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DIREITO INTERNACIONAL
1. Conceito
O Direito Internacional Público – ou direito das gentes – é o conjunto de princípios
e regras que rege as relações entre Estados soberanos, bem como, dos organismos
internacionais (Ex. Organizações Internacionais intergovernamentais, como as Nações
Unidas) e dos indivíduos (Ex. aspectos da “proteção internacional da pessoa humana”).1
São, portanto, sujeitos do direito internacional os Estados Soberanos, as organizações
internacionais e o homem.2
O Direito Internacional não se confunde com o direito interno dos Estados
soberanos. Como ensina Rezek3, sobre o assunto há duas teorias em confronto:
“Para os autores dualistas – entre os quais se destacaram neste século Carl
Heinrich Triepel, na Alemanha, e Dionísio Anzilotti, na Itália –, o direito internacional e o
direito interno de cada Estado são sistemas rigorosamente independentes e distintos, de tal
modo que a validade jurídica de uma norma interna não se condiciona à sua sintonia com
a ordem internacional. Os autores monistas dividiram-se em duas correntes. Uma sustenta
a unicidade da ordem jurídica sob o primado do direito internacional, a que se ajustariam
todas as ordens internas. Outra apregoa o primado do direito nacional de cada Estado
soberano, sob cuja ótica a adoção dos preceitos do direito internacional reponta como
uma faculdade discricionária.”
E continua, explicando que as teorias a respeito do direito internacional e sua
relação com o direito interno estão sujeitas a críticas. Como obtempera Carlos Roberto
Husek4 “ambos – Direito Internacional e Direito Interno – têm campos de atuação
distintos, sendo, no entanto, difícil, às vezes, demarcar quando começa um e quando o
outro termina. Algumas matérias, como a que discorre sobre a nacionalidade ou a que se
preocupa com os direitos humanos, têm campo quase comum”.
1
“É certo que a personalidade dos indivíduos, no plano internacional é limitada. Contudo, em certas ocasiões,
principalmente no que diz respeito aos crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, têm os
indivíduos, assim, como os Estados, responsabilidade no plano internacional”. (in MAZZUOLI, Valério de
Oliveria. Direito internacional público. 2 ed. São Paulo: RT, 2005. p. 18).
2
Em sentido contrário, José Francisco Rezek considerando somente como sujeito de direito internacional os
Estados soberanos (in Direito internacional público. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 3).
3
REZEK, José Francisco. Direito internacional público. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 4.
4
HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. 5 ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 30.
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2
DIREITO INTERNACIONAL
4. Tratados Internacionais
São acordos formais, bilaterais ou plurilaterais, firmados entre os Estados ou
organismos internacionais destinados a produzir efeitos jurídicos na ordem internacional.
De acordo com Celso D. de Albuquerque9 a terminologia dos tratados é bastante
imprecisa no âmbito internacional, por exemplo: Tratado é termo utilizado para acordos
5
Idem. p. 36.
6
Nações nas quais existe ordem jurídica, não tem o termo sentido discriminatório ou preconceituoso.
7
Op. cit. p. 37.
8
José Francisco Rezek: “No domínio comum ao direito internacional e às ordens jurídicas domésticas, é
virtualmente unânime o abono à validade de princípios ora de direito material, ora de procedimento, todos
com grande lastro histórico: pacta sunt servanda, lex posterior derogat priori, nemo plus júris transferre
potest ipse habet”. (in Op. cit. 129).
9
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15 ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2004. p. 212-213. V.1
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DIREITO INTERNACIONAL
solenes (ex. tratado de paz), enquanto que, Convenção é tratado que cria normas gerais (ex.
convenção sobre mar territorial). Declaração, por sua vez, é tratado para criação de
princípios jurídicos (ex. Declaração de Paris de 1856), Pacto também é terminologia
utilizada para designar um tratado solene, Protocolo tanto pode referir-se a um ato de uma
conferência, quanto a um acordo internacional em que são criadas normas jurídicas. Há,
além dessas, inúmeras variações de nomenclatura, mas a verdade é que isso “não guarda
relação com o teor substancial do tratado, visto que pode ele referir-se a uma gama
imensa de assuntos”, ensina Husek10.
4.1 Classificação
Cuida-se, no presente texto, das classificações mais recorrentes:
Quanto ao número de partes envolvidas: a) Tratado Bilateral: aquele celebrado
entre duas pessoas, que tanto podem ser Estados ou organizações internacionais; b) Tratado
Multilateral (ou plurilateral) é o formalizado entre três ou mais pactuantes.
Quanto à natureza jurídica os tratados podem ser: a) Tratado-lei ou tratado-
normativo: estabelece normas de interesse geral, geralmente celebrado por grande número
de Estados; b) Tratado-contrato: visa compor interesses divergentes, como num verdadeiro
contrato entre as partes; por exemplo, um tratado comercial. Destaque-se que mesmo nesses
existem alguns elementos normatizadores.
Quanto ao procedimento: a) Tratado simplificado: é o que não necessita de
ratificação; b) Tratado solene: necessita de ratificação, tem um procedimento mais extenso.
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DIREITO INTERNACIONAL
13
HUSEK, Carlos Roberto. Op. cit. p. 66.
14
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 49.
15
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 616.
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5
DIREITO INTERNACIONAL
4.3 Reserva
“A reserva é um qualificativo do consentimento. Define-a a Convenção de Viena
como a declaração unilateral do Estado que consente, visando ‘excluir ou modificar o
efeito jurídico de certas disposições do tratado em relação a esse Estado’”.16
Nas negociações, no âmbito dos tratados plurilaterais ou multilaterais, há
possibilidade de um ou alguns aspectos do compromisso não serem satisfatórios a um dos
Estados signatários. Nesse caso, comportando o tratado reservas (já que há tratados que por
sua natureza não comportam), devem ser essas opostas pela autoridade de governo do
Estado soberano quando da assinatura do pacto.
16
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 66.
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DIREITO INTERNACIONAL
não podem denunciá-lo17, exceto no caso de cláusula expressa em sentido contrário. Não
havendo disposição a respeito vige por tempo indeterminado, havendo possibilidade de ser
modificado por uma nova convenção.
Os tratados constituem-se geralmente de um preâmbulo, o qual elenca as partes e
dispõe sobre as razões do ato; por uma parte dispositiva, essencialmente jurídica, na qual se
ordenam os artigos; e, por fim, quando existem, pelos anexos, que podem ser gráficos,
listas etc.
Extinguem-se os tratados: pela execução integral de seu conteúdo; por ato de
vontade das partes; pelo término de seu prazo de vigência; pela denúncia (vontade
unilateral) e pela impossibilidade de execução.
5. Organizações Internacionais
5.1 Conceito
As Organizações Internacionais intergovernamentais são entes que nascem da
reunião entre Estados e, assim como estes, possuem personalidade jurídica de direito
internacional (personalidade essa distinta da dos Estados que a criaram). São instituídas por
meio de tratados (ato constitutivo). Exemplos: Organização das Nações Unidas (ONU) e
Organizações dos Estados Americanos (OEA).
Ensina Rezek que o mais expressivo elemento indicativo da personalidade jurídica
de uma organização internacional é a sua competência de realizar tratados em seu próprio
nome.18
Distinguem-se as organizações internacionais intergovernamentais, e isso é de suma
importância, das organizações internacionais privadas ou não-governamentais, pois essas
nascem da “vontade de particulares com ou sem intervenção de órgãos públicos”19 e não
têm personalidade jurídica de direito internacional. Exemplos: Anistia Internacional e
Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
5.3 Peculiaridades
17
Denúncia é um ato unilateral por meio do qual o Estado manifesta sua vontade de deixar de ser parte do
acordo internacional.
18
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 242.
19
MAZZUOLI, Valério de Oliveira.Op. cit. p. 126.
20
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 242.
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DIREITO INTERNACIONAL
5.4 Espécies
Quanto à finalidade as Organizações podem ser:
a) de vocação política – sem tema específico, são as que, por exemplo, buscam a
preservação da paz e da segurança.
b) de vocação técnica – têm fim específico, voltadas, por exemplo, a uma
finalidade econômica ou financeira.
Quanto ao alcance são denominadas:
a) de alcance universal – aquelas que congregam todos os Estados da comunidade
internacional. Exemplos: ONU (Organização das Nações Unidas) e OIT
(Organização Internacional do Trabalho).
b) de alcance regional – restrita a um número reduzido de Estados. Exemplos:
MERCOSUL (Mercado do Cone Sul) e OEA (Organização dos Estados
Americanos).
6 Direito da Integração
6.1 Conceito
Novo ramo do Direito Internacional que cuida da integração entre regiões, estuda as
suas fases e o direito que as envolve.
A Constituição Federal dispõe a respeito no § único do art. 4º, in verbis – “A
República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural
dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
de nações”. (grifo nosso)
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DIREITO INTERNACIONAL
6.4 O Mercosul
Teve início na década de 60, com a idéia de uma simples zona de comércio (livre
circulação de mercadorias, sem bloqueios alfandegários).
Em 26 de março de 1991, foi firmado o Tratado de Assunção que criou o Mercosul,
o qual possui quatro integrantes – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai –, tendo natureza
jurídica de direito internacional público (Tratado de Ouro Preto – 1994).
O Tratado de Ouro Preto fixou alguns critérios a respeito do Mercosul, como por
exemplo, o da negociação direta por meio dos órgãos que o compõem; na impossibilidade
de composição entre os Estados estes se submetem à decisão de árbitros nomeados etc.
(vide tratados relacionados)
21
HUSEK, Carlos Roberto. Op. cit. p. 158.
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9
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22
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito internacional público. 2 ed. São Paulo: RT, 2004. p. 122-123.
23
Idem, ibdem. p. 122.
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DIREITO INTERNACIONAL
24
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 263.
25
Idem. p. 327.
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26
REZEK, José Francisco. Op. cit. p. 291.
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12
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27
Idem. p. 295.
28
Idem, ibidem. p. 296.
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DIREITO INTERNACIONAL
1. Conceito
Ramo da ciência jurídica que define o conjunto de normas e princípios que agem
sobre as relações jurídicas nas quais se encontram elementos internacionais. Destaque-se
que as normas de Direito Internacional Privado são aplicadas desde que haja previsão do
ordenamento jurídico interno, de cada Estado soberano, para fazê-lo.
Assim, como ensina Beat Walter Rechsteiner31,
“todos os ordenamentos jurídicos nacionais estabelecem regras peculiares,
concernentes às relações jurídicas de direito privado com conexão internacional.
Tais regras dizem respeito, principalmente, ao direito aplicável, que será sempre o
direito nacional ou um determinado direito estrangeiro.
29
Idem. p. 304.
30
Idem. p. 304.
31
RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 2-3.
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DIREITO INTERNACIONAL
Atente-se, porém, que essas regras não resolvem a questão jurídica propriamente
dita, indicando, tão-somente, qual direito, dentre aqueles que têm conexão com a lide sub
judice, deverá ser aplicado pelo juiz ao caso concreto.”
32
Idem. p. 100-101.
33
DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado – parte geral. 7 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.
91.
34
RECHSTEINER, Beat Walter. Op. cit. p. 109.
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DIREITO INTERNACIONAL
Tribunais ocasionando vasta produção jurisprudencial nessa seara. Ocorre que, no Brasil,
assim como nos diversos países sul-americanos, a atividade internacional é reduzida, “tanto
no campo das relações de família como nas relações contratuais, civis e comerciais. Daí a
escassez da produção jurisprudencial, fenômeno este que faz atribuir à Doutrina um
papel de importância maior do que o prevalecente no continente europeu (grifo nosso). A
Jurisprudência brasileira se limita praticamente a decisões sobre homologação de
sentença e ‘exequatur’ em cartas rogatórias, matérias atinentes ao direito processual
internacional, a processos de expulsão e de extradição, sujeitos ao Estatuto Estrangeiro e
ao direito penal internacional e a decisões no campo fiscal de caráter internacional. Raras
as questões em que nossas cortes têm oportunidade de aplicar direito estrangeiro”.35
35
DOLINGER, Jacob. Op. cit. p. 70.
36
Idem. p. 52.
37
RECHSTEINER, Beat Walter. Op. cit. p. 116.
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DIREITO INTERNACIONAL
privado”. Retome-se o exemplo acima: o objeto de conexão são as regras sobre o começo e
fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
Quanto à natureza, as normas podem ser ainda conceituais ou qualificadoras que
apenas definem certos institutos de Direito Internacional Privado.
Em relação à estrutura, as normas podem ser: unilaterais ou bilaterais. As primeiras
declaram uma única ordem jurídica como aplicável; em regra, o direito doméstico.
Exemplo: norma do art. 7º, §1º da LICC. As bilaterais, por sua vez, indicam ou as normas
do direito doméstico ou as do direito estrangeiro como aplicáveis. Exemplo: norma contida
no caput do art. 10 da LICC.
4. Qualificação
“A qualificação é um processo técnico-jurídico sempre presente no direito, pelo
qual se classifica ordenadamente os fatos da vida relativamente às instituições criadas
pela Lei ou pelo Costume, a fim de bem enquadrar as primeiras nas segundas,
encontrando-se assim a solução mais adequada e apropriada para os diversos conflitos
que ocorrerem nas relações humanas”.38
Dessa definição pode-se extrair que a qualificação é o processo pelo qual se delineia
e caracteriza o fato para enquadrá-lo à norma jurídica que também precisa ser classificada
ou caracterizada.
A qualificação é de suma importância no Direito Internacional Privado, “onde se
procura ligar o fato ou ato com um determinado sistema jurídico, e para esta operação é
preciso qualificar a hipótese submetida à apreciação, eis que, dependendo de sua
classificação, saber-se-á se a mesma constitui uma situação inerente ao estatuto pessoal do
agente de direito, se se trata de uma situação de natureza contratual substancial, se versa
sobre uma questão de forma do ato, se estamos diante de um problema sucessório e assim
por diante. Uma vez efetuada a qualificação em uma ou outra dessas categorias, recorrer-
se-á à regra de conexão correspondente e aplicar-se-á o direito de um ou outro sistema
jurídico”.
Dessume-se das linhas transcritas que primeiro deve-se fazer a subsunção do
acontecimento apresentado em juízo, ou seja, verificar, por exemplo, se a questão refere-se
à capacidade da pessoa; para tanto é necessário decidir qual sistema jurídico irá qualificar o
fato ou ato submetido à apreciação, pois é possível que a lei qualificadora seja a do foro
(lex fori), ou, ainda, que seja lei estrangeira (lex causae). Feito isso, recorre-se à regra de
conexão (norma indicativa) para só então saber qual a lei regulará a questão posta em juízo.
Destaque-se, que a qualificação somente atinge o objeto de conexão da norma
indicativa ou indireta e não o seu elemento de conexão (cf. conceitos do item 3 do Capítulo
II).
Três teorias foram elaboradas para a escolha da lei qualificadora do objeto de
conexão:
a) qualificação pela lex fori – o aplicador da lei diante de uma questão jurídica com
conexão internacional, e, verificando que a matéria tem qualificação diferente no direito
interno e no direito estrangeiro, qualifica-a de acordo com seu próprio direito (lei do foro).
38
DOLINGER, Jacob. Op. cit. p. 367.
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17
DIREITO INTERNACIONAL
Por exemplo: a Lei de Introdução ao Código Civil, em regra, qualifica o objeto de conexão
de acordo com a lei interna (lei brasileira), assim, se houver controvérsia sobre o conceito
de capacidade em uma questão de conexão internacional, será o direito interno brasileiro
que definirá o que vem a ser capacidade para só depois o juiz aplicar a lei do domicílio da
pessoa (cf. o disposto no caput do art. 7º);
b) qualificação pela lex causae – nesse caso, o aplicador do direito recorrerá ao
direito estrangeiro para qualificar o objeto de conexão, ou seja, recorrerá à lei da causa. A
Lei de Introdução ao Código Civil, em dois momentos abre exceção à qualificação pela lei
do foro, imiscuindo-se nessa teoria, quando a matéria versar sobre bens ou contratos. Nesse
sentido, o art. 8º, caput o qual dispõe que “para qualificar os bens e regular as relações a
eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados” e o art. 9º, caput
que prevê que “para qualificar e reger as obrigações,aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem”. Exemplificando: Para saber se o objeto da causa com conexão internacional
é um bem móvel ou imóvel o aplicador do direito tomará como referência as regras da
situação do bem, ou seja, as regras do país onde o bem está situado e não as regras do
Código Civil brasileiro.39
c) qualificação por referência a conceitos autônomos e universais – “o Juiz não deve
ficar preso à qualificação de determinadas leis, seja de foro, seja da causa, mas,utilizando-
se do método comparativo, ir em busca de conceitos autônomos, diferentes dos conceitos
internos e dotados de caráter universal”.40 O Direito Internacional Privado brasileiro não
adota tal teoria.
5. Preceitos básicos
5.1 Ordem Pública
Ao julgar uma relação jurídica de direito privado com elementos internacionais, o
juiz deve atentar para a ordem pública. Dessa forma, não pode aplicar o direito estrangeiro
se esse atentar contra a ordem interna. No Brasil, a Lei de Introdução ao Código Civil é
expressa nesse sentido no art. 17, o qual preceitua: “As leis, atos e sentenças de outro país,
bem como quaisquer declaração de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando
ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes” (grifo nosso). A
essa cláusula de exceção dá-se o nome de reserva de ordem pública, “que se propõe a
corrigir a aplicação do direito estrangeiro, quando este leva, no caso concreto, a um
resultado incompatível com os princípios fundamentais da ordem jurídica interna”.41
Destaque-se que ordem pública é conceito relativo, pois varia no tempo e no espaço,
demais disso, é conceito aberto, uma vez que necessita ser concretizado pelo magistrado,
quando julga causa que envolve direito privado com conexão internacional.
39
“Os artigos 8º e 9º constituem exceções, justificadas, pois mesmo os que adotam a qualificação pela lex
fori admitem que este princípio não se aplica aos bens, uma vez que somente o legislador do local em que os
bens se encontram é competente para classifica-los; no que concerne às obrigações, a opção de nosso
legislador pela aplicação da lei do lugar em que o contrato se constitui é uma decorrência do princípio da
autonomia da vontade, pois há sempre uma vontade tácita de submeter o contrato à lei do local em que este
se realizou. Ora, não se concebe que as partes contratantes escolham determinada lei parcialmente, deixando
de adota-la na sua integralidade”. (DOLINGER, Jacob. Op. cit. p. 377).
40
Idem. p. 374-375.
41
RECHSTEINER, Beat Walter. Op. cit. p. 156.
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18
DIREITO INTERNACIONAL
42
DOLINGER, Jacob. Op. cit. 392.
43
RECHSTEINER, Beat Walter. Op. cit. p. 168-169.
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19
DIREITO INTERNACIONAL
existem duas possibilidades: “Ou o juiz aplica o mesmo direito, que aplicará à questão
jurídica principal, também à questão prévia, caso em que o direito aplicável à questão
prévia depende do aplicável à questão principal, ou ele determina o direito aplicável à
questão prévia, independente da principal, reconhecendo assim a autonomia da questão
prévia em face da questão jurídica principal”. Solução que depende de lei ou de tratados,
“na falta de uma regra específica (...) o juiz, antes de tomar uma decisão, deve ponderar os
interesses concorrentes no caso”.
5.4 Reenvio
O reenvio verifica-se quando ocorre um conflito negativo entre os sistemas de
Direito Internacional Privado de dois países, isto é, as regras de cada um dos sistemas
apontam como sendo competente para reger a matéria em discussão a lei interna do outro
sistema. Assim, por exemplo, a lei de um país X considera aplicável ao caso concreto as
normas do país Y remetendo-se à lei desse, por sua vez, a lei do país Y considera aplicável
as normas do país X e não a própria, reenviando para a lei desse. Reenvio, portanto,
significa retorno.
No Brasil, o reenvio, de acordo com o art. 16 da Lei de Introdução ao Código Civil
está vedado. Determina a LICC a aplicação do direito estrangeiro ainda que este determine
remissão a qualquer outra lei. Há pouca jurisprudência pátria sobre o assunto e críticas
doutrinárias a respeito do posicionamento da nossa legislação.
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DIREITO INTERNACIONAL
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Nádia de. Direito internacional privado – teoria e prática brasileira. 2 ed. Rio
de Janeiro: Renovar, 2004.
DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado – parte geral. 7 ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2003.
HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. 5 ed. São Paulo: LTr,
2004.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Direito internacional público. 2 ed. São Paulo: RT,
2004.
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15 ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2004. V. 1
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005.
RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado. 5 ed. São Paulo: Saraiva,
2002.
REZEK, José Francisco. Direito internacional público. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
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