Você está na página 1de 32

UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP

Curso de Psicologia

Sabrina Gabriela Santos Coelho – RA: G1943J3

Fichamentos dos textos da disciplina “Temáticas de Pesquisa”

SANTANA DE PARNAÍBA
ABRIL 2024
2

Sabrina Gabriela Santos Coelho – RA: G1943J3

Fichamentos dos textos da disciplina “Temáticas de Pesquisa”

Fichamentos apresentados à disciplina


Temáticas de Pesquisa, para obtenção de
nota (NP1), da turma PS7B42, na referida
disciplina do curso de Psicologia, sob
orientação da professora Ms. Alice Canuto,
da Universidade Paulista, Campus
Alphaville/Santana de Parnaíba.

SANTANA DE PARNAÍBA
ABRIL 2024
3

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................4
1. Fichamento do texto “A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus
procedimentos” da Maria Aparecida Bicudo.........................................................................5
2. Fichamento do texto “Planejamento de Pesquisa” do Sérgio Vasconcelos de
Luna......11
3. Fichamento do texto “Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a
questão?” do Hartmut
Günther...............................................................................................22
4. Fichamento do livro “Pesquisa social: teoria, método e criatividade” da Maria Cecília
Minayo........................................................................................................................................2
6
4

APRESENTAÇÃO

Neste trabalho são apresentados quatro fichamentos para a disciplina “Temáticas de


Pesquisa”, sob orientação da Profa. Ms. Alice Canuto.
Os fichamentos são a prática da documentação, isto é, da organização de determinados
estudos, a partir de diferentes levantamentos como o bibliográfico, conteúdo ou temático e
citação. É um tipo de técnica direcionada a contribuição no que se refere à organização de
diferentes conhecimentos, é uma pratica de estudos individual, sendo um ponto de partida
para os tipos de estudos que podem e/ou deve ser feitos sobre um tema, isso pode ser feito
através da identificação de diferentes obras, analise do material, destaques de partes principais
das obras, conhecer o conteúdo, compara-lo e ainda se pode anotar as ideias que surge durante
a leitura, reter elementos que permitam sua seleção posterior e fácil localização no momento
de necessidade.
5

1. A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus procedimentos, Maria Bicudo.

“Toda investigação solicita que se fique atento às concepções concernentes à realidade do


investigado” (p. 11) “é um cuidado prévio, a ser assumido pelo investigador, no momento em
que vai em direção à explicitação dos procedimentos de investigação” (p. 11) “no cotidiano
do mundo da investigação científica, hoje, é premente que sejam expostos os procedimentos
de pesquisa, ou sua metodologia, na busca de conferir-lhe graus de confiança. Entendemos
que a importância atribuída ao método, embora ele possa ser compreendido como
desdobramento de questões epistemológicas, é importante, porém, muitas vezes, apartada de
possíveis questionamentos sobre a realidade do investigado” (p. 11 - 12).
“Indagar sobre a realidade do investigado pode causar, à primeira vista, estranheza,
pois a tendência daqueles que se pautam em concepções de conhecimento "pós-modernas" é
negar a realidade como existindo em si e passível de ser conceituada positivamente, afirmação
com a qual concordamos. Entretanto, ao pensar desse modo e não aprofundar a interrogação
sobre o quê se pesquisa, isto é, sobre as características disto que está sob investigação, acaba
por enfatizar a produção do conhecimento, destacando os aspectos sociais e históricos que
contextualizam processos cognitivos e linguísticos constitutivos dessa produção e, muitas
vezes, negando a possibilidade de se falar em realidade. Não queremos levantar um mal-
entendido a priori sobre este tema (p. 12)” “na medida em que poderia levar à interpretação de
que compreendemos realidade com separa dos processos histórico social, linguístico e
cognitivo, o que não é o caso. A realidade mundana, do modo como a compreendemos,
mostra-se na teia desses processos os quais são sempre complexos” (p. 12).
Compreendemos, como exposto em Fenomenologia: confrontos e avanços (Bicudo,
2000), que construção/produção da realidade e construção/produção do conhecimento são
faces de um mesmo movimento, o investigador consciente que sempre se pergunta "quais as
características do que quero conhecer?" e "como proceder para avançar no conhecimento
disso que me proponho a conhecer?" já não satisfazem respostas lineares” (p. 12 e 13) "que se
estrutura em termos de antes e depois, de causa e de consequência” (p. 13) “Se seguíssemos
essa lógica linear” (p. 13). “acabaríamos por penetrar em um círculo vicioso, confundindo-se
6

o quê e o como” (p. 13). Porém aquelas perguntas se mostram procedentes se assumirmos a
complexidade do "ser sendo", ou seja, se concebermos que somos à medida que nos tornamos,
fazendo, acontecendo. Isso significa que o que "é" não se deixa aprisionar no instante do seu
conhecimento, que não é estático” (p. 13).
“Essa concepção permite que se fale em construção da realidade e construção do
conhecimento dando-se em um movimento de ser e de conhecer. De onde o epistemológico
não se separar, do ponto de vista do seu processo de produção, do ontológico. Porém, pode se
separar nos desdobramentos da compreensão do produzido, uma vez que este, o produzido, se
deixa captar na teia de expressões cujos significados se configuram e iluminam conforme os
contextos em que são olhados” (p. 13). “Essas considerações mostram-se pertinentes á
metacompreensão da pesquisa em qualquer região do inquérito. Ao particularizar uma região,
paradoxalmente, o campo de preocupação se amplia e aprofunda, conduzindo o pensar em
direção a complexidades das interrogações de fundo que a habitam” (p. 13 e 14).
“O tema deste livro é a pesquisa qualitativa, primordialmente aquela efetuada na
região de inquérito da Educação e das Ciências Humanas, em geral, ainda que possa também
abranger a produção de conhecimento em outras áreas” (p. 14) “Já de imediato chamamos a
atenção do leitor para o significado de qualitativo, adjetivo que modifica a modalidade de
pesquisa. No cotidiano acadêmico costuma-se opor pesquisa qualitativa à pesquisa
quantitava” (p. 14) “O qualitativo da pesquisa informa que se está buscando trabalhar com
qualidades dos dados à espera de análise” (p. 14) “Visando não se perder no emaranhado do
qualitativo/quantitativo, Roth afirma que "seria muito melhor falar a respeito da extensão em
que os pesquisadores fazem inferências sobre a generalibilidade ou transferibilidade dos
achados da pesquisa para outros contextos. Descrições de contextos e situações específicas
não são facilmente generalizáveis ou transferíveis para outros contextos, enquanto resultados
de pesquisar estatísticas admitem tais generalizações com maior facilidade” (Roth, 2005, p.
xxiv)” (p. 14).
“Ainda que tenhamos clareza da complexidade em que essa questão se enreda,
diremos pesquisa qualitativa” (p.14) “É comum que pesquisadores se refiram a essa
modalidade de pesquisa, dizendo apenas, em uma generalidade vazia, conforme tal e tal
autor/es está é uma pesquisa etnográfica, ou estudo de caso etc., em uma tentativa de
informar ao leitor sobre seus procedimentos e de legitimar a pesquisa efetuada” (p. 15)
“Entretanto, os títulos citados, que sustentam essa intenção, em sua maioria, fornecem um
panorama geral sobre pesquisa qualitativa e sobre algumas modalidades, sem adentrar
meandros pelos quais a complexidade da pesquisa fui e muitas vezes se enrosca” (p. 15).
7

Do significado de pesquisa
“De um modo geral, fala-se sobre como fazer pesquisa, mas não se foca o que é
pesquisa (Guba e Licoln, 1985; Bogdan e Bilklen, 1994). Em trabalhos prévios (Bicudo,
2000, 2004, 2005) demoramo-nos na tentativa de trazer ao leitor significados possíveis de
pesquisa qualitativa, abordando a interrogação pelo viés de lógicas que sustentam
procedimentos investigativos, conforme a concepção de ciência assumida, e na tentativa de
explicar o que o termo "qualidade" indica” (p. 15 e 16)” Generalização e transferibilidade de
resultados são ações sustentadas por um raciocínio de inferência passível de ser efetuado a
partir de investigação denominada, grosso modo, de quantitativa e cujas análises são
efetuadas mediante contagem (que inclui mensuração) e cálculos estatísticos que se abrem às
interpretações” (p. 16) “Generalização, no sentido de que um estudo de caso apresentado na
investigação efetuada pode ser um representante, entendido no sentido matemático, de todos
os casos semelhantes. As transferências entendida no sentido de que ações efetuadas no
desenrolar daquela pesquisa específica podem ser efetuadas em outras situações como
possibilidade de sucesso de similares” (p. 16 e 17) “O que muda entre a pesquisa quantitativa
e a qualitativa, no que concerne à generalização e à transferibilidade, é a concepção de certeza
e a de repetição exata, ainda que probabilística, de ocorrências” (p. 17).
“a qualidade está no âmago da quantidade” (p.17) “no processo de contagem e
respectivos modos de expressão, houve uma cisão entre os atos, desdobrados em ideias de
unidades, numeração, contagem etc., apresentamos como produtos, levando a uma visão de
que a exatidão assim obtida e cálculos possíveis são tão e somente objetivos e exatos.
Entretanto, afirmar que a qualidade está no núcleo da quantidade não significa que toda
pesquisa pode ser quali-quantitativa concomitantemente, apenas por temos compreendidos
essa amarração de sentidos. A pesquisa quantitativa trabalha a partir do momento em que o
objeto investigado é assumido pelo investigador como contável/mensurável” (p. 17) “Uma
pesquisa quali-quantitativa deveria focar o processo pelo qual a qualidade é reunida e contada.
Outro modo de trabalhar quali-quantitativamente seria fazer uma pesquisa qualitativa, visando
compreender as características do fenônemo investigado, em temos de interrogação levantada
mediante procedimentos que trabalham com contextos e situações específicas” (p. 18)
“A pesquisa quali-quantitativa poderia, ainda, dada uma interrogação, trabalhar com
levantamento de aspectos apontados como relevantes pela teoria estudada, tomando-se uma
quantidade de sujeitos – amostra – considerada satisfatória segundo a técnica estatística
escolhida e com estudos qualitativos para investigar outras perspectivas que se anunciam
8

como relevantes para a mesma interrogação. A pesquisa qualitativa, como o nome já indica,
trabalha com qualidade. Qualidade do quê? Do objeto/observado, fenômeno/percebido? Com
estas formulações já estamos apontando pares que já anunciam posturas em relação ao modo
de tomar um ou outro par de investigações. O par/objeto observado indica uma postura de
separação entre sujeito que efetua a observação e objeto observado. É como se a qualidade
fosse do objeto e se mostra passível de ser observada. O par fenômeno/percebido indica que a
qualidade é percebida, mostrando-se na percepção do sujeito. Há uma doação de aspectos
passíveis de serem percebidos em modos próprios de aparecer” (p. 18 e 19) “Não há uma
separação entre o percebido e a percepção de quem percebe, uma vez que é exigida uma
correlação de sintonia entendi como doação, no sentido de exposição, entre ambos. Nesta
perspectiva não se assume uma definição prévia do que será observado na percepção, mas
fica-se atento ao que se mostra” (p. 19).
“Uma vez expressado e comunicado, o percebido do sujeito já não é do sujeito, mas
está apresentado (dado) à comunidade, solicitando, então, procedimentos de análise e
interpretação. E aqui se abrem bifurcações possíveis resultantes de compreensão e de má
compreensão do modo de verem-se os pares fenômeno/percebido e objeto/observado. O par
fenômeno/percebido caracteriza a concepção fenomenológica de realidade e de conhecimento
e solicita que a descrição e o que expressão sejam analisados e interpretados. Não se tem, a
priori, um quadro de categorias de como se deve interpretar o relato, mas há que se ficar
atento ao rigor para não se cair prisioneiro do "achismo", pontificando-se sobre o que ali está
dito a partir de visões particulares” (p. 19 e 20)
“Dada à característica de pesquisa qualitativa, o fenômeno investigado é sempre
situado/contextualizado. Exploram-se as nuanças dos modos de a qualidade mostrar-se e
explicitam compreensões e interpretações. Sendo assim, os dados trabalhados não se
permitem generalizar e transferir para outros contextos. Admitem apenas tercerem-se
generalidades sustentadas por articulações efetuadas sucessivamente com os sentidos do que
está sendo expresso. São pesquisas que permitem compreender as características do fenômeno
investigado e que assim procederem dão oportunidade para abrirem-se possibilidades de
compreensões possíveis quando a interrogação do fenômeno é dirigida a contextos diferentes
daquele em que a investigação foi efetuada. Sustentam raciocínios articuladores importantes
para tomada de decisão políticas, educacionais, de pesquisa e aos poucos semeiam regiões de
inquérito com análises e interpretações rigorosas.” (p.21).

Aspectos filosóficos a serem considerados


9

“Até onde compreendemos o significado de pesquisa, que diz de se perquirir sobre o


que nos chama atenção que nos causa desconforto e perplexidade, de modo atento e rigoroso,
não há um modo correto ou certo de pesquisar-se. Isso significa dizer que não há um padrão
de procedimentos. Também não há primazia, a priori, do qualitativo sobre o quantitativo e
respectivos procedimentos de análise e de interpretação” (p. 22)

A interrogação
“Entendemos que o ponto crucial da pesquisa é constituído pela interrogação e seu
esclarecimento. Daí fazer sentido perguntarmo-nos constantemente o que a interrogação
interroga. O movimento efetuado para dar conta dessa busca auxilia a focar o o quê,
contribuindo para que pensemos reflexivamente no como proceder para corresponder ao
indagado. A interrogação é diferente da pergunta, que indaga, solicitando esclarecimento e
explicitações, do problema, que explicita a pergunta” (p. 22) A interrogação subjaz a essas
modalidades e que formular problemas, hipóteses e perguntas são maneiras de assumir
perspectivas a partir das quais a interrogação será perseguida (p. 23) “Mesmo para
pesquisadores que trabalham com teorias tradicionalmente formuladas e constituídas, ou não
tanto, no âmago da qual formulam suas perguntas e hipóteses, há sempre uma interrogação
que dirige seus olhares e opções, sustentando-os no movimento de investigação” (p. 24).

Possibilidades de pesquisar-se qualitativamente


“Conforme as considerações postas no horizonte da visão da realidade e de
conhecimento que vem sendo trabalhada e dada ao mundo por pensadores que têm sido
denominados fenomenólogos, incluindo seu maior mentor e iniciante, Edmund Husserl”
(p.25) “Das décadas de 1980 para o momento atual” (p.25) “há autores cujas trajetórias
filosóficas se movimentam no solo das ideias fenomenológicas, avançando em temos de
trabalhar com a complexidade mediante a qual nossa realidade mundana se mostra. Para
exemplificar, dentre brasileiros citamos Paulo Freire e dentre aqueles oriundos de outros
países, Ricoeur e Foucault” (p. 25) “Nosso objetivo não é apresentar uma seleção resumida
embora abrangente, de procedimentos de investigação qualitativa, informando sobre suas
características e possibilidades, porém, expor procedimentos desenvolvidos, tendo como solo
visão de realidade e de conhecimento assumidos pela Fenomenologia, nos contextos da
realidade que se mostra no encontro interrogação/interrogado/pesquisador” (p. 25)
“Focaremos” (p. 26) “pesquisas cujas interrogações perguntam pelo o quê do fenômeno
10

focado, solicitando procedimentos que entendemos, à luz da literatura estudada, como


evidenciando o estruturante do fenômeno” (p. 26).

Referência: BICUDO, M. A. (2011). A pesquisa qualitativa olhada para além dos seus
procedimentos. In: 20/03/2018 (Org.). Pesquisa qualitativa segundo a visão fenomenológica.
1ªed.São Paulo:Editora Cortez, pp. 11-28. Disponível em:
http://www.mariabicudo.com.br/resources/CAPITULOS_DE_LIVROS/A%20pesquisa
%20qualitativa%20olhada%20par%20al%C3%A9m%20dos%20procedimentos.pdf
11

2. Fichamento Planejamento de pesquisa. Sergio Vasconcelos de Luna.

“A metodologia é um instrumento poderoso justamente porque representa e apresenta


os paradigmas de pesquisa vigentes e aceitos pelos diferentes grupos de pesquisadores, em um
dado período de tempo. É ela mesma, um objeto de pesquisa, e grandes pesquisadores têm se
dedicado a estudá-la, o que atesta, mais uma vez, a sua importância e seriedade. No entanto,
há, ainda, considerável confusão em relação à sua função e utilidade. Uma coisa é empregá-la
para preparar o caminho de iniciantes à pesquisa que estão continuamente sendo confrontados
com a situação de pesquisa; outra coisa é substituir a prática da pesquisa pela metodologia.
Uma coisa é promover, entre os alunos, a discussão teórico metodológica sobre a realidade
que eles precisam aprender a representar para poder analisar; outra coisa é substituir o
fazer pesquisa pelo falar sobre pesquisa” (p. 4).
“Se foi possível, em certo período da história da ciência, estabelecer parâmetros e
limites para delimitar o que era pesquisa, de há muito pode-se afirmar que ninguém sairá ileso
de tal empreitada” (p. 5) “O sentido da palavra metodologia tem variado ao longo dos anos.
Mais importante, tem variado o status atribuído a ela no contexto da pesquisa. Em alguns
âmbitos profissionais, metodologia é associada a Estatística, e Demo (1981) sugere que, na
América Latina, metodologia se aproxima mais do que se poderia chamar de Filosofia
ou Sociologia da Ciência, enquanto que a disciplina instrumental é referida como Métodos e
Técnicas. Mais importante, porém, que as conotações que possam ser atribuídas ao termo,
foram as transformações que sofreu o seu status dentro do cenário da ciência. De fato,
reconhece se, hoje, que a metodologia não tem status próprio, precisando ser definida em um
contexto teórico metodológico. O reconhecimento do poder relativo da metodologia tem por
trás outra decorrência da evolução do pensamento epistemológico: a substituição da busca da
verdade pela tentativa de aumentar o poder explicativo das teorias. Neste contexto, o papel do
pesquisador passa a ser o de um intérprete da realidade pesquisada, segundo os instrumentos
conferidos pela sua postura teórico epistemológica. Não se espera, hoje, que ele estabeleça a
veracidade das suas constatações. Espera se, sim, que ele seja capaz de demonstrar segundo
critérios públicos e convincentes que o conhecimento que ele produz é fidedigno e relevante
teórica e/ou socialmente” (p. 5).
12

“Qualquer que seja o referencial teórico ou a metodologia empregada, uma pesquisa


implica o preenchimento dos seguintes requisitos: 1) a formulação de um problema de
pesquisa, isto é, de um conjunto de perguntas que se pretende responder, e cujas respostas
mostrem se novas e relevantes teórica e/ou socialmente; 2) a determinação das informações
necessárias para encaminhar as respostas às perguntas feitas; 3) a seleção das melhores fontes
dessas informações; 4) a definição de um conjunto de ações que produzam essas informações;
5) a seleção de um sistema para tratamento dessas informações; 6) o uso de um sistema
teórico para interpretação delas; 7) a produção de respostas às perguntas formuladas pelo
problema; 8) a indicação do grau de confiabilidade das respostas obtidas 9) Finalmente, a
indicação da generalidade dos resultados” (p. 5 e 6).
“Os efeitos da inexistência de um problema de pesquisa (ou de uma pergunta que se
queira responder) parecem claros e não dependem de muita discussão. Ele precisa existir,
mesmo que sob a folha de uma mera curiosidade, para dirigir o trabalho de coleta de
informações e, posteriormente, para organizá-las” (p. 6) “Os critérios 5 e 6 justificam-se pela
noção de "recorte" da realidade, mencionada acima. Respostas a um questionário, transcrições
de entrevistas, documentos, registros de observação representam apenas "informações" à
espera de um tratamento que lhes dê um sentido e que permita que a partir delas se produza
um conhecimento até então não disponível” (p. 6)
“A questão da confiabilidade da resposta oferecida pela pesquisa pode,
resumidamente, ser colocada da seguinte forma: se a resposta (ou respostas) produzida pela
pesquisa depende da interpretação das informações geradas pelo procedimento, o pesquisador
deve oferecer garantias quanto à sua adequação” (p. 6) “Embutida na questão da
fidedignidade, existe outra questão. Uma vez tratadas e analisadas as informações,
o pesquisador chega à resposta (ou respostas) ao seu problema. Consideradas as
circunstâncias em que foi realizada a pesquisa, por que a resposta oferecida é a melhor
resposta possível? Por que respostas alternativas puderam ser descartadas?” (p. 6) O último
item da sequência por mais abrangente que possa ser, uma pesquisa toma sempre um
"pedaço", uma amostra de um fenômeno para estudo; até demonstração em contrário, os
resultados a que a pesquisa chega se teórica e metodologicamente corretos têm sua validade
restrita às condições sob as quais foi realizada” (p. 6).
“A evolução das matrizes epistemológicas que presidem à pesquisa em educação e as
preocupações com os determinantes sociais do fenômeno educacional produziram uma
alteração sensível no padrão de pesquisa nos últimos anos. Ocorreu uma imersão mais
profunda do pesquisador na situação natural, aumentando, em muito, a relevância dos
13

conhecimentos produzidos. Ao mesmo tempo, aumentou o compromisso do pesquisador com


a transformação da realidade pesquisada” (p. 7) “Ao se realizar uma pesquisa, espera se que o
ponto de partida identifique um problema cuja resposta não se encontre explicitamente na
literatura; consequentemente, a resposta obtida ao final da pesquisa constatada a correão
metodológica deve ser relevante para a comunidade científica, não apenas por se tratar de
urna resposta, mas, principalmente, por se tratar de uma resposta importante de ser obtida.
Desta forma, pesquisa é sempre um elo de ligação entre o pesquisador e a comunidade
científica, razão pela qual sua publicidade é elemento indispensável do processo de
produção de conhecimento” (p. 7) “Uma das principais dificuldades com que se defronta
quem quer que se disponha a discorrer sobre o processo envolvido no planejamento da
pesquisa diz respeito à inevitável peculiaridade de cada projeto (p. 8) De fato, a partir das
primeiras decisões tomadas, abre-se um verdadeiro leque de caminhos alternativos a tomar, e
o pesquisador deve estar preparado para, ao mesmo tempo, ser sensível às alterações que se
lhe impõem (seja pela lógica do planejamento, seja pelos resultados que começa a obter) e
manter o equilíbrio metodológico” (p.8)
“Não raramente, um pesquisador iniciará (um) a pesquisa, fará intervenções na
realidade a ser pesquisada e colherá informações com o propósito explícito de localizar um
(o) problema de pesquisa ou de detalhar o problema inicialmente formulado. Essas
circunstâncias, no entanto, apenas falam a favor da importância do detalhamento do problema
de pesquisa como guia para o desenvolvimento futuro desta. Entretanto, com alguma
frequência se estabelece uma confusão entre elementos relativos a um problema de pesquisa e
o próprio problema, dando-se andamento ao trabalho de pesquisa sem uma clareza suficiente
quanto ao que se pretende pesquisar” (p.8) “quanto mais claramente um problema estiver
formulado, mais fácil e adequado será o processo de tomada das decisões posteriores, mas
deve ficar claro, porém, que essa clareza não significa que o pesquisador não
decida/prefira/precise reformular o problema posteriormente. O processo de pesquisa é
essencialmente dinâmico”(p. 8) “Um dos recursos úteis no detalhamento do problema de
pesquisa é o destrinchar da formulação inicial, buscando destacar as respostas que
o pesquisador gostaria de obter” (p. 8),
“No sentido mais leigo do termo, hipótese significa uma suposição” (p. 9) “quando
aplicada à pesquisa, implica conjectura quanto aos possíveis resultados a serem obtidos. Deste
ponto de vista, hipóteses são quase inevitáveis, sobretudo para quem é estudioso da área que
pesquisa e, com base em análises do conhecimento disponível, acaba "apostando" naquilo que
pode surgir como produto final do estudo” (p. 9) “Hipótese sempre teve um significado e uma
14

função bem mais precisos, especialmente no que se refere à pesquisa quantitativa conduzida
segundo delineamentos estatísticos” (p. 9) “Durante muitos anos, a primazia quase absoluta
da pesquisa quantitativa tornou impensável que se dispensasse o uso de testes estatísticos para
encaminhar os resultados da pesquisa. Neste contexto, hipóteses eram derivadas do problema
formulado e faziam parte indispensável do projeto e do relatório de pesquisa. Particularmente
nas ciências humanas, quando começaram a ser introduzidos novos modelos de pesquisa, a
estatística inferencial teve seu uso drasticamente reduzido e, em decorrência, evidenciou-se a
existência de uma confusão estabelecida entre problema e hipótese. Em síntese, objetivos e
hipóteses de pesquisa não se confundem com o problema de pesquisa, mas dependem da
prévia formulação dele” (p. 10).
“Há pelo menos dois tipos de relevância a considerar: a teórica e a social. Inúmeros
textos têm discutido essa questão” (p.10) “A solução de grandes problemas nas ciências
exatas como nas humanas se dá como trabalho de criação coletiva, e em um espaço de tempo
que ultrapassa em muito aquele de um projeto individual de pesquisa” (p.10) “quanto maior a
clareza na formulação de um problema mais adequada poderá vir a ser as decisões
subsequentes em relação ao projeto. Por outro lado, o detalhamento de um problema de
pesquisa é um processo relativamente aberto e, com alguma frequência, o pesquisador ver-se-
á tentado ou mesmo instado a alterar a sua formulação em meio à coleta de dados. Portanto,
a insistência quanto à clareza da formulação do problema e da sua delimitação visa a obtenção
de parâmetros claros para as decisões metodológicas, mas não pode e não deve funcionar
como uma camisa de força que torne . o pesquisador insensível à realidade com que ele se
defronta” (p. 11).
“Inúmeros fatores podem comprometer a viabilidade da consecução de um projeto de
pesquisa” (p.12) “Lembro que Eco (1977) discute algumas dessas questões de forma
impecável, chegando mesmo a assumir um tom irônico e divertido. A primeira, e mais
empolgante, é exatamente a extensão que se confere ao problema em sua formulação ou, dito
de outra forma, que se permite que o problema assuma por não se imporem limites ao
formulá-lo” (p. 12) “ Formular um problema sob a forma de perguntas ajuda a encaminhar o
projeto, mas há perguntas e perguntas. Por exemplo, "como a criança aprende?" é uma
formulação que está muito longe de permitir o detalhamento de um projeto, assemelhando-se
mais a um tema geral, já que não permitem entrever, de imediato, procedimentos que gerem
informações passíveis de produzirem respostas. “Como" refere-se a um procedimento? A um
processo? De que criança se fala? Aprendendo o quê? Etc. Muitas vezes, a função da
pergunta falha por falta de compreensão do nível conceitual do problema formulado” (p. 12)
15

“certos assuntos demandam grande conhecimento relativo a eles para que se possa
produzir mais conhecimento empírico a respeito deles. É preciso que se conheça um
determinado assunto por dentro para que se possam criar eventos críticos que levem os
entrevistados (por exemplo) a reverem suas posições ou mesmo a se disporem a revelar fatos.
Eco (1977) discute, com vários exemplos, a situação do indivíduo que deve fazer uma
pesquisa, mas tem um tempo delimitado para isto. A ameaça à viabilidade do projeto começa
quando o cronograma de execução não dá conta adequadamente das condições externas à
pesquisa, prendendo-se exclusivamente à (suposta ou real) capacidade de trabalho do
pesquisador”.
“informações, em geral, exigem interpretação de ambas as partes: de quem as emite
(seja porque a própria natureza da informação implica subjetividade, seja porque o indivíduo
pode não ter, de momento, uma formulação verbal como resposta) e de quem precisa registra-
la e/ou decodificá-la no momento da análise (aqui, de novo, evidenciasse a importância da
teoria). Essas distinções podem soar meramente formais, sobretudo se considerarmos que, nos
extremos, dificilmente haverá ambiguidade na discriminação entre uma informação tão
factual quanto sexo ou idade e uma avaliação tão subjetiva quanto ‘gosto/não gosto’. Mas
duas circunstâncias justificam sua consideração: em primeiro lugar, nem sempre a
comparação é feita entre extremos (ou nem sempre há o segundo termo para estabelecer-se a
comparação); em segundo e mais importante , não raro uma informação altamente opinativa é
tomada como factual” (p. 13)
“a esta altura, qual seja a primeira regra na escolha de fontes de informação: escolha
sempre a fonte mais direta possível. A segunda regra é: esteja preparado para assumir, na
análise das informações, as implicações da escolha feita. Certos problemas de pesquisa quer
pela sua própria natureza, quer pela habilidade do pesquisador na delimitação do problemas
de pesquisa não deixam muita margem de escolha quanto às fontes a serem consultadas”
(p.14) “O caso particular dos relatos verbais merece destaque neste item. Estudar um
fenômeno por meio de relatos verbais implica selecionar indivíduos que a) detenham a
informação; b) sejam capazes de traduzi-las verbalmente (especialmente no caso de
informações não factuais); c) e principalmente disponha-se a fazê-lo para o pesquisador. Essas
características dos indivíduos selecionados não deveriam constituir meros pressupostos; ao
contrário, o pesquisador deve estar preparado para avaliá-las durante a seleção de seus
sujeitos” [...] Muito poucas situações justificam a seleção de fontes indiretas, no entanto,
seu uso é frequente, e as razões alegadas nem sempre são convincentes” (p. 14).
16

“Cada procedimento de coleta de informações, pelas suas próprias características,


apresenta uma série de vantagens, mas é limitado em vários aspectos. É preciso que o
pesquisador tenha conhecimento das desvantagens e saiba como contorná-las; se isto não for
possível, é mais prudente buscar um procedimento alternativo” (p.15) [...] “essas
peculiaridades de cada procedimento (já bem mapeadas pela literatura), somam-se outros
fatores de consideração decorrentes da situação sob investigação” (p.15). “Ao insistir na
explicitação de cada uma das perguntas que nos interessa responder e no detalha mento, para
cada uma delas, da melhor fonte para cada conjunto de informações necessárias, estamos
tentando explorar ao máximo as condições da pesquisa, de modo que a seleção dos
procedimentos seja a mais adequada possível. E, deste ponto de vista, a seleção será mais uma
decorrência do que uma escolha” (p.15).
“Uma questão precisa ser reconsiderada: trata-se da insistência no detalhamento do
problema de pesquisa [...] Com alguma frequência, um pesquisador pode descobrir que a
formulação adequada do seu problema pode depender de algumas informações a serem
coletadas preliminarmente: algo semelhante ao que costumava ser feito, no passado, sob o
rótulo de projeto piloto e que, hoje, provavelmente será denominado pesquisa exploratória.
Esse procedimento poderá ter a finalidade de "treinar" o pesquisador iniciante à situação
concreta que enfrentará durante a pesquisa, mas também poderá ser um recurso de um
pesquisador experiente que adentra una área ainda pouco explorada. Pode, ainda, ter o
sentido de um pré-teste de instrumentos ou de determinados procedimentos a serem
empregados, com o objetivo de não "queimar" o trabalho efetivo de pesquisa” (p.15)
“Uma segunda situação exige reconsideração da proposta de detalhamento do
problema: trata-se das vertentes metodológicas que defendem que a construção do problema
ocorra ao longo e como parte do processo de pesquisa. Meu ponto de vista, porém, não se
altera também neste caso, porque, admitindo-se que se trate mesmo de um processo de
pesquisa, então ou a proposta é a de que pesquisador e grupo caminhem juntos no trabalho
qualquer que seja o projeto , mas o primeiro responde pelo processo de pesquisa e presta
conta dele a seus pares; ou ele poderá ter um belo, engajado e relevante programa de
transformação social, mas ainda não terá chegado à pesquisa. Evidentemente, não deve ser
descartada a hipótese de que um novo paradigma de pesquisa já esteja em vigor, com novos
objetivos e diferentes parâmetros. A estes casos, porém, provavelmente não se apliquem as
considerações feitas aqui” (p. 16).
“Revendo-se o esquema anexo, pode-se verificar que a etapa seguinte à da seleção dos
procedimentos é a de tratamento das informações obtidas. Cada conjunto de perguntas previa
17

informações que foram coletadas pelos procedimentos selecionados” (p.16) “Informações


tratadas resultam em dados, e o procedimento para isto é extremamente dependente do
referencial teórico do pesquisador, que deve ter condicionado a natureza das perguntas
formuladas que, por sua vez, delimitaram o tipo de informação a ser obtido, e assim por
diante. Em alguns casos, o tratamento é tão direto que a própria maneira de coletar a
informação já produz o dado ou encaminha facilmente o seu tratamento. Nem sempre (eu
diria, cada vez menos em relação aos problemas de pesquisa atuais) as coisas encaminham-se
tão facilmente. A complexidade dos problemas que vêm sendo propostos, a variedade de
informações coletadas, a diversidade de fontes de onde são coletadas acaba produzindo uma
verdadeira massa de inforn1ações que exige tratamento diferenciado e para a qual nem
sempre está disponível um sistema de tratamento” (p.16)
“do compromisso do pesquisador com a transparência das transformações efetuadas
nas informações. Um grande volume de informações, tratado na ausência de unidades prévias,
implica uma quantidade considerável de ambiguidade e de interpretação, o que significa
aumentar sensivelmente a incerteza da análise. Aumenta, nessa mesma proporção, a
necessidade de o pesquisador oferecer ao seu leitor todos os passos que seguiu na
transformação do material (procedimento de análise ) e, no mínimo, exemplificar
abundantemente as transforn1ações feitas com o material origil1a1 coletado” (p.17)
“No último item da sequência de passos que caracterizam a pesquisa, a generalidade
foi conceituada como possibilidade de expansão das condições em que a pesquisa foi
realizada, mantendo-se resultados semelhantes” [...] “Nas abordagens experimentais ou
quasiexperimentais (cf. Campbell e Stanley, 1979), os critérios para avaliar fidedignidade e
generalidade são essencialmente estatísticos, o que equivale a dizer que são essencialmente
probabilísticos” (p. 17) “Generalidade, dentro desse delineamento de pesquisa, é
consequência direta do planejamento, mas é necessário introduzirem-se alguns elementos
novos para esclarecer essa afirmação. O conceito chave em relação à generalidade, dentro de
delineamentos estatísticos, é representatividade da amostra em relação à população.
Considerando-se os problemas de pesquisa com que nos defrontamos, especialmente na área
de Ciências Humanas, seria inviável conceber uma pesquisa com uma população inteira.
Habitualmente, o que se faz é extrair desta um grupo de casos o que se chama de amostra da
população e estudá-lo como se se estivesse estudando a população. É nessa expectativa de
considerar válidos para a população os resultados obtidos para a amostra que se coloca em
consideração a questão da generalidade. Precisamos aumentar ao máximo as chances de que a
amostra contenha os fatores relevantes que estão presentes na população, em relação a um
18

dado fenômeno que queremos estudar: quanto mais próxima a amostra estiver da população
nesses aspectos relevantes, maior será a probabilidade de que o que conhecermos dela valha
também para a população” (p. 17).
“Quaisquer que sejam os referenciais teóricos metodológicos do pesquisador, bem
como seus compromissos sociais, presume-se que ele inclua, entre seus objetivos para
pesquisar, o crescimento do conhecimento e a ampliação do poder explicativo de sua teoria.
Ora, para que isto ocorra é necessário que sua pesquisa vá além da constatação das
informações por ele coletadas, que suas conclusões possam superar os limites das condições
estudadas; em outras palavras, é preciso que ele possa conferir generalidade aos seus
resultados” (p.18) “O risco do acúmulo de informações descritivas não é característico de
nenhum esquema metodológico de pesquisa. Ao contrário, durante a vigência estrita dos
delineamentos estatísticos para a pesquisa, eram frequentes os estudos em que o autor se
contentava com a demonstração de uma hipótese, por exemplo, sem que fosse feito qualquer
esforço no sentido de contextualizar os resultados do ponto de vista teórico” (p.19).

A REVISÃO DE LITERATURA COMO PARTE INTEGRANTE DO


PROCESSO DE FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

“uma revisão de literatura é uma peça importante no trabalho científico e pode, por
ela mesma, constituir um trabalho de pesquisa (basta rever os critérios apontados para
caracterizar uma pesquisa e garantir que eles sejam atingidos)” (p. 20) “A normatização de
como deva ser elaborada uma revisão de literatura é duplamente arriscada. Por um lado,
porque há inúmeras razões pelas quais alguém se dispõe a escrevê-las, as quais condicionarão
muitas de suas características. Uma revisão de literatura que procure recuperar a evolução de
determinados conceitos enfatizará aspectos muitos diferentes daqueles contemplados em um
trabalho de revisão que tenha como objetivo, por exemplo, familiarizar o pesquisador com o
que já foi investigado sobre um determinado problema de interesse. Por outro lado e esta é a
questão mais delicada diferentes pessoas apresentam estilos diversos de organização de
material, que se refletem no modo de transmitir o produto, sem necessariamente afetar a sua
qualidade” (p.20)
“Embora cada leitor possa preferir um ou outro estilo, não há como discuti-los em
termos de certo ou errado. Entretanto, resguardadas as liberdades do autor no que diz respeito
a estilo, e respeitados os condicionantes dos objetivos que ele propõe, há que se reconhecer
que uma revisão de literatura, como qualquer trabalho escrito, é uma peça destinada à
19

divulgação, à comunicação e, como tal, está sujeita a um mínimo de critérios e normas” (p.
20).
“Alguns objetivos da revisão de literatura: O termo "objetivo" foi empregado, aqui,
cuidadosa e deliberadamente [...] parece preferível falar em objetivos, já que assim se
estabelece um critério mais facilmente identificável da intenção do autor” (p.20)
“Determinação do "estado da arte": O objetivo deste tipo de trabalho é descrever o estado
atual de uma dada área de pesquisa: o que já se sabe, quais as principais lacunas, onde se
encontram os principais entraves teóricos e/ou metodológicos” (p. 20) “Revisão teórica A
expressão "revisão teórica" está sendo empregada com o intuito de opô-la à revisão de
pesquisa empírica” (p. 20) “Revisão de pesquisa empírica: Uma das funções mais importantes
desse tipo de revisão é a explicação de como o problema em questão vem sendo pesquisado,
especialmente do ponto de vista metodológico” (p.21) “Revisão histórica: Revisões históricas
são extremamente importantes, mas, infelizmente, raras. Seu principal objetivo é a
recuperação da evolução de um conceito, área, tema, etc. e a inserção dessa evolução dentro
de um quadro de referência que explique os fatores determinantes e as implicações das
mudanças” (p.21).
“Localização e identificação de material potencialmente relevante: Arquivos.
Bibliotecas contam com fichários com diferentes entradas (autor, assunto, periódicos, teses e
dissertações), a Capes (Coordenadoria de Capacitação de Pessoal do Ensino Superior MEC)
tem mantido um banco de teses e publicado a relação anual de teses defendidas em qualquer
área; o mesmo vem sendo feito, desde 1982, pela Associação Nacional de Pós-graduação em
Educação - ANPEd. Neste caso, apenas trabalhos em Educação” (p.21 e 22)” “Referências
citadas em artigos já encontrados. Cada pesquisador realiza seu próprio levantamento da
literatura e faz referência aos artigos utilizados no trabalho” (p.22)
“Serviços de levantamento bibliográfico: Algumas instituições (incluindo
universidades estrangeiras) mantêm um serviço de levantamento bibliográfico” (p.22) Outras
alternativas; é possível (embora extremamente improvável) que, após percorrer os caminhos
indicados acima, você não consiga encontrar literatura adequada ao seu problema, ou pelo
menos uma quantidade de artigos suficiente para uma boa revisão. Neste caso, há pelo menos
três caminhos não necessariamente excludentes. 1) Consultas a especialistas na área. Com
relação a essa possibilidade, cabe um alerta. Um especialista (que poderia
ser seu professor) provavelmente estará mais disponível para uma conversa do tipo "troca de
ideias entre pesquisadores" do que para uma conversa do tipo "ajude-me". 2) Analogias. Esta
não é uma boa solução, mas, de qualquer forma, a esta altura, a sua situação também não
20

muito boa. 3) Se nada disso foi frutífero e se você continuar decidido a estudar o problema,
você estará autorizado a dispensar uma revisão de literatura e a proclamar a inexistência
desta” (p.22).
“Até onde r retroceder no tempo? A menos que se trate de uma revisão histórica, em
que o critério deveria ser o momento de aparecimento do conceito ou problema que se quer
estudar, é quase impossível responder a essa pergunta. É possível, contudo, lançar mão de
alguns critérios auxiliares. Frequência de pesquisas na área. Se a literatura for abundante, com
publicações regulares, é possível que o material dos últimos 4 ou 5 anos seja suficiente para
compor um quadro de referência para o problema. Disponibilidade de artigos de revisão
frequentes na área. a. A disponibilidade dessas revisões e o acesso a elas, na área de interesse,
reduzem consideravelmente a necessidade de retrocesso no tempo em busca de literatura. As
próprias revisões indicarão artigos ou pesquisas particularmente importantes, de forma que
bastará caminhar a partir deles” (p. 22 e 23).
“A melhor maneira de se organizar um texto é, indiscutivelmente, por meio de um
planejamento prévio da sequência de tópicos dentro do tema e das informações a serem
oferecidas dentro de cada tópico. Ou seja, trata-se de organizar uma sinopse ampliada do
texto, antes de ele ser escrito (sempre é possível reformulá-la posteriormente). É fácil discutir
pontos que tornam um trabalho inadequado do ponto de vista dos itens aqui analisados [...]
“dada à importância de explicar os objetivos da revisão e das vantagens de incluir
"aberturas" e "fechos" em cada subdivisão do trabalho. São esses elementos que ajudarão a
avaliar a adequação das informações oferecidas. Todavia, tudo isso pode ser feito de forma
rotineira, formal e sem funcionalidade” (p.23).
“Os vários textos citados nas referências discutem. a questão de fontes primárias e
secundárias de forma bastante completa” [...] “Uma fonte primária é o texto original” [...] “Há
variações no que se aceita como primário, dependendo do objetivo que se tem” (p. 25) “Uma
citação de um autor sobre outro autor é indiscutivelmente uma fonte secundária e há poucas
circunstâncias que a justifiquem” (p. 25) “É verdade que nosso acesso à bibliografia
internacional está aquém do desejável. Da mesma forma, determinados documentos podem
ser acessíveis apenas in loco, o que pode dificultar sua leitura. Em condições como estas, um
autor pode ser autorizado a recorrer a fontes secundárias. Mas apenas em condições como
estas” (p. 25). “Uma citação direta é uma transcrição literal de uma parte de um texto. Em
revisões históricas, essa transcrição assume uma função fundamental na medida em que
coloca o leitor em contato direto com o texto original, antes de se analisá-lo” (p. 25).
21

Referência: LUNA, V. S. (1997). Planejamento de pesquisa. (pp. 4-25). São Paulo: EDUC.
Disponível em:
http://franciscoqueiroz.com.br/portal/phocadownload/MetodologiadaPesquisa/luna%20sv
%20planejamento%20de%20pesquisa.pdf
22

3. Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Hartmut


Günther.
“Ao se considerar como objeto de estudo do cientista social a variabilidade do
comportamento e dos estados subjetivos, i.é, pensamentos, sentimentos, atitudes, segue-se a
pergunta: a que atribuir esta variabilidade? Sob a ótica das ciências sociais empíricas existem
três aproximações principais para compreender o comportamento e os estados subjetivos : a)
observar o comportamento que ocorre naturalmente no âmbito real; b) criar situações
artificiais e observar o comportamento diante das tarefas definidas para essas situações; c)
perguntar às pessoas sobre o seu comportamento, o que fazem e fizeram e sobre os seus
estados subjetivos [...] Cada uma destas três famílias de métodos de conduzir estudos
empíricos – observação de comportamento, experimento e survey – apresentam vantagens e
desvantagens distintas (Kish, 1987). As vantagens e desvantagens são ligadas à qualidade dos
dados obtidos, às possibilidades da sua obtenção e à maneira de sua utilização e análise.”
“O que une os mais diversos métodos e técnicas de pesquisa incluídos nestas três
grandes famílias de abordagem é o fato de todos partirem de perguntas essencialmente
qualitativas [...] Assim, usando números, ou não, na tentativa de se chegar de uma pergunta
qualitativa a uma resposta qualitativa, qual seria a diferença entre a pesquisa qualitativa e a
pesquisa quantitativa? Será que se pode argumentar que todo tipo de pesquisa é qualitativa?”
“Para organizar as diferenças e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa, consideramos: a) características da pesquisa qualitativa; b) postura do
pesquisador; c) estratégias de coleta de dados; d) estudo de caso; e) papel do sujeito e f)
aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa”.

Características da pesquisa qualitativa


“Flick, von Kardorff e Steinke (2000), apresentam quatro bases teóricas: a) a realidade
social é vista como construção e atribuição social de significados; b) a ênfase no caráter
processual e na reflexão; c) as condições “objetivas”5 de vida tornam-se relevantes por meio
de significados subjetivos; d) o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer
do processo de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa [...]s,
chegamos a cinco grupos de atributos da pesquisa qualitativa: a) características gerais; b)
coleta de dados; c) objeto de estudo; d) interpretação dos resultados; e) generalização.”
“A pesquisa é percebida como um ato subjetivo de construção. Os autores afirmam
que a descoberta e a construção de teorias são objetos de estudo desta abordagem. Um quarto
aspecto geral da pesquisa qualitativa, conforme estes autores, é que apesar da crescente
23

importância de material visual, a pesquisa qualitativa é uma ciência baseada em textos, ou


seja, a coleta de dados produz textos que nas diferentes técnicas analíticas são interpretados
hermeneuticamente [...] Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) consideram o
estudo de caso como o ponto de partida ou elemento essencial da pesquisa qualitativa [...] O
princípio da abertura se traduz para Flick e cols. (2000) no fato da pesquisa qualitativa ser
caracterizada por um espectro de métodos e técnicas, adaptados ao caso específico, ao invés
de um método padronizado único. Ressaltam, assim, que o método deve se adequar ao objeto
de estudo”.
“Para Mayring (2002) a ênfase na totalidade do indivíduo como objeto de estudo é
essencial para a pesquisa qualitativa, i.é, o princípio da Gestalt. Além do mais, a concepção
do objeto de estudo qualitativo sempre é visto na sua historicidade, no que diz respeito ao
processo desenvolvimental do indivíduo e no contexto dentro do qual o indivíduo se formou.”
“Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) apontam acontecimentos e conhecimentos
cotidianos como elementos da interpretação de dados. Os acontecimentos no âmbito do
processo de pesquisa não são desvinculados da vida fora do mesmo. Isto leva, ainda, a
contextualidade como fio condutor de qualquer análise em contraste com uma abstração nos
resultados para que sejam facilmente generalizáveis. Implica, ainda, num processo de reflexão
contínua sobre o seu comportamento enquanto pesquisador e, finalmente, numa interação
dinâmica entre este e seu objeto de estudo”.
“A generalização de resultados da pesquisa qualitativa passa por quatro dimensões.
Mayring (2002) introduz o conceito da generalização argumentativa. À medida que os
achados na pesquisa qualitativa se apóiem em estudo de caso, estes dependem de uma
argumentação explícita apontando quais generalizações seriam factíveis para circunstâncias
específicas. No caso da pesquisa quantitativa, uma amostra representativa asseguraria a
possibilidade de uma generalização dos resultados. Relaciona-se a isto a ênfase no processo
indutivo, partindo de elementos individuais para chegar a hipóteses e generalizações.
Entretanto, este processo deve seguir regras, que não são uniformes, mas específicas a cada
circunstância. Desta maneira, é de suma importância que as regras sejam explicitadas para
permitir uma eventual generalização. Finalmente, Mayring não exclui a quantificação, mas
enfatiza que a função importante da abordagem qualitativa é a de permitir uma quantificação
com propósito. Desta maneira, poder-se-ia chegar a generalizações mais consubstanciadas.”
“O contraponto feito entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa é o de
estudar um determinado fenômeno no seu contexto natural versus estudá-lo no laboratório. A
primeira estratégia – da pesquisa qualitativa – implica em relativa falta de controle de
24

variáveis estranhas ou, ainda, a constatação de que não existem variáveis interferentes e
irrelevantes [...] Na segunda estratégia – da pesquisa quantitativa – tenta-se obter um controle
máximo sobre o contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais com o objetivo de
reduzir ou eliminar a interferência de variáveis interferentes e irrelevantes”. “Abordagens
qualitativas, que tendem a serem associadas a estudos de caso, dependem de estudos
quantitativos, que visem gerar resultados generalizáveis, i.é, parâmetros. Desta maneira dilui-
se a controvérsia entre o estudo de caso, i.é, uma investigação aprofundada de uma instância
de algum fenômeno, e o estudo envolvendo um número estatisticamente significativo de
instâncias de um mesmo fenômeno, a partir do qual seria possível generalizar para outras
instâncias. Além do mais, num estudo de caso é possível utilizar tanto procedimentos
qualitativos quanto quantitativos”.
“Existe uma longa controvérsia sobre o valor relativo da natureza da ciência básica
versus aplicada. Por alguma razão pouco clara, a posição da primazia da pesquisa aplicada é
associada à pesquisa qualitativa e da pesquisa básica à pesquisa quantitativa. O fato de
considerar a distinção entre pesquisa aplicada versus básica pouca vantajosa no contexto do
avanço do conhecimento, torna uma eventual associação destas duas vertentes a pesquisa
qualitativa e a pesquisa quantitativa, respectivamente, ainda menos relevante” “são
características da pesquisa qualitativa sua grande flexibilidade e adaptabilidade. Ao invés de
utilizar instrumentos e procedimentos padronizados, a pesquisa qualitativa considera cada
problema objeto de uma pesquisa específica para a qual são necessários instrumentos e
procedimentos específicos. Tal postura requer, portanto, maior cuidado na descrição de todos
os passos da pesquisa: a) delineamento, b) coleta de dados, c) transcrição e d) preparação dos
mesmos para sua análise específica”.
“Mayring (2002) apresenta seis delineamentos da pesquisa qualitativa: estudo de caso,
análise de documentos, pesquisa-ação, pesquisa de campo, experimento qualitativo e
avaliação qualitativa [...] a pesquisa-ação independe da técnica, podendo ser utilizada com
experimento, observação ou survey. Observa-se, ainda, uma junção entre a pesquisa-ação e a
pesquisa participante (vide Brandão, 1985, 1987) [...] A análise de documentos é a variante
mais antiga para realizar pesquisa, especialmente no que diz respeito à revisão de literatura
[...] A pesquisa de campo é especialmente interessante do ponto de vista do método da
pesquisa qualitativa, ao mesmo tempo em que se constitui como exemplo de triangulação, i.é,
uma integração de diferentes abordagens e técnicas – qualitativas e quantitativas – num
mesmo estudo [...]O fato de qualificar experimento e avaliação com o adjetivo “qualitativo”
25

reforça a constatação de que estes procedimentos, além da interpretação tradicional da


pesquisa quantitativa, podem incluir uma abordagem qualitativa”.
“Para o contexto da pesquisa qualitativa, as três maneiras de coleta de dados apontadas
por Kish (1987) – observação, experimento e survey – podem ser reagrupadas como coleta de
dados visuais e verbais. Diferentes técnicas de coleta de dados visuais e verbais podem ser
utilizadas”. Os meios de representação de dados de qualquer pesquisa são intimamente
ligados às técnicas de coleta dos mesmos. Isto é mais evidente no caso de escolher meios
visuais: o próprio ato de fotografar ou filmar um determinado evento já inclui a “transcrição”
de uma ideia em uma representação, no caso visual”.
“Enquanto participante do processo de construção de conhecimento, idealmente, o
pesquisador não deveria escolher entre um método ou outro, mas utilizar as várias
abordagens, qualitativas e quantitativas que se adequam à sua questão de pesquisa. Do ponto
de vista prático existem razões de ordens diversas que podem induzir um pesquisador a
escolher uma abordagem, ou outra. Assim como é difícil ser fluente em mais de uma cultura e
língua, é igualmente difícil aproximar-se de um tema de pesquisa a partir de paradigmas
distintos. Em suma, a questão não é colocar a pesquisa qualitativa versus a pesquisa
quantitativa, não é decidir-se pela pesquisa qualitativa ou pela pesquisa quantitativa. A
questão tem implicações de natureza prática, empírica e técnica. Considerando os recursos
materiais, temporais e pessoais disponíveis para lidar com uma determinada pergunta
científica, coloca-se para o pesquisador e para a sua equipe a tarefa de encontrar e usar a
abordagem teórico-metodológica que permita, num mínimo de tempo, chegar a um resultado
que melhor contribua para a compreensão do fenômeno e para o avanço do bem-estar social”.

Referência: GUNTHER, H. (2006). Pesquisa qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a


questão? Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 22, n. 2, pp. 201-210. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ptp/v22n2/a10v22n2.pdf
26

4. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Maria Cecília de Souza Minayo.

CAPÍTULO 1: O DESAFIO DA PESQUISA


1. Ciência e cientificidade
“Na sociedade ocidental, no entanto, a ciência é a forma hegemônica de construção da
realidade, considerada por muitos críticos como um novo mito, por sua pretensão de único
promotor e critério de verdade. No entanto, continuamos a fazer perguntas e a buscar soluções
(p. 10)” “O campo científico apesar de sua normatividade é permeado por conflitos e
contradições. Por isso Paul de Bruyne et al. (1995) advogam que a ideia da cientificidade
comporta, ao mesmo tempo, um polo de unidade e um polo de diversidade” (p. 10)

“a interrogação enorme em torno da cientificidade das ciências sociais se desdobra em


várias. A cientificidade, portanto, tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta
abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos (p. 11)” “O nível de
consciência histórica das Ciências Sociais está referido ao nível de consciência histórica da
sociedade de seu tempo, embora essas criações humanas não se confundam. Nas ciências
sociais existe uma identidade entre sujeito e objeto. Outro aspecto distintivo das Ciências
Sociais é o fato de que ela é intrínseca e extrinsecamente ideológica” (p. 14) “Por fim, é
preciso afirmar que o objeto das Ciências Sociais é essencialmente qualitativo. A realidade
social é a cena e o seio do dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de
significados dela transbordante. As Ciências Sociais possuem instrumentos e teorias capazes
de fazer uma aproximação da suntuosidade da existência dos seres humanos em sociedade”
(p. 15).

2. Conceito de metodologia de pesquisa


“A metodologia inclui simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os
instrumentos de operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do
pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade) (p. 16)” “A
metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem,
articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a
realidade. No entanto, nada substitui a criatividade do pesquisador (p. 16)” “Para Kuhn
(1978), o progresso da ciência se faz pela quebra dos paradigmas, pela colocação em
discussão das teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira revolução (p. 17)”
“Kaplan (1972) fala da formulação de conceitos em diferentes níveis de abstração [...]
27

Lembremo-nos do fato de que os conceitos teóricos não são simples jogo de palavras. Como
qualquer linguagem, devem ser construídos recuperando as dimensões históricas e até
ideológicas de sua elaboração. Cada corrente teórica tem seu próprio acervo de conceitos.
Para entendê-los, temos que nos apropriar do contexto em que foram gerados e das posições
dos outros autores com quem o pesquisador dialoga ou a quem se opõe” (p.21).

3. Pesquisa Qualitativa
“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas
Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou
seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças,
dos valores e das atitudes” (p. 22) “O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porém,
não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a realidade abrangida por eles interage
dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia” (p. 22)
“São apresentadas algumas abordagens metodológicas; ao Positivismo se lhe contesta,
sobretudo, a postura e a prática de restringir o conhecimento da realidade social ao que pode
ser observado e quantificado e de transferir para a utilização do método a questão da
objetividade. Aos adeptos da Sociologia Compreensiva as críticas enfatizam o empirismo e o
subjetivismo dos investigadores que confundem o que percebem e a fala que ouvem com a
verdade científica e o envolvimento emocional do pesquisador com seu campo de trabalho. A
abordagem da Dialética faria um desempate nas correntes colocadas anteriormente. Ela se
propõe a abarcar o sistema de relações que constrói, o modo de conhecimento exterior ao
sujeito, mas também as representações sociais que traduzem o mundo dos significados. A
Dialética pensa a relação da quantidade como uma das qualidades dos fatos e fenômenos.
Busca encontrar, na parte, a compreensão e a relação com o todo; e a interioridade e a
exterioridade como constitutivas dos fenômenos. Desta forma, considera que o fenômeno ou
processo social tem que ser entendido nas suas determinações e transformações dadas pelos
sujeitos” (p. 24 e 25).

4. O Ciclo da Pesquisa
“Diferentemente da arte e da poesia que se concebem na inspiração, a pesquisa é um
labor artesanal, que se não prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma
linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se
constrói com um ritmo próprio e particular. A esse ritmo denominamos ciclo da pesquisa, ou
seja, um processo de trabalho em espiral que começa com um problema ou uma pergunta e
28

termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas interrogações (p. 26) [...] O
processo de trabalho científico em pesquisa qualitativa divide-se em três etapas: (1) fase
exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e
documental” “Portanto, o ciclo da pesquisa não se fecha, pois toda pesquisa produz
conhecimento e gera indagações novas. Mas a ideia do ciclo se solidifica não em etapas
estanques, mas em planos que se complementam” (p. 27).

CAPÍTULO 2: O PROJETO DE PESQUISA COMO EXERCÍCIO CIENTÍFICO E


ARTESANATO INTELECTUAL
1. Projeto Científico
“Quando tratamos da pesquisa qualitativa, frequentemente as atividades que compõem
a fase exploratória, além de antecederem à construção do projeto, também a sucedem. Muitas
vezes, por exemplo, é necessária uma aproximação maior com o campo de observação para
melhor delinearmos outras questões [...] Então, quando termina a fase exploratória de uma
pesquisa? Formalmente, a fase exploratória termina quando o pesquisador definiu seu objeto
de pesquisa, construiu o marco teórico conceitual a ser empregado, definiu os instrumentos de
coleta de dados, escolheu o espaço e o grupo de pesquisa, definiu a amostragem e estabeleceu
estratégias para entrada no campo” (p. 32 e 33).

2. A Construção do projeto
“Quando escrevemos um projeto, estamos mapeando de forma sistemática um
conjunto de recortes. Estamos definindo uma cartografia de escolhas para abordar a realidade
(o que pesquisar, como, por quê. Esta etapa de reconstrução da realidade, entendida aí
enquanto a definição de um objeto de conhecimento científico e as maneiras para investigá-lo,
traz em si muitas dimensões. Ao elaborarmos um projeto científico, estaremos lidando, ao
mesmo tempo, com pelo menos três dimensões importantes que são interligadas [...] A
dimensão técnica trata das regras reconhecidas como científicas para a construção de um
projeto” (p. 34) “A dimensão ideo1ógica se relaciona às escolhas do pesquisador. Quando
definimos o que pesquisar, a partir de que base teórica e como pesquisar, estamos fazendo
escolhas que são, mesmo em última instância, ideológicas (p. 34) A dimensão científica de
um projeto de pesquisa articula estas duas dimensões anteriores’ (p. 35

“Fazemos um projeto de pesquisa para mapear um caminho a ser seguido durante


investigação. Buscamos, assim, evitar muitos imprevistos no decorrer da pesquisa que
29

poderiam até mesmo inviabilizar sua realização. Outro papel importante é esclarecer para o
próprio investigador os rumos do estudo. Ao apresentar um projeto, o pesquisador assume
uma responsabilidade pública com a realização do que foi prometido. A pesquisa é uma
prática dinâmica, contudo, caso o pesquisador realize alterações, o mesmo, precisará
esclarecer e justificar as modificações daquilo que foi preconizado inicialmente.” (p. 35) “O
projeto de pesquisa deve, responder as seguintes perguntas: o que pesquisar? (definição do
problema, hipóteses, base teórica e conceitual); para que pesquisar? (propósitos de estudo,
seus objetivos); por que pesquisar? (justificativa da escolha do problema); como pesquisar?
(metodologia); por quanto tempo pesquisar? (cronograma de execução); com que recursos
(orçamento); a partir de quais fontes? (citações e referências)” (p. 37 e 38).

CAPÍTULO 3: O TRABALHO DE CAMPO COMO DESCOBERTA E CRIAÇÃO

“Discutindo a importância do trabalho de campo, é necessário ressaltarmos que muitos


pesquisadores vêem essa tarefa como algo restrito a determinadas ciências, tais como a
Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e várias outras do campo das ciências sociais e
humanas. No entanto, algumas áreas das ciências têm como espaço de realização de uma
pesquisa o laboratório do pesquisador. Segundo nosso posicionamento a ideia de laboratório
se diferencia bastante do que vamos tratar sobre trabalho de campo. Em nossa percepção, a
relação do pesquisador com os sujeitos a serem estudados é de extrema importância. Isso não
significa que as diferentes formas de investigação não sejam fundamentais e necessárias” (p.
52) “Com base em Minayo (1992), concebemos campo de pesquisa como o recorte que o
pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a
partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação” (p. 53).

“Vários são os obstáculos que podem dificultar ou até mesmo inviabilizar essa etapa
da pesquisa. Sobre isso, faremos algumas considerações. Em primeiro lugar, devemos buscar
uma aproximação com as pessoas da área selecionada para o estudo. Essa aproximação pode
ser facilitada através do conhecimento de moradores ou daqueles que mantêm sólidos laços de
intercâmbio com os sujeitos a serem estudados [...] Destacamos como importante a
apresentação da proposta de estudo aos grupos envolvidos [...] Outro aspecto por nós
destacado se refere à postura do pesquisador em relação à problemática a ser estudada (p.55 e
56) “Entre as diversas formas de abordagem técnica do trabalho de campo, destacamos a
entrevista e a observação participante. Por se tratar de importantes componentes da realização
30

da pesquisa qualitativa, tentaremos a seguir sistematizar aspectos relevantes sobre essas


técnicas. Esses aspectos que envolvem a coleta de dados qualitativos também podem ser
encontrados em Chizzotti (1991). A entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de
campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais.
Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de
coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam
uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de
natureza individual e/ou coletiva” (p.57).

“A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do


pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores
sociais em seus próprios contextos. O observador, enquanto parte do contexto de observação,
estabelece uma relação face a face com os observados. Nesse processo, ele, ao mesmo tempo,
pode modificar e ser modificado pelo contexto. A importância dessa técnica reside no fato de
podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de
perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem oque há de
mais imponderável e evasivo na vida real” (p.61 e 60).

“A plena realização de um trabalho de campo requer, como vimos anteriormente,


várias articulações que devem ser estabelecidas pelo investigador. Uma dessas diz respeito à
relação entre a fundamentação teórica do objeto a ser pesquisado e o campo que se pretende
explorar. A compreensão desse espaço da pesquisa não se resolve apenas por meio de um
domínio técnico. É preciso que tenhamos uma base teórica para podermos olhar os dados
dentro de um quadro de referências que nos permite ir além do que simplesmente nos está
sendo mostrado. Concordamos com Cardoso (1986) sobre a relevância que deve ser dada ao
trabalho de campo e sobre o respeito pelo dado empírico” (p. 61) “O trabalho de campo, em
síntese, é fruto de um momento relacional e prático: as inquietações que nos levam ao
desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo do cotidiano. O que atrai na produção
do conhecimento é a existência do desconhecido, é o sentido da novidade e o confronto com o
que nos é estranho. Essa produção, por sua vez, requer sucessivas aproximações em direção
ao que se quer conhecer. E o pesquisador, ao se empenhar em gerar conhecimentos, não pode
reduzir a pesquisa à denúncia, nem substituir os grupos estudados em suas tarefas político-
sociais” (p.64).
31

CAPÍTULO 4: A ANÁLISE DE DADOS EM PESQUISA QUALITATIVA

“Quando chegamos à fase de análise de dados, podemos pensar que estamos no final
da pesquisa. No entanto, podemos estar enganados porque essa fase depende de outras que a
precedem. Às vezes, nossos dados não são suficientes para estabelecermos conclusões e, em
decorrência disso, devemos retomar à fase de coleta de dados para suplementarmos as
informações que nos faltam. Outras vezes, podemos dispor dos dados, mas o problema da
pesquisa, os objetivos e as hipóteses e/ou questões não estão claramente definidas. Nesse
caso, devemos redefinir esses aspectos da fase exploratória da pesquisa. Também pode
acontecer que não tenhamos uma fundamentação teórica bem estruturada e, devido a isso,
toma-se necessário reestudarmos os conhecimentos que embasam nossa pesquisa” (p.67 e 68)

“A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou


aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à
ideia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecer classificações.
Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões em tomo
de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral,
pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa. As categorias podem
ser estabelecidas antes do trabalho de campo, na fase exploratória da pesquisa, ou a partir da
coleta de dados. Aquelas estabelecidas antes são conceitos mais gerais e mais abstratos. Esse
tipo requer uma fundamentação teórica sólida por parte do pesquisador” (p. 68 e 69) “Nem
sempre a tarefa de formular categorias a partir dos dados coletados é simples. Às vezes, essa
tarefa pode se transformar numa ação complexa e isso só pode ser ultrapassado com a
fundamentação e a experiência do pesquisador. Por outro lado, a articulação das categorias
configuradas a partir dos dados com as categorias gerais também requer sucessivos
aprofundamentos sobre as relações entre a base teórica do pesquisador e os resultados por ele
investigados” (p. 74)

“A técnica de análise de conteúdo, atualmente compreendida muito mais como um


conjunto de técnicas, surgiu nos Estados Unidos no início do atual século. Seus primeiros
experimentos estavam voltados para a comunicação de massa. Até os anos 50 predominava o
aspecto quantitativo da técnica que se traduzia, em geral, pela contagem da frequência da
aparição de características nos conteúdos das mensagens veiculadas. Atualmente podemos
destacar duas funções na aplicação da técnica. Uma se refere à verificação de hipóteses e/ou
32

questões. Ou seja, através da análise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as


questões formuladas e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes
do trabalho de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta do que está
por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado.
As duas funções podem, na prática, se complementar e podem ser aplicadas a partir de
princípios da pesquisa quantitativa ou da qualitativa” (p. 74 e 75).

Referência: MINAYO, M. C. S.; DESLANDES, S. F. Pesquisa social: teoria, método


e criatividade. 22ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 9-50 (capítulos 1 e 2). Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/franciscovargas/files/2012/11/pesquisa-social.pdf

Você também pode gostar