https://novaescola.org.br/conteudo/21743/atividades-fluencia- leitora-alfabetizacao Publicado em NOVA ESCOLA 05 de Setembro | 2023
Alfabetização
Fluência leitora: como
planejar boas atividades para todos Confira nove sugestões para incluir na rotina e permitir que os alunos do ciclo de alfabetização avancem nas habilidades de leitura Selene Coletti
Organizar cantinhos de leitura, leitura compartilhada, varal literário são
algumas das sugestõesdadas pela professora Selene Coletti. Conheça mais ideias e dicas para planejar boas propostas que permitam desenvolver habilidades de leitura. Foto: Getty Images Todos sabemos da importância da leitura em nossas vidas. É com ela que descobrimos o mundo, conhecemos diferentes culturas, nos informamos e nos formamos. Saber ler e compreender o que está escrito é fundamental também para que cada estudante possa aprender. Por isso, atividades de leitura precisam fazer parte da rotina de todo professor, desde a Educação Infantil. E a fluência leitora, o que é mesmo? Há um tempo fluência leitora era sinônimo de ler com rapidez. Atualmente, os estudos mostram (embora também não haja unanimidade) que um leitor fluente é aquele que não só decifra o texto, “deslizando” por ele – lendo com rapidez e entonação – mas também que lhe atribui sentido, ou seja, compreende o que está escrito e faz as conexões. O uso das estratégias de leitura, de acordo com Ângela Kleiman (pesquisadora da área), permite também que o leitor se torne fluente. Ou seja, conhecer o contexto de produção do texto (quem escreve, para quê, quando), selecionar pistas interpretativas, levantar e checar hipóteses sobre o que vai acontecer, ajudam a desenvolver a compreensão do texto. Isto tudo precisa ser ensinado para nossos alunos. Mas como fazer? Um bom começo é analisar, com a equipe escolar, os resultados de fluência leitora da sua escola em avaliações externas. Isso permitirá um maior entendimento do que cada um já sabe da relação grafema/fonema e a compreensão dos textos lidos, contribuindo para se pensar em estratégias visando o avanço de toda a turma na proficiência da leitura. Também é possível refletir como está o processo da leitura, fluência e compreensão dos alunos mesmo em escolas que não tenham participado de avaliações externas. Trata-se de uma iniciativa que requer uma ação conjunta de toda a equipe para mapear e analisar o que está sendo realizado nas diferentes turmas. É este movimento que estamos fazendo em nossa escola, lançando um olhar mais pontual para o trabalho com leitura, envolvendo todas as turmas desde o 1º ano. Os resultados das avaliações de fluência apontam para três perfis de leitores: o pré-leitor (aquele que está em processo inicial de alfabetização), o leitor iniciante (aquele que precisa de maior fluência no que se refere à rapidez da leitura) e o leitor fluente (o que lê com desenvoltura). Provavelmente, em sua turma, você irá encontrar os três perfis de leitores, por isso é necessário planejar boas propostas promovendo o avanço de todos. Um grande desafio! Como planejar boas atividades para todos Selecionei algumas sugestões de atividades que sempre estiveram presentes em minhas turmas de alfabetização e que deram bons resultados: 1. Leitura oral feita pelo professor: destacar na rotina um momento no qual você se coloca como modelo de leitor proficiente ao ler textos de qualidade para a sua turma. Para isso, planeje o uso de estratégias de leitura, como, por exemplo, a exploração da capa e contracapa do livro, do autor, do título e do gênero, informações que permitem ao estudante formular hipóteses sobre o que irá acontecer no desenrolar do enredo e produzir sentido. 2. Cantinho de leitura: disponibilizar, na sala, um espaço contendo livros de literatura de diferentes gêneros, gibis, revistas com curiosidades científicas, dentre outros; eles poderão ser acessados quando o estudante finalizar uma atividade ou também escolhidos como empréstimo para casa. 3. Roda de leitura: ocorre durante o processo de empréstimo e devolução do livro. No momento de emprestar, alguns alunos explicam o porquê da escolha e, na devolução, contam o que acharam do livro lido. Esses dias, observando o momento da roda de leitura da professora do terceiro ano daqui da escola, vi que ela propôs o pequeno roteiro abaixo para ajudar os alunos na apreciação.
Passo a passo para conversa sobre os livros
Veja o roteiro criado por Rosemeire Pancotto, professora do 3º ano do Fundamental da EMEB Philomena Salvia Zupardo. 1. Mostrar e falar o nome do livro escolhido, o nome do autor, ilustrador e editora. 2. Contar por que escolheu tal livro. 3. Dizer se gostou ou não e o porquê. 4. Contar um pouco da história: quem são os personagens, onde estão e o que fazem. 5. Contar qual parte mais gostou (ou que não gostou). Pode-se ler um diálogo dos personagens, ou se for de quadrinhas ou poemas, pode-se ler um deles. 6. Encerrar a apreciação deixando a plateia com vontade de ler o livro.
4. Varal literário: montar um varal na sala e pendurar textos variados de um
único gênero (aquele que a turma está estudando, por exemplo) ou mesmo diversificados (receitas, poemas, informativos, notícias, quadrinhos etc.) para que os alunos possam, em determinados momentos – como quando terminam uma lição –, lê-los pelo prazer de ler. 5. Leitura significativa: aproveitar todos os momentos nos quais a leitura esteja envolvida para que a turma possa ler por si mesma. Exemplos: a leitura do planejamento do dia (alguns chamam de rotina), de regras de jogos e brincadeiras, de comentários que você coloca nos cadernos, de bilhetes ou de produção de pequenos textos, como os enunciados de atividades. Muitas vezes, pensando em facilitar, nós mesmos fazemos a leitura nesses momentos. O ideal, porém, é deixar a turma ler. 6. Leitura feita pelo aluno: é importante ensinar ao estudante como ler com prosódia. Nesse vídeo do Tempo de Aprender, você irá encontrar uma boa estratégia para se inspirar e levar para a sua turma. É importante ressaltar que a leitura feita pelo aluno precisa estar sempre presente na rotina. 7. A hora da leitura em voz alta feita pelo aluno: trazer textos conforme os diferentes perfis de leitores para serem escolhidos pelos estudantes. Cada um, após a escolha, levará um texto para casa para estudar, ou seja, treinar a leitura, lendo-o muitas vezes em voz alta para, depois, ler para a turma toda. Uma amiga usa um microfone e uma caixa de som para esse momento. As crianças adoram fazer a leitura. Vale ressaltar que, para os pré-leitores e leitores iniciantes, é possível trazer quadrinhas, poemas, parlendas, trava línguas e adivinhas; enquanto que, para o fluente, textos mais elaborados como os de curiosidade científica. 8. Gravação da leitura em voz alta feita pelo aluno: montar um padlet com as gravações dos estudantes para compartilhar com as outras turmas e com as famílias. Escolha, por exemplo, um gênero que está trabalhando (o poema) e traga diferentes opções para serem escolhidas pela turma. Cada um irá levar o seu para casa, para ler várias vezes e, depois, gravar a leitura do texto. Isto pode acontecer na sala ou pode ser gravado e enviado por WhatsApp. Ao gravar e ouvir a própria leitura, o aluno vai poder avaliar como ela está e o que pode ser melhorado. É uma maneira de dar ainda mais significado ao momento da leitura. 9. Projetos envolvendo a leitura: pensar em projetos nos quais a leitura em voz alta feita pelos alunos esteja envolvida e seja o próprio produto final. A proposta da professora Karin Groner é uma boa fonte de inspiração. Ela utiliza a gravação da leitura de textos dramáticos pela turma a fim de promover a fluência e a compreensão leitora. Essas são algumas sugestões para você refletir como tem colocado em prática em sua rotina e como vem acompanhando o desenvolvimento da habilidade de leitura de seus alunos, algo tão fundamental quanto o saber escrever. Fica o convite! Até a próxima! Selene Selene Coletti é professora há 41 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.