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Friedrich Nietzsche
Seja como for, em cada caso, a realidade é diminuída até se limitar a mero efeito,
produto e resultado de fatos fisiológicos, psicológicos ou sociológicos. Mas onde se
vê apenas efeitos, não se é capaz de ver a intenção, não se pode ver sentido algum. A
existência, dessa forma, é privada de sentido. Ao mesmo tempo se torna claro porque
essas três modalidades de niilismo – fisiologismo, psicologismo e sociologismo – não
conseguem captar o sentido: em sua concepção do mundo, cada uma se restringe a
uma camada da existência – física, psíquica ou social – deixando de lado precisamente
o tipo de existência em que pode aparecer algo como intencionalidade, ou seja, a
existência espiritual. Somente quando ela é levada em conta na sua aspiração essencial
ao sentido e ao valor, é que se estabelecem condições para que venha a se manifestar
o sentido da realidade e se tornar evidente o sentido da vida.
( página 221)
Cumpre que ninguém esqueça isso : muito antes de ter visto em minha vida uma
cérebro , eu já conhecia o espiritual – sempre tive consciência da espiritualidade como
realidade imediata e indubitável. Posso colocá-la entre parênteses , devo inclusive
fazê-lo , na medida em que não deseje apenas saber algo do homem , mas praticar a
ciência do homem , a ciência natural do homem. Ao mesmo tempo , convém lembrar
que esse colocar entre parênteses ( em benefício ) da realidade somática cria uma
ficção. Não arbitrariamente , mas realmente finge o neurologista que o homem “é”
um sistema nervoso , finge que somente existe o corporal , “como se” o homem não
existisse espiritualmente e só adquirisse realidade no plano somático.
Já dissemos a ciência natural deve forçosamente agir “como se” o homem fosse
exclusivamente um “sistema nervoso” e , como tal , carente de liberdade. Vemos, pois
, que a carência de liberdade é que constitui uma ficção. (...).