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UNIVERSIDADE PAULISTA

ANA CLÁUDIA DAMIÃO MANOEL


JULIANA TREBI PENATTI LEMES DE MORAES
KÁRITA CRISTINA CARVALHO YOCHIDA
LUANA VIEIRA DE OLIVEIRA GOMES
MARCELA LAGO SCHIAVOTELLO
MARCO ANTÔNIO TOLLENTINO DA ROSA

Atividade Prática Supervisionada


USO DA IMAGEM DE FORMA EXCLUSIVA E VITALÍCIA

Ribeirão Preto
2023
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ANA CLÁUDIA DAMIÃO MANOEL


JULIANA TREBI PENATTI LEMES DE MORAES
KÁRITA CRISTINA CARVALHO YOCHIDA
LUANA VIEIRA DE OLIVEIRA GOMES
MARCELA LAGO SCHIAVOTELLO
MARCO ANTÔNIO TOLLENTINO DA ROSA

Atividade Prática Supervisionada

Atividade Prática Supervisionada


apresentada como trabalho acadêmico
semestral do Curso de Direito da
Universidade Paulista

Orientador: Prof. Luiz Henrique Beltramini

Ribeirão Preto
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2023

Sumário
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 5

2 DISCUSSÃO JURÍDICA E DOUTRINÁRIA 7

3 CONCLUSÃO 13

REFERÊNCIAS 15
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Introdução

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo a exposição e discussão sobre direitos da


personalidade, apresentando o embasamento jurídico e doutrinário acerca do seguinte
problema:

“Uma jovem cantora e compositora brasileira de música pop firma


um contrato em que cede, com exclusividade e de forma permanente até sua
morte, sua imagem para ser utilizada por um fabricante de instrumentos
musicais”.

Assim, foi elaborado o presente trabalho visando a problemática da validade do


contrato apresentado.
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Discussão Jurídica e Doutrinária

2 DISCUSSÃO JURÍDICA E DOUTRINÁRIA

A discussão jurídica baseia-se na validade de um contrato de cessão de direito de


imagem de forma exclusiva e vitalícia.
Para que possamos chegar a conclusão da validade do presente contrato é necessária
uma análise conjunta da previsão constitucional da proteção dos direitos personalíssimos,
da disciplina legal sobre a matéria no Código Civil Brasileiro, o posicionamento da
jurisprudência e da doutrina atual.
Assim, pela previsão constitucional, o artigo 5º da Constituição Federal elenca os
chamados “direitos e deveres individuais e coletivos”, então tidos como “cláusula pétrea”
(CF, art. 60, § 4º) – vale dizer, não podem ser alterados nem mesmo por proposta de
emenda à Constituição (PEC).
Não se pode negar que o artigo 5º é um dos principais pontos da Constituição Federal,
espelho cristalino do renascimento da democracia do Estado Brasileiro. Em seu inciso X lê-
se que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”
(CF, art. 5º, inc. X). Ao comentar referido inciso, colhe-se da doutrina, segundo Costa
Machado e Anna Candida Da Cunha Ferraz (2022) a seguinte lição:

“A intimidade, privacidade, honra e imagem são valores


intrinsecamente ligados à própria vida e dignidade. O privado é fundamental
para o desenvolvimento biológico e para a satisfação de suas necessidades
vitais. Diz respeito à intimidade, que a pessoa pode desfrutar individualmente
ou em pequenos grupos. Imagem e honra são elementos caracterizadores do
indivíduo na sociedade, e deles não poderá ser privado.
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A despeito de entendimentos diversos, este autor não vê conflito entre


este direito fundamental e aquele disposto no inciso anterior, que prevê a
liberdade da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. Se em
um primeiro momento a conciliação entre ambos parece não ser clara, basta
entender que a plenitude daqueles direitos não pode invadir a esfera íntima da
pessoa sob pena de responsabilização civil e criminal. O respeito à intimidade
da pessoa humana, que se confunde com a própria dignidade, é pressuposto da
sociedade democrática”.

Com base nessas lições, a imagem da pessoa (direito intrínseco da personalidade),


dado seu caráter inviolável, não pode ser cedida ou renunciada, ainda que em vida.
Permite-se, como se sabe, a cessão/uso da imagem por períodos determinados e
específicos, geralmente para fins artísticos. Nesse sentido, confira-se novamente o
entendimento da doutrina especializada, segundo Carlos Alberto Bittar (2015):

“Para direitos da personalidade, são compatíveis apenas os contratos que


importam em uso determinado, ou em uso temporário, dos bens disponíveis,
uma vez que são intransmissíveis, como assinalamos.
São os contratos de concessão, ou de licença (licensing), os adequados
para a utilização dos bens disponíveis que compõem a personalidade – da
pessoa e da empresa (desta, como os sinais distintivos, o nome, a marca e
outros elementos de seu patrimônio incorpóreo) –, mantendo-se no âmbito do
titular os demais direitos (assim, a licença para uso de imagem em televisão
não se estende a cinema ou a outra forma).
Os contratos devem especificar a finalidade, as condições do uso, o
tempo, o prazo e demais circunstâncias que compõem o conteúdo do negócio,
interpretando-se restritivamente, ou seja, permanecendo no patrimônio do
licenciante outros usos não enunciados por expresso. Não podem esses
contratos – quando de exclusividade – importar em cerceamento da liberdade
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da pessoa ou sacrifício longo de sua personalidade, sendo considerada nula,


como cláusula potestativa, a avença que assim dispuser (ex.: um contrato em
que o titular se despojasse definitivamente de um direito dessa ordem).
Anote-se, outrossim, que, no plano do uso de criações intelectuais,
vários contratos são adequados, respeitados sempre, assim, os direitos morais
de autor (inalienáveis, como anotamos): a) na comunicação da obra, os mais
comuns são os de edição, encomenda e cessão de direitos; e b) na
comercialização, os de cessão e de merchandising, este último para a inserção
em produtos industriais de criações estéticas (com figuras, bonecos e desenhos
em produtos de consumo)”.

Aplicando essas lições doutrinárias ao caso em estudo, juntamente com o disposto


na Constituição Federal, pode-se concluir que o contrato de cessão de uso de imagem, onde
a jovem cantora e compositora cede sua imagem em caráter permanente, é inválido.
Fala-se em invalidade porque a cessão permanente atenta claramente contra os
atributos do direito da personalidade, quais sejam, intransmissibilidade, inalienabilidade e
indisponibilidade total.
Segundo Gonçalves (2023), o direito à própria imagem integra os direitos da
personalidade, inclusive na própria representação da pessoa humana.
Por sua vez, na da disciplina infraconstitucional disposta no Código Civil Brasileiro,
o artigo 11 do referido diploma legal dispõe que, “com exceção dos casos previstos em lei,
os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu
exercício sofrer limitação voluntária” (CC, art. 11).
Pelas características apresentadas pelos direitos da personalidade, o uso de imagem
ou de marca podem, por objeto de contrato e mediante a remuneração, serem explorados
comercialmente. A limitação voluntária citada pelo artigo acima seria somente aquela que,
no geral, não seja permanente, nem que constitua abuso de direito.
A jurisprudência reconhece o caráter intransmissível do direito à imagem, conforme
julgado a seguir pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
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“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA -


DIREITO DE IMAGEM - DIREITO PERSONALÍSSIMO E
INTRANSFERÍVEL-ILEGITIMIDADE ATIVA - EXTINÇÃO DO
PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO-MÉRITO.
1- É vedado pleitear em nome próprio direito alheio, salvo quando
autorizado por lei, conforme preceitua o artigo 6° do Código de Processo
Civil, sob pena de ser reconhecida a ilegitimidade ativa 'ad causam!
2- Os artigos 11 e 19 do Código Civil trazem o direito de imagem
como personalíssimo, ou seja, intransmissível.
3- Não estando o autor representando a menor, legítima possuidora do
alegado direito, conclui-se que em verdade está pleiteando direito alheio em
nome próprio, o que é vedado pelo ordenamento jurídico.
TJMG - Apelação Cível 1.0000.17.087984-5/002, Relator(a): Des.(a)
Claret de Moraes, 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/07/2022,
publicação da súmula em 27/07/2022)”

Além disso, segundo o Enunciado n. 4 do Conselho da Justiça Federal/STJ,


aprovado na I Jornada de Direito Civil, a indisponibilidade dos direitos da personalidade
não é absoluta, mas sim relativa. Ele cita que, “o exercício dos direitos da personalidade
pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”.
Portanto, se o contrato dessa jovem cantora e compositora brasileira de música fosse
realizado no Brasil, segundo o artigo 11 do Código Civil Brasileiro e o Enunciado n. 4 do
CJF/STJ, este seria considerado nulo, pois a cessão do uso dos direitos da personalidade
desse contrato é permanente até a sua morte.
Ainda utilizando como base o Código Civil Brasileiro, o artigo 20 do referido
Código, estabelece que a divulgação ou utilização da imagem de uma pessoa pode ser
proibida, a pedido da pessoa afetada, se isso atingir sua honra, boa fama ou
respeitabilidade, ou caso se destinarem a fins comerciais. Assim, esse artigo protege o
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direito à imagem das pessoas e estabelece que a utilização da imagem de alguém para fins
comerciais sem a devida autorização pode ser proibida (CC, art. 20).
No contrato descrito, a cantora está cedendo sua imagem de forma permanente até
sua morte, o que significa que ela está abrindo mão permanentemente de seu direito à
imagem. Isso poderia ser questionado com base no artigo 20, pois a cessão permanente de
sua imagem para fins comerciais pode afetar sua honra e boa fama ao longo da vida.
Portanto, o contrato deve ser considerado inválido com base no artigo 20 do Código
Civil Brasileiro, uma vez que a cantora estaria renunciando a um direito fundamental (sua
imagem) de forma permanente, o que pode ser questionado em relação aos princípios legais
que protegem a dignidade e a reputação das pessoas.
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Conclusões
3 CONCLUSÕES

Diante do exposto, a discussão sobre a validade do contrato de cessão de direito de


imagem de forma exclusiva e vitalícia envolve uma cuidadosa análise dos princípios
constitucionais, do Código Civil Brasileiro, além do posicionamento da jurisprudência e da
doutrina atual.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, estabelece a inviolabilidade da intimidade,
vida privada, honra e imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização por
violações. Este direito fundamental, intrinsecamente ligado à dignidade humana, não pode
ser alienado de forma permanente, como defendido por diversos estudiosos do direito.
O Código Civil Brasileiro reforça essa proteção ao afirmar que os direitos da
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis.
A jurisprudência também ratifica essa posição, destacando a intransmissibilidade do
direito à imagem.
Portanto, um contrato que busca a cessão permanente e exclusiva do direito de
imagem, como no caso da jovem cantora e compositora, é inválido à luz da legislação e dos
princípios que protegem a dignidade e a integridade das pessoas.
Ao tentar alienar de forma perpétua esse direito, o contrato se choca diretamente
com os valores fundamentais da sociedade democrática e, portanto, não encontra respaldo
legal.
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Referências
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília,


DF, 2002.

BITTAR, C.A. Os direitos da personalidade, 8ª ed., SP, Saraiva, 2015, p. 85 – livro


digital.

GONÇALVES, C.R. Direito Civil Brasileiro, 21ª ed., Saraiva Jur, 2023.

MACHADO, C.; FERRAZ, A.C.C. Constituição Federal Interpretada: artigo por


artigo, parágrafo por parágrafo, 13ª ed., SP, Manole, 2022, p. 19 – livro digital.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Apelação Cível


1.0000.17.087984-5/002, Relator(a): Des. Claret de Moraes, 10ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 26/07/2022, publicação da súmula em 27/07/2022.

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