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A MAQUIAGEM E O UNIVERSO MASCULINO

Aretha Farina De Paoli 1 - Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade


do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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Fernanda Blasius Monte Nevo - Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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Fabiana Thives – Orientadora, Professora do Curso de Cosmetologia e Estética da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina.

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Fátima Cecilia Poleto Piazza – Co-orientadora, Professora do Curso de Cosmetologia e
Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina.

Contatos
1
aretha_le@hotmail.com
2
fernanda_bmn@hotmail.com
3
fabianathives@univali.br
4
fapiazza@univali.br

Resumo

O trabalho seguinte caracteriza a utilização da maquiagem pelo segmento masculino desde o


período pré-histórico até a atualidade, buscando descrever o uso, as restrições, os preconceitos
e a evolução dessa tendência no mercado da estética. A importância destinada à beleza está
em constante crescimento devido ao fato de ser associada ao sucesso profissional e pessoal.
Pode-se analisar que o homem contemporâneo está cada vez mais crítico com sua auto-
imagem. Para isso utiliza cosméticos práticos e eficazes que além de embelezar auxiliam no
tratamento da pele, como a maquiagem. O mercado tem observado o crescimento continuo
deste público, investindo em produtos e tecnologia para conquistar e satisfazer este
consumidor que se mostra fiel quando confirmada a funcionalidade do produto cosmético.
Cabe ressaltar que para trabalhar com este público, o profissional deve oferecer um
atendimento diferenciado além de estar em constante atualização com as tendências deste
mercado. A maquiagem masculina sempre esteve presente na história da humanidade e apesar
de ficar esquecida por algumas décadas, na atualidade vem conquistando cada vez mais o seu
espaço. A metodologia utilizada consiste em uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória a
partir de uma análise teórica em referências bibliográficas de livros, artigos, revistas
especializadas e sites da área.
Palavras chaves: homem, maquiagem, história, vaidade, tendência.
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1 INTRODUÇÃO

O homem contemporâneo está cada vez mais vaidoso, gerando assim uma
preocupação maior com a estética, não segmentando apenas os metrossexuais1 nesse contexto.
De acordo com Pereira e Hoepers (2008) é notável nas últimas décadas o aumento da vaidade
masculina e a importância que os homens dão para uma boa aparência. A preocupação do
homem com o corpo e a beleza ainda não se iguala a da mulher, porém, hoje estão dedicando
mais tempo e dinheiro a tratamentos estéticos.
Quem freqüenta academias, salões de beleza e clínicas de estética sabem que eles
estão requisitando um espaço cada vez maior. Além de serem adeptos a esses lugares, também
utilizam produtos cosméticos no dia-a-dia para tratamento antienvelhecimento, reguladores de
oleosidade da pele, produtos clareadores, e inclusive, considerado o cosmético mais feminino,
o uso da maquiagem para correções de discromias, proteção e embelezamento da face.
A história revela que o uso de produtos cosméticos pelos homens remonta à Idade da
Pedra, a cerca de 100.000 a.C., quando o homem neandertalense começou a prender os
cabelos, pintar e tatuar o corpo. Na Mesopotâmia, época de +/- 4000 a.C. a 476, o uso da
maquiagem foi muito difundido pelos povos, onde, segundo França e Thives (2008), homens
e mulheres se maquiavam com muito exagero.
A princípio a beleza estava ligada as forças da natureza, onde o uso de cosméticos
coloridos pelos homens tinha por objetivo afugentar os inimigos, demonstrar o nível social,
realizações de cerimônias religiosas, ritos de puberdade, atos de magia, e porque não, até para
proteger pele e olhos do sol e doenças da época (VITA 2008).
Essas civilizações utilizavam pó de chumbo branco, resinas naturais, terracota, ocre,
antimônio, henna, Kohl, entre outros recursos. Já na Idade Média (de 476 a 1453), de acordo
com Thives e França (2008), a Igreja no poder combate o uso dos cosméticos e condena a
beleza, ou seja, o culto à vaidade caracterizava o pecado, e tido pela inquisição como prática
demoníaca. Porém, a partir de 1453 começa a Idade Moderna (de 1453 a 1789), e a Igreja
perde o poder para os reis. Com isso, os atos de embelezamento retornam, resgatando a
maquiagem entre homens e mulheres transmitindo palidez.
A partir de 1789 até os dias de hoje, pode-se observar varias mudanças na utilização
da maquiagem. O universo masculino está em profunda construção e transformação, fazendo
com que o homem esteja em constante mudança nas atitudes e hábitos inusitados de consumo

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Metrossexual: homem, em geral do meio urbano, que apresenta grandes cuidados estéticos e um elevado grau
de sofisticação na escolha de cosméticos, vestuário e acessórios
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de produtos de higiene pessoal e cosmética. Em 2007, esse nicho de mercado, movimentou


cerca de US$ 36 bilhões em todo o mundo (PHILOMENO, 2008).
Segundo Clark (2008) “lá fora, Jean Paul Gaultier lançou em 2008 uma linha de
maquiagem só para o público masculino, a Monsier. No site da grife, os produtos são
apresentados como ‘armas secretas’. Pelo visto, cada vez mais homens estão escolhendo as
suas”. Isso comprova que o uso da maquiagem por eles está vencendo o preconceito e
tornando-se um hábito diário. De acordo com Philomeno (2008) “celebridades e grandes
executivos, como o ator americano Brad Pitt, que tem o trabalho ligado à imagem pessoal, e
homens que vão comparecer a grandes eventos, como noivos e palestrantes, por exemplo, são
os que mais utilizam dos benefícios da maquiagem”.
Nos dias de hoje, essa busca da beleza pelos homens começa já na adolescência.
Marinho (2008) afirma que os jovens têm uma preocupação grande em se destacar e ser bem
visto pela sociedade. Muitos deles percebem a importância de ter alguns cuidados especiais
com a pele, procurando centros de estética e beleza para suprir as necessidades e tirar suas
dúvidas. Falar da beleza desperta sentimentos intensos para o público masculino que com o
passar dos anos foram banidos desse ritual que agora voltam a praticar.
Conforme Marinho (2008) uma pesquisa feita pela OTX e Intelligence Group com
adolescentes americanos, em março de 2008, comprovou que cerca de 60% dos entrevistados
se preocupam com a aparência e acreditam que beleza e boa forma são aspectos essenciais
para o sucesso pessoal e profissional.
Gardano (2006 apud SANTOS, 2006) destaca que “hoje os homens estão mais
preocupados com o cuidado de sua aparência, tanto para a melhor apresentação no trabalho,
como para prevenir envelhecimento, sem medo da exposição da sua masculinidade. Muitos
produtos, antes focados no segmento feminino, estão sendo lançados para atender a essas
expectativas do homem”.
Mesmo com essa grande tendência do homem vaidoso estar crescendo e tomando
lugar no mercado, muitas pessoas ainda impõem um grande preconceito. O universo
masculino está passando por uma grande transformação, gerando para o homem atitudes e
hábitos inusitados de consumo de produtos de higiene pessoal e cosmética. O fato de estar
utilizando o mais feminino dos cosméticos, a maquiagem é um desconforto para muitos
homens. Talvez não tanto a eles próprios quanto ao fato do julgamento das outras pessoas ao
saberem que eles a utilizam.
Para poder assumir sua vaidade, esta tem que ser uma reafirmação de sua
masculinidade, não o oposto, pois muitos ainda consideram o ato de se maquiar uma
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característica homossexual. O homem do século XXI tem consciência de que boa aparência é
essencial para valorização do seu marketing pessoal e não se importa em utilizar a maquiagem
para atingir tal objetivo. Py (2010) assegura que não existe problema algum em um homem
usar maquiagem e que a “maquiagem masculina é uma forma subliminar de denunciar o
tradicionalismo.”
Na área da estética eles utilizam de terapias de relaxamento, tratamentos faciais e
corporais de embelezamento e buscam produtos práticos, eficientes e seguros. Os homens
querem os seus próprios produtos porque almejam ter essa decisão de consumo, que ajuda a
assumir a vaidade, surgindo a necessidade de uma linha de maquiagem destinada
exclusivamente a esse público.
Este consumidor não pode, nem deve ser tratado como feminino por ter hábitos de
compra, posturas de consumo, necessidade e desejos diferentes. ‘’Ser belo ou bela não
significa mais se parecer com alguma coisa ou com alguém, mas se sentir bem em seu corpo,
encontrar produtos que convenham e correspondam à sua própria personalidade’’ (LES
NOUVELLES, 2000 apud VIGARELLO, 2006).
Os homens estão buscando mais suavidade e jovialidade ao seu visual. Já passou a
época onde a mulher era a única destinada ao embelezamento e o homem apenas ao trabalho.
A maquiagem masculina entra como uma opção para problemas estéticos como olheiras,
acnes, discromias, cicatrizes, rugas e controle da oleosidade. Toda mulher sabe do poder que a
maquiagem exerce sobre sua aparência, e que ela acentua os pontos positivos e minimiza os
negativos, disfarçando imperfeições. Agora os homens também estão aprendendo a utilizá-la,
porém de uma forma bem mais sutil. “Chegamos ao estágio terminal da beleza, não no sentido
de que sua história acabaria, mas no sentido de que todos os antigos limites à sua expansão
desmoronaram” (LIPOVETSKY 2007).
Assim, o artigo seguinte tem como objetivo descrever a utilização da maquiagem para
o segmento masculino nas diferentes épocas da história da humanidade, buscando caracterizar
o uso, as restrições, os preconceitos e a evolução dessa tendência no mercado da estética.

2 METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória a partir de uma
analise teórica, em referências bibliográficas de livros, artigos, revistas especializadas e sites,
visando caracterizar a maquiagem no universo masculino.
A pesquisa qualitativa segundo Denzin e Lincoln (2006) permite entender o universo
pesquisado e localiza o pesquisador a este universo, com práticas interpretativas, apoiadas a
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ferramentas comprobatórias, neste caso são os estudos já realizados, e os livros escritos por
estudiosos da área. Conforme Gil (1999) “As pesquisas exploratórias têm como principal
finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias tendo em vista, a formulação
de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.
E importante destacar que não há dados direcionados a maquiagem masculina, a que
pesquisas fontes paralelas que possibilitam a compreensão e desenvolvimento desta pesquisa.

3 DESENVOLVIMENTO

Para abordar a maquiagem masculina na contemporaneidade é necessário fazer uma


descrição da História da Humanidade, através de uma linha do tempo, focalizando os
principais momentos e acontecimentos que marcaram a evolução da arte da pintura corporal e
facial até a evolução da maquiagem atual.
Pré-história
Esse período se estendeu desde o aparecimento do homem até por volta de 4.000 a.C.,
quando ocorreu a invenção da escrita. França e Thives (2008) afirmam que no período
Neolítico, ou Pedra Polida, encontra-se a idéia da beleza ligada às forças da natureza,
possuindo, a princípio, um caráter hierárquico. Adornos e pinturas mágicas eram usados por
feiticeiros, curandeiros e sacerdotes, mostrando sua condição de ligação com o mundo
espiritual. Em seguida surgem as pinturas de guerra, acreditando que elas dão força ao
guerreiro e assustam o adversário. “A partir daí o ser humano passa a ter noção das mudanças
que a pintura e os adornos provocam em si, criando dessa forma uma identidade própria”
(VITA, 2008).
Mesopotâmia
Nessa época, os homens se maquiavam com muito exagero. A pele era coberta por um
pó de chumbo branco, resinas naturais e vermelhão. Usavam Kohl, a terracota, o antimônio, a
henna e o índigo, e suas sobrancelhas eram grossas e naturais. Vita (2008) afirma que
“Assírios, persas e babilônios deixaram provas do uso de maquiagem e dos cuidados com a
beleza do corpo, cabelo e rosto. A região da Mesopotâmia foi o lugar mais importante para o
progresso da vida humana e para a história. Foi, sem dúvida, o berço da civilização”.
Sumérios
Os homens desse povo eram muito vaidosos, utilizando e abusando de produtos de
beleza sem nenhum constrangimento. As sobrancelhas eram unidas ao centro da testa, onde
certamente utilizam de Kohl para um maior destaque. Conforme Vita (2008) “a vaidade não
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era prerrogativa apenas feminina. Ambos os sexos tinham acesso aos produtos e os usavam
sem nenhum problema. Os homens enfeitavam-se tanto quanto as mulheres.”
Babilônios
O uso da maquiagem pesada associada a penteados diferentes caracterizou esse povo
encantado pela beleza, que investia muito quando se tratava de vaidade. Os homens
impressionavam os povos de outros países, pois priorizavam a beleza maquiando-se tanto
quanto as mulheres, sempre com os olhos e sobrancelhas destacados e delineados com Kohl.
Os Babilônios utilizavam uma base feita de cera de abelha e carbonato básico de
chumbo para embranquecer o rosto e tintas vegetais, a base de frutos silvestres amassados,
nas maçãs do rosto. Os babilônios sofreram preconceito de outros povos, porém
consideravam-se apenas guerreiros vaidosos.
Maquiagem pesada e penteados diferentes encantavam a corte e o povo da
Babilônia, que não economizava quando se tratava de maquiagem. As perucas, os
rostos embranquecidos pela base feita de cera de abelha e carbonato básico de
chumbo, os olhos excessivamente pintados e as maçãs do rosto enrubescidas por
tintas vegetais surpreendiam os guerreiros de outros países, que chegaram a referir-
se à corte babilônica como um ambiente no qual os homens pareciam afeminados e
não mais possuíam aspecto de guerreiros (VITA, 2008, p.21).
Assírios
Era um povo muito requintado, bonito e preocupado com a beleza. No que se refere à
maquiagem, á registros de que eles coloriam os olhos, deixando-os escuros, com o uso de
antimônio de cor preto ou amarronzado, que servia de proteção contra moscas. Pintavam o
rosto com cosméticos brancos e vermelhos e enfatizavam os olhos com kohl, tornando-se
ainda maiores e mais brilhantes. Eles usavam verdadeiros estojos de maquiagem, com lugar
certo para colocar o “sulfito de antimônio”, usado para sombrear de negro os olhos.
É famosa a figura de um dos filhos do rei Assurbanípal, chamado Sin-schar-ischkun,
que se dedicava unicamente aos prazeres da vida, passando os dias indolentemente
recostado em meio às suas mulheres, penteado, maquiado e impregnado de perfume,
como as damas que o acompanhavam (VITA, 2008, p.24).
Egito
França e Thives (2008) afirmam que esse povo foi o primeiro a manipular a cosmética
sendo praticada pelos sacerdotes com fundamentos astrológicos, que em seguida tornou-se
uma prática para homenagear os mortos. Foi um povo muito vaidoso e preocupado com a
higiene diária, cultivando vários hábitos ligados a beleza, como, por exemplo, os banhos e
esfregações com óleos perfumados, como um ritual de beleza.
No que se refere à maquiagem, a parte do corpo fundamental é a face, evidenciando os
lábios e os olhos. Segundo Vita (2008, p.33)
Começavam passando uma base branca, uma pomada pastosa à base de cerussita
(...), ou um creme feito à base de giz e óleo de oliva, para dar um tom alvo à pele. Os
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lábios eram contornados com uma pena de ave e reavivados com uma tinta amarelo-
avermelhada proveniente do barro (chamado ocre) moído e misturado com água (...).
As maçãs do rosto levavam um toque da mesma cor como se fosse um blush.

França e Thives (2008) destacam que os olhos eram delineados e sempre valorizados
com Kohl (espécie de carvão misturado com azeite animal), onde também era usado como
proteção da claridade do sol, funcionando como um par de óculos escuros. “Do ponto de vista
místico, acreditava-se que os deuses Horus e Rá protegiam de infecções os olhos daqueles que
usavam pintura” (JULIÃO, 2010).
Além disso, faziam desenhos de veias na fronte e colo e utilizavam sombras a base de
malaquita de onde se “extraía corantes verdes e azulados, lápis lazúli ou anil para tons
azulados, açafrão para tons amarelados e pó de ouro” (VITA, 2008).
Grécia
Nessa época, a maquiagem não teve o mesmo avanço como no Egito, porém os
homens pintavam-se com moderação e apreciavam os recursos de beleza. Segundo Vita
(2008), nada escapava aos gregos, eles usufruíam de óleos preciosos, perfumes, pós
cosméticos, sombras de pálpebras, entre outros produtos. Os gregos idealizaram a beleza,
cultuando o corpo além da preocupação com a saúde, valorizando a higiene corporal, assim
como exercícios físicos.
Roma
Foram influenciados pela cultura grega. De acordo com França e Thives (2008) os
romanos usavam cabelos curtos, encaracolados e repicados, onde para as festas lavavam,
perfumavam e os pulverizavam com pó de ouro.
Os homens também se pintavam, principalmente os ligados aos imperadores. Rostos
masculinos brancos de alvaiade, perucas vermelhas e faces tingidas de rosa eram
comuns no império, escandalizando os tribunos do Senado, que ainda mantinha sua
força, mas não conseguia controlar os modismos ( VITA, 2008, p.53).
Idade Média
Do Século XIV até XV a Igreja determinava as leis e, segundo França e Thives
(2008), “combate o uso dos cosméticos, e condena a beleza, ou seja, o culto à vaidade
caracterizava o pecado, e tido pela inquisição como práticas demoníacas (...). Noções de
higiene são abandonadas pelo fato de estarem ligados a ritos pagãos greco-romanos”.
Assim, o padrão de beleza era determinado pelo poder aquisitivo. Vita (2008) afirma
que no Oriente os homens eram bem masculinos, possibilitando assim uma visível separação
entre os sexos. Rostos pintados não eram tolerados tampouco qualquer outro truque de
embelezamento masculino. Já no Ocidente, o uso do betel (semente de palmeira) era comum
entre os homens para deixar a pele, dentes e lábios com tom marrom escuro. O uso do
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vermelhão e de cera colorida no rosto diferenciava os indianos além de indicar a casta de cada
um.
Então a partir do século XVIII o Império Romano começa a decair devido a invasões,
surgindo a época dos Mouros, no qual, de acordo com França e Thives (2008), foram
resgatadas as práticas de beleza e hábitos de higiene, muito utilizados para orações. Nesta
época surgem os primeiros masistas, considerados profissionais que limpavam, massageavam,
depilavam e maquiavam.
Idade Moderna
Durante a fase do Renascimento, toques de embelezamento resgatam a maquiagem, de
um modo suave, utilizando enfeites e adornos para complementar o visual, porém não tanto
para os homens. De acordo com Vita (2008) eles utilizavam os cabelos com um corte reto ou
arredondado com chapéus, onde a barba e o bigode eram bem aceitos. Algumas máscaras
eram utilizadas como protetores solares ou para ocultar identidade.
Na época do Barroco, os homens utilizavam do empoamento, deixando o rosto,
cabelos, colo e ombros completamente cobertos por uma fina camada de pó de arroz,
transmitindo palidez era usual entre homens e mulheres. Comumente veias eram ressaltadas
em tons de azul. No rosto e colo eram colados lunares ou “moches” em veludo, pintas falsas,
que era usado tanto por homens quanto por mulheres (FRANÇA e THIVES, 2008).
A partir do século XIX a elegância masculina ficou tão exagerada quanto a feminina.
Vita (2008) afirma que os homens passaram a vestir roupas em cetim colorido, cobrir-se com
rendas, e fazer o uso da maquiagem exagerada, com principal motivo disfarçar as marcas no
rosto deixadas pela varíola que era uma doença comum da época.
Idade Contemporânea
O Neoclassicismo foi, segundo Thives e França (2008), um “movimento cuja
referência está no renascimento e raízes do classicismo grego. É uma beleza idealizada,
acadêmica, retirando detalhes desnecessários.” Esse período veio após a Revolução Francesa,
onde a maquiagem está restrita a pessoas de comportamento socialmente inadequadas como
prostitutas e atrizes. Na virada para o século XX, com a Revolução Industrial os homens
ficam mais sóbrios e rigorosos, deixando a vaidade de lado e, inclusive, o uso da maquiagem.
Então surgem movimentos como o Romantismo, Realismo e Impressionismo, em que
a beleza é retratada de várias formas, desde ser ligada à espiritualidade e melancolia, ser
aquilo que se vê, a beleza real, até ser um sentimento dramático, retratando observações do
mundo exterior.
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Século XX
Período em que mudanças ocorrem rapidamente, e a tecnologia têm seus avanços. No
começo desse século o homem é o provedor, aquele que sustenta a casa e a mulher é o enfeite.
De acordo com Gonçalves (2008) Max Factor surge, através do cinema, como primeiro
maquiador oficial, em 1918, lançando seus produtos no mercado. Ele era considerado um
mágico que transformava as pessoas comuns em atores ídolos das telas. Então surge uma
preocupação maior com cuidados da beleza, porém esse foi um século que a maquiagem do
dia-a-dia foi esquecida pelos homens, apenas os artistas de cinema, teatro e televisão a
utilizavam.
Só nos anos 80 os contrastes se sobressaltam. Ao mesmo tempo em que os yuppies
faziam o tipo esnobe e refinado, com cortes de cabelos quase personalizados e rostos limpos,
a maquiagem masculina e os penteados ousados ganham força nos movimentos punks,
góticos, darks e metaleiros com artistas como KISS, The Cure, Guns’n’Roses, entre outros.
Alguns artistas como David Bowie, Michael Jackson, Boy George, Prince simbolizam a
mudança da identidade masculina da época com maquiagens bastante afeminadas
(MAURILIO, 2008).
Na década de 90 os jovens vão ganhando espaço em todos os lugares e a maquiagem,
por conseqüência, acompanha cada tribo. Os adolescentes mudam de estilo cada vez mais
rápido, usando maquiagens, piercings e tatuagens. Surge o termo metrossexual para designar
o homem vaidoso ao extremo (SIMPSOM, 2004). Segundo Macoviciuc (2005), artistas
metrossexuais como David Beckham, Brad Pitt e Antonio Bandeiras trazem a maquiagem do
cinema para o dia a dia como forma de incentivar os homens a agradar e impressionar as
mulheres, ressaltando sua beleza.
Outro segmento da maquiagem que vem ganhando espaço é maquiagem médica
corretiva. Ela atua como camuflagem e entrou no mercado após a Segunda Guerra Mundial,
na reabilitação de pilotos com queimaduras severas. O homem pode fazer uso dessa
maquiagem para disfarçar olheiras, manchas diversas, cicatrizes, marcas de acne, rosácea,
entre outras dermatoses, escondendo imperfeições sem perder a masculinidade.
Segundo Parada e Teixeira (2010) “A camuflagem cosmética é uma modalidade
terapêutica desenvolvida para diminuir o sofrimento de pacientes com lesões deformantes
congênitas ou adquiridas, não acessíveis a tratamentos clínicos ou cirúrgicos, permitindo uma
melhora na aparência”.
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Século XXI
No século XXI a procura por cosméticos pelo publico masculino vem crescendo
muito. De acordo com Macoviciuc (2005), marcas como Jean Paul Gaultier, Lancôme,
Clinique, L'Oreal e Clarins criaram linhas de produtos e maquiagens destinadas
exclusivamente ao público masculino. Segundo o site especializado em maquiagem masculina
da marca The Men Pen (2010), foi criado, em 2006, corretivos onde oferecem 17 tonalidades
variadas para eles, onde afirmam que “a diferença estaria na fórmula que deixa a maquiagem
menos aparente do que a usada pelas mulheres”.
Pós faciais e bases tonalizam e uniformizam o aspecto da pele, minimizando o brilho
excessivo. Os blushes dão um aspecto sadio ao rosto, colorindo as maçãs do rosto. Já as
máscaras para cílios colorem, aumentam o volume, alongam e dão forma aos cílios. Os batons
colorem suavemente e se tiverem ativos específicos, também podem aumentar o volume dos
lábios.
Todos esses cosméticos devem trazer consigo componentes que hidratem e tratem a
pele tais como nutrientes, anti-radicais livres, anti-envelhecimento, vitaminas, etc., além do
fator de proteção solar. “(...) as maquiagens devem apresentar mais atribuições além de sua
principal função que é embelezar, observando-se cada vez mais clains de tratamento e
proteção solar UVA e UVB” Julian (2008 apud MORAES, 2009).
Com essa busca pela beleza da face crescendo cada vez mais entre os homens, os
profissionais da área de maquiagem e estética facial necessitam fazer cursos e estudos para
aperfeiçoamento nessa área. É preciso conhecer as necessidades desse consumidor, sabendo
analisar como é a pele masculina e como os traços faciais podem ressaltar de maneira positiva
a personalidade deles. O conhecimento em visagismo2 auxilia os profissionais a destacar os
traços de acordo com o comportamento de cada indivíduo.
Segundo Hallawell (2009) “o visagismo é baseado no princípio de que beleza existe
quando as qualidades interiores da pessoa são reveladas, com harmonia e estética (...). A
beleza de uma pessoa é uma expressão individualizada, que pode se manifestar de inúmeras
maneiras”. É importante ressaltar também que “a imagem pessoal afeta o comportamento,
mas não altera a personalidade e o temperamento. Quando a imagem não está alinhada com a
personalidade, uma pessoa pode desenvolver problemas psíquicos sérios” (HALLAWELL,
(2009).

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Visagismo: Conjunto de técnicas destinadas a valorizar a beleza de um rosto.
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Percebe-se que os ideais de beleza também mudaram com o passar dos anos. Há
tempos atrás, homens com “rostos de formato retangular eram mais valorizados por transmitir
força e masculinidade” (HALLAWELL, 2002). Atualmente, a maioria dos artistas e modelos
tem rostos ovais e hexagonais.
Regiões como mandíbula, nariz, queixo e testa evidenciam a masculinidade do rosto,
transmitindo força e também sensualidade. A maquiagem masculina enfatiza a beleza e a
virilidade e “O visagismo coloca em evidência o que há de único num rosto” (HALLAWELL,
2002).
O público masculino é exigente, atento a detalhes e ávido por novidades. Ele possui o
direito de se cuidar, aumentando sua auto-estima e sabe que não precisa ser desleixado para
afirmar sua masculinidade. Garcia, (2004) afirma que “em cima deste novo hábito de
costumes é permitida a maquilagem discreta, sobrancelhas redesenhadas com pinça. (...)
Homem de maquiagem, vestido com roupas de grifes estilosas não é coisa do passado”.
A dificuldade da aceitação da maquiagem e da vaidade masculina em geral é um
assunto relacionado ao preconceito e ainda é muito grande, tanto das mulheres quanto dos
próprios homens. Uma sociedade em que os modelos mentais continuam de forma machista
impede o avanço da quebra desse paradigma.
A vaidade masculina existe desde os primórdios e na contemporaneidade vem sendo
notada pelos grandes fabricantes de produtos de beleza que estão valorizando esse público que
é tão fiel. Homens e mulheres estão percebendo que a beleza é fundamental para realização
pessoal. Na vida pós-moderna o homem, definitivamente, vem conquistando seu espaço no
mercado da beleza, com critérios de exigência muitas vezes superiores às exigências
femininas em relação à escolha de produtos, serviços e profissionais.
“Todos têm direito de serem belos e de cuidarem de sua beleza, sejam de quais
naturezas forem” (SOLTYS, 2008).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dessa pesquisa foi possível perceber que o homem sempre utilizou dos
recursos estéticos da maquiagem, tanto para embelezamento quanto para rituais sagrados.
No decorrer da evolução das civilizações houve oscilações quanto a aplicação da
maquiagem para o público masculino. Essas variações de comportamento, tanto no uso
quanto no desuso deste recurso, foram influenciadas devido as mudanças culturais de atitudes
e hábitos da sociedade.
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Observou-se que com a Revolução Industrial, na virada para o século XX, o homem
tornou-se mais sóbrio e rigoroso passando a identificar a maquiagem como um recurso de
embelezamento feminino e artístico. Depois da segunda Guerra Mundial, surge a maquiagem
médica corretiva, um novo segmento para camuflar cicatrizes na reabilitação de soldados.
Este fato fez com que o universo masculino retomasse, aos poucos, a preocupação com sua
aparência.
A beleza, cada vez mais valorizada tanto pelos homens quanto pelas mulheres, é
considerada fundamental para realização pessoal e profissional. Mesmo assim o preconceito
quanto a abrangência da vaidade masculina ainda é grande. Desta forma, alguns homens têm
receio de fazer uso da maquiagem como recurso estético.
O mercado tem sinalizado a expansão deste nicho e vem criando artigos específicos
para atender as necessidades e exigências do público masculino. Os produtos devem ser
diferenciados tanto nas embalagens quanto na composição das fórmulas, onde os
componentes correspondem às especificidades deste tipo de pele.
A maquiagem para o segmento masculino deve, além de cumprir a função básica de
embelezamento, agregar propriedades de tratamento como nutrição e proteção. Os homens
buscam produtos práticos e funcionais para utilização diária o que leva as empresas de
cosméticos a pesquisar e investir cada vez mais em tecnologia na elaboração de linhas de
artigos específicos para este mercado.
Por estes motivos, o profissional da área da estética que almeja trabalhar com este
público precisa estar em constante atualização. Reciclar técnicas de atendimento, identificar
tratamentos seguros que mostrem resultados e buscar produtos inovadores, são critérios
essenciais para satisfazer este consumidor.
É importante considerar que tanto o maquiador profissional quanto o homem
contemporâneo precisam ter consciência de como fazer uso deste produto cosmético. A
maquiagem deve respeitar noções de visagismo, ressaltando os traços que enfatizam a
personalidade e a masculinidade. Convém ainda anotar que ela deve ser discreta de maneira
que seja quase imperceptível.
Desta análise resulta que a maquiagem masculina ainda é um recurso a ser explorado.
A carência de referências bibliográficas e de divulgação caracteriza uma lacuna nesta área.
Em virtude desse fato, percebe-se uma dificuldade na expansão do conhecimento e utilização
deste artifício cosmético que sempre esteve presente na história da humanidade.
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REFERÊNCIAS

CLARK, D. Maquiagem começa a deixar de ser tabu entre os homens. G1, Rio de Janeiro,
2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Rio/0,,MUL644165-5606,00maquiagem
+comeca+a+deixar+de+ser+tabu+entre+os+homens.html> Acesso em: 02 mar. 2010 às
11h05min.

DENZIN, N.K.; LINDOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e


abordagens. Porto Alegre, Artmed, 2006.

FRANÇA, B.; THIVES. F. História da Beleza. Apostila apresentada no curso de Tecnologia


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