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Terapia Analítico-Comportamental:

Reflexões sobre a sistematização de uma prática

“Assim como o comportamento de um organismo é uma função de sua história (e.g.,


selecionado via sua história de reforçamento), assim também é a atividade de uma
disciplina científica, isto é a história do comportamento dos cientistas” (Morris, Todd,
Midgley, Schneider e Johnson , 1990, p. 427)

“O comportamento de conhecer é o comportamento de descrever contingências e o


produto desse comportamento – o conhecimento científico produzido – pode ser, então,
identificado como uma regra construída pelo cientista. É importante lembrar que a
descrição da contingência só se transforma em regra se e quando operar como condição
antecedente para a ação de outra pessoa ou do próprio cientista, ou seja, o conhecimento
só existe de maneira significativa enquanto puder operar como condição antecedente para
ação” (Andery, Micheletto, Sério, 2000, p. 140)

“Se a argumentação até aqui desenvolvida tem algum sentido, fazer história da Análise
do Comportamento envolve fazer a história dos comportamentos dos cientistas e a história
das práticas das comunidades envolvidas com a produção de conhecimento” (Andery,
Micheletto, Sério, 2000, p. 139)

A Terapia Comportamental é uma modalidade de intervenção clínica que tem sua


origem reconhecida como a década de 1950. Estudos recentes apontam que sua origem
estava ligada ao trabalho de diferentes pesquisadores que se fundamentavam em aspectos
conceituais distintos. No entanto, ao longo da década de 1960 e 1970, a Terapia
comportamental se consolidou como um conjunto de propostas de intervenção clínica que
se fundamentava em princípios comportamentais estabelecidos em laboratórios e o ataque
às terapias psicodinâmicas. Krasner (1971), por exemplo, afirmou que:
o fator unificador na terapia comportamental é sua base derivada de
procedimentos e princiṕ ios estabelecidos experimentalmente. A experimentaçaõ
especif́ ica varia muito, mas tem em comum todos os atributos da investigaçaõ
cientif́ ica, incluindo o controle de variáveis, apresentaçaõ de dados,
replicabilidade e uma visaõ probabilística do comportamento (p. 457-458).

O editorial do primeiro volume da revista Behavior Therapy define Terapia


comportamental como
uma abordagem na qual a análise do problema clínico baseia-se fortemente sobre
o que é diretamente observável e, pelo menos em princípio, mensurável – o
comportamento do paciente. É uma análise funcional no sentido em que variáveis
das quais o comportamento do paciente é função são identificadas. O tratamento
envolve manipulação sistemática dessas variáveis – físicas, psicológicas e sociais
– pra efetuar a mudança terapêutica. Tanto a análise do status clínico do paciente
quanto dos procedimentos que são empregados para trazer mudança favorável
fazem uso dos princípios de aprendizagem que tem sido amplamente invocados
do laboratório de psicologia experimental. (Franks & Brady, 1970, p. 1)

Vale frisar que os diferentes behaviorismos contribuíram para o surgimento da


Terapia Comportamental. Entre eles, destacam-se o behaviorismo metodológico de J. B.
Watson, o behaviorismo cognitivista de E. C. Tolman, o behaviorismo fisiológico de C.
Hull e o behaviorismo radical de B. F. Skinner. E desde então, a diferença teórica já
existente no começo da terapia comportamental se expande.
É possível identificar na própria literatura da área que diferentes pesquisadores,
proponentes de modelos de intervenção consideram a origem teórica de suas intervenções
no modelo da Terapia Comportamental (e.g. Terapia Cognitivo-Comportamental, ACT,
DBT, FAP, entre outros).

O modelo proposto pela Terapia Comportamental é que todos os conceitos e


procedimentos utilizados deveriam ser avaliados experimentalmente. Como resultado, os
terapeutas focaram suas práticas mais nos procedimentos da ciência do que nos problemas
clínicos apresentados pelos clientes. Esta característica foi comentada por diversos
autores (e.g. Ferster – transition from lab to clinic, Hayes (ondas...) Beck, ...)
Desde o início da Terapia comportamental, uma das críticas que recebeu se refere
exatamente à preocupação dos terapeutas em aplicar as ferramentas validadas,
“adaptando o problema do cliente às características da técnica”.

Muitas mudanças aconteceram no cenário da Psicoterapia. Novos modelos


surgiram, muitas pesquisas foram feitas, percebeu-se, cada vez mais, uma preocupação
em compreender o sofrimento subjetivo do cliente e o tema da relação terapeuta-cliente
recebeu atenção dos terapeutas e pesquisadores.
Ao mesmo tempo, a preocupação científica presente na Terapia Comportamental
continuou dando diretrizes para a pesquisa clínica. Existem diversas nomenclaturas para
as terapias que reconhecem influência da terapia comportamental. Não é incomum se
falar nas diferentes ondas da história da Terapia Comportamental (referências).
Pavan-Cândido (2019) apresentou um banco de artigos que contém artigos, livros
e capítulos de livros publicados a partir de 1953 que contém a divulgação de

caracteriś ticas das terapias de base comportamental e/ou cognitiva nos diferentes
momentos históricos, as diferentes nomenclaturas atribuídas a estas terapias, as
diferentes definições apresentadas pelos autores da área, as aproximações e
divergências entre as diversas propostas, além dos acontecimentos internos e
externos à área que foram encaminhando as mudanças ocorridas nas teorias e
práticas relatadas (p. 54).

Este banco de dados é formado por artigos publicados em inglês e em português.


No total (XXXXX) documentos foram catalogados, contendo (XXX) nomenclaturas para
terapias de base comportamental e/ou cognitiva foram identificadas, a saber:

Tais dados apontam para um constante trabalho de elaboração de modelos de


intervenção, que se sucedem, aumentando a dispersão/possibilidades de intervenção dos
terapeutas. Diante de tais dados, uma pergunta pode ser feita: Quem decide o que uma
terapia deve ser?
Esta questão se torna ainda mais relevante quando consideramos fatores
culturais/externalistas da construção da ciência.
TC: área de aplicação diversa teórico e metodologicamente
N de definições de áreas
N de artigos
Modelo teórico
Importação de um modelo teórico

Referências

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