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leitora-alfabetizacao
Publicado em NOVA ESCOLA 05 de Setembro | 2023

Alfabetização

Fluência leitora: como


planejar boas atividades
para todos
Confira nove sugestões para incluir na rotina e permitir que
os alunos do ciclo de alfabetização avancem nas
habilidades de leitura
Selene Coletti

Organizar cantinhos de leitura, leitura compartilhada, varal literário são


algumas das sugestõesdadas pela professora Selene Coletti. Conheça mais
ideias e dicas para planejar boas propostas que permitam desenvolver
habilidades de leitura. Foto: Getty Images
Todos sabemos da importância da leitura em nossas vidas. É com ela que
descobrimos o mundo, conhecemos diferentes culturas, nos informamos e nos
formamos. Saber ler e compreender o que está escrito é fundamental também
para que cada estudante possa aprender. Por isso, atividades de leitura
precisam fazer parte da rotina de todo professor, desde a Educação Infantil.
E a fluência leitora, o que é mesmo?
Há um tempo fluência leitora era sinônimo de ler com rapidez. Atualmente, os
estudos mostram (embora também não haja unanimidade) que um leitor
fluente é aquele que não só decifra o texto, “deslizando” por ele – lendo com
rapidez e entonação – mas também que lhe atribui sentido, ou seja,
compreende o que está escrito e faz as conexões.
O uso das estratégias de leitura, de acordo com Ângela Kleiman (pesquisadora
da área), permite também que o leitor se torne fluente. Ou seja, conhecer o
contexto de produção do texto (quem escreve, para quê, quando), selecionar
pistas interpretativas, levantar e checar hipóteses sobre o que vai acontecer,
ajudam a desenvolver a compreensão do texto. Isto tudo precisa ser ensinado
para nossos alunos.
Mas como fazer?
Um bom começo é analisar, com a equipe escolar, os resultados de fluência
leitora da sua escola em avaliações externas. Isso permitirá um maior
entendimento do que cada um já sabe da relação grafema/fonema e a
compreensão dos textos lidos, contribuindo para se pensar em estratégias
visando o avanço de toda a turma na proficiência da leitura.
Também é possível refletir como está o processo da leitura, fluência e
compreensão dos alunos mesmo em escolas que não tenham participado de
avaliações externas.
Trata-se de uma iniciativa que requer uma ação conjunta de toda a equipe para
mapear e analisar o que está sendo realizado nas diferentes turmas. É este
movimento que estamos fazendo em nossa escola, lançando um olhar mais
pontual para o trabalho com leitura, envolvendo todas as turmas desde o 1º
ano.
Os resultados das avaliações de fluência apontam para três perfis de leitores: o
pré-leitor (aquele que está em processo inicial de alfabetização), o leitor
iniciante (aquele que precisa de maior fluência no que se refere à rapidez da
leitura) e o leitor fluente (o que lê com desenvoltura). Provavelmente, em sua
turma, você irá encontrar os três perfis de leitores, por isso é necessário
planejar boas propostas promovendo o avanço de todos. Um grande desafio!
Como planejar boas atividades para todos
Selecionei algumas sugestões de atividades que sempre estiveram presentes
em minhas turmas de alfabetização e que deram bons resultados:
1. Leitura oral feita pelo professor: destacar na rotina um momento no qual
você se coloca como modelo de leitor proficiente ao ler textos de qualidade
para a sua turma. Para isso, planeje o uso de estratégias de leitura, como, por
exemplo, a exploração da capa e contracapa do livro, do autor, do título e do
gênero, informações que permitem ao estudante formular hipóteses sobre o
que irá acontecer no desenrolar do enredo e produzir sentido.
2. Cantinho de leitura: disponibilizar, na sala, um espaço contendo livros de
literatura de diferentes gêneros, gibis, revistas com curiosidades científicas,
dentre outros; eles poderão ser acessados quando o estudante finalizar uma
atividade ou também escolhidos como empréstimo para casa.
3. Roda de leitura: ocorre durante o processo de empréstimo e devolução do
livro. No momento de emprestar, alguns alunos explicam o porquê da escolha
e, na devolução, contam o que acharam do livro lido. Esses dias, observando o
momento da roda de leitura da professora do terceiro ano daqui da escola, vi
que ela propôs o pequeno roteiro abaixo para ajudar os alunos na apreciação.

Passo a passo para conversa sobre os livros


Veja o roteiro criado por Rosemeire Pancotto, professora do 3º ano do
Fundamental da EMEB Philomena Salvia Zupardo.
1. Mostrar e falar o nome do livro escolhido, o nome do autor,
ilustrador e editora.
2. Contar por que escolheu tal livro.
3. Dizer se gostou ou não e o porquê.
4. Contar um pouco da história: quem são os personagens, onde estão
e o que fazem.
5. Contar qual parte mais gostou (ou que não gostou). Pode-se ler um
diálogo dos personagens, ou se for de quadrinhas ou poemas, pode-se
ler um deles.
6. Encerrar a apreciação deixando a plateia com vontade de ler o livro.

4. Varal literário: montar um varal na sala e pendurar textos variados de um


único gênero (aquele que a turma está estudando, por exemplo) ou mesmo
diversificados (receitas, poemas, informativos, notícias, quadrinhos etc.) para
que os alunos possam, em determinados momentos – como quando terminam
uma lição –, lê-los pelo prazer de ler.
5. Leitura significativa: aproveitar todos os momentos nos quais a leitura
esteja envolvida para que a turma possa ler por si mesma. Exemplos: a leitura
do planejamento do dia (alguns chamam de rotina), de regras de jogos e
brincadeiras, de comentários que você coloca nos cadernos, de bilhetes ou de
produção de pequenos textos, como os enunciados de atividades. Muitas vezes,
pensando em facilitar, nós mesmos fazemos a leitura nesses momentos. O
ideal, porém, é deixar a turma ler.
6. Leitura feita pelo aluno: é importante ensinar ao estudante como ler com
prosódia. Nesse vídeo do Tempo de Aprender, você irá encontrar uma boa
estratégia para se inspirar e levar para a sua turma. É importante ressaltar que
a leitura feita pelo aluno precisa estar sempre presente na rotina.
7. A hora da leitura em voz alta feita pelo aluno: trazer textos conforme os
diferentes perfis de leitores para serem escolhidos pelos estudantes. Cada um,
após a escolha, levará um texto para casa para estudar, ou seja, treinar a
leitura, lendo-o muitas vezes em voz alta para, depois, ler para a turma toda.
Uma amiga usa um microfone e uma caixa de som para esse momento. As
crianças adoram fazer a leitura. Vale ressaltar que, para os pré-leitores e
leitores iniciantes, é possível trazer quadrinhas, poemas, parlendas, trava
línguas e adivinhas; enquanto que, para o fluente, textos mais elaborados como
os de curiosidade científica.
8. Gravação da leitura em voz alta feita pelo aluno: montar um padlet com
as gravações dos estudantes para compartilhar com as outras turmas e com as
famílias. Escolha, por exemplo, um gênero que está trabalhando (o poema) e
traga diferentes opções para serem escolhidas pela turma. Cada um irá levar o
seu para casa, para ler várias vezes e, depois, gravar a leitura do texto. Isto pode
acontecer na sala ou pode ser gravado e enviado por WhatsApp. Ao gravar e
ouvir a própria leitura, o aluno vai poder avaliar como ela está e o que pode ser
melhorado. É uma maneira de dar ainda mais significado ao momento da
leitura.
9. Projetos envolvendo a leitura: pensar em projetos nos quais a leitura em
voz alta feita pelos alunos esteja envolvida e seja o próprio produto final. A
proposta da professora Karin Groner é uma boa fonte de inspiração. Ela utiliza
a gravação da leitura de textos dramáticos pela turma a fim de promover a
fluência e a compreensão leitora.
Essas são algumas sugestões para você refletir como tem colocado em prática
em sua rotina e como vem acompanhando o desenvolvimento da habilidade de
leitura de seus alunos, algo tão fundamental quanto o saber escrever. Fica o
convite!
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora há 41 anos na rede pública. Atuou na Educação
Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016,
foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor
Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de
Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o
Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como
coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora
da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da
EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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