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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA


CENTRO DE ARTES E LETRAS
CURSO DE BACHARELADO EM LETRAS
SINTAXE DO PORTUGUÊSI LTV1179

UNIDADE 1: REVISANDO AS FUNÇÕES SINTÁTICAS DO PERÍODO SIMPLES


Nesta Unidade, vamos rapidamente revisar as funções sintáticas do período
simples. Essa revisão é necessária, pois, como veremos a partir da Unidade 2, as
orações do período composto desempenham as mesmas funções sintáticas que os
termos desempenham no período simples. Entendendo a sintaxe do período simples,
fica fácil entender a sintaxe do período composto.
Então, vamos começar!
Conforme a Nomenclatura Gramatical Brasileira1 (NGB), os termos da oração
são classificados em três tipos:
Termos essenciais: sujeito (simples, composto, desinencial, indeterminado e
inexistente) e predicado (nominal, verbal e verbonominal).
Termos integrantes: complementos verbais (objeto direto e indireto); complemento
nominal e agente da passiva.
Termos acessórios: adjunto adnominal; adjunto adverbial, aposto e vocativo.

1.1 TERMOS ESSENCIAIS: sujeito e predicado


As gramáticas normativas geralmente definem a função sintática sujeito através
de noções semânticas:
Sujeito é o ser do qual se diz alguma coisa. (Cegalla, 2005:324)
É o termo que representa o ser a respeito de quem se diz alguma coisa, faz-se
alguma declaração. (Bezerra, 2015)

1
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) é um conjunto de normas que rege o ensino programático da Língua Portuguesa. A
atual foi instituída por uma Portaria (Portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959) e redigida por uma comissão composta pelos membros
da Academia Brasileira de Letras. Trata-se mais dos interesses imediatos do ensino de português do que de resultados de pesquisa
linguística. A NGB foi apenas recomendada pelo MEC, contudo tem sido tomada como uma lei.
2

Com base nas definições acima, você seria capaz de encontrar o sujeito nas
frases abaixo?
(1) a. Parece que vamos ter de pagar mais impostos.
b. Precisa-se de bons revisores.

Em (1a) estou falando acerca de um fato, o aumento de impostos, e não de um ser.


Essa frase, porém, tem sujeito: a oração que vamos ter de pagar mais impostos. Em
(1b), refiro-me, sim, a determinados seres: os bons revisores; entretanto, bons
revisores não é o sujeito dessa frase, pois essa é uma estrutura impessoal, isto é,
sem sujeito.
Como poderíamos, então, definir a função sintática sujeito através de uma
generalização que dê conta de todas as ocorrências desse termo?
Para alcançar essa generalização, vamos inicialmente examinar os tipos de
sujeito que a gramática normativa descreve.

1.1.1 Tipos de sujeito


Conforme Cegalla (2005: 324), o sujeito é constituído por um substantivo (2a, b)
ou pronome (2c), ou por uma palavra ou expressão substantivada (2d, e). O núcleo do
sujeito é, pois, um substantivo ou um pronome. Em torno do núcleo podem aparecer
palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.):
(2) a. A chuva chegou forte.
b. O João e a Maria chegaram atrasados de novo.
c. Ela não tem muita educação.
d. Amar se aprende amando.
e. O “se” é uma palavrinha capciosa.
f. Parece que vai chover muito.
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Comum a todos os exemplos em (2) é a concordância entre sujeito e verbo. É o


núcleo (ou os núcleos) do sujeito que desencadeia(m) concordância com o verbo (ao
redor do núcleo, podem orbitar outras palavras, como artigo, adjetivo, numeral,
locução adjetiva - são os adjuntos adnominais e os complementos nominais).
Quando o sujeito é expresso por uma oração inteira (2f), o verbo da oração principal
permanece na terceira do singular (perceba que o núcleo de uma oração é o verbo).

1.1.1.1 Sujeito simples


Quando o sujeito tem um núcleo apenas, ele se chama sujeito simples:
(3) a. O João sempre chega cedo.
b. Os dois gostaram do filme.
c. Os ensaios de hoje acabaram tarde.
d. As turmas do primeiro ano saíram correndo.
e. Alguém fecharia a janela?
f. Ninguém ficou com dúvidas!

Os exemplos em (3) mostram que a noção de sujeito simples leva em conta um


critério sintático e não semântico. Você sabe por quê?
Repare que o sujeito é simples quanto apresenta apenas um núcleo, e não um
ente. Comparando o sujeito de (3a) com o que aparece em (3b, c, d), percebemos que
o primeiro (3a) se refere a um único ente: o João, enquanto todos os demais (3b, c, d)
se referem a mais de um ente.
Em (3e, f) o sujeito é alguém e ninguém, respectivamente. Embora não
encontremos a referência no mundo real desses pronomes (esses são pronomes
indefinidos), sabemos que eles exercem a função sintática de sujeito, pois
desencadeiam concordância com o verbo que aparece na frase.
Então parece que a noção gramatical de sujeito se refere bem mais a uma
noção sintática do que semântica.
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1.1.1.2 Sujeito composto


Quando o sujeito tem mais de um núcleo, esse sujeito se chama composto:
(4) a. Maria e João gostam um do outro.
b. Eu e ele somos muito diferentes.
c. As uvas, as maçãs e os morangos estavam maduros demais.

Os núcleos dos sujeitos dados em (4) são os que aparecem sublinhados: Maria e
João; Eu e ele; As uvas, as maçãs e os morangos. O verbo concorda, no plural, com
esses núcleos.

1.1.1.3 Sujeito desinencial


Quando o sujeito está implícito, isto é, quando não está expresso, mas pode ser
identificado através da desinência verbal, se chama sujeito desinencial. Esse tipo de
sujeito é chamado também de sujeito oculto, implícito, elíptico ou subentendido nas
Gramáticas Normativas.
(5) a. Dispensamos todos os funcionários.
b. O João e a Maria estão doentes. Disseram que não virão trabalhar.
c. Crianças, guardem os brinquedos!

Em (5a), o verbo dispensamos está conjugado na primeira pessoa do plural; então é


correto afirmar que o sujeito dessa oração é desinencial e se refere a essa pessoa
gramatical. O exemplo (5b) apresenta mais de uma oração; em apenas uma delas o
sujeito é desinencial: na segunda oração, a que aparece com o verbo disseram (que
concorda com o sujeito composto da primeira oração: o João e a Maria).
Em (5c) o sujeito é desinencial, pois a função sintática de crianças é vocativo.
Repare na vírgula que aparece depois desse termo. Em português, a norma
gramatical não permite que separemos sujeito de verbo dessa forma.
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Mais uma vez, é a concordância do verbo que nos indica o tipo de sujeito da
oração.

1.1.1.4 Sujeito indeterminado


Esse tipo de sujeito, assim como o sujeito desinencial, não aparece
explicitamente na oração; contudo, diferentemente dele, a referência do sujeito
indeterminado não pode ser inferida na oração. Há três formas de indeterminar o
sujeito em português, mostradas nos exemplos (6), (7) e (8), abaixo.
(6) a. Dispensarão todos os funcionários até o fim do mês.
b. Invadiram a escola três vezes!
c. Vão cortar mais verbas da Educação?!

Em todos os exemplos de (6), o verbo aparece na terceira pessoa do plural, sem que
haja, na frase, nenhuma referência a essa pessoa (diferentemente de (5b), compare!).
Repare que em (6c) há uma locução verbal (vão cortar), nesse caso, o verbo auxiliar
se flexiona na terceira pessoa do plural para indeterminar o sujeito.

Em (7), mostramos mais um recurso de que a língua portuguesa dispõe para


indeterminar o sujeito:
(7) a. Precisa-se de mão de obra especializada.
b. Aqui se vive bem.
c. Em casamentos, sempre se fica nervoso.
d. Come-se bem neste restaurante.

Em (7a) aparece o verbo transitivo indireto precisar; em (7b), o intransitivo viver; em


(7c), o verbo de ligação ficar (essa é uma sintaxe relativamente nova para os verbos
de ligação). Em (7d), aparece o verbo transitivo direto comer que, não acompanhado
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de um sintagma nominal, é usado como intransitivo. Só não figuram nessa sintaxe (a


que aparece em (7d)) os verbos transitivos diretos que, acompanhados de um
sintagma nominal e do pronome se, compõem estruturas na voz passiva (e, nesse
caso, têm sujeito, como em: Comem-se [saladas frescas] neste restaurante.).

Todos os verbos sublinhados em (7) estão conjugados na terceira pessoa do


singular (novamente a concordância!) e aparecem acompanhados do pronome se (em
termos tradicionais, chamamos esse pronome de índice de indeterminação do sujeito),
que marca a ausência da função sintática sujeito na frase.

Em (8), aparece mais um tipo de estrutura com sujeito indeterminado.


(8) a. Carregar [aqueles fardos enormes] era penoso.
b. Estudar [português] é surpreendente.
c. Assistir [a estas cenas repulsivas] é triste.

Os verbos sublinhados em (8) estão no infinitivo impessoal; essa conjugação, como o


nome indica, não tem pessoa, isto é, não tem sujeito. Os constituintes que aparecem
entre colchetes exercem função sintática de complemento do verbo infinitivo (objeto
direto em (8a, b) e indireto em (8c)) e compõem o sujeito junto com o verbo infinitivo.

Resumindo: há, em português, três formas para indeterminar o sujeito:


a) Com o verbo na terceira do plural, sem referência a essa(s) pessoa(s) no
contexto, assim como acontece em (6). Essa construção independe da transitividade
do verbo.

b) Com o verbo na terceira pessoa do singular, acompanhado do pronome se


(índice de indeterminação do sujeito), como aparece em (7). Nessa construção não
aparecem os verbos transitivos diretos nem diretos e indiretos.
7

c) Com o verbo no infinitivo impessoal, como acontece em (8). Verbos no infinitivo


impessoal não têm pessoa, isto é, não têm sujeito. Essa construção independe da
transitividade do verbo.

Mais uma vez, a concordância verbal é determinante na identificação do tipo de


sujeito da oração.

1.1.1.5 Sujeito inexistente


Ocorre com verbos impessoais, que ficam sempre na terceira pessoa do
singular:
(9) a. Havia/Tinha ratos no porão.
b. Fez dias muito frios neste inverno.
c. Choveu durante o jogo.

Após essa breve análise acerca dos tipos de sujeito, podemos responder a
pergunta inicial: Como poderíamos, então, definir a função sintática sujeito através de
uma generalização que dê conta de todas as ocorrências desse termo?
A função sintática sujeito pode ser definida através da seguinte generalização:
sujeito é o termo que desencadeia concordância com o verbo. Até mesmo nos casos
que o sujeito é indeterminado ou inexistente, a análise da concordância verbal é
fundamental para determinar essa indeterminação e essa inexistência sintática na
oração.

A pergunta que a generalização acima pode suscitar remete a frases como as


que aparecem em (10), recorrentes na oralidade:
(10) a. Chegou [as conta(s)].
b. Falta [quatro dia(s)] pro verão!
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c. Basta/chega [dois ovo(s)] pra um omelete.


d. Já aconteceu [três acidente(s) grave(s)] nessa esquina.

O que se vê em todos os exemplos de (10) é que o sintagma nominal (entre


colchetes) de cada oração está no plural (indicado pela desinência de número no
determinante as, quatro, dois, três), mas o verbo está no singular (chegou, basta,
aconteceu); o que indica que não há concordância entre verbo e sujeito nessas
orações. Apesar de condenadas pela norma gramatical urbana culta, todas essas
frases são gramaticais, isto é: são produzidas e interpretadas pelo falante nativo de
português.
Então, pela generalização feita logo acima (sujeito é o termo que desencadeia
concordância com o verbo), as frases em (10) não têm sujeito? É, elas não têm
sujeito. Parece que a interpretação dada ao sintagma nominal que aparece posposto
ao verbo é a de objeto (complemento) do verbo, e não a de sujeito do verbo2.
Essa interpretação sintática, embora condenada pela norma gramatical, é por
ela mesma exigida em frases como os de (11):
(11) a. Havia apenas [dois candidatos bons] naquele concurso.
b. Faz [quatro dias].

Em frases como as de (11), a concordância verbal com o sintagma nominal é


condenada pela norma, apesar de aparecer muito na oralidade!

1.1.2 Tipos de predicado


Quando analisamos sintaticamente uma oração, verificamos que, depois de
identificado o sujeito, o que resta dela é o predicado. De modo didático, podemos

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Repare que a posição pós-verbal é própria de objeto, e não de sujeito. Repare também que, quando o sintagma
nominal aparece anteposto ao verbo, a concordância verbal é (quase) categórica:
As conta(s) chegaram. Quatro dias faltam pro verão! Dois ovo(s) bastam/chegam pra um omelete. Três acidente(s)
grave(s) já aconteceram nessa esquina.
Nesse caso, parece que a interpretação que ele recebe é mesmo de sujeito.
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dizer que o predicado é o que resta de uma oração depois de separada de seu sujeito.
Em uma oração como
(1) Pesquisadores do HUSM participam de estudo brasileiro para tratamento da
Covid-19.

se separamos o sujeito, Pesquisadores do HUSM, o que resta será o predicado:


participam de estudo brasileiro para tratamento da Covid-19.
Em orações como
(2) a. Choveu demais em novembro.
b. Houve muitas manifestações na UFRGS em setembro.

não há sujeito, então o predicado será toda a oração.


Conforme a NGB, existem três tipos de predicado no português: o verbal, o
nominal e o verbonominal.

1.1.2.1 Predicado verbal


O predicado que tem um verbo nocional3 como elemento predicador é chamado
de predicado verbal. Podem aparecer em um predicado verbal os verbos intransitivos
(3a), os transitivos diretos (3b), indiretos (3c), diretos e indiretos (3d):
(3) a. Duas agências da Caixa abrem neste sábado.
b. Comércio de Santa Maria abrirá [OD as portas] neste feriado.
c. Hemocentro precisa [OI de doadores].
d. Eu coloquei [OD o livro] [OI sobre a mesa].

Repare que em (3a) e (3b) aparece o verbo abrir. No primeiro exemplo, (3a), ele
aparece sem complementos, acompanhado apenas de um adjunto adverbial (neste
3
Seguindo um critério semântico, a NGB classifica como verbo nocional o verbo que apresenta significado lexical no radical; são os
verbos intransitivos e transitivos. Em contrapartida, os verbos “vazios” de significado, que, sozinhos, não apresentam nenhuma noção
(ou significado) são denominados de verbos não nocionais. Esses são os verbos de ligação, cuja função é indicar estado, qualidade
ou condição do sujeito.
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sábado). É a ausência de complementos em (3a) que caracteriza o verbo abrir, nessa


oração, como intransitivo.
No segundo exemplo, (3b), o verbo abrir aparece acompanhado de um
complemento, o objeto direto as portas, e de um adjunto adverbial, neste feriado. É a
presença do objeto direto em (3b) que caracteriza o verbo abrir, nessa oração, como
transitivo direto.

1.1.2.2 Predicado nominal


O predicado nominal é aquele que aparece com um verbo de ligação e um
predicativo do sujeito que concorda com o sujeito:
(4) a. Gremistas estão confiantes.
b. Gás de cozinha ficará mais caro.
Nessas orações, confiantes e mais caro exercem a função sintática de
predicativo do sujeito. Repare que eles concordam sintaticamente com o sujeito da
oração em que aparecem.

1.1.2.3 Predicado verbonominal


No predicado verbonominal, há dois predicadores: o verbo nocional e o
predicativo (do sujeito ou do objeto):
(5) a. Os laterais jogaram machucados.
b. O presidente considerou a economia excelente.

Em (5a) aparece um verbo intransitivo, jogar, e um predicativo do sujeito,


machucados, que concorda com o sujeito (os laterais). Em (5b) aparece um verbo
transitivo direto, considerar, e um predicativo do objeto, excelente, que concorda com
o objeto (a economia).

Repare que o predicativo pode aparecer regido por uma preposição:


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(6) a. O rapaz chamou a namorada de traidora.


b. O jogador acusou a punição de injusta.

A preposição serve, nesses casos, para evitar ambiguidade. Sem ela, poderíamos
interpretar sintaticamente traidora e injusta como adjunto adnominal do objeto, e não
como predicativo.

1.2 TERMOS INTEGRANTES: complementos verbais, complemento nominal e


agente da passiva
1.2.1 Complementos verbais (objeto direto e objeto indireto)
O objeto direto é o complemento de verbos transitivos diretos (ou diretos e
indiretos). Esse complemento normalmente não aparece regido de preposição. O
objeto indireto é o complemento de verbos transitivos indiretos (ou diretos e indiretos).
Esse complemento aparece sempre regido de preposição.

● Verbos transitivos diretos:


(7) a. Tecnologia desenvolvida na UFSM pode aumentar [OD eficiência energética].
b. [OD Um fio de cabelo] ele não deixava cair.
c. Ninguém [OD me] visitou.

● Verbos transitivos indiretos:


(8) a. Assisti [OI ao jogo].
b. Ele atentou [OI contra a vida do político].

● Verbos transitivos diretos e indiretos:


(9) a. O menino cedeu [OD seu lugar] [OI à idosa].
b. Disse-[OI lhe] [OD a verdade].
c. Não devolveram [OD o livro] [OI para mim].
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1.2.2 Complemento nominal


Assim como o complemento verbal complementa (se refere ao) o verbo, o
complemento nominal também complementa (se refere ao) o nome. Ele vem sempre
regido de preposição e não forma um constituinte sozinho (aparece sublinhado nos
exemplos abaixo):
(10) a. [Assistência às aulas] é obrigatória.
b. Achei [a assessoria de palco] eficiente.
c. Bell foi [o inventor do telefone].
d. Todos votaram [favoravelmente ao réu].

Em (10a), o complemento nominal aparece dentro do sujeito; em (10b), dentro do


objeto direto; em (10c), dentro do predicativo; e em (10d), dentro do adjunto adverbial.

1.2.3 Agente da passiva


Em termos tradicionais, o agente da passiva representa o ser que pratica a ação
expressa pelo verbo passivo (Cegalla, 2005:355). Só aparece na voz passiva
analítica; vem regido comumente pela preposição por, e menos frequentemente, pela
preposição de:
(11) a. Alfredo é estimado pelos amigos.
b. O texto foi revisado por mim.
c. A plantinha foi queimada pelo sol.
d. Era conhecida de todos a riqueza dele.

1.3 TERMOS ACESSÓRIOS: adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto e


vocativo
1.3.1 Adjunto adnominal
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O adjunto adnominal determina o substantivo. É um termo periférico, que está


sempre vinculado ao núcleo do termo a que pertence4:
(12) Aquele teu amigo inteligente tem três dicionários de latim.

Em (12) os adjuntos adnominais sublinhados se orbitam ao redor do núcleo do sujeito


(amigo) e do núcleo do objeto (dicionários).
O adjunto adnominal pode ser expresso por:
adjetivos: Tem água fresca na jarra.;
artigos: As ruas daqui estão horríveis.;
pronome adjetivo: Nosso tio chegou.; Conheço esse lugar.; Aqui tem muitas rãs.;
numeral: Ele leu o quinto capítulo.; Recebi três multas!;
locução ou expressão adjetiva:
presente de rei (= régio), histórias de arrepiar (= arrepiadoras): qualidade;
livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença;
água da fonte, filho de fazendeiros: origem;
fio de aço, casa de madeira: matéria;
casa de ensino, aulas de inglês: fim, especificidade;
homem sem escrúpulos (= inescrupuloso): qualidade;
criança com febre (=febril): característica;
aviso do diretor: agente.
oração adjetiva: A pessoa que se esforça é recompensada.

1.3.2 Adjunto adverbial


O adjunto adverbial é, na sua generalidade, um termo invariável. Segundo a
NGB, ele exprime uma circunstância, que pode ser de lugar, de tempo, de modo, de
negação, de dúvida, de intensidade, de afirmação, ou ainda de interrogação (são
advérbios interrogativos: de lugar, de tempo, de modo e de causa).

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O adjunto adnominal, também chamado de determinante, responde pela periferia esquerda do sintagma nominal.
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Para Cegalla (2005:363), o adjunto adverbial pode modificar o sentido de um


verbo, adjetivo ou outro advérbio. Na verdade, o advérbio pode, em princípio,
modificar qualquer termo da oração. Os exemplos abaixo mostram isso:
(13) a. [Provavelmente a Maria] comprou um presente para o João.
(não A Ana)
b. A Maria [provavelmente comprou] um presente para o João.
(não tricotou)
c. A Maria comprou [provavelmente um presente] para o João.
(não flores)
d. A Maria comprou um presente [provavelmente para o João].
(não para a Ana)

Todos as frases de (13) são bem construídas, apesar de o advérbio de dúvida


provavelmente aparecer em diversos lugares da sentença. Os colchetes em (13)
mostram claramente que o advérbio focaliza o sujeito em (13a), o verbo em (13b), o
objeto direto em (13c) e o objeto indireto em (13d).
O adjunto adverbial não faz parte da estrutura argumental do verbo, isto é, a
presença ou ausência dele não altera a transitividade nem o tipo de predicado.

1.3.3 Aposto
Segundo Cegalla (2005) e Sacconi (2001), aposto é o termo que esclarece,
explica, desenvolve ou resume outro. Pode aparecer separado por vírgula,
dois-pontos, travessão ou parênteses:
(14) a. A escola Bilac está fechada.
b. Vênus, 20 anos, foi acusada por corrupção.
c. Só não tenho um retrato: o de minha irmã.
d. Foram os dois - ele e ela.
e. O ouro, o diamante e as pérolas, tudo é terra e da terra.
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Segundo Saconni (2001) e Cagalla (2005), o núcleo do aposto é um substantivo


ou um pronome substantivo, nunca um adjetivo:
(15) a. Homem medroso, Darvino não saía à noite.
b. Medroso, Darvino não saía à noite.
c. Mulheres audaciosas, Estraussina e Darvina propuseram novas hipóteses.
d. Audaciosas, Estraussina e Darvina propuseram novas hipóteses.

Os termos sublinhados em (15a, c) têm como núcleo um substantivo (homem,


mulheres): compõem um aposto. Os termos sublinhados em (15b, d) são adjetivos
(medroso, audaciosas): compõem predicativos.

1.3.4 Vocativo
A palavra vocativo vem do latim: vocare, que significa chamar. O termo vocativo
não é predicado por nenhum outro termo; ele é usado para chamar, interpelar
aquele/aquilo a que o falante se dirige, por isso se refere sempre à segunda pessoa
do discurso:
(16) a. A ordem agora, meus amigos, é se divertir!
b. Vocês por aqui, meninos?

Na fala, o vocativo é geralmente pronunciado com entoação enfática; na escrita,


é marcado por algum sinal de pontuação, normalmente a vírgula. A pontuação é
fundamental para a identificação do vocativo, a ausência dela pode alterar a função
sintática do termo:
(17) a. Carlos Antônio teve a dissertação de metrado aprovada com louvor.
b. Carlos, Antônio teve a dissertação de metrado aprovada com louvor.
c. Carlos, Antônio, teve a dissertação de metrado aprovada com louvor.
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Em (17a) não aparece vocativo: Carlos Antônio é o sujeito da oração. Em (17b) Carlos
é o vocativo, e Antônio é o sujeito. Em (17c), Antônio é vocativo e Carlos é o sujeito
(essa interpretação fica mais clara se colocarmos uma interjeição indicando o
chamamento antes do vocativo: Carlos, ô Antônio, teve a dissertação de metrado
aprovada com louvor.)

Exercícios
1 No texto abaixo (adaptado do jornal Diário de Santa Maria), analise
sintaticamente as orações sublinhadas e identifique, em cada uma delas, o sujeito e o
tipo de predicado:
Um ano após corte, replantaram mudas de árvores no bairro Rosário.
Um ano depois do corte de 17 árvores na Rua do Rosário, a paisagem da
principal via do bairro Rosário está diferente. As sombras ainda não voltaram;
entretanto, em agosto, a concessionária de energia replantou 20 mudas na rua.
A justificativa para a retirada das plantas, à época, era porque elas estariam
atrapalhando a rede de energia elétrica do local. Contudo, o corte deixou a prefeitura
e os moradores do bairro surpresos.
Em consequência dos cortes, tramita na Justiça uma ação do Ministério Público
e da prefeitura. Conforme a procuradoria jurídica do município, na próxima
segunda-feira, vai ocorrer uma audiência para tratar do assunto e não há interesse em
retirar a ação.
Conforme a prefeitura, houve o replantio das espécies escova-de-garrafa,
primavera e ipê-roxo. Elas teriam sido definidas em conjunto com moradores do
bairro. Essas árvores são mais adequadas para o plantio em zona urbana. Ainda
conforme o Executivo, a RGE tem licença da Fundação Estadual de Proteção
17

Ambiental (Fepam) para realizar o manejo da vegetação dentro da faixa de segurança


das redes de distribuição de energia.
Na sexta-feira, a reportagem contatou a Associação de Moradores do Bairro e a
RGE para comentar o assunto, mas não obteve retorno até o fechamento desta
edição.

Frases para serem analisadas:


1 Um ano após corte, replantaram mudas de árvores no bairro Rosário.
2 Um ano depois do corte de 17 árvores na Rua do Rosário, a paisagem da principal
via do bairro Rosário está diferente.
3 As sombras ainda não voltaram;
4 entretanto, em agosto, a concessionária de energia replantou 20 mudas na rua.
5 [...] elas estariam atrapalhando a rede de energia elétrica do local.
6 Contudo, o corte deixou a prefeitura e os moradores do bairro surpresos.
7 [...] tramita na Justiça uma ação do Ministério Público e da prefeitura.
8 Conforme a procuradoria jurídica do município, na próxima segunda-feira, vai
ocorrer uma audiência
9 [...] não há interesse em retirar a ação.
10 Conforme a prefeitura, houve o replantio das espécies escova-de-garrafa,
primavera e ipê-roxo.
11 Essas árvores são mais adequadas para o plantio em zona urbana.
12 Ainda conforme o Executivo, a RGE tem licença da Fundação Estadual de
Proteção Ambiental (Fepam).
13 [...] mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

2 No texto abaixo (adaptado de Diário de Santa Maria), reconheça a função


sintática dos termos sublinhados:
Filhote de ovelha fica órfã e passa a viver com família dentro de casa
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Luciana Madalosso, 46 anos, é proprietária de uma loja de confecções em Santa


Maria, no Bairro Rosário. Ela é apaixonada por bichos e, junto com o marido Marcos
Soares de Souza e os filhos Eliza, 8, e Felipe, 13, cuida de cachorros, galinhas, patos,
marrecos, coelhos e, agora, da nova integrante da família, a ovelhinha Mé, de 35 dias.
Conforme Luciana, Mé perdeu a mãe no momento do parto e, desde seus 10
dias, vive dentro da casa que a família tem no interior da cidade, no distrito de Boca
do Monte. O animalzinho ainda se alimenta na mamadeira e dorme na cama, sobe no
sofá, como os cachorros da família. Mé convive com oito cachorros, dois deles são
filhotes da raça Pastor Alemão, e os demais são todos de raças pequenas, como Lulu
da Pomerânia e Poodle.
Na idade adulta, Mé terá necessidade de pasto e poderá alcançar 80 kg.
Enquanto isso não acontece, Mé é tratada por todos como um membro da família.

Termos para serem analisados:


1 46 anos
2 uma
3 de confecções
4 no Bairro Rosário
5 Marcos Soares de Souza
68
7 13
8 a mãe
9 desde seus 10 dias
10 que a família tem no interior da cidade
11 no sofá
12 com oito cachorros
13 como Lulu da Pomerânia e Poodle
14 de pasto
19

15 por todos

3 No texto abaixo (adaptado de Diário de Santa Maria), reconheça a função sintática


dos termos da oração:
Escola municipal João Hundertmark] começa reparo do telhado destruído
em temporal
A Escola Municipal de Ensino Fundamental João Hundertmark, no distrito de
Boca do Monte, começou, nesta terça-feira, a consertar o telhado. A estrutura foi
gravemente atingida no temporal do dia 27 de fevereiro. Segundo a prefeitura, o prazo
previsto para execução da reforma é de 20 dias e deve custar R$ 15,3 mil.
Duas salas de aula e a área externa da escola serão consertadas. As salas
foram interditadas, pois a força do vento arrancou as telhas. Nesta terça, os
funcionários da empresa contratada para realizar o conserto foram até o local. Eles
retiraram o forro das salas para que engenheiros da prefeitura avaliem a estrutura da
cobertura. A responsável pelo serviço é a TCJ Construtora.
Após o temporal, as aulas foram suspensas por dois dias, para manutenção da
escola. As telhas haviam se espalhado pelo pátio da instituição. Esses dois dias serão
recuperados em dois sábados. A direção da escola realocou as turmas que ocupavam
as salas danificadas pelo temporal. No momento, assistem às aulas no refeitório e na
sala de informática. Por este motivo, o lanche dos alunos está sendo ofertado em
outros locais, como na área coberta ou na frente das salas.
Nesse intervalo de quase 40 dias, entre o temporal e o início do reparo, as salas
ficaram praticamente a céu aberto, cobertas por lonas. As lonas se rasgam facilmente
em dias de vento forte, o que acaba prejudicando também o interior dos espaços. As
luminárias também precisarão ser avaliadas, uma vez que a água escoava através
delas.
20

Livros, materiais didáticos e televisores estavam protegidos dentro de armários e


não foram prejudicados. Classes e cadeiras danificadas serão repostas pela
Secretaria Municipal de Educação (Smed).

Principais referências bibliográficas


Abreu, A.S. Gramática Mínima. Para o conhecimento da língua padrão. SP: Ateliê
Editorial, 2003.
Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Basílio, M. M. P. Formação e Classe de Palavras no Português do Brasil. SP:
Contexto, 2004.
Bechara, E. Moderna Gramática da língua Portuguesa. RJ: Nova Fronteira, 2009.
______. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
Bezerra, R. Nova gramática da língua portuguesa para concursos. 7 ed. SP: Método,
2015.
Campedelli, S.Y. e Souza, J.B. Gramática do Texto. Texto da Gramática. 4a ed. SP:
Saraiva, 2002.
Carneiro. A. D. Texto em Construção. SP: Moderna. 1996, 2ª. Ed.
Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
Cunha, C. & Cintra, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. RJ: Lexikon,
2008, 5ª ed.
Ferrarezi Junior, C. Sintaxe para a Educação Básica. SP: contexto, 2012.
Hauy, A.B. Vozes Verbais. Sistematização e exemplário. SP: Ática, 1991.
Henriques, C.C. Sintaxe: estudos descritivos da frase para o texto. RJ: Elsevier, 2008.
_____. Sintaxe Portuguesa para a Linguagem Culta Contemporânea. RJ: Oficina do
Autor, 1997.
Kato, M. A.; Nascimento, M. (org.). A construção da sentença. São Paulo: Contexto,
2015. In: Gramática do Português Culto Falado no Brasil, v. 2.
21

Mioto, C; Figueiredo Silva, M.C. & Lopes, R.E.V. Novo Manual de Sintaxe.
Florianópolis: Insular, 2004.
Neves, M. H. de M. Gramática de usos do português. 2ª ed. São Paulo: Editora da
UNESP, 2011.
Perini, M. Gramática descritiva do português. 4ª ed. São Paulo: 2009.
_____. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial. 2010.
Rocha Lima, C.H. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. RJ:José Olympio,
1984.
Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
______. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

UNIDADE 2: PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO


2.1 ORAÇÕES DEPENDENTES E INDEPENDENTES
O período composto é aquele que contém mais de uma oração. As orações que
o compõem podem ser coordenadas ou subordinadas, conforme forem dependentes
ou independentes sintaticamente umas das outras. As orações independentes são as
coordenadas; as dependentes são as subordinadas. Vejamos:
(1) a. Os torcedores comemoraram; a vitória valeu.
b. Valeu a vitória, e os torcedores comemoraram.
c. Os torcedores comemoraram que a vitória valesse.
d. Aconteceu a vitória quando os torcedores queriam.
e. Aconteceu a vitória que os torcedores queriam.

Em (1a, b) as orações são independentes sintaticamente uma da outra, isto é,


nenhuma exerce alguma função sintática em relação a outra. Elas são orações
coordenadas.
22

Em (1c, d, e) as orações são dependentes sintaticamente, isto é, em cada


período há pelo menos uma oração (a que está sublinhada) que exerce uma função
sintática em relação a outra. Elas são orações subordinadas.
A oração sublinhada em (1c) exerce a função sintática de objeto direto da
oração anterior, a oração principal. Em (1d) a oração sublinhada exerce a função de
adjunto adverbial de tempo em relação à oração principal. Em (1e) a oração
sublinhada exerce a função de adjunto adnominal do termo vitória. Estes são os três
grupos de orações subordinadas elencados pela NGB: as orações substantivas, as
adjetivas e as adverbiais. A função sintática desempenhada pela oração subordinada
em relação à principal pode ser qualquer uma das funções sintáticas revisadas na
Unidade 1: sujeito, predicativo, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal,
adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto5.
Se as orações subordinadas exercem alguma função sintática em relação a uma
outra oração, que é chamada de oração principal, e as coordenadas não exercem
nenhuma função sintática em relação às demais; então, no período composto, não é
possível analisar uma oração de forma isolada, sem analisar a(s) oração(ões) com
que ela se relaciona. Não analisamos orações, e sim o relacionamento entre as
orações!

2.2 TIPOS DE ORAÇÕES COORDENADAS


Quando um período é composto por coordenação, as orações independentes
que o formam se dizem coordenadas umas às outras. Essa coordenação pode se
estabelecer de diferentes formas:
● Por justaposição: sem conetivo; podem ser separadas por vírgula, ponto e vírgula ou
dois-pontos. As orações desse tipo são chamadas assindéticas.

5
A NGB não reconhece a oração subordinada que exerce a função sintática de agente da passiva, mas ela existe: A
casa foi destruída [por quem queria o terreno].
23

(2) O ciclista Gilberto Arruda foi atropelado por volta das 23h de sexta-feira; o acidente
aconteceu no quilômetro 334 da BR-158.

Em (2) aparecem duas orações coordenadas assindéticas separadas por ponto e


vírgula.

● Com o auxílio de conjunção coordenativa: a oração que apresenta conjunção se


chama sindética (pois contém síndeto, palavra de origem grega, que significa “ligado
a”).
(3) O condutor do veículo foi submetido ao teste do bafômetro pela Polícia
Rodoviária Federal, mas o exame deu negativo. Arruda foi socorrido pelo Samu,
porém não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Ou os motoristas estão dirigindo sem prudência, ou a sinalização está precária.
Ou ambas as coisas...

No primeiro parágrafo do exemplo (3), aparecem dois períodos compostos. No


primeiro período, há duas orações: uma coordenada assindética seguida de uma
coordenada sindética (introduzida pela conjunção mas). No segundo período, há três
orações: a primeira oração é uma coordenada assindética; a segunda é uma
coordenada sindética (introduzida pela conjunção porém); e a terceira também é uma
coordenada sindética (introduzida pela conjunção e).
No segundo parágrafo do exemplo (3) também aparecem dois períodos; porém
o segundo é um período simples. No primeiro período, há duas orações coordenadas
sindéticas introduzidas pela conjunção ou. O segundo período, o período simples, é
introduzido pela mesma conjunção coordenada sindética ou que introduz as orações
anteriores. Também períodos simples podem ser introduzidos por certas conjunções
coordenadas. Repare como o ponto que separa essa última oração contribui para
enfatizar a informação veiculada na frase.
24

As orações coordenadas sindéticas podem ser de cinco tipos, conforme


passamos a examinar abaixo.

2.2.1 Orações coordenadas sindéticas aditivas


Expressam adição, sequência de fatos ou pensamentos:
(4) a. O Riograndense foi até Vacaria e estreou na Divisão de Acesso 2019.
b. O Riograndense foi até Vacaria, e o Glória estava esperando.
c. O Periquito não só saiu na frente, mas também jogou melhor.
d. O Glória não jogou bem nem finalizou as jogadas.

No exemplo (4a), as orações coordenadas não são separadas por vírgula porque o
sujeito das duas orações é o mesmo; no exemplo (4b), uma vírgula separa as duas
orações, pois os sujeitos são diferentes6. Em (4c), as orações coordenadas aparecem
correlacionadas e são enfáticas; a conexão de orações desse tipo se faz por meio do
par correlato não só... mas também, que apresenta as variantes não somente... mas
ainda, não somente... como também, não somente... senão também, não só... mas
até e similares. No exemplo (4d), a conjunção aditiva e aparece na sua forma negativa
nem.
A palavra nem pode funcionar como conjunção ou como advérbio:
(5) a. Nas horas difíceis, os falsos amigos não ajudam nem aparecem.
b. Nem veio, nem telefonou.
c. Não falei ontem e nem falarei amanhã.

Em (5a), nem funciona como conjunção, assim como acontece no exemplo (4d). Em
(5b), o nem que aparece na primeira oração equivale ao advérbio de negação não;
assim, a primeira oração de (5b) é assindética (equivale a não veio), e a segunda
oração de (5b) é coordenada sindética aditiva. Em (5c), a expressão e nem equivale a

6
Essa regra para o emprego da vírgula vigora apenas para a conjunção e.
25

e também não, de modo que somente o e dessa expressão é conjunção, e nem é


advérbio; assim, a primeira oração é assindética e a segunda é sindética aditiva.

A conjunção e pode ser usada no lugar de mas:


(6) a. O João estudou muito, e foi reprovado.
b. O João estudou muito, e foi aprovado.

Em (6a) e tem o mesmo valor de mas, pois introduz uma oração que quebra a
expectativa gerada pela anterior. Em (6b) a conjunção e equivale a portanto, pois
encerra a ideia de conclusão.

2.2.2 Orações coordenadas sindéticas adversativas


Exprimem contraste, oposição, quebra de expectativa:
(7) a. Tens razão, contudo não te exaltes.
b. Havia muito serviço, entretanto ninguém trabalhava.
c. Ele é adulto, no entanto não tem juízo.

Em (8), a conjunção mas exprime, além de adversidade, outros valores;


observe:
(8) a. Perdi o emprego, mas passei três meses estudando na Europa.
b. Viajei por toda a América do Sul, mas perdi o ano.
c. Todos ficaram apreensivos, mas a responsabilidade era grande.

Nesses períodos, a conjunção mas introduz orações coordenadas adversativas que


expressam adversidade, contraste, mas também outros valores: compensação (8a),
não compensação (8b) e justificativa (8c).
26

Agora suponha duas pessoas, Maria (em 9a) e Ana (em 9b), dando sua opinião
a respeito de uma terceira, João:
(9) a. João é bonito, mas é mentiroso.
b. João é mentiroso, mas é bonito.

(9a) mostra que, para Maria, característica mais importante de João é ser mentiroso;
(9b) mostra que, para Ana, a qualidade mais importante de João é ser bonito.

Observe, por último, os exemplos abaixo em que a palavra que aparece com
dois diferentes valores:
(10) a. Ele falava que falava; não dava chance a ninguém!
b. Se ela vier aqui, que não vem, nós pediremos explicações.

Em (10a) a palavra que pode ser substituída por e; e em (10b), por mas.

2.2.3 Orações coordenadas sindéticas alternativas


Exprimem escolha, alternância, exclusão:
(11) a. Minha vista está embaçada, ou isto é neblina?
c. Ou chove, ou faz sol.
d. Não ouvia, ou fingia não ouvir.
d. Ora eles dizem uma coisa, ora outra.

Em (11d), o verbo dizer está elíptico na segunda oração. Pelo paralelismo


conseguimos recuperá-lo e identificar duas orações nesse período.
Em (11c, d) as conjunções alternativas aparecem repetidas (temos duas
sindéticas alternativas em cada período); o resultado dessa repetição é a ênfase na
ideia de alternância. Essas conjunções correlatas possuem as variantes quer... quer,
já... já, seja... seja. Kury (1993: 68) ressalta que o par seja... seja não está
27

completamente gramaticalizado, pois, em certas construções, aparece flexionado,


mantendo o seu valor verbal:
(12) Sempre discordam de tudo, sejam as discordâncias ligeiras, sejam as de peso.

Conforme a norma culta, não é adequado combinar ora, já, quer, seja, ou; isto é,
sempre que optarmos pelo emprego do par enfático, devemos repetir a mesma
conjunção e evitar a combinação de duas ou mais:
(13) Quer viaje, ou quer faça a festa, certamente ela lembrará da data!

A conjunção ou pode indicar exclusão ou inclusão:


(14) a. É uma flor delicada; o frio ou (=e/ou, ideia de inclusão) o calor excessivos
podem fazê-la morrer.
b. Esta chave deve ser do João ou (ideia de exclusão) do Pedro.

Em (14a), a conjunção ou tem o mesmo valor de e/ou; trata-se de ou inclusivo; em


(14b), ela não tem esse mesmo valor, trata-se de ou exclusivo. Isso acontece porque
onde usamos nosso ou, o Latim usava duas palavras diferentes: vel e aut. O primeiro
era um ou fraco, inclusivo, significando “e/ou”, “ambos” (como em (14a)); o segundo
era um ou forte, exclusivo, significando “ou será um, ou será outro” (como em (14b)).

2.2.4 Orações coordenadas sindéticas conclusivas


Expressam conclusão, dedução, consequência lógica:
(15) a. Nosso dinheiro está acabando, portanto temos que economizar.
b. Tenho pressão alta, então não posso exagerar no sal.
c. O açude está na minha fazenda, logo me pertence.
d. Está chovendo; leve, pois, um guarda-chuva.
e. Ele é desatento; logo, não vai lembrar o que eu disse.
28

Repare na pontuação de (15d, e). Nesses exemplos, empregamos ponto e vírgula


(separando as duas orações) e vírgula (separando a conjunção ou apenas depois
dela). Em (15d) a conjunção pois aparece na posição pós-verbal, e não no início da
oração, como os demais. Nessa posição (e apenas nessa), ela tem valor de conclusão
(e não de explicação, como em (18a)).
Segundo a norma culta, também é correto construir um período simples iniciado
por conjunção conclusiva:
(16) a. O turista não conheceu a praia. Portanto, vai se arrepender.
b. O turista não conheceu a praia. Por conseguinte, vai se arrepender.

São conjunções ou locuções conclusivas: portanto, então, pois (posposta ao


verbo), logo, assim, por conseguinte, de modo que, em vista disso.
A palavra logo, quando sinônima de imediatamente, daqui a pouco, justamente é
advérbio (e não conjunção):
(17) a. Deixe de preguiça e faça logo o que tem que fazer.
b. Se no momento não consegue entender, logo, com mais calma, tudo vai se
explicar.
c. Logo em quem ele foi confiar: no mais desonesto de todos!
2.2.5 Orações coordenadas sindéticas explicativas
As orações explicativas exprimem o motivo, a justificativa ou a razão de se ter
feito a declaração anterior. Iniciam com porque, que, pois (antes do verbo), porquanto,
visto que, já que:
(18) a. O João deve estar cansado, pois cortou grama a tarde toda.
b. Não mintas, porque é pior para ti.
c. A mim ninguém me engana, que eu não nasci ontem.
d. Certamente nossa mãe perdera a memória, já que contava o mesmo caso
todo dia.
29

e. Ninguém podia queixar-se do que eu pedia, porquanto eu estava cumprindo o


meu dever.

Conforme Azeredo (2008: 105), a NGB optou por considerar a existência de


cinco subtipos de conjunções coordenativas segundo a relação de sentido que
estabelecem. Contudo, alguns gramáticos observam que não são conjunções, e sim
advérbios os vocábulos que estabelecem vínculos apenas semânticos entre tais
orações. A diferença entre as “conjunções-conjunções” e as
“conjunções-advérbios” reside na possibilidade que algumas têm de serem
deslocadas na sua oração.
Considere os exemplos abaixo, em que o asterisco (*) indica que a conjunção
não pode ser pronunciada naquela posição:
(19) a. Todos estão surpresos, mas essa (*,mas,) é (*,mas,) a realidade (*,mas).
b. Todos estão surpresos, e essa (*,e,) é (*,e,) a realidade (*,e).
c. Todos estão surpresos, (contudo) essa (,contudo,) é (,contudo,) a realidade
(,contudo).
d. Sua tia é rica; (logo) ela (,logo,) pode (,logo,) viajar (,logo,) para qualquer lugar
(,logo).

Na comparação entre os exemplos acima, podemos ver que apenas as conjunções


mas (19a) e e (19b) têm posição fixa no início da oração; as demais têm posição
móvel, podem ocupar diversas posições na oração - uma característica própria de
advérbio, e não de conjunção. Por esse critério, seriam conjunções coordenativas
apenas as que efetivamente funcionam como conetores sintáticos: mas, e.

Exercícios
1 Marque com X os períodos compostos:
a) ( ) É agradável a vida por aqui.
30

b) ( ) Estimamos que voltem cedo.


c) ( ) Pedro saiu cedo, mas ainda não voltou.
d) ( ) Essa fortuna, eu a tive.
e) ( ) Às vezes, é muito peso.
f) ( ) Ficou provado que tudo era mentira.
g) ( ) Os alunos entravam de uniforme, subiam e ficavam à espera do sinal.
h) ( ) Ora ele vinha pela esquerda, ora pela direita.
i) ( ) Assim faz a pessoa que é consciente.
j) ( ) Quando voltarem, tragam esses pacotes.
k) ( ) Veio visitar a família, logo já está trabalhando.
l) ( ) Todos precisavam de que os ajudassem.
m) ( ) Espero que não perturbem a paz desta casa.
n) ( ) Os pais e os filhos representam o presente e o futuro.
o) ( ) Estudava enquanto os outros dormiam.
p) ( ) As mães costumam dizer que o menino obediente tem o maior número de
amigos.
q) ( ) Não só ficou em casa, como também dormiu durante a tarde toda.

2 Qual é o período em que todas as orações são coordenadas assindéticas?


a) ( ) O avião caiu no mato ou pousou em local desconhecido?
b) ( ) No carnaval, a cidade se agita, se contorce toda e se sacode.
c) ( ) Elisa recomenda à Ana atenção na casa, fecha a porta, vai para o Correio.

3 Analise as orações abaixo e procure construir períodos compostos por coordenação


utilizando conetivos apropriados. Faça as alterações necessárias:
a) Não me esforcei muito. Obtive um bom resultado.
b) Precisamos nos apressar. O ônibus já está quase saindo.
c) Luz chega à escola indígena. As aulas iniciarão em seguida.
31

d) Luz chega à escola indígena. Problemas persistem.


e) Vento forte faz estragos. Vento forte derruba árvores.
f) Eu estudo. Eu vou ao shopping.

4 Um homem muito rico estava mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu
assim:
Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do
padeiro nada dou aos pobres.
Ele morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna? Eram quatro
concorrentes: o sobrinho, a irmã, o padeiro e os descamisados.

5 Assinale as duas alternativas que contêm uma coordenada conclusiva:


a) ( ) João nunca diz a verdade; logo ninguém confia nele.
b) ( ) Os meninos ora brigavam, ora brincavam.
c) ( ) João trabalha depressa, contudo produz pouco.
d) ( ) Não quero me atrasar, portanto sairei bem cedo.

6 Assinale a alternativa em que aparece uma conjunção coordenada sindética


explicativa:
a) ( ) A casaca dele estava remendada, mas estava limpa.
b) ( ) Eles se amavam, contudo não se falavam.
c) ( ) Todos trabalhando: ou varrendo, ou lavando as vidraças.
d) ( ) Chora, que lágrimas lavam a alma.
e) ( ) O time ora atacava, ora defendia; e, no placar, o resultado não se movia.

7 Conforme a norma culta padrão, há um erro quanto ao emprego da conjunção na


frase abaixo. Corrija.
Quer ela fique, ou vá, eu não vou me importar.
32

8 Observe o emprego da conjunção mas que aparece no trecho abaixo:


Os provedores argumentam que não têm de pagar o imposto porque não são, por lei,
considerados empresas de telecomunicação, mas prestadores de serviço.
A conjunção estabelece entre as orações uma relação de:
a) ( ) oposição
b) ( ) adição
c) ( ) alternância
d) ( ) explicação
e) ( ) conclusão

9 Qual das conjunções abaixo expressa ideia de oposição?


a) ( ) Meu irmão e eu fomos ao cinema do bairro.
b) ( ) A Maria não telefonou nem deu notícias.
c) ( ) O João apareceu com o carro e disse que comprou há pouco.
d) ( ) Estou procurando a Maria há mais de uma hora, e ainda não encontrei.
e) ( ) Não só trouxemos as prendas, mas também armamos as barracas da
quermesse.

10 Em cada uma das frases abaixo, aparece uma oração coordenada sublinhada.
Identifique o tipo de oração de acordo com o código que segue:
(1) oração coordenada sindética aditiva;
(2) oração coordenada sindética adversativa;
(3) oração coordenada sindética alternativa;
(4) oração coordenada sindética conclusiva;
(5) oração coordenada sindética explicativa;
(6) oração coordenada assindética.
a) ( ) O autor não aceitava críticas ao seu trabalho; então criou vários atritos com a
imprensa.
33

b) ( ) Os povos da América Latina enfrentam problemas; precisam, pois, unir-se.


c) ( ) Não escreverei nada nem darei entrevista.
d) ( ) Quer colabore, quer dificulte nosso trabalho, o projeto será aprovado.
e) ( ) Ou muda muita coisa aqui, ou a situação vai ficar insuportável.
f) ( ) Havia várias propostas de emprego, todavia o salário não era convidativo.
g) ( ) Ou dirige direito, ou sai da rua.
h) ( ) O homem depende da natureza; deve, pois, cuidar dela.
i) ( ) O navio deve estar mesmo afundando, pois os ratos já começaram a
abandoná-lo.
j) ( ) O rio ora se estreitava, ora se alargava caprichosamente.
k) ( ) A mulher precisava passar, mas foi barrada.

Principais referências bibliográficas


Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Bechara, E. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
Carone, F.B. Subordinação e Coordenação. Confrontos e contrastes. 6a ed. SP: Ática,
2008.
Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
Henriques, C.C. Sintaxe. RJ: Elsevier, 2008.
Kury, A.G. Novas Lições de Análise Sintática. 6a ed. SP: Ática, 1993.
Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
_____. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

UNIDADE 3: PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO


3.1 ORAÇÃO PRINCIPAL E ORAÇÃO SUBORDINADA
34

No período composto por subordinação, a oração principal é a que não exerce


nenhuma função sintática e vem acompanhada de oração dependente, a
subordinada7. Assim, no período
(1) [Pedi] [que tivessem calma].

a primeira oração, [Pedi], é chamada de oração principal porque não exerce nenhuma
função sintática em relação à segunda, a subordinada, [que tivessem calma], que
funciona como objeto direto da primeira.
Identificamos as orações subordinadas de acordo com a função sintática que
desempenham no período. Dessa forma, podem ser substantivas, adjetivas ou
adverbiais.
As substantivas podem exercer as seguintes funções sintáticas: sujeito, objeto
direto, objeto indireto, predicativo, complemento nominal, aposto:
(2) É preciso [SUJEITO que você pague os atrasados].

As adjetivas exercem função sintática de adjunto adnominal:


(3) Pessoa [ADJUNTOA ADNOMINAL que mente] não merece fé.

E as adverbiais exercem a função de adjunto adverbial:


(4) Chegamos [ADJUNTO ADVERBIAL quando anoitecia].

Quanto à forma, as orações subordinadas podem se apresentar desenvolvidas


(quando aparecem com o verbo flexionado em uma forma finita) ou reduzidas (quando
o verbo aparece em uma forma nominal):

(5) a. Peço-lhes [DESENVOLVIDA que voltem aqui amanhã].


b. Peço-lhes [REDUZIDA voltarem aqui amanhã].

7
Ver 2.1 ORAÇÕES DEPENDENTES E INDEPENDENTES.
35

c. [DESENVOLVIDA Se fores por este caminho], chegarás antes.


d. [REDUZIDA Indo por este caminho], chegará antes.

Em (5a, c) as orações subordinadas apresentam verbos flexionados (voltem e fores),


e são introduzidas por conjunções (que e se). Em (5b, d) os verbos das orações
subordinadas estão em uma forma nominal (infinitivo: voltarem, e gerúndio: indo) e
sem a introdução de conetivos.
Quanto à conexão, as orações subordinadas desenvolvidas podem ser
sindéticas (com conetivo, caso mais frequente, como em (5a, c) e (6a)) ou
assindéticas (sem conetivo, justapostas, caso menos frequente, como em (6b)):
(6) a. Ele afirmou que o sol tem mais de cinco bilhões de anos.
b. Ignoro quantas rezes há nesta fazenda.

Duas ou mais orações subordinadas de mesma função sintática podem estar


coordenadas entre si:
(7) a. Exigiu que cuidasse das terras ou (que) as vendesse.
b. Quando ela chegar e (quando) te vir aqui, ficará surpresa.
c. As pessoas que praticam esportes e (que) cuidam da alimentação são as
mais saudáveis.

Em (7a) as orações subordinadas sublinhadas exercem a função sintática de objeto


direto da principal e estão coordenadas pela conjunção alternativa ou. Em (7b) as
orações subordinadas sublinhadas exercem a função sintática de adjunto adverbial da
principal e estão coordenadas pela conjunção aditiva e. Em (7c) as orações
subordinadas sublinhadas exercem a função sintática de adjunto adnominal do termo
pessoas e estão coordenadas pela conjunção aditiva e.
Em todos os três períodos, o conetivo que introduz a segunda oração
subordinada aparece entre parênteses porque não há necessidade da repetição.
36

3.2 ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS


As orações subordinadas substantivas são categorizadas de acordo com a
função que exercem no período, que pode ser de sujeito, objeto direto, objeto indireto,
predicativo, complemento nominal e aposto. Quando desenvolvidas, são geralmente
introduzidas pelas conjunções integrantes que ou se.

3.2.1 Orações subordinadas substantivas subjetivas


Funcionam como sujeito do verbo da oração principal:
(1) a. Parece que a situação melhorou.
b. Acontece que não encontrei o dinheiro.
c. Importa que estejas bem.
d. Convém que ele não se atrase.

(2) a. É necessário que você colabore.


b. Parecia impossível que ele fosse eleito.
c. Continua extremamente necessário que confiemos na memória do eleitorado.

(3) a. Ignora-se como (quando/onde) se deu o acidente.


b. Nunca se sabe quem está conosco.
c. Foi comentado, na reunião de ontem, que ele é o bom aluno.

Em todos os períodos de (1), (2) e (3), o verbo da oração principal está na terceira
pessoa do singular. Em (1) a oração principal aparece com um verbo tradicionalmente
analisado como intransitivo (parece, acontece, importa, convém). Em (2) o verbo da
oração principal é um verbo de ligação, que está seguido de um predicativo (e do
adjunto adverbial extremamente em (2c)). Em (3) a oração principal aparece na voz
passiva (pronominal em (3a, b) e analítica em (3c)).
37

As orações subordinadas podem ser introduzidas por outros conetivos além das
conjunções integrantes (que, se), como mostram os exemplos (3a, b), em que
aparecem como, quando, onde, quem, por exemplo.

3.2.2 Orações subordinadas substantivas objetivas diretas


Funcionam como objeto direto do verbo da oração principal:
(4) a. Hortênsia julga que tem o rei na barriga.
b. Eu perguntei para a Maria se o João ia viajar.
c. Indaguei a quem pertenciam aqueles livros.
d. Não sabemos onde anda o dono da casa.

Em (4) o verbo da oração principal é ou transitivo direto, ou transitivo direto e indireto


(ou seja, um verbo que admite objeto direto). Essa afirmação suscita uma pergunta
acerca do exemplo (4c): por que a oração subordinada substantiva objetiva direta é
introduzida por uma preposição? Porque o verbo da oração subordinada exige a
presença dessa preposição, já que o verbo pertencer é transitivo indireto (pertencer a
alguém).

3.2.3 Orações subordinadas objetivas indiretas


Funcionam como objeto indireto do verbo da oração principal:
(5) a. Não me oponho (a) que você viaje.
b. Ele sempre aconselhava os pacientes a beber muita água.
c. Daremos o prêmio a quem vencer.
d. O professor avisou os alunos (de) que a prova seria na aula seguinte.

Em (5) o verbo da oração principal é ou transitivo indireto, ou transitivo direto e


indireto (ou seja, um verbo que admite objeto indireto)
38

Em algumas orações subordinadas substantivas objetivas indiretas, é possível a


omissão da preposição, como em (5a, d). Isso não significa que a oração subordinada
passou a ser objetiva direta, pois o verbo da oração principal (opor-se e avisar) não
mudou sua regência.

Por outro lado, os verbos crer e acreditar (e apenas esses), quando


complementados por uma oração substantiva COM conetivo, significam imaginar,
achar e mudam de predicação: deixam de ser transitivos indiretos e passam a ser
transitivos diretos, não havendo como reconhecer nessas orações objetivas a
preposição “em” subentendida. Veja os exemplos (6a, b):
(6) a. Creio em fantasmas → Creio [OBJETIVA DIRETA em que fantasmas existem].
b. Acredito em tuas palavras → Acredito [OBJETIVA DIRETA em que tuas palavras são
certas].

As orações sublinhadas em (6a, b), acima, são subordinadas substantivas objetivas


diretas que complementam, com conjunção, a oração principal. Nesses períodos não
há como inserir uma preposição no início da oração subordinada.
Repare agora os exemplos (7a, b), em que os verbos crer e acreditar aparecem
SEM a conjunção integrante que:
(7) a. Creio no trabalho → Creio [OBJETIVA INDIRETA em Ø quem trabalha].
b. Acredito no trabalho → Acredito [OBJETIVA INDIRETA em Ø quem trabalha].

As orações subordinadas sublinhadas em (7a, b) são introduzidas SEM conjunção.


Nesse caso, a preposição sempre aparece e a subordinada será uma objetiva indireta.

3.2.4 Orações subordinadas substantivas predicativas


Exercem função de predicativo:
(8) a. O receio dele era que chovesse muito.
39

b. O fato é que ando decepcionada com este país.


c. O certo seria que não esquecêssemos do nosso passado político.

Em (8a, b, c) a oração principal aparece com um verbo de ligação.


Em certos casos, as orações predicativas podem ser realçadas pela preposição
expletiva “de”:
(9) a. A expectativa é de que o preço do arroz diminua.
b. A impressão é de que ele nunca iria ceder.

3.2.5 Orações subordinadas substantivas completivas nominais


Exercem a função sintática de complemento nominal:
(10) a. Eu sou [PS favorável (a) que o prendam].
b. [ADJ ADV Independentemente de que aprovem a MP], estaremos alertas.
c. Eu tinha [OD receio de que chovesse muito]!
d. Cheguei [OI à conclusão que está tudo certo].

Em (10a), a completiva nominal aparece dentro de um predicativo; em (10b), dentro


de um adjunto adverbial; e, em (10c, d), dentro de complementos verbais. Assim como
acontece nas subordinadas objetivas indiretas, também nas completivas nominais a
preposição pode não aparecer (veja (10a), por exemplo).

No período simples, a distinção entre a locução adjetiva e o complemento


nominal precisa, às vezes, de alguns testes sintáticos, como o que aparece abaixo:
(11) a. Assessoria [COMPLEMENTO NOMINAL do evento] → assessorar [COMPLEMENTO VERBAL o
evento]
b. Embarque [ADJUNTO ADNOMINAL dos passageiros] → [SUJEITO os passageiros]
embarcam
40

Sabemos que do evento em (11a) exerce a função sintática de complemento nominal


porque, transformando o nome assessoria em verbo assessorar, a locução passa a
complemento do verbo. Da mesma forma, sabemos que dos passageiros em (11b) é
adjunto adnominal porque, transformando o nome embarque em verbo embarcar,
locução passa a sujeito do verbo.
No período composto, as orações subordinadas completivas nominais e as
adjetivas têm estruturas bastante diferentes. Uma das mais proeminente delas é o
conetivo que introduz cada uma: a completiva é introduzida por uma conjunção
integrante, e a adjetiva (como veremos adiante) é introduzida por um pronome
relativo.

3.2.6. Orações subordinadas substantivas apositivas


Exercem a função de aposto:
(12) a. Só desejo uma coisa: que vivam felizes!
b. Confesso uma verdade: eu pensava que sabia tudo.
c. A notícia veio de supetão – iam reter o dinheiro da poupança de todos os
brasileiros.

A norma culta urbana admite a omissão da conjunção integrante:


(13) Espero isto: (que) todos tenham sucesso.

Há um tipo de oração substantiva que não pode ser construída com conjunção
integrante e vem sempre introduzida pela locução “por + quem/quantos...”; é a oração
com função de agente da passiva:
(14) a. O quadro foi comprado por quem deu o maior lance.
b. A obra foi apreciada por quantos a viram.
41

A NGB não reconhece as orações com função de agente da passiva, contudo elas
são produtivas na linguagem do falante nativo.

Exercícios
1 Substitua os termos sublinhados por orações substantivas, sem alterar o sentido das
frases. As orações substantivas devem ter as mesmas funções sintáticas dos termos
substituídos.
a) É certa a chegada das vacinas.
b) Vereador quer isenção de cobranças para comerciantes.
c) Suspeito confessa assassinato do irmão.
d) A população precisava da ajuda da prefeitura.
e) Tínhamos medo do ataque de animais peçonhentos.
f) Vi, com meus olhos, isto: ruas desertas!
g) Meu medo era a partida prematura deles.

2 Analisando o relacionamento que a oração subordinada sublinhada mantém com a


principal, reconheça o tipo de substantiva.
a) Basta que vocês estudem.
b) Queremos que vocês estudem.
c) Prefeito precisa que reabram o comércio.
d) O temor é pelo que virá.
e) Não temos para onde ir.
f) Precisamos só de uma coisa: que se cuidem.
g) Polícia prende irmãos suspeitos de liderar facção criminosa em Cruz Alta.
h) A verdade é que tememos o pior.
i) É verdade que tememos o pior.

3 Nos períodos abaixo, sublinhe a oração principal.


a) O ministro jurou que a inflação baixou.
b) Só pedi uma coisa: que fossem honestos!
c) Pediram ao povo que tivesse paciência.
42

4 Indique com OI os períodos em que há oração subordinada substantiva objetiva


indireta e com CN os períodos em que há completiva nominal.
a) ( ) O equipamento brasileiro tem o objetivo de monitorar, em tempo real, os
distúrbios causados pelas explosões solares.
b) ( ) Nesta quinta-feira (18), a Polícia Civil, através da 4DP/Santa Maria,
desencadeou a “Operação Palma”, com propósito de combater crimes de Furto e
Roubo.
c) ( ) Maristela aconselhou a Maria a rezar um rosário.
d) ( ) Uma rádio avisava a população que extraterrestres estavam atacando a terra.
e) ( ) O cheiro dava a impressão (de) que algo estava queimando.
f) ( ) Insisto (para) que fique neste hospital.
g) ( ) Espalhou-se a notícia de que ele renunciou.

5 Qual a função sintática das orações sublinhadas abaixo?


a) Os meninos foram advertidos por quem morava na vizinhança
b) A vidraça foi quebrada por quem desobedeceu ao guarda

6 Em quatro períodos abaixo a oração substantiva sublinhada funciona como sujeito


da oração principal. Quais são eles?
a) ( ) Parece que ele é surdo.
b) ( ) Meu desejo era que viessem todos.
c) ( ) Decidiu-se que a gasolina subiria de preço todo mês.
d) ( ) Ignoram quanto mal nos causa esta pessoa.
e) ( ) Acontece que faltou luz.
f) ( ) Percebemos que ia chover muito.
g) ( ) É certo que todos estão apreensivos.
h) ( ) O certo é que todos estavam apreensivos.
43

7 No período abaixo, as orações estão separadas por colchetes:


[Não sabíamos] [se iriam permitir] [que os fregueses continuassem a pagar suas
contas com cheques].
Analisando sintaticamente a relação entre as orações, podemos dizer que nesse
período há:
a) ( ) uma oração principal e duas subordinadas;
b) ( ) duas orações principais e duas subordinadas;
c) ( ) uma oração principal e três subordinadas;
d) ( ) duas orações principais e três subordinadas.

8 O período abaixo é construído com uma oração fragmentada. Reescreva-o de


acordo com a norma urbana culta.
Quem estiver sem máscara e não carregá-la no momento da abordagem, a Prefeitura
poderá fornecer o equipamento.

9 No texto abaixo (retirado da revista Veja), indique as orações coordenadas e as


orações subordinadas substantivas:
Rochas indicam presença de água corrente em Marte
Formato de pedregulhos fotografados pelo robô Curiosity sugere que eles
teriam se formado em um rio, há bilhões de anos.
Há algum tempo, os pesquisadores cogitam que exista água líquida em Marte.
Hoje em dia, a superfície do planeta é basicamente uma vastidão seca e fria, mas
diversas formações rochosas — como vales e canais — sugerem que ali houve um
passado muito mais úmido. Uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira na
revista Science fornece evidências de que Marte possuía água e rios.
44

10 No texto abaixo (adaptado do jornal Diário de Santa Maria), indique as orações


coordenadas e subordinadas substantivas:
Santa Maria registra novo aumento dos casos de dengue e fiscalização é
intensificada
Maioria dos casos se concentra na zona oeste da cidade. Nesses bairros, já são
identificados surtos localizados da doença
O número de casos confirmados de dengue em Santa Maria subiu novamente.
Na última semana, eram 17 confirmações; agora, são 23 pessoas infectadas desde o
início do ano. O número de casos em investigação também sofreu aumento: subiu de
57 para 87 em apenas cinco dias. Apesar disso, o superintendente de Vigilância em
Saúde do município, Alexandre Streb, garante que ainda não é um momento de
preocupação:
- Avaliamos que a situação está sob controle. Temos surtos localizados em alguns
bairros, mas não temos ainda uma situação preocupante. Nesse contexto de ameaça,
intensificamos nosso trabalho de vigilância: fazemos a visita em locais com casos
confirmados.
Essa visita não é restrita à residência reagente local com pessoas positivas para
dengue; ela se estende a um raio de 150 metros. Assim, todos os moradores recebem
orientação. O trabalho diário inclui os seguintes serviços: coletar larvas, tratar
quimicamente os locais infectados e orientar a comunidade.
Desde o início do ano, três pessoas foram internadas com dengue, mas todas já
receberam alta, e, até o momento, nenhum caso é considerado grave.
Os sintomas geralmente começam com febre alta (entre 39°C a 40°C),
acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza,
dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. A orientação é que pessoas com
sintomas procurem a unidade básica de saúde mais próxima.
As denúncias de locais públicos com água parada devem ser encaminhadas
para o número (55) 3921-7159 ou para o site da prefeitura.
45

11 Faça o mesmo com o texto abaixo (adaptado do jornal Diário de Santa Maria, de
20.05.22):
Procon contará com unidade móvel para atender população dos bairros e
distritos
O serviço de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Santa Maria
passará a contar, a partir de 2023, com uma unidade móvel. O objetivo é atender a
demanda da população nas localidades mais afastadas do centro da cidade. É preciso
estender o atendimento do serviço, que fica restrito ao centro.
A unidade móvel do Procon, adaptada com cadeira, mesa, computador,
receberá R$ 610 mil em investimento e um veículo de suporte para deslocamento da
equipe; o que garantirá o atendimento às localidades afastadas do centro.
O projeto é desenvolvido em parceria entre o Procon de Santa Maria e o
Ministério Público Estadual (MP/RS). Em entrevista à, a coordenadora do Procon de
Santa Maria e vice-presidente da Associação Brasileira de Procons, Márcia Moro da
Rocha, afirmou que a verba vem do Fundo de Reconstituição de Bens Lesados
(FRBL) do MP.
Após a aprovação do projeto, as próximas ações são encaminhar a
documentação ao Ministério Público, assinar o convênio entre as entidades e
depositar os recursos em uma conta vinculada ao projeto. Após o depósito dos
valores, será aberta a licitação para a compra dos dois veículos.
O serviço da unidade móvel do Procon já VP é realizado em Porto Alegre, Rio
Grande e Novo Hamburgo, e presta todos os atendimentos que são feitos na sede
física.

Principais referências bibliográficas


Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Bechara, E. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
46

Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
Garcia, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. RJ: Fundação Getúlio Vargas,
1988.
Henriques, C.C. Sintaxe. RJ: Elsevier, 2008.
Kury, A.G. Novas Lições de Análise Sintática. 6a ed. SP: Ática, 1993.
Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
_____. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

3.3 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS


Compare as frases:
(1) a. Em time vencedor não se mexe.
b. Em time que vence não se mexe.

A oração que vence em (1b) é chamada de oração subordinada adjetiva porque


exerce a mesma função sintática do adjetivo vencedor (que aparece em (1a)):
funciona como adjunto adnominal do substantivo time. Logo, as orações subordinadas
adjetivas são as que exercem a função de adjunto adnominal. Elas são introduzidas,
frequentemente, pelos pronomes relativos:
(2) a. [SUJEITO O professor a quem fui apresentado] era muito simpático.
b. Existem [SUJEITO coisas cujo alcance nos escapa].
c. Esse é [PREDICATIVO o motivo que me incentiva].
d. Ele tem amor [COMPLEMENTO NOMINAL às plantas, que cultiva com carinho].
e. [ADJUNTO ADVERBIAL Independentemente da MP que o governo aprovou,] seguimos
confiantes em um país melhor.
47

Os pronomes relativos que introduzem as orações adjetivas em (2) são quem, cujo,
qual, que. Existem algumas regras para o emprego dos relativos, que veremos logo
abaixo da Tabela 1, nos exemplos (10) a (16).
As orações adjetivas que aparecem em (2a, b) estão inseridas no sujeito; em
(2c), no predicativo; em (2d), no complemento nominal; em (2e), no adjunto adverbial.
Assim como o adjunto adnominal, também a oração adjetiva pode aparecer dentro de
vários termos da oração.
As orações adjetivas são de dois tipos, conforme passamos a apresentar a
seguir.

3.3.1 Orações subordinadas adjetivas explicativas


Explicam ou esclarecem o termo antecedente, atribuindo uma qualidade (que lhe
é ou não inerente) ou acrescentando uma informação:
(3) a. Meu irmão, que mora em Manaus, veio me visitar.
b. O homem, que é emotivo, tem dificuldade em esconder as emoções.
c. Brasília, que é a Capital do Brasil, foi fundada em 1960.

Como vemos em (3), as orações adjetivas explicativas são separadas por vírgulas.
Quando elas contêm um predicado nominal, apresentam muita semelhança com o
aposto e com o predicativo. Vejamos o par (4a, b, c, d) abaixo:
(4) a. Brasília, que é a capital do Brasil, foi fundada em 1960.
b. Brasília, a capital do Brasil, foi fundada em 1960.

A oração adjetiva sublinhada em (4a) é construída com um verbo de ligação (ser). Se


subtrairmos esse verbo (e o pronome relativo), transformamos a oração adjetiva em
um termo, o aposto, como em (4b).

O par (5a, b) mostra uma transformação semelhante:


48

(5) a. O José, que é honesto, sempre tem crédito no mercadinho da esquina.


b. O José, honesto, sempre tem crédito no mercadinho da esquina.

Assim como em (4a), também a oração adjetiva sublinhada em (5a) é construída com
um verbo de ligação (ser). Se retirarmos esse verbo (e o pronome relativo) da oração,
transformamos a oração adjetiva em um termo, o predicativo, como em (5b) (repare
que o núcleo do termo sublinhado em (4b) é um substantivo (capital), e o núcleo do
termo sublinhado em (5b) é um adjetivo (honesto); daí ser o primeiro um aposto e o
segundo um predicativo).

3.3.2 Orações subordinadas adjetivas restritivas


Restringem ou limitam a significação do termo antecedente:
(6) a. Meu irmão que mora em Manaus veio me visitar.
b. O homem que é emotivo tem dificuldade em esconder as emoções.
c. Os animais que se alimentam de carne chamam-se carnívoros.

(6) mostra que não se usam vírgulas para separar as orações restritivas.

O contraste entre a oração explicativa (3a) (repetida abaixo como (7a)) e a


restritiva (6a) (repetida abaixo em (7b)) mostra claramente a diferença semântica
entre os dois tipos de orações adjetivas:
(7) a. Meu irmão, que mora em Manaus, veio me visitar.
b. Meu irmão que mora em Manaus veio me visitar.

A oração explicativa (7a) indica que eu tenho apenas um irmão, o que mora em
Manaus; a oração restritiva (7b) indica que, dentre todos os meus irmãos, apenas o
que mora em Manaus veio me visitar. O conjunto de irmãos de (7a) é formado por
49

uma pessoa apenas, e o conjunto de irmãos de (7b) é formado por mais de uma
pessoa.

As orações adjetivas (explicativas e restritivas) vêm precedidas de preposição


sempre que ela for exigida pelo verbo que as constitui:
(8) a. Trouxe as frutas de que você gosta.
b. João, com quem estudo, é um aluno brilhante.
c. A casa em que a Maria morava foi demolida.
d. O livro de que preciso é caro.

Todas as orações adjetivas sublinhadas em (8) apresentam verbos cujo complemento


ou adjunto exige preposição (gostar de, estudar com, morar em, precisar de), daí a
necessidade da preposição no início de cada uma delas.

3.3.3 Pronomes relativos


Observe o período abaixo:
(9) O João comprou a casa que queria.

A palavra que representa, retoma o substantivo casa, relaciona-se com o termo casa:
é um pronome relativo. A palavra que o pronome relativo representa se chama
antecedente. No exemplo dado em (9), o antecedente de que é casa.
São os seguintes os pronomes relativos:
VARIÁVEIS INVARIÁVEIS
masculino feminino
o qual; os quais a qual ; as quais quem
cujo; cujos cuja; cujas que
quanto; quantos quanta; quantas onde
quando (noção de tempo)
como (noção de modo)
50

Tabela 1: pronomes relativos do português

Dos pronomes relativos acima, devemos atentar que:


1 O pronome relativo “quem” só se aplica a pessoas:
(10) O professor de quem falo é meu conterrâneo.

2 “Onde”, como pronome relativo, aplica-se a lugar e equivale a “em que”:


(11) A casa onde moro foi de meu avô. = A casa em que moro foi de meu avô.

3 “Quando” e “como”, enquanto pronomes relativos, exprimem noções de tempo e


modo, respectivamente:
(12) a. Esse é o momento quando o céu se torna infinitamente azul.
b. Não aceito a forma como ela tratou você na reunião.

4 “Quanto(a)(s)” é pronome relativo quando antecedido de um dos pronomes


indefinidos “tudo”, “tanto(s)”, “tanta(s)”, “todos”, “todas”:
(13) a. Leve tantos quantos precisar.
b. Você deve perguntar a todos quantos estiverem lá.

5 O pronome “cujo(a)(s)” significa “do qual”, “da qual” e precede sempre um


substantivo sem artigo. Diferentemente dos outros pronomes relativos, a concordância
do pronome “cujo” se dá com o termo que o segue imediatamente, e não com seu
referente:
(14) a. Foi consertada a escada cujos degraus estavam tortos.
b. Existem coisas cujo alcance nos escapa.

Em (14), sublinhamos o pronome relativo e o termo com que ele concorda; porém,
não é esse o seu referente. Em (14a) o referente do pronome relativo cujos (que está
51

no masculino e no plural, concordando com degraus) é escada (feminino e singular).


Em (14b) o referente do pronome relativo cujo (que está no masculino e no singular,
concordando com alcance) é coisas (feminino e plural).

6 As formas variáveis dos pronomes relativos permitem que se evite ambiguidade:


(15) a. Ele trabalha na maior unidade do grupo empresarial, a qual produz
sofisticados equipamentos eletrônicos.
b. Esta será a primeira edição do curso, a qual busca capacitar os professores
para poderem utilizar o Discord como uma ferramenta de aula.

Em (15a) o referente do relativo a qual é a maior unidade do grupo empresarial e não


o grupo empresarial. Em (15b), é a primeira edição do curso e não o curso.

7 Os pronomes relativos exercem função sintática dentro da oração adjetiva:


(16) Este é um país que não investe em educação.

Em (16) o referente do pronome relativo que é país. Substituindo o pronome relativo


pelo seu referente, temos: um país não investe em educação. Logo, em (16) o
pronome relativo que exerce função sintática de sujeito do verbo investir, dentro
da oração adjetiva.

(17) Os dois livros que os alunos compraram vão ser usados por toda a turma. → os
alunos compraram os dois livros.
Em (17) o pronome relativo que exerce função sintática de objeto direto do verbo
comprar, dentro da oração adjetiva.

(18) As ideias a que o professor se referiu foram condenadas pelo Vaticano. → o


professor se referiu às ideias.
52

Em (18) o pronome relativo (a) que exerce função sintática de objeto indireto do verbo
pronominal referir-se, dentro da oração adjetiva.

(19) Os insetos de que ele tinha mais nojo eram as baratas. → ele tinha mais nojo das
baratas.
Em (19) o pronome relativo (de) que exerce função sintática de complemento nominal
do termo nojo, dentro da oração adjetiva.

(20) O grande ator que ele era deixou saudades. → ele era o grande ator.
Em (20) o pronome relativo que exerce função sintática de predicativo do sujeito do
verbo ser, dentro da oração adjetiva.

(21) O amigo por quem ele fora traído estava preso. → ele fora traído pelo amigo.
Em (21) o pronome relativo (por) quem exerce função sintática de agente da passiva
da locução passiva ser traído, dentro da oração adjetiva.

(22) Não me lembro da escola onde vi João. → vi João na escola.


Em (22) o pronome relativo onde exerce função sintática de adjunto adverbial do
verbo ver, dentro da oração adjetiva.

OBSERVAÇÕES:
1 As estruturas adjetivas cujo pronome é regido por preposição têm, além da forma
padrão, duas formas variantes: a cortadora e a copiadora. Vejamos os exemplos:
(23) Ela trouxe o livro [de que falei ontem].

essa é uma oração adjetiva padrão: a preposição “de” é exigida pelo verbo “falar” e
antecede o pronome relativo. É típica do registro formal.
53

Observe (24), que não segue o padrão de (23):


(24) Ela trouxe o livro [Ø que falei ontem].

essa oração é uma relativa cortadora: a preposição exigida pelo verbo “falar” é
apagada. Essa oração é própria do registro coloquial e está em processo de
incorporação na linguagem literária e jornalística.

Vejamos agora a relativa copiadora:


(25) Ela trouxe o livro [Ø que eu falei dele ontem].

essa oração é uma relativa copiadora: o antecedente do pronome relativo (“livro”) é


retomado (como pronome pessoal anafórico) na oração adjetiva, ao lado da
preposição exigida por “falar” (essa retomada aparece na forma do pronome “dele”).
Essa estrutura é própria do registro coloquial e permanece estigmatizada pela norma
culta.

Conforme esclarece Azeredo (2008: 120), a relativa cortadora tem supremacia


sobre a relativa padrão (tanto é assim que ela está em processo de incorporação na
linguagem literária e jornalística):
(26) Essa menina não lembra a [que você gosta]?
(em vez de: Essa menina não lembra a [de que você gosta]?)

2 As expressões O/A/OS/AS + QUE contêm, nessa ordem, um pronome


demonstrativo e um pronome relativo; o período deve ser dividido no meio dessa
expressão. A oração do pronome relativo, neste caso, é sempre restritiva:
(27) Essa menina não é [PS a [Or. Adj. R. que você encontrou na praia] ]?
nesse período, o pronome demonstrativo “a” (=aquela) funciona como núcleo do
predicativo do sujeito (repare que ele é antecedido por um verbo de ligação), e o
54

pronome relativo “que” introduz uma oração subordinada adjetiva restritiva (dentro do
PS).

(28) O craque estava escalado, [APOSTO o [Or. Adj. R. que deu à torcida uma
sensação de alívio] ].
nesse período, o pronome demonstrativo “o” (=isso/fato) funciona como núcleo do
aposto da oração principal, e o pronome relativo “que” introduz uma oração
subordinada adjetiva restritiva (dentro do aposto).

3 As expressões expletivas “é que”, “é quando”, “é onde”... não caracterizam oração,


pois podem ser retiradas do período sem prejuízo semântico ou funcional. O uso
dessas expressões se caracteriza pela necessidade de ênfase, e certos livros se
referem a elas como “clivagem” (fragmentação de uma oração em duas):
(29) a. Em nossas palavras (é onde) está a verdade.
b. (É/era) naquela casa cheia de frestas (que) eles moravam.

As frases em (29) têm apenas uma oração cada. Isso, contudo, não acontece nos
exemplos abaixo:
(30) a. O pior de tudo é [que ela não tinha mais dinheiro].
b. Este é [o homem [que resolverá tudo]].
c. Se digo deste modo, é (=digo) [que (=porque) ainda não aprendi as boas
maneiras].

Em (30a) a palavra que é uma conjunção integrante que introduz uma oração
subordinada substantiva predicativa, antecedida pelo verbo de ligação é. Em (30b) a
palavra que é um pronome relativo que introduz uma oração subordinada adjetiva
restritiva e tem como referente o núcleo do predicativo do sujeito homem. Em (30c) a
palavra que equivale à conjunção porque e introduz uma oração coordenada sindética
55

explicativa. Repare que, nesse período, é substitui o verbo digo (mencionado na


oração anterior), é um verbo vicário.

Exercícios
1 Indique, através de colchetes, a oração adjetiva e sublinhe o antecedente do
pronome relativo, como no exemplo:
O artista vendeu todos os quadros [que pintou].
a) Queria ir para uma cidade onde houvesse menos carros!
b) O lançamento que ocorreria no sábado foi adiado.
c) Segundo os pesquisadores da UFSM que estão acompanhando a missão, no
Cosmódromo de Baikonur, esse tipo de adiamento já era previsto.
d) Esta é a casa em que nasci.
e) O diretor recebeu os alunos, com quem manteve longa conversa.
f) Abri um álbum enorme, cujas páginas estavam muito velhas.
g) A dor que se dissimula dói mais.

2 Por meio do pronome relativo adequado, junte cada par de frases numa só, de
modo a formar uma oração subordinada adjetiva, como nos exemplos:
a) Meu tio contava histórias. As histórias dele me apavoravam.
Meu tio contava histórias que me apavoravam.
b) Veja o perigo. Você se expõe a esse perigo.
Veja o perigo a que você se expõe.
a) Esse é o menino. Eu falei dele ontem.
b) Eu moro naquela casa. A casa é grande.
c) A oficina fica no fim da rua. João trabalha nessa oficina.
d) As tintas eram extraídas dos vegetais. Com as tintas, se pintavam os tecidos.
e) O rio era fundo. Eu costumava brincar nesse rio.
f) Esse é um problema difícil. Para a sua solução se exige competência.
56

g) Entrei numa loja. As prateleiras da loja possuíam artesanato.

3 Nos períodos abaixo, o emprego do pronome relativo obedece à oralidade.


Reescreva os períodos de acordo com as regras da norma culta urbana, mantendo a
oração adjetiva.
a) O mais barato é o Renault Kwid, que as peças vêm da Índia.
b) Um inseto minúsculo e preto, possivelmente chamado tripes, que a picada pode
resultar em sintomas alérgicos como coceira muito forte e vermelhidão, tem trazido
incômodo para os santa-marienses.
c) Desse vírus, já encontramos várias mutações que ainda não sabemos quais os
sintomas.

4 Leia os períodos abaixo, depois responda à pergunta.


a) O irmão do João, que mora em Roma, já pode voltar para o Brasil.
b) O irmão do João que mora em Roma já pode voltar para o Brasil.
Quantos irmãos tem o João em (a) e em (b)?

5 Por meio do pronome relativo adequado, junte cada par de frases numa só, de
modo a formar uma oração subordinada adjetiva com o significado pedido em (a) e
(b): Os eleitores são esclarecidos. Os eleitores podem mudar o destino do país.
Significado a) Todos os eleitores são esclarecidos e podem mudar o destino do país.
Significado b) Apenas os eleitores esclarecidos podem mudar o destino do país.

6 Empregue os pronomes relativos adequados. Não se esqueça de inserir uma


preposição, quando necessário:
a) A conclusão chegamos é ímpar.
b) O jovem acaba de se formar já conseguiu um emprego.
c) A mão afaga é a mesma apedreja.
57

d) O banqueiro fui enganado está preso.


e) Talvez seja essa a cena o professor se referiu naquela aula.
f) Pelos equipamentos dispõe, este hospital é considerado o melhor.

7 Nos períodos abaixo, analise a palavra que e escreva P se ela for um pronome
relativo e C se ela for uma conjunção integrante:
a) ( ) Este é um mal que tem cura.
b) ( ) Confesso que errei.
c) ( ) Assisti a cenas que me comoveram.
d) ( ) Sabe-se que as vacinas serão caras.

8 Os pronomes relativos exercem uma função sintática na oração adjetiva em que


aparecem. Encontre as orações adjetivas e dê a função sintática dos relativos que
ocorrem abaixo:
a) Passamos por muitos trechos onde nem estrada havia.
b) Ele analisava as laranjeiras, cujos galhos sem folhas pareciam muito doentes.
c) O João começou a contar umas histórias de que não gostei.
d) A máquina mais complicada que ele conhecia era o moinho.
e) Estavam ali no chão as cascas dos ovos podres pelos quais o político mentiroso
fora atingido.
f) O vulcão, que parecia extinto, voltou a dar sinal de vida.

9 Leia o período abaixo atentando para o emprego da palavra que:


Na última semana, o que aconteceu foi uma atualização no sistema do Ministério da
Saúde, que causou demora na divulgação dos resultados dos testes de todo o país.
Qual das duas palavras sublinhadas é um pronome relativo?

10 Qual o problema da sintaxe do parágrafo abaixo?


58

Atletas depois de inscrito, que deseja fazer a troca para outra prova deste evento,
deve pagar uma taxa de R$ 40,00 reais.

11 Encontra as orações adjetivas no texto abaixo (adaptado do jornal Diário de Santa


Maria):
Coral da Emaet grava clipe de música de Beto Pires
Videoclipe em homenagem ao aniversário de Santa Maria será lançado no
próximo dia 17
Os alunos do Coral da Escola Municipal de Artes Eduardo Trevisan (Emaet)
gravaram um clipe que homenageia o aniversário de Santa Maria. O vídeo da música
"Santa Maria", que é de autoria de Beto Pires, será lançado em 17 de maio, data em
que a cidade completa 225 anos.
Jade Schneider, a regente, conta mais sobre o videoclipe:
- Para o vídeo, contamos com a colaboração do Matheus Lameira, que é o nosso
professor. O arranjo musical ficou por conta de Diogo Matos. A regente do coral, que
sou eu, é quem vai editar.

Principais referências bibliográficas


Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Bechara, E. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
Carone, F.B. Subordinação e Coordenação. Confrontos e contrastes. 6a ed. SP: Ática,
2008.
Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
Garcia, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. RJ: Fundação Getúlio Vargas,
1988.
Henriques, C.C. Sintaxe. RJ: Elsevier, 2008.
59

Kury, A.G. Novas Lições de Análise Sintática. 6a ed. SP: Ática, 1993.
Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
_____. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

3.4 ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS


As orações adverbiais desempenham, em relação à principal, a função sintática
de adjunto adverbial. Elas podem aparecer antes, no meio ou depois da oração
principal, sendo a ordem inversa muito praticada. O emprego da ordem inversa
recomenda atenção quanto ao emprego de vírgula, o que depende fundamentalmente
de dois princípios:
1º) é obrigatória quando a subordinada antecede a principal ou está inserida nela;
2º) é dispensável quando a subordinada aparece depois da principal.
Vamos ver alguns exemplos:
(1) a. Quando os manifestantes tentaram invadir o Itamaraty, a polícia jogou
bombas de gás.
b. A polícia, quando os manifestantes tentaram invadir o Itamaraty, jogou bombas de
gás.
c. A polícia jogou bombas de gás(,) quando os manifestantes tentaram invadir o
Itamaraty.
d. A polícia jogou bombas de gás(,) quando manifestantes exaltados e muito
revoltados com a situação do país tentaram invadir o Palácio do Itamaraty.
e. A polícia jogou bombas de gás quando os manifestantes, que estavam
exaltados e muito revoltados com a situação do país, tentaram invadir o Palácio do
Itamaraty.
60

Em (1a) e (1b), o emprego da vírgula é obrigatório; em (1c), (1d) e (1e), não é


obrigatório. Em (1d), embora não seja obrigatório, o emprego da vírgula é
recomendado, pois a subordinada é de grande extensão. No exemplo (1e), melhor
será evitar a vírgula antes da oração adverbial em virtude da proximidade que ela tem
com a oração adjetiva explicativa.
As orações adverbiais são nove, e o conetivo que as introduz é um conetivo
subordinativo que tem o mesmo nome da oração.

3.4.1 Orações subordinadas adverbiais causais


Exprimem causa, motivo, razão do que se declara na oração principal:
(2) a. Ele julga que vale muito porque é rico.
b. Já que você quer pagar, aceito.
c. Como hoje é Natal, vamos trocar presentes!
d. Se você quer assim, não posso fazer mais nada.

Como se vê em (2c, d), as conjunções “como” e “se”, quando significam “já que”,
“porque” também são causais.

3.4.2 Orações subordinadas adverbiais comparativas


Representam o segundo termo de uma comparação:
(3) a. Eles deixaram o país tão pobres como vieram.
b. Santa Maria é tão quente quanto o deserto.
c. Nenhum nadador treinou tanto quanto ele.
d. A luz é mais veloz do que o som.
e. Ele voltou para casa como quem vai para a prisão.
f. O homem parou perplexo, como se esperasse um guia.
g. O zunido se espalhou pela sala, como se um inseto gigante estivesse voando
ali.
61

Em (3a, b, c, d) a conjunção aparece correlata com um elemento intensificador (tão,


tanto, mais) na oração principal. Em (3b, c, d) as orações subordinadas comparativas
têm o verbo subentendido.
Em (3f, g) a combinação das conjunções como se estabelece uma comparação
hipotética. As conjunções comparativas podem estar combinadas com outras
conjunções subordinativas. Alguns gramáticos consideram, nesses casos, a existência
de duas orações subordinadas, a primeira delas quase sempre com o verbo implícito:
(4) a. Seus olhos brilham [como] [se fossem estrelas].
b. Os torcedores festejaram mais hoje [do que] [quando ganharam a copa].

Podemos analisar (4a), assim como (3f, g), como um período de três orações: a
primeira é a principal (Seus olhos brilham), a segunda é a subordinada comparativa
com o verbo subentendido (como brilhariam), e a terceira é uma condicional (se
fossem estrelas).
(4b) também pode ser analisado como um período de três orações: a primeira é
a principal (Os torcedores festejaram mais hoje), a segunda é a subordinada
comparativa com o verbo subentendido (do que festejaram), e a terceira é uma
temporal (quando ganharam a copa).
Sacconi (2001: 384), contrariando essa análise, considera, na combinação dessas
conjunções (como se, do que quando), a ocorrência de apenas uma oração: a
comparativa.

3.4.3 Orações subordinadas adverbiais concessivas


Exprimem uma permissão, algo que se concede, que se admite, em oposição ao
da oração principal. Contêm um fato contrário ao da oração principal, mas que não é
suficiente para anular este último:
(5) a. Admirava muito o delegado, embora não o conhecesse pessoalmente.
62

b. Ainda que seja verdade, há elementos estranhos nessa história.


c. Os avaliadores vieram aqui ontem, conquanto nem entrassem.
d. Não concorreu, embora pudesse fazê-lo.

As conjunções concessivas que aparecem em (5) são: embora, ainda que, conquanto.
Repare que essas conjunções levam o verbo da oração subordinada para o modo
subjuntivo (conhecesse, seja, entrassem, pudesse).

3.4.4 Orações subordinadas adverbiais condicionais


Exprimem condição, hipótese:
(6) a. Se o conhecesse, não o condenaria.
b. (Se) F/fosse menos preguiçoso, poderia viajar todos os anos.
c. (Se) T/tivesse chegado um minuto antes, tudo seria diferente.
d. Você pode ir, contanto que volte cedo.

Assim como acontece com as conjunções concessivas em (5), também as


condicionais levam o verbo para o modo subjuntivo. É comum a omissão da
conjunção condicional, como mostram (6b, c).

3.4.5 Orações subordinadas adverbiais conformativas


Exprimem acordo ou conformidade de um fato com outro:
(7) a. O homem age conforme pensa.
b. Relatei os fatos conforme ouvi.
c. Vim hoje, segundo prometi.
d. Consoante opinam alguns, a história se repete.

3.4.6 Orações subordinadas adverbiais consecutivas


Exprimem uma consequência, um efeito do que se afirma na oração principal:
63

(8) a. Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos.


b. De tal forma o menino crescera que não o reconhecia mais.
c. Andei tão depressa que amarrotei as calças.
d. Falou com uma calma e frieza que todos ficaram surpresos.
e. Bebia que era uma lástima.
f. As notícias de casa eram boas, de forma que pude prolongar minha viagem.

Assim como as comparativas, também as consecutivas podem aparecer com um


elemento intensificador na oração principal (tanto, tal, tão, uma (=tanta, tal)). Esse
elemento intensificador pode estar subentendido, como se vê em (8e, f).
Quando a oração subordinada expressa consequência, a oração principal
expressa a causa:
(9) a. [CAUSA Fazia tanto frio] [CONSEQUÊNCIA que meus dedos estavam endurecidos].

3.4.7 Orações subordinadas adverbiais finais


Exprimem a finalidade daquilo que se afirma na oração principal:
(10) a. Levantei, para que ela pudesse se sentar.
b. Fiz um sinal que se calasse.
c. Aproximei o rádio do ouvido a fim de que escutasse melhor.
A conjunção final leva o verbo da oração subordinada para o subjuntivo.

3.4.8 Orações subordinadas adverbiais proporcionais


Expressam proporcionalidade:
(11) a. À medida que se vive, mais se aprende.
b. O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai diminuindo.
c. Quanto mais se tem (tanto) mais se quer.
64

Azeredo (2008: 134) aponta que as orações proporcionais têm também valor
temporal, já que expressam concomitância. Segundo ele, talvez fosse mais
econômico se a NGB as agrupasse genericamente com as temporais.
Nessas orações, também é muito frequente aparecer a ideia de comparação
subentendida.

3.4.9 Orações subordinadas adverbiais temporais


Indicam o tempo em que se realiza o fato expresso na oração principal:
(12) a. Sempre que viajo, compro lembrancinhas para quem fica.
b. Mal chegamos, vimos toda aquela bagunça.
c. Ela me reconheceu logo que lhe dirigi a palavra.

3.5 ORAÇÕES SUBORDINADAS NÃO ELENCADAS PELA NGB


Segundo Cegalla (2005: 402) e Saconni (2010: 260), existem, na língua
portuguesa, algumas orações adverbiais que ainda não são reconhecidas pela NGB.
São elas:

3.5.1 Oração subordinada adverbial locativa


(1) a. Não pode haver reflexão onde tudo é distração.
b. Quero ir onde estás.

3.5.2 Oração subordinada adverbial de companhia


(2) a. Irei com quem quiser me acompanhar.
b. Vou à praia com quem me dê carona.

3.5.3 Oração subordinada adverbial modal


(3) a. Eles caminhavam sem que fizessem nenhum barulho.
b. As crianças não conseguiam tomar sopa sem que fizessem o ruidinho.
65

c. Ela ri sem que mostre os dentes.

Exercícios
1 Analisando o relacionamento que a oração subordinada mantém com a principal,
identifique o tipo de adverbial:
a) O time não perderia o jogo se o técnico fosse competente.
b) Essa torcida é mais exigente do que a torcida do Brasil.
c) A torcida se animou quando entrou o centroavante.
d) Eu ainda estava muito fraca, por isso não fui à aula.
e) Embora ainda estivesse muito fraca, fui à aula.
f) Preciso ficar bem logo para ir à festa.
g) Quando ficar melhor, retorno às aulas.

2 No par abaixo, distinga a oração coordenada explicativa da subordinada adverbial


causal:
a) A Maria chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
b) A Maria chorou porque não passou na prova da autoescola.

3 Nos períodos a seguir, classifique as orações subordinadas adverbiais introduzidas


pela conjunção COMO:
a) Como não gosto desse tipo de filme, não vou ao cinema.
b) Como era de se esperar, ele não compareceu ao encontro.
c) Ele adula o prefeito como os outros do partido dele.
d) Como tomei uma medicação forte, não pude dirigir.
e) Como eu já disse antes, aquela criança está com sérios problemas.
f) Chovia como só chove em minha terra natal!
g) A história não aconteceu como te contaram.
h) Como estava muito cansado, foi dormir.
66

i) Como estivesse exausto, resolveu não participar da festa.

4 Assinale o período em que ocorre a mesma relação significativa indicada pela


oração sublinhada em A atividade científica é tão natural quanto qualquer outra
atividade econômica.
a) ( ) Ele era tão aplicado, que em pouco tempo foi promovido.
b) ( ) Quanto mais estuda, mais aprende.
c) ( ) Tenho tudo quanto quero.
d) ( ) Sabia a lição tão bem como eu.
e) ( ) Todos estavam tão exaustos, que se recolheram logo.

5 Substitua as conjunções sublinhadas nas frases abaixo, mantendo o mesmo sentido


da conjunção original. Depois identifique o tipo de oração subordinada que você criou.
a) Mariana está à espera de notícias desde que amanheceu.
b) Mariana se mudaria para São Paulo desde que conseguisse um bom emprego.

6 Dentre as orações adverbiais, assinale a que indica circunstância de tempo:


a) Mesmo estando gripadíssima, mergulhei na piscina.
b) As fofocas correm mais rápido que os fatos.
c) À medida que o tempo passava, a Maria ficava mais tensa.
d) Terminada a prova, os alunos saíram imediatamente da sala.

7 Indique o valor expresso pela conjunção, conforme as opções sugeridas na coluna


da direita:
a) Caso não os encontre, eu te telefono. causa
b) Como estivesse ventando, fechei a janela. comparação
c) Segure-o com força, para que não fuja. concessão
d) Tamanho foi o impacto que o carro incendiou. condição
67

e) A volta não demorou tanto como a ida. conformidade


f) Não falaria, nem que o matassem. consequência
g) Mal me viu, veio abraçar-me. finalidade
h) Ele não é, como dizem, um criminoso. proporção
i) Aproximei-me sem que ele percebesse. tempo
j) Quanto mais cresce, mais linda fica. modo

8 Quais são as orações adverbiais que aparecem abaixo e que ideia elas indicam?
a) Desde que o vi, soube que era má pessoa.
b) Desde que tenho muito trabalho hoje, não vou poder sair à noite.
c) Permanecerei aqui, desde que você permaneça.
d) Trabalho melhor onde tem paz.
e) Trabalho melhor com quem se empenha.
f) Falou sem que nos convencesse.

9 Indique a alternativa que apresenta a classificação das orações subordinadas


adverbiais sublinhadas:
Tanta foi a minha surpresa, que perdi a fala.
Quanto mais ele fala, menos eu escuto.
Se dirigir, não beba.
Fez tudo para conseguir o emprego.
a) ( ) Consecutiva, proporcional, condicional, final.
b) ( ) Proporcional, proporcional, condicional, final.
c) ( ) Concessiva, consecutiva, causal, causal.
d) ( ) Consecutiva, consecutiva, condicional, concessiva.

10 O período abaixo é misto e contém três orações. Segmente-o em orações e


identifique-as.
68

a) Quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, muitos de nós


esperávamos que a onda de paralisações generalizadas fosse algo de curta duração,
pouco mais do que um pontinho em nosso radar coletivo.

11 Indique se a oração sublinhada é uma substantiva, adjetiva ou adverbial:


a) Reconheço que agi mal.
b) Quando saí, já era noite fechada.
c) Há muitos animas que são venenosos.
d) Homem que é honesto sempre tem crédito.
e) O ministro jurou que a inflação baixou.
f) Os homens juraram que viram uma mula roxa.
g) Enquanto o ministro falava, o povo torcia o nariz.
h) Só te peço isto: tenhas muito cuidado!

12 Reescreva as frases substituindo a conjunção coordenativa mas por uma


concessiva. Faça as alterações necessárias.
a) Você é muito inteligente, mas precisa estudar mais.
b) Trabalhamos muito, mas não ficamos cansados.
c) Querem ter sucesso, mas não se esforçam.

13 Use conjunções adequadas:


a) _______ João chegou, já era noite fechada.
b) Iria contigo ao cinema _______ não tivesse que estudar.
c) Fiz todas as tarefas _______ tu recomendaste.
d) As lágrimas eram tantas _______ ele não viu quem estava ao seu redor.
e) _______ fosse culpado, foi inocentado.
f) As letras estavam _______ desbotadas _______ o texto era quase ilegível.
69

14 No texto abaixo (retirado do jornal Diário de Santa Maria), reconheça as orações


subordinadas e coordenadas:
Santa Maria: coração do Rio Grande
Os primeiros moradores que povoaram a região de Santa Maria foram índios
minuanos e tapes. Apesar de a história oficial dizer que a origem da cidade foi um
acampamento militar, a influência indígena é muito forte, assim como era o amor entre
a índia Imembuí e o português Rodrigues, cujo nome indígena é Morotin. A lenda foi
incorporada à história oficial, e empreendimentos e lugares levam o nome de seus
personagens: TV Imembuí, hotéis Morotin e Itaimbé e Parque Itaimbé são alguns
exemplos.
A história oficial conta que, em 1797, chegou aqui uma comissão portuguesa
que demarcava terras de Portugal e Espanha. Nessa época, estabeleceram-se aqui
os primeiros assentamentos na Praça Saldanha Marinho e na Rua do Acampamento.
Em 1819, Santa Maria é elevada a 4º Distrito da Vila Nova de São João da
Cachoeira (atual Cachoeira do Sul). Em 17 de maio de 1858, emancipou-se de
Cachoeira do Sul e, em 1876, foi elevada a cidade.
Em meados de 1885, os trilhos férreos chegam “com força” a Santa Maria e
desencadeiam um desenvolvimento socioeconômico inigualável. Em cinco anos,
quando o eixo ferroviário Santa Maria-Cacequi-Porto Alegre-Uruguaiana foi
inaugurado, a cidade virou referência comercial e industrial por meio século.
A cidade passou a ostentar o título nacional de Cidade Ferroviária. Segundo
afirma a professora de história da UFSM, Maria Medianeira Padoin, o período que vai
da fundação da Viação Férrea até meados dos anos 1950 é marcado por um surto de
desenvolvimento social, econômico, cultural e populacional.
De 1898 a 1920, a Rede Ferroviária Rio-Grandense foi arrendada pela
Compagnie Auxiliare dos Chemis de Fêr du Brèsil, que fica na Bélgica. Foi neste
período, (em 1903), que surgiu a Vila Belga, (conjunto habitacional que reunia famílias
francesas e belgas da Compagnie).
70

Em 1913, criou-se a Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação


Férrea. A fim de oferecer oficinas de manutenção da malha ferroviária, em 1922, a
cooperativa investiu no ensino profissionalizante e criou a Escola de Artes e Ofícios,
que foi chamada de Ginásio Industrial Hugo Taylor.

Principais referências bibliográficas


Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Bechara, E. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
Bezerra, R. Nova gramática da língua portuguesa para concursos. 7 ed. SP: Método,
2015.
Carone, F.B. Subordinação e Coordenação. Confrontos e contrastes. 6a ed. SP: Ática,
2008.
Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
Henriques, C.C. Sintaxe. RJ: Elsevier, 2008.
Kury, A.G. Novas Lições de Análise Sintática. 6a ed. SP: Ática, 1993.
Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
_____. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

UNIDADE 4: ORAÇÕES REDUZIDAS


Conforme Azeredo (2008: 140), o estudo das orações reduzidas depende da
combinação de conhecimentos morfológicos, sintáticos e semânticos, que se
concretizam nas seguintes capacidades:
a) reconhecer que o verbo de uma oração está em uma forma nominal (nas locuções
verbais, esse reconhecimento se faz pelo verbo auxiliar);
71

b) estabelecer, quando possível, uma equivalência entre a oração reduzida (sem


conetivo) e sua forma desenvolvida (com conetivo).

Exemplos:
(1) Seria interessante avisarmos os responsáveis.
a) é oração reduzida porque: tem verbo no infinitivo e não tem conetivo;
b) desdobramento: ... que avisássemos os responsáveis;
c) classificação: subordinada substantiva subjetiva, reduzida de infinitivo.

(2) Compramos um manual explicando o funcionamento do DVD.


a) é oração reduzida porque: tem verbo no gerúndio e não tem conetivo;
b) desdobramento: ... que explica o funcionamento do DVD;
c) classificação: subordinada adjetiva restritiva, reduzida de gerúndio.

(3) Descontada a fria recepção, a festa estava ótima.


a) é oração reduzida porque: tem verbo no particípio e não tem conetivo;
b) desdobramento: Se descontarmos a fria recepção...;
c) classificação: subordinada adverbial condicional, reduzida de particípio.

(4) Voltando para casa, parei numa confeitaria para comprar uma torta.
a) são orações reduzidas porque: têm verbo no gerúndio ou no infinitivo e não têm
conetivo;
b) desdobramentos: Quando voltava para casa, ... para que eu comprasse uma torta
c) classificações: subordinada adverbial temporal, reduzida de gerúndio e subordinada
adverbial final, reduzida de infinitivo.

Há três tipos de orações reduzidas:


4.1 REDUZIDAS DE INFINITIVO
72

4.1.1 SUBSTANTIVAS
(5) a. É bom estar aqui com vocês.
b. A ideia era prender todos os vândalos.
c. Esperamos conseguir a aprovação.
d. A família me incumbiu de levar a boa nova.
e. Alguns têm medo de dizer a verdade.
f. Em ti só uma coisa me assusta: chorares à toa.

4.1.2 ADJETIVAS
(6) a. Fomos os únicos a conseguir a aprovação.
b. Ela é uma pessoa de estremecer qualquer um.
c. Ele não era pessoa de se entregar facilmente.

4.1.3 ADVERBIAIS
(7) a. Ficávamos nos vangloriando de termos vencido o favorito.
b. De tanto ficar sozinho em casa, acabou nessa situação.
c. Aquele menino, talvez por estar necessitado, aceitou o emprego.
d. Apesar de ser feriado, iremos trabalhar.
e. Fazia um frio de congelar até as palavras.
f. A fim de resolver o problema, ele procurou ajuda.
g. Paro agora de falar por/para não cansar mais os leitores.
h. Sou colorado até morrer.
i. Ele não pode ir sem eu lhe devolver o dinheiro.
j. Você não sairá sem antes me avisar.
k. Retirei-me discretamente, sem ser percebido.
l. Ela saiu, sem despedir-se do pai.

4.2 REDUZIDAS DE GERÚNDIO


73

4.2.1 COORDENADAS
(8) a. Levei a bola, ficando sozinho diante do goleiro.
b. Ele namorava uma, pensando na outra.
c. O balão subiu rapidamente, desaparecendo no céu.
d. Pagou o dentista, ficando quite com ele.
e. Marta começa a rir; sua gargalhada aumenta, ecoando em toda a igreja.

4.2.2 ADJETIVAS
(9) a. Havia ali alguém caindo de sono.
b. Encontrei um homem cavando a terra.
c. Passaram guardas conduzindo presos.
d. Vi muitas crianças pedindo esmola.
e. Iam cinco soldados portando fuzis.

4.2.3 ADVERBIAIS
(10) a. Chegando lá, avise-me.
b. Mesmo correndo, não o alcançou.
c. Ficando aí, não vai conseguir ver nada.
d. Em se plantando, tudo dá.
e. Prevendo uma resposta indelicada, não perguntei nada.
f. O homem entrou na sala dando empurrões.
g. Ele aprendeu um ofício praticando-o.
h. Seguindo velho hábito, iam juntos à missa.
i. Procurando as palavras, encontram-se os pensamentos.

4.3 REDUZIDAS DE PARTICÍPIO


4.3.1 ADVERBIAIS
(11) a. Preocupado com a chuva, o homem se esqueceu do pacote.
74

b. A obra mostrou solidez, mesmo construída na praia.


c. Confirmada a sua teoria, você poderá agir à vontade.
d. Decorrido o prazo, sua irmã perderá o prêmio.
e. Chegados que fomos àquela cidade, procuramos um hotel.
f. Ninguém concorda com as opiniões do próximo; concordamos apenas com
nossas próprias opiniões expressas por outra pessoa.

4.3.2 ADJETIVAS
(12) a. Chipre, tornada independente em 1960, pertencia à Inglaterra.
b. A primeira impressão que se tem de uma pessoa é, sem dúvida nenhuma, a
causada pelo impacto visual.
c. Essa é a notícia divulgada pela imprensa.
d. O menino trouxe a gaiola feita pelo pai.
e. As histórias contadas por ele têm muita graça.

Exercícios
1 Transforme os termos destacados em orações reduzidas:
a) Maria não suportava o trato com pessoas mal-educadas.
b) Economizei dinheiro para a aquisição de um celular.
c) A vantagem deles é o conhecimento de todos os segredos do mar.

2 Reconheça as orações reduzidas e identifique-as conforme a legenda: (1) subjetiva;


(2) objetiva direta; (3) objetiva indireta; (4) completiva nominal; (5) predicativa; (6)
apositiva.
a) ( )Aconselharam-me a desfazer o noivado.
b) ( ) Todos conheciam a mania de Laura: roer unhas.
c) ( ) Não depende de mim libertar esses presos.
d) ( ) Seu passatempo é colecionar selos.
75

e) ( ) Parti com a doce esperança de encontrar minha carteira perdida.


f) ( ) Lamento ter perdido essa oportunidade.

3 Reconheça as orações adverbiais reduzidas de infinitivo:


a) Retirei-me discretamente, sem ser percebido.
b) Ao clarear o dia, começaremos o trabalho.
c) Não pude viajar por ter perdido o dinheiro.

4 Agora reconheça as adverbiais reduzidas de gerúndio e de particípio:


a) Aumentando-se a produção, a exportação crescerá.
b) Vendo-se perdido, o menino gritou por socorro.
c) Chegando ao alto da árvore, colheu o fruto.
d) Matou as formigas esmagando-as com o calcanhar.
e) Terminado o almoço, comentamos as notícias do dia.
f) Ofendido pelo empregado, o patrão se descontrolou.
g) Instituída a pena de morte, o crime diminuiria?

5 Desenvolva as orações reduzidas:


a) O menino trouxe a gaiola feita pelo pai.
b) Ernesto não era homem de levar desaforo para casa.
c) Hoje cedo, indo ao colégio, perdi meu celular.
d) À beira da estrada, vimos crianças empinando pipas.
e) Os moradores, ao conversarem com o síndico, reivindicaram mais segurança.
f) Dizem os retirantes ter passado muitas privações na cidade grande.

6 Converta as orações subordinadas em orações reduzidas:


a) Assim que nos viu, correu a nosso encontro.
b) Porque a rua era estreita, os namorados falavam-se das janelas.
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c) Acreditamos que há outras soluções para o problema.


d) Descobri que estava contribuindo para a minha própria ruína.
e) Sugeri que comêssemos o peixe no almoço.
f) Pelo caminho ouvi que repetiam a música do filme.
g) O rádio espalhou a notícia, que foi confirmada depois pelos jornais.
h) Informaram que não há mais ingressos.
i) O rádio informa que não há previsão de chuva.

7 Os períodos seguintes estão mal redigidos (repetição da palavra que). Reescreva-os


introduzido orações reduzidas:
a) Li no jornal umas notícias que depois averiguei que não tinham fundamento.
b) Marquei consulta com o Dr. Clemente, um médico que diziam que era muito bom.
c) Todos esses edifícios, enormes e assustadores, que parece que querem
esmagar-nos, são a prova concreta de uma falsa civilização.
d) Dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam que tinham visto cascavéis
dançando no peito do vereador.
e) O chefe do grupo considerou que era demasiado perigoso que alguns dos homens
se arriscassem a entrar naquela mata.

8 Desenvolva a oração reduzida abaixo de duas maneiras diferentes. Depois


classifique cada uma delas:
Consertando o carro, ele rodará muitos quilômetros

Principais referências bibliográficas


Azeredo, J.C. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. SP: Publifolha, 2008.
Bechara, E. Lições de Português pela Análise Sintática. RJ: Lucerna, 2001.
Cegalla, D.P. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 46a ed. SP: Companhia
Editora Nacional, 2005.
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Sacconi, L.A. Nossa Gramática: teoria e prática. 26a ed. SP: Saraiva, 2001.
_____. Gramática para Todos. 2a ed. SP: Nova Geração, 2010.
_____. Nossa gramática completa. Teoria e prática. 31ª ed. São Paulo: Nova Geração,
2011.

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