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comportamento operante:
uma bibliografia ilustrada
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-68471-1
23-153972 CDD-150
Índices para catálogo sistemático:
1
Sobre o autor
2
Sumário
Prefácio..................................................................................................................................4
Apresentação.........................................................................................................................6
Capítulo 1 – Aprendizagem em abelhas: determinantes locais...........................................17
Classificação de abelhas.............................................................................................21
Teoria do reforço e a classificação de abelhas............................................................25
Capítulo 2 – Aprendizagem e evolução...............................................................................30
A questão da resposta.................................................................................................31
Classificação comportamental....................................................................................38
Capítulo 3 – Princípios básicos de análise do comportamento..........................................46
Condicionamento e Modelagem..................................................................................47
Reforço contínuo.........................................................................................................51
Extinção.......................................................................................................................52
Razão fixa....................................................................................................................55
Discriminação..............................................................................................................57
Inversão de discriminação...........................................................................................61
Encadeamento.............................................................................................................63
Punição........................................................................................................................67
Discriminação condicional...........................................................................................70
Capítulo 4 – Determinantes teórico-filosóficos para pesquisa operante com abelhas: uma
leitura bibliográfica...............................................................................................................73
Capítulo 5: Bibliografia Ilustrada..........................................................................................77
Capítulo 6 – Comentários post-scriptum sobre abelhas, comportamento operante e
psicologia no Brasil..............................................................................................................87
Referências..........................................................................................................................95
3
Prefácio
4
e distante das limitações da Skinner box. Esse livro resume serenamente o
que se poderia chamar de ABC, ou seja, Análise Brasileira do
Comportamento. E a forma de publicá-lo, como e-book, também mostra
uma superação do velho sistema de ensino.
Parabéns ao autor!
Isaias Pessotti
01/08/2023
5
Apresentação
6
Mas fato é que, em 1961, foi divulgado no Brasil um novo sistema de
comportamento que se desenvolvia desde a década de 1930 nos Estados
Unidos (Keller, 1962a; 1962b). Em aulas proferidas na Universidade de São
Paulo e em eventos científicos nacionais, como na XII Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), por exemplo,
falou-se neste sistema como “Teoria do Reforço”:
“ q u e r e n d o s i g n i fic a r p o r t e o r i a ,
simplesmente, uma coleção de fatos
organizados de maneira a facilitar uma
reformulação clara do comportamento do
homem e de alguns de seus parentes
sub-humanos” (Keller, 1962a, p. 11).
7
Instruction (PSI), Terapia Comportamental, Modificação do
Comportamento, começassem a fazer parte do vocabulário científico no
país.
(cf. Alves, et al, 2020; Cândido, 2017; Guedes et al, 2008; Matos, 1998, Todorov & Hanna, 2010, Torres,
Cândido & Miranda, 2020).
8
O que eles conheciam
O que já havia
sobre Psicologia e
sido publicado?
Ciência?
Quais Quais
autores eles métodos eram
citavam? utilizavam?
9
O texto que você começa a ler agora apresenta reflexões sobre tais
perguntas.
10
O resultado deste percurso gerou olhares sobre as publicações de Bori
ocorridas até 1962 (Cândido e Massimi, 2012), o desenvolvimento de uma
cultura científica (Cândido, 2014), o conceito de Ciência e Psicologia nas
obras de Bori publicadas nas décadas de 1950 e 1960 (Cândido e Massimi,
2016) e o e-book chamado “Obra comentada de Carolina Martuscelli Bori”,
ilustrado com recortes de sua bibliografia (Cândido, 2020).
11
do processo de abertura de condições para a pesquisa experimental em
Psicologia no Brasil.
(e.g. Centofanti, 2002; Centofanti & Tomasini, 2014; Fonseca, Rosa & Ferreira; Lourenço Filho, 1971)
12
O segundo objetivo, ligado ao trabalho arquivístico:
VI. Por fim, o capítulo 6 fecha o e-book com reflexões sobre Ciência,
Psicologia e Cultura.
13
Todo o conteúdo apresentados está ilustrada com imagens de arquivo
pessoal cedidas por Isaias Pessotti.
Espera-se que, com isso, você não só aprenda sobre parte da história da
Psicologia e da Análise do Comportamento no Brasil, mas desenvolva
raciocínio crítico para avaliar inovações tecnológicas.
Boa leitura,
Gabriel Vieira Cândido
Referências
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behaviorismo radical ao ecletismo teórico: A recepção da Terapia
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14
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da Análise do Comportamento no Brasil. Perspectivas em Análise do
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16
Capítulo 1 – Aprendizagem em
abelhas: determinantes locais
“Sabe-se que numa situação experimental atua sobre o
organismo uma multidão de estímulos. Sabe-se também
que existem dentro do organismo condições identificáveis
e não identificáveis que podem influir na resposta ou
respostas que nos interessam. O procedimento
experimental básico consiste em manter todos os
estímulos constantes, exceto um, que manipulamos ou
fazemos variar conforme a situação exigir. Se pudermos
mostrar que a resposta varia de uma maneira sistemática
em relação à variação dos estímulos, teremos
estabelecido um fator causal de um fenômeno
psicológico. Sabemos que o experimento requer que
somente duas variáveis sejam estudadas por vez; uma, a
variável dependente que é medida com o intuito de
determinar se sua variação é função da variação da outra,
a variável independente” (Bori, 1952/1953, pp. 9-10).
17
a Psicologia começa a ganhar sua autonomia (e.g. Antunes, 2007; Araújo,
2013; Massimi, 2016).
18
Até a década de 1950, a formação em Psicologia se dava a partir da
formação em outros campos do conhecimento, sendo necessário ao
futuro psicólogo buscar capacitação profissional específica de
psicólogo em outros países ou se formar no Brasil em instituições com
professores de Psicologia que vinham de outros países.
19
A Psicologia Experimental ganhava força no Brasil desde a
primeira metade do século XX, principalmente subsidiando o
trabalho do pedagogo. Foi pela experimentação que Pessotti se
deparou com a possibilidade de assumir o comportamento como
objeto de estudos.
Fred S. Keller
20
Classificação de abelhas
A classificação de abelhas foi uma preocupação que direcionou boa
parte das pesquisas aqui analisadas. Mas o interesse em usar dados
comportamentais como critério de classificação de espécies de abelhas
surgiu da relação de trabalho com Warwick Kerr (1922 – 2018), um
geneticista que se propôs a classificar as diferentes espécies de abelhas do
ponto de vista evolutivo. Ele é autor de uma árvore filogenética na qual
eram distribuídas espécies e subespécies segundo graus de evolução,
avaliados segundo critérios anatômicos, morfológicos e etológicos.
(e.g. Kerr & Laidlaw, 1956; Lindauer & Kerr, 1960; Kerr, 1960).
21
U m a i m p o r t a n t e re f e r ê n c i a t e ó r i c a d o s t r a b a l h o s s o b re
comportamento operante em abelhas foi a classificação de abelhas feita
por Kerr e Esch (1965) a partir do padrão de comunicação que elas
estabelecem entre si:
22
Figura 1
23
Neste contexto da genética de abelhas no Brasil, surge a possibilidade
de um “teste de inteligência” para abelhas, que seria usada na construção
de uma nova classificação evolutiva de abelhas usando um critério não
biológico, com dados provenientes de estudos vinculados à Psicologia.
Neste sentido, a Psicologia estava sendo solicitada a contribuir para
problemas do campo da genética.
24
A Teoria do Reforço e a classificação de
abelhas
Sem abordar a definição de inteligência ou mesmo a noção de
aprendizagem, os trabalhos que visavam uma classificação hierárquica de
espécies de abelhas confrontaram as espécies segundo índices de
aprendizagem de um comportamento. Ou seja, espécies de abelhas que
aprendessem uma discriminação simples mais rapidamente, assim como
atingissem critérios de extinção desta discriminação mais rapidamente,
poderiam ser consideradas mais inteligentes (ou receber notas mais altas)
do que as que levavam mais tempo para aprendizagem e extinção de
discriminação. As abelhas mais rápidas poderiam ser consideradas
mais evoluídas. Assim, poderiam ser incluídos critérios como rapidez na
aprendizagem de uma discriminação simples e extinção da discriminação
para reelaborar uma análise comparativa das espécies de acordo com
critérios de classificação “comportamental” e “não comportamental”.
25
Pode-se organizar o trabalho aqui analisado em dois grandes
subprojetos. Esta afirmação pode ser feita com base nos problemas de
pesquisa e variáveis manipuladas. Como será abordado nos capítulos
seguintes, em um dos subprojetos (Cap. 2), optou-se por confrontar
diferentes critérios de classificação evolutiva de abelhas e resultados de
aprendizagem e extinção de um processo comportamental de
discriminação. No outro subprojeto (Cap. 3), o problema da classificação
genética por critérios comportamentais não se faz presente e o foco recai
sobre o próprio desempenho operante de abelhas submetidas à
diferentes contingências como as
de modelagem,
de esquemas de reforçamento,
de extinção,
de encadeamento de respostas,
de inversão de discriminação,
de punição, e
de discriminação condicional.
26
Em pesquisa experimental, as variáveis são partes de um fenômeno a
que se busca conhecer.
Em um dos subprojetos,
No outro subprojeto,
27
incluídos neste subprojeto, uma vez que se aplicou procedimentos de
discriminação e de extinção de discriminação.
28
Figura 2
29
Capítulo 2 – Aprendizagem e
evolução
A questão dos aparelhos experimentais em laboratórios de Psicologia
é um tema relevante por, pelo menos, dois fatores:
30
da aprendizagem e da extinção desta exata resposta. Destaca-se, também,
as classificações evolutivas apresentadas.
A questão da resposta
Um ponto de partida em qualquer trabalho comportamental é a definição
da resposta com a qual está trabalhando. Em uma pesquisa experimental,
esta definição implica
31
A definição da resposta
discriminação da posição.
32
Figura 3
Primeiro Equipamento
Construído
33
Figura 4
Nota: A primeira imagem é um esquema do aparelho. Legenda: (1) Peça para discriminação; (2) tampa
onde se apresenta o reforço; (3) base do aparelho; (B) duas bandejas de cor azul e amarelo; (b) botão
para trocar as posições das bandejas; (F) furos que delimitam a área de pouso; (A) orifícios onde o
reforço é apresentado; (T) alimentador; (C) botão de comando do alimentador; e (P) botão de
regulagem da altura a que se eleva o alimento. A segunda imagem é o aparelho com os estímulos
“Azul” e “Amarelo” e uma abelho sobre a área de pouso do estímulo “Azul”.
34
Os dados coletados foram organizados de modo a permitir a
comparação entre total de tentativas necessárias para cada espécie
estabelecer uma discriminação (Pessotti, 1967a; Pessotti, 1967b).
Figura 5
35
Considerou-se a Resposta de pressão à barra como mais precisa do
ponto de vista experimental do que a resposta de pouso seguida de sucção
do reforço:
36
O segundo modelo está na Figura 6:
Figura 6:
37
Classificação comportamental
Como já mencionado anteriormente, os estudos sobre aprendizagem
em abelhas surgiram do interesse em compreender diferenças
inter-espécies existente no processo de aprendizagem de uma
discriminação e extinção de uma resposta. Pode-se dizer que registravam
respostas durante um mesmo procedimento comportamental,
enquanto variavam as espécies de abelhas. Em seguida, de posse dos
registros, poderiam comparar médias de respostas que cada espécie
apresentava.
38
Procedimento
Modelagem
Condicionamento
Aquisição
Extinção
a) Removia-se o alimento que até então estivera acessível sob a bandeja de cor
SD; b) registravam-se as respostas e outras atividades do S em cada minuto; c)
após um período de 20 minutos sem resposta, encerrava-se o trabalho referente a
uma abelha.
39
Os dados analisados visavam comparar acertos, erros e tempo de
aprendizagem e extinção da aprendizagem de diferentes espécies.
Tabela 1
Média de sub-especie (ligustica) 6.75 7.75 8.25 9.5 9.75 9.75 10.0 10.0
Média de sub-especie (mellifera) 5.25 7.0 8.5 9.0 9.75 10.0 10.0 10.0
alfa (adansonii) 5.5 9.0 9.5 10.0 10.0 10.0 10.0 10.0
beta (adansonii) 4.5 5.0 5.0 5.0 5.0 5.5 5.5 5.0
Média de sub-especie (adansoni) 5.0 7.0 7.25 7.5 7.5 7.75 7.5 7.5
40
O desempenho em discriminação e extinção de discriminação em
abelhas também foi avaliada em relação à 3 pares de estímulos diferentes
(amarelo/azul; claro/escuro; e formas geométricas quadrado/estrela), como
se vê na Tabela 2.
Tabela 2
41
A primeira comparação e classificação encontrada foi publicada em
1967 e está apresentada na Figura 7.
42
Figura 7
Nota: Confronto entre duas classificações de 4 grupos de abelhas. Uma das classificações é
baseada em medidas de aprendizagem (coluna B) e outra em vários critérios biológicos
combinados (coluna C). A coluna A mostra a ordem atribuída a três subespécies de Apis
Mellifera estudadas com procedimentos menos precisos que os relativos à coluna B.
43
Na última classificação apresentada neste projeto, o desempenho de
11 espécies de abelhas em um procedimento de discriminação simples
foi comparada e está representada na Tabela 3:
Tabela 3:
44
As diferenças encontradas no desempenho das diferentes espécies
foram atribuídas a duas variáveis distintas:
45
Capítulo 3 – Princípios básicos
de análise do comportamento
O segundo subprojeto que será aqui apresentado começou
concomitante ao primeiro. Enquanto se avaliavam critérios temporais para
a aprendizagem e a extinção de uma discriminação em diferentes
espécies de abelhas com a finalidade de propor uma classificação
filogenética, alguns processos comportamentais básicos já estavam sendo
estudados e, ao longo do tempo, novos processos comportamentais
começaram a ser aplicados às abelhas com o objetivo de conhecer o
impacto de tais processos sobre o repertório comportamental das
abelhas.
46
Condicionamento e Modelagem
Condicionamento e Modelagem são dois processos comportamentais
que produzem o aumento de frequência de resposta pela produção de
reforço, ou seja, uma resposta será selecionada pela alteração ambiental
que ela mesma produziu.
47
A modelagem foi um processo utilizado para alterar o comportamento
da abelha de tal modo que seria induzida uma direção de voo da abelha.
48
Mas na maior parte das publicações, as abelhas eram pertencentes à
uma colmeia e tinha acesso livre à natureza, mesmo nos períodos em que
a pesquisa estava acontecendo. Isto significa dizer que as abelhas que
foram sujeitos das pesquisas poderiam explorar a natureza sem nenhum
tipo de restrição. Ainda sim, com o procedimento utilizado, as abelhas
tinham alteração do padrão de comportamentos conforme procedimento
utilizado.
49
Modelagem da resposta de pressão à barra
50
Reforço contínuo
No processo de reforço contínuo, uma resposta alvo é seguida do
reforço em todas as todas as suas ocorrências. Como resultado,
percebe-se que a resposta selecionada se torna mais frequente. Pode-se
dizer que o reforço contínuo da resposta irá produzir um aumento na
frequência da resposta reforçada, quando em condições semelhantes ao
momento em que o reforço aconteceu.
Figura 9
51
Extinção
A extinção se define por uma quebra da relação entre uma resposta
e o reforço, o que significa dizer que uma resposta com reforço regular por
um certo período não mais produzirá o reforço. O efeito final deste
procedimento é a diminuição da frequência da resposta até os níveis de
frequência anteriores aos do condicionamento. No entanto, outros
efeitos também são percebidos, como respostas emocionais.
52
Figura 10
53
Posteriormente, o critério para RD: “resposta que ocorria na
considerar o fim da extinção se tornou área de pouso delimitada ao
o período de 20 min. sem emissões de centro da bandeja de cor SD”
RD (Pessotti, 1967, p. 178”)
Tabela 4
54
Razão fixa
O esquema chamado de Razão fixa (FR) é uma condição de
reforçamento em que a produção de reforço depende da ocorrência de
um número fixo de uma mesma resposta.
Figura 11
55
“A curva registra 840 respostas obtidas em uma única
sessão experimental ininterrupta de 325 minutos e a
rapidez de aquisição do comportamento característico de
R.F. (Razão fixa) não surpreende, à vista de resultados
anteriores, sobre discriminação em abelhas. A ordem
crescente das R.F. não é suficiente para explicar esse
resultado pois o efeito dela sobre a resistência deveria
favorecer a constância da frequência dado o crescimento
contínuo da razão da extinção e a variação (embora
sistemática) entre as razões fixas adotadas. Segundo esses
resultados, é possível utilizar-se um S delta de duração
equivalente a 12 respostas, após treinamento, em razões
inferiores a 12:1 em estudos ulteriores de discriminação
com SD e Sdelta sucessivos, em Mellipona semingra
merrilae”. (Pessotti, 1965, p. 99)
56
Discriminação
O procedimento de discriminação produz um operante discriminado,
que é aquele que
Na primeira fase,
1. voo da colmeia até o aparelho, onde o sujeito poderia ter acesso à água
açucarada apenas através do alimentador do aparelho. Após 20 minutos
em que a abelha estava se locomovendo até o aparelho e introduzindo a
glossa no alimentador, passa-se a ensinar
57
A segunda fase, treino de discriminação, se iniciou quando a resposta
de pressão à barra obtivesse 200 respostas. Então, apenas as pressões na
barra iluminada seriam reforçadas, enquanto pressões na barra não
iluminada não receberia reforço.
Figura 12
120
100
Total de Respostas
80 SD Sdelta
60
40
20
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
N de visitas
58
Modelagem, Reforçamento regular e Discriminação da
continua na p 60
59
continuação da p 59
60
Inversão de discriminação
61
Figura 13
62
Encadeamento
A noção de encadeamento de respostas implica em questões mais
complexas da discriminação, uma vez que significa que uma resposta
pode produzir o estímulo para uma resposta seguinte. Assim, em
laboratório, cria-se uma sequência de respostas que deve ser emitida
pelo sujeito para que um reforço possa ser apresentado.
63
Uma cadeia de 4 elos foi construída. O treino foi feito do último elo para
o primeiro, mas depois de construída a cadeia, ao pousar na caixa, a abelha
Figura 14
1 2
64
Procedimento do estudo sobre encadeamento de respostas em
abelhas
continua na p. 66
65
continuação da p. 65
Tr e c h o e x t r a d í d o d e P e s s o t t i , I . ( 1 9 6 4 - 1 9 6 5 ) , S t u d i o
Sull’incatenamento in Mellipona rufiventris, 7, pp. 2-3
66
Punição
A punição é uma técnica de controle comportamental cujo interesse
experimental comumente recai sobre a diminuição na frequência da
resposta. A aplicação deste procedimento buscou responder se a punição
seria o oposto do reforço.
67
Figura 15
Categorias:
Em outro estudo (Pessotti & Lé’Senéchal,
A: CRF com 30 reforços
1981), o mesmo procedimento foi adotado,
porém, variaram-se o número de reforços de B: CRF com 80 reforços
que as abelhas recebiam na fase de CRF e a
C: CRF com 130 reforços
intensidade do choque elétrico emitido.
68
GC: sem choque
Cada categoria continha 4 grupos: GE 1: 2,5v
GE 2: 4,0v
Grupo controle (GC), GE 1, GE 2, GE 3
GE 3: 5,5v
Figura 16
Nota: Número médio de respostas durante extinção dos grupos controle e experimentais
das categorias A (30 reforços em CRF), B (80 reforços em CRF) e C (130 reforços em
CRF). Os sujeitos dos grupos GC não receberam choque durante a extinção; para os
grupos GE1, GE2 e GE3 os choques aplicados foram de 2,5v, 4,0v e 5,5v,
respectivamente.
Fonte: Pessotti, I., Lé’Senechal, Ana. M. (1981b). Aprendizagem em Abelhas II: Efeitos da
Punição sobre a Extinção após Reforçamento Regular. Revista Brasileira de Biologia,
41(3), p.653.
69
Discriminação condicional
Discriminação condicional é um tipo de discriminação em que o reforço do
responder discriminado é dependente da presença de outras condições
estímulos. Neste sentido, a discriminação se torna dependente da presença
de outros estímulos.
Nas pesquisas com abelhas, significava que a função discriminativa dos
estímulos estímulos luz acesa e luz apagada (SD e Sdelta), estava sob controle,
de dois estímulos de referência (peças de cor azul e amarela):
70
Procedimento de discriminação condicional que se seguiu à etapa
de discriminação inicial.
71
Clique AQUI para assistir ao
procedimento de discriminação
condicional.
Tabela 4
Totais E Percentagens De Acertos E Totais De Erros Dos 10 Sujeitos Na
Presença De Amarelo, De Azul Ou De Ambas As Cores
Grupos Sujeitos % de % de % de
acertos erros acertos erros acertos erros
acertos acertos acertos
Total 897 79,8 226 842 82,1 183 1739 80,9 409
Flaminia
170 87,1 25 137 78,2 38 307 82,9 63
VII
Total 1112 87,3 161 971 83,9 186 2083 85,7 347
72
Capítulo 4 – Determinantes
teórico-filosóficos para
pesquisa operante com
abelhas: uma leitura
bibliográfica
Uma prática útil para a compreensão do desenvolvimento
científico e teórico-filosófica é a análise das referências bibliográficas
de uma obra. Acredita-se que conhecer um pouco dos trabalhos que
sustentam uma pesquisa científica ajuda a compreender as bases pelas
quais tal ciência é erguida. Neste sentido, este capítulo busca apresentar
uma compreensão do referencial teórico das pesquisas que sustentaram
as decisões de pesquisa.
73
percepção”, publicado em 1965. Este trabalho foi citado em quatro
publicações diferentes.
74
de compreender a capacidade de adaptação ao meio por meio da
aprendizagem (Bermant & Gary, 1966).
Trecho extraído de Bermant, G., & Gary, N. E. (1966). Discrimination training and reversal
in groups of honey bees. Psychonomic Science, 5(5), 179-180.
75
Todos os demais trabalhos em Análise do Comportamento citados
podem ser caracterizados como estudos experimentais sobre processos de
condicionamento operante (Reynolds, 1968) e punição (Azrin & Holz, 1961,
1963, Azrin, Holz & Hake, 1963, Church, 1963, Estes, 1944, Karsh, 1964).
Figura 17
76
Capítulo 5 - Bibliografia
Ilustrada
1. Pessotti, I. (1961-1963). Alcune misure di relazioni temporali in una
discriminazione in “Mellipona seminigra merrillae”. Rassegna di Psicologia
Generale e Clinica, 6, 1-18. (Figura 18)
Figura 18
Nota: Legenda: (A) Aparelho visto de cima e de dentro; (B) Aparelho com
cobertura, usado no condicionamento e modelagem. (C) Aparelho completo
com pratos coloridos, usados nas fases de discriminação e extinção
77
2. Pessotti, I. (1964). Estudo sobre aprendizagem e extinção de uma
discriminação em Apis mellifera. Jornal Brasileiro de Psicologia, 1(1),
77-93. (Figura 19)
Figura 19
78
3. Pessotti, I. (1965a). Algumas Medidas de Relações Temporais em uma
Discriminação em Mellipona seminigra merrilae. Jornal Brasileiro de
Psicologia, 2(1), 11-25. (Tabela 5).
Tabela 5
N.
Abelhas N R Freq. Dem.
T.A. RD N RE T.E.
D
delta R Freq.
finais
79
4. Pessotti, I. (1965b). Condicionamento de Respostas sob Diferentes
Razões Fixas sucessivas em Mellipona Seminigra Merrilae. Jornal Brasileiro
de Psicologia, 1(2), 97-100.
Figura 20
Legenda:
1) Introduzir a glossa no
orifício onde o reforço era
liberado (R1).
80
7. Traina, F., Pessotti, I. (1964-1965a). Esperienze di Discriminazione e di
Estinzione di un Comportamento Operante in Ape Nera di Sicilia.
Rassegna di Psicologia Generale e Clinica, 3, 1-12. (Figura 21)
Figura 21
81
Figura 22
82
14. Pessotti, I. (1970). Condizionamento Alla Risposta “Pressione su una
Leva” con riforzo continuo in un’ape. Annali di Psicologia, 1, 11-18
(Figura 23).
Figura 23
83
15. Pessotti, I. (1971). Come Apprendono le Api. Le Scienze, 33(6), 11-21.
Figura 24:
Fonte:
Arquivo Pessoal
84
18. Pessotti, I., Lé’Senechal, Ana. M. (1981b). Aprendizagem em Abelhas II:
Efeitos da Punição sobre a Extinção após Reforçamento Regular. Revista
Brasileira de Biologia, 41(3), 649-654.
Figura 25
Discriminação Entre
Formas Onde SD É
Quadrado
85
Figura 26
86
Capítulo 6 – Comentários
post-scriptum sobre abelhas,
comportamento operante e
Psicologia no Brasil
Todo ser vivo, ao nascer, vem com um repertório de comportamentos
básicos para uma interação inicial com o ambiente que garantirá a sua
sobrevivência. A evolução biológica capacita um organismo a se alimentar e
buscar proteção, por exemplo, sem precisar levar tempo para a aprendizagem.
No entanto, durante o tempo de vida deste organismo, ele precisará lidar com
um ambiente em constante mudança, com alterações bruscas de
temperatura, escassez de alimento, etc. Ao longo da vida, todo organismo
precisará adquirir novas habilidades em um mundo hostil para garantir a
sua sobrevivência, reproduzir e contribuir com a sobrevivência da própria
espécie.
No caso das abelhas, elas aprenderiam a buscar alimento em
local mais próximo ou seguro, se arriscando menos às
intempéries da natureza. Hipoteticamente, ao percorrer
longas distâncias, elas aumentariam as chances de se
tornarem presas de algum predador ou mesmo sofrerem com
a ação do homem. Se tiverem a capacidade de aprender
novos comportamentos, as abelhas teriam a capacidade de se
adaptar à novas características ambientais, aumentando as
chances de sobrevivência e perpetuação da espécie.
87
O comportamento operante, neste sentido, é um mecanismo de
adaptação, produto da evolução das espécies, que aumenta as chances
de sobrevivência de um organismo diante das mudanças ambientais que
ocorrem ao longo do seu tempo de vida. Todos os princípios comportamentais
estudados pela Análise Experimental do Comportamento entendem a
aprendizagem como um mecanismo de adaptação de um organismo ao
ambiente.
88
Todas as situações experimentais propostas
eram, também, replicações dos
procedimentos utilizados na disciplina
“Psicologia animal e comparada”, de 1961,
quando a Análise Experimental do
Comportamento, com práticas de
laboratório, foi apresentada no Brasil. Usava-se
água como reforço e luzes como estímulo
discriminativo, apresentados através das caixas de
Skinner que construíram para esta disciplina. O
sujeito experimental submetidos aos procedimentos
experimentais nestas aulas eram ratos.
89
Nas pesquisas em que os sujeitos experimentais são ratos, por exemplo,
é necessário haver a privação da água para que ela possa funcionar como
reforço. É a privação de água que vai estabelecer a função reforçadora da
água. E durante a sessão experimental, na medida em que o rato vai
consumindo água, ela (a água) perde sua função reforçadora. Com esta
condição, a resposta de pressão à barra tende a reduzir de frequência.
Figura 18
90
Metaforicamente, é como se a abelha fosse com um balde até a fonte de
água açucarada (aparelho experimental), enchesse o balde e levasse até a
colmeia; em seguida, ela retornasse com o balde à fonte de água açucarada,
enchesse novamente e retornasse até a colmeia.
91
Do ponto de vista pessoal, esta linha de pesquisa garantiu condições de
trabalho e renda para um pesquisador de uma área que começava a dar
seus primeiros passos na direção de uma autonomia profissional.
92
Os capítulos anteriores propõem uma organização (reconhecidamente
arbitrárias) das informações contidas em revistas científicas disponíveis
naquela época. Hoje, muitas foram descontinuadas há muitos anos e, até
então, não se existia uma organização desta linha de pesquisa e estes
trabalham não estavam facilmente acessíveis.
93
O que se defende neste e-book é que a história da ciência é
a busca de cientistas locais em produzir conhecimento que
auxilie no enfrentamento das demandas com as quais estes
cientistas lidam. A compreensão do conteúdo ensinado,
assim como a sua aplicação, é, necessariamente, impactada
pelo ambiente imediato que estabelece condições (ou
demandas) para a sobrevivência e perpetuação de um
grupo.
94
Referências
95
1950 e 1960. Revista Argentina de Ciencias del Comportamiento, 8(2),
30-38.
Kerr, W. E., & Laidlaw Jr, H. H. (1956). General genetics of bees. Advances in
Genetics, 8, 109-153.
96
Moure, J. S., & Kerr, W. E. (1950). Sugestões para a modificação da
sistemática do gênero. Melipona Dusenia, 1(2), 105-129.
von Frisch, K. (1950). Bees: Their Vision, Chemical Senses, and Language.
Ithaca, New York.
Von Frisch, K. (1955). The dancing bees. New York: Harcourt, Brace.
97