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estereótipos em relação a
alunos de psicologia num
campus un'iversitário

MARIA HELENA M. FERREIRA e AROLDO RODRIGUES *

Com o advento da comunicação em massa, as imagens preconce-


bidas e as generalizações indevidas, em relação a pessoas ou grupos, têm
sIdo retorçadas. Uma vez que se tornem suficientemente popularizadas, es-
sas Imagens adquirem existência autônoma. Muitos não se preocupam em
saber se tal ou qual imagem realmente ~e ajusta ao grupo ou às pessoas
em causa, nem procuram contrastá-la com a situação real. O mito torna-se
uma realidade, e a realidade, uma exceção.

Muitos estudos têm sido feitos em relação a imagens estereotipa-


das e preconceituosas. Na maioria, preocuparam-se com estereótipos e
preconceitos reterentes a grupos nacionais ou raciais. Entre tais estudos
podemos citar os de Bogardus (1950), Katz e Braly (1933), Gilbert
(1951), em relação a preconceitos e estereótipos nacionais e raciais, leva-
dos a efeito em diferentes regiões dos Estados Unidos, e os de Frankel-
Brunswik, Levinson e Sanford (1958) sôbre atitudes anti-semitas, bem
como os de Deu tsch e Collins (1951) sôbre segregação racial.

Numa linha já mais próxima à do presente estudo, encontramos


os trabalhos sôbre estereótipos relativos a grupos profissionais e ocupacio-

'i!<) Da Universidade Católica do Rio de Janeiro. Dep. de PSicologia


10 ALUNOS DE PSICOLOGIA A.B.P./2/68

11<115. Dentre <':ks, deter-nas-emas em duas pe'CJuisas que parecem interes-

santes para o problema específico em que estam()~ interessados: a de Da-


vidson, Riesman e Meyers (1962) sôbre ;cs características de personalidade
atrIbuídas aos membros de diferentes grupos ocupacionais e sôbre a in-
fluência do "stalus" ocupacional, alto ou baixo, na formação de estereóti-
pos; e a de Braum (1962), sôbre estereótipos relativos às características
de personalidade dos cientistas e homens de negócio.

De tais estudos podem tirar-se as seguintes conclusões gerais:

a) existem categorizações mais ou menos uniformes, em relação


aos diferentes grupos ocupacionais;

b) êsses grupos, além das divisões que lhes são inerentes por
suas atividades próprias, separam-se em duas classes diferentemente ava-
liadas: profissões de baixo stat1ls, ,naliaclas mais negativamente, e profis-
sões de alto stat1ls, avaliadas mais positivamente;

c) dentro do mesmo status, há uma separação entre indivíduos


do ramo da ciência e do ramo dos negócios; sendo que o homem ele ne-
gócio é visto como mais atiyo e pragmático e o cientista, como mais con-
templativo e teórico.

A formaçiio de um e,tereótipo é influenciada ainda por outrm,


elementos. Os estudos de Newcomb (1%8) e de KeIley (1952), sôbrt:
grupos de referência, permitem inferir a sua influencia informativa e
normativa para a formação elo estereótipo. O problema ela percepção
social é também relevante elo assunto que aqui nos ocupa. No trabalho
de Bruner (19.57), vemos que a percepção envolve um ato de categoriza.
ção, dependente de nossa experiência, participação na cultura e, ainda,
de nossas necessielade~.
Finalmente, em relação específica ao problema central do pre·-
sente trabalho - existência ele estereótipos relativos a estudantes de psico-
logia - convém citar o estudo ele Mmray (1962), que diz respeito ao
estereótipo diferencial entre psicólogos e psiquiatras. Eis algumas das con.-
clusões ele tal estudo:

a) () ps!cólogo não é visto como cientista;


b) o psicólogo é visto como aquêle que mede e especula; poucas
vêzes é visto como pessoa que ajuda em práticas privadas, mas, sim, em
trabalhos com grupos ele estudantes e trabalhadores.
A.B.P./2/63 ALUNOS DE PSICOLOGIA 11

o trabalho empu'lco, que passaremos agora a descrever em de-


talhe. foi diretamente inspirado pelo estudo de Katz e Braly (1933), re-
tomado mais tarde por Gilbert (1951). Tais autores apresentaram uma
llsta de 84 adjetivos a 100 estudantes da Universidade de Princeton, soli-
citando-lhes escolhessem aquêles traços que consideravam como mais ca-
racterísticos de 10 grupos nacionais e raciais. Foram selecionados os adje-
tivos mais freqüentemente indicados para cada grupo, e nova amostra de
estudantes foi depois utilizada na tarefa de atribuir adjetivos aos vários
grupos nacional~ e raciais, notando-se uma considerável concordância na
atribuição dêsses qualificativos aos diferentes grupos.

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Sendo a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro com·


posta de diversas faculdades, cujos estudantes se acham em constante inte-
ração, pareceu-nos interessante estudar a possÍwl existência de estereóti-
pos entre os estudantes das várias unidades do camPlls universitário. Como
a autora principal dêste artigo é aluna dessa Universidade há três anos,
teve a oportunidade de observar que há uma certa segregação entre os
grupos de estudantes das diversas unidades universitárias. Além disso, foi
também por ela notado que uns grupos tendem a enquadrar os outros em
categorias e classificações. Não raro se ouvem exclamações e comentários
da seguinte natureza: "As filósofas? São espera-maridos!" Caso aconteça
algum comportamento "estranho" no campus, os comentários seguintes
logo se fazem ouvir: "Só podem ser os psicólogos; são meio maluqui-
nhos ... " Ocorrendo alguma arruaça, logo se ouve a afirmação: "isto é
coisa dos engenheiros!"

Resolvemos então pesquisar quão generalizada é, no campus Ulll-


versitário da PUC do Rio de Janeiro, tal tendência à estereotipia e cate-
gorização, No presente trabalho, relataremos apenas os remltados obtidos
em relação à existência de estereótipos dirigidos aos estudantes ele psico-
logia. Em pesquisa conduzida pelo autor sccunclúrio elo presente artigo,
10ram coletados dados relatÍYos aos demais grupos Ilniycrsicírios ela PUCj
RJ e t,dyez sejam relatados em publicação posterior.

A hipótese submetida a teste empírico, na pesqu;sa que estamos


relatando, foi a seguinte: "Há um estereótipo em relação aos estudantes
de Psicologia da PUC jRJ, sendo êle de característica predominantemente
negativa",
12 ALUNOS DE PSICOLOGIA A.B.I ./2/€S

A rationale para antecipar-se à natureza negativa do estereótipo


possivelmente existente, fundamenta-se no fato de ser a psicologia uma
ciência nova, ainda sem total aceitação, muito deturpada em suas cara·c-
terísticas, métodos e finalidades, por pessoas inescrupulosas e mal forma-
das; em suma, a psicologia ainda não conseguiu mostrar ao grande pú-
blico resultados positivos incontestáveis.

Estereótipo foi um têrmo introduzido por Walter Lippmann.


Está baseado em informações categoriais que temos de pessoas integrantes
de certos grupos. É a atribuição a todos os integrantes de um grupo, de
características encontradas em alguns membros de grupo. Consiste numa
categorização uniforme de determinados grupos, discrepante das caracte-
rísticas reais.

PROCEDIMENTO

a) Sujeitos

Ao tempo em que a presente pesquisa foi conduzida, 1966, a


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro não havia ainda so-
frido a modificação que agora apresenta em sua estrutura. Em vez do
sistema de departamentos filiados a Centros, vigorava o sistema tradi-
CIOnal brasileiro de várias faculdades. A Faculdade de Engenharia
contava então 1.226 alunos, a de Direito 310, o Instituto de Física
70, a Escola de Sociologia e Política 220, o curso de Psicologia 207, o de
Jornalismo 113 e os demais cursos integrantes da Faculdade de Filosofia,
454. Uma amostra aleatória sistemática foi utilizada, procedendo-se da
seguinte maneira. Foi sorteado um número de I a 8, o qual serviu de
base para a determinação do primeiro aluno da lista alfabética, forne-
cido pela Secretaria de cada um dos cursos acima citados, selecionando-se
posteriormente o oitavo aluno seguinte de cada lista. Assim, obtivemos
pouco mais de 10% do corpo discente da PUC. A amostra ficou integrada
por 290 sujeitos, dos quais 118 eram de Engenharia, 40 de Direito, 9 de
Física, 28 de Sociologia e Política, 25 de Psicologia, 15 de Jornalismo e
55 de Filosofia.
Os dados fornecidos por essa amostra constam do estudo acima
mencionado conduzido pelo autor secundário dêste artigo. Para efeito da
pesquisa aqui relatada, tal amostra foi reduzida, dividindo-se por 51 o

1) Como o grupo de Física ficaria muito reduzido, decidimos conservar os três


representantes dêle.
A.B.P./2/68 ALUNOS DE PSICOLOGIA 13

número de sujeitos pertencentes a cada grupo universitário. A amostra


ficou, então, assim constituída: Engenharia, 24; Direito, 8; Física, 3; So-
ciologia, 6; Psicologia, 5; Jornalismo, 3; e Filosofia, 11, num total de 60
sujeitos. Os integrantes de cada grupo foram selecionados ao acaso, dentre
os que haviam retornado o questionário no momento em que tal processo
de redução da amostra foi aplicado.

b) Método

l.a etapa: A fim de limitarmos um pouco a grande quantidade


de adjetivos que poderiam ser aplicados aos alunos dos vários cursos, pe-
dimos a 22 alunos, representantes das várias unidades universitárias, que
escrevessem uma série de adjetivos que caracterizassem tão tipicamente
quanto possível os 7 grupos de alunos acima indicados. Foram colhidos,
através de tal procedimento, 193 adjetivos. Dêsses, conservamos 90 (ver
anexo I), os quais receberam um mínimo de duas citações.

2. a etapa: A cada sujeito da pesquisa foi entregue um conjunto


contendo: a) uma carta do Diretor do Instituto de Psicologia explicando
a finalidade da pesquisa e pedindo a colaboração do estudante; b) um
conjunto de tarefas a serem executadas, precedidas das devidas instruções.
As instruções fornecidas foram as seguintes:
1 "Você encontrará abaixo uma série de adjetivos. Nas páginas
seguintes são mencionados os vários tipos ele alunos da PUC, especifica-

I
i
dos segundo os cursos a que pertencem. Sua tarefa consiste em colocar no
espaço correspondente os 10 adjetivos, dentre os abaixo mencionados, que
!.~ melhor caractenzem os alunos ele cada grupo. Você poderá também acres-
centar outros, se necessário, para urna melhor descrição dos estudantes de
cada grupo.

j Não é preciso identificar esta fôlha, estamos apenas interessados


em que você caracterize cada grupo da maneira mais franca e autêntica
I possível. Para que êste estudo tenha real valor científico, faz-se mister que
I~ você selecione cuidadosamente os adjetivos que, em sua opinião, real-
mente melhor caracterizem os alunos de cada grupo".
I Seguia-se, então, a lista de adjetivos e, na 2. a fôlha, seguindo o
espaço deixado para a execução da primeira parte da tarefa, lia-se o
I seguinte:
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"Agora, sublinhe os 5 adjetivos em cada grupo que, em sua opi-


nião, são os mais adequados para caracterizar o grupo".

l'\a terceira lúlha, lia-se () seguinte:

"Finalmente, use os números de 1 a 7 para indicar sua prefe-


rência em relacionar-se com cada um dos sete grupos de estudantes. Colo-
que o número 1 ao lado do grupo a cujos membros você mais preferiria
relacionar-se, e o número 7 para o grupo a cujos membros você menos
preferiria relacionar-se".

RESULTADOS

Com os resultados fornecidos pelos 60 sujeitos de nossa amostra,


foi construída uma tabela ele freqüência com os cinco adjetivos que, se-
gundo a opinião de cada sujeito, melhor caracterizavam os alunos do
curso de psicolcgia_ Tal tabela acha-se reproduzida no Apêndice lI, dela
constando os 13 adjetivos mais freqüentemente apontados. Consta ainda
dessa tabela a indicação da positividade, negatividade ou neutralidade elos
adjetivos indicados. Tal avaliação é, evidentemente, subjetiva, represen-
tando a conotação a êles atribuída pelos autores dêste artigo. Dos 13 adje-
tivos apontados. 9 têm conotação positiva, 3 têm conota(;ão negativa e
1 é de conotação neu tra.
A razo;í"cl concenLr<lção em tôrno de determinados adjetivos dos
muito teóricamente atribuíveis, confirma a hipótese ele existência de um
estereótipo em relação aos alunos de psicologia. Em outras palavras, os
alunos do curso de psicologia são categorizados pelos demais alunos da
UnIversidade atra\'és de um número reduzido de adjetivos, em túrno dos
quais a Impressão que possuem dos estudantes de psicologia se concentra.
A maior porcentagem de adjetivos de conotação positiva, por outro lado,
contraria a nossa epectativa de que tal t;stereótipo seria de cadter nega-
tivo. Tal ponto, porém, requer análise mais aprofundada dos dados.
Quando consideramos a média dos resultados atribuídos aos psicólogos na
escala de I a 7, utilizada para que os sujeitos indicassem o quanto êles
gostariam de relacionar-se com cada um dos grupos de alunos considera-
dos na pesquisa (ver seção anterior relativa ao procedimento seguido),
verificamos que a média, para os psicólogos, foi ele 3,03. Como 1 indicava
o grupo com o qual os sujeitos mais desejariam relacionar-se e 7, aquêle
com o qual êles menos gostariam de associar-se, o valor 3,03 indica
uma tendência mais para o lado da vontade ele relacionar-se com estu-
II
A.B.P ./2/68 ALUNOS DE PSICOLOGIA 15 í
!
I
!
úantes de psicologia, por parte dos estudantes dos demais grupos
pesquisados.

Até aqui consideramos os le.,ultados médios. Fa/-~c mi,ter lima


,
análise mais detalhada dos resultados para que se verifique se diferentes
tendências estão sendo encobertas pelo fato de os resultados estarem sendo (
considerados de forma global ou sem discriminação mais pormenorizada.
l\tlais especificamente, conviria verificar se existe entre os sujeitos da pes-
quisa, em relação aos psicólogos, uma atitude estereotipada generalizada
no sentido acima mdicado, ou se há uma polarização de estereótipos po- 1
sitivos e negativos, com predominância dos positivos. Seria interessante
constatar se os ,<,ujeitos se dividem em dois pólos opostos - os que exibem
estereótipos positivos em relaç~lo aos psicólogos e os que exibem estereó-
tipos negativos em relação a êles - ou, se tal polarização não se verifica,
havendo, ao contrário, uma tendência a considerar os psicólogos de uma
forma não extremada, tendendo, em média, a um julgamcnto de conotação
favorável. \

Para esclarecer êsse ponto, procedemos da seguinte maneira:


tendo cada sujeito indicado, de acôrdo com as instruções, lO adjetivos que,
"I
em sua opinião, melhor caracterizavam os estudantes de psicologia, foram I
r
classificados tais adjetivos em favoráveis, de,favoráveis e neutros, de acôrdo
com o critério subjetivo j~i mencionado anteriormente. Para cada sujeito,
pois, obtivemos o número de adjetivos favoráveis, desfavoráveis e neutros,
I
que êles atribuíram aos estudantes de psicologia. Em seguida, classifica-
mos cada sujeito em favorável, neutro ou desfavor{l',el, de acôrdo com o
seguinte critério: se o sujeito indicasse fi ou mais adjetivos de conotação
tavorável, integraria êle a categoria dos favoráveis aos estudantes de psico-
logia; se inchca~se 6 ou mais de conotação negativa, integraria o grupo
dos desfavoráveis; e, se indicasse 5 adjetivos favoráveis e 5 desfavoráveis,
Ou um menor, Illas idêntico número de adjetivos fa\"or,íveis e desfavorá-
veis, sendo os adjetivos restantes de conotação neutra, integrariam o grupo
dos neutros. As~im procedendo, encontramos fi2% de sujeitos pertencentes
à categoria dos favoráveis, 28% à categoria dos desfavoráveis, e 10% à do
grupo de neutros. Tais dados parecem indicar a existência de uma polari-
zação entre os mjeitos no sentido de serem \.lU nitidamente favoráveis, ou
nitidamente desfavoráveis aos estudantes de psicologia, predominando os
que são tavor,h·eis. O grupo dos neutros é nitidamente inferior aos dois \
outros.
II
I
16 ALUNOS DE PSICOLOGIA A.B.P./2j68

CONCLUSõES E COMENTARIOS FINAIS

As anúlises relatadas na seção anterior permitem que se tirem as


seguintes conclusões:

I) Existem estereótipos em relação aos estudantes de psicologia


da PUC do Rio de Janeiro, por parte dos estudantes do campus univer-
sitário;
2) Predomina entre êsses estudante~ e~tereótipos de conotação
positiva;
3) Os estudantes do cllmjJ1/s universitúrio, no que diz respeito
aos estereótipos que exibem em relação aos estudantes de psicologia. po-
larizam-se ao longo do con tin li li m favorabilidade-desfavorabilidade de
tais estereótipos, encontrando-se apenas uma minoria que se situa nas
regiões intermediárias dêsse contillllum.

Podemos notar então que a psicologia provoca uma reação afe-


tiva nas pessoas, pois as opiniões emitidas raramente são indiferentes a
ela. Convém lembrar o que vimos na seção de resultados, ou seja, que a
mcidência de sujeitos neutros foi de apenas 6 em 60, ou seja, de 10% elos
sujeitos. É interessante também observar que um dos adjetivos mais fre-
qüentemente apontados para os psicólogos foi o desfavorável ele "Proble-
máticos", com freqüência IH, juntamente com outro adjetivo favorável
com a mesma freqüência, "Pesyuisadores".

Sem entrar em cogi ta~'ões se ê,ses adjetivos foram bem empre-


gados ou não, ~eria necess,írio investigar o porquê dêsse emprêgo. O que
normalmente se passa, no parecer geral, é que o psicólogo é capaz de
"ver" os problemas dos outros, e que está sempre analisando o compor-
tamento dos yue o cercam. bso justifica os adjetivos "observadores" e
"pesquisadores" (que podem ser explicados também pelo fato da psico-
logia estar fazendo uma pesquisa naquele momento). O adjetivo pro-
blemático seria então uma espécie de defesa: "Êle pode ver os meus pro-
blemas, mas é o primeiro a tê-los".
A predominância de eHereótipos positivos de fato surpreendeu
os autores dêste artigo. Levando-se em conta a opinião geralmente emi-
tida acêrca dos psicólogos e de sua atividade entre nós, era de esperar-se
que estereótipos ele conotação negativa predominassem mesmo para os
estudantes cle psicologia. Os resultados obtidos são, sem dúvida, lisonjei-
A.B.P.;2/68 ALUNOS DE PSICOLOGIA 17

ros e talvez conslituam um primeiro sinal da afirmação do curso ele psico-


logia como um curso procurado por pessoas sérias, capazes e de valor. Não
há dúvida de que nenhuma generalização pode ser feita a partir do pre-
~ente trabalho. Trata-se de pesquisa realizada com uma pequena amostra
em um só camPlls universitário. Seria realmente interessante que idêntica
pesquisa fôsse realizada em outros ambientes universitários, a fim de que
se pudesse ter mais certeza da generalidade dos resultados obtidos.

É também digno de destaque o fato acima mencionado refe-


rente à polarização verificada entre os estUliantes dos elemais cursos ao
se referirem aos estudantes de psicologia. Como se viu, quando os sujeito~
da pesquisa foram classificados em favoráveis, desfavodveis e neutros, em
relação aos estudantes de psicologia, a porcentagem de neutros foi de ape-
nas 10%. Tal fato nos indica que existem dois grupos bem distintos no
que tange aos estereótipos que se atribuem aos estudantes ele psicologia,
predominando, todavia, tal como foi visto anteriormente, os que atri-
buem características positivas ao grupo.

Finalmente, outro ponto lisonjeiro, para os estudantes de psico-


logia da Universidade onde se realizou a pesquisa, é o fato de terem sido
êles classificados acima da média dos escores, na escala utilizada para
determinar o desejo manifestado pelos demais grupos, de se associarem
ou não a membros do grupo integrado pelos estudantes de psicologia.

Esperemos que os achados aqui relatados venham a refletir,


quando revistos de futuro, o início de uma época de afümação da psico-
logia como um ramo sério do conhecimento e o expurgo das conotações
de charlatanismo e inescrupulosidade que, infelizmente, até muito pouco
tempo consternavam os que se têm dedicado com seriedade a êste ramo
tão difícil e tão importante do conhecimento humano.

RESUMO

A alunos de vários cursos da Pontifícia Universidade Católica


do Rio de Janeiro, pediu-se a indicação de 10 adjetivos que, na opinião
de cada estudante, melhor caracterizasse, segundo amostra representativa,
seus colegas de curso de psicologia dessa Universidade. Foi-lhes fornecida
uma lista de 90 adjetivos, previamente indicados por alunos de vários
cursos, mas foi-lhes dada a liberdade de usar de outros, não constantes
da referida lista. Os resultados mostraram que existem estereótipos em
relação aos estudantes de psicologia e que tais estereótipos são de cono-
18 ALUNOS DE PSICOLOGIA A.B.P./2/68

tação positiva para a maioria dos estudantes que integraram a amostra.


Verificou-se também que existe uma nítida polarização ao longo do
contznuum favorabilidade-desfavorabilidade de estereótipos atribuídos aos
estudantes do curso de psicologia. Quanto ao fato de quererem associar-
se aos estudantes de psicologia, a tendência é também no sentido positivo;
Isto é, na amostra pesquisada, tornou-se patente o desejo de tal associação:
na escala utilizada para aferir essa variável, o resultarIo situou-se acima
da média.

REFER~NCIAS BIBLIOGRAFICAS

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t
ANEXO I

II f
+ ou -
LISTA DOS ADJETIVOS APRESENTADA AOS SUJEITOS
= freqüência com que o adjetivo foi atribuído
conotação favorável ou desfavorável
aos alunos de Psicologia,
do adjetivo. I,
Adjetivo f conotação Adjetivo f conotação
f
I
~

1 Alienados
Ambiciosos
o
1
neutro Interessados
Intelectuais
14 I
--;-
5
Atuantes 2 Indefinidos 1
1

I
Antipáticos 3 Imaturos 2
Alegres O Inteligentes 8 -L
I
Abertos 1 Incultos O
+
I Agressivos
Angustiados
Bitolados
Bom intencionados
O
9
1
14
neutro
Idealistas
Isolados
Inobjetivos
Inseguros
18
7
3
3
1 "Boa gente"
Barulhentos
1
O
Inquietos
Indisciplinados
O
O
Conscientes + Inexpressivos

I
6 2
Compenetrados 7 -t- Individualh;tas 4
Curiosos 3 Malucos 2
I Científicos
Cultos
3
2
+, Originais
Ocupados
3
1
--;-
Competentes
Contemplativos
3
2
+ Observadores
Omissos
17
3

I Desinteres>:ados
Dedicados
Desleixados
1
10
1
+-
Oportunistas
Problemáticos
Políticos
18
1
1

neutro
I
l Desvirtuados
Despretenciosos
O
1
PesqUisadores
Pretenciosos
18
4
+
I
I +
Empolgados 6 Polítizados O neutro
R,forçados 5 -+- Práticos 2 -+-
Estudi-osos 5 Primários O
1 Elegantes 4 Preconceituais 1
Embromadores 1 Pragmatistas 1

I
E::querdistas 1 neutro "Quadrados" 1
Efeminados 1 Realistas 4
Egocêntricos 1 Racionais 2
Excêntricos 2 Reacionários 2 neutro
Egoístas O Simpáticos 3
Fofoqueiros 3 c:Snobs" 1
Folgados 1 Sofisticados 2
Frustrados 6 Superficiais 1
Fechados 6 Sociáveis 2
Fúteis 1 Simples 1
Filhinhos do papai 1 Sabichões 2
Formalistas 1 Tecnicistas O
Humanos
Inconseqüen tes
16
1
+ Teóricos
Trabalhadores
7
2
Inconscientes O Utópicüs O
Irresponsáveis O

NOTA: Os adjetivos alienados, e::querdistas, políticos, politizados e reacionanos


feram considerados neutros porque são relativos mais a quem classifica do que
ao classificado; são têrmos dúbios, ainda. O adjetivo angustiado também foi
classificado neutro porque, com o surto da corrente existencialista, sua significação
mudou em direção mais positiva.
20 ALUNOS DE PSICOLOGIA A.B.P./2/68

ANEXO 11

ADJETIVOS MAIS APONTADOS PARA OS


ALUNOS DE PSICOLOGIA

PROBLEMATICOS: (18) DEDICADOS: (10)

PESQUISADORES: (18) ANGUSTIADOS: (9)

IDEALISTAS: (18) INTELIG ENTES: (8)

OBSERVADORES: (17) TEóRICOS: (7)

HUMANOS: (16) ISOLADOS: (7)

INTERESSADOS: (14) COMPENETRADOS: (7)

BEM INTENCIONADOS (14)

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