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(2) a. A Maria quebrou a janela com a bola. Há outras relações em jogo, além das
sintáticas, que dizem respeito aos sentidos
b. A janela quebrou.
entre o verbo e os seus argumentos.
c. A bola quebrou a janela.
O verbo também atribui a esses
(3) a. A Maria acertou a janela. argumentos FUNÇÕES SEMÂNTICAS, as
quais determinam a sintaxe da sentença.
b. * A janela acertou.
Quando o verbo exprime uma ação, a atitude do sujeito com referência ao processo verbal
pode ser de atividade, de passividade, ou de atividade e passividade.
OBJETO DIRETO – complemento que indica o
Maria levantou o menino. ser para o qual se dirige a ação verbal.
O sujeito Maria executa a ação expressa pela forma verbal levantou. O sujeito é, pois, o AGENTE.
AGENTE DA PASSIVA – designa o ser que
O menino foi levantado por Maria. pratica a ação sofrida ou recebida pelo sujeito.
A ação não é praticada pelo sujeito o menino, mas pelo AGENTE DA PASSIVA – Maria. O sujeito, no
caso, sofre a ação; é dela o PACIENTE.
Maria levantou-se.
A ação é simultaneamente exercida e sofrida pelo sujeito Maria. O sujeito é então, ao mesmo
tempo, o AGENTE e o PACIENTE dela.
Introdução
(4) a. A Maria ganhou um livro. AGENTE?
b. *O livro foi ganhado por Maria.
(...)
“Observe e analise.
[...] lavou-se, vestiu-se [...].
Nessas orações, o sujeito estabelece uma relação de atividade ou de
passividade em relação à ação verbal?”. De acordo com a resposta obtida no
manual do professor, as autoras esperam que o aluno perceba que o sujeito
estabelece ambas as relações de atividade e de passividade em relação à
ação verbal.
Espera-se que o aluno perceba que o sujeito estabelece ambas as relações de atividade e de passividade
em relação à ação verbal.
“Quando a forma verbal se reverte para o próprio sujeito com o auxílio de um pronome e o sujeito é ativo e
passivo simultaneamente, temos a chamada voz reflexiva”.
“Quando a voz reflexiva corresponde a um sujeito composto, é chamada de voz reflexiva recíproca”
2. As Vozes Verbais nas
Gramáticas de Língua
Portuguesa
2. As Vozes Verbais nas Gramáticas de Língua Portuguesa
1) Ação rigorosamente reflexa, que o sujeito em vez de dirigir para algum ente
exterior, pratica sobre si mesmo.
Pedro matou-se.
AGENTE: o iniciador de alguma ação, capaz de EXPERIENCIADOR: a entidade que está ciente da ação
agir com vontade. ou do estado descrito pelo predicado, mas que não
está do controle dessa ação/estado.
(1) José cozinhou dois ovos.
(2) O gato saltou para fora da casa. (7) A Lara se sente casada.
(8) A Maria viu a neblina.
PACIENTE: a entidade que sofre o efeito de (9) O menino ouviu o degrau ranger.
alguma ação, muitas vezes passando por alguma
mudança de estado. BENEFICIÁRIO: a entidade para cujo benefício (ou
malefício) a ação foi realizada.
(3) A prefeitura podou as árvores.
(4) O calor derreteu o picolé. (10) A mulher perdeu cem reais.
(11) O chefe pagou o funcionário.
TEMA: a entidade que é movida por uma ação, ou
cuja localização é descrita. INSTRUMENTO: o meio pelo qual uma ação é realizada
ou algo acontece.
(5) Roberto passou a bola.
(6) O livro está na biblioteca. (12) Ela limpou a ferida com um pano antisséptico.
(13) Eles assinaram o contrato com a mesma caneta.
3. A Descrição Linguística dos Papéis Temáticos
LOCATIVO: o lugar em que algo ocorre ou está PERCEPÇÃO: nomeia uma entidade que é percebida
situado. ou experienciada.
(14) O menino estava escondido embaixo da (20) O general inspecionou as tropas.
escada. (22) Aquele moço fantasiado assustou as crianças.
(15) A banda tocou em um iate. DESTINATÁRIO: tipo de alvo envolvido em ações que
ALVO: a entidade para a qual algo se move, descrevem mudanças de posses.
seja literalmente ou metaforicamente. (23) Ele me vendeu a caminhonete.
(16) Sara entregou a CNH para o policial. (24) Ele deixou sua fortuna para a caridade.
(17) Patrícia contou uma história para os seus OBJETO ESTATIVO: entidade ou situação à qual se faz
amigos. referência, sem que esta desencadeie uma ação ou
FONTE: a entidade da qual algo se move, seja seja afetada por uma ação.
literalmente ou metaforicamente: (25) A menina adora o seu brinquedo.
(18) O avião voltou de São Paulo. (26) O moço analisou o documento.
(19) Nós pegamos a ideia de um blog de CAUSA: desencadeador de um ação sem controle.
moda. (27) A ventania destruiu o telhado.
(28) O vestibular angustia os alunos.
3. A Descrição Linguística dos Papéis Temáticos
(29) A mocinha ganhou cem reais. {BENEFICIÁRIO; TEMA} Trata-se tanto da entidade
para cujo benefício a ação
(30) A cozinheira lavou a panela. {AGENTE; PACIENTE} foi realizada, quanto da
entidade para o qual algo se
(31) Eu entreguei para você. {AGENTE; ALVO} move.
(32) A senhora recebeu uma carta. {BENEFICIÁRIO e/ou (?) ALVO; TEMA} Trata-se tanto da entidade
que inicia a ação, com
(33) Um louco pulou da ponte. {AGENTE e/ou (?) TEMA; FONTE} volição, quanto a entidade
movida por uma ação.
(1) x arrumou y.
Voz Passiva
(1) a. O moço moveu a geladeira. {DESENCADEADOR, AFETADO}
b. A geladeira foi movida pelo moço.
CONTROLE
A CAPACIDADE DE SE COMEÇAR OU DE SE INTERROMPER
ALGO VOLUNTARIAMENTE (CANÇADO, 2005).
5. Uma proposta de abordagem para as Vozes Verbais
Voz Passiva
(3) a. O filho recebeu a herança. {AFETADO/CONTROLE, ESTATIVO}
b. A herança foi recebida pelo filho.
Voz Média
(11) O menino se machucou.
o sujeito não é propriamente o agente do processo, mas atua como tal de certa
maneira; que não é propriamente o paciente, mas sofre de certa maneira o efeito do
processo verbal. A denominação média é muito significativa: não é ativa nem
passiva; está no meio, situada entre as duas (...)" (MACAMBIRA, 1978, p. 79).
5. Uma proposta de abordagem para as Vozes Verbais
Voz Média
(12) A Maria se arrumou. REFLEXIVA
= A Maria arrumou a si própria. {DESENCADEADOR/CONTROLE, AFETADO}
ALTERNATIVA D
Referências
AMARAL, Tânia Oliveira; ARAÚJO, Lucy Aparecida Melo. Tecendo Linguagens: Língua Portuguesa: manual do professor – 8º ano. 5. ed.
Barueri-SP: IBEP, 2018.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Língua Portuguesa. Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2018.
CANÇADO, Márcia; AMARAL, Luana. Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
CANÇADO, Márcia. Posições argumentais e propriedades semânticas. Delta, vol. 21, n. 1, p. 23-56, 2005.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
DOWTY, David. Thematic proto-roles and argument selection. Language, vol. 67, n. 3, p. 547-619, 1991.
ESTRELA, Antónia P. A Aquisição da Estrutura Passiva em Português Europeu. Tese (doutorado em Linguística) – Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Lisboa, 2013.
MACAMBIRA, José Rebouças. Dìatese verbal. Revista de Letras, Fortaleza, v.1, n. 1, 1978, p. 61-83.
SAEED, John. Sentence Semantics 2: Participants. In: Semantics. Blackwell Publishing. 2. ed. p. 148-178, 2003.
SAID ALI, Manuel. Gramática secundária e Gramática histórica da língua portuguesa. 3 ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.,
1964.
OBRIGADA !
(luciana.amaral@usp.br)