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Artigo 01

DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação - v.3 n.1 fev/02 ARTIGO 01

Os Novos Paradigmas da Imagem em Movimento: Em Busca de Metalinguagens de


Representação para Bases de Dados Virtuais Visando a Recuperação de Conteúdo
Semântico
Indexation and Retrieval of Moving Images: new paradigms
por Antonio Claudio Brasil Gonçalves

Resumo: O presente artigo é o resumo atualizado do projeto de qualificação apresentado recentemente no


curso de doutorado em Ciência da Informação do convênio CNPq/IBICT/UFRJ/ECO. O tema principal
está relacionado aos estudos e pesquisas sendo desenvolvidos no campo da Indexação e Recuperação de
Imagens em Movimento para Bases de Dados Virtuais. Este tema está relacionado a uma longa
experiência profissional do autor com a produção de vídeos científicos e jornalísticos. O objetivo desses
estudos visa a facilitar o acesso de material audiovisual que está cada vez mais sendo disponibilizado nas
redes telemáticas como a World Wide Web.
Palavras-chave: Imagens em Movimento; Bases de Dados Virtuais; Indexação de Imagens em
Movimento; Recuperação de Imagens em Movimento

Abstract: This paper presents a summary of a interdisciplinary doctoral project of research on the
Indexation and Retrieval of Moving Images in Digital Databases that is being currently developed at the
CNPq/IBICT/UFRJ/ECO program in Information Science. It is the result of a long professional and
academic relationship between the author and a lifetime experience in the production of journalistic and
scientific audiovisual material. The main theme of this research relates to the necessity of studies to
enable a more efficient accesss to fast growing video archives that are being offered in the world wide
web.
Keywords: Moving Images; Digital Databases; Indexation of Moving Images; Retrieval of Moving
Images

“ A palavra e a imagem são duas correlações que se buscam eternamente”


Goethe

INTRODUÇÃO

Criar imagens! Ou, simplesmente, tentar pensar as imagens com palavras e transformá-las em
objeto de pesquisa acadêmica! Uma proposta de busca de uma forma de conhecimento por uma
nova trajetória ! Um caminho a ser trilhado numa paisagem ainda pouco conhecida entre a
primazia racional da palavra e a ilustração sensorial das imagens. Um tema em busca do
desenvolvimento de linguagens específicas para a gestão de um conhecimento comunicacional.
A revolução digital indica uma era de supremacia da informação. Este repertório de informações

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demanda linguagens ainda mais precisas, variadas e criativas.

Da palavra à imagem, descortinam-se horizontes pioneiros para a pesquisa com a adição


constante de recursos tecnológicos em constante evolução que nos lançam em grandes desafios .
Contudo, é da união da palavra com a própria imagem que talvez encontremos uma nova forma
de pensar. Imagem com palavras pode ser simplesmente, uma redescoberta pela ciência dos
meandros de uma verdadeira metalinguagem, uma “ideografia”, representação da representação
que transcenda o terreno cognitivo do conhecimento semântico.

Na literatura específica da área existe várias pesquisas sobre a taxionomia da imagem. Elas
indicam o campo de uma polirepresentação includente de diversas formas de linguagem como
um novo paradigma a ser estudado. Ao invés de um embate entre a palavra ou a imagem, a
busca da imagem com palavras. No entanto, essa conjunção aglutinadora sempre esteve presente
entre nós, porém, restrita e limitada às especificidades literárias da linguagem poética! As
metáforas da poesia e as imagens geradas pela sua criatividade talvez indiquem caminhos para
um linguagem mais completa para a representação da imagem.

Esta reflexão inicial indica as ansiedades inspiradoras que delimitam a escolha do tema para
pesquisa num curso de pós-graduação. Uma reflexão que remete à própria trajetória pessoal,
profissional e acadêmica do pesquisador. No meu caso, o fascínio pela imagem motivou este
trabalho, porque acredito na sua transcendência, na sua capacidade de “disseminar o
conhecimento”, de aprimorar a instrução didática e o desenvolvimento científico e tecnológico.
Por uma imagem que seja mais do que a pura referência estética ou um convite sempre bem-
vindo ao “entretenimento” e ao “lúdico”. Apesar de todas as dificuldades inerentes aos
preconceitos em relação à própria imagem, busca-se discutir as características típicas das
imagens e as razões que impedem uma utilização maior dessas imagens em pesquisas científicas,
principalmente nas ciências sociais. Investigar o porquê do constante retorno aos velhos
preconceitos da iconoclastia histórica. A divulgação das ameaças de uma convivência com uma
“era da imagem” ainda são disseminadas pelas formas tradicionais da linguagem escrita. Numa
era das imagens, a palavra textual ainda é soberana!

E nesse cenário, entre a o sentido da imagem e a razão da palavra que se delimita a inspiração do
tema desta pesquisa. Não foi por acaso que o primeiro filme por mim produzido, aos dezesseis
anos, quando ainda era aluno do antigo curso ginasial, se intitulasse Visões da Química Geral.
Um produto do entusiasmo juvenil que significou não só a “captura” do real pela câmara, mas o
interesse pelo conhecimento, fazendo do filme instrumento de disseminação de novas técnicas.
Era a busca de uma forma mais abrangente de conhecimento, o conhecimento da realidade por
um viés similar à própria realidade, resultando na criação de um instrumento audiovisual.

Das ilustrações simbólicas gravadas nas paredes das cavernas por nossos primeiros antepassados
às imagens virtuais do presente, encontramo-nos diante de um desafio maior, principalmente por
parte da Ciência da Informação: como armazenar, indexar, recuperar e disseminar todo um

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conhecimento humano em centros de documentação, bibliotecas, arquivos e demais reposítórios


de informação em forma de imagens? Como lidar com as imagens em movimento, dinâmicas na
sua perspectiva de representação simbólica do tempo e do espaço: filmes, vídeos, hipertextos
animados em forma de CD-Roms ou, de forma mais abrangente e atual, o campo que forma nos
dias atuais o universo da multimídia?

A IMAGEM

Afinal, o que é uma imagem? O que é uma palavra? Qual é a imagem no conteúdo de uma
palavra? Aristóteles responde de uma forma definitiva: “Não pode haver uma palavra sem
imagem”! Seria a imagem infinitamente mais expressiva, mais fiel aos fatos do que nosso
discurso? A superioridade do visual precisa de argumentos, algo mais do que uma frase. Afinal, o
que sustenta o valor da imagem diante das palavras que se proliferam, descrevendo sem eficácia?

A imagem é basicamente uma síntese que oferece traços, cores e outros elementos visuais em
simultaneidade. Após contemplar a síntese é possível explorá-la aos poucos; só então emerge
novamente a totalidade da imagem. A crença no poder da imagem deriva-se desta experiência: é
verosímil que o todo valha mais do que as partes, ou então que o todo seja maior do que suas
partes.

À primeira vista, a forma de uma imagem é feita por semelhança com o objetivo representado.
Mas o que se chama semelhança talvez seja mera familiaridade. As réplicas não surgem
naturalmente, pois dependem de convenções de tal maneira interiorizadas que acreditamos na sua
naturalidade inevitável. Graças às convenções, e apesar de sua inexistência enquanto coisas,
podemos representar o que inexiste materialmente mas que se apresenta como imagem.

Se a imagem não se estrutura enquanto representação apenas por ser semelhante ao objeto, o que
a constitui? Uma resposta possível estaria em afirmar que a imagem representa, pois tem a
capacidade de referência. Mas a referência é uma propriedade lingüística. Quando entenderemos
a imagem como ela de fato é, sem recorrermos às propriedades dos atos da fala? Se a imagem e o
discurso são totalmente assimiláveis, para que falar nela? Deveríamos seguir a mesma orientação
contundente do filósofo Ludwig Wittgenstein em sua controvertida obra, Tractatus Logico-
Philosophicus, em relação à algumas formas de conhecimento metafísico para a tentativa de
compreensão das imagens?

“Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar”

A representação simbólica e os objetos aos quais os signos se associam não têm uma conexão
necessária. Parecem relacionados porque uma nomenclatura antecede a produção da imagem.

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“Tanto o artista como o escritor precisam de um vocabulário antes de se arriscarem a copiar a


realidade” (Besançon, A., 1997)

A imagem se desenvolve enquanto representação, imitação e visualidade mas se transforma em


perspectiva, ilusão, fotografia estática e imagem em movimento: um longo percurso, da imagem
rupestre ao cinema, ao vídeo e à imagem de síntese dos computadores que criam uma realidade
alternativa, uma realidade virtual. A imagem tem seu início como simples forma de registro, se
transfigura na própria idolatria de suas representações religiosas mas se apresenta hoje em um
novo conceito de conhecimento.

Para representar o mundo é preciso um repertório de esquemas que elaborem e interpretem a


realidade. Obrigatoriamente, um modelo organiza a experiência perceptiva. Contudo, a lógica da
imagem exige que sua representação seja feita a partir de um esquema que reformule a
experiência visual. Se a nomenclatura antecede a representação, a imagem é, por natureza,
autônoma; sua autonomia, é restrita e contrabalançada pela necessidade de assimilá-la ao objeto.
Entre a imagem e a língua verifica-se uma diferença básica: o número de elementos disponíveis
para os atos linguísticos é finito. Mais cedo ou mais tarde o ciclo estará completo e o falante
repetirá os sons já emitidos. A imagem caracteriza-se por proliferar sem que haja um horizonte
que limite sua ocorrência. Dessa forma, a imagem se transforma em linguagem adequada para as
descobertas de um conhecimento igualmente “sem limites”. À palavra cabia a representação de
um conhecimento restritivo dentro dos parâmetros dos saberes religiosos, ideológicos ou
científicos estabelecidos. À imagem, enquanto nova linguagem universal, cabe a representação
de um saber, produto de uma possível forma de inteligência coletiva, dentro do modelo indicado
por Pierre Levy (Pierre Levy, 1997). Um saber interconectado pelas redes de informação, sem
fronteiras, planetária, produto de um processo dinâmico de expansão da consciência humana.

Dentro deste quadro Pierre Lévy indica o caminho para uma nova linguagem no seu livro A
ideografia dinâmica:

“Não se trata de recorrer à imagem para ilustrar ou enfeitar o texto clássico, mas de
realmente inaugurar uma nova escrita: um instrumento de conhecimento e de pensamento
que seja também e intrinsecamente imagem animada. Não objetivamos enterrar a escrita
para celebrar o espetáculo audiovisual, mas, ao contrário, fazê-la renascer, diversificando
suas formas, multiplicando seus poderes. Fazer da imagem em movimento uma tecnologia
intelectual plena é contribuir para inventar uma cultura informático-midiática crítica e
imaginativa, é esboçar outro caminho que não o da sociedade do espetáculo, votada ao
cintilar sem memória da televisão e à gestão “racional” pelos sistemas de informação.

Utopia? Sim. Reivindicamos a utopia em detrimento da preguiça e do realismo


conformista. Não nascerão as realizações técnicas, particularmente nos domínios da
comunicação e da informática, muito mais de sonhos apaixonados que de frios estudos de
mercado?” (Pierre Levy, 1991)

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Esta nova linguagem, a “ideografia dinâmica” desenvolvida por Pierre Levy, apresenta um duplo
caráter. Por um lado é um projeto de engenharia logística no âmbito das interfaces homem-
máquina; por outro, é um ser fictício, pura hipótese, espécie de máquina a explorar o mundo dos
signos e da cognição, cuja virtude talvez possa projetar novas luzes sobre antigos problemas
filosóficos acerca da linguagem e do pensamento.
Como Albert Einstein fazia questão de declarar que:

“as palavras e a linguagem, escritas ou faladas, não parecem executar função alguma em
meu pensamento. As entidades psíquicas que servem de elementos a meu pensamento são
certos signos, ou imagens mais ou menos claras, que podem ser reproduzidas e combinados
à vontade”. (citado em Pierre Levy,1997)

Estas duas vertentes do “pensamento imagem” procuram indicar os caminhos para a criação de
novas linguagens que nos auxiliem no conhecimento de problemas cada vez mais complexos.
Trata-se do reconhecimento das limitações do nosso “pensamento palavra” num novo cenário
globalizado e imediato da cibercultura.

O acesso às imagens

Como já foi enunciado, a imagem ocupa, na sociedade contemporânea, lugar fundamental, e a


visualidade torna-se, reconhecidamente, um dos mais importantes recursos cognitivos. Existe
uma demanda, cada vez maior, pela utilização sistemática dos recursos audiovisuais tanto para a
divulgação de informações como para a pesquisa.

Cabe à Ciência da Informação em sua vertente multidisciplinar pós-moderna, (Wersig, G., 1993)
indicar os caminhos para o acesso mais eficiente a essas imagens enquanto documentos
informacionais em seus Sistemas de Recuperação de Informação, SRIs. No entanto, a imagem
possui característica próprias de polissemia que dificultam sua classificação de forma eficiente. O
acesso às imagens tem sido tradicionalmente indicado por sistemas de classificação baseados em
palavras ou “indexadores descritores” na forma de vocabulários controlados, conhecidos como
“tesauros” além da escolha de “palavras-chave” voltadas essencialmente para a descrição
semântica de conteúdos informacionais.

Contudo, numa era de digitalização crescente de imensos arquivos imagéticos, principalmente, no


campo da multimídia, depara-se com uma multiplicidade de novos documentos que geram
repositórios ainda maiores de imagens, as imagens em movimento. Arquivos complexos
armazenam grandes volumes e novas formas de documentos digitais que incluem vídeos
científicos, jornalísticos ou artísticos. Sua disseminação enquanto conhecimento comunicacional
depende do desenvolvimento paralelo de novas formas de indexação e recuperação condizentes
com a própria dinâmica desses novos documentos. Um desafio tecnológico, cognitivo e
epistemológico para a Ciência da Informação. Desenvolvem-se novos sistemas de busca

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automáticos e computadorizados voltados para as redes virtuais como a World Wide Web.

Minha pesquisa está voltada para o desenvolvimento de novas linguagens indexacionais


polirepresentacionais específicas para imagens em movimento na forma de documentos
imagéticos como os vídeos científicos e jornalísticos. Ao acreditar no potencial de comunicação e
representação cultural dessas imagens e na necessidade de novos instrumentos específicos de
recuperação de imagens em movimento buscaremos investigar, a influência desses documentos
imagéticos específicos numa disseminação de novas formas de organização do conhecimento.
Dessa forma, a criação de inúmeros arquivos imagéticos, muitos deles virtuais, espalhados por
todo o mundo, exigem um tratamento mais científico dos instrumentos de busca de seus
conteúdos. O saber acumulado pelas imagens necessita de instrumentos mais eficientes para a sua
utilização no cotidiano das pesquisas informacionais. Sistemas indexacionais mais eficientes e
ágeis deverão contribuir para uma maior socialização destes repositórios de imagens visando
prioritariamente o usuário final como principal agente receptor beneficiário.

Mas esse problema se depara com dificuldades. Afinal, o desafio de representar as imagens com
palavras ou ícones sempre foi considerado um paradigma maior nas ciências cognitivas. A
própria definição da imagem necessita ainda de uma descrição oral ou textual com o recurso
semântico para a sua compreensão. Infelizmente, como já citamos anteriormente, o próprio
recurso do “ideograma” no seu simbolismo pictórico como instrumento utilizado por diversas
culturas orientais como a cultura chinesa, encontra limites para a representação e definição da
realidade e não se inclui, ainda, nas opções da cultural ocidental. Pesquisas mais recentes na área
de categorização específicas para as bases de dados têm revelado que esse direcionamento
simbólico com a construção de um discurso meta-informacional na forma de metadados pode vir
a ser um dos recursos mais importantes para a criação de uma sistemática específica de busca e
recuperação para produtos audiovisuais.

Dentro desse âmbito multidisciplinar, a idéia motriz dessa pesquisa está baseada numa mudança
de paradigma em relação à utilização e escolha singular de sistemas de indexação de imagens por
parte do agentes indexadores. A pesquisa procura analisar os Sistemas de Recuperação de
Informação existentes e indicar a necessidade plural de descritores inter-relacionados ao invés da
tradicional opção por SRIs particulares e excludentes. Busca-se desenvolver interfaces entre os
recursos próprios da palavra, da representações iconográficas e do seqüencialmento imagético
em um novo sistema integrado de indexação e recuperação para os conteúdos dos arquivos de
imagem em movimento. Dessa forma, essa pesquisa procura integrar os estudos existentes que
privilegiam a vertente textual com uma nova referência meta-informacional. Estas linguagens
informacionais estariam voltadas para o gerenciamento mais eficiente dos novos estoques
digitais de informação. Trata-se, pois, de uma pesquisa que visa a análise descritiva da
tecnologia e das linguagens que estão sendo desenvolvidas e que indicam os caminhos para a
criação de agentes automáticos inteligentes específicos para as imagens em movimento nas redes
virtuais.

Minha tese busca analisar, discutir e indicar os parâmetros e as diretrizes dessa “metalinguagem”

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visando a elaboração de indexadores mais eficientes que enunciem uma polirepresentação mais
abrangente da imagem em movimento. Esta metalinguagem deverá possuir uma vertente textual,
iconográfica e simbólica para uma classificação imagética ainda mais completa e fiel ao seu
próprio objeto. Deverá indicar uma indexação específica que preserve a tipologia própria da
imagem em seqüência considerando que esta mesma seqüência inclui conteúdo informacional
facilitando o processo de classificação em Sistemas de Recuperação Informacionais, conforme
esclarece a Profa. Johanna Smit em palestra recente no Seminário “Informação e Imagem”
promovido pelo IBICT(Smit, J. 2001).

Tais Sistemas de Representação podem servir para o aprimoramento de instrumentos


classificatórios específicos para os demais Sistemas de Recuperação e Disseminação da
informação em Bases de Dados de Imagens em Movimento Virtuais, ou seja, em filmotecas,
videotecas e centros de documentação em multimídia disponíveis nas redes telemáticas.

Para tal, devemos considerar principalmente os recentes avanços tecnológicos que já permitem a
digitalização, compressão e transferência de grandes arquivos imagéticos com seus conteúdos
informacionais através das redes telemáticas e de ferramentas eletrônicas de busca especializadas.
Por outro lado, dentro deste cenário empírico e teórico ainda se apresentam questões
fundamentais: como nos desvencilhar dos rigores e das limitações da univocidade ou
necessidade de uma linguagem universal pela expressão iconográfica ou textual para lidar com as
particularidades da representação estética, dos simbolismo e do poder referencial das imagens em
movimento?

Acrescente-se a essas dificuldades particulares a problemática da caracterização e definição das


categorias do “movimento e do tempo cinemático” no produto imagético. Um desafio cognitivo
ainda mais complexo que abrange um estudo dinâmico e multidisciplinar nos campos da própria
Ciência da Informação, da teoria da imagem, semiótica, linguagem cinematográfica, informática
e de diversas outras áreas do conhecimento. A pesquisa também procura considerar a
especificidade do pensamento do usuário e suas estruturas cognitivas em relação às buscas
imagéticas que tendenm a ser quase sempre indefinidas capazes de gerar “incerteza” e não
“certeza” (Wersig, 1991).

Ainda presenciamos um constante aprimoramento de potencialidades nestas áreas que estão


sendo criadas e desenvolvidas em todos instantes em diversos centros de pesquisa do mundo.
Hoje, aqui no Brasil, ainda existe a necessidade de um maior esclarecimento sobre as grandes
possibilidades desses estudos para o desenvolvimento de uma sociedade da informação. Afinal,
as imagens são cada vez mais, conteúdo importante para as bases de dados virtuais em diferentes
fases de implantação .

A PESQUISA

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Esta pesquisa pretende, em seu conjunto, investigar as possibilidades de mudanças nas


representações, nas formas de ação e nos comportamentos de usuários, entidades e profissionais
da área, sobre vários aspectos da realidade dos bancos de imagens em movimento existentes no
Brasil e em outros países em particular, os arquivos telejornalísticos e científicos. Estes são
setores responsáveis pelo arquivamento de informações pelas imagens produzidas tanto pelas
televisões como pelos centros de pesquisa científica.

A mudança de comportamento institucional, implica no entendimento da noção de informação


como um processo "onde sua identificação e sua interpretação passam por um
movimento.”(A. Mayére/1990). O limite da informação não é “(...) um consenso sobre a
representação partilhada, porque esta é fortemente dependente do contexto no qual está
inserida.” (idem) É através do aspecto contextual da informação, que é posta a questão de sua
transmissão e de seu uso pelo usuário, mesmo considerando a parcela inerente de incerteza ligada
à utilização e à validade da informação transferida.

A comunidade de usuários dos Bancos de Imagem em Movimento pode ser classificada


genericamente, em dois grandes grupos, especializados e não especializados. Interessa-nos, neste
momento, o segmento especializado e, em especial, os jornalistas de televisão e cientistas, pois
este, ao englobar usuários com origens, classes e níveis de escolaridade semelhantes,
compreende também necessidades específicas que diferem em gênero, número e grau daquelas
apresentadas por outros grupos não especializados.

Os modelos atuais de transferência de informação dos bancos de imagem em movimento, apesar


de rudimentares, desempenham um importante papel no contexto da informação jornalística e
científica e serão analisados em decorrência das idéias que procuram identificar questões e
apontar alternativas que viabilizem um serviço de informação no qual os usuários e as empresas
não apenas se apoiem, mas reciprocamente se produzam. Trazer e integrar o usuário a esses
modelos de Transferência de Informação através de suas próprias informações, representa uma
mudança de concepção de informação como suprimento, para informação como demanda.

Os documentos armazenados nos suportes fílmicos, videográficos ou hipertextuais em animação,


acessados individualmente nas bibliotecas informatizadas ou coletivamente nas redes
informacionais telemáticas, como a World Wide Web da Internet, estão sendo cada vez mais
utilizados como forma de apoio a pesquisa jornalísticas e científicas.

O conhecimento humano acumula arquivos informacionais de imagem de forma cada vez mais
complexa e em constante crescimento. Informações jornalísticas, científicas e tecnológicas são
armazenadas em diversos repositórios do saber sem que haja um maior rigor conceitual para a
sua recuperação e indexação.

Descobrimos que cada caso é um caso. O elemento humano no processo de busca da informação,
com sua experiência e paciência, ainda parece ser a principal ferramenta de recuperação para o

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usuário. Se as bases de dados em imagem estática, com seus enormes acervos de documentos
iconográficos na forma de pinturas, gravuras, ilustrações, pôster, cartões postais e fotografias,
encontram uma dificuldade própria e complexa para realizar classificação, indexação e
recuperação eficientes, imagine-se a complexidade ainda maior do referencial em movimento
dessas imagens. Vinte e quatro a trinta quadros (ou imagens estáticas, frames) para cada segundo
de imagem dinâmica caracterizam o fator da temporalidade espacial na representação imagética
dos produtos audiovisuais. Some-se essa dificuldade conceitual de acesso específico a cada frame
particular ao problema tecnológico e econômico de armazenamento dinâmico desse conteúdo
informacional. Um desafio tecnológico.

O interesse e a justificativa da proposta desta pesquisa estão voltados para as questões teóricas e
operacionais desses repositórios de transmissão do saber: os bancos de dados de imagem em
movimento.

Os bancos de imagem, como repositórios de conhecimento, ainda se encontram em estágio


“preliminar” no que concerne ao seu potencial de utilização sistemática em pesquisas científicas.
Uma das razões principais dessa limitação operacional diz respeito não somente ao potencial de
informações encontradas nessas bases de dados, mas também à dificuldade de criação de um
sistema de classificação e indexação eficiente, preciso e, principalmente, universal.

Enquanto resultados dessa pesquisa, buscamos analisar dificuldades e apontar direções para que
futuras pesquisas possam contribuir para a criação de produtos específicos. Isso se daria em
forma de programas computacionais voltados para a dinamização dos bancos de imagem em
movimento, considerando principalmente as possibilidades cada vez mais próximas de acesso
eficiente e dinâmico a esses acervos através das redes computacionais. Assim com as inscrições
na forma corrente de acesso textual, o futuro da Internet depende necessariamente de uma
democratização ainda maior do conhecimento através das bases de dados em imagem e, em
particular, dos acervos videográficos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio de uma valorização informacional da imagem encontra obstáculos e preconceitos.


Afinal,

“uma imagem vale por mil palavras .... mas tente dizer isto sem utilizar uma
palavra” (citado por Millor Fernandes).

Tive o privilégio de presenciar a divulgação deste comentário proferido por um dos mais
importantes intelectuais brasileiros, o jornalista Millor Fernandes quando participei recentemente
de uma conferência sobre Jornalismo e Linguagem em Lisboa. Naquela oportunidade
discutíamos essencialmente o papel da imagem na comunicação moderna. Mas esta citação, que

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mistura um tanto de ironia e humor, é sem dúvida alguma um exemplo significativo de uma
postura que acompanha durante centenas de anos a própria civilização ocidental: a luta recorrente
pela primazia entre a palavra e a imagem, entre os profissionais que dominam um ou outro meio
de comunicação, entre a iconoclastia e a iconolatria.

Afinal deveria causar certa surpresa que esta declaração exemplar das dificuldades de uma
pesquisa sobre o papel da imagem na divulgação de informação fosse proferida por um jornalista
que sempre transitou com igual facilidade entre a palavra refinada de seus textos e a imagem
contundente das suas ilustrações. Ao que tudo indica, existe uma necessidade ainda mais
premente de pensarmos a imagem de uma forma menos emocional e polêmica. Numa era de
reavaliação de paradigmas estabelecidos, de busca de novas formas de produção de
conhecimento, precisamos avaliar e disponibilizar de maneira mais abrangente, o enorme
potencial informacional disponível, nos bancos de imagem em geral e principalmente nos
bancos de imagem em movimento. Eles armazenam um acervo fundamental da produção cultural
e científica da sociedade contemporânea.

Afinal, apesar de tantos anos de produção filmográfica e videográfica, produtos de propostas


motivadoras como “uma idéia na cabeça e uma câmara na mão”, constatamos que uma
quantidade extraordinária dessas imagens continuam simplesmente inacessíveis à grande maioria
de usuários. A democratização e disponibilização dos conteúdos dos centros de documentação e
arquivos de imagem requerem instrumentos mais precisos de indexação e recuperação de
imagens. Só então poderemos considerar o surgimento de uma nova linguagem comunicacional
essencialmente imagética e universal transmitida pelas redes virtuais de informação.

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Sobre o autor / About the Author:

Antonio Claudio Brasil Gonçalves


Doutorando em Ciência da Informação do convênio CNPq/IBICT – UFRJ/ECO

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