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UNIVERSIDADE PAULISTA

DIREITO

ALANNA SOUZA PEREIRA

ENZO RAPHAEL DE FREITAS ALMEIDA

GIOVANNA GOMES DOS SANTOS SOUZA

LARISSA GREGATI

ZIDANNY LUCAS SANTOS PINTO

LIMITES CONTRATUAIS EM RELAÇÃO AOS DIREITOS DE


PERSONALIDADE

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

2023
RESUMO.

Este trabalho visa examinar a validade jurídica de um contrato celebrado por


uma jovem cantora e compositora brasileira de música pop. O referido contrato
estipula a cessão exclusiva e permanente de sua imagem a um fabricante de
instrumentos musicais até o fim de sua vida. A análise jurídica examina a legalidade
dessa cessão, considerando princípios contratuais, direitos individuais e normativas
vigentes. A pesquisa se apoia em obras de juristas renomados e jurisprudências
relevantes, proporcionando uma análise embasada sobre a matéria. O objetivo é
determinar se o contrato é válido, considerando tanto a perspectiva legal quanto as
implicações éticas e sociais da transação.

Palavras chave: Direitos de personalidade; Direitos de imagem; Contratos.


ABSTRACT.

This work aims to examine the legal validity of a contract signed by a young
Brazilian pop music singer and composer. The aforementioned contract stipulates
the exclusive and permanent transfer of her image to a musical instrument
manufacturer until the end of her life. The legal analysis examines the legality of this
assignment, considering contractual principles, individual rights and current
regulations. The research is based on works by renowned jurists and relevant case
law, providing a grounded analysis on the matter. The objective is to determine
whether the contract is valid, considering both the legal perspective and the ethical
and social implications of the transaction.

Keywords: Personality rights; Image rights; Contracts.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6

1. OS DIREITOS DE PERSONALIDADE 8

1.1 Direito ao nome 8

1.2 Direito a honra 8

1.3 Direito a imagem 9

1.4 Direito a privacidade e intimidade 9

1.5 Direito sobre o próprio corpo 9

2. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE 10

2.1 Intransmissíveis 10

2.2 Irrenunciáveis 11

2.3 Indisponibilidade 11

2.4 Imprescritibilidade 12

2.5 Originalidade 12

2.6 Extrapatrimonialidade 13

2.7 Oponibilidade 14

3. A HISTÓRIA DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE 14

3.1 Grécia antiga 14

3.2 Aristóteles 15

3.3 Idade média 16


3.4 Século XIX 16

3.5 Teoria do direito geral de personalidade de Gierke, Koehler e Huber 17

3.6 Direito romano 18

3.7 Código civil de 1916 19

3.8 Constituição de 1991 20

3.9 Código civil de 2002 21

4. DIREITO A IMAGEM 22

4.1 Lei do direito a imagem 22

4.2 Direito a imagem e dano moral 24

4.3 Hereditariedade do direito a imagem 27

5. CONTRATOS DE DIREITO A IMAGEM 28

5.1 Direito a imagem de cantores 30

5.2 Direito a imagem do de cujus 31

5.3 Direito a imagem do de cujus no Brasil 32

5.4 Contrato vitalício 34

RESOLUÇÃO DO CASO 36

BIBLIOGRAFIA 38
INTRODUÇÃO.

O universo da música pop, além de seu brilho artístico e impacto cultural, é


palco de complexas interações legais que moldam as carreiras de seus artistas.
Neste contexto, emergem questões intrincadas relacionadas ao direito de
personalidade, notadamente quando uma jovem cantora e compositora brasileira de
renome decide firmar um contrato peculiar. Este contrato, no qual ela cede, de
maneira exclusiva e permanente até sua morte, sua imagem a um fabricante de
instrumentos musicais, desencadeia uma série de indagações jurídicas que
merecem análise profunda.

O direito de personalidade, conjunto de prerrogativas inalienáveis e


essenciais à individualidade, serve como arcabouço teórico para a análise crítica
desse contrato singular. Inicialmente, contextualizaremos a essência dos direitos de
personalidade, delineando sua amplitude e influência no panorama jurídico
contemporâneo. Ao explorar o direito ao nome, à honra, à imagem, à privacidade, à
intimidade e sobre o próprio corpo, almejamos estabelecer um alicerce conceitual
robusto para a reflexão subsequente.

As características fundamentais que distinguem os direitos de personalidade


serão objeto de nossa análise aprofundada. Intransmissíveis, irrenunciáveis,
indisponíveis, imprescritíveis, originais, extrapatrimoniais e oponíveis, essas
características não apenas delineiam a natureza única desses direitos, mas também
definem os limites da autonomia individual em face das relações contratuais.

Para compreender integralmente a complexidade e a evolução dos direitos de


personalidade, recorreremos à história, traçando um percurso desde a Grécia Antiga
até as normativas contemporâneas. Das reflexões de Aristóteles sobre a importância
da individualidade na sociedade às contribuições da Teoria do Direito Geral de
Personalidade de Gierke, Koehler e Huber no século XIX, essa análise histórica
proporcionará uma compreensão abrangente dos alicerces desses direitos,
destacando marcos como o Código Civil de 1916, a Constituição de 1991 e o Código
Civil de 2002.

A seção dedicada ao direito à imagem destaca-se como ponto central desta


investigação. Analisaremos a legislação que fundamenta esse direito, explorando a
Lei do Direito à Imagem e sua relação intrínseca com casos de dano moral. A
dimensão hereditária do direito à imagem será examinada, lançando luz sobre as
implicações que essa característica pode ter nas transmissões geracionais de
direitos.

No âmbito dos contratos de direito à imagem, delinearemos os tipos


existentes, com especial enfoque nos contratos envolvendo figuras públicas, como
cantores. A análise se estenderá à proteção da imagem após a morte, considerando
as complexidades legais e éticas associadas a esse aspecto específico.

Ao abordar esses temas, nosso objetivo é fornecer não apenas uma análise
jurídica, mas também uma compreensão aprofundada das implicações sociais e
éticas envolvidas. Este estudo visa, portanto, lançar luz sobre a validade do contrato
em questão, fundamentando-se nas obras de juristas renomados e na consulta a
portais jurídicos especializados, a fim de contribuir para o entendimento desse
cenário jurídico particularmente desafiador.
1. OS DIREITOS DE PERSONALIDADE.

Os direitos de personalidade são um conjunto de direitos que protegem


aspectos fundamentais da pessoa, como a integridade física, a privacidade, a
imagem, a honra, entre outros. Esses direitos estão previstos em diversas fontes
jurídicas, como a Constituição Federal, o Código Civil e tratados internacionais de
direitos humanos. Eles garantem que cada indivíduo possa ter sua dignidade
respeitada e exerça sua autonomia de forma plena.

1.1 DIREITO AO NOME.

O direito ao nome é um dos direitos de personalidade reconhecidos pelo


ordenamento jurídico. Ele assegura que cada indivíduo tenha o direito de ser
identificado pelo seu nome, bem como de utilizá-lo e preservá-lo. Esse direito
encontra respaldo em diversas fontes jurídicas, como a Constituição Federal, que
em seu artigo 5º, inciso X, estabelece que

"são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das


pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação".

Além disso, o Código Civil também trata do direito ao nome em seus artigos
16 a 19, garantindo a proteção contra o uso indevido ou abusivo do nome por
terceiros. Tratados internacionais de direitos humanos, como a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), também
reconhecem e protegem o direito ao nome. Essas fontes jurídicas estabelecem os
fundamentos legais para a garantia e proteção do direito ao nome no âmbito do
sistema jurídico.

1.2 DIREITO A HONRA.

O livro "A Eficácia dos Direitos Fundamentais: Uma Teoria Geral dos Direitos
Fundamentais na Perspectiva Constitucional" , de Ingo Wolfgang Sarlet, aborda o
direito à honra como um dos direitos fundamentais protegidos pelo ordenamento
jurídico brasileiro. O autor destaca que a honra é um valor intrínseco à pessoa e
deve ser preservada e respeitada. O direito à honra abrange a proteção contra
ofensas e agressões que possam atingir a reputação, a imagem e a dignidade da
pessoa. Sarlet ressalta a importância desse direito na promoção da dignidade
humana e na construção de uma sociedade justa e igualitária. A obra oferece uma
análise aprofundada sobre o tema, embasada em doutrinas e jurisprudências
relevantes.

1.3 DIREITO A IMAGEM.

A jurista brasileira Maria Helena Diniz aborda o direito à imagem como um


dos direitos fundamentais do indivíduo. A autora destaca que a imagem é um
atributo essencial da personalidade e deve ser protegida contra usos indevidos e
violações. O direito à imagem abrange tanto a imagem física quanto a imagem
moral, resguardando a privacidade e a intimidade das pessoas. Suas obras discutem
os limites desse direito, considerando aspectos como a liberdade de expressão e o
interesse público. Sarlet ressalta a importância desse direito na construção de uma
sociedade que valoriza a individualidade e o respeito à dignidade humana.

1.4 DIREITO A PRIVACIDADE E A INTIMIDADE.

O jurista brasileiro Gustavo Tepedino aborda o direito à privacidade e


intimidade como direitos fundamentais protegidos pelo ordenamento jurídico. Ele
destaca que esses direitos são essenciais para a autonomia e dignidade da pessoa,
permitindo que cada indivíduo tenha controle sobre sua vida privada e resguarde
aspectos íntimos de sua personalidade. Tepedino ressalta a importância de
equilibrar o direito à privacidade com outros valores, como a liberdade de expressão,
buscando garantir um ambiente em que as pessoas possam exercer seus direitos de
forma harmoniosa e respeitosa. Sua abordagem enfatiza a proteção da privacidade
e intimidade como pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito.

1.5 DIREITO SOBRE O PRÓPRIO CORPO.

O direito sobre o próprio corpo é um direito fundamental reconhecido e


protegido pelo ordenamento jurídico brasileiro. Ele encontra respaldo na
Constituição Federal de 1988, que garante a inviolabilidade da intimidade, da vida
privada, da honra e da imagem das pessoas. Além disso, o Código Civil brasileiro
estabelece que ninguém pode ser obrigado a fazer algo que atente contra sua
integridade física ou moral. Essa base jurídica assegura que cada indivíduo tem o
direito de tomar decisões sobre seu próprio corpo, incluindo questões relacionadas à
saúde, à reprodução, à identidade de gênero e a outras dimensões pessoais. O
exercício desse direito deve ser respeitado e protegido pelo Estado e pela sociedade
como um todo.

2. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE.

2.1 INTRANSMISSÍVEL.

A característica de direito de personalidade intransmissível é uma importante


atribuição jurídica que se refere aos direitos fundamentais e intrínsecos de cada
indivíduo, os quais não podem ser transferidos ou transmitidos a terceiros. Esses
direitos são inerentes à pessoa humana e estão relacionados à sua dignidade,
integridade física, moral e psicológica.

A base jurídica para essa característica encontra-se em diferentes normas e


princípios do ordenamento jurídico. No âmbito nacional, a Constituição Federal é
uma das principais fontes de proteção aos direitos de personalidade. Em seu artigo
5º, a Constituição assegura diversos direitos fundamentais, como o direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à intimidade, à imagem e à honra. Esses direitos são
considerados inalienáveis e irrenunciáveis, ou seja, não podem ser transferidos ou
renunciados por vontade própria ou de terceiros.

Além das normas internas, o Brasil também é signatário de tratados


internacionais de direitos humanos que garantem a proteção dos direitos de
personalidade. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também
conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, estabelece em seu artigo 11 que
"toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua
dignidade". Essa convenção reforça a importância da intransmissibilidade dos
direitos de personalidade.

Portanto, a característica de direito de personalidade intransmissível possui


uma sólida base jurídica, fundamentada na Constituição Federal, no Código Civil e
em tratados internacionais de direitos humanos. Essa proteção visa garantir a
dignidade e a autonomia de cada indivíduo, reconhecendo que determinados direitos
são inerentes à sua pessoa e não podem ser objeto de transferência ou renúncia.

2.2 IRRENUNCIÁVEL.

A característica de direito de personalidade irrenunciável é uma importante


atribuição jurídica que estabelece que certos direitos fundamentais, inerentes à
pessoa humana, não podem ser renunciados voluntariamente. Esses direitos estão
relacionados à dignidade, integridade física, moral e psicológica do indivíduo.

Esses direitos são considerados irrenunciáveis, ou seja, não podem ser


renunciados por vontade própria ou de terceiros.

Além da Constituição Federal, o Código Civil também estabelece a proteção


aos direitos de personalidade. O artigo 11 do Código Civil brasileiro determina que
"com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis". Isso significa que esses direitos são essenciais e
não podem ser objeto de renúncia voluntária.

A irrenunciabilidade dos direitos de personalidade é um princípio fundamental


do Direito Civil e está baseada na ideia de que esses direitos são inalienáveis e
imprescritíveis. Ou seja, não podem ser transferidos ou perdidos ao longo do tempo.

Portanto, a característica de direito de personalidade irrenunciável possui uma


sólida base jurídica, fundamentada na Constituição Federal, no Código Civil e em
tratados internacionais de direitos humanos. Essa proteção visa garantir que certos
direitos fundamentais não sejam objeto de renúncia voluntária, assegurando a
dignidade e a autonomia de cada indivíduo.

2.3 INDISPONIBILIDADE.

A indisponibilidade dos direitos de personalidade é uma característica


fundamental do ordenamento jurídico que estabelece que certos direitos inerentes à
pessoa humana não podem ser objeto de disposição voluntária.
No artigo 5º, a Constituição estabelece os direitos fundamentais, como o
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à intimidade, à honra e à imagem. Esses
direitos são considerados indisponíveis, ou seja, não podem ser objeto de renúncia
voluntária.

A jurisprudência também desempenha um papel importante na consolidação


da indisponibilidade dos direitos de personalidade. Os tribunais têm reconhecido a
natureza inalienável desses direitos, protegendo-os mesmo em situações em que
haja suposta renúncia por parte do indivíduo.

Ademais, a indisponibilidade dos direitos de personalidade possui uma sólida


base jurídica, fundamentada na Constituição Federal, no Código Civil, na
jurisprudência e em tratados internacionais.

2.4 IMPRESCRITIBILIDADE.

A imprescritibilidade dos direitos de personalidade é uma característica


jurídica que estabelece que esses direitos não estão sujeitos ao prazo de prescrição,
ou seja, não podem ser perdidos ou extintos pelo decurso do tempo.

Os direitos de personalidade são considerados imprescritíveis, ou seja, não


podem ser objeto de perda ou extinção pelo transcurso do tempo.

A jurisprudência desempenha um papel fundamental na consolidação da


imutabilidade dos direitos de personalidade. Os tribunais reconhecem que esses
direitos são resguardados de maneira ininterrupta ao longo do tempo, mesmo na
ausência de exercício ou reclamação imediata.

Dessa forma, a imprescritibilidade dos direitos de personalidade possui uma


base jurídica sólida, fundamentada na Constituição Federal, no Código Civil, na
jurisprudência e em tratados internacionais. Essa característica visa garantir a
proteção perene desses direitos, assegurando que não possam ser perdidos ou
extintos ao longo do tempo, independentemente da falta de exercício ou reclamação
imediata.

2.5 ORIGINALIDADE.
A originalidade dos direitos de personalidade reside no fato de que eles são
inerentes à própria pessoa, sendo inseparáveis e exclusivos. Isso significa que cada
indivíduo possui uma personalidade única e, consequentemente, tem o direito de
controlar o uso e a divulgação de sua imagem, nome, voz, intimidade, privacidade,
honra, entre outros aspectos da sua vida.

Esses direitos têm como base jurídica princípios como a dignidade da pessoa
humana, a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem. Eles garantem que
nenhum indivíduo possa ser submetido a tratamentos desumanos ou degradantes,
invasões à sua privacidade ou uso não autorizado da sua imagem ou identidade.

No Brasil, os direitos de personalidade estão previstos no Código Civil (artigos


11 a 21) e também são protegidos por meio da jurisprudência dos tribunais. Em
casos de violação desses direitos, a pessoa afetada pode buscar reparação por
danos morais e materiais através do Poder Judiciário.

2.6 EXTRAPATRIMONIALIDADE.

A extrapatrimonialidade dos direitos de personalidade refere-se à sua


natureza não econômica, ou seja, são direitos que não possuem um valor financeiro
mensurável. Eles são considerados como direitos absolutos e não podem ser objeto
de comércio ou transação.

A base jurídica para a extrapatrimonialidade dos direitos de personalidade


encontra-se no princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado na
Constituição Federal e em tratados internacionais de direitos humanos. Esse
princípio reconhece a importância da preservação da integridade moral e física das
pessoas, bem como o respeito à sua individualidade e autonomia.

Dessa forma, os direitos de personalidade, como a intimidade, a privacidade,


a honra, a imagem, entre outros, são considerados bens imateriais e não podem ser
objeto de transação comercial. Eles estão além do âmbito econômico e visam
proteger a esfera íntima e subjetiva das pessoas.
Em suma, a extrapatrimonialidade dos direitos de personalidade reforça o
caráter não monetário desses direitos, destacando sua importância na proteção da
dignidade e da individualidade das pessoas.

2.7 OPONIBILIDADE

A oponibilidade dos direitos de personalidade refere-se à sua eficácia em


relação a terceiros, ou seja, a capacidade de serem opostos e exigidos em situações
que envolvam o interesse ou a violação desses direitos por parte de outras pessoas
ou entidades.

Tais características são respaldadas legalmente pelo princípio da


inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas,
estabelecido na Constituição Federal e em acordos internacionais de direitos
humanos. Esses direitos são considerados essenciais e devem ser respeitados
universalmente.

Essa oponibilidade permite que as pessoas protejam sua imagem,


privacidade, honra e outros aspectos da sua vida contra invasões ou uso não
autorizado. Caso ocorra uma violação desses direitos, a pessoa afetada pode
buscar reparação por danos morais e materiais perante o Poder Judiciário.

É importante ressaltar que a oponibilidade dos direitos de personalidade não


significa que esses direitos sejam absolutos. Eles devem ser exercidos dentro dos
limites legais e respeitando os direitos e liberdades de outras pessoas.

Em resumo, a característica de oponibilidade garante que esses direitos


possam ser exigidos e protegidos perante terceiros, assegurando o respeito à
dignidade e à integridade das pessoas.

3. A HISTÓRIA DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE.

3.1 GRÉCIA ANTIGA.


Na Grécia Antiga, a noção de direitos da personalidade não era tão
desenvolvida como a entendemos nos tempos modernos. No entanto, os gregos
antigos tinham conceitos e práticas que podem ser relacionados a alguns aspectos
dos direitos da personalidade. Os gregos valorizavam a liberdade individual e a
autonomia, especialmente em cidades-estados como Atenas. Os cidadãos tinham o
direito de participar na vida política, de expressar suas opiniões e de se envolver em
atividades culturais e esportivas. A poesia, a filosofia, o teatro e os Jogos Olímpicos
eram partes essenciais da vida grega, e os indivíduos eram reconhecidos por suas
contribuições nessas áreas.

Além disso, a Grécia Antiga era berço da democracia, e os cidadãos tinham o


direito de votar e tomar decisões políticas. Isso demonstra um reconhecimento da
importância da voz e da participação dos indivíduos na governança de suas cidades.
No entanto, é importante notar que os direitos da personalidade na Grécia Antiga
eram limitados, e muitos grupos, como as mulheres, os estrangeiros e os escravos,
não tinham os mesmos privilégios e liberdades que os cidadãos masculinos.

Em resumo, Na Grécia Antiga, os direitos da personalidade eram associados


à liberdade individual, participação política e reconhecimento das contribuições
culturais e esportivas dos cidadãos. Embora diferentes dos conceitos modernos,
evidenciam uma valorização da individualidade e participação ativa na sociedade
grega antiga.

3.2 ARISTÓTELES.

Aristóteles, o renomado filósofo grego, contribuiu de maneira significativa para


a compreensão dos direitos da personalidade ao longo da história. Sua filosofia ética
e política, expressa em obras como a "Ética a Nicômaco" e a "Política", estabeleceu
os fundamentos para a reflexão sobre a importância da individualidade e da
autonomia. Aristóteles acreditava que os seres humanos eram seres sociais por
natureza, mas também enfatizava a singularidade de cada pessoa. Ele argumentava
que a busca da felicidade e da realização pessoal era central para a vida humana.
Nesse contexto, ele defendia a ideia de que cada indivíduo tinha direitos
inalienáveis, que incluíam o direito à autodeterminação, à liberdade e à busca da
excelência moral. Além disso, Aristóteles também concebia a importância da justiça
como um pilar fundamental na garantia dos direitos da personalidade. Ele via a
justiça como a virtude que permitia que os indivíduos recebessem o que lhes era
devido, protegendo assim sua dignidade e sua capacidade de realizar suas
potencialidades.

A contribuição de Aristóteles para os direitos da personalidade destaca-se


pela ênfase na singularidade, liberdade e busca da felicidade individual, além da
valorização da justiça para garantir o respeito a esses direitos. Suas ideias,
perdurando ao longo dos séculos, influenciaram o pensamento filosófico e ético.

3.3 IDADE MÉDIA.

Na Idade Média, os direitos da personalidade não eram tão definidos e


protegidos como nos tempos modernos, representando uma evolução marcante ao
longo da história.

Os direitos da personalidade, que se referem aos direitos inalienáveis e


intrinsecamente ligados à dignidade e à individualidade de uma pessoa, tiveram um
desenvolvimento muito diferente na Idade Média em comparação com os tempos
modernos. Naquela época, o conceito de direitos da personalidade estava longe de
ser tão definido e protegido como hoje.

A Idade Média, que abrangeu aproximadamente do século V ao século XV, foi


marcada por uma sociedade predominantemente feudal e teocrática. Nesse
contexto, os direitos individuais muitas vezes eram subordinados aos interesses do
clero, da nobreza e dos sistemas de poder locais. Os conceitos de liberdade pessoal
e autonomia eram limitados, e as pessoas tinham pouca influência sobre as
decisões que afetavam suas vidas. Ainda assim, algumas noções incipientes de
direitos pessoais começaram a surgir. Por exemplo, nas leis germânicas, havia
reconhecimento de compensações por ferimentos corporais e insultos pessoais,
embora essas compensações fossem frequentemente determinadas com base na
posição social da vítima e do agressor. Além disso, a Igreja Católica desempenhou
um papel significativo na promoção da ideia de que a dignidade humana era
intrínseca a todas as pessoas. Isso influenciou a moral e a ética da época, mesmo
que não tenha se traduzido em uma proteção legal robusta dos direitos da
personalidade.

Em suma, durante a Idade Média, os direitos da personalidade eram


subjugados em grande medida pelos sistemas de poder existentes e pelas
limitações sociais da época. Foi apenas com o advento da Era Moderna e o
desenvolvimento do pensamento iluminista que os direitos da personalidade
começaram a ser mais claramente reconhecidos e protegidos.

3.4 SÉCULO XIX.

No século XIX, a história dos direitos da personalidade testemunhou


desenvolvimentos significativos que moldaram as bases legais para a proteção da
individualidade e dignidade das pessoas. Nesse período, o mundo estava passando
por transformações sociais, econômicas e políticas, o que gerou a necessidade de
repensar os direitos individuais.

Um marco importante nesse contexto foi a Revolução Industrial, que trouxe


mudanças radicais na forma como as pessoas viviam e trabalhavam. Com o
surgimento de fábricas e a urbanização acelerada, as condições de trabalho eram
frequentemente desumanas. Isso levou a uma crescente conscientização sobre a
necessidade de proteger os trabalhadores e suas condições de vida.

Nesse cenário começaram a surgir as primeiras leis trabalhistas visando


garantir direitos fundamentais, como limitação da jornada de trabalho e proibição do
trabalho infantil, refletindo uma preocupação crescente com a dignidade e bem-estar
dos indivíduos. Paralelamente, nesse período, desenvolveu-se o direito à
privacidade, o caso da fotografia desempenhou um papel importante nesse
processo, com a necessidade de obter consentimento para tirar fotos das pessoas e
divulgar suas imagens, marcando o reconhecimento do direito das pessoas de
controlar sua imagem.

No entanto, é importante observar que, em muitos lugares, esses


desenvolvimentos estavam longe de serem completos. A proteção dos direitos da
personalidade variava amplamente de acordo com a região e a cultura, e muitas
vezes era limitada. A consolidação dos direitos da personalidade como os
entendemos hoje viria apenas no século 20, com a evolução contínua das leis e da
jurisprudência em todo o mundo.

Portanto, o século XIX foi um período de conscientização crescente sobre a


importância dos direitos da personalidade, mas ainda representou um estágio inicial
no desenvolvimento desses direitos e em sua incorporação ao ordenamento jurídico.

3.5 TEORIA DO DIREITO GERAL DE PERSONALIDADE DE GIERKE,


KOEHLER E HUBER.

A Teoria do Direito Geral de Personalidade, proposta por Otto Gierke, Martin


Koehler e Wilhelm Hube, é uma abordagem fundamental no campo do direito. Essa
teoria se concentra na ideia de que o direito não é apenas um conjunto de regras e
normas externas, mas também está intrinsecamente ligado à personalidade das
pessoas.

Segundo essa teoria, o direito surge da vida social e é moldado pela interação
humana. Gierke, Koehler e Hube argumentam que as relações sociais e as
comunidades humanas desempenham um papel essencial na formação do direito.
Eles acreditam que a personalidade individual e coletiva influencia a criação e
aplicação das normas jurídicas.

Essa abordagem destaca a importância das normas não escritas e dos


costumes como parte integrante do direito. Além disso, a Teoria do Direito Geral de
Personalidade enfatiza a importância das relações interpessoais e da comunidade
na definição e evolução do direito.

Em resumo, a Teoria do Direito Geral de Personalidade destaca a ligação


entre o direito e a natureza humana, enfatizando que o direito é moldado pelas
características individuais e coletivas das pessoas e pelas interações sociais. Essa
abordagem oferece uma perspectiva única sobre a natureza do direito e sua
evolução ao longo do tempo.

3.6 DIREITO ROMANO.


No contexto do direito romano, a história dos direitos da personalidade é uma
narrativa fascinante que traça as origens dos conceitos legais que protegem a
dignidade e a integridade das pessoas. Embora o termo "direitos da personalidade"
não fosse utilizado na Roma antiga da mesma forma que o é hoje, muitos elementos
fundamentais desse conceito têm raízes na jurisprudência romana. Os romanos
reconheciam a importância da pessoa como um ser dotado de dignidade e honra. O
"jus civile," ou direito civil romano, estabelecia as bases para a proteção da
personalidade. Um dos princípios mais notáveis era o "jus honorum," que garantia a
todos os cidadãos romanos o direito de manter sua honra e reputação. Qualquer ato
que difamasse a reputação de um cidadão era passível de punição.

Além disso, o "jus familiae" e o "jus connubii" eram áreas do direito romano
que estabeleciam os fundamentos para a proteção dos laços familiares e do
casamento. O direito romano reconhecia a importância das relações familiares e da
instituição do matrimônio. No entanto, é importante notar que os direitos da
personalidade na Roma antiga não eram tão abrangentes quanto os conceitos
contemporâneos. A noção de proteção da privacidade, por exemplo, não era tão
desenvolvida. A maior parte do foco estava na reputação, honra e nas relações
familiares.

Ao longo dos séculos, o conceito de direitos da personalidade evoluiu,


influenciado por várias culturas e sistemas jurídicos. Hoje, os direitos da
personalidade são uma parte essencial do direito moderno, abrangendo áreas como
privacidade, imagem, honra, dignidade e muito mais. A história dos direitos da
personalidade no direito romano é uma parte crucial da evolução do direito em
relação à proteção das pessoas como seres únicos e dignos de respeito.

3.7 CÓDIGO CIVIL DE 1916.

Os direitos da personalidade, como entendidos atualmente, tiveram sua


evolução marcante no Código Civil de 1916, no contexto do direito civil brasileiro.
Antes desse código, a legislação brasileira carecia de dispositivos específicos que
protegessem os aspectos mais íntimos e pessoais dos cidadãos. Foi somente com a
promulgação do Código Civil de 1916 que se reconheceu a importância de
salvaguardar os direitos inerentes à personalidade. Esse código trouxe avanços
significativos, estabelecendo a base para a proteção de elementos como a
dignidade, a honra, a intimidade, a vida privada e a imagem das pessoas

No artigo 60 do Código Civil de 1916, por exemplo, o direito à privacidade era


protegido, estabelecendo que "Ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei." Esse dispositivo refletia a importância da
autonomia e liberdade individual.

Além disso, o código também tratava de outros aspectos dos direitos da


personalidade, como a proteção da honra e da imagem. Essas disposições eram
essenciais para evitar difamações e calúnias, garantindo que as pessoas tivessem
meios legais de proteger sua reputação.

Entretanto, é importante ressaltar que o Código Civil de 1916 tinha limitações


e não abrangia todos os direitos da personalidade de maneira abrangente. Foi
somente com a promulgação do Código Civil de 2002 que houve uma ampliação e
atualização significativa dos direitos da personalidade no Brasil, adequando-se
melhor à complexidade das questões contemporâneas, como o surgimento da
internet e das redes sociais.

Em resumo, o Código Civil de 1916 representou um marco na história dos


direitos da personalidade no Brasil ao reconhecer a importância de proteger a
dignidade e a liberdade individual. No entanto, foi apenas com a promulgação do
Código Civil de 2002 que esses direitos foram mais amplamente detalhados e
atualizados para atender às demandas da sociedade moderna.

3.8 CONSTITUIÇÃO DE 1991.

A história dos direitos da personalidade, conforme estabelecida na


Constituição de 1991 no contexto brasileiro, é uma evolução significativa dos
princípios que visam proteger a dignidade, a intimidade e a liberdade das pessoas. A
Constituição de 1991 consolidou diversos avanços nesse sentido.

Antes dessa Constituição, o Brasil já tinha uma base legal que reconhecia a
importância da proteção dos direitos da personalidade, incluindo dispositivos na
Constituição de 1946 e na de 1967. No entanto, foi com a promulgação da
Constituição de 1988 que ocorreu uma mudança importante, com a consagração de
diversos direitos fundamentais, muitos dos quais estão relacionados à proteção da
personalidade, como a inviolabilidade da intimidade, da vida privada e da honra.

Em 1991, a Constituição consolidou e aprimorou esses princípios,


fortalecendo o conceito de cidadania e os direitos individuais. Ela também
estabeleceu importantes avanços, como a inclusão da proteção à imagem, ao nome
e à identidade pessoal. A Constituição de 1991 reforçou a necessidade de respeitar
a dignidade das pessoas e proibiu práticas discriminatórias que violassem esses
direitos.

Além disso, a Constituição de 1991 deu um passo fundamental ao possibilitar


que as vítimas de violações dos direitos da personalidade buscassem reparação por
danos morais. Esse foi um marco importante na evolução da jurisprudência
brasileira, permitindo que as pessoas buscassem reparação quando seus direitos
fossem desrespeitados.

Em resumo, a Constituição de 1991 foi um avanço marcante na proteção dos


direitos da personalidade no Brasil, fortalecendo princípios como dignidade,
intimidade e liberdade. Estabeleceu a base legal para buscar reparação por danos
morais em violações desses direitos, consolidando o compromisso brasileiro com a
defesa dos direitos individuais e da dignidade humana, construindo sobre bases
anteriores.

3.9 CÓDIGO CIVIL DE 2002.

Os Direitos da Personalidade, conforme estabelecidos no Código Civil de


2002, representam um conjunto de prerrogativas e garantias fundamentais inerentes
à condição humana. A inclusão desses direitos no código reflete a importância
atribuída pelo legislador brasileiro à proteção da dignidade e integridade das
pessoas.

Antes da promulgação do Código Civil de 2002, o ordenamento jurídico


brasileiro não dispunha de uma regulamentação específica para os Direitos da
Personalidade. No entanto, havia o reconhecimento de diversos princípios e normas
dispersas que protegiam aspectos da personalidade, como a inviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem.

O Código Civil de 2002 trouxe consolidação e uniformização desses direitos


em um único corpo legal. No artigo 11, ficou estabelecido que "Com exceção dos
casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária." Isso
significa que esses direitos não podem ser vendidos, cedidos, nem renunciados de
forma integral.

Dentre os direitos elencados no Código Civil, podemos destacar a proteção à


vida, à integridade física e psíquica, à honra, à imagem, à liberdade, à identidade, à
privacidade, entre outros. Essa ampla gama de direitos visa assegurar que cada
indivíduo seja respeitado em sua individualidade e que não seja submetido a
violações que atentem contra sua dignidade.

O reconhecimento dos Direitos da Personalidade no Código Civil de 2002


representou um avanço significativo na proteção dos direitos humanos no Brasil.
Isso proporcionou uma base jurídica sólida para a defesa da dignidade e da
integridade das pessoas, tanto no âmbito das relações pessoais como nas esferas
civil e criminal do direito. A partir desse marco legal, os tribunais brasileiros têm
aplicado essas normas para garantir a reparação de danos causados a indivíduos
em virtude de violações de seus direitos pessoais.

Em resumo, a inclusão dos Direitos da Personalidade no Código Civil de 2002


representa um importante capítulo na evolução do direito civil brasileiro, fortalecendo
a proteção da dignidade e da individualidade das pessoas perante a lei. Esses
direitos continuam a desempenhar um papel fundamental na sociedade
contemporânea, assegurando que os indivíduos sejam tratados com respeito e
dignidade em todas as esferas da vida.

4. DIREITO A IMAGEM

4.1 LEI DO DIREITO A IMAGEM.


A lei do direito à imagem é um ramo do direito civil que visa proteger a
dignidade, a honra e a intimidade das pessoas, garantindo-lhes o controle sobre a
divulgação de sua imagem, seja ela fotográfica, cinematográfica, artística ou de
qualquer outra forma. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso X,
estabelece que: São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.

Assim, a lei do direito à imagem confere ao indivíduo o poder de autorizar ou


não o uso de sua imagem por terceiros, bem como de exigir uma reparação em caso
de violação desse direito. A imagem é considerada um atributo da personalidade,
que reflete a identidade, a individualidade e a expressão de cada pessoa. Por isso,
ela não pode ser usada sem o seu consentimento, salvo nas hipóteses previstas em
lei, como por exemplo, quando a imagem for de interesse público, quando for
necessária para a defesa da ordem jurídica ou quando for meramente acessória ou
irrelevante em relação ao fato noticiado.

O direito à imagem é regulamentado pelo Código Civil de 2002, em seus


artigos 20 e 21, que dispõem:

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça


ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da
palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa
poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se
destinarem a fins comerciais.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a


requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou
fazer cessar ato contrário a esta norma.

Em seu livro “Direito à Imagem”, o advogado e especialista em direito de


personalidade Henrique Vergueiro Loureiro escreveu:

“A imagem é um dos atributos mais importantes da personalidade, pois é


através dela que o indivíduo se apresenta ao mundo, revelando sua identidade,
sua singularidade e sua expressão. A imagem é também um instrumento de
comunicação, de informação, de arte e de cultura, que pode gerar benefícios ou
prejuízos para o seu titular, dependendo da forma como é utilizada. Por isso, o
direito à imagem é um direito fundamental, que visa proteger a dignidade, a honra
e a intimidade das pessoas, garantindo-lhes o controle sobre a divulgação de sua
imagem, seja ela física ou moral, e o direito a indenização em caso de violação”

Em sua obra, além de analisar aspectos históricos, conceituais e normativos


desse direito, Loureiro também examina casos julgados pelos tribunais brasileiros,
especialmente pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), que envolvem conflitos entre o direito à imagem e outros direitos,
como a liberdade de expressão, de informação e de imprensa, o direito de autor, o
direito à intimidade, o direito à honra, o direito à vida privada, entre outros.

Um desses casos trata da decisão do STF em tornar a utilização de imagem


de pessoa famosa em campanha publicitária, sem a sua autorização, violação ao
direito à imagem e ao direito de autor, gerando o dever de indenizar por danos
morais e materiais. O STJ fixou o valor da indenização em R$ 50 mil, considerando
a repercussão da propaganda, o proveito econômico obtido pela empresa e a
notoriedade da pessoa lesada.

Esse caso foi julgado em 2009, no Recurso Especial nº 1.059.479/SP,


relatado pelo ministro Luís Felipe Salomão.

O direito à imagem é, portanto, um direito essencial para a proteção da


dignidade humana, que deve ser exercido com responsabilidade e respeito, tanto
pelos titulares quanto pelos usuários da imagem alheia. A lei do direito à imagem
busca equilibrar os interesses individuais e coletivos envolvidos na divulgação da
imagem, garantindo a liberdade de expressão, de informação e de criação artística,
mas também a preservação da intimidade, da honra e da imagem das pessoas.

4.2 DIREITO A IMAGEM E DANO MORAL.

O dano moral é a lesão aos sentimentos, à honra, à reputação ou à dignidade


de uma pessoa, causada por uma conduta ilícita de outrem. O dano moral decorre
da própria violação dos direitos da personalidade, sendo desnecessária a prova do
prejuízo, econômico ou comercial, bem como não há necessidade de que a conduta
do agente causador do dano seja dolosa.
O dano moral é indenizável, conforme o artigo 5º, inciso V, da Constituição
Federal, e o artigo 186 do Código Civil, devendo o valor da indenização ser fixado
pelo juiz, de acordo com os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade,
considerando a gravidade da conduta, a extensão do dano, a capacidade econômica
das partes e o caráter pedagógico da medida.

Em 2017, uma mulher ajuizou uma ação de indenização por danos morais
contra um site de notícias que publicou uma matéria sobre a sua prisão por tráfico
de drogas, utilizando uma foto sua retirada de uma rede social, sem a sua
autorização. A mulher alegou que a divulgação de sua imagem violou o seu direito à
intimidade, à honra e à dignidade, causando-lhe constrangimento, humilhação e
sofrimento. Ela pediu a retirada da matéria do site e o pagamento de R$ 50 mil de
indenização.

O site de notícias alegou que a matéria tinha caráter informativo e de


interesse público, e que a foto da mulher era de domínio público, pois estava
disponível em uma rede social. O site também argumentou que não houve intenção
de ofender ou difamar a mulher, mas apenas de relatar um fato verídico e relevante.

O juiz de primeiro grau julgou procedente o pedido da mulher,


compreendendo que houve violação do direito à imagem e dano moral. O juiz
considerou que a foto da mulher não era de domínio público, pois estava em uma
rede social restrita aos seus amigos, e que o site não tinha autorização para utilizá-
la. O juiz também ponderou que a matéria ultrapassou o limite da informação, uma
vez que expôs a imagem da mulher de forma inconveniente e desproporcional,
ferindo diretamente a sua honra e a sua reputação. O juiz, portanto, determinou a
retirada da matéria do site e o pagamento de R$ 20 mil de indenização à mulher.

O site de notícias recorreu da decisão, mas o Tribunal de Justiça do Estado


de São Paulo manteve a sentença, confirmando a violação do direito à imagem e o
dano moral. O Tribunal entendeu que a matéria não respeitou o princípio da
presunção de inocência, pois tratou a mulher como culpada antes do trânsito em
julgado da ação penal. O Tribunal também entendeu que a foto da mulher não era
essencial para a informação, pois não tinha relação com o fato noticiado, e que o
site não comprovou a origem e a licença da imagem. O Tribunal manteve o valor da
indenização em R$ 20 mil, considerando a gravidade da conduta, a extensão do
dano, a capacidade econômica das partes e o caráter pedagógico da medida.

Esse caso foi julgado em 2019, relatado pelo desembargador José Carlos
Ferreira da Silva.

Outro caso de violação ao direito à imagem ocorreu em 2018, quando um


homem ajuizou uma ação de indenização por danos morais contra uma empresa de
telefonia que utilizou sua imagem, sem a sua autorização, em uma propaganda
veiculada na televisão e na internet.

O indivíduo alegou que a empresa se aproveitou de uma foto sua tirada em


um evento público, em que ele aparecia segurando um celular da marca
concorrente, e a manipulou digitalmente para inserir o logo da empresa ré. O homem
afirmou que a utilização de sua imagem violou o seu direito de autor, o seu direito de
escolha e o seu direito à imagem, causando-lhe constrangimento, confusão e
prejuízo.

A empresa de telefonia se defendeu declarando que a foto do homem era de


domínio público, pois estava disponível em um site de notícias, e que a manipulação
da imagem não alterou a sua essência, mas apenas a adequou ao contexto da
propaganda. A empresa também argumentou que não houve intenção de ofender ou
prejudicar o homem, mas apenas de promover o seu produto de forma inofensiva.

O juiz de primeiro grau julgou procedente o pedido do homem, entendendo


que houve violação do direito à imagem e dano moral. O juiz considerou que a foto
do homem não era de domínio público, pois estava protegida pelo direito de autor, e
que a empresa não tinha autorização para utilizá-la. O juiz também considerou que a
manipulação da imagem foi abusiva e desrespeitosa, pois induziu o público a
acreditar que o homem era cliente e garoto-propaganda da empresa ré, contrariando
a sua vontade e a sua realidade. O juiz determinou a retirada da propaganda do ar e
o pagamento de R$ 30 mil de indenização ao homem.

A empresa de telefonia recorreu da decisão, mas o Tribunal de Justiça do


Estado de Minas Gerais manteve a sentença, confirmando a violação do direito à
imagem e o dano moral. O Tribunal entendeu que a empresa agiu de má-fé ao
utilizar a imagem do homem sem o seu consentimento, violando o seu direito de
personalidade e de propriedade intelectual. Dessa forma, o Tribunal manteve o valor
da indenização em R$ 30 mil, considerando a gravidade da conduta, a extensão do
dano, a capacidade econômica das partes e o caráter pedagógico da medida.

Em seu livro “Direito à Imagem e à Privacidade”, o autor Gustavo Testa


Corrêa estabelece os critérios para a fixação da indenização por danos morais
decorrentes da violação do direito à imagem.

Entre esses critérios, ele considera a extensão do dano sofrido pelo ofendido,
verificando a sua intensidade, a sua duração, a sua repercussão, a sua gravidade, a
sua natureza e a sua relação com o ofensor. Outro critério é a necessidade de
reparação do ofendido, levando em conta o seu sofrimento, a sua humilhação, o seu
constrangimento, a sua vergonha, a sua angústia, a sua perda de oportunidades, a
sua violação de direitos e a sua lesão à dignidade.

Dessa forma, cabe ao juiz, de acordo com o princípio da razoabilidade e da


proporcionalidade, fixar o valor da indenização, levando em conta fatores como a
gravidade, a extensão, a duração e a repercussão do dano, bem como a condição
econômica das partes envolvidas. Além disso, o juiz pode considerar o caráter
pedagógico e punitivo da indenização, visando desestimular a repetição da conduta
ilícita e compensar o sofrimento da vítima

4.3 HEREDITARIEDADE DO DIREITO A IMAGEM.

A hereditariedade do direito à imagem é uma questão controversa na


doutrina e na jurisprudência. Alguns autores defendem que o direito à imagem se
extingue com a morte do titular, pois se trata de um direito personalíssimo,
intimamente ligado à dignidade e à identidade da pessoa. José Afonso da Silva,
jurista e professor brasileiro, afirma que “o direito à imagem é um direito
personalíssimo, que se extingue com a morte do seu titular, não se transmitindo aos
herdeiros” (Direito Constitucional Positivo, 2001, p. 206).

Em 2014, o TJSP negou a hereditariedade do direito à imagem da cantora Elis


Regina e julgou improcedente o pedido de indenização dos herdeiros pela utilização
da imagem da cantora em um documentário sobre a ditadura militar, entendendo
que se tratava de um uso jornalístico e de interesse público. O relator do caso foi o
desembargador José Carlos Ferreira Alves, que negou provimento ao recurso dos
herdeiros e manteve a sentença de improcedência do pedido de indenização por
danos morais e materiais.

Outros autores sustentam que o direito à imagem é transmissível aos


herdeiros do titular, pois se trata de um direito patrimonial, que pode gerar renda e
benefícios econômicos. Carlos Alberto Bittar, advogado e professor brasileiro,
estabelece que “alguns direitos da personalidade, inclusive o direito à imagem,
emanam efeitos post mortem, sendo transmissíveis por sucessão mortis causa aos
herdeiros” (Os direitos da personalidade, 1995, p. 13).

Em 2002, o STJ reconheceu a hereditariedade do direito à imagem de Ayrton


Senna, piloto de Fórmula 1, e condenou uma empresa de brinquedos a indenizar os
herdeiros pela utilização não autorizada da imagem do piloto em um jogo de
videogame. O relator do caso foi o ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, que
acolheu os embargos e fixou a indenização em 50.000 reais.

Há ainda uma terceira corrente que propõe uma solução intermediária,


admitindo a transmissão do direito à imagem aos herdeiros, mas apenas para fins de
proteção e defesa, não para fins de exploração econômica. Maria Helena Diniz,
jurista e professora brasileira, manifesta sua opinião ao escrever em seu livro que “o
direito à imagem é transmissível aos herdeiros, mas somente para efeito de
proteção, não podendo ser objeto de exploração econômica, salvo se houver
autorização expressa do falecido” (Curso de Direito Civil Brasileiro, 2002, p. 136).

Em um caso que ocorreu em 2009, o TJRJ adotou uma solução intermediária


no caso do direito à imagem de Carmen Miranda, cantora e atriz, e julgou
procedente em parte o pedido de indenização dos herdeiros pela utilização da
imagem da artista em um comercial de televisão, reconhecendo o direito dos
herdeiros à proteção da imagem, mas reduzindo o valor da indenização por entender
que não houve dano moral, mas apenas dano material.

A hereditariedade do direito à imagem tem uma complexidade polêmica


dentro do direito civil, que abrange tópicos jurídicos, éticos, sociais e culturais. Não
há uma decisão unânime no que diz respeito à possibilidade de transmissão do
direito à imagem aos herdeiros do titular, uma vez que as interpretações e
aplicações da lei e da jurisprudência diferem a depender dos casos.

Portanto, cada caso deve ser analisado com cautela, considerando os


interesses e os direitos envolvidos, assim como os valores e os princípios que regem
a ordem jurídica e a sociedade.

5. CONTRATOS DE DIREITO A IMAGEM.

Contratos de direito de imagem são acordos legais que estipulam os termos e


condições para o uso da imagem de uma pessoa. Esses documentos são
considerados oficialmente como prova do consentimento de ambas as partes. Eles
geralmente incluem as seguintes informações:

Partes envolvidas: no início do contrato, é essencial identificar claramente as


partes envolvidas. Uma parte é a pessoa cuja imagem será licenciada (o
"licenciante"), enquanto a outra é a entidade que deseja utilizar essa imagem (o
"licenciado"). Isso pode incluir empresas, agências de publicidade, produtoras de
filmes e outras organizações.

Escopo de uso: define de forma abrangente como a imagem da pessoa será


usada. Isso abrange a natureza do uso, como publicidade, filmes, comerciais, redes
sociais, impressões, e muito mais. Essa seção também pode detalhar o propósito e
o contexto do uso, garantindo que a imagem seja empregada de acordo com a
intenção das partes.

Duração: estipula o período de tempo durante o qual a imagem pode ser


utilizada. Isso pode variar de uma única utilização para um uso contínuo ao longo de
anos. Cláusulas sobre datas de início e término são especificadas para definir limites
temporais.

Compensação: a parte financeira do contrato é definida nessa seção,


determinando o valor que o licenciado pagará ao licenciante pela utilização da
imagem. Pode ser uma quantia fixa, uma porcentagem das receitas geradas, ou
outros acordos financeiros específicos.
Direitos exclusivos: determinadas partes podem desejar conceder direitos
exclusivos no contrato, proibindo o licenciante de licenciar sua imagem a outros
durante o período definido. Essa cláusula define claramente se a imagem estará
disponível apenas para o licenciado ou se podem ser realizadas licenças a terceiros.

Restrições e cláusulas de rescisão: estabelece as limitações e condições


específicas que ambas as partes devem cumprir. Ela pode incluir disposições sobre
alterações na imagem, restrições de uso em determinados contextos e as ações a
serem tomadas em caso de violação dos termos do contrato.

Uso de imagem autorizada: detalha quais imagens ou representações da


pessoa podem ser usadas e em que contexto. Isso pode incluir restrições sobre
como a imagem pode ser alterada, manipulada ou associada a certos produtos ou
serviços.

Renovação e revisão: aborda o que acontece após o término do período


inicial de uso autorizado. Ela pode incluir detalhes sobre a possibilidade de
renovação do contrato por um período adicional, bem como as condições e termos
dessa renovação, como possíveis ajustes na compensação financeira. Além disso,
essa parte do contrato pode estabelecer como as partes podem revisar o contrato
periodicamente para garantir que ele continue a atender às necessidades e
expectativas de ambas as partes.

Responsabilidades legais: geralmente, inclui disposições relacionadas a


direitos autorais, direitos de privacidade, e outros aspectos legais para proteger as
partes envolvidas.

Essas informações são essenciais para garantir que a imagem do licenciante


seja utilizada de maneira ética e legal, protegendo seus direitos e estabelecendo as
obrigações da parte que deseja usar sua imagem, também deixando clara as
obrigações do próprio licenciante em relação a possíveis vendas futuras de sua
imagem a outros contratantes.

5.1 DIREITO A IMAGEM DE CANTORES.


O direito de imagem de cantores refere-se ao controle que os cantores têm
sobre o uso de sua imagem pessoal, o que inclui sua aparência, fotografia, retratos e
outras representações visuais. Esse direito abrange diversos aspectos, tais como a
utilização da imagem em publicidade, sua reprodução em obras de arte, e sua
proteção contra uso não autorizado.

Ter o direito de “controlar” o uso de sua imagem significa que qualquer uso
não autorizado, como a reprodução de sua imagem em produtos comerciais,
publicidade enganosa ou difamatória, pode ser considerado uma violação cabível de
punições.

Também é valido mencionar que com o crescimento das redes sociais, os


cantores também têm controle sobre o uso de sua imagem nessas plataformas,
como o uso de suas fotos e vídeos em perfis de fãs ou em páginas não autorizadas.
Além do direito de proteger sua imagem durante apresentações ao vivo, evitando
que terceiros gravem ou transmitam seu show sem autorização.

No entanto, é importante notar que o direito à imagem deve ser equilibrado


com o direito à liberdade de expressão e informação, dessa maneira, jornalistas
podem usar imagens de cantores em notícias legítimas, desde que não violem a
privacidade ou difamem o artista.

Além disso, são necessários alguns aspectos para que seja firmado um
acordo autorizado para o uso da imagem de um cantor, como o consentimento, que
geralmente se refere ao uso da imagem, juntamente com o consentimento do
próprio ou da pessoa que detém os direitos sobre sua imagem, como um gerente ou
agente. Isso significa que ninguém pode usar a imagem de um cantor para fins
comerciais sem sua permissão.

Deve-se considerar também que artistas frequentemente celebram contratos


específicos que detalham como sua imagem pode ser usada. Esses contratos
podem ser parte de acordos de gravação, contratos publicitários ou contratos
separados de direitos de imagem.
Quaisquer outros aspectos necessários para se manter intacto os direitos do
artista estão presentes nas informações do contrato, como a duração, a
compensação, as restrições, as responsabilidades legais, etc.

5.2 DIREITO A IMAGEM DO DE CUJUS.

A proteção e os direitos que protegem uma pessoa falecida e sua imagem no


contexto legal variam de acordo com a jurisdição e as leis específicas de cada país.
Além disso, existem outros aspectos gerais que são comuns em muitos sistemas
legais, como:

Direito de personalidade póstumo: em muitos sistemas legais, os direitos de


personalidade, que incluem a proteção da imagem, são considerados bens jurídicos
que sobrevivem à morte da pessoa. Isso significa que os herdeiros ou beneficiários
legais da pessoa falecida têm o direito de controlar o uso da imagem da pessoa
após sua morte.

Direitos autorais póstumos: os direitos autorais também podem ser


transmitidos aos herdeiros ou beneficiários após a morte de um autor, incluindo
cantores e artistas. Isso inclui o controle sobre obras criativas, como gravações de
músicas, que continuam a gerar renda após a morte do artista. Além disso, os
direitos autorais póstumos também podem abranger obras inacabadas ou não
publicadas durante a vida do autor, permitindo que seus herdeiros decidam sobre
sua utilização ou eventual publicação. Essa proteção legal garante que o legado do
artista seja preservado e que sua obra continue a ser valorizada e apreciada no
futuro.

Proteção contra difamação: mesmo após a morte de uma pessoa, as leis em


muitos países ainda podem oferecer proteção contra difamação ou declarações
prejudiciais à sua memória. Isso impede que terceiros façam declarações falsas que
possam prejudicar a reputação do falecido. Além disso, a proteção contra difamação
póstuma também pode ser vista como uma forma de garantir a justiça e a equidade
para aqueles que já se foram.

Respeito à memória: o princípio de respeitar a memória do falecido. Isso


implica que o uso da imagem ou de seu nome, deve ser feito com respeito à sua
dignidade e memória, e não de maneira sensacionalista ou ofensiva. Também pode
abranger a preservação da privacidade, garantindo que informações pessoais
sensíveis não sejam divulgadas sem o consentimento prévio dos herdeiros ou
beneficiários legais. Isso inclui a proteção de correspondências, diários, fotografias e
outros materiais pessoais que devem ser tratados com cuidado e respeito. O
respeito à memória é um aspecto fundamental da proteção dos direitos do falecido e
deve ser considerado em qualquer uso da imagem ou nome da pessoa.

Regulação de direitos post-mortem: alguns países têm leis específicas que


regulam os direitos de imagem após a morte, estabelecendo prazos específicos
durante os quais esses direitos podem ser exercidos pelos herdeiros.

Vale ressaltar que a extensão e a aplicação desses direitos variam de acordo


com as leis de cada país. Portanto, é importante consultar um advogado
especializado em direitos autorais e direitos de personalidade para obter orientação
específica sobre a proteção da imagem de uma pessoa falecida em uma
jurisdição específica.

5.3 DIREITO DE IMAGEM DO DE CUJUS NO BRASIL.

No Brasil, os direitos de imagem após a morte são regulados pela Lei de


Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998) e pelo Código Civil (Lei nº 10.406/2002).
Embora essas leis abordem principalmente os direitos autorais, elas também têm
disposições relacionadas aos direitos de imagem que se aplicam após a morte de
uma pessoa. Essas disposições garantem que os herdeiros ou sucessores legais
tenham o direito de controlar o uso da imagem da pessoa falecida, bem como de
autorizar ou proibir sua reprodução, publicação ou qualquer outra forma de
exploração comercial.

A Lei de Direitos Autorais prevê que os direitos patrimoniais do autor, que


incluem os direitos de imagem, são transmitidos aos herdeiros após a morte do
autor. Isso significa que, após a morte de um cantor ou artista, seus herdeiros têm o
direito de controlar e autorizar o uso da imagem do falecido, bem como receber
eventuais royalties decorrentes desse uso.
Além disso, é importante pontuar que o Código Civil estabelece que a imagem
da pessoa falecida, assim como outros aspectos de sua personalidade, deve ser
protegida, garantindo o respeito à dignidade e à memória do indivíduo. Dessa forma,
o uso indevido da imagem do falecido, de uma maneira que possa ser prejudicial à
sua memória ou à sua família é estritamente proibido. Essas disposições legais
visam preservar a integridade e a privacidade do falecido, assim oferecendo
proteção legal para evitar abusos e assegurar que a memória da pessoa seja tratada
com o devido respeito e consideração.

Vale ressaltar que, em 2020, a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº


13.709/2018) também entrou em vigor no Brasil, introduzindo regras mais rígidas
sobre o tratamento de dados pessoais, incluindo informações sobre a imagem de
pessoas. Isso pode ter um impacto significativo na gestão dos direitos de imagem
após a morte, especialmente no que se refere à privacidade, integridade e proteção
de dados pessoais. A legislação visa garantir que os dados pessoais, incluindo
imagens, sejam tratados de forma adequada, consentida e segura, mesmo após o
falecimento da pessoa. A violação dessas regras pode resultar em sanções e
penalidades, com o objetivo de proteger a dignidade e a memória do falecido, bem
como os interesses da família e dos herdeiros legais. Portanto, é importante
considerar a legislação de proteção de dados ao elaborar contratos vitalícios que
envolvam direitos de imagem após a morte.

Em resumo, os direitos de imagem após a morte no Brasil são transmitidos


aos herdeiros e continuam a ser protegidos por leis relacionadas aos direitos
autorais, ao Código Civil e à Lei Geral de Proteção de Dados. Além disso, é
importante ressaltar que a gestão desses direitos pode ser afetada pelas novas
regras de proteção de dados pessoais introduzidas pela LGPD. Portanto, é
fundamental que os herdeiros e responsáveis pela gestão dos direitos de imagem
estejam cientes dessas leis e regulamentos para garantir o respeito à memória e à
privacidade do falecido.

5.4 CONTRATO VITALÍCIO.

A existência de um "contrato vitalício" é complexa e controversa envolvendo


questões éticas, legais e filosóficas. Em sua essência, esse termo sugere a ideia de
que, em determinadas situações, um indivíduo pode estar vinculado a obrigações ou
restrições mesmo após sua morte. No entanto, vale ressaltar que, nos sistemas
legais tradicionais, a morte costuma ser considerada o fim da personalidade jurídica,
o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de tais contratos.

A validade de contratos vitalícios varia de acordo com as leis de cada


jurisdição. Muitas jurisdições permitem contratos de longo prazo, desde que sejam
voluntários, baseados em considerações legais (ou seja, algo de valor é trocado
entre as partes), e não violem leis ou regulamentos específicos. É importante que as
partes envolvidas em contratos vitalícios entendam as leis e regulamentos aplicáveis
antes de assinarem qualquer documento.

Em alguns casos, os contratos vitalícios podem ser especificamente


projetados para durar toda a vida de uma pessoa, e podem até conter cláusulas de
renovação automática ou opções de extensão. Isso pode ser relevante em acordos
financeiros, como contratos de pensão ou seguro de vida.

A aplicação e interpretação dos contratos vitalícios após a morte de uma das


partes podem ser bastante complexas e estão sujeitas a regulamentações locais e
diferentes decisões judiciais. Em alguns casos, os tribunais podem considerar a
validade e a execução dos contratos vitalícios com base no princípio do respeito à
autonomia da vontade das partes envolvidas. Isso significa que, se ambas as partes
concordaram voluntariamente com um contrato vitalício e não há evidências de
fraude, coerção ou ilegalidade, os tribunais podem optar por honrar o contrato,
mesmo após a morte de uma das partes. No entanto, em outros casos, os tribunais
podem considerar que a morte encerra todas as obrigações e restrições contratuais,
uma vez que a personalidade jurídica da parte falecida é extinta. Portanto, a
validade dos contratos vitalícios depende de uma análise cuidadosa das leis locais,
dos termos do contrato e das circunstâncias específicas envolvidas.

Vale ressaltar que após o falecimento do licenciante, em caso de contrato


para uso de imagem, seus herdeiros e sucessores se tornam responsáveis pela
decisão de prosseguir ou não com a validade do contrato, já que com a morte do de
cujus, sua personalidade jurídica chega ao fim.
Por fim, conclui-se que a validade de um contrato vitalício após a morte de
uma das partes depende de suas leis locais, dos termos do contrato e das
circunstâncias específicas. Em muitos casos, a morte de uma das partes encerra o
contrato, mas há exceções, como contratos financeiros e cláusulas contratuais
específicas que permitem a continuidade após a morte. A interpretação e aplicação
de tais contratos podem ser complexas e estão sujeitas a regulamentações locais e
diferentes decisões judiciais.

CONCLUSÃO

A análise aprofundada do contrato, no qual a jovem cantora e compositora


brasileira concede, de forma exclusiva e permanente até sua morte, sua imagem a
um fabricante de instrumentos musicais, demanda uma incursão ainda mais
minuciosa nos elementos que definem a validade desse acordo à luz dos direitos de
personalidade. A complexidade inerente a essa questão exige uma exploração
detalhada das implicações éticas, legais e sociais subjacentes.

Ao mergulharmos nos princípios dos direitos de personalidade, a


intrasmissibilidade emerge como uma salvaguarda crucial contra a mercantilização
indiscriminada da imagem. Essa característica fundamental destaca que, embora a
autora do contrato tenha o poder de dispor temporariamente de sua imagem, a
alienação permanente afronta a essência desses direitos. A irrenunciabilidade e a
indisponibilidade, elementos consagrados na jurisprudência, reforçam a natureza
inegociável e inalienável desses direitos, delineando limites para a autonomia
contratual.

A evolução histórica dos direitos de personalidade, desde a Grécia Antiga até


os desdobramentos recentes do Código Civil de 2002, revela uma trajetória marcada
por adaptações à dinâmica social. No entanto, essa evolução não legitima uma
abordagem que comprometa a integridade e a essência desses direitos. A
celebração de contratos que ultrapassam as fronteiras temporais da vida da artista
pode ser interpretada como uma afronta aos princípios que historicamente moldaram
esses direitos.

A legislação, notadamente a Lei do Direito à Imagem, estabelece parâmetros


legais para a proteção desses direitos, mas não explicita claramente a extensão
temporal aceitável para uma cessão. Essa lacuna legislativa ressalta a necessidade
de uma interpretação ampla e contextualizada à luz dos princípios fundamentais dos
direitos de personalidade.

A dimensão hereditária do direito à imagem, embora reconheça uma


transmissão temporal, deve ser interpretada com cautela. A perpetuação da
exclusividade contratual ao longo das gerações pode conduzir a cenários em que a
autonomia das futuras gerações fica prejudicada pela celebração de contratos pelos
quais não tiveram voz.

A variedade de contratos de direito à imagem, desde acordos que envolvem


figuras públicas até a proteção póstuma da imagem, exige uma análise diferenciada,
considerando a especificidade de cada contexto. No entanto, a natureza exclusiva e
permanente da cessão proposta no contrato em questão destoa da tendência
contemporânea de estabelecer limites mais precisos e proporcionais aos direitos de
personalidade.

Ao decidir pela invalidade do contrato, respaldamo-nos na compreensão de


que os direitos de personalidade não são meramente uma commodity a ser
comercializada de forma perpétua. A exclusividade e a permanência propostas
parecem contrariar o espírito protetor desses direitos, não apenas durante a vida da
artista, mas também na perspectiva de sua herança para as gerações futuras.

A autonomia individual é um princípio valioso, mas não deve ser exercida em


detrimento de direitos fundamentais que transcendem a temporalidade e moldam a
própria essência da pessoa. A decisão pela restrição temporal e pela não
exclusividade nesse tipo de contrato é um apelo à preservação desses direitos,
garantindo que a autonomia contratual esteja em harmonia com os princípios éticos
e jurídicos que norteiam a proteção da dignidade humana.

Concluímos, portanto, que a invalidade do contrato é uma resposta coerente


às nuances complexas deste caso específico. A proteção integral dos direitos de
personalidade, aliada a uma interpretação contextualizada da legislação e uma
consideração cuidadosa da hereditariedade desses direitos, orienta-nos a adotar
uma postura que salvaguarde a autonomia individual sem comprometer a
integridade desses direitos essenciais. Esta conclusão não apenas respeita a
natureza intrínseca dos direitos de personalidade, mas também alinha-se com a
evolução contemporânea da jurisprudência que busca um equilíbrio delicado entre a
autonomia contratual e a proteção dos valores fundamentais da sociedade.

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