniram na sala da casa,
enquanto suas mulheres e filhos foram ao shopping Center passear.

Depois que se acomodaram Guto comentou:

_ Hoje vamos começar falando sobre alguns indicadores fundamentalistas,


que devemos prestar atenção quando formos estudarmos sobre a saúde
financeira das empresas. Começaremos nosso estudo pelo preço sobre o
lucro ou P/L.

_ Nós já conhecemos o P/L por alto, Guto – respondeu Adolfo -, estudamos


sobre esse assunto e outros indicadores fundamentalistas, no site do seu
amigo Bastter e em livros também.

_ Ótimo – disse Guto -, assim fica mais fácil de explicar para vocês.
Obtemos o P/L de uma empresa dividindo o preço por ação pelo lucro por
ação da mesma. O resultado são os anos que serão necessários naquele
momento para termos o capital investido de volta, se o lucro da empresa
fosse distribuído aos seus acionistas.

“Teoricamente quanto menor for o P/L melhor. E esse indicador é um dos


preferidos dos investidores que estudam empresas, sobre a ótica
fundamentalista. Muitos compram empresas com uma baixa relação P/L, e
não conseguem entender porque a empresa se tornou um mau
investimento. Outros usam o indicador para analisar empresas de um
mesmo setor, investindo na empresa com menor P/L, para depois ver a
empresa que tinha a maior relação P/L continuar a subir, enquanto sua ação
de baixo P/L não vai a lugar nenhum a não ser para baixo. Isso ocorre
basicamente por dois motivos, o primeiro é que um estudo superficial,
somente de um indicador, sem compreendê-lo plenamente, dificilmente se
tornará um estudo consistente, para determinar qual empresa será um bom
investimento ou não. O segundo motivo é simples, o mercado não é tolo. As
melhores empresas normalmente são bem prefixadas, dificilmente o
investidor irá comprar empresas que apresentam uma forte geração de
caixa, endividamento controlado, boas margens e taxas de crescimento, a
preços convidativos. Do mesmo modo, a maioria das empresas vendidas a
P/Ls baixos, sem que o mercado esteja passando por graves crises, tem sua
razão de ser. Como podemos ver se empresas que tem alto P/L ainda
poderão ser boas aquisições ou empresas com baixo P/Ls poderiam estar
mal prefixadas pelo mercado?”

“Peter Lynch em seu livro “O Jeito Peter Lynch de Investir”, nos deu uma
pista quando disse que prefere empresas que tenham a taxa de crescimento
de seu lucro maior que seu P/L, desde que esse P/L não esteja em níveis
insustentáveis, aos quais muitas empresas são vendidas, principalmente
nas fases derradeiras de um mercado altista prolongado, muitas vezes,
podendo atingir P/Ls maiores que 100 anos ou mais.”

“Segundo Lynch uma empresa com P/L de 20 e uma taxa de crescimento


sustentável de vinte por cento, normalmente se transforma em uma melhor
compra, do que uma empresa com P/L de 10 e uma taxa de crescimento
sustentável de dez por cento.”

_ Esse fato de cruzar o P/L com a taxa de crescimento nós não tínhamos
visto, Guto – comentou Jaime.

_ Isso ocorre muito Jaime – Guto continuou a explicação - os investidores


não analisam os indicadores, eles pegam esses números normalmente em
sites específicos, e investem baseados nesses números sem analisá-los caso
a caso. Também devemos estudar os indicadores em conjunto. Se o estudo
for superficial, a chance de errarmos quando formos investir aumenta
expressivamente, não somente em renda variável, bem como nos outros
tipos de investimentos.

“Ainda sobre o P/L devemos analisar porque uma empresa está com o P/L
alto ou baixo. Porque o mercado está premiando uma empresa pagando um
alto P/L por suas ações, ou ao contrário, porque o mercado está pagando
um P/L baixo pela empresa. Normalmente uma empresa que esteja sendo
vendida com alto P/L, ocorre quando o mercado considera que a mesma
terá um futuro promissor, com possíveis lucros crescentes. Outras
empresas são vendidas com um P/L baixo, porque ou o lucro da empresa
está caindo, ou o mercado prevê uma queda nos lucros da empresa.”

“Devemos tomar cuidado e acompanhar de perto empresas que estão sendo


vendidas com P/L alto, e nas quais temos posições ou à intenção de montar
posição nas mesmas, porque nem sempre o mercado acerta em suas
perspectivas, e quando as perspectivas do mercado não se concretizam, as
quedas nas cotações dessas empresas podem ser expressivas. Por outro
lado o mercado também pode errar quando vende empresas com um baixo
P/L, grandes partes dessas empresas realmente não merecem serem
vendidas com uma razão P/L maior, mas no meio dessas empresas, podem
existir algumas empresas que estejam sendo punidas injustamente pelo
mercado, podendo ser por causa de uma crise que não a afetará
gravemente como algumas outras empresas do mercado ou do seu setor
específico, etc.”

“As empresas que tem forte geração de caixa, uma boa administração, bons
indicadores fundamentalistas, de endividamento, etc. dificilmente verão
suas ações serem vendidas com um baixo P/L, a não ser em épocas de
graves crises, como vimos anteriormente. O investidor de longo prazo pode
pagar um preço justo por suas ações sem maiores problemas, se a empresa
mantiver sua excelência ao longo do tempo.”

_ Pelo que entendi Guto, devemos analisar o P/L das empresas caso a caso?
– perguntou Adolfo.

_ Isso mesmo, Adolfo – respondeu Guto - e depois, analisar os outros


indicadores em conjunto. As empresas podem ter um ou outro indicador
bom, mas o que procuramos são aquelas que tenham o conjunto desses
indicadores atrativos, além de uma boa governança, um bom RI, um
endividamento equilibrado, etc.

“Vamos analisar agora o preço sobre o valor patrimonial por ação ou


P/VPA.”

_ Já conheço esse indicador – disse Jaime - já li alguma coisa sobre o


assunto. Se o indicador for menor que um, a empresa está sendo vendida
por um preço menor que seu patrimônio, se for acima de um ela está sendo
vendida por um valor acima do seu patrimônio.

Guto respondeu:

_ Na teoria você está certo, Jaime. Mas na prática quase nunca o valor
patrimonial lançado no balanço, representa o real valor patrimonial da
empresa. Isso ocorre porque nos balanços das empresas existem ativos que
por estarem totalmente depreciados não apresentam valor contábil
representativo, mas muitas vezes ainda são operacionais, como uma
fábrica, por exemplo. Existem empresas com estoques que por estarem
ultrapassados, só vão ser comercializados por uma fração do preço aos
quais foram lançados contabilmente. Podem ocorrer ainda ativos lançados
por um valor no qual a empresa não conseguiria vendê-los. Pode haver
ainda terrenos e fábricas lançados pelos preços aos quais foram adquiridos,
etc.

“Pela minha experiência pude notar que quanto mais à empresa ou setor
estiver dentro de seu balanço patrimonial representado por valores
monetários, mais confiável esse indicador estará. Nesse caso o setor
bancário é o mais preciso e os setores com grandes depreciações, grandes
ativos imobilizados, etc. não terão esse indicador tão preciso.”

_ Nossa, Guto, então não é só procurar uma empresa que esteja sendo
vendida abaixo do seu valor patrimonial e comprá-la? – Adolfo quis saber.

_ Se fosse fácil assim – sorriu Guto. Esse indicador é parecido com o P/L.
Na maioria das vezes existem razões para que uma empresa esteja sendo
negociada a um valor menor do que seu valor patrimonial: estoques
obsoletos, instalações sucateadas, etc. Procuramos notar se essas razões
são passageiras ou se a empresa está conseguindo reverte-las.

“Por outro lado existem empresas negociadas a uma alta razão P/VPA e por
esse motivo são consideradas uma compra cara por muitos investidores,
mas quando analisadas mais profundamente, podem se mostrar uma boa
aquisição para nossas carteiras especialmente se apresentarem outros
indicadores fundamentalistas em num bom nível. Isto pode ocorrer, por
exemplo, porque muitas vezes dentro do balanço patrimonial, não estão
corretamente lançadas pelo seu valor real às marcas das empresas. Muitas
delas possuem valores de mercado superiores as suas instalações como a
Coca Cola, por exemplo.”

“Existem empresas também que não precisam de muitos investimentos em


seus ativos imobilizados para operar, não necessitam de grandes fábricas,
grandes estruturas comerciais, etc., fazendo que seu patrimônio seja
pequeno, o que normalmente deixará esse tipo de empresa sendo vendida
com uma alta razão P/VPA, mas nem por isso algumas delas não podem se
tornar uma boa aquisição para nossas carteiras. Muitas vezes essas
empresas justamente por necessitarem baixa intensidade de capital, se
tornam investimentos muitos superiores do que outras que investem
pesadamente no seu modelo de negócio.”

“Ainda temos aquelas empresas que fizeram um grande investimento inicial,


e depois esse investimento foi sendo depreciado através do tempo,
deixando suas instalações quase totalmente depreciadas contabilmente,
mas ainda operacionais consequentemente gerando lucro para a empresa, o
que pode deixar a empresa com uma alta razão P/VPA e ainda assim ser um
bom investimento, principalmente se essa empresa não for uma
concessionária, na qual sua concessão esteja perto do término, e você não
tiver certeza que o processo de renovação da concessão vai ser vantajoso
para a empresa.”

_ Então para analisarmos o P/VPA, Guto, devemos usar o mesmo conceito


pelo qual analisamos o P/L, caso a caso? – Perguntou Jaime.

_ Isso mesmo, Jaime, analisamos os indicadores fundamentalistas caso a


caso, e depois analisamo-los em conjunto. Vamos ver agora os dividendos
que as empresas pagam aos seus acionistas – respondeu Guto.

Adolfo comentou:

_ Legal, Guto. Eu e Jaime já estamos acostumados com os rendimentos de


nossos fundos imobiliários. Todo mês os recebemos e reaplicamos esses
rendimentos junto com nossos aportes. Os dividendos pagos pelas
empresas são parecidos com os rendimentos dos fundos imobiliários?

_ A grande diferença entre dividendos e rendimentos de fundos imobiliários,


é que os rendimentos vêm através dos aluguéis recebidos, salvo nos fundos
que investem em outros fundos e instrumentos financeiros, como vimos
anteriormente. Os dividendos são calculados e pagos através dos lucros das
empresas, sendo assim, devemos prestar mais atenção nesse fato, do que
simplesmente no montante pago pelas empresas na forma de dividendos –
respondeu Guto.

_ Como assim? Não entendi aonde você quer chegar Guto – perguntou
Jaime.

_ A maioria dos investidores quando vão estudar uma empresa para


investirem, levam em consideração o montante pago pelas empresas na
forma de dividendos, mas não prestam atenção no lucro desta empresa e
na sua geração de caixa. Para a empresa ser constantemente uma boa
pagadora de dividendos, ela deve ser também uma boa geradora de lucro e
caixa.

“Se vocês somente levarem em consideração o montante que está sendo


pago atualmente, ou em um curto período de tempo passado, muitas vezes
vocês não notarão que muitas empresas só estão conseguindo pagar um
bom dividendo momentaneamente, porque não estão investindo nos seus
negócios, o montante que a empresa realmente necessita, privilegiando o
ganho de curto prazo, o que normalmente afetará o lucro e a geração de
caixa da empresa, consequentemente diminuindo no futuro os dividendos
pagos aos acionistas. Outras vezes a empresa pode pagar um bom
dividendo porque vendeu um imóvel, uma empresa controlada, etc. e
decidiu devolver esse montante aos acionistas na forma de dividendos, ao
invés de investir na própria empresa. Como essa distribuição veio através
de um evento não recorrente, não vai se repetir no futuro, e distorce
momentaneamente a maior, o montante que a empresa normalmente paga
aos seus acionistas. Isso pode levar o investidor ao erro, nas escolhas das
empresas para compor sua carteira de investimentos.”

“O grande benefício que os dividendos proporcionam a uma carteira de


investimentos, é a sua reaplicação através do tempo em mais ações, o que
possibilita sua carteira crescer e você consequentemente receberá cada vez
mais dividendos, e assim sucessivamente na razão de juros compostos. Isso
só é alcançado se você mantiver na sua carteira, empresas que tenham
bons lucros e forte geração de caixa, possibilitando o recebimento de bons
dividendos constantemente.”

_ Entendi, nós devemos focar no processo e não no resultado final, ou seja,


estudamos para vermos de onde virá o dinheiro, e a sua constância, e não
somente no dinheiro que recebemos – comentou Adolfo.

_ Isso mesmo, Adolfo – respondeu Guto - e ainda tomem cuidado para não
cometerem um erro muito comum que alguns investidores fazem, quando
se trata de dividendos.

Jaime perguntou:

_ Qual é esse erro, Guto?

_ Muitos investidores não se atentam, que o valor que a empresa paga em


dividendos aos seus acionistas é retirada do preço da ação. Por exemplo, se
uma empresa está sendo cotada a dez reais e divulga um pagamento de um
real de dividendos, seu preço passa a ser cotado por nove reais, o que não
possibilita um ganho imediato ao acionista, fazendo que sua atratividade
fique como comentamos anteriormente, na reaplicação dos dividendos, o
que proporciona ao investidor no longo prazo uma maior posição em ações
e consequentemente um maior rendimento passivo.

“Por não se atentarem ao fato que o valor dos dividendos é retirado do


preço da ação, muitos investidores compram a ação para receber esses
dividendos, o que na maioria das vezes não trará nenhum resultado prático,
acarretando somente ao investidor um aumento em seus gastos com
corretagens.”

_ Obrigado por avisar-nos sobre esse fato Guto – disse Adolfo - você já nos
deu bastante material para continuarmos nosso estudo sobre os dividendos.
Fiquei com uma dúvida, esses pagamentos de dividendos são parecidos com
os rendimentos dos fundos imobiliários que eu e Jaime recebemos
mensalmente?

_ Separando o fato que os fundos imobiliários recebem aluguéis ou


rendimentos das aplicações, e os dividendos são pagos normalmente
baseados nos lucros e na geração de caixa das empresas, salvo algumas
exceções, são semelhantes sim. Os dividendos e recebimentos são
rendimentos passivos, que tanto o fundo imobiliário como as empresas
pagam aos seus cotistas ou acionistas. Sempre levem em consideração que
a maioria das empresas reinveste a maior parte do lucro, e é esse
reinvestimento, se for feito sabiamente pela empresa, que vai proporcionar
a continuidade do pagamento de bons dividendos ao longo do tempo.

“Uma diferença entre rendimentos de fundos e dividendos das empresas, é


que a maioria dos rendimentos é pago mensalmente, enquanto poucas
empresas fazem o pagamento de dividendos mensalmente, podendo esses
pagamentos ser feitos trimestralmente, semestralmente ou anualmente.
Cada empresa escolhe a periodicidade desse pagamento.”

“As empresas podem pagar a parte dos seus lucros que cabem a seus
acionistas, através de dividendos. Nesse caso ele é isento de imposto de
renda, pois a empresa já foi tributada quando foi feita a aferição de seu
lucro líquido, ou ela pode fazer essa distribuição através de juros sobre o
capital próprio ou JCP que, como é contabilizado pela empresa como
despesa, o investidor deve pagar o imposto de renda, que normalmente já
vem descontado, quando do recebimento do JCP pelo investidor.”

_ Porque a empresa não distribui somente dividendos que são isentos,


Guto? – perguntou Jaime.

_ A empresa decide o modo desse pagamento, conforme ela achar que é


mais atraente para ela naquele momento, além do mais há um limite na
legislação do quanto pode ser distribuído na forma de JCP anualmente.

“Para termos uma idéia do rendimento que obtemos através dos dividendos
ou JCP da nossa posição em ações numa determinada empresa, dividimos o
valor pago anualmente em dividendos ou JCP pela empresa pelo valor da
ação. Por exemplo, se recebemos um real de dividendos ou JCP durante o
ano e a ação está sendo vendida por vinte reais, dividimos um por vinte e
obtemos 0,05 ou cinco por cento. Esse rendimento chamamos de dividendo
Yeld ou simplesmente de DY.”

Conversaram um pouco mais sobre dividendos e Guto passou a explicar


sobre o retorno sobre o patrimônio líquido ou ROE.

_ O ROE mede o retorno que a empresa está tendo sobre seu patrimônio
líquido. Obtemos o ROE dividindo o lucro líquido pelo patrimônio líquido da
empresa. Teoricamente quanto maior o ROE melhor, mas como vimos
anteriormente quando estudamos outros indicadores fundamentalistas,
temos que estudar os indicadores caso a caso, pois as empresas são
diferentes entre si, e o estudo sobre o patrimônio líquido da empresa e seu
retorno não é diferente.
“Antes de analisarmos o ROE da empresa, analisamos o patrimônio líquido
da mesma. Procuramos notar se a empresa é uma daquelas que não
precisam ter muito ativos imobilizados, como fábricas, instalações, etc.
Essas empresas podem ter ROEs muito expressivos, às vezes, acima de
cem por cento. Não tiraremos os méritos de algumas dessas empresas, por
terem ROE alto com baixo patrimônio líquido, mas devemos ter ciência
desse fato. Muitas dessas empresas justamente por não precisarem investir
pesadamente, podem se tornarem boas compras como vimos
anteriormente. Por isso, sempre analisaremos as empresas caso a caso.”

“O que devemos notar em relação ao ROE é o tamanho do ativo em relação


ao passivo no patrimônio líquido. As vezes podemos analisar uma empresa
com alto ROE e por esse motivo gostarmos da empresa, mas não notarmos
que a empresa tem um passivo alto dentro do seu patrimônio líquido, o que
pode deixar a empresa não tão atraente como o ROE inicialmente sugeria.

“Vou dar um exemplo em que vocês notarão como um índice isolado pode
enganar um investidor, ainda mais se esse índice não fizer parte de um
estudo maior, que contemple outros indicadores fundamentalistas,
governança, endividamento, etc.”.

Guto começou a montar um quadro numa folha de papel e mostrou a


ambos.

EMPRESA A EMPRESA B

ATIVO TOTAL 1 BILHÃO ATIVO TOTAL 1 BILHÂO

PASSIVO TOTAL 100 MILHÕES PASSIVO TOTAL 800 MILHÕES

PATRIMÔNIO LÍQUIDO 900 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 200


MILHÕES MILHÕES

LUCRO LÍQUIDO 270 MILHOES LUCRO LÍQUIDO 60 MILHÔES

ROE 30% ROE 30%

Em seguida Guto comentou:


_ Podemos notar que tanto a empresa A como a empresa B tem o mesmo
ativo e o mesmo ROE, mas a empresa A consegue esse ROE de 30% numa
base de patrimônio líquido de 90% do seu ativo, enquanto a empresa B
consegue esse mesmo ROE numa base de 20% do seu ativo, demonstrando
que a empresa A é superior a empresa B. Esse fato ocorre porque a
empresa A tem menos passivo gerando despesas em seus resultados, o que
acaba acarretando que a empresa A gera um lucro muito maior que a
empresa B.

_ Ouvindo sua explicação, a necessidade de analisarmos os indicadores


fundamentalistas separadamente e depois em conjunto fica muito claro,
Guto – comentou Adolfo.

_ É muito importante mesmo, Adolfo. Sempre faça um estudo adequado


das empresas que você pensa em investir, não tenha pressa e não pule
etapas. Hoje vamos terminar a nossa conversa falando sobre controle de
riscos, todos os investidores devem desenvolver os seus controles,
principalmente quem investe em renda variável – respondeu Guto.

_ Conte-nos mais, Guto – pediu Jaime.

_ Lembram quando comentamos que por mais atraente que a compra de


um imóvel ou negócio parecesse à primeira vista, nós somente deveríamos
efetuar a respectiva compra se achássemos que se o investimento desse
errado, nós não estaríamos expostos a perdas que poderiam colocar em
risco a maior parte de nosso capital? Perguntou Guto.

Adolfo e Jaime concordaram com a cabeça.

_ Pois em renda variável o investidor deve ter um controle de risco que


também não o deixe em uma situação precária, se o investimento feito não
der certo por algum motivo, e podem ter certeza, que às vezes vamos errar
em nossas escolhas. Tendo essa consciência, nunca devemos nos expor em
demasia em uma posição em renda variável. Como vamos fazer isso?
Simplesmente não tendo posições elevadas em uma só empresa.

“Primeiramente analisamos quanto da nossa carteira de investimentos


queremos aplicar em renda variável. Podemos, por exemplo, deixar metade
em imóveis e negócios próprios, vinte por cento em renda fixa ou similar,
quinze por cento em ações e quinze por cento em fundos imobiliários. Esse
é somente um exemplo, cada investidor deve equilibrar sua carteira
baseado em seu perfil de investidor, e suas aspirações. Essa divisão de
nossa carteira já funciona como um primeiro controle de risco, se ela for
feita sabiamente, equilibrando os ativos da carteira em um percentual que
sua perda, não incorra em graves prejuízos para o investidor.”

“Na parte que investimos em renda variável, também não deixamos que um
investimento em uma empresa fosse feito com um percentual muito grande
de nossa carteira de ações. Devemos estipular um valor que achamos
adequado pelo nosso perfil, para investirmos em cada empresa. Se quinze
por cento de nossa carteira for o máximo que queremos ficar expostos
numa empresa, então devemos dividir nossa carteira de ações em no
mínimo sete empresas, por exemplo.”

“Normalmente, o equilíbrio entre nossas compras em ações em relação ao


nosso perfil de investidor, feito por nosso controle de risco, proporciona o
investidor a operar mais tranquilamente, o que pode fazer que mesmo com
uma posição menor de ações numa empresa, ele venha a ter um lucro
maior do que outro investidor que comprou uma posição maior na mesma.
Isso ocorre, justamente porque esse equilíbrio proporciona tranqüilidade ao
investidor, consequentemente ele vai conseguir operar melhor sua posição
em ações.”

“Bem está ficando tarde, vamos deixar a última parte do nosso estudo em
renda variável para semana que vem. Vamos marcar uma caminhada para
sábado de manhã e no caminho vamos conversando sobre os assuntos que
ainda faltam comentarmos.”
CAPÍTULO DEZ

RENDA VARIÁVEL – QUARTA PARTE

No sábado pela manhã os três amigos se encontraram no parque da cidade,


e começaram a caminhar pela trilha arborizada. Depois de colocarem o
papo em dia, Guto retomou a conversa sobre renda variável interrompida
no final da semana passada.

_ Vamos começar nosso estudo pelo balanço patrimonial das empresas. O


balanço patrimonial é dividido entre ativo e passivo, sendo que o patrimônio
líquido da empresa é o que sobra quando diminuímos o ativo total pelo
passivo total da empresa.

“Como vimos anteriormente quando estudamos o endividamento das


empresas, devemos analisar se a empresa tem uma posição maior no ativo
circulante do que no passivo circulante, para suportar seu endividamento de
curto prazo, e também analisamos se o ativo circulante somado ao ativo
realizável de longo prazo são maiores do que ela possui de obrigações no
passivo circulante somado ao passivo exigível de longo prazo, suportando
assim suas obrigações de longo prazo. Levamos em consideração no nosso
estudo também, as exceções que podem ocorrer em alguns casos, como
vimos anteriormente.”

“Como também analisamos anteriormente, quando estudamos o ROE das


empresas, quando vamos estudar o balanço patrimonial, vemos a
quantidade de ativos que a empresa possui em relação ao seu passivo.
Empresas que tem alto passivo dentro do seu balanço patrimonial, na
maioria dos casos tem despesas relevantes no resultado financeiro, além de
poder a vir ter problemas com seu endividamento, principalmente nas crises
do setor em que atua ou do mercado em geral.”

“Por fim, analisamos o ativo imobilizado da empresa. Se esse ativo


representar uma grande parte do ativo total da empresa, saberemos que a
empresa deve necessitar fazer grandes investimentos recorrentes no seu
ativo imobilizado, o que pode consumir grande parte do caixa da empresa.
Nesse caso devemos ficar atentos especialmente as margens conseguidas
pela empresa. Uma empresa que necessite grandes investimentos, e que
tenha margens pequenas, na maioria dos casos não é o tipo de empresa
que buscamos, salvo as empresas que fizeram esses investimentos em um
período, e que tenham conseguido uma boa geração de caixa com esses
investimentos, como vimos anteriormente.”

“Empresas que necessitam fazer grande investimento no seu imobilizado


recorrentemente, às vezes seduzem o investidor pelo seu tamanho, lucro
nominal, expectativa de crescimento, etc., mas justamente por precisar
usar sua geração de caixa e muitas vezes capital de terceiros também em
seus investimentos, elas podem não se tornar um bom investimento de
longo prazo. Devemos analisar essas empresas friamente do mesmo modo
que analisamos as outras empresas menores, sem levar em conta eventuais
conceitos preestabelecidos sobre a empresa.”

“Quando estudarmos os demonstrativos de fluxo de caixa, veremos também


se a empresa está conseguindo gerar caixa para pagar pelos seus
investimentos, ou se ela necessita usar capital de terceiros além do seu
caixa, para suprir esses investimentos. Nesse caso também pode haver
exceções de empresas, que como vimos anteriormente, fazem seu
investimento principal no começo de suas atividades, ou se em algum
período a empresa precisou fazer um grande investimento, mas que não
será recorrente, nos próximos exercícios.”

Adolfo comentou:

_ Entendi perfeitamente o que você quis dizer sobre balanço patrimonial,


Guto. Mas ficou um pouco confuso a questão do fluxo de caixa, e o
cruzamento entre balanço patrimonial e o fluxo de caixa, já que ainda não
estudamos o assunto.

_ Por isso vamos estudar as demonstrações de fluxo de caixa agora, Adolfo.


Para completarmos nosso estudo – respondeu Guto.

“Dentro do balanço da empresa, seja trimestral ou anual, existe o


demonstrativo de fluxo de caixa, o que vai nos dar a posição do caixa da
empresa durante o período estudado. Esse demonstrativo é dividido em três
partes: atividades operacionais, atividades de investimento e atividades de
financiamento.”
“Na primeira parte do demonstrativo de fluxo de caixa, ou seja, nas
atividades operacionais a empresa lista seus recebimentos e pagamentos
operacionais. É nessa parte dos demonstrativos de fluxo de caixa, que é
somado ao lucro líquido da empresa as depreciações e amortizações,
resultando que às vezes a empresa pode ter uma geração de caixa mais
representativa, do que a simples análise do lucro líquido sugeria. Isso pode
ocorrer em empresas que tiveram que investir mais expressivamente
durante um período de tempo, e depois tem em sua geração de caixa o
montante necessário para pagar esse investimento e remunerar
adequadamente seus acionistas. Essa é uma empresa que buscamos para
compor nosso portfólio, sendo necessário depois, vigiar a empresa para
vermos se ela por algum motivo não perde sua atraente geração de caixa.”

_ Você pode dar um exemplo, Guto? Perguntou Adolfo.

Guto pegou seu celular, achou os demonstrativos de fluxo de caixa da Cetip


e mostrou a Jaime e Adolfo.
Guto comentou:

Podemos ver que a empresa investiu fortemente na aquisição da GRV e


conseqüentemente fez uma emissão de debêntures como podemos ver nas
atividades de financiamento, se endividando no processo. Para analisarmos
se esse investimento fez sentido para a empresa marcamos a geração de
caixa nas atividades operacionais que foi de 190 milhões no ano de 2010.
Por ultimo analisamos a evolução do endividamento da empresa.

Guto procurou o DFC da empresa do ano de 2012 para comparar.

Guto comentou a ambos:

_ Podemos notar que o investimento feito pela empresa teve o efeito de


aumentar sua geração de caixa operacional passando de 190 milhões em
2010, para 628 milhões em 2012. Notamos também que a empresa
começou a depreciar seu investimento com 66 milhões em 2012, o que
impacta seu lucro líquido, mas não sua geração de caixa, como estudamos
anteriormente, dando o benefício da empresa pagar menos impostos.

Guto quis mostrar para seus amigos, como ficou o endividamento da


empresa e procurou no balanço da empresa o gráfico equivalente.
Guto explicou a eles:

_ Como a empresa conseguiu aumentar sua geração de caixa devido ao


investimento feito, a empresa conseguiu diminuir seu saldo de debêntures a
pagar de 900 Milhões para 672 Milhões no prazo de dois anos e meios.
Vemos ainda que a empresa pagou as notas promissórias que foram
assumidas pela empresa, quando da compra da GRV no valor de 555
Milhões. O resultado é o que esperamos de uma empresa que investe
sabiamente como podemos notar nos dois gráficos abaixo. A dívida líquida
diminuiu e a relação dívida líquida/Ebitda também caiu, fruto do poder de
geração de caixa que a empresa apresenta no momento. Lembro a vocês
que a empresa pode piorar no futuro, por isso devemos sempre
acompanhar a empresa no futuro, sendo esse somente um exemplo do que
buscar em empresas que investiram se endividando, para buscar um
aumento na sua geração de caixa.

“É importante percebermos, que o demonstrativo de fluxo de caixa da


empresa, representa a posição real do caixa da empresa. O lucro
operacional ou o lucro líquido da empresa como vimos anteriormente são
contabilizados pelo regime de competência, sendo assim, parte desse
montante pode não ter sido efetivamente recebido pela empresa quando o
demonstrativo de resultado foi elaborado. É justamente o caixa recebido
que a empresa usará para investir, pagar seus financiamentos, dividendos,
etc.”.

Podemos acompanhar essa situação pelo DFC da Grendene, comentou Guto,


já procurando o respectivo DFC no celular para mostrar a Adolfo e Jaime.
Guto mostrou para ambos:

_ Vejam como a empresa partiu de um lucro líquido de 429 Milhões no DFC


de 2012 e teve uma geração de caixa total operacional de 193 Milhões, esse
fato ocorreu porque uma parte de seu lucro Líquido não foi performado
como caixa e sim como contas a receber e estoques. Como vimos
anteriormente, nesses casos estudamos para ver se a empresa conseguiu
equilibrar seus investimentos, endividamento com sua geração de caixa
real, e, se a empresa tem sua inadimplência controlada, para conseguir
traduzir seus recebíveis em caixa no futuro. Ele procurou o próximo DFC da
empresa e mostrou aos seus amigos.
Adolfo se antecipou a Guto e comentou:

_ Já comecei a pegar o espírito do estudo, Guto. Como a inadimplência da


empresa está controlada, ela recebeu uma parte de seus recebíveis,
fazendo que a geração de caixa da empresa medida pelas atividades
operacionais fosse de 374 milhões no semestre, mesmo partindo de um
lucro líquido de 168 milhões.

_ Correto, Adolfo. – comentou Guto – por isso, que precisamos acompanhar


o estudo do regime de competência e de caixa, pois nem sempre o que a
empresa apurou em seu resultado no período estudado, realmente se
transformou ou se transformará em caixa. Por outro lado, às vezes uma
empresa tem um resultado melhor em sua geração de caixa, do que seu
lucro líquido sugeria. Por esses motivos o estudo deve ser o mais completo
possível.

“Passaremos agora a analisar a segunda parte do demonstrativo de fluxo de


caixa, ou seja, as atividades de investimento para vermos quanto do que a
empresa gerou no caixa líquido das atividades operacionais está sendo
investindo. Veremos se a empresa está buscando o equilíbrio entre seu
caixa e seus investimentos ou se ela está necessitando usar capitais de
terceiros para investir. Esses investimentos devem fazer sentido para a
empresa, aumentando sua geração de caixa e suas margens. Se a empresa
necessitar investir mais do que sua geração de caixa permite, esse
investimento deve trazer um retorno que além de possibilitar o pagamento
dos empréstimos, que serão necessários a empresa incorrer, para suprir os
investimentos feitos, proporcione um ganho em suas margens e na sua
geração de caixa. Do contrário seria melhor não fazer o investimento, pelo
menos não em um montante superior ao que sua geração de caixa
permite.”

“O caixa líquido gerado pelas atividades operacionais, menos o que a


empresa investiu nas atividades de investimentos, formam o fluxo de caixa
livre da empresa ou FCL. O FCL mostra se o que a empresa gerou de caixa,
foi suficiente para pagar pelos seus investimentos. Devemos retirar do total
das atividades de investimentos, investimentos feitos em aplicações
financeiras, o que somente muda o caixa de lugar nas demonstrações
financeiras, mas não é um gasto que a empresa teve em seu ativo
imobilizado, intangível, etc.”

_ Vou procurar dois exemplos para vocês acompanharem.

Guto explicou:

_ Podemos ver pela DFC da AmBev que ela gerou caixa suficiente nas suas
atividades operacionais para fazer frente aos seus investimentos, mesmo
que esses investimentos não tenham sido pequenos. A empresa demonstra
assim que está em uma situação atual de FCL positivo, ou seja, ela está
tendo crescimento orgânico. Isso ocorre com empresas que tenham boa
geração de caixa e/ou estejam num patamar em seus negócios maturados e
equilibrados. Logo em seguida ele mostrou o DFC da Petrobras.
Jaime analisando o DFC comentou com Guto:

_ Esse demonstrativo é mais fácil de analisar, Guto. O FCL já vem


demonstrado no balanço. Vejo que o FCL da Petrobras está negativo, esse
fato é ruim para as empresas? É melhor termos empresas que tenham FCL
positivo? Quis saber Jaime.

_ Cada caso é um caso, Jaime. – respondeu Guto – aliás, como todo o


estudo deve ser. Vão existir empresas boas nos dois casos, as que têm FCL
positivo e dão um bom retorno aos seus acionistas, mesmo quando não se
alavancam, usando capital de terceiros. E as empresas que têm FCL
negativo e conseguem com esses investimentos, aumentar sua geração de
caixa, trazendo valor aos seus acionistas, como vimos anteriormente no
caso da Cetip. Se a Petrobras vai ter ou não sucesso com seus
investimentos nos quais ela usa sua geração de caixa em conjunto com
capital de terceiros, vai depender se ela vai ter sucesso ou não, em
aumentar sua geração de caixa para pagar o endividamento incorrido no
período de investimento. O importante é saber em qual estágio a empresa
está e fazer o acompanhamento devido.

“A terceira parte das demonstrações de fluxo de caixa são as atividades de


financiamento, que mostram se a empresa necessitou captar capital de
terceiros ou não, e se sua geração de caixa foi suficiente para pagar seus
financiamentos e dividendos.”

“Quando vamos analisar o fluxo de caixa de uma empresa, procuramos ver


como ela está se saindo nas três partes das demonstrações de fluxo de
caixa e depois em conjunto, cruzando o resultado com outros dados
fundamentalistas também. Existem empresas, que como vimos
anteriormente fizeram seus investimentos principais durante um período de
tempo. Se ela não necessitar mais fazer investimentos de grande porte
durante algum tempo, e se seu investimento foi bem feito pela direção da
empresa, equilibrando seu caixa com o endividamento incorrido quando o
investimento foi realizado, o estudo do demonstrativo do fluxo de caixa,
possivelmente nos mostraria uma empresa que gerará no seu caixa líquido
das atividades operacionais, valor suficiente para pagar pelos seus
investimentos, que ela ainda precise incorrer. Deverá sobrar ainda caixa
para pagar seu endividamento, e ainda distribuir dividendos aos seus
acionistas. Nesse caso daríamos uma olhada nas margens da empresa para
vermos se ela não está perdendo competividade ou produtividade, pela falta
ou diminuição de investimentos, o que uma queda acentuada e prolongada
em suas margens nos mostraria.”

“Existem empresas que necessitam investir nos seus negócios, então


veríamos se a geração de caixa operacional foi suficiente para realizar esses
investimentos, e se ainda sobraria caixa para pagar seus financiamentos, e
ainda distribuir dividendos aos sócios. Essa empresa estaria tendo
crescimento orgânico, ou seja, seu crescimento é bancado pelo próprio
caixa. Nessa mesma linha se a empresa precisa investir, mas sua geração
de caixa não é suficiente para a realização do investimento necessário, a
empresa vai precisar emitir dívida corporativa. Nesse caso, a empresa está
usando capital de terceiros para investir. Ela em tese só deveria usar capital
de terceiros para crescer, se esse processo gerasse um ganho em suas
margens e na sua geração de caixa que suportasse esse endividamento no
futuro, então olhamos a divisão de sua dívida líquida pelo Ebitda. Assim que
passar o tempo de maturação dos investimentos, essa relação deve
começar a diminuir se o investimento foi bem feito pela empresa. Por isso,
é importante usarmos o RI da empresa para sabermos o tempo de
maturação dos projetos, e quando a empresa espera que os novos lucros
gerados pelos investimentos feitos comecem a reduzir seu endividamento.
Depois de coletarmos esses dados com a empresa, passamos a acompanhar
se ela está conseguindo os resultados propostos. A alternativa para a
empresa investir sem usar capital de terceiros, mesmo quando sua geração
de caixa não é suficiente para bancar seus investimentos, é emitir novas
ações, mas o nosso estudo é o mesmo nos dois casos. Estudaremos se essa
diluição foi compensada por bons investimentos, que geraram valor aos
acionistas da empresa, compensando a nova emissão de ações.”

_ Deu para perceber, que as empresas vão ter diferentes momentos em


seus fluxos de caixa, Guto, deu para entender porque devemos analisá-las
caso a caso – comentou Adolfo.

Guto respondeu:
_ Certo, Adolfo, eu dei alguns exemplos de análise do fluxo de caixa de
empresas, mas ocorrem muitas outras maneiras nas quais as empresas
estejam usando seu caixa, e somente uma análise caso a caso, nos
mostrará se a empresa está equilibrada entre sua geração de caixa, seus
investimentos, seus financiamentos e o futuro da empresa.

“Há empresas que pelo estudo atual da sua geração de caixa já mostram
ser um bom investimento, mas se o mercado não estiver passando por
alguma crise mais profunda, dificilmente acharíamos suas ações num bom
preço de compra, o que não será um empecilho para o investidor de longo
prazo, se a empresa continuar com seu bom modelo operacional e sua
geração de caixa no futuro. Por outro lado, existem empresas que precisam
investir organicamente ou usando capital de terceiros, para buscarem uma
maior geração de caixa no futuro. Se esse investimento for bem feito pela
empresa, ela pode ter uma alta expressiva no seu modelo operacional e na
sua geração de caixa, fazendo que a posição do investidor em ações tenha
um bom retorno em dividendos, e uma valorização na sua posição de ações.
Mas para que isso ocorra, esses investimentos devem ter sido bem feitos
pela empresa, e como vimos anteriormente, para podermos acompanhar o
processo de investimento da empresa, o obtemos no RI da mesma e
acompanhamos o processo para vermos se ele vai gerar o resultado
previsto ou não.”

Jaime comentou:

_ Pelo que pude analisar, as demonstrações de fluxo de caixa são muito


importantes para sabermos se a empresa está equilibrada entre sua
geração de caixa, seus investimentos e seus financiamentos. E quando essa
relação estiver desequilibrada por algum investimento ou pouca geração de
caixa, a análise feita sobre o demonstrativo de fluxo de caixa vai nos
mostrar esse desequilíbrio e, se por algum motivo, ainda estivermos
interessados na empresa, fazemos um estudo do motivo desse
desequilíbrio. Depois do estudo feito, vemos se acreditamos que a empresa
vai conseguir saná-lo, sempre usando o RI quando acharmos necessário.

_ Correto, Jaime, não devemos somente olhar o lucro líquido da empresa


como a maioria das pessoas o fazem, porque como ele é feito sobre o
regime de competência, pode haver receitas ou despesas computadas no
DRE, que ainda não tiveram seus respectivos desembolsos ou entradas no
caixa. Sem contar que muitas empresas têm depreciações e amortizações
relevantes, o que impacta o lucro líquido, mas não o caixa da empresa, pois
são somente despesas contábeis - comentou Guto.

“O estudo do DRE é importante para vermos como a empresa está


operando seu modelo operacional, e quanto está conseguindo obter de
lucro, mas à análise do caixa da empresa também é fundamental.”
Os amigos pararam para descansar um pouco embaixo de uma árvore, Guto
aproveitou o momento para terminar sua explicação sobre renda variável.

_ Vamos falar um pouco sobre o poder de lucro das empresas e as margens


de segurança resultante desse poder de lucro em relação às aplicações
financeiras tradicionais. Vocês lembram que para calcularmos o P/L da
empresa dividimos o preço da ação pelo lucro da ação, correto?

Jaime e Adolfo concordaram com a cabeça, assim sendo Guto continuou:

_ Para calcularmos o poder de lucro da empresa fazemos a conta inversa,


ou seja, o L/P que nos dará o poder de lucro teórico da empresa naquele
momento, sem esquecermo-nos de retirar dessa conta eventos não
recorrentes que impactaram o lucro. Por exemplo, uma empresa que teve
lucro de um real e está sendo vendida por dez reais, tem um L/P de 0,10 ou
dez por cento. Por esse resultado sabemos qual o rendimento teórico da
empresa, porque em renda variável não tem como o sabermos com
exatidão, e aí definimos se estamos satisfeitos em comprar uma posição em
ações dessa empresa baseados nesse rendimento, sempre levando em
conta também todo o conjunto de indicadores fundamentalistas, a
governança da empresa, seu endividamento, etc.

“Depois comparamos o poder de lucro da empresa, com alguma referência


de nossa preferência, podendo ser, por exemplo, a taxa SELIC ou CDI.
Quando o mercado não estiver passando por alguma crise financeira, vão
existir empresas nas quais suas ações estarão sendo vendidas com
baixíssimo poder de lucro, muitas vezes iguais ou menores do que as
aplicações tradicionais. Isso ocorre normalmente porque o mercado está
prefixando nas cotações da empresa, um futuro promissor para a mesma.
Se também gostarmos da empresa, vamos monitorando-a para vermos se
ela está conseguindo entregar as melhoras que o mercado espera, do
contrário, possivelmente o mercado vai se decepcionar com a empresa, e
esse sentimento vai ser refletido nas cotações. Existem também empresas
que não possuem poder de lucro acima das aplicações financeiras
tradicionais, mas pelo motivo que essas empresas têm pouco lucro e pouca
expectativa do mercado em relação ao seu futuro. Esse tipo de empresa
não nos interessa para compor nossas carteiras.”

“As empresas que tem poder de lucro maiores que as aplicações financeiras
tradicionais, desenvolvem o que Benjamin Graham em seu livro o Investidor
Inteligente, denominou de “Margem de Segurança”. Por exemplo, uma
empresa que tem poder de lucro de vinte por cento, com a taxa SELIC
estipulada em dez por cento. A empresa naquele momento, apresenta uma
margem de segurança de cem por cento, o que protege o investidor em
uma queda dos lucros, até certo ponto.”

_ Como assim até certo ponto, Guto?- quis saber Jaime.


_ Porque às vezes acontecem certos fatos, que mexem com a geração de
caixa de uma empresa, como perdas de concessões, incêndios em
instalações, perdas de contratos importantes, etc. que pode comprometer
instantaneamente a geração de caixa da empresa, e o mercado não vai
esperar até que ocorra a queda em seu lucro, para derrubar as cotações.
Possivelmente esse movimento de queda nas cotações, vai ocorrer muito
antes do lucro da empresa cair, e consequentemente o seu poder de lucro.
Também pode ocorrer que quando compramos uma posição em ações, em
alguma empresa com bom poder de lucro, não notarmos algum problema
mercadológico, que possa influir nos lucros, bem como algum problema
dentro do setor em que a empresa está inserida. A margem de segurança
nesses casos pode ajudar, mas não tem como evitar uma queda nas ações.
Esse movimento baixista, possivelmente será maior nas empresas que
passarem pelos mesmos tipos de dificuldades, mas que não apresentavam
margem de segurança quando da compra de suas ações.

“Os maiores erros que vejo os investidores cometerem quando calculam o


poder de lucro e a margem de segurança de uma empresa, é não retirarem
do seu estudo os eventos não recorrentes, sendo assim, seus estudos ficam
distorcidos por lucros extraordinários que não se repetirão no futuro, e o
investidor alheio a esse fator compra uma posição em uma empresa
baseado num poder de lucro, margem de segurança e outros fatores como
P/L, ROE, etc. que não representam a real situação da empresa.”

“No caso do poder de lucro e a margem de segurança devemos ter em


mente que dificilmente vamos encontrar as melhores empresas com bons
indicadores, o mercado na maior parte do tempo prefixam suas qualidades.
Esse estudo serve mais para analisarmos empresas em recuperação ou/e
cíclicas.”

Adolfo comentou:

_ Puxa, Guto, deu para entender que quando formos estudar as empresas
temos que saber de onde vem o lucro, se tem eventos não recorrentes
impactando o resultado, ver a situação do caixa da empresa, seu
endividamento e seus indicadores fundamentalistas, passando pelo poder
de lucro e margem de segurança, além da governança da empresa. Já vi
que além de dar muito trabalho, vamos gastar um bom tempo para
acompanharmos as empresas que investimos ou queremos investir, não sei
se é o que eu desejo.

_ Isso você que tem que decidir Adolfo - respondeu Guto - você pode ficar
investindo somente nas aplicações financeiras tradicionais e em imóveis,
por exemplo, sem problema algum. Mas se você se decidir em investir no
mercado de ações, você deve ter consciência que vai ter que se dedicar ao
estudo e acompanhamento do mercado. Pode até ter pessoas que entraram
e saíram no momento certo do mercado, com grandes lucros e que não
tinham grande conhecimento, mas não é o que notamos acontecer
usualmente.

Depois que descansaram mais um pouco os amigos retomaram a


caminhada pelo parque. Quando terminaram de percorrer a trilha se
despediram e foram para suas respectivas casas.
CAPÍTULO ONZE

INVESTINDO

Tinham-se passados quase dois anos, desde aquele passeio pelo parque da
cidade. Durante esse período, os amigos continuaram a se encontrar,
trocando experiências, expectativas e realizações.

Logo no começo da semana, Adolfo telefonou para Guto e marcou de


almoçarem juntos naquele dia. Jaime iria encontrá-los no restaurante.
Assim que os amigos se acomodaram na mesa e começaram suas refeições,
Adolfo disse a Guto:

_ Obrigado por ter vindo nos encontrar, Guto. Eu e Jaime fomos analisar
um salão comercial que está à venda numa importante avenida aqui da
cidade, e gostamos muito do imóvel. Conversamos com o proprietário e
chegamos a um valor interessante para comprarmos o imóvel.

_ Mas como o valor é relativamente alto – Jaime continuou a explicação


para Guto - e para concretizarmos essa compra teremos que nos expor a
um endividamento alto, além do que iremos comprometer nosso fluxo de
caixa, exclusivamente para os pagamentos dessa aquisição por um período
de tempo considerável. Como você nos ensinou, se o negócio por algum
motivo não der os resultados esperados, podemos ficar expostos em
demasia e comprometer nossa saúde financeira e nosso relacionamento
familiar.
_ Verdade, Jaime, se o investimento que queremos realizar colocar em risco
nossa saúde financeira, caso o investimento por alguma razão venha a se
mostrar equivocado, não devemos fazê-lo e aguardarmos uma próxima
oportunidade – retorquiu Guto.

_ É o que iríamos fazer, Guto. – Adolfo continuou o comentário - Mas


estávamos muito tristes em deixar passar esse investimento, porque o
consideramos realmente uma ótima aquisição para nossas carteiras de
investimentos, então eu e Jaime começamos a analisar a situação, para
vermos se encontrávamos uma solução para esse impasse.

_ E encontramos – Jaime interrompeu Adolfo - gostaríamos de convidá-lo


Guto para comprar esse salão comercial em sociedade conosco, assim não
precisaríamos nos endividar para realizar essa aquisição.

“Você como nosso sócio nos possibilitaria a compra do imóvel sem nos
expormos a riscos financeiros, que poderiam nos colocar em uma situação
complicada no futuro, se esse investimento não gerasse o retorno previsto.
Mas essa não é a principal razão pela qual o estamos convidando a
participar desse investimento conosco, e sim, como achamos que esse
investimento vai gerar muitos frutos no futuro, queremos retribuir desse
modo, todo o incentivo que você tem nos proporcionado nos últimos anos.”

Guto emocionado, respondeu:

_ Irei avaliar esse investimento que vocês estão me propondo. Se eu o


considerar vantajoso para nós, comprarei o imóvel junto com vocês com o
maior prazer.

“Agora, mudando de assunto, como estão seus investimentos?”

_ Nós estamos indo muito bem, Guto. - comentou Adolfo - Nossa vida
profissional está realmente num bom patamar, sem dúvida fruto do
equilíbrio que conseguimos em nossas vidas. Nossos investimentos estão
gerando uma boa renda passiva e como reinvestimos essa renda, junto com
aportes mensais que economizamos de nossas retiradas, conseguimos
aumentar nosso rendimento passivo todo mês. No começo tivemos que ter
alguma força de vontade para continuarmos focados no nosso plano
financeiro, pois o rendimento passivo gerado era pequeno, e esse fato às
vezes nos desmotivava. Mas seguimos em frente, e depois de termos
quitado nossos empréstimos bancários, e termos conseguido comprar nosso
primeiro imóvel, nosso rendimento passivo começou a ser mais expressivo,
o que nos mostrou que estávamos no caminho certo, e desse modo,
chegamos até ao nosso patamar financeiro atual.

“Nossos imóveis de aluguéis e nossos fundos imobiliários, já exercem uma


forte geração de caixa para nossas carteiras, enquanto nossas aplicações
em renda fixa ficam esperando as oportunidades aparecerem, estamos
aplicando um pouco no mercado de ações também.”

_ E o que estão achando do mercado de ações? – perguntou Guto.

_ Ainda estamos começando a investir em ações, Guto – respondeu Jaime -


mas notamos que esse investimento tanto pode fazer sentido para nossa
carteira de investimento, como pode levar o investidor a grandes perdas,
dependendo de como o investidor opera e como ele avalia as empresas que
compõe sua carteira e principalmente como ele gerencia os riscos de seus
investimentos em renda variável.

_ Isso mesmo, Jaime – respondeu Guto - como vimos anteriormente, o que


vai determinar o rendimento de nossa posição em renda variável é a
qualidade das empresas que fazem parte de nossa carteira de investimento,
aliado ao nosso estudo e acompanhamento dessas empresas, junto com
nosso controle de risco e controle emocional.

Adolfo concordou com Guto:

_ Vimos à importância do estudo e do controle de risco, quando estávamos


escolhendo empresas para compor nossa carteira de ações Guto. Por mais
que analisássemos os pormenores das empresas na maioria das vezes
nossa escolha se mostrava infrutífera. Às vezes algum motivo nos passava
despercebido, mas errávamos principalmente em empresas de setores que
tínhamos pouco conhecimento. Ficávamos também entusiasmados pelos
rendimentos passados, e não percebíamos que estávamos montando uma
posição numa empresa, na qual seus múltiplos já estavam valorizados pelo
mercado. Errávamos bastante nessa questão, porque como você nos tinha
mostrado que, desde que os múltiplos da empresa não estivessem em
patamares muito elevados, não seria errado montar posição em empresas
com múltiplos levemente valorizados, desde que a empresa tivesse forte
geração de caixa e que tivéssemos confiança que a empresa a manteria ao
longo do tempo. Foi somente depois de algum tempo na base do erro e
acerto, que vimos que muitas dessas empresas que achávamos que tinham
forte geração de caixa e assim sendo, poderíamos pagar um preço mais alto
por suas ações, na verdade eram companhias cíclicas, que enquanto a
economia mundial continuava aquecida, apresentavam uma forte geração
de caixa e lucro, mas que quando a economia entra em recessão, a
companhia diminui suas vendas e como vimos quando você nos explicou as
demonstrações de resultado, possivelmente a companhia vai ter queda de
receita e perda de produtividade o que vai impactar sua geração de caixa e
de lucro.

_ Muito bem explicado, Adolfo, temos que tomar cuidado com companhias
cíclicas. Em um mercado prolongado altista, suas receitas e seus lucros
tendem a ser expressivos, e assim seduzem investidores, que montam suas
posições em ações nessas empresas a preços bem elevados, e se não
tiverem conhecimento sobre a empresa e o setor, o investidor dificilmente
notará quando o setor começar passar por uma crise, o que possivelmente
afetará seus lucros e suas cotações. Quando investirmos nesse tipo de
empresas, devemos acompanhar seus balanços e tirarmos todas nossas
dúvidas usando o RI da empresa. Devemos ter cuidado redobrado com
nossa posição se notarmos que o mercado está prefixando suas cotações
expressivamente. De tempos em tempos, uma empresa cíclica passa por
dificuldades e suas cotações passam a cair conforme o faturamento e o
lucro da empresa vão sendo afetados. O investidor alheio a esse fato,
começa a fazer preço médio para baixo de sua posição na empresa, o que
muitas vezes pode, além de trazer prejuízos, levá-lo a concentrar essa
posição de ações, em um percentual muito elevado dentro de sua carteira
de investimento, o que normalmente afetará seu lado emocional, levando-o
a cometer erros, os quais ele não faria se estivesse operando sem essa
pressão, - Guto comentou.

_ Então, Guto, em sua opinião é errado fazer preço médio para baixo, em
nossas posições de ações? – quis saber Jaime.

_ Quando uma empresa na qual você tem posições em ações, enfrenta uma
queda nas suas cotações de uma maneira expressiva, você deve ter em
mente que muitas vezes essa queda é justificada. Nesses casos comprar
mais ações da empresa, para fazer preço médio para baixo não é
inteligente.

“O que devemos fazer é estudar a situação atual da empresa, e baseado


nesse estudo determinar se ela continua sendo um bom investimento. Se o
nosso estudo determinar, que a empresa terá boas chances de continuar a
ser rentável no futuro, aproveitamos a queda das cotações, para
aumentarmos nossa posição na empresa, sempre respeitando nosso
controle de risco. A diminuição do preço médio de nossas compras em uma
determinada posição em ações, nunca deve ser o motivo principal para
fazermos essas aquisições, e sim as perspectivas futuras da empresa.”

_ Legal, Guto, como sempre temos que nos focar no método, não somente
no resultado – comentou Adolfo.

_ Certo, Adolfo, existem empresas que em um determinado momento, suas


cotações atravessarão um período de alta expressiva, salvo algumas
flutuações pontuais. Essas empresas nos forçarão a fazer preço médio para
cima, se continuarmos a comprá-las no futuro. Nesse caso, conforme as
cotações da empresa vão avançando, devemos prestar atenção se os lucros
da empresa estão avançando na mesma proporção, o que deixa a empresa
com uma relação de múltiplos confortável, sempre tomando cuidado e
acompanhando essa evolução. Se a empresa conseguir manter seus
múltiplos mesmo com a valorização de suas ações, enquanto esse fato
perdurar deveremos ficar posicionados na empresa.

“Muitas vezes o mercado prefixa fortemente algumas empresas, mesmo


que seus lucros não estejam acompanhando a alta de suas ações. Isso
ocorre, porque como vimos anteriormente, às vezes, o mercado tem
expectativas extremamente favoráveis em relação ao futuro da empresa.
Devemos tomar cuidado em acompanhar se a empresa não frustra está
expectativa, o que pode fazer o mercado não mais premiar a empresa com
a prefixação favorável que dispunha anteriormente, resultando que a
cotação passará a ser mais realista, com base em seus fundamentos. As
empresas cíclicas são um excelente exemplo, no qual o mercado pode
elevar suas cotações para preços extremamente elevados, bem como, pode
derrubar suas cotações para preços, às vezes, a valores menores do que a
empresa obteria se fosse liquidada.”

Jaime começou a comentar:

_ Ainda estamos começando a investir em ações, mas o que estamos


procurando fazer, na medida do possível, é ficarmos posicionados em
empresas que apresentam forte geração de caixa, que tenham boa
governança, principalmente para com seus acionistas minoritários,
endividamento sob controle e seus fundamentos em um bom nível.

Guto sorriu:

_ Só isso, Jaime? Todos os fatores que você enumerou, são o que os


acionistas de longo prazo buscam, ou pelo menos, deveriam buscar em uma
empresa. Você está coberto de razão, os acionistas que visam o longo
prazo, devem buscar a excelência em uma empresa. Se não a encontrarem
no momento que querem investir, devem colocar seu dinheiro em outra
aplicação, para não comprar ações de uma empresa que não satisfaz seus
critérios. E quando alguma empresa que faz parte de sua carteira de ações,
por alguma razão, deixar de apresentar a excelência pela qual você montou
posição nela, devemos trocar por outra empresa, ou por outro tipo de
aplicação financeira. Tomem cuidado para não repetirem um erro que uma
boa parte dos investidores fazem.

_ Qual é esse erro, Guto? - Adolfo perguntou.

_ Muitos investidores se recusam a sair de uma posição no prejuízo, eles


devem achar que o fazendo, se tornarão investidores ruins ou algo
parecido. O pensamento tem que ser justamente o contrário. Bons
investidores quando percebem que montaram uma má posição em ações
por algum motivo, ou se alguma posição dentro de sua carteira de ações se
tornou ruim, encerram essa posição e mudam para outra posição, seja em
ações ou em outro tipo de investimento. Vocês devem entender, que
quando montarem uma posição em ações de uma empresa, vocês estarão
investindo e justamente por isso, não devem ficar em um investimento que
se tornou ruim. Quando o barco começa a ter problemas, vocês saem junto
com os ratos, e nunca fiquem ao lado do capitão nessa situação.

Depois que acabaram de almoçar, Guto se despediu dos amigos, pois


precisava voltar ao seu escritório. Antes de eles irem embora, combinaram
de irem analisar o imóvel comercial no dia seguinte. Logo pela manhã, eles
vistoriaram o imóvel, e como Guto gostou muito do mesmo e também do
valor a que ele estava sendo vendido, deu sinal verde para os amigos e eles
finalizaram a aquisição.
EPÍLOGO

Quase quinze anos tinham se passado, desde aquela manhã, na qual tinha
acontecido o encontrão entre Guto e Adolfo. Adolfo convidou Guto para
jantarem à noite no restaurante mais chique e caro da cidade.

Os três amigos junto com suas famílias chegaram ao restaurante na hora


marcada, e passaram as próximas horas saboreando o excelente jantar,
bem como, a confraternização entres as famílias, já extremamente
próximas.

Em meio a conversas Guto perguntou a Adolfo e Jaime como estavam seus


negócios:

Adolfo respondeu:

_ Olhando para trás nem acreditamos aonde conseguimos chegar Guto. No


começo de nossos investimentos, conseguíamos aplicar somente uma
pequena parte de nossas retiradas mensais, e assim mesmo com muito
custo. Hoje conseguimos poupar um montante muito maior do que aquele
que poupávamos no início, e mesmo assim, não precisamos mais poupar
nenhuma parte de nossas retiradas e ainda tiramos para nosso gasto
mensal um terço de nossos aluguéis. Ocorreu como você previu há muito
tempo atrás, porque nosso rendimento passivo hoje já é extremamente
representativo, o que nos proporciona um bom montante para investirmos,
além de aumentar o que podemos usufruir mensalmente.

Jaime completou:

_ O que o Adolfo comentou está sendo muito importante para nossas


famílias, mas o que mais me deixa contente é o fato que nossos filhos e
esposas participaram de todo nosso processo de investimento. Isso nos
deixa tranquilos, pois sabemos que caso viermos a faltar no futuro, eles não
somente vão estar protegidos pela nossa carteira de investimentos, bem
como pela renda passiva que essa carteira nos proporciona. Sendo assim,
temos certeza que eles saberão continuar o investimento familiar.

Logo depois eles mudaram a conversa para futebol e as chances do Brasil


na próxima copa do mundo.

Antes da sobremesa Adolfo pediu a palavra:

_ Hoje estamos comemorando a realização de mais uma meta de nosso


plano financeiro. Já atingimos tantas metas, que nem sei mais o número
alcançado. Mas hoje atingimos uma meta especial, que me enche de
orgulho e satisfação. Pela manhã, eu e Jaime compramos de volta, a antiga
loja de meu pai.

Assim que Adolfo terminou de brindar, os três amigos se levantaram e se


abraçaram, chorando copiosamente.

FIM
APÊNDICE

FÓRMULAS FUNDAMENTALISTAS

(1) MARGEM BRUTA

(lucro bruto/receita líquida) x 100

(2) MARGEM EBITDA

(Lucro Ebitda/receita líquida) x 100

(3) MARGEM LÍQUIDA

(Lucro líquido/receita líquida) X 100

(4)P/L

Preço da Ação/Lucro

(5) P/VPA

Preço da Ação/Valor patrimonial por Ação

(6) ROE

Lucro Líquido/Patrimônio líquido

(7) Dividendo Yield

Dividendo por ação/Preço da Ação

(8) LPA – Lucro por Ação


Lucro líquido/Número de Ações

(9) VPA – Valor Patrimonial por Ação

Patrimônio Líquido/Número de Ações

(10) Liquidez Corrente

Ativo Circulante/Passivo Circulante

(11) Liquidez Seca

Ativo Circulante-Estoques/Passivo Circulante

(12) Liquidez Geral

(Ativo Circulante + Ativo Realizável a Longo Prazo/ Passivo Circulante +


Passivo Não Circulante

(13) Dívida Bruta/Patrimônio Líquido

Dívida total/Patrimônio Líquido

(14) Dívida Líquida/Patrimônio Líquido

Dívida total – Disponibilidades/Patrimônio Líquido


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