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Princípios e características do

direito econômico
Direito Econômico
Universidade Pedagógica (UP)
9 pag.

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CARACTERISTICAS DO DIREITO ECONOMICO

O direito económico caracteriza-se, principalmente, pela influência do Estado nas relações


socioeconómicas :

• Desmoronamento de fronteiras entre o direito privado e publico : Enquanto o


liberalismo reservava a actividade económica ao domínio do direito privado, o direito
publico ficava limitado ao âmbito da estruturação e funcionalismo da política do estado.
A estruturação de uma genuína política económica veio a gerar um conjunto normativo
visando a coordenação dos destinos da actividade económica sem que a iniciativa
individual fosse afastada. O direito privado que tinha o contrato como sustentação central
da vida económica e expressão insubstituível e primeira dá autonomia da vontade não
mais existe. Ele cede terreno ao direito económico.

• Carácter recente: O direito económico, ramo jurídico de intervenção do estado na


economia, é jovem em relação ao direito público em geral como consequência directa das
finalidades especiais a prosseguir e dos regimes jurídicos utilizados no âmbito de
intervencionismo estatal.

• Diversidade: O direito económico depende da estrutura económica dominante em cada


país, tornando-se inviável a elaboração de uma teoria jus - económica geral com uma
vocação ecuménica.

• Maleabilidade: As normas de direito económico contêm regras menos rígidas cujas as


causas podem ser: diversidade de interventores na actividade económica, regimes
variados de intervenção estadual, novos tipos de actos com características próprias e
específicas.

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• Mobilidade ou mutabilidade: A mobilidade ou mutabilidade manifesta se na
transitoriedade da vigência e na plasticidade na adaptação aos casos concretos de uma
parte de suas normas, em parte justificada pela sua natural sensibilidade às mudanças
sociais e pela sua ligação as politicas económicas conjunturais.

Porque a politica económica é endereçada a factos concretos e isolados e porque, em


virtude disso, não atinge uma satisfação generalizada, os sectores prejudicados
abrandarão pela mudança que o estado não poderá ignorar em busca do devido equilíbrio,
encurtando o ciclo biológico dos diplomas.

• Dispersão e heterogeneidade: A dispersão e heterogeneidade das fontes do Direito


Económico manifestam-se na diversidade e no ecletismo das suas fontes. Neste Direito
precisa de recorrer simultaneamente a regras e a instituições do Direito Publico e do
Direito Privado tendo em conta as questões que se levantam pela intervenção estadual na
economia.

• O carácter concreto: O Direito Econômico tem a ver com normas concretas


direcionadas à condução do fenômeno econômico. Este, na verdade, é um fenômeno
plenamente situado, visceralmente vinculado historicamente. Como visto, a economia se
entende como a “ciência da escolha racional num mundo – o nosso mundo – em que os
recursos são limitados em relação com as necessidades humanas”.64 Ora, as
necessidades humanas são determinadas qualitativa e quantitativamente pelo contexto
histórico e geográfico. Daí que as normas direcionadoras da economia também se
ressintam dessa aderência concreta ao tempo e ao lugar. As noções tradicionais do Direito
de pessoa moral ou coletiva e de coisa ou bem jurídico assumiram outra forma e
conteúdo, sob a figura de empresa, interessando predominantemente nesta os aspectos de
uso ou abuso de poder econômico, de concorrência e competição no mercado. Quanto a
coisas e bens, mais interessa hoje indagar sobre o ativo das empresas, sobre o valor de
seu patrimônio, condicionadores de seu posicionamento na bolsa. Também o contrato
assumiu feição eminentemente concreta, passando a plano secundário o conceito teórico

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e abstrato de liberdade contratual e autonomia da vontade. Interessa na relação contratual
moderna perquirir a igualdade concreta das partes de uma relação contratual. Tanto o
legislador quanto o juiz desprezam os conceitos de uma abstrata igualdade, para verificar
se, no plano concreto do confronto entre as partes, são elas verdadeiramente iguais, ou se
há uma dominação ou escravidão de uma relativamente à outra.65

• O declínio do princípio da generalidade da lei: O princípio da generalidade como


característica fundamental da lei decorre de sua concepção como concretização dos
princípios racionais, através dos quais se pretendeu proteger o cidadão quer contra o
poder absoluto do legislador quer contra o arbítrio estatal. A generalidade da lei é
consequência da crença na racionalidade do universo e do homem. Esse princípio tem
uma raiz ideológica na necessidade de se defender o cidadão e se corporificou nos textos
constitucionais do século XIX. A partir do momento em que o Estado se propõe a adotar
atitudes concretas de direção do fenômeno econômico, não é mais possível aceitar
irrestritamente o princípio da generalidade da lei. No contexto de um liberalismo
econômico puro, poder-se-ia falar da generalidade da lei, porque assumia uma figura
abstrata de garantia das liberdades do indivíduo, ficando a este o encargo concreto de
dirigir o fenômeno econômico através de um instrumental adequado para tratar com o
caso particular. Se o fenômeno jurídico está direcionado para a ordem, para a consecução
de um equilíbrio na convivência humana e, por isso, voltado para a unidade abstrata e
geral, o fenômeno econômico se comporta como uma força centrífuga e desagregadora,
provocadora de choques, de dissociação e de desequilíbrio na sociedade e, por isso,
voltada para a diversidade concreta e individual.41 Assim, pois, aquele instrumental que
era utilizado pelos indivíduos para conduzir o fenômeno econômico passou a ser adotado
pelo Estado para o mesmo fim. As normas jurídicas assim adotadas fogem ao parâmetro
de generalidade e de abstração adotado pelo liberalismo político e econômico para adotar
características de concretude e de individualidade.

• Permeabilidade politica: Este direito é particularmente sensível às orientações politicas


do poder legislativo e da administração que deixam uma ampla esfera de liberdade que e

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preenchida chamando à colação critérios políticos ao sabor das maiorias parlamentares
ou das opções do governo do dia. A vontade politica dos órgãos do poder torna-se, deste
modo, uma componente essencial no Direito Económico porque a vontade politica do
legislador é um actor principal.

• A ampliação: A ampliação do âmbito das fontes tradicionais (com inclusão de leis –


medida, leis – plano, actos – incentivo, etc) e o relativo declínio da sua importância,
derivado do peso que assumem as novas fontes (acordos de concertação, códigos de
conduta, contratos - tipo)

• Economicidade: O Estado, ao dirigir ou promover a atividade econômica tem


finalidades diferentes daquelas objetivadas pela ação efetivada pelo indivíduo. Este
procura sempre obter o maior lucro possível, consistente em reunir a maior quantidade
possível de bens, para alcançar o seu bem-estar pessoal. O Estado deve colocar em
primeiro plano a vantagem coletiva, condição e ambiente para a prossecução do bem-
estar individual. Daí vir a perguntar: o que é melhor, a maior quantidade de bens ou a
maior qualidade de vida? Em que medida a qualidade deve compatibilizar-se com a
quantidade? A resposta a essa pergunta foi tentada desde a antiguidade clássica. No plano
da ética individual, EPICURO se preocupou em dar a resposta a esse questionamento.
Sua doutrina, também chamada de edonismo, veio ensinar que o ser humano deve
procurar sempre o maior prazer possível.54 JEREMY BENTHAM segue essa linha de
pensamento, colocando no lugar do prazer o interesse. Todo o agir humano é orientado
pelo interesse, que se realiza no plano individual e também no geral. Sua moral se reduz
a um criterioso cálculo de interesses.55 JOHN STUART MILL vem colocar o problema
dos interesses e de seu fomento no âmbito do Estado e no questionamento da intervenção
estatal. Dentro da concepção liberal, cabe ao indivíduo formular uma opinião exata e
mais inteligente de seus próprios interesses e dos meios para fomentá-los. Como critério
definidor aceita o Princípio da Maior Felicidade.56 O princípio da economicidade teve
também sua conceituação trabalhada por R. STAMMLER, mostrando que o homem
procura atingir a satisfação de suas necessidades através da menor quantidade possível de

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esforço e sacrifício. Este é o princípio que acompanha ao homem, e deve também
acompanhar o Estado, na busca da realização dos objetivos sociais.57 O princípio da
economicidade é o critério que condiciona as escolhas que o mercado ou o Estado, ao
regular a atividade econômica, devem fazer constantemente, de tal sorte que o resultado
final seja sempre mais vantajoso que os custos sociais envolvidos. Nessas escolhas,
estarão sempre presentes os critérios da quantidade e da qualidade, de cujo confronto
resultará o ato a ser praticado. As ações econômicas não podem tender, em nível social,
somente à obtenção da maior quantidade possível de bens, mas a melhor qualidade de
vida. É este um dos aspectos enfatizados pela conhecida teoria da análise econômica do
Direito, a par da importância conferida ao critério da eficiência, como se verá a seguir.59

• Eficiência: Ao implantar determinada política econômica, deve o Estado pautar-se pelo


princípio da eficiência, que é inerente à atividade econômica. E, ao fazê-lo, deve o
Estado observar três planos, ou seja, aquele em que ele próprio exerce uma atividade
econômica, dentro do âmbito de permissão ou de imposição constitucional; aquele em
que adota uma postura normativa da atividade econômica; e aquele em que estimula ou
favorece ou planeja a atividade econômica. É óbvio que o mesmo princípio deverá
informar a atividade das empresas, que, ao exercerem a atividade econômica, devem
estar imbuídas da ideia de que o seu sucesso depende exatamente da eficiência das
posturas adotadas.

O princípio da eficiência foi abordado por CABRAL DE MONCADA, pertinentemente


à empresa e se estende a sua influência informadora também à atividade do Estado, como
visto. Ao conceituar tal princípio, assim o expõe aquele Autor: Através deste princípio
fica a empresa obrigada a acomodar a sua gestão económica a um aproveitamento
racional dos meios humanos e materiais de que dispõe, minimizando os custos de
produção, de modo a poder responder na maior escala possível às necessidades que se
propõe satisfazer. Mas esse princípio teve uma abordagem bem mais ampla e profunda
através dos ensinamentos trazidos pela Escola de Chicago, através do mentor da Análise
Econômica do Direito, RICHARD POSNER. Segundo esse autor, a economia normativa
dita a lei ao legislador, ao juiz e ao intérprete. Entende Posner que a economia não está

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destituída de uma escala de valores, impregnando-se dos valores fixados pela política,
pela moral e pelo direito. O fundamento dessa escala de valores é a eficiência,
entendendo ele que um dos sentidos de justiça é exatamente o de eficiência, pois o
homem é um maximizador racional de seus fins na vida, de suas satisfações. Os
instrumentos de que se serve nessa avaliação são as noções de preço, custo, custo das
oportunidades, de gravitação dos recursos em direção a um uso mais vantajoso. Para
POSNER a eficiência é a “utilização dos recursos econômicos de modo que o valor, ou
seja a satisfação humana, em confronto com a vontade de pagar por produtos ou serviços,
alcance o nível máximo, através da maximização da diferença entre os custos e as
vantagens” Expondo o pensamento de Posner, GUIDO ALPA assim o condensa: Numa
perspecva econômica, função fundamental do direito é portanto a modificação dos
incentivos. Deste modo, o ordenamento jurídico assume a função de instrumentário de
ordens “possíveis”, ou seja compaveis com as leis da economia: o direito tem uma função
de mímese do mercado; não se “devem” dar (e é aqui que nasce a economia normava, e
é ainda aqui que se descobre a escala de valores que Ackerman imputa a Posner) normas
em contraste com o mercado, mas somente normas que transformem em comportamento
vinculado as exigências objetivadas dele provenientes.63 O ordenamento jurídico
brasileiro, a partir da Constituição de 1988, no art. 37, impõe a obediência, a par dos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, também ao princípio
da eficiência.

PRINCIPIOS DO DIREITO ECONOMICO

O estudo dos princípios que regem a aplicação do Direito Econômico oferece alguma
particularidade, relativamente à relação entre Direito Público e Direito Privado, porque, como já
vimos no primeiro capítulo, este novo ramo do Direito se situa numa interseção daqueles dois
ramos, revelando-se como um direito de síntese.23 Alguns desses princípios têm uma origem
puramente constitucional, outros decorrem de leis ordinárias, outros da jurisprudência
consagrada e outros ainda da atuação de órgãos administrativos reguladores (neste caso
vinculados aos princípios constitucionais e legais referentes a cada setor regulado), e outros
ainda da contribuição da Economia como ciência. Pode-se, por um lado, verificar que alguns dos

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princípios inseridos no atual texto constitucional têm suas raízes de caráter liberal herdado de
constituições anteriores, mas observa-se também que a tradição constitucional de caráter
intervencionista no domínio econômico deixou suas marcas, quer introduzindo princípios novos,
quer dando nova configuração aos princípios liberais, agora aceitos como neoliberais. Dentre os
primeiros, podemos apontar o princípio da proteção do direito de propriedade, o princípio da
liberdade de comércio e de indústria, e o princípio da igualdade. A proteção outorgada
constitucionalmente ao princípio do direito de propriedade, de origem liberal (Constituições de
1824 e 1891), de características absolutas, recebeu importante impacto das ideias socializantes,
passando a ter função social (a partir da Constituição de 1934). O contrato é o instrumento
jurídico de transferência da propriedade. Passando esta a ter um parâmetro limitador no conceito
de função social, era de se esperar que também o contrato viesse a ter a mesma contenção.
Dentro dessa tendência, o Código Civil de 2002 estabelece, no artigo 421, que “a

liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. O
princípio da liberdade de comércio e de indústria, concebido inicialmente como uma liberdade
total, recebeu também novos contornos, passando a figurar como uma liberdade constitucional
limitada; uma liberdade de iniciativa, mas dentro de um enquadramento de mercado, em que
sobreleva o princípio da liberdade de concorrência. Trajetória semelhante teve o princípio da
igualdade, que, de uma igualdade absoluta e abstrata, passou a receber do texto constitucional a
configuração de uma igualdade relativa e concreta. Sobre este ponto, comenta JEANPHILIPPE
COLSON decisão do Conselho de Estado, segundo o qual “ o princípio [da igualdade] não se
constitui em obstáculo a que uma lei estabeleça regras não idênticas a respeito de categorias de
pessoas que se encontrem em situações diferentes, quando esta não identidade é justificada pela
diferença de situação e não é incompatível com a finalidade perseguida pela lei”.24 Este
princípio pode ainda sujeitar-se à ação reguladora do poder público e também às intervenções
diretas. Sob o influxo das necessidades de aplicação de determinadas políticas econômicas, pode
o mesmo princípio tornar-se maleável, a ponto de admitir tratamentos discriminatórios. É o que
ocorre, por exemplo, com o tratamento favorecido concedido pela Constituição às empresas de
pequeno porte, como consta do inciso IX do artigo 170 da Constituição Federal (“ tratamento
favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sua sede e administração no País”). Coerentemente com este princípio, estabelece o artigo 179 a
regra segundo a qual “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às

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microempresas e às empresas de pequeno porte,… tratamento jurídico diferenciado, visando a
incentivá-las pela simplificação de suas obrigações…”.

Princípios e regras do direito económico

INTRODUCAO

O estudo da Economia foi estabelecido como ciência pelos fisiocratas, que acreditavam,
originariamente, que todo fator de produção se originava na terra e seu cultivo. Posteriormente,
os fisiocratas passaram a interessar-se por outros fatores de produção, mormente com o avanço
do mercantilismo, movimento que se caracterizou pelo incremento das relações comerciais
ocorrido na Europa. Podemos assim definir o mercantilismo como o marco inicial para que o
Estado Liberal fosse implementado. Todavia, a disputa por mercados econômicos bem como o
exercício abusivo das liberdades e direitos individuais levaram à derrocada do modelo liberal
econômico, tendo como marcos históricos a 1a e a 2a Guerras Mundiais, fatos que motivaram o
Estado a repensar seu papel diante da Ordem Econômica interna e internacional, atuando,
inclusive, no sentido de limitar e cercear os direitos e liberdades individuais economicamente.

Deste modo, podemos identificar que o Direito Econômico objetiva o estudo do


disciplinamento jurídico da organização e do planejamento da ordem econômica, a ser efetuada
por parte do Poder Público, norteando os agentes econômicos do mercado.

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CONCLUSAO

Por fim, cumpre mencionar que o Direito Econômico transcende à mera análise econômica
do Direito, sendo esta, tão somente, um estudo sobre a influência da Economia nos negócios
jurídicos do Estado e das relações privadas.

Assim, podemos dizer que o Direito Econômico é filho do seu tempo, entendendo-se esta
metáfora como o conjunto de valores sociais, culturais, econômicos e políticos constantes em
cada época específica da história da Nação, que vão permear seu conteúdo normativo

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