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Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

Centro de Ciências da Administração – ESAG


Doutorado em Administração

Disciplina: MÉTODOS QUALITATIVOS DE PESQUISA EM


ADMINISTRAÇÃO
Professora: Dra Simone Ghisi Feuerschütte
Aluna: Monica F. C. Pedrozo Gonçalves

PAPER 02

Título: Uma imagem vale mais do que mil palavras

Este trabalho, tem como proposta, selecionar alguns dos conteúdos ministrados na
disciplina Métodos Qualitativos de Pesquisa em Administração, especificamente no que
se refere ao segundo módulo – Procedimentos em Pesquisa Qualitativa e elaborar um
breve ensaio, crítico-argumentativo, acerca dos conteúdos escolhidos.
Neste sentido, parto do conteúdo trabalhado em uma das aulas referentes ao
segundo módulo da disciplina, a saber: Imagens e “não ditos” como evidências na
pesquisa qualitativa.
A célebre frase “Uma imagem vale mais do que mil palavras”, foi atribuída ao
pensador e filósofo chinês Confúcio e, vem sendo divulgada desde o século VI antes de
Cristo (URÇULINO, 2018). Corroborando com esta afirmação, considero a imagem um
dos potentes recursos de comunicação, uma vez que rompe qualquer barreira
comunicacional. Uma mesma imagem pode ser apresentada em vários países do mundo
que adotem diversos idiomas, isso não será barreira para que a mensagem seja
transmitida. Na área da Educação Infantil, é comum afirmar que um bebê é capaz de “ler
um livro”, tratando-se de um livro somente de imagens, ou seja, não é necessário
decodificar o código escrito para ser um leitor. Vale ressaltar ainda que, é possível para
um deficiente visual acessar uma imagem, desde que adaptada, para que possa senti-la
por meio do tato.
Conforme Cavedon (2005), no campo da Administração há uma certa resistência
em explorar o registro e apropriação de imagens nos estudos etnográficos. O autor ressalta
que este distanciamento, revela a estética mais ortodoxa do fazer administrativo, uma vez
que julgam que a opção por esta perspectiva pode descaracterizar a construção da Ciência
Administrativa. O autor, entretanto, adverte que esta assertiva é passível de contestação,
considerando que o mundo contemporâneo, com todos seus avanços de forma e conteúdo,
não é mais possível prescindir todas as variantes de uma pesquisa, quando elas forem
cabíveis..
Mas qual seria a relação das imagens com os “não-ditos” nos estudos qualitativos?
A meu ver, a relação é intrínseca, considerando que os “não ditos”, tem muito a nos dizer,
uma vez que podem ser imagens, objetos, elementos materiais, enfim, situações que não
são reveladas de uma maneira formal. Para se captar um “não dito”, é essencial que o
pesquisador tenha um olhar aguçado e cuidadoso nas evidências simbólicas, icônicas que
a realidade apresenta. Em suma, as evidências não verbalizadas podem subsidiar a
compreensão do fenômeno que se pretende pesquisar naquele dado contexto.
Nos estudos de Gondim, Feitosa e Chaves, 2007, p. 154, os autores afirmam que:
“A importância de se estudar a imagem em investigação científica está no fato de ela
reunir muitas informações integradas em um todo organizado, o que não se consegue
obter por meio da simples descrição verbal”.

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Nesta perspectiva, recorro à uma das obras do pintor espanhol Diego Velázquez,
que, desde a primeira vez que tive acesso à imagem da obra, ela me causa admiração,
reflexão e uma leve inquietação.

Fonte: Wikipédia1
A obra de Velásquez, apresenta uma cena, como se fosse uma fotografia, da corte
espanhola do século XVII. Considero a imagem, uma fonte rica e inesgotável de
possibilidades de representação, dependendo do fenômeno que se queira pesquisar. A
imagem da obra impressiona pela riqueza de detalhes e especialmente, pela riqueza de
perspectivas que se apresentam: olhar do pintor, olhar de quem está sendo reproduzido,
olhar de quem está “por trás” da cena, olhares de quem parecem ser o “centro da obra”.
Nesta imagem, fica a inquietação, o questionamento: quem observa quem? Ao
mesmo tempo que a obra à primeira vista apresenta uma série de enigmas, pode se
transformar, se for o caso da pesquisa, em um elemento que forneça dados preciosos para
o estudo. Os elementos “não ditos” da obra citada, podem auxiliar na investigação do
fenômeno, a partir do olhar do pesquisador de acordo com suas experiências, vivências e
hipóteses sobre o objeto de seu estudo.
Partindo dos pressupostos apresentados, procuro estabelecer uma conexão deste
conteúdo com as minhas perspectivas de estudo no doutorado. O tema de meu anteprojeto
de tese refere-se ao olhar do gestor sobre o papel da universidade pública federal diante
das diretrizes das políticas públicas educacionais brasileiras. A problemática que pretendo
investigar é: Qual o papel da universidade pública federal diante das diretrizes da política
pública educacional, a partir do olhar do gestor?
Parto da hipótese de que as políticas públicas educacionais brasileiras a partir da
década de 80 afetam as políticas públicas institucionais das universidades, refletindo em
sua essência. Defendo a tese que o papel das universidades federais está diretamente
vinculado com a vida social e política do país e, portanto, as diretrizes das políticas
públicas educacionais impactam no desenvolvimento científico, social e formativo da
universidade. A ideia é que a abordagem do estudo seja qualitativa e que a pesquisa

1
https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Meninas_(Vel%C3%A1zquez)

2
empírica ocorra na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade
Federal da Fronteira Sul (UFFS).
Compreendo que, cada vez mais que os conteúdos da disciplina avançam, eu
reflito e levanto questionamentos sobre as possíveis articulações metodológicas que posso
desenvolver na minha pesquisa. Embora ainda não tenha definido esta etapa, percebo a
relevância dos “não ditos” para o desenvolvimento da pesquisa qualitativa. Entendo que,
de acordo com o método ou a técnica de coleta de dados que eu utilize na minha pesquisa
qualitativa, as evidências dos “não ditos”, sejam por meio de imagens ou não, serão
fundamentais para a interpretação dos dados à luz da teoria e do fenômeno de
investigação.

REFERÊNCIAS
CAVEDON, N. Fotoetnografia: a união da fotografia com a etnografia no
descortinamento dos não ditos organizacionais. O&S - v.12 - n.35 -
Outubro/Dezembro 2005,p.13-27.

GONDIM, S.M.G.; FEITOSA, G.N.; CHAVES, M. A imagem do trabalho: um estudo


qualitativo usando fotografia em grupos focais. RAC, v.11, n.4, Out./Dez. 2007, p.153-
174.

TURETTA, César; ALCADIPANI, Rafael. Entre o observador e o integrante da escola


de samba: o não humanos e as transformações durante uma pesquisa de campo.
RAC, Curitiba, v. 15, n. 2, art. 3, p. 209-227, Mar./Abr. 2011. Disponível em:
http://www.anpad.org.br/rac.

URÇULINO. Nadine Araújo. Uma imagem vale mais que mil palavras? Saber
Iconográfico. Ceará, 2018. Disponível em<
https://sabericonografico.wordpress.com/2018/11/18/uma-imagem-vale-mais-que-mil-
palavras/> Acesso em 18 nov. 2020.

WIKIPÉDIA. As Meninas (Velasquez). Disponível em


<https://pt.wikipedia.org/wiki/As_Meninas_(Vel%C3%A1zquez)>. Acesso em 18 nov.
2020.

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