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RESUMO
A proposta do presente artigo é apresentar uma visão econômica do sistema de
proteção da propriedade intelectual de forma breve. A visão do Direito sob um
enfoque econômico corrobora a tendência da doutrina mais especializada e
contemporânea no sentido de que ela não pode existir ignorando o mundo que a
cerca e a compõe. Dentro desse foco, o sistema de proteção das patentes, por ser
um dos mais emblemáticos, é analisado.
1
Advogado formado pela UFRJ. Auditor Interno no BNDES. Especialista em direito público pela UVA.
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1) INTRODUÇÃO
A visão do Direito sob uma perspectiva econômica é relativamente nova. A
rigor, há muito se debate acerca de uma existência polarizada entre Direito e
Economia, como se as duas ciências fossem dicotômicas e antíteses uma da outra.
Deste modo, ao olhar incauto, a ciência jurídica se ocuparia, prioritariamente, de
temas relacionados à justiça, ao passo que a economia teria caráter positivo, com a
busca de tão-só de eficiência dos agentes econômicos. Essa visão resta vencida,
vez que a doutrina jurídica mais moderna, tanto de uma ciência como de outra,
passam a enxergar os dois campos de conhecimento como complementares, e, por
vezes, possuindo até o mesmo propósito.
Um dos principais expoentes da Análise Econômica do Direito é Coase, que
demonstra ser possível pensar os direitos de propriedade sobre a ótica da
economia. O raciocínio do autor é no sentido de que, na ausência de custos de
transação, não importa como seria feita a distribuição dos direitos de propriedade.
Sendo os direitos de propriedade bem definidos, em um ambiente de livre-mercado,
a eficiência econômica será sempre alcançada. Nesse cenário, os custos de
transação (rectius: os custos em que os agentes incorrem para poder realizar trocas
em uma economia) passaram a desempenhar papel relevante na avaliação das leis
e políticas públicas (COASE, pág 35, 2004).
Existem várias espécies de custos de transação em uma economia, mas em
linhas gerais, podem ser enumerados como os mais importantes: as assimetrias
informacionais, os custos de barganha, os custos legais e os custos de busca. A
importância dos custos de transação reside no fato de que eles podem levar a
hipossuficiência econômica, à situação em que a economia tenda a ser menos
eficiente do que pode, revelando ineficiências importantes que, na ausência desses,
poderiam ser eliminadas. Corolário disso é que as proposições legislativas e as
políticas públicas devem sempre buscar reduzir os custos de transação.
Destarte, um dos principais objetivos das políticas públicas é aumentar a
eficiência da economia, levando a maior bem-estar. Não é difícil notar que a ciência
jurídica é um ator principal nesta peça, portanto.
A fim de conceituar a “eficiência econômica”, os economistas, tradicionalmente
utilizam-se do conceito de Pareto2 é muito utilizado pelos economistas para denotar
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Wilfried Fritz Pareto, foi um renomado economista que nasceu na França, de pais italianos da Ligúria; sua
família detinha o título de nobreza desde o início do século XVIII. Seu avô, Giovanni Benedetto Pareto, foi
nomeado barão do império por Napoleão Bonaparte em 1811. Seu pai recebeu asilo em Paris devido às suas
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uma situação em que não é possível melhorar a situação de um agente sem piorar a
situação de, ao menos, um outro agente. Noutros termos, o conceito de “eficiência
de Pareto” pode ser resumido ao conceito de melhoria da unanimidade. Ao introduzir
determinada política pública ou norma legal, o sistema é eficiente se todos os
agentes que são afetados estão em situação melhor ou pelo menos igual a anterior.
O problema dessa definição é que, em geral, a introdução de normas jurídicas
leva existência de ganhadores e perdedores. Por isso, há outros conceitos de
“eficiência” que são utilizados na análise econômica do direito, como o de Kaldor-
Hicks (BOTELHO, pág 02, 2016), que é definido como a confrontação dos benefícios
e custos sociais de determinada norma. Se o benefício total for maior que o custo
total de sua introdução, essa será eficiente.
Em linhas gerais, a noção de eficiência está diretamente relacionada a ideia de
maximização de bem-estar social, no sentido de que, se uma lei é eficiente, então
ela proporciona um aumento de bem-estar para a sociedade. Contudo, se existir no
caso concreto, uma assimetria entre os agentes, uma vez que a haverá o benefício
de alguns, com o prejuízo de outros, a situação ainda pode ser eficiente no sentido
de Kaldor-Hicks, já que os benefícios sociais podem ser maiores que os custos
sociais.
Assim, embora o conceito de eficiência de Kaldor-Hicks exija que a maioria se
beneficie com determinada medida e que possa haver agentes que saiam perdendo,
é sempre possível realizar uma redistribuição dos recursos de forma a tornar essa
medida eficiente no sentido de Pareto.
Forçoso notar-se que a análise econômica do Direito fornece terreno fértil para
uma discussão mais técnica de proposições legislativas e políticas públicas em
geral, tendo como norte a ideia de que as inovações no ordenamento jurídico deve
maximizar o bem-estar da sociedade, ou em termos econômicos, “provocar aumento
da eficiência”. O debate dessas proposições implica levantar todos os potenciais
custos e benefícios das proposições e políticas.
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Note-se que quer se referir ao conceito econômico, e não a dicotomia entre bem público bem privado. Tais
conceitos, apesar de possuírem relação, não se confundem.
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pagar. Noutros termos, bens públicos são de tal natureza que não seriam ofertados
pelo mercado ou, pelo menos, não o seriam em quantidade suficiente, tal como a
oferta de Iluminação pública. Assim, ele possui duas propriedades essenciais: não
se incorre em custos adicionais quando se inclui mais um beneficiário do bem
público (ou seja: seu custo marginal será nulo); e há a dificuldade (ou mesmo a
impossibilidade) de excluir indivíduos de usufruí-lo (MANKIW, págs 227 a 230,
2001).
Assim, forçoso concluir que quando os bens públicos são fornecidos por
empresas privadas eles são subutilizados, uma vez que se houver cobrança pelo
seu uso, o preço cobrado dissuadirá os consumidores a utilizá-lo, ou o utilizarão sem
pagar. Haveria, portanto, uma perda de bem-estar, o que sinaliza para o fato de que
os bens cujo custo marginal de fornecimento é zero devem ser fornecidos
gratuitamente, independentemente de que seja viável ou não cobrar por eles
(MANKIW, pág 217, 2001).
Nesse contexto, ocorre uma externalidade 4, pois mesmo que seja mais
eficiente haver a provisão pública, ela não necessariamente ocorrerá. Assim,
havendo falta de interesse de provisão privada, o conhecimento como um bem
público torna por se defrontar com problemas de provisão no mercado.
Outra questão a ser considerada é a do beneficiário gratuito, também
conhecido como “carona” ou “free riding”. Ora, uma vez que o custo de produção de
uma unidade a mais (rectius:custo marginal) será zero para um consumidor adicional
que desfrute do bem, a produção do conhecimento por algumas pessoas, termina
por levar a reboque outras (“de carona”) que não empreendem quaisquer de seus
recursos, seja seu tempo, dinheiro, ou qualquer outro visando cooperar para a sua
produção. Assim, passa a não ter mais atratividade pagar pelo uso do bem público,
já que há a opção individualmente mais atrativa de aproveitar-se gratuitamente do
mesmo.
Como corolário, o bem público (como o conhecimento) é tratado como uma
falha de mercado, como externalidade. A partir da perspectiva econômica, no que
concerne ao seu acesso e uso, o conhecimento se caracteriza pela não exclusão e
pela ausência de rivalidade, mas também possui outra característica: seu caráter
cumulativo. As duas primeiras características se relacionam com a indivisibilidade do
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Segundo leciona Mankiw “externalidade é o impacto das ações de uma pessoa sobre o bem-estar de outras que
não participam da ação” (MANKIW, pág 208, 2001).
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explorar o pasto em demasia com uma vaca a mais será arcada por todos. Para o
camponês em questão, a perda relacionada à vaca será apenas uma fração de `-1´.
De seu ponto de vista, é racional mandar o animal extra para o pasto. E mais outro. E
mais outro. Até o pasto entrar em colapso” (DOBELLI, pág. 64, 2014).
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“Blocking patent refers to one of two patents, both of which cannot be effectively practiced without infringing
the other. For instance, suppose John patents an improvement of George’s patented invention, then John will not
be able to practice his improvement without infringing George’s patent. George also would not be able to use
the improvement without infringing John’s patent. Therefore, in many instances owners of blocking patents
cross-license each other.”. Disponível em < https://definitions.uslegal.com/b/blocking-patent/>, acesso em
02/01/2019.
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poderia levar a menor utilidade dos bens. Um exemplo desta hipótese seria quando
um titular possuísse uma reivindicação de patente de uma inovação básica e outros
titulares possuíssem reivindicações de patente de aperfeiçoamentos. Um não
conseguiria exercer seu direito sem violar o direito do outro.
Tal situação pode ser solucionada pelo acordo entre as partes, ou seja, pela
comunhão de patentes ou pela a realização de mecanismos contratuais entre os
possuidores de patentes complementares. Aqui nasce a ideia de “licença-cruzada”,
que seria uma troca mútua de licenças entre partes não-relacionadas, a fim de
superar os problemas dos anti-commons. Isso cria uma forma de gestão comum (no
sentido de coletiva) dos direitos de propriedade intelectual, que via de regra, são
regulados por meio de contratos privados dentro das necessidades de mercado e
dos limites da regulação estatal7.
extremamente importante quando o bem comum não pode ser confiado a outros
regimes de apropriação. Implica que o estado pode excluir qualquer pessoa do uso
de um direito na medida em que atende aos procedimentos politicamente aceitos
que definem quem pode ou não utilizar o bem estatal.
Quanto aos regimes de propriedade comunal, a exclusão refere-se às pessoas
que não pertencem ao grupo que controla determinados recursos, ou seja, que não
participa de sua estrutura organizacional comunitária. Há, portanto, o poder de um
grupo excluir terceiros. Os conhecimentos das comunidades tradicionais enquadrar-
se-iam nesse regime de apropriação, por exemplo. A permanência do processo de
exclusão estabelecido no regime comunal de apropriação de bens comuns está
pautada na necessidade de seu reconhecimento legal ou moral pelos membros do
grupo e, principalmente, por aqueles não-membros do grupo comunal.
Segundo Demsetz, essa forma de propriedade falha na possibilidade de não
concentrar em uma só pessoa o exercício do direito comunal, tornando os custos de
negociação sobre os bens e direitos de propriedade comunais altos e mais
demorados porque o exercício do direito por uma comunidade em geral dificulta o
alcance um acordo mutuamente satisfatório (DEMSETZ, pág 08, 1960).
Considerando que ainda que exista um acordo para uso desses bens, ninguém
poderá utilizá-lo privadamente, forçoso concluir-se que o regime de propriedade
comunal resulta em grandes externalidades.
O desenvolvimento de direitos privados (rectius: propriedade privada) permite
que seu titular limite o uso do bem, vez que, enquanto proprietário, tem o poder de
restringir o acesso dos demais. Se a titularidade se limitar a apenas um indivíduo,
ele buscará sempre a maximização de seu valor. Neste caso haverá uma
concentração de custos e benefícios sobre a mesma pessoa, o que geraria
incentivos para utilizar os recursos de forma mais eficiente.
Entretanto, a propriedade privada lida com algumas externalidades. O
proprietário arcará sozinho com os chamados “custos de exclusão”. Tais custos
referem-se àqueles relacionados ao monitoramento, à concessão de direitos de
utilização do bem a terceiros. A privatização de acesso aos recursos termina por
promover a regulamentação de uso e acesso desses bens, que termina por ocorrer
com fulcro em objetivos privados.
Assim, muito embora o problema de cumprimento de legislação seja comum a
todos os regimes de apropriação de recursos, tal questão é mais latente no regime
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6) CONCLUSÃO
O sistema de proteção a propriedade intelectual, e principalmente o sistema de
proteção das patentes, é praticamente indissociável de uma análise econômica. Na
medida em que as próprias proteções jurídicas ao sistema interferem nos estímulos
necessários ao desenvolvimento de tecnologias e inventos, tal arcabouço regulatório
está diretamente ligado utilidade social e às políticas públicas referentes a essa
sorte de direitos e bens.
Na medida em que impõe algum ônus a ser suportado pelos agentes que
desenvolvem novas tecnologias, resta evidente que esse sistema deve conseguir
balancear o incentivo a inovação, de um lado, e de outro os benefícios sociais por
ele gerados.
Os requisitos exigidos para a concessão do direito pelo sistema jurídico acaba
não se diferenciando muito ao longo do globo. Os requisitos terminam por servir
para minimizar custos sociais do direito de patentes.
Dessa forma, percebe-se há diversos elementos que, uma vez inseridos no
escopo de proteção da patente, ou mesmo nos próprios requisitos para sua
concessão, são relevantes para parametrizar os incentivos que decorrem do
sistema.
Na medida em que guardam relação com os custos e benefícios do sistema de
patentes, o escopo de proteção e os requisitos de patenteabilidade são relevantes
para a análise das alegadas ineficiências decorrentes da situação de corridas por
patentes.
REFERÊNCIAS
BALDUS, Oliver. The ‘One Size Fits All’ Problem of Patent Systems. Journal of
Intellectual Proterty Law & Practice, vol. 5, issue 10 (2010), pp. 724-729.
COASE, Ronald Harry. The Problem of Social Cost. Journal of Law and
Economics, v. 3, n. 1, p.1-44, 1960.
HARDIN, G. The tragedy of the commons. Science, v. 162 (1968), pp. 1243-1248.
Gaceta Ecológica, núm. 37, Instituto Nacional de Ecología, México, 1995.
Publicação disponível em:
<http://science.sciencemag.org/content/162/3859/1243.full>. Acesso em
09/02/2019.
HOROWITZ, Andrew e LAI, Edwin. Patent Length and the Rate of Innovation.
International Economic Review, Vol. 37, nº 4 (Nov., 1996). Publicação
disponível em http://ihome.ust.hk/~elai/pdf/IER_paper_with_Horowitz.pdf. Acesso
em 31/01/2019.
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KIEFF, Scott. The Case for Registering Patents and the Law and Economics of
Present Patent-Obtaining Rules. Harvard Law and Economics Discussion
Paper No. 415, p. 41. Disponível em http://ssrn.com/abstract=392202, último
acesso em 31 de dezembro de 2018.