Disciplina: Ortografia, leitura e produção de texto
Professor: Ednaldo Gomes.
Leitura: eixo norteador da nova perspectiva de ensino de língua materna As práticas de leitura em sala de aula Historicamente, a leitura vem ocupando um lugar de destaque no cenário pedagógico, não só na prática de ensino de português, mas em todos os componentes curriculares. Mas como o espaço da leitura está sendo preenchidos nas nossas escolas ? Que procedimentos didáticos orientam a prática de leitura ? Nesse contexto, as práticas de leitura se configurarão como um importante instrumento de transformação do sujeito, que entenderá sua importância como agente social, como falante competente de sua língua materna. A prática tradicional de ensino de leitura foi marcada pela produção de cópias, paráfrase, memorização – este é o tipo de atividades de leitura mais conhecido e utilizado nas escolas brasileiras, que tem suas origens no ensino catequético do período colonial. Nessas atividades, a chave da interpretação já vem pronta e acabada e cabe ao leitor apenas imitá-la para efeito de avaliação e nota, ocorrendo, com isto, a homogeneização das consciências. A produção de textos (sejam eles orais ou escritos) requer repertório e armazenamento de ideias e de estruturas linguísticas, logo, a leitura reflexiva é a condição fundamental para o processo redacional. Tudo parte da leitura, mas não uma leitura que tem como objetivo a oralisação do escrito e sim como construção de sentidos. O eixo base para o desenvolvimento de todas outras habilidades linguísticas (oralidade, escrita, análise linguística) é prática da leitura em que o aprendiz se reconhece como produtor de conhecimento. Ainda sobre a prática descontextualizada de leitura, observa-se que na escola não se leem textos, fazem-se exercícios de interpretação e análise de textos. E isso nada mais é do que simular leituras Este artificialismo das atividades de leitura em sala de aula, faz com que o sujeito se anule em benefício da função que exerce. Em consequência disso, o aluno cria desinteresse pela leitura, surge a postura estática, monolítica, passiva, apática e envergonhada do aluno/leitor em relação a exposição social de suas impressões sobre as leituras, como também, uma predisposição a não externar suas ideias sobre os temas diversos, por sentir-se incapaz de formular opiniões, de expor pensamentos, essas práticas inadequadas de leitura em sala de aula, não só têm comprometido a produção oral do educando, como também sua compreensão ao ler enunciados de questões. Pesquisas recentes mostram que muitos alunos erram questões prova por não saberem interpretar, compreender a solicitação do enunciado. Isso é muito preocupante, pois mascara a nota da prova. De acordo com este estudo, alguns estudantes não respondiam a determinadas questões da avaliação não porque não tinham estudado para a prova, mas porque não entenderam determinados vocábulos dos enunciados. Uma prática de leitura bem direcionada pode potencializar os conhecimentos sobre a língua. Atividades sistemáticas de analisar o significado das palavras a partir do contexto ajudariam os discentes a descobrir o real sentido da palavra naquela situação, minimizando as dificuldades de compreensão dos enunciados de prova, por exemplo. Ler é muito mais que reconhecer mecanicamente as palavras, ler é atribuir sentidos ao texto, interagir com o texto, resgatando o nosso conhecimento de mundo, pois ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É a partir de um texto, ser capaz de atribuirlhe significações, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. E então, cursista, essa compreensão de leitura como construção de sentidos é resgatada em sala de aula? Infelizmente em muitas escolas ainda não, mas essa deve ser nossa meta no ensino de leitura. A Leitura dos gêneros do discurso: novos caminhos Para proporcionar aos nossos alunos domínio do uso da língua, faz-se necessário que o professor, em qualquer disciplina, apresente aos mesmos os mais variados gêneros textuais. É impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto, em outros termos, a comunicação verbal só se realiza através de algum gênero textual, o que muitas vezes acontece é que o currículo escolar não valoriza as leituras de mundo feitas pelo aluno. A carga de conhecimento que o aluno traz para a sala de aula é, muitas vezes, desvalorizada. A seleção textual do que vai ser lido é orientada unicamente pelo livro didático. Os textos que fazem parte da vida social do aluno (notícias, bulas de remédio, horóscopo, convites bilhetes, entre outros) muitas vezes, não são muito valorizados no cenário didático. Esse é o encaminhamento que rege o ritual da encomenda, leitura e trabalho com os livros na escola. Para o docente, há um tempo para a seleção e indicação das obras, um prazo para compra, um prazo para leitura e uma data para entrega da produção disso tudo – esta última, aliás, determina toda a cadeia anterior, ou seja, o aluno lê para ser avaliado, para receber uma nota. O autoritarismo que envolve esse processo de seleção vem denunciar a razão do grande desinteresse dos jovens com relação à leitura. Uma das causas dessa desmotivação deve-se ao fato de que o material selecionado para a leitura não faz conexão com a realidade do educando. Ler por ler não tem significado. A leitura é um meio, um instrumento e nenhum instrumento vale por si só, mas pelo bom emprego que dele cheguemos a fazer. Ao analisarmos as práticas de leituras em sala de aula inevitavelmente vem à tona a questão da formação do professor. Referências
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