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INTRODUÇÃO

Homens novos para um tempo novo. Veio de uma inspiração para Obra
e Comunidade neste ano de 2021. Deus nos mostrava luzes que iam
atraindo o Povo para algo completamente Novo, uma conversão nova; o
Senhor quer uma veste nova diante d’Ele.

O apelo é de não colocarmos remendos velhos em vestes novas, mas de


dentro para fora deixar-nos recriar. É um tempo de clamor, de súplica, de
verdadeiro comprometimento com o Reino de Deus.

É por meio dessa experiência que apresentamos o espírito das


campanhas que viveremos no decorrer dos meses de janeiro a maio
de 2021. Pretendemos unir as principais atividades em vista de uma
melhor visualização do itinerário que iremos percorrer, com abordagens
diferentes para a Comunidade e a Obra Shalom, mas todos com o
desejo de sermos novos para o Tempo Novo que Deus prepara.
A cada mês traremos suas especificidades que serão orientadas através
de cartas e/ou manuais próprios dedicados a explicar a vivência das
propostas. Essa é uma grande oportunidade de tocarmos na riqueza da
complementaridade dos setores e ministérios da Obra, carismas de
serviços que o Senhor nos deu em vista da sua vinha.

Que o Senhor nos abençoe neste caminho novo aberto por Cristo. Ele é a
nossa Paz! (Ef 2,14).

Shalom!

Edições Shalom
Economato Geral
Promoção Humana
Assessoria Litúrgico
Assistência Apostólica
Assistencia de Formação
Assistência de Comunicação

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JANEIRO
Primeiro mês do ano de 2021 retorno para nossas atividades ordinárias.

O comprometimento com a evangelização e o amor ao Caminho que


Deus nos inseriu devem crescer nesse Tempo Novo, no qual Deus nos
chama a um caminho de verdadeiro retorno a Ele.

A intercessão na Obra Shalom deverá crescer ainda mais para que o


retorno a Deus e a Sua Vontade tornem-se cada vez mais fortalecidos
pela Graça. Para isso, contamos com a Intercessão fiel do nosso querido
São José. De 8 de dezembro de 2020 até 8 de dezembro de 2021, o Papa
Francisco dedicou ao esposo de Maria um ano especial à sua proteção e
intercessão.

Dessa forma, como São José é um “tesouro” que a Igreja continua


descobrindo, nós como Comunidade refletiremos e aprofundaremos
sobre as virtudes desse homem justo, modelo de castidade e Patrono de
toda Obra Shalom.

FEVEREIRO
Antes das Cinzas!

Nascemos para evangelizar! É esse o espírito que queremos viver no


início deste mês. O coração do retiro de Carnaval e a inspiração do seu
nome vem da passagem bíblica que inspirou toda a construção do
evento: Alegrai-vos no Senhor (Fl 4,4).

Toda Obra e Comunidade, junto a TV Shalom, estará disposta a realizar


esse encontro proporcionando ao Homem uma experiência de
renovação com o Espírito Santo que sopra sobre nós, consola, cura e
enche-nos de verdadeira alegria.

Saiba mais sobre esse evento e se engaje na divulgação para que você
construa conosco esse retiro de carnaval.
https://alegraivosnosenhor.com/#/
O Alegrai-vos no Senhor acontecerá entre 13 e 14 de fevereiro, final de
semana que antecede a Quaresma, no qual iremos nos unir na

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intercessão e no serviço. Nossas Missões já se preparam junto a
Comunidade para bem viver esse retiro de carnaval; todo movimento
evangelizador deverá ser organizado para proporcionar que a Graça
Divina opere nos corações.

É nessa experiência de Missão que Deus preparará nossa Obra e


Comunidade, no poder do Seu Espírito, para viver uma santa Quaresma.

Depois das Cinzas!

A partir de 17 de fevereiro, para adentrarmos no riquíssimo mistério do


tempo litúrgico Quaresmal, viveremos uma orientação própria deste
período na Igreja e em todo mundo.

Não a entendamos como interrupção da nossa formação ordinária já


prevista e vivida anteriormente, mas como parte do nosso itinerário, de
morte e vida, uma vida nova. Assim, viveremos como homens novos,
fruto da Ressurreição do Senhor e do derramamento do Seu Espírito.

A grande novidade para a Quaresma de 2021 é a vivência do nosso


Estudo Bíblico que neste tempo será a liturgia diária, usada até a
solenidade do Domingo de Ramos. Para nos ajudar a mergulhar ainda
mais nessa espiritualidade será produzido pelas Edições Shalom o livro
Retiro Quaresmal 2021.

Acesse a página da Livraria Shalom e confira essa nova


proposta:https://livrariashalom.org/ebook

Na quarta-feira de Cinzas e em cada domingo da Quaresma teremos


um vídeo na Live SH. Veja e aposte mais ainda na sua formação.
https://www.youtube.com/channel/UCGE5fvYbJsvmAroxm6AWCHQ

No dia 22 de Fevereiro viveremos juntos, Comunidade de Aliança e


Comunidade de Vida a Abertura do Novo Ano Formativo com nossa
Formadora Geral, Angélica Cunha. E daremos início à formação
específica da Quaresma, para vivermos em nossas células comunitárias.
A Obra Shalom também seguirá formação específica para este tempo

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em que todos seremos conduzidos a um caminho de profunda
conversão.
Abaixo, após as informações do mês de Março, segue o tema da
formação e as orientações de cada semana.

MARÇO

Este mês está mais do que especial! Seguimos com a proposta da


Quaresma que nos chama ao arrependimento perfeito. Deixemos Deus
reparar as brechas que o pecado deixou em nossas almas e, de espírito
contrito, supliquemos um coração inteiro para em tudo agradar a Deus.

No dia 19 de março, festejaremos a Solenidade de São José, vivendo com


gratidão a intercessão deste santo, por meio das celebrações litúrgicas,
despojamentos e orações entoadas por todos nós como uma grande
ação de graças.

Que este dia especial no meio da Quaresma proporcione um encontro


com Deus e, na virtude do silêncio de José, sejamos conduzidos no
mistério do deserto, no qual o homem é alcançado pela Providência
Divina.
A série Ide a José segue com a proposta de refletir sobre as virtudes
desse grande Santo. Com #1 acompanhe e adentre mais ainda nas
reflexões ao Ano dedicado ao Grande e Honrado São José.
https://www.youtube.com/watch?v=-zje3D0aXD8&feature=youtu.be

A partir do dia 28, após Domingo de Ramos, iremos viver a semana santa
e aprofundar a experiência do Tríduo Pascal, em Retiro com toda Obra e
Comunidade.

O retiro de Semana Santa terá como base a palavra de I Jo 4, 19b, Ele nos
amou primeiro, além de meditações disponibilizadas através do livro:
Meditações da Semana Santa, produzido pelas Edições Shalom.

Que o Senhor nos conceda a Graça de caminhar com Jesus neste tempo
de deserto e de Êxodo para morrendo com Ele, com Ele ressuscitarmos!

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SUMÁRIO

Carta Introdutória 7

Grade Geral 9

1ª Semana: Quaresma -tempo favorável para uma conversão mais profunda 10

2ª Semana: Arrependei-vos e convertei-vos ! 11

Anexo I: Homilia do Papa Francisco na Santa Missa - Cinzas 2019 12

3ª Semana: “Arrependei-vos, convertei-vos… formai-vos um coração novo e

um espírito novo” (Ez 18,30-31) 14

Anexo I: O deserto é fértil! – Cristina Brilhante 15

Anexo II: Exortação Apostólica Pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia 17

4ªSemana: Romper com o pecado 23

Anexo I: Mensagem de sua Santidade Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012 24

Anexo II: Carta Apostólica Patris corde do Papa Francisco (Link) 23

5ª Semana: Arrependei-vos e sede fecundos 29

Anexo I: As Três Idades da Vida Interior – O exame de consciência 32

Anexo II: As Três Idades da Vida Interior – A Confissão Sacramental 33

6ª Semana: Volte para o Essencial: Deus! Pois Ele quer enviar-te para as águas mais

profundas 38

Anexo I: A Vida Sob O Senhorio De Cristo – Raniero Cantalamessa 39

Anexos Extras 45

Bibliografia 48

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Carta introdutória

Caros irmãos e irmãs, Shalom!

Estamos iniciando, com alegria, mais uma Quaresma, tempo favorável para nossa conversão e caminho
de santidade. Partindo disso, inauguramos hoje o novo bloco da formação, que terá a missão de nos conduzir, da
melhor forma, neste tempo litúrgico, em busca do arrependimento perfeito! Portanto, esses dias nos
proporcionarão mergulho em graças abundantes derramadas pelo próprio Deus, nosso Reparador de Brechas.
Tomemos, como norte, a súplica de nosso fundador, Moysés, ao motivar toda a Comunidade Shalom para
não ter um coração endurecido, impenitente, resistente ao Deus que ama e educa, e não ter medo de enxergar a
feiura do nosso pecado, supliquemos a graça de um coração sincero, autêntico e perfeito, capaz de reconhecer e
ter a compunção de pedir um verdadeiro arrependimento, vindo gerar em nós uma mudança de dentro para
fora. Por meio do arrependimento, Deus, o Pai das misericórdias, lança-nos para um novo tempo, um novo envio.
Portanto, aproveitemos, irmãos, a divina graça desta Quaresma.
Diante da motivação de nosso fundador, vivamos a Quaresma como um tempo extremamente oportuno,
na certeza de que o arrependimento perfeito nos levará à santidade e de que Deus enviará as condições
necessárias para nos preparar para Páscoa, a festa de nossa salvação; a maior festa para nós, cristãos, e,
sobretudo, para nós Comunidade Shalom. Para isso, necessitamos apenas estar bem atentos, dóceis, prontos para
perceber toda condução e intervenção divina, e assim viveremos um percurso comunitário de preparação para o
caminho trilhado por Jesus: Paixão, Morte e Ressurreição.
Nestas semanas, aprofundaremos o verdadeiro arrependimento, que implica em deixar o Cordeiro nos
recriar. Sendo assim, com o coração desejosos em agradar o nosso Deus, faremos o necessário para reconhecer o
nosso pecado, o nosso nada, que tanto fere o coração do Cristo, como gera sofrimento, ao ponto de nos adoecer
com tantas imundices e ídolos que, ao longo do tempo, insistem em minar em nosso ser, além de ferir o coração
do Senhor. Nesta perspectiva, precisamos estar vigilantes para não correr o risco de viver este percurso sagrado
de maneira superficial, ou sem sentido, como mais um itinerário da tradição, mas, ao contrário, vivamos uma
Quaresma como nunca foi vivida! Nisto, não esqueçamos que, ao adentrar no mistério do Cristo, assim como Ele
foi tentado no deserto, também nós o seremos. Não é uma repetição de fatos, mas, uma fecunda atualização de
sua graça, que nos concede crescer na santidade, no desejo pela santidade, unindo-nos ao sacrifício de amor de
Cristo.
Sendo assim, a formação nos conduzirá, também, ao entendimento mais aprofundado da necessidade de
ter, em nossos lábios, o clamor pelo Espírito Novo, pela libertação do domínio do pecado, que nos leva a ser
escravos; o arrependimento será, então, a porta para viver a transformação, a nossa Páscoa.
Inseridos no arrependimento, na compunção dos nossos corações, teremos condições de romper,,
definitivamente, com o pecado, e, mesmo humilhados e com o coração dilacerado, constrangidos de dor por ferir
Jesus, poderemos ser fecundos, favoráveis a dar livre voo rumo ao Essencial de nossas vidas: Deus!
Que Maria nos conduza a aproveitar cada instante desta Quaresma para bem viver o tempo novo que
Deus deseja realizar em nossa história. Assim como se manteve debaixo da cruz, com o olhar fixo em seu Filho
Jesus, ela nos ensina a prosseguir, de pé, neste mesmo amor, docilidade e fidelidade.

Santa Quaresma!
Cristina Brilhante
Assistência de Formação – Setor de Conteúdo

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Sugestões de filmes durante a Quaresma, como mais um recurso para viver bem este tempo:

-El gran milagro:

Site: https://vimeo.com/336891619

- O Quarto sábio:

https://www.google.com/search?q=FILME+O+QUARTO+S%C3%81BIO&oq=FILME+O+QUARTO+S%C3%81BIO&
aqs=chrome..69i57j46j0l2j0i22i30l3.7454j0j15 sourceid=chrome&ie=UTF-8

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Grade Geral

SEMANA TEMA OBJETIVO RECURSO

Quaresma - tempo
1ª Semana favorável para uma Introduzir no Tempo -Vídeo Abertura do Ano Formativo
conversão mais Angélica Cunha (Formadora
22 a 26/fev Especial da Quaresma Geral)
profunda

2ª Semana Inserir no caminho de


-Pregação em vídeo
01 a 05/03 arrependimento e conversão, (Emmir Nogueira)
Arrependei-vos e
despertando o desejo de - Vídeo-Reflexão Exame de
convertei-vos ! consciência -Pe. Karlian Vale
conformar-se a Jesus Cristo.

Abertura do Ano Apostólico - Assembleia Comunitária no dia da Formação da célula


08 Março
(Orientações com o Cap da missão - Assistência Apostólica)

3ª Semana
“Arrependei-vos, Conscientizar da (12/03)
12/03
convertei-vos…
No dia da
necessidade de conversão e -Leitura e partilha direcionada em
formai-vos um
Oração o desejo de em tudo agradar grupo
coração novo, e um
Comunitária espírito novo” (Ez a Deus.
- Vídeos de testemunhos
18,30b-31b).

Levar a uma maior -Pregação em vídeo


4ª Semana consciência da raiz do (Pe. Rômulo dos Anjos)
Romper
pecado que nos escraviza. No
15 a 19/03 definitivamente
desejo de nada ofender a (19/03)
SEMANA DE com o pecado
Deus, assim como São José, - Missa votiva a São José
SÃO JOSÉ modelo de obediência. - Momento de Despojamento

Reconhecer o pecado contra


5ª Semana -Atividade em grupo
Arrependei-vos e a vivência do Carisma, acerca
22 a 26 /03 sede fecundos. dos conselhos evangélicos e
-Vídeos de testemunhos
do tripé da vocação.

Volte para o
Essencial: Deus! Resgatar o Essencial de
Pois Ele quer
6ª Semana nossas vidas, para a autêntica - Pregação em Vídeo (Daniel Ramos)
enviar-te para as
29 /03 maturidade missionária.
águas mais
profundas.

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1ª Semana: Quaresma-tempo favorável para a conversão

Cultivar o arrependimento! Por isso, quanto mais


sincero o arrependimento, mais e mais cresce o desejo
de santidade [Revista Escuta 2019].

OBJETIVO

Introduzir no Tempo Especial da Quaresma.

OUVIR

RECURSO: -Pregação em vídeo - Abertura do Ano Formativo (Angélica Cunha - Formadora Geral)

Esteja atento às orientações da oração pessoal, do Estudo Bíblico, da Leitura Complementar para este tempo
quaresmal e às direções que a Campanha Integrada da Quaresma nos conduzirá.

CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● Nesta primeira semana teremos o vídeo de Abertura da Campanha que nos motivará a
vivermos bem a Quaresma, rumo à conversão.
● As Edições Shalom propiciará o Retiro Quaresmal em Ebook e o livro- Manual para uma
boa confissão do Padre Antonio Furtado. Serão auxílios para nosso caminho neste
tempo.
● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma- 1ª Semana:
https://www.youtube.com/watch?v=xExKmyOWcI0&feature=youtu.be

REZAR
Oração pessoal
Nesta semana reze com as anotações da pregação assistida na célula. E com a Revista Escuta nº06, Tempo
Novo, Capítulo 01, item “Urgência de um arrependimento profundo”, até a página 26.

Estudo bíblico
Rezaremos com a Liturgia diária, mergulhe no que a Liturgia nos apresenta a cada dia.

Leitura complementar
Leremos neste Tempo de Quaresma a Revista Escuta nº06, Tempo Novo.

VIVER

Nesta semana procure escolher ações que te levem a uma boa vivência deste tempo quaresmal.

Sugestões:
*Procure ornamentar sua casa com tecido roxo, com a cruz, montando no altar da sua casa uma simbólica.
*Escolher alguma penitência ou mortificação que te leve a se esvaziar mais de si mesmo dando espaço para
Deus agir na sua vida.
*Escolha uma motivação de Via sacra para rezar nas sextas-feiras como meio de se unir mais a Jesus

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2ª Semana: Arrependei-vos e convertei-vos !

Cultivar o arrependimento! Por isso, quanto mais


sincero o arrependimento, mais e mais cresce o desejo
de santidade [Revista Escuta 2019].

OBJETIVO

Inserir no caminho de arrependimento e conversão, despertando o desejo de conformar-se a Jesus Cristo.

OUVIR

RECURSO: -Pregação em vídeo -Emmir Nogueira

- Vídeo-Reflexão Exame de consciência -Pe. Karlian Vale

Anotem 3 pontos da pregação da Emmir que foram luz para a vivência deste tempo.

Esteja atento às orientações para esta semana, em vista de viver bem esta Quaresma.

CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● Esta segunda semana, na Campanha Integrada da Quaresma, animamos ainda mais a


viver a vida de oração, contando com a intercessão de Nossa Senhora e a dos Santos.
● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma- 2ª Semana:
https://www.youtube.com/watch?v=0SZgPYqFVB4&feature=youtu.be

* Sugestão: escolher algum momento para rezar com a Via Sacra – na oração
comunitária da célula: https://comshalom.org/via-sacra-do-amor-esponsal/

REZAR

Oração pessoal

Nesta semana, teremos a Homília do Papa Francisco na Santa Missa, Bênção e Imposição das cinzas na
Basílica de Santa Sabina, Quarta-feira, 6 de março de 2019, como grande auxílio para nossa intimidade com
Deus, de modo que beberemos da profunda graça de sua condução para melhor viver a Quaresma. As leituras
do Estudo Bíblico também serão direcionadas. Propomos dividir o texto em partes durante essa semana. Que
o Espírito Santo conceda-nos a luz da verdade e nos ilumine acerca dos propósitos para este tempo.

Estudo bíblico
Rezar, dois dias na semana, com a passagem do Profeta Jeremias 17,5-10 e os outros dias com a liturgia diária.

Leitura complementar
Leremos neste Tempo de Quaresma a Revista Escuta nº06, Tempo Novo.

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VIVER

Inseridos no desejo do arrependimento perfeito e da conversão à santidade, contemos com a prática da


oração e do jejum (armas espirituais) que concedem a força sobrenatural que nos capacitará a enfrentar as
batalhas contra os espíritos do mal, em vista de romper com o pecado. Entramos no tempo propício da
caminhada de penitência. Convidamos todos vocês a escolher atos concretos que os façam abrir mão de
vícios, prazeres, idolatrias e condicionamentos que não agradam a Deus, oferecendo as práticas ascéticas por
amor a Deus. Por isso, procuremos eleger algumas penitências (sejam gastronômicas, corporais ou morais),
como também ir ao encontro do Sacramento da Reconciliação, em busca de, em tudo, agradar a Deus.

ANEXO I – Homilia do Papa Francisco – Santa Missa, Bênção e Imposição das Cinzas –
Basílica de Santa Sabina. Quarta-feira, 6 de março de 2019

«Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum» (Joel 2,15): diz o profeta na primeira Leitura. A Quaresma
abre-se com um som estridente: o som da trombeta que não afaga os ouvidos, mas proclama um jejum. É um
som intenso, que pretende abrandar o ritmo da nossa vida, sempre dominada pela pressa, mas, muitas vezes,
não sabe bem para onde vai. É um apelo a deter-se – um “parar!” para ir ao essencial, a jejuar do supérfluo que
distrai. É um despertador da alma.

Ao som deste despertador segue-se a mensagem que o Senhor transmite pela boca do profeta, uma
mensagem breve e veemente: «Voltai para Mim» (2,15). Voltar! Se devemos voltar, isso quer dizer que a
direção seguida não era justa. A Quaresma é o tempo para reencontrar a rota da vida. Com efeito, no caminho
da vida – como em todos os caminhos –, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta. Pelo
contrário, quando o que interessa na viagem é ver a paisagem ou parar para comer, não se vai longe. Cada um
de nós pode interrogar-se: no caminho da vida, procuro a rota? Ou contento-me de viver o dia a dia,
pensando apenas em sentir-me bem, resolver alguns problemas e divertir-me um pouco? Qual é a rota?
Talvez a busca da saúde, que hoje muitos dizem vir em primeiro lugar, mas, mais cedo ou mais tarde, faltará?
Porventura a riqueza e o bem-estar? Mas não é para isso que estamos no mundo. Voltai para Mim, diz o
Senhor. Para Mim: o Senhor é a meta da nossa viagem no mundo. A rota deve ser ajustada na direção d’Ele.

Hoje, para encontrar a rota, é-nos oferecido um sinal: cinzas na cabeça. É um sinal que nos faz pensar naquilo
que trazemos na cabeça. Frequentemente, os nossos pensamentos seguem coisas passageiras, coisas que vão
e vêm. Os grãos de cinza que receberemos pretendem dizer-nos, com delicadeza e verdade: de tantas coisas
que trazes na cabeça, atrás das quais corres e te afadigas diariamente, nada restará. Por mais que te
afadigues, não levarás contigo qualquer riqueza da vida. As realidades terrenas dissipam-se como poeira ao
vento. Os bens são provisórios, o poder passa, o sucesso declina. A cultura da aparência, hoje dominante e
que induz a viver para as coisas que passam, é um grande engano. Pois é como uma fogueira: uma vez
apagada, ficam apenas cinzas. A Quaresma é o tempo para nos libertarmos da ilusão de viver correndo atrás
do pó. A Quaresma é descobrir que somos feitos para o fogo que arde sempre, não para a cinza que
imediatamente some; para Deus, não para o mundo; para a eternidade do Céu, não para o engano da terra;
para a liberdade dos filhos, não para a escravidão das coisas. Hoje podemos interrogar-nos: Em que parte
estou? Vivo para o fogo ou para as cinzas?

Nesta viagem de regresso ao essencial que é a Quaresma, o Evangelho propõe três etapas, que o Senhor pede
para percorrer sem hipocrisia nem ficção: a esmola, a oração, o jejum. Para que servem? A esmola, a oração e
o jejum reconduzem-nos às únicas três realidades que não se dissipam. A oração liga-nos a Deus; a caridade,
ao próximo; o jejum, a nós mesmos. Deus, os irmãos, a minha vida: tais são as realidades que não acabam em
nada e sobre as quais é preciso investir. Eis para onde nos convida a olhar a Quaresma: para o Alto, com a
oração, que liberta duma vida horizontal e rastejante, em que se encontra tempo para si próprio, mas se

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esquece Deus. E depois para o outro, com a caridade, que liberta da nulidade do ter, de pensar que as coisas
estão bem se para mim correm bem. Por último, convida-nos a olhar para dentro de nós mesmos, com o
jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração. Oração, caridade, jejum: três
investimentos num tesouro que dura.

Jesus disse: «Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração» (Mt 6,21). O nosso coração aponta
sempre para uma direção: é como uma bússola que sempre procura a orientação. Podemos também
compará-lo a um imã: precisa se apegar a qualquer coisa. Mas, quando se apega só às coisas terrenas, mais
cedo ou mais tarde torna-se escravo delas: as coisas de que nos servimos passam a ser coisas às quais
servimos. O aspeto exterior, o dinheiro, a carreira, os passatempos: se vivemos para eles, tornar-se-ão ídolos
que nos usam, sereias que nos encantam e, em seguida, deixam-nos à deriva. Ao contrário, se o coração se
apega ao que não passa, encontramo-nos a nós mesmos e tornamo-nos livres. Quaresma é o tempo de graça
para libertar o coração das nulidades; é tempo de cura de dependências que nos seduzem; é tempo de fixar o
olhar naquilo que resta.

Então, onde devemos fixar o olhar ao longo do caminho da Quaresma? É simples: no Crucificado. Jesus na
cruz é a bússola da vida, que nos orienta para o Céu. A pobreza do lenho, o silêncio do Senhor, a sua nudez
por amor mostram-nos a necessidade duma vida mais simples, livre da azáfama excessiva pelas coisas. Da
cruz, Jesus ensina-nos a coragem esforçada da renúncia. Pois, carregados com pesos embaraçantes, nunca
iremos para diante. Precisamos nos libertar dos tentáculos do consumismo e dos laços do egoísmo, de querer
sempre mais, de não nos contentar jamais, do coração fechado às necessidades do pobre. Jesus, abrasado de
amor no lenho da cruz, chama-nos a uma vida inflamada por Ele, que não se perde entre as cinzas do mundo;
uma vida que arde de caridade, e não se apaga na mediocridade. É difícil viver como Ele pede? Sim, é difícil,
mas conduz à meta. No-lo mostra a Quaresma. Esta começa com as cinzas, mas leva-nos, no final, ao fogo da
noite da Vigília Pascal, a descobrir que, no sepulcro, a carne de Jesus não se torna cinza, mas ressuscita
gloriosa. O mesmo vale para nós, que somos pó: se voltamos ao Senhor com as nossas fragilidades, se
tomamos o caminho do amor, abraçaremos a vida que não tem ocaso. E, certamente, viveremos na alegria.

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3ª Semana: “Arrependei-vos, convertei-vos… formai-vos um coração novo
e um espírito novo” (Ez 18,30b-31b)

“Às vezes, o desejo de santidade não está


crescendo dentro de nós, porque não cultivamos o
dom do arrependimento sincero dos nossos
pecados” [Revista Escuta 2019].

OBJETIVO

Conscientizar da necessidade de conversão e o desejo de em tudo agradar a Deus.

OUVIR

RECURSO: -Leitura dirigida e partilha em grupo

-Vídeos de testemunhos

Leitura e partilha dirigida em grupos. O texto que servirá de base se encontra no ANEXO I – “O deserto é
fértil!” de Cristina Brilhante.

PARA OS FORMANDOS: No tocante a este texto, o homem é inserido no deserto, a exemplo dos santos e dos
grandes homens citados; veremos que estes tiveram crescimento e transformações particulares. Partindo
desse princípio, recorde os momentos de deserto a que Deus o atraiu. Responda às perguntas abaixo, no
mesmo grupo, compartilhando e testemunhando com seus irmãos.

1. Quais os desafios que surgiram no tempo de deserto?


2. Em sua escuta, o que Deus lhe falou no deserto do teu coração (fazer memória)?
3. Quais os significativos frutos do deserto que colheste e que, até hoje, são benefícios para sua vida?
4. Algum santo, de forma mais próxima, ajudou-o neste tempo de deserto?

Procure viver bem as orientações da semana e da Campanha Integrada da Quaresma.

CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● Nesta semana busque a confissão em nossos centros de evangelização ou na paróquia


próxima da sua casa e faça um bom exame de consciência em vista de uma forte
experiência de reconciliação com Deus.

● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma- 3ª Semana:


https://www.youtube.com/watch?v=SWFgbeVEu7A&feature=youtu.be

REZAR

Oração pessoal

Teremos o texto da Exortação Apostólica Pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia de sua Santidade Papa João
Paulo II, que se encontra no Anexo I, que nos levará a ricas reflexões em relação ao pecado pessoal, social,
mortal, venial e a perda do sentido do pecado. Diante de tamanha preciosidade deste texto, recomendamos

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dividir os dias para favorecer sua oração: 1º Dia: as duas primeiras páginas; 2º Dia: Pecado mortal e pecado
venial e o 3º Dia: Perda do sentido do pecado.

Estudo bíblico

Rezar dois dias com a passagem do Livro de Zacarias 1,3-6. Busque, a partir desta leitura, relacionar alguns
aspectos mencionados com sua vida, de maneira concreta. Nos outros dias rezar com a liturgia diária.

Leitura complementar

Leremos neste Tempo de Quaresma a Revista Escuta nº06, Tempo Novo.

VIVER

Escutemos o Senhor, que fala conosco por meio das Escrituras, e vivamos, portanto, a prática da oração que
nos conduz à conversão verdadeira. A partir disso, resgatemos o silêncio sagrado, o recolhimento interior e o
escondimento do sacrifício, como fruto da vida de oração, que nos auxiliará neste percurso rumo à santidade.
Peçamos, então, a graça de um coração cheio de arrependimento, disposto a mergulhar no interior de si
mesmo, se percebendo, identificando e avaliando nossos temperamentos, comportamentos,
condicionamentos, feridas marcadas na história pessoal…, que venham ferir a Deus e aos irmãos. Diante de
um desejo de aprofundar muito mais no mistério salvífico por meio da Via Sacra* escolha um dia da semana
para meditar. Peçamos a intercessão do nosso amado São José, a de Nossa Senhora e a dos Santos amigos,
para que sejamos dóceis a este plano de amor de Deus para conosco.

ANEXO I – O deserto é fértil!

A Quaresma, tempo riquíssimo para toda Igreja, é um grande chamado para aprofundar a preparação para a
Páscoa do Senhor. Convite libertador a todos os cristãos, que favorece um fecundo retorno ao coração de
Deus, por meio do arrependimento perfeito. Assim como consta no Livro do Profeta Ezequiel:
“Arrependei-vos, convertei-vos de vossos delitos, e não caireis em pecado. Lançai fora os delitos que
cometestes, e formai-vos um coração novo, e um espírito novo” (Ez 18,30-31)[1].

Quando vivemos a verdadeira conversão, deparamo-nos com as nossas indiferenças para com Deus. Sabemos
que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, mas é submetido a uma luta contra o pecado que
insiste em roubar tal semelhança, ao tentar destruir os aspectos, as características, o genuíno sentido da vida
e, sobretudo, a santidade original que recebemos de Deus.

É tempo de ser inserido no caminho esponsal, que percorre a Via Crucis: caminho de Cruz e Ressurreição,
caminho de e para a felicidade, caminho de conformidade ao Cordeiro Imolado, caminho de oração, jejum e
penitência. É tempo de retomar o mistério de Cristo e se configurar a Ele, trilhando seus passos. Passos que
inauguram a vida pública no deserto, vindo a se consumar na paixão, cruz, morte e ressurreição. O deserto é
o lugar do eterno combate com o próprio demônio e, no entanto, também, o lugar da intimidade com o
divino, pois o deserto é o local do encontro com Deus, onde o homem se vê à luz da Verdade, enxergando
realidades interiores e exteriores, e onde ainda precisa se converter.

O deserto, neste sentido, é o lugar aonde o próprio Deus atrai seus filhos, como aponta Deuteronômio 8, em
que Ele conduz o povo de Israel ao deserto, para lhe falar ao coração. Para mergulhar, então, no mistério do
deserto, é preciso uma postura de súplica e docilidade, em vista da purificação, do esvaziamento, do
despojamento e do escondimento de cada homem. Para muitos, deserto significa batalha espiritual a ser
travada, principalmente para os que estão mais distantes de Deus. Estes, encontram-se no seu vazio
existencial, ou seja, imersos na frustração da ausência de sentido da vida, como enfatizava Viktor Frankl, o
fundador da Logoterapia [2]. Para São Tomás de Aquino, esta ausência de sentido significa “quanto mais o
homem se afasta de Deus, mais se aproxima do nada” [3], reconhecendo a necessidade de estar sempre diante
de Deus. Do mesmo modo, São Paulo afirma: “a Graça de Deus é tudo”!

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No deserto espiritual, o homem é impulsionado ao silêncio interior, à intimidade com Deus. Este lugar que
convida à oração, favorece a escuta da voz do Mestre, que ecoa reconduzindo-o da escravidão de seus
pecados para a liberdade do homem novo para um tempo novo. Como aconteceu com o Beato Charles de
Foucauld, ao dizer: “Tudo mudou para sempre em minha vida; assim que compreendi que Deus existe, entendi
que não podia fazer outra coisa senão viver para Ele [4]. “Deus é tão grande e existe uma grande diferença entre
Deus e tudo o que não é Deus…”[4]. Foi justamente num deserto que este grande Beato fez a singular
experiência de sua vida. Experiência que o levou a decidir deixar tudo para trás. Neste caso, o deserto
também é lugar de decisão!

Outro exemplo expressivo, que nos leva à meditação, é o de Oscar Wilde, um grande escritor, que também fez
essa experiência do deserto. Após tocar em sua humanidade, arrependeu-se e recorreu ao Sacramento da
Reconciliação dizendo: “O momento supremo de um homem – não poderei jamais duvidar – é aquele no qual se
ajoelha na poeira, bate no peito e confessa todos os pecados da sua existência”[5] . Não tem preço a paz que vem
dessas palavras: “Eu te absolvo dos teus pecados… Vai em paz”!

Tamanha a magnitude do deserto, que leva o homem ao encontro com Deus e consigo mesmo. Somente o
amor insondável de Deus pelo homem é capaz de introduzi-lo neste contexto, no intuito de recriá-lo. Pois, no
deserto, Deus Se revela ao homem e o revela a si mesmo: rasga o véu, mostrando a este homem quem ele é,
de fato, e do que ele é formado. Neste momento, podemos proclamar como o salmista, dizendo ao Senhor:
“Ele guiou seu povo ao deserto, porque o seu amor é para sempre” (Salmo 136,16) [6].

Sabendo disso, o deserto é como um puro descortinar dos pecados. Pecados que o tornam impiedoso, preso,
vazio e impedido de corresponder ao caminho de fidelidade à santidade. Quanto a isso, Santa Tereza D’Ávila
apregoa “A alma não se lembra da penalidade que há de sofrer para expiar seus pecados” [3]. Nisto, a alma, ao
sentir um vazio, uma acídia, um torpor, uma desesperança maltratante, encontra-se numa perda pelo gosto
da contemplação, do desejo ardoroso pela santidade, sendo invadida por uma tristeza, uma solidão, como
fosse uma ausência de Deus, como se Ele mesmo Se retirasse, temporariamente, da vida do homem, ao ponto
do homem suplicar por sua presença. Visto que este não mais sente os consolos de Deus, e, sim, apenas as
tentações do demônio, para alguns apresenta-se uma secura espiritual, a outros, uma perturbação espiritual.

Ao adentrar o mistério do deserto, o homem é alcançado pela Graça Divina, que o introduz no caminho para
tocar na verdade mais cristalina do amor de Deus: as marcas gloriosas da Paixão. Santo Ambrósio diz que
“nenhuma coisa é mais consoladora e gloriosa do que trazer consigo os sinais de Jesus Crucificado” [3]. Da
mesma forma, enfatiza Santo Afonso Maria de Ligório, ao declarar que “O trono da graça é a cruz, onde Jesus se
assenta para distribuir graças e misericórdia a quem recorre a Ele” [3]. Nisto, o homem é alcançado pela Paixão
de Cristo, e lança suas misérias na misericórdia do Crucificado, voltando a ser filho no Filho. Como escreve
São João de Ávila, que, alcançado por esta mesma Paixão, proclamou: “Senhor, quando Vos vejo na cruz, tudo
me convida a amar: o madeiro...e a não me esquecer mais de Vós” [3]. Viver o deserto impulsiona o homem a
sentir o extremo amor de Cristo: a Via Crucis.

Estar no deserto, embora possa provocar repúdio, devido à aridez e às verdades descobertas, é o que faz com
que a luz seja lançada sobre o homem. É como se o homem utilizasse uma “lupa divina”, que lhe permite
enxergar toda a sua condição humana. Sendo alcançado pela graça, o homem passa para esta batalha interior,
que constitui o constante combate das tentações do deserto. Ao mesmo tempo, o homem é despertado para a
realidade mais límpida: Deus combate por ele! Cabe ao homem colaborar com a graça, rezando, vigiando,
jejuando, lutando; em outras palavras, Deus aguarda a ação humana.

No deserto, o homem é formado, potencializado, liberto de seus pecados, no propósito de ser ordenado para
seu fim último, o céu, a eternidade. Com bem, dizia São Felipe Néri “Eu prefiro o paraíso”. Deixa-se recriar
pela Paixão de Cristo, mediante o processo de cruz, morte e ressurreição diárias. Como bem enfatizou São
Boaventura, “nada contribui tanto para a santidade das pessoas como a Paixão de Cristo” [3].

Nesta experiência, o homem é amadurecido e lapidado na via da união com Deus. Durante este percurso, o
homem toma consciência de suas desordens mais escondidas, suas fragilidades e suas inclinações mais
perversas. Como Santo Agostinho exclamava “o pecador não suporta a si mesmo; os pecados são a tristeza, e a
santidade a verdadeira alegria” [3]. Este despertar gera o arrependimento, a contrição perfeita, o desejo da
mudança interior e a alegria de retornar ao Essencial. Este homem vive a libertação de seus grilhões:
escravidão, dor, morte, arrefecimento, aridez, pois o pecado o havia deformado, ele, a mais bela criatura de

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Deus. Pelo sangue redentor, que é o selo da absolvição dos pecados, agora, o homem se torna digno de
acolher o Sumo Bem, que o torna capaz de recomeçar sempre, pois a luta no deserto é diária e por toda a
vida. Longe de nos desestimular, essa verdade nos impulsiona a viver de combate em combate, e, com Deus,
de vitória em vitória. Isso mostra o quanto o deserto é fértil, pois lá habita o Sagrado: não estamos sós.

Cristina Brilhante

Referências:

1. Ez 18,30-31
2. Frankl, Viktor, E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Ed. São Leopoldo, Editora
Sinodal: Petrópolis, Editora Vozes, 1991.
3. Santo Afonso de Ligório. A prática do amor a Jesus Cristo Editora: Santuário; Edição: 17ª.
4. Carta a Henry de Castries, 14 de agosto de 1901.
https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20051113_de-foucauld_po.html
5. https://www.qumran2.net/ritagli/index.php?ritaglio=8683
6. Salmo 136,16.

ANEXO II – Exortação Apostólica Pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia

Sua Santidade Papa João Paulo II ao Episcopado, ao Clero e aos Fiéis sobre a reconciliação e
a penitência na missão da Igreja hoje

Segunda parte – o amor maior do que o pecado.

Reconhecer o próprio pecado, ou melhor — indo mais ao fundo na consideração da própria personalidade —
reconhecer-se pecador, capaz de pecar e de ser induzido ao pecado, é o princípio indispensável do retorno a
Deus. É a experiência exemplar de Davi, que depois de «ter feito o mal aos olhos do Senhor», repreendido
pelo profeta Natan (58), exclama: «Reconheço a minha culpa, o meu pecado está sempre diante de mim.
Pequei contra Vós, só contra Vós; pratiquei aquilo que é mal aos vossos olhos» (59). De resto, Jesus põe na
boca e no coração do filho pródigo aquelas palavras significativas: «Pai, pequei contra o Céu e contra ti» (60).

Na realidade, reconciliar-se com Deus supõe e inclui o apartar-se, com lucidez e determinação, do pecado,
no qual se caiu. Supõe e inclui, portanto, o fazer penitência no sentido mais pleno do termo: arrepender-se,
manifestar o arrependimento, assumir a atitude concreta do arrependido, que é a de quem se coloca no
caminho do regresso ao Pai. Isto é uma lei geral, que cada um deve seguir na situação particular em que se
encontra. A exposição sobre o pecado e a conversão, de fato, não pode ser desenvolvida somente em termos
abstratos. (...)

Para exercitar adequadamente tal ministério penitencial, será também necessário avaliar, com os «olhos
iluminados» (63) pela fé, as consequências do pecado, que são motivo de divisão e de ruptura, não só no
interior de cada homem, mas também nos vários círculos em que ele vive: familiar, ambiental, profissional e
social, como tantas vezes se pode verificar pela experiência, em confirmação da página bíblica referente à
cidade de Babel e à sua torre (64).

Porque falhou o ambicioso projeto? Porque «se afadigaram em vão os construtores» (65)? Porque os homens
tinham colocado como sinal e garantia da desejada unidade unicamente uma obra das suas mãos, esquecidos
da ação do Senhor. Calcularam apenas com a dimensão horizontal do trabalho e da vida social, descurando a
dimensão vertical, pela qual se teriam encontrado radicados em Deus, seu Criador e Senhor, e voltados na
direção dEle como fim último do seu caminho.

Ora, pode dizer-se que o drama do homem de hoje, como o do homem de todos os tempos, consiste
precisamente no seu carácter babélico.

CAPÍTULO PRIMEIRO

17
O MISTÉRIO DO PECADO

14. Se lemos a página bíblica da cidade e da torre de Babel à luz da novidade evangélica e a confrontamos com
a outra página da queda dos primeiros pais, podemos tirar daí elementos preciosos para uma tomada de
consciência do mistério do pecado. Esta expressão, na qual se repercute o que São Paulo escreve acerca do
mistério da iniquidade (66) tem em vista fazer-nos perceber o que se esconde de obscuro e de inexplicável no
pecado. Este, sem dúvida, é obra da liberdade do homem; mas, por dentro da realidade desta experiência
humana, agem fatores, pelos quais ela se situa para além do humano, na zona limite onde a consciência, a
vontade e a sensibilidade do homem estão em contato com forças obscuras que, segundo São Paulo, agem no
mundo até ao ponto de quase o senhorear (67). (...)

Pecado pessoal e pecado social

16. O pecado, no sentido próprio e verdadeiro, é sempre um ato da pessoa, porque é um ato de um homem,
individualmente considerado, e não propriamente de um grupo ou de uma comunidade. Este homem pode
ser condicionado, pressionado, impelido por numerosos e poderosos fatores externos, como também pode
estar sujeito a tendências, taras e hábitos relacionados com a sua condição pessoal. Em não poucos casos, tais
fatores externos e internos podem atenuar, em maior ou menor grau, a sua liberdade e, consequentemente, a
sua responsabilidade e culpabilidade. No entanto, é uma verdade de fé, também confirmada pela nossa
experiência e pela nossa razão, que a pessoa humana é livre. E não se pode ignorar esta verdade, para
descarregar em realidades externas — as estruturas, os sistemas, os outros – o pecado de cada um. (...)

Como ato da pessoa, o pecado tem as suas primeiras e mais importantes consequências no próprio pecador;
ou seja, na relação dele com Deus, que é o próprio fundamento da vida humana; e também no seu espírito,
enfraquecendo-lhe a vontade e lhe obscurecendo a inteligência.

Chegados a este ponto, devemos perguntar-nos: a que realidade se referiam os que, na preparação do Sínodo
e no decorrer dos trabalhos sinodais, mencionaram não poucas vezes o pecado social? A realidade que está
subjacente a tal expressão e conceito faz com estes tenham, na verdade, diversos significados.

Falar de pecado social quer dizer, primeiro que tudo, reconhecer que, em virtude de uma solidariedade
humana tão misteriosa e imperceptível quanto real e concreta, o pecado de cada um repercute, de algum
modo, sobre os outros. Está nisto uma outra faceta daquela solidariedade que, a nível religioso, desenvolve-se
no profundo e magnífico mistério da Comunhão dos Santos, graças à qual se pode dizer que «cada alma que
se eleva, eleva o mundo» (72). A esta lei da elevação corresponde, infelizmente, a lei da descida, de tal modo
que se pode falar de uma comunhão no pecado, em razão da qual uma alma que se rebaixa pelo pecado
arrasta consigo a Igreja, e, de certa maneira, o mundo inteiro. Por outras palavras, não há nenhum pecado,
mesmo o mais íntimo e secreto, o mais estritamente individual, que diga respeito exclusivamente àquele que
o comete. Todo o pecado repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, em toda a
estrutura eclesial e em toda a família humana. Segundo esta primeira acepção, a cada pecado pode-se
atribuir, indiscutivelmente, o caráter de pecado social.

Há certos pecados, no entanto, que constituem, pelo seu próprio objeto, uma agressão direta ao próximo e —
mais exatamente, com base na linguagem evangélica — ao irmão. Estes são uma ofensa a Deus, porque
ofendem o próximo. A tais pecados costuma dar-se a qualificação de sociais; e é esta a segunda acepção do
termo. Neste sentido, é social o pecado contra o amor do próximo, que é tanto mais grave na Lei de Cristo,
porquanto está em jogo o segundo mandamento, que é «semelhante ao primeiro» (73). É igualmente social
todo o pecado cometido contra a justiça, quer nas relações de pessoa a pessoa, quer nas da pessoa com a
comunidade, quer, ainda, nas da comunidade com a pessoa. É social todo o pecado contra os direitos da
pessoa humana, a começar pelo direito à vida, incluindo a do nascituro, ou contra a integridade física de
alguém; todo o pecado contra a liberdade de outrem, especialmente contra a suprema liberdade de crer em
Deus e de O adorar; todo o pecado contra a dignidade e a honra do próximo. É social todo o pecado contra o
bem comum e contra as suas exigências, em toda a ampla esfera dos direitos e dos deveres dos cidadãos.
Pode ser social tanto o pecado de comissão como o de omissão: da parte dos dirigentes políticos, econômicos
e sindicais, por exemplo, que, embora podendo, não se empenhem com sabedoria no melhoramento ou na
transformação da sociedade, segundo as exigências e as possibilidades do momento histórico; como também
da parte dos trabalhadores, que faltem aos seus deveres de presença e de colaboração, para que as empresas
possam continuar a proporcionar o bem-estar a eles próprios, as suas famílias e à inteira sociedade.

18
A terceira acepção de pecado social diz respeito às relações entre as várias comunidades humanas. Estas
relações nem sempre estão em sintonia com a desígnio de Deus, que quer, no mundo, justiça, liberdade e paz
entre os indivíduos, os grupos, os povos. Assim, a luta de classes, seja quem for o seu responsável ou, por
vezes, o sistematizador, é um mal social. Assim, a contraposição obstinada dos blocos de Nações e duma
Nação contra a outra e de grupos contra outros grupos no seio da mesma Nação, é igualmente um mal social.
Em ambos os casos, pode fazer-se a pergunta, se é possível atribuir a alguém a responsabilidade moral de tais
males e, por conseguinte, o pecado. Ora, deve admitir-se que realidades e situações como as que acabam de
ser indicadas, ao generalizarem-se e até mesmo ao agigantarem-se como fatos sociais, quase sempre se
tornam anônimas, assim como são complexas e nem sempre identificáveis as suas causas. Por isso, ao falar-se
aqui de pecado social, a expressão tem um significado claramente analógico. Em todo o caso, falar de pecados
sociais, mesmo que seja em sentido analógico, não deve induzir ninguém a subestimar a responsabilidade
individual das pessoas; mas tem em vista constituir um alerta para as consciências de todos, a fim de que
cada um assuma as próprias responsabilidades, no sentido de ser séria e corajosamente modificadas essas
realidades nefastas e essas situações intoleráveis.

Dito isto, de maneira clara e inequívoca, como premissa, é preciso acrescentar imediatamente que não é
legítima nem aceitável uma acepção do pecado social, não obstante esteja muito em voga nos nossos dias
nalguns ambientes (74), a qual, ao opor, não sem ambiguidade, pecado social a pecado pessoal, mais ou menos
inconscientemente leva a diluir e quase a eliminar o pessoal, para admitir somente as culpas e
responsabilidades sociais. Segundo esta concepção, que revela com facilidade a sua derivação de ideologias e
sistemas não cristãos — hoje, talvez, já postos de parte por aqueles mesmos que a certa altura foram os seus
fautores oficiais — praticamente todos os pecados seriam sociais, no sentido de serem imputáveis não tanto à
consciência moral duma pessoa, quanto a uma entidade vaga e coletividade anônima, que poderia ser a
situação, o sistema, a sociedade, as estruturas, a instituição etc.

Pois bem: a Igreja, quando fala de situações de pecado ou denúncia, como pecados sociais certas situações ou
certos comportamentos coletivos de grupos sociais, mais ou menos vastos, ou até mesmo de Nações inteiras
e blocos de Nações, sabe e proclama que tais casos de pecado social são o fruto, a acumulação e a
concentração de muitos pecados pessoais. Trata-se dos pecados pessoalíssimos de quem gera ou favorece a
iniquidade ou a desfruta; de quem, podendo fazer alguma coisa para evitar, ou eliminar, ou pelo menos limitar
certos males sociais, deixa de o fazer por preguiça, por medo e temerosa conivência, por cumplicidade
disfarçada ou por indiferença; de quem procura escusas na pretensa impossibilidade de mudar o mundo; e,
ainda, de quem pretende esquivar-se ao cansaço e ao sacrifício, aduzindo razões especiosas de ordem
superior. As verdadeiras responsabilidades, portanto, são das pessoas.

Uma situação — e de igual modo uma instituição, uma estrutura, uma sociedade — não é, de per si, sujeito de
atos morais; por isso, não pode ser, em si mesma, boa ou má.

No fundo de cada situação de pecado, porém, encontram-se sempre pessoas pecadoras. Isto é tão verdadeiro
que, se tal situação vier a ser mudada, nos seus aspectos estruturais e institucionais, pela força da lei, ou —
como acontece com mais frequência, infelizmente — pela lei da força, a mudança revela-se, na realidade,
incompleta, de pouca duração e, no fim de contas, vã e ineficaz — para não dizer mesmo contraproducente —
se não se converterem as pessoas direta ou indiretamente responsáveis por essa mesma situação.

Pecado mortal e pecado venial

17. Mas há, no mistério do pecado, uma outra dimensão, sobre a qual a inteligência do homem nunca deixou
de meditar: a da sua gravidade. É um problema inevitável, ao qual a consciência cristã nunca se esquivou de
dar uma resposta: porque – e em que medida – o pecado é grave na ofensa que faz a Deus e na sua
repercussão sobre o homem? A Igreja tem uma doutrina própria a propósito disto e a reafirma nos seus
elementos essenciais, embora sabendo que nem sempre é fácil, no concreto das situações, fazer delimitações
nítidas de fronteiras.

Já no Antigo Testamento e para numerosos pecados — os cometidos com deliberação, (76) as várias formas de
impureza, (76) de idolatria, (77) de culto dos falsos deuses (78) —declarava-se que o réu devia ser «eliminado
do seu povo», o que podia mesmo significar ser condenado à morte. (79) A estes, contrapunham-se outros
pecados, sobretudo os cometidos por ignorância, que eram perdoados mediante um sacrifício. (80)

19
Com referência também a esses textos, a Igreja, já há séculos, fala constantemente em pecado mortal e
pecado venial. Mas, esta distinção e estes termos recebem luz, sobretudo do Novo Testamento, no qual se
encontram muitos textos que enumeram e reprovam, com expressões enérgicas, os pecados particularmente
merecedores de condenação, (81) além e na continuidade da confirmação dos do Decálogo, feita pelo próprio
Jesus. (82) Quereria referir-me aqui, especialmente, a duas páginas significativas e impressionantes.

Numa passagem da sua primeira Carta, São João fala de um pecado que leva à morte (pròs thanatos) em
contraposição a outro pecado que não leva à morte (mè pròs thanatos). (83) No conceito de morte, aqui, como
é óbvio, subentende-se [a] espiritual: trata-se da perda da verdadeira vida ou «vida eterna», que, para São
João, é o conhecimento do Pai e do Filho (84) e a comunhão e a intimidade com eles. O pecado que leva à
morte parece ser, nesta passagem, a negação do Filho, (85) ou o culto de falsas divindades. (86) Seja como for,
com essa distinção de conceitos, São João parece querer acentuar a incomensurável gravidade daquilo que é
a essência do pecado, a recusa de Deus, atuada sobretudo na apostasia e na idolatria; ou seja, no repúdio da fé
na verdade revelada e na equiparação de certas realidades criadas a Deus, erigindo-as em ídolos ou falsos
deuses. (87) Mas o Apóstolo, nessa mesma página, quer também pôr em evidência a certeza que provém para
o cristão do fato de ser «nascido de Deus» pela vinda do Filho: há nele uma força que o preserva da queda no
pecado; Deus guarda-o «e o Maligno não o toca». No caso de pecar por fraqueza ou ignorância, subsiste nele
a esperança da remissão, também pelo apoio que lhe advém da oração feita em conjunto pelos irmãos.

Noutra página do Novo Testamento, no Evangelho de São Mateus, (88) o próprio Jesus fala duma «blasfêmia
contra o Espírito Santo», que é «irremissível», porque, nas suas manifestações, ela aparece como uma
obstinada recusa de conversão ao amor do Pai das misericórdias.

Trata-se, é claro, de expressões extremas e radicais: rejeição de Deus, rejeição da sua graça e, portanto,
oposição ao próprio princípio da salvação, (89) pela qual o homem parece fechar, voluntariamente, a si mesmo
o caminho da remissão. Há que ter esperança, porém, que bem poucos queiram obstinar-se até ao fim nesta
atitude de rebelião ou até de desafio a Deus, o qual, aliás, no seu amor misericordioso é maior do que o nosso
coração, como nos ensina ainda São João. (90) Deus pode, de fato, vencer todas as nossas resistências
psicológicas e espirituais, de tal modo que — como escreve Santo Tomás de Aquino — «não há que desesperar
da salvação de ninguém nesta vida, consideradas a onipotência e a misericórdia de Deus». (91)

Mas, diante do problema do embate de uma vontade rebelde com Deus infinitamente justo, não se pode
deixar de nutrir sentimentos de salutar «temor e tremor», como sugere São Paulo; (92) e o aviso de Jesus
sobre o pecado que não é «remissível» confirma a existência de culpas que podem trazer para o pecador,
como pena, a «morte eterna».

À luz destes e de outros textos da Sagrada Escritura, os doutores e teólogos, os mestres espirituais e os
pastores de almas distinguiram os pecados em mortais e veniais. Santo Agostinho, entre outros, fala de letalia
ou mortífera criminal, opondo-os a venialia, levia ou quotidiana. (93) O significado que ele atribui a estes
qualificativos influirá posteriormente no Magistério da Igreja. Depois dele, seria Santo Tomás de Aquino a
formular, nos termos mais claros que foi possível, a doutrina que se tornou constante na Igreja.

Na definição e distinção dos pecados mortais e veniais, não podia estar ausente, para Santo Tomás e para a
Teologia do pecado que nele se foi inspirar, a referência bíblica e, portanto, o conceito da morte espiritual.
Segundo o Doutor Angélico, para viver espiritualmente, o homem deve permanecer em comunhão com o
princípio supremo da vida, que é Deus, enquanto fim último de todo o seu ser e do seu agir. Ora, o pecado é
uma desordem perpetrada pelo homem contra este princípio vital. E quando, «por meio do pecado, a alma
provoca uma desordem que vai até à separação do fim último — Deus — ao qual se encontra ligada pela
caridade, então há pecado mortal; de outro modo, todas as vezes que a desordem fica aquém da separação de
Deus, então o pecado é venial». (94) Por esta razão, o pecado venial não priva da graça santificante, da
amizade com Deus, da caridade, nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna; ao passo que tal privação
é exatamente consequência do pecado mortal.

Considerando o pecado, ademais, sob o aspecto da pena que implica, Santo Tomás, com outros doutores,
chama mortal ao pecado que, se não for remido, faz contrair uma pena eterna; venial, ao pecado que merece
uma simples pena temporal (quer dizer, parcial e expiável na terra ou no Purgatório). (...)

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Atingimos aqui o núcleo do ensino tradicional da Igreja, recordado muitas vezes e com vigor no decorrer do
recente Sínodo. Este, de fato, não só reafirmou tudo aquilo que foi proclamado no Concílio de Trento sobre a
existência e a natureza dos pecados mortais e veniais, (95) mas quis ainda lembrar que é pecado mortal
aquele que tem por objeto uma matéria grave e que, conjuntamente, é cometido com plena advertência e
consentimento deliberado. E impõe-se acrescentar — como se fez também no mesmo Sínodo — que alguns
pecados, quanto à sua matéria, são intrinsecamente graves e mortais. Quer dizer, há determinados atos que,
por si mesmos e em si mesmos, independentemente das circunstâncias, são sempre gravemente ilícitos, por
motivo do seu objeto. Esses atos, se forem praticados com suficiente advertência e liberdade, são sempre
culpa grave. (96)

Esta doutrina, fundamentada no Decálogo e na pregação do Antigo Testamento e retomada no kérigma dos
Apóstolos, e que faz parte do mais antigo ensino que a Igreja tem vindo a repetir até hoje, tem uma
comprovação cabal na experiência humana de todos os tempos. O homem sabe bem, por experiência, que, na
caminhada da fé e da justiça, que o leva ao conhecimento e ao amor de Deus nesta vida e à perfeita união com
Ele na eternidade, pode parar ou distrair-se, sem abandonar, no entanto, o rumo de Deus: neste caso há,
efetivamente, pecado venial. Este, porém, não deverá ser atenuado, como se, automaticamente, se tratasse de
algo que pudesse ser transcurado ou de um «pecado de pouca monta».

(...)

Com toda a tradição da Igreja, chamamos pecado mortal a este ato pelo qual um homem, com liberdade e
advertência, rejeita Deus, a sua lei, a aliança de amor que Deus lhe propõe, preferindo voltar-se para si
mesmo, para qualquer realidade criada e finita, para algo contrário ao querer divino (conversio ad creaturam).
Isto pode acontecer de modo direto e formal, como nos pecados de idolatria, apostasia e ateísmo; ou de modo
equivalente, como em todas as desobediências aos mandamentos de Deus em matéria grave. O homem sente
que esta desobediência a Deus corta a ligação com o seu princípio vital: é um pecado mortal, ou seja, um ato
que ofende gravemente a Deus e acaba por se voltar contra o próprio homem, com uma força obscura e
potente de destruição. (...)

De igual modo, há-de evitar-se reduzir o pecado mortal a um ato de «opção fundamental» contra Deus —
como hoje em dia se costuma dizer — entendendo com isso um desprezo explícito e formal de Deus e do
próximo. Dá-se, efetivamente, o pecado mortal também quando o homem, sabendo e querendo, por qualquer
motivo, escolhe alguma coisa gravemente desordenada. Com efeito, numa escolha assim já está incluído um
desprezo do preceito divino, uma rejeição do amor de Deus para com a humanidade e para com toda a
criação: o homem afasta-se a si próprio de Deus e perde a caridade. A orientação fundamental pode, pois, ser
radicalmente modificada por atos particulares. Podem, sem dúvida, verificar-se situações muito complexas e
obscuras, sob o ponto de vista psicológico, que influem na imputabilidade subjetiva do pecador. Mas, da
consideração da esfera psicológica, não se pode passar para a constituição de uma categoria teológica, como
é precisamente a da «opção fundamental», entendendo-a de tal modo que, no plano objetivo, mudasse ou
pusesse em dúvida a concepção tradicional do pecado mortal.

Se bem que sejam de apreciar todas as tentativas sinceras e prudentes de esclarecer o mistério psicológico e
teológico do pecado, a Igreja tem, no entanto, o dever de recordar a todos os estudiosos desta matéria: a
necessidade, por um lado, de ser fiéis à Palavra de Deus, que nos elucida também sobre o pecado; e, por
outro, o risco que se corre de contribuir para atenuar ainda mais, no mundo contemporâneo, o sentido do
pecado.

Perda do sentido do pecado

18. A partir do Evangelho lido na comunhão eclesial, a consciência cristã adquiriu, no decurso das gerações,
uma fina sensibilidade e uma perspicaz percepção dos fermentos de morte que estão contidos no pecado;
sensibilidade e capacidade de percepção, também para individuar tais fermentos, nas mil formas assumidas
pelo pecado, nos mil carizes com que ele se apresenta. É a isto que se costuma chamar o sentido do pecado.

Este sentido tem a sua raiz na consciência moral do homem e é como que o seu termômetro. Anda ligado ao
sentido de Deus, uma vez que deriva da consciência da relação que o homem tem com o mesmo Deus, como
seu Criador, Senhor e Pai. E, assim, como não se pode apagar completamente o sentido de Deus nem
extinguir a consciência, também não se dissipa nunca, inteiramente, o sentido do pecado. (...)

21
O sentido do pecado decai facilmente, ainda, sob a influência de uma ética que deriva dum certo relativismo
historicista. Pode tratar-se da ética que relativiza a norma moral, negando o seu valor absoluto e
incondicionado e negando, por consequência, que possam existir atos intrinsecamente ilícitos,
independentemente das circunstâncias em que são realizados pelo sujeito. Trata-se de uma verdadeira «
reviravolta e derrocada dos valores morais »; e « o problema não é tanto de ignorância da ética cristã », « mas
sobretudo do sentido dos fundamentos e critérios das atitudes morais ». (103) O efeito desta reviravolta ética
é sempre, também, o de mitigar a tal ponto a noção de pecado, que se acaba quase por afirmar que o pecado
existe, mas não se sabe quem o comete. (...)

A perda do sentido do pecado, portanto, é uma forma ou um fruto da negação de Deus: não só da negação
ateísta, mas também da negação secularista. Se o pecado é a interrupção da relação filial com Deus para levar
a própria existência fora da obediência a Ele devida, então, pecar não é só negar Deus; pecar é também viver
como se Ele não existisse, bani-lO do próprio quotidiano. (...)

Restabelecer o justo sentido do pecado é a primeira forma de combater a grave crise espiritual que impende
sobre o homem do nosso tempo. Mas o sentido do pecado só se restabelecerá com uma clara chamada a
atenção para os inderrogáveis princípios de razão e de fé, que a doutrina moral da Igreja sempre sustentou.

É lícito esperar que, sobretudo no mundo cristão eclesial, reaflore um salutar sentido do pecado. A isso
levarão uma boa catequese, iluminada pela teologia bíblica da Aliança, a escuta atenta e o acolhimento
confiante do Magistério da Igreja, que não cessa de proporcionar luz às consciências, e uma prática cada vez
mais cuidada do Sacramento da Penitência.

22
4ª Semana: Romper definitivamente com o pecado
“O arrependimento perfeito é a graça das graças.
O arrependimento perfeito prepara-nos para
receber todas as outras graças. Por isso, é uma
graça a ser suplicada” (Serva de Deus, Marthe
Robin) [Revista Escuta 2019].

OBJETIVO

Levar a uma maior consciência da raiz do pecado que nos escraviza. No desejo de nada ofender a Deus, assim
como São José, modelo de obediência.

OUVIR

RECURSO: -Pregação em vídeo (15/03)

-Missa Solene a São José (19/03)

-Momento de Despojamento (19/03)

*No dia da oração comunitária, 19 de Março, vamos celebrar a Missa Votiva a São José. Neste dia especial,
iremos envolver toda a missão.

Além disso, contaremos com a motivação para o despojamento, tanto material como espiritual, ao longo da
semana, que será realizado no final da Missa Solene.

REZAR

Oração pessoal

Teremos, para a oração pessoal, a Mensagem de sua Santidade Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012
(Anexo I) que nos levará ao cerne da vida cristã: o amor, que se apresenta na vivência das virtudes, doação,
responsabilidade pelo outro, reciprocidade e santidade pessoal. Para melhor usufruir deste texto,
aconselhamos que seja dividido em duas partes, para ser lido no decorrer da semana. Que esta mensagem
desperte nossa alma para amar e viver uma boa e profunda preparação para a Páscoa.

Em vista da preparação para a Celebração do Dia de São José, sugerimos a leitura da Carta Apostólica Patris
Corde do Papa Francisco por ocasião do 150º Aniversário da Declaração de São José como Padroeiro
Universal da Igreja. A esse respeito, a carta nos falará sobre a vida e o papel de São José na história da
salvação. Segue link da Carta:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20201208_patris-
corde.html

Estudo bíblico

Leiamos, em oração, nesta semana, a leitura do Primeiro Livro de Samuel 16,1b.6-7.10-13a e nos outros dias
rezar com a liturgia diária.

Leitura complementar

Leremos neste Tempo de Quaresma a Revista Escuta nº06, Tempo Novo.

23
VIVER

Reginald Garrigou-Lagrange nos ensina que “A virtude da penitência não leva apenas a detestar o pecado
enquanto ofensa a Deus, mas também à reparação e, para esta, não basta a cessação do pecado; é preciso uma
satisfação oferecida à justiça divina”. Neste sentido, inseridos na dimensão do arrependimento perfeito nestes
dias, tomemos a reconciliação consigo mesmo, com os irmãos e com Deus como grande resposta do tempo
novo que inicia dentro de nós. Busquemos correspondermos com a obra divina em nossas vidas, contando a
intercessão de São José, aquele que sempre buscou agradar a Deus e jamais ofendê-Lo.

CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● Nesta quarta semana da Campanha Integrada da Quaresma viveremos juntos a


celebração da Solenidade de São José por missas, celebrações e eventos votivos. Além de
vivermos ações de penitência: jejum, ascese, confissão, como meio para romper com o
pecado e abraçar a graça do Senhorio de Cristo em nossas vidas.

● Rezar e escolher um despojamento para ser entregue no dia da Missa Solene de São José.

● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma- 4ª Semana


https://www.youtube.com/watch?v=RVh1ccx8RD8&feature=youtu.be

ANEXO I – Mensagem de sua Santidade Papa Bento XVI para a Quaresma de 2012,
Vaticano, 3 de novembro de 2011.

«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimular ao amor e às boas obras» (Hb 10,24)

Irmãos e irmãs!

A Quaresma oferece-nos a oportunidade de refletir, mais uma vez, sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com
efeito, este é um tempo propício para renovar, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso
caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio
e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.

Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus:
«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimular ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece
inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo
Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada
segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximar do Senhor «com um coração sincero, com a
plena segurança da fé» (v. 22), de conservar firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa
solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem
em questão, afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos
encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão
em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e

24
sempre atual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade
pessoal.

1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.

O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar
bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho,
quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e,
todavia, são objeto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12,24), e a «dar-se conta» da trave que
têm na própria vista, antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6,41). Encontramos o
referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3,1)
como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte, o verbo, que aparece na abertura da nossa
exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se
mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a
indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera
privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro.
Também hoje Deus nos pede para ser o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4,9), para estabelecer relações
caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande
mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é
criatura e filho de Deus: o fato de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé, deve
levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar
de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia
e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo atual sofre sobretudo de falta de
fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre
os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc.
Populorum progressio, 66).

A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e
espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário
reafirmar, com vigor, que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118,68). O bem é
aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo
próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem;
interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o
perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos
sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos
desta situação, que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o
levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc
10,30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro,
que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16,19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar
atenção», de olhar com amor e compaixão. O que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo

25
irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos
interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o
nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do
pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente,
revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres,
porém o ímpio não o compreende» (Prov 29,7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram»
(Mt 5,4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio.
O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de
bem-aventurança.

O fato de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo
recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correção fraterna, tendo em vista a salvação
eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa ao bem físico e
material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos
primeiros tempos, não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais
se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma, tendo em vista o seu destino
derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele
tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9,8-9). O próprio Cristo
manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18,15). O verbo usado para exprimir a correção
fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma
geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5,11). A tradição da Igreja enumera entre as obras
espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor
cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por
respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios
irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem.
Entretanto, a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre
movida pelo amor e pela misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo
Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa
pessoa com espírito de mansidão, e tu, olha para ti próprio, não estejas, também tu, a ser tentado» (Gl 6,1).
Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correção
fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24,16) – diz a
Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1,8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e
deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais retamente
o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que
discerne e perdoa (cf. Lc 22,61), como fez, e faz, Deus, com cada um de nós.

2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.

O fato de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à
dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em

26
nome da liberdade individual. Uma sociedade, como a atual, pode tornar-se surda quer aos sofrimentos
físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo
Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14,19), favorecendo o «próximo no bem,
em ordem à construção da comunidade» (Rm 15,2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número,
a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10,33). Esta recíproca correção e exortação, em espírito de humildade e
de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.

Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos
outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida e a sua salvação têm
a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa
existência está ligada à dos outros, quer no bem, quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor
possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a
comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se
contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os
membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12,25) – afirma São Paulo –, porque
somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal,
juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta
pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também
atenção aos outros, na reciprocidade, saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer, com eles,
pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um
cristão vislumbra, no outro, a ação do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai Celeste
(cf. Mt 5,16).

3. «Para nos estimular ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.

Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10,24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o
caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e
fecundo (cf. 1 Cor 12,31-13,13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor
efetivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4,18), à espera de viver o
dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as
boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade
de Cristo (cf. Ef 4,13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a
estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.

Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os
talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25,24-28). Todos recebemos riquezas
espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação
pessoal (cf. Lc 12,21; 1 Tm 6,18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua.
Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tender à «medida alta da vida cristã» (João
Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a

27
bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo
de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12,10).

Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao
Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Hb 6,10). Este
apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma
Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo
a todos a Bênção Apostólica.

5ª Semana: Arrependei-vos e sede fecundos

28
“Uma das fontes do arrependimento sincero é,
diante dos nossos pecados, não colocar a culpa
fora de nós, inocentar a Deus e, nEle, também aos
outros. E assumir a responsabilidade e a
culpabilidade do nosso pecado” [Revista Escuta
2019].

OBJETIVO

Reconhecer o pecado contra a vivência do Carisma, acerca dos conselhos evangélicos e do tripé da vocação.

OUVIR

RECURSO:

– Atividade em grupo

-Vídeos de testemunhos

Atividade em Grupos:

Tripé da Vocação 1. Atos que ofendem a Deus 2. Propósitos (que remediam as faltas)

Ex 2: Ter como primeiro objetivo a


intimidade com Deus por meio da
oração pessoal e comunitária, do
estudo bíblico, da formação,
sobretudo na Eucaristia diária,
Ex 1: Agir com infidelidade
alimento da nossa alma; Abrir-se mais
na oração pessoal; fazer a
e mais à graça da contemplação;
1. Contemplação OP e o EB na correria, às
Determinar-se pela OP e EB
vezes, chega a ser apenas
estipulando um horário fixo no dia
uma hora...
que o ajude a ser fiel. Suplicar ao
Espírito Santo que inflame o coração,
no desejo de renovar o amor esponsal,
perseverar na intimidade, na fé
fecunda...

Exemplo 1

Exemplo 2

Exemplo 3

Exemplo 4

29
Tripé da Vocação 1. Atos que ofendem a Deus 2. Propósitos (que remediam as faltas)

Ex 2: Buscar reconciliar-me com meus


irmãos, pois preciso sair de mim e ir à
procura deles. Confessar e ter uma
Ex 1: Fiz muitas intrigas nova atitude para com o irmão na
com meus irmãos... busca de combater todo pecado.
2. Unidade
Decidir amar os menos amáveis, viver
a coerência do Evangelho; preciso me
arrepender verdadeiramente; preciso
amar e sofrer com meu irmão, ao invés
de causar conflito...

Exemplo 1

Exemplo 2

Exemplo 3

Exemplo 4

Tripé da Vocação 1. Atos que ofendem a Deus 2. Propósitos (que remediam as faltas)

Ex 2 – Preciso ter tomada de decisão;


para isso preciso ir ao encontro de
cada ovelha: ligando, enviando
mensagens, visitando em sua casa,
reconciliando, se preciso for,
cuidando, trazer para perto, trazê-la
Ex 1 – Fui muito negligente
de volta para o grupo/célula; Buscar
3. Evangelização com a vida das minhas
viver a paternidade e a maternidade
ovelhas...
espirituais; ser ministro e discípulos
da paz onde estiver; Cair em si que
minha vida é para ser oferta, remédio,
alimento para todos que Deus me
confia; Preciso educar na fé minhas
ovelhas, formá-los para santidade; não

30
desistir das minhas ovelhas, ao
contrário preciso ter um olhar pascal
sobre elas; cabe a mim ser
testemunha viva...

Exemplo 1

Exemplo 2

Exemplo 3

Exemplo 4

REZAR

Oração pessoal

Rezaremos, nesta semana, com todas as anotações das formações anteriores e as moções que o próprio Deus
vem apontando, além das riquezas dos textos sugeridos para oração pessoal. Nesta semana, teremos mais um
texto do Livro – As três idades da vida interior – Reginald Garrigou-Lagrange – A confissão sacramental
(ANEXO II) que nos enriquecerá significativamente no caminho de arrependimento, de um fecundo exame de
consciência e da busca da realização do Sacramento da Reconciliação.

Estudo bíblico

Rezar dois dias na semana com o Evangelho de Lucas 16,19-31 e nos outros dias com a liturgia diária.

Leitura complementar

Leremos neste Tempo de Quaresma a Revista Escuta nº06, Tempo Novo.

VIVER

Nesta semana, dedique-se em concretizar as obras de misericórdia (corporais e espirituais), na certeza que o
Espírito Santo o assiste e capacita neste ato de amor para com Deus e para com os irmãos. Procure escolher,
obras de misericórdias (-Espirituais: instruir os ignorantes; aconselhar os duvidosos; advertir os pecadores;
suportar pacientemente os erros; perdoar as ofensas de bom grado; confortar os aflitos; rezar para os vivos e
para os mortos. - Corporais: alimentar os famintos; dar de beber aos que têm sede; vestir os despidos; abrigar
os sem abrigo; visitar os doentes; visitar os cativos; sepultar os mortos) que fazem parte do nosso chamado à
vida missionária. Contemos com a intercessão de São José, por ser nosso modelo de docilidade, pobreza e
abandono à Providência Divina.

31
CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● A Campanha Integrada da Quaresma na quinta semana convida-nos a viver as obras de


misericórdia, depois de viver a graça do despojamento e juntamente com a Promoção
Humana poderemos vivê-lo em favor dos pobres e com eles.

● Nesta semana o despojamento será entregue aos pobres, pelo Formador Comunitário
juntamente com o Cap da Missão.

● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma- 5ª


Semana https://www.youtube.com/watch?v=7sYYHA8Bflc&feature=youtu.be

ANEXO I – Trecho extraído do Livro – As três idades da vida interior – Reginald


Garrigou-Lagrange – “O exame de consciência”.

O exame de consciência1

A enumeração de todos esses tristes frutos do amor desregrado por si mesmo deve levar-nos a fazer um sério
exame de consciência, e mostrar-nos que o campo da mortificação é bem amplo, se queremos viver
profundamente a verdadeira vida. Esse exame de consciência, os quietistas o declaram inútil, porque, dizem
eles, o coração humano é inescrutável; e o consideram até mesmo prejudicial, como toda reflexão sobre si
mesmo, que impediria de pensar em Deus na fé nua.

Trata-se de aberrações às quais respondemos com facilidade: exatamente porque a verdadeira natureza de
nossos sentimentos é difícil de ser conhecida, é preciso examiná-los bem. E esse exame, longe de desviar
nosso pensamento de Deus, a ele nos reconduz constantemente. Também é preciso pedir a luz divina para
ver nossa alma um pouco como o próprio Deus a vê, para ver nosso dia, ou a semana que se acaba, um pouco
como ela está escrita no livro da vida, algo como nós a veremos no julgamento final. Para isso, devemos
buscar, a cada noite, com humildade e contrição, as faltas que cometemos em pensamentos, palavras, ações e
omissões.

Por outro lado, nesse exame, convém evitar o excesso contrário ao dos quietistas, isto é, a procura minuciosa
das menores faltas, tomadas em sua materialidade, busca que conduziria, às vezes, ao escrúpulo ou ao
esquecimento de coisas importantes. Trata-se menos de visar à enumeração completa de faltas veniais do
que ver e acusar sinceramente o princípio de onde elas derivam, geralmente, para nós. Para curar uma
erupção, não se cuida separadamente de cada caroço que aparece na superfície da pele; trata-se de purificar
o sangue. Enfim, no exame de consciência, a alma não deve deter-se na consideração de si mesma e deixar de
olhar para Deus. Ela deve perguntar-se, ao contrário, olhando para Deus: como o Senhor deve avaliar
pessoalmente o meu dia, ou semana que acabo de passar? Em que eu fui de mim mesmo? Em que O busquei
sinceramente? Em que procurei por mim mesmo? Então, sem agitação, a alma se julga, de algum modo, a
partir do alto, na luz de Deus, um pouco como ela se julgará no último dia. Assim se vê a grandeza e as santas
exigências de consciência cristã, bem superior à de um simples filósofo.

Mas, como diz Santa Catarina de Sena ao falar dessas santas exigências, não separemos a consideração das
nossas faltas da consideração da infinita misericórdia. Vejamos, ao contrário, nossa fragilidade e nossa miséria
sob a irradiação da infinita bondade sempre ao nosso alcance. Então, o exame assim feito, longe de nos
desencorajar, aumentará nossa confiança em Deus.

1
Garrigou-Lagrange, Reginald. As três idades da vida interior – Tomo I.

32
A visão de nossas faltas mostra-nos também, por contraste, o valor da virtude. Já se disse, com muito de
verdade: o valor da justiça se mostra para nós, sobretudo, pela dor que a injustiça nos causa. Seria preciso que
a visão da injustiça cometida por nós e o arrependimento de tê-la cometido fizessem nascer em nós “a fome e
a sede de justiça”. Seria preciso que a feiura da sensualidade nos revelasse, por contraste, todo o valor da
pureza; que a desordem da cólera e da inveja nos fizesse sentir o elevado valor da verdadeira mansidão e da
verdadeira caridade; que a visão das consequências desastrosas da preguiça espiritual reanimasse em nós o
desejo da generosidade e da alegria espiritual; seria preciso que a aberração do orgulho nos fizesse sentir, de
algum modo, a sabedoria e toda a grandeza da verdadeira humildade. Por todas estas razões, umas das
melhores maneiras de fazer seu exame de consciência consistem em fazê-lo à luz destas palavras do Salvador:
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”.

Peçamos ao Senhor que nos inspire o santo ódio ao pecado, que afasta de nós a infinita bondade de Deus, de
quem temos recebido os maiores bens, e que ainda nos promete bens mais preciosos se formos fiéis. O santo
ódio ao pecado é apenas, de algum modo, o contrário do amor de Deus. É impossível amar fortemente a
verdade sem detestar a mentira, amar intensamente o bem e o soberano Bem, que é Deus, sem detestar
aquilo que nos desvia de Deus. Existe no coração dos santos mais humildes e mais mansos um santo ódio do
mal, que é tão forte seu amor a Deus. No Coração Imaculado de Maria, como consequência de sua ardente
caridade, existe um ódio abrasado do mal que a torna terrível para o demônio. E este, diz Beato Grignion de
Monfort, sofre mais com a humildade e o amor de Maria, do que por ser imediatamente esmagado pela
onipotência divina. Peçamos ao Coração Imaculado de Maria e ao Sagrado Coração de Jesus, fornalha ardente
de caridade, esse santo ódio do orgulho, da preguiça espiritual, da inveja, da cólera injusta, da hostilidade, da
sensualidade, para que verdadeiramente cresça em nós, sempre mais, a verdadeira caridade, o amor a Deus e
às almas em Deus.

O meio de evitar o orgulho é pensar frequentemente nas humilhações do Salvador e pedir a Deus a virtude da
humildade. Para reprimir a inveja, rezemos pelo próximo, desejando-lhe o mesmo bem que a nós mesmos.
Aprendamos também a reprimir prontamente os movimentos de cólera, afastando-nos dos objetos que a ela
nos levam e acostumando-nos a agir e a falar com mansidão.

Aí está uma mortificação absolutamente indispensável. Para progredir seriamente rumo à perfeição e à
santidade, pensemos nas mortificações dos santos, ou mesmo, sem ir até os exemplos dos santos, pensemos
naqueles que nos dão os servos de Deus, como o Pe. Lacordaire, que, temendo deixar-se levar pelo orgulho
depois de seus sucessos, recorria a grandes mortificações. Certos dias, pregando em Notre Dame, ele sentia
que uma grande corrente de graças passava por sua alma para converter seus ouvintes, e que, se ele se
deixasse levar pelo orgulho, essa corrente de graça podia ser imediatamente interrompida e sua pregação
tornar-se completamente estéril. Pensemos, então, que também nós temos de salvar nossa alma, fazer o bem
à nossa volta, um bem que dure eternamente; pensemos que nós devemos trabalhar o máximo possível pela
salvação de outras almas, e que devemos empregar para isso os meios que o Salvador nos indicou: a morte
progressiva ao pecado pelo progresso das virtudes e, sobretudo, do amor a Deus.

ANEXO II – Trecho extraído do Livro – As três idades da vida interior – Reginald


Garrigou-Lagrange – “A confissão sacramental”.

A confissão sacramental2

“Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados” (Jo 20,23). Nós vimos
que a purificação da alma é um efeito da mortificação dos sentidos, da vontade própria e do julgamento
próprio; veremos também que ela é um efeito da oração. Mas Deus, em seu amor por nós, colocou a nosso
alcance outros meios fáceis e poderosos, os sacramentos, que operam por si mesmos, e produzem na alma
que se preparou por atos de fé e de amor, uma graça muito mais abundante que aquela que seria obtida ao
fazer os mesmos atos fora do sacramento. Entretanto, se os sacramentos, por si mesmos, pela virtude divina
que eles contêm, possuem uma eficácia própria, a medida de graça produzida por eles varia segundo as

2
Garrigou-Lagrange, Reginald. As três idades da vida interior – Tomo I.

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disposições daqueles que o recebem; quanto mais perfeitas são estas, mais abundante é a graça, e as
diferenças entre diversas pessoas que recebem o mesmo sacramento são muito maiores do que se imagina
habitualmente.

O sacramento da penitência é um dos meios mais preciosos de santificação; também é preciso recebê-lo bem
e evitar a rotina, que iria diminuir consideravelmente o seu efeito. Importa, pois, ver como se preparar para a
confissão sacramental, como fazê-la bem e quais são os seus frutos. Como se preparar para a confissão. Para
se preparar dignamente, é necessário examinar-se a respeito de suas faltas e excitar-se à contrição. O exame
de consciência exige tanto mais cuidado se o penitente cai em faltas mais numerosas e conhece pouco seu
estado interior. Entretanto, aqueles que examinam a cada dia suas principais faltas não encontram nenhuma
dificuldade em conhecer-se bem e, assim, são estimulados a fazer sérios esforços para se corrigir. Quanto às
pessoas espirituais, que se confessam frequentemente e que têm o cuidado de se preservar dos pecados
veniais deliberados, o exame de consciência, como observa Santo Afonso, não exige muito tempo. Convém
dizer a si mesmo: que coisas fiz nesta semana que Deus não possa escrever no livro da vida? Em que terei sido
de Deus, em que terei sido de mim mesmo, cedendo ao meu temperamento, ao meu egoísmo, ao meu
orgulho? Ao considerar assim as coisas pelo alto, e pedindo sua luz, obtém-se muitas vezes a graça de um
olhar penetrante sobre sua própria vida. Aqui, é preciso distinguir os pecados graves, os pecados veniais mais
ou menos deliberados e as faltas por fragilidade.

As faltas mortais, se uma alma que tende à perfeição tem a infelicidade de cometê-las em um momento de
fraqueza, é preciso acusá-las com toda sinceridade, de maneira clara, desde o início da confissão, sem tentar
fazê-las passar despercebidas na multidão dos pecados veniais; é preciso indicar a quantidade, a espécie, a
causa e, sobretudo, ter disso uma profunda contrição, com o firme propósito de, futuramente, evitar não só
as faltas sem si mesmas, mas as ocasiões e as causas. É necessário, também, conservar, em seu coração, o
desejo sincero de reparar o mal cometido por uma vida austera e um amor generoso. Devemos lembrar como
o apóstolo São Pedro chorou sua negação, humilhou-se profundamente, agradeceu a infinita misericórdia e
continuou sua caminhada até ao martírio.

Uma falta grave isolada, quando imediatamente confessada e reparada, não deixa marcas na alma, que pode
desde já retomar sua ascensão, ali mesmo onde caiu, sem ter de refazer todo o caminho já percorrido. Assim,
aquele que tropeça a meia encosta, em uma escalada, quando se reerguer prontamente, pode continuar sua
marcha no ponto em que havia chegado. Quanto às faltas veniais, cometidas com propósito deliberado, elas
são um sério obstáculo à perfeição, sobretudo quando são frequentes e estamos apegados a elas. São
verdadeiras doenças que enfraquecem a alma cristã. “Não deixe o pecado envelhecer em ti”, dizia o Senhor a
Santa Gertrudes.

O pecado venial plenamente deliberado, quando não é rejeitado, é como um veneno que não será vomitado e
que, sem provocar logo a morte, agiria lentamente sobre o organismo. É preciso, por exemplo, prestar bem
atenção para não guardar voluntariamente pequenos rancores, ou o apego ao próprio julgamento, à sua
vontade própria, o hábito do juízo temerário, da maledicência das afeições naturais perigosas, que seriam um
laço, tirando-nos a liberdade do espírito e todo impulso para Deus. Quando se recusa, deliberadamente, ao
Senhor, esses sacrifícios manifestamente pedidos, não se pode esperar deles as graças que conduzem à
perfeição. É preciso, então, acusar-se com clareza das faltas veniais plenamente deliberadas contra a
caridade, a humildade, a virtude da religião etc., sobretudo aquelas que mais nos humilham; e se deve buscar
sua causa, com a firme resolução de evitá-las. De outro modo, é evidente, já não há mais tendência real e
efetiva à perfeição. Este é um ponto capital. Existem outras faltas veniais, parcialmente deliberadas, que são
cometidas com menos reflexão e onde entra uma parte de surpresa e de rapidez, mas às quais, no entanto, a
vontade adere com certa complacência. É preciso vigiar neste ponto, sobretudo se elas voltam com
frequência, mostrando que a alma combate muito molemente e não está decidida a libertar-se de todos os
obstáculos.

Quanto às faltas de fragilidade, são aquelas que escapam à fraqueza humana; aí a vontade tem apenas uma
pequena participação; ela se dobra por um breve momento, mas logo a seguir desaprova sua fraqueza. As
faltas desta espécie não podem ser evitadas completamente ou de maneira contínua, mas é preciso diminuir o
seu número. Elas não são um sério obstáculo à perfeição, porque são prontamente reparadas. É bom,
entretanto, submetê-las à influência do sacramento da penitência, a pureza da alma se tornará mais
completa. Como deve ser a confissão? Ela deve ser feita com grande espírito de fé, lembrando-se de que o
confessor ocupa o lugar de Nosso Senhor: ele é um juiz, pois este sacramento é administrado à maneira de

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um julgamento: Ego te absolvo ...; mas ele é também um pai espiritual e um médico, que indica, com
benevolência, os remédios, se nós lhe expomos bem aquilo que sofremos. Não basta, então, uma acusação
vaga que não esclareceria em nada o confessor, como esta: tive distrações em minhas orações. Convém dizer:
estive especialmente distraído por negligência em tal exercício de piedade, por o ter começado mal, sem
recolhimento, ou por não ter combatido distrações provenientes de um pequeno rancor, ou por uma afeição
excessivamente sensível, ou pelo estudo. Convém também lembrar as resoluções tomadas e dizer se faltamos
a elas mais ou menos. Assim se evitará a rotina e a negligência. É preciso sobretudo excitar-se à contrição e
ao bom propósito, que é sua consequência necessária. Para isto, é preciso pensar nos verdadeiros motivos da
contrição, do lado de Deus e do nosso. É preciso pedir a graça de ver melhor que o pecado, por leve que seja,
é uma ofensa a Deus, uma resistência à sua vontade, resistência que certamente o desagrada; e que ele é uma
ingratidão para com o mais amoroso dos pais, ingratidão tanto maior porque nós recebemos muito, e pela
qual recusamos a Deus uma “alegria acidental” que Lhe deveríamos dar. Nossas faltas tornaram mais amargo o
cálice que foi apresentado a Nosso Senhor no Getsêmani; Ele poderia dizer-nos estas palavras do Salmo 54,13:
“Não é um inimigo que me ultraja, eu o suportaria...; mas tu eras meu outro eu, meu confidente e meu amigo,
vivíamos juntos em uma doce intimidade”. É bem este o motivo da contrição do lado de Deus. Existe outro de
nosso lado: o pecado venial, sem diminuir em si a caridade, tira-lhe o fervor, sua liberdade de ação, sua
irradiação. Ele torna a amizade divina menos íntima e menos ativa. Perder a intimidade de um santo, já teria
muito; mas perder a intimidade do Salvador, é ainda mais.

Além disso, o pecado venial, sobretudo se deliberado, faz renascerem as más inclinações e nos dispõe assim
ao pecado mortal; e, em certas matérias, a atração pelo prazer pode levar a ultrapassar bem rapidamente o
limite que separa o pecado venial do pecado mortal. Aí está o outro motivo de sincera contrição. Praticada
deste modo, a confissão, sobretudo pela virtude da absolvição e pelos conselhos do sacerdote, será um
poderoso meio de purificação e de progresso. Um exemplo entre outros é o da Beata Ângela de Foligno. Ela
mesma conta, no início do livro de suas visões e instruções, que, quando tomou, pela primeira vez,
conhecimento de seus pecados, teve um grande temor, tremeu ao pensamento de sua condenação, chorou
muito, ruborizou-se pela primeira vez, recuou diante da confissão e compareceu assim à santa mesa: “Com
meus pecados”, diz ela, “eu recebi o corpo de Jesus Cristo. Por isso, minha consciência não deixava de me
repreender. Rezei a São Francisco para que me fizesse achar o confessor de que necessitava, alguém que me
pudesse compreender e a quem eu pudesse falar... De manhã, encontrei, na igreja de São Feliciano, um frei
que pregava. Depois do sermão, resolvi confessar-me com ele. Confessei-me plenamente, recebi a absolvição.
Eu não senti o amor, a semente, a amargura, a vergonha e a dor. Perseverei na penitência que me foi imposta;
eu tentava satisfazer a justiça, vazia de consolação, cheia de dor. “Depois, lancei um primeiro olhar sobre a
divina misericórdia; fiz conhecimento com aquela que me havia retirado do inferno, com aquela que me fizera
a graça que estou narrando. Recebi sua primeira iluminação; a dor e as lágrimas redobraram. Eu me entreguei
a uma severa penitência... “Assim iluminada, só percebi defeitos em mim; vi com plena certeza que eu havia
merecido o inferno... Não recebia outra consolação senão a de poder chorar. Uma iluminação me deu a visão
de meus pecados em sua profundidade. Aí eu compreendi que, ao ofender o Criador, eu havia ofendido todas
as criaturas... Pela Santíssima Virgem e todos os santos, eu invocava a misericórdia de Deus e, sentindo-me
morta, suplicava a vida de joelhos... Subitamente, tive a impressão de sentir sobre mim a piedade de todas as
criaturas e a piedade de todos os santos. Então, recebi um dom: era um grande fogo de amor e o poder de
rezar como jamais havia rezado...

Recebi um profundo conhecimento sobre a maneira como Jesus Cristo morreu pelos meus pecados. Tive um
sentimento muito cruel sobre meus próprios pecados, e me apercebi de que o autor da crucifixão era eu. Mas
eu já não duvidava da imensidade do benefício da cruz... “Depois, o Senhor, em sua piedade, apareceu-me
muitas vezes, no sono ou acordada, crucificado: ‘Olha, dizia ele, olha minhas chagas’; ele contava os golpes da
flagelação e me dizia: ‘É para ti, para ti, para ti...’ Eu suplicava à Virgem e a São João que me obtivessem as
dores de Jesus Cristo, pelo menos aquelas que foram dadas a eles. Obtiveram este favor para mim, e São João
me cumulou deles, um dia, a tal ponto, que considero esse dia como um dos mais terríveis de minha vida”. Em
seguida, diz ela, “Deus escreveu o Pai-nosso em meu coração com tal acento de bondade e de minha
indignidade, que me falta a expressão para dizer uma só palavra sobre isso”. Por meio dessa contrição muito
profunda é que a Beata Ângela entrou na via da santidade. Essas grandes graças devem atrair nossa atenção
sobre o valor das ajudas que o Senhor nos oferece diariamente a respeito das grandezas que existem na vida
cristã ordinária. Os frutos da confissão. Esses frutos são os das virtudes de humildade e penitência, e
sobretudo os frutos da absolvição sacramental. Que ato de humildade é mais verdadeiro e mais indispensável
que a confissão sincera das faltas cometidas? Este é o remédio para o vício que é a raiz de todo pecado: o

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orgulho. Também a heresia, que é fruto do orgulho, suprimiu a confissão, como se vê no protestantismo. Por
meio de uma humilde confissão, as faltas do orgulho já têm um começo de reparação.

O ato de penitência, que é a contrição, lamenta o pecado, reprova-o porque ele desagrada a Deus e nos
afasta dEle. Assim, a alma se converte, volta para o Senhor, de quem ou se desviara pelo pecado mortal, ou se
afastara pelo pecado venial. Ela se reaproxima e, por assim dizer, lança-se com confiança e amor nos braços
da misericórdia. Acima de tudo, o sangue do Salvador é sacramentalmente derramado sobre nossa alma pela
absolvição sacramental. O protestante, depois das faltas que podem atormentar, jamais tem o consolo de
ouvir um ministro de Deus dizer-lhe em nome do Senhor, na forma de um julgamento misericordioso: “Ego te
absolvo”. Eu te absolvo de teus pecados. Assim, ele não tem o consolo de poder aplicar a si mesmo as palavras
do Salvador aos Apóstolos: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,22). Ao
contrário, por estas palavras o sangue do Salvador é sacramentalmente derramado em nossas almas pela
absolvição, como um bálsamo salutar que, juntando seu poder ao das virtudes da humildade e da penitência,
perdoa os pecados, favorece grandemente a cura completa e ajuda a alma a recuperar as forças perdidas.

“Pela confissão”, diz São Francisco de Sales, “vós não recebeis somente a absolvição dos pecados veniais, mas
também uma grande força para os evitar no futuro, uma grande luz para bem discerni-los e uma graça
abundante para reparar todas as perdas que eles vos tinham causado”. Não esqueçamos, entretanto, que os
efeitos da absolvição são sempre proporcionais ao valor das disposições com as quais recebemos este
sacramento. Como diz São Tomás, se alguém que tinha cinco talentos, e os perdeu por um pecado mortal,
tem uma contrição apenas suficiente, não irá recuperar os méritos perdidos no mesmo grau em que os tinha,
e pode recuperar três talentos; se ele tem um arrependimento mais profundo de suas faltas, pode receber de
novo os cinco talentos que havia perdido; ou mesmo, com um fervor de contrição superior, há de receber
mais deles, seis, por exemplo. Assim parece ter sido a contrição de São Pedro, após sua negação. Desde então,
ele foi muito generosamente fiel à graça que o conduziu até ao martírio.

Entre vinte pessoas que se confessam, cada uma recebe uma medida de graça diferente das outras, pois
entres os atos de cada uma Deus discerne diferenças que, aqui embaixo, ninguém sequer desconfia. Existem
muitos graus diferentes de humildade, de contrição e de amor a Deus, mais ou menos puros e mais ou menos
fortes. São como tantos graus de intensidade de uma chama. Os mesmos princípios se aplicam à satisfação
sacramental, cujo efeito depende do sacramento, tudo medido com o fervor com o qual ela é cumprida.
Assim, a satisfação sacramental tem mais valor que uma satisfação não sacramental, ainda que ela seja mais
ou menos frutuosa conforme a nossa generosidade. Ela nos obtém, assim, em diferentes graus, a remissão da
pena devida aos pecados perdoados. Não se deve, pois, adiar para mais tarde esta satisfação ou penitência,
mas fazê-la o mais cedo possível, agradecendo ao Senhor pela graça da absolvição; o sangue de Jesus correu
sobre nossa alma para purificá-la; peçamos-Lhe permanecer em estado de graça e morrer nesse estado.

Somente os santos conhecem profundamente o valor do sangue do Salvador; é uma imensa graça, como uma
iluminação penetrante sobre as profundezas do mistério da Redenção. Convém, enfim, acusar-se, ao menos
em geral, das faltas da vida passada, pensando nas mais graves, para delas ter maior contrição e para que a
aplicação dos méritos de Jesus Cristo a essas faltas já perdoadas diminua a pena temporal que, quase sempre,
permanece devida após a absolvição. Digamos juntamente com o salmista (Sl 18,3): Purifica-me, Senhor, de
minhas faltas ocultas, indiretamente voluntárias, em consequência de minha negligência em conhecer e
querer aquilo que eu deveria conhecer e querer. É certo que, assim realizada com espírito de fé, a confissão é
um grande meio de santificação. O Senhor diz a Santa Verônica Juliani: “Tu farás progressos na perfeição na
proporção dos frutos que irás retirar deste sacramento”. São Francisco de Sales, em um opúsculo sobre a
Prática da confissão ordinária: Ficai atentos... para ouvir em espírito as palavras da absolvição que o Salvador
de vossa alma em pessoa pronuncia lá do alto do céu... ao mesmo tempo que, em seu nome, o sacerdote vos
absolve aqui em baixo”. Ele acrescenta: “Não existe nada de natureza tão difícil que, pela graça de Deus
primeiramente, e depois pelo esforço e pela diligência, não possa ser dominado e superado. Para isso, segui as
ordens e a orientação do diretor prudente e zeloso”. Para encerrar com o mesmo São Francisco de Sales
(Diversos conselhos sobre a confissão, pergunta XXX), notemos que a tristeza da verdadeira contrição, isto é,
o desprazer e a detestação do mal, jamais será uma tristeza desagradável, abatida, que deprime; ao contrário,
é um santa tristeza que torna o espírito pronto e diligente, que reergue o coração pela oração e pela
esperança, que o leva aos impulsos de fervor; “é uma tristeza que, no ponto mais forte de seu amargor,
produz sempre a doçura de uma incomparável consolação, conforme o preceito do grande Santo Agostinho:
Que o penitente sempre se entristeça (de suas faltas), mas que ele sempre se alegre por sua tristeza. Se esta
tristeza da contrição, com a lembrança dos pecados passados, tem tal doçura, é porque ela provém da

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caridade. Quanto mais alguém se aflige de suas faltas, tanto mais está seguro de que ama a Deus. É a boa
tristeza que não é aflita nem melancólica, é a compunção ou viva dor por ter pecado, dor na qual se
encontram os frutos do Espírito Santo, que são caridade, alegria, paz, longanimidade, bondade, mansidão,
temperança e fidelidade (cf. Gl 5,22).

6ª Semana: Volte para o Essencial: Deus! Pois, Ele quer enviar-te para as
águas mais profundas.

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“Urgência de retornar ao essencial! Deus! O
Evangelho! A nossa vocação de caminho à
santidade(…). Deus nos convida a nos segurar no
que é essencial: Nele! Na nossa relação com Ele,
no viver a coerência do Evangelho”. [Revista
Escuta 2020]

OBJETIVO

Resgatar o Essencial de nossas vidas para a autêntica maturidade missionária.

OUVIR

RECURSO: Pregação em vídeo

Anotar 5 pontos que resume esse tempo de quaresma, essas semanas em que aprofundamos a dimensão do
arrependimento e da conversão.

Vivamos bem o Tríduo Pascal nesta semana, seja de forma on-line os que não poderão vivê-lo
presencialmente seja os que poderão ir até uma Igreja. Ornamente sua casa com simbólicas que relembrem o
que Jesus viveu em cada dia.

REZAR

Oração pessoal

Nesta semana, procure retomar as anotações realizadas ao longo das formações deste bloco, tendo em vista
relembrar as moções, questionamentos, reflexões, inquietações e palavras que mais o marcaram neste tempo,
e que fizeram diferença na sua vida, no decorrer dessas semanas. No intuito de mergulhar na sua preparação
para uma boa revisão de vida, para a Páscoa do Senhor, no desejo de um tempo novo, capaz de dar novos
passos, como vaso de argila, mas aberto a não se paralisar nas próprias condições humanas. Rezaremos com o
Anexo I, texto retirado do Trecho Extraído do Livro: “A Vida Sob O Senhorio De Cristo”, de Raniero
Cantalamessa, escolha três dias sendo dividido por três partes. 1º dia as duas primeiras páginas; 2º dia a
terceira e quarta páginas e o 3º dia as duas últimas páginas.

Além desta rica formação, teremos mais dois anexos extras, caso deseje aprofundar ainda mais, não apenas no
conhecimento, mas adentrando na experiência da busca de uma vida virtuosa, com anseio por viver a
contrição verdadeira. Os anexos são: ANEXO II – Texto retirado do Livro Compêndio de Teologia Ascética e
Mística – Adolphe Tanquerey – Trecho Da contrição e ANEXO III– Exortação Apostólica Pós-sinodal
Reconciliatio et pænitentia, de sua santidade Papa João Paulo II.

Estudo bíblico

Leitura Joel 2,12-17. Nos outros dias rezar com a liturgia diária.

VIVER

À luz do que você ouviu na pregação da célula sobre “Voltai para o Essencial: Deus! Pois, Ele quer enviar-te
para as águas mais profundas” busque, nesta semana, fazer escolhas determinadas, sobretudo relacionadas
com a arte de amar o irmão, aquele que precisa de nós. A partir disso, tomemos a vivência do perdão como o
grande passo na arte de amar. Fiquemos atentos também aos pecados de omissão contra o irmão. Partindo
deste propósito, de maneira madura, como aquele que aspira viver a verdade tenhamos santas iniciativas,

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para assim crescer no perdão, na correção fraterna e na comunhão. Que o Espírito Santo nos aponte quais as
decisões a tomar e para quem as tomar. Sendo assim, estaremos dando passos concretos para vivermos a
verdadeira preparação do mistério pascal de Cristo, Sua morte e Ressurreição.

CAMPANHA INTEGRADA DA QUARESMA

● Nesta última semana, na Campanha Integrada da Quaresma, viveremos juntos a


divulgação do Retiro de Semana Santa e nos preparemos para o Tríduo Pascal com
nossas orações diárias, confissão, e o que o Senhor inspirar.
● Na LiveSH você encontrará os Estudos Bíblicos dos domingos da Quaresma da 6ª
Semana: https://www.youtube.com/watch?v=FPqytYNqvus&feature=youtu.be

ANEXO I – Trecho Extraído do Livro: “A Vida Sob O Senhorio De Cristo”, de Raniero


Cantalamessa.

‘Destruir o corpo do pecado’. No nosso texto, S. Paulo alude à última operação relativa ao pecado, que é a de
‘destruir o corpo do pecado’: ‘Bem sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com Ele, para que fosse
destruído o corpo do pecado. Quer ele dizer que Jesus, na cruz, destruiu virtualmente todo o corpo, isto é, a
realidade do pecado e agora nos dá a possibilidade de destruir, com a sua graça, o nosso corpo de pecado. Em
que consiste esta operação, quero explicá-lo com um exemplo, ou melhor, referindo de que maneira o Senhor
me fez compreender. Estava eu um dia rezando o salmo que diz: Senhor, tu me perscrutas e me conheces …
De longe penetras os meus pensamentos . . . Todos os meus caminhos te são conhecidos … (Sl 139,1ss.); à
recitação deste salmo, o fiel tem a impressão de ser radiografado pelo olhar de Deus, varado de parte a parte
por sua luz. Num dado momento, pareceu-me estar na presença de Deus como se eu mesmo me perscrutasse
com o seu olhar. Aflorou-me à mente, nitidissima, uma imagem, a de uma estalagmite, ou seja, dessas colunas
de calcário que se formam no chão de certas cavernas milenárias, pela queda de gotas de água calcária do
teto da gruta. Ao mesmo tempo, tive a explicação dessa imagem. Os meus pecados atuais, no decurso dos
anos, foram caindo no fundo do meu coração como outras tantas gotas de água calcária. Cada uma depositou
um pouco de calcário, isto é, de opacidade, de dureza e resistência de Deus, que se ia incorporando com o
depósito do pecado anterior. Como sucede na natureza, o grosso da gota escorria como água, graças às
confissões, às comunhões, à oração... Mas, de cada vez, ficava um resíduo não dissolvido, e isto porque o
arrependimento e o propósito não eram totais e absolutos, não eram “perfeitos”. E, assim, a minha
estalagmite cresceu qual coluna, como volumosa pedra que me pesava na alma. Então, compreendi
subitamente o que fosse o ‘’coração de pedra’’ de que fala Deus em Ezequiel, quando diz: Tirarei de vosso
corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne (Ez 36,26). É o coração que nós mesmos vamos
formando em nós a poder de pecados e compromissos. Depois de perdoada a culpa, algo forma um resíduo,
além da simples pena; é juntamente pena e culpa. É o homem velho. Que fazer em tal situação? Não posso
eliminar esta pedra com um simples ato da minha vontade, pois ela jaz exatamente na vontade. Aqui termina a

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parte do homem (aquilo que, na teologia, se chama opus operantis) e começa a parte de Deus (o opus
operatum), embora Deus tampouco estivesse ausente nos atos procedentes.

A realidade, de longe, mais importante para a Bíblia, acerca do pecado. O homem pode cometer o pecado,
mas não pode redimir o pecado. “Só Deus pode redimir os pecados” (cf Mt 2,7). S Pedro, naquele dia, depois de
dizer: Arrependei-vos!, acrescenta: Cada um se faça batizar para a remissão dos pecados (At 1,38), unindo
assim indissoluvelmente o arrependimento ao sacramento. Em se tratando da primeira conversão à fé, o
sacramento era, naquele caso, o batismo; para nós, que tornamos a pecar depois do batismo, o sacramento é
agora o da penitência, a que os Padres chamavam de “segunda tábua de salvação, oferecida a quem naufragou
depois do batismo” (cf. Tertuliano, De paenit.,4,2; 12,9; CCL 1, pp 326-340). Filhinhos – diz S. João –, eu vos
escrevo estas coisas para que não pequeis, mas, se alguém pecou, temos um advogado junto do Pai: Jesus
Cristo justo; é a vítima de expiação por nossos pecados (1Jo 2,1-2). O sangue de Jesus – diz ainda –purifica-nos
de todo o pecado (1Jo 1,7). O sangue de Cristo é o grande “solvente” que, no sacramento da penitência, graças
ao poder do Espírito Santo que nele opera, pode dissolver o corpo do pecado. À Igreja foi concedido o poder
de perdoar os pecados em nome de Jesus e em virtude do Espírito Santo: Recebei – disse Jesus aos apóstolos
- o Espírito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhe-ão perdoados (Jo 20,22s). O Espírito Santo
não se limita pois a “convencer-nos dos do pecado”; Ele também nos liberta do pecado. Não só, mas Ele
mesmo é a “remissão dos pecados”.

Deus tem todo o direito de fixar de que maneira os pecados serão perdoados; é perigoso arrogar-nos por nós
mesmos o direito de modificar isto, dizendo que não se precisa recorrer à Igreja, e que basta estar-se a sós
com Deus. Jesus associou a Si mesmo a Igreja sua esposa, para formar com ela uma realidade só, assim como
Ele o é com o Pai. “Por isso, a Igreja não pode perdoar nada sem Cristo e Cristo nada quer perdoar sem a
Igreja. A Igreja nada pode perdoar senão a quem estiver arrependido, isto é, àquele que Cristo tocou com a
sua graça. Cristo nada quer ter na conta de perdoado a quem desdenha recorrer à Igreja” (Beato Isaac da
Estrela, Disc. 11; PÇ 194, 1729).

O modo escolhido por Deus para perdoar os pecados, que passa pela confissão, corresponde, de resto, a uma
das mais naturais e profundas necessidades do psiquismo humano, que é de livrar-se do que o oprime,
manifestando-o . Mesmo a prática da psicanálise baseia-se neste fato e constitui uma confirmação
involuntária e, talvez, sucedâneo do mesmo. A experiência demonstra que o abandono da confissão sempre
resulta numa perda progressiva de sensibilidade ao pecado e de fervor espiritual. Todavia, também o nosso
modo de frequentar o sacramento da penitência deve ser revisto no Espírito Santo, para se tornar realmente
eficiente e resolutivo nesta nossa luta contra o pecado. Renovar o sacramento no Espírito significa vivê-lo,
não como um rito, uma rotina, ou uma obrigação, mas como uma necessidade da alma, como um encontro
pessoal com Cristo ressuscitado que, mediante a Igreja, comunica-nos a virtude saneadora do seu sangue e
nos restitui “a alegria de ser salvos”; significa redescobrir o “poder” misterioso encerrado neste gesto, graças
ao Espírito Santo que nele opera e nos renova e fortifica. Renovar o sacramento no Espírito Santo significa,
pois, rever também o assunto das nossas confissões.

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Nas nossas confissões, nós nos ocupamos habitualmente só nos pecados ou os defeitos habituais ou atuais;
ocupamo-nos dos pecados e não do pecado. O Apóstolo nos revelou, no princípio da carta, que algo há
anterior aos pecados individuais – soberba, ira, impureza… – e do qual todos eles são, em certo sentido, fruto
e punição. Antecede-o, ainda, a impiedade, isto é, a falta de glorificação e gratidão a Deus, a ausência de
Deus, a marginalização de Deus em nossa vida. Daqui, como de raiz, continuar-se-á a colher, ao infinito, em
nossas confissões, grossos “molhos” de pecados e faltas, sem jamais concluir nada e sem que qualquer coisa
mude verdadeiramente em nossa vida espiritual. É necessário eliminar a causa da ira divina e, então, também
suas consequências, pouco a pouco, desaparecerão. Também no capítulo presente da sua carta, o Apóstolo
sempre fala do pecado no singular, como de uma força unitária latente no homem, que lhe comanda os
membros, qual tirano invisível do seu palácio. A propósito de raiz, é sabido que se aprofunda verticalmente na
terra, em continuação do tronco e é tenacíssima. O lenhador inexperiente que queira derrubar uma árvore,
ou remover o cepo de uma árvore cortada, começará removendo a terra à volta e cortando as raízes laterais à
medida que afloram; depois tenta derrubar a árvore ou retirar o cepo, como se devessem cair por si mesmos,
mas eles não se dão por achados. Quem é experiente, ao contrário, sabe que não deve deixar de cavar
enquanto não aparecer a raiz-mestra e, finalmente, pode meter o machado à raiz. O mesmo sucede à árvore
da nossa vida… A nossa raiz-mestra é o nosso velho eu, a própria vontade, “a vontade da carne” como a chama
a Escritura. Que descoberta libertadora e como podemos crescer na eficiência das nossas confissões, se
tivermos a coragem de descer também nós, de uma vez por todas, à raiz, à região onde se decide a orientação
básica da pessoa e sua opção fundamental! Por vezes, surpreendo-me ao imaginar uma confissão um pouco
diferente da costumeira. Alguém vem ter comigo no confessionário e me diz, como é costume: “Padre, dai-me
a vossa bênção porque pequei!’’ E eu: “Que fizeste, irmão , quais os teus pecados?” E ele, como quem
finalmente descobriu a verdade: “Tenho sido ímpio. Até agora, vivi somente para mim e não para Deus”. Então,
eu lhe digo: “Feliz és tu, meu irmão, pois não foi a carne e o sangue que te revelaram isto, mas o Espírito do
teu Pai que está nos céus! Descobriste o esconderijo do pecado, o seu covil secreto. Vai em paz e reza por
mim!” E lhe dou a absolvição. Por vezes, ao ir confessar-me, eu mesmo senti um grande desejo de mudar a
fórmula tradicional e apresentar-me ao sacerdote dizendo: ‘’Padre, dai-me a vossa bênção porque sou pecado
(e não, tenho pecado)”. Isto seria, na verdade, agarrar o corpo do pecado, o meu velho eu, e atirá-lo aos braços
do Crucificado, como se atira uma grande pedra numa fornalha de cal viva para que se esfrangalha e derreta.
Depois de feita a própria confissão do pecado, convém esquecer o mal feito, a preparação e até a própria
contrição, e não pensar em outra coisa a não ser na ação de Deus que se efetua mediante a absolvição, para
não desperdiçar a suavidade e o conforto que dela promanam: “Aparta o olhar da tua contrição e atenta, de
todo o coração, à voz do irmão que te absolve; não duvides que esta voz, no sacramento, é uma palavra
divinamente pronunciada pelo próprio Pai, Filho e Espírito Santo, de tal sorte que dependes inteiramente do
que ouves e não do que pensas ou fazes’’ (Lutero, Comm. Ps.,51,10;WA, 40,2 p. 412).

A ação sacramental sobre nosso pecado não se restringe só ao sacramento da penitência, muito embora este,
como sabemos, seja imprescindível no caso de pecados graves. Os padres da Igreja e os teólogos sempre
reconheceram, na Eucaristia, uma eficácia geral para a libertação do pecado (cf Sto. Tomás, S. TH. III , q
LXXIX, aa. 3-6). O sangue de Cristo que recebemos na Eucaristia “purifica a nossa consciência das obras

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mortas” (cf . Hb 9,14). Na Eucaristia, nós nos abeiramos da própria fonte da remissão dos pecados; dela o
pecado sai cada vez mais um pouco consumido, como um bloco de gelo quando é aproximado do fogo. “Todas
as vezes que bebes este sangue – escreve Sto. Ambrósio – recebes a remissão dos pecados e inebrias-te com
o Espírito” (De sacr . V, 3, 17;CSEL 73, p. 65) e ainda: “Este pão é a remissão dos pecados” (De ben. Patri.,9, 39;
p.65 ) e ainda “Este pão é a remissão dos pecados” (De ben. Patr., CSEL 32,2,p.147). Antes de distribuir o corpo
de Cristo para a comunhão, a liturgia faz o celebrante pronunciar estas palavras: “Eis o Cordeiro de Deus, que
tira os pecados do mundo!” 5. “Que sofreu na carne…” Em nós está “cooperar” para a destruição do corpo do
pecado, favorecendo a ação dos sacramentos, e isto, sobretudo, de dois modos: com o sofrimento e com o
louvor. A Igreja chama isto satisfação ou expiação e o simboliza na módica penitência que impõe a quem se
aproximou da confissão. Esta penitência é um “sinal”, indica um ato e uma atitude que se devem prolongar
muito além do sacramento. S. Pedro, no texto já familiar, diz: Já que Cristo sofreu na carne, também vós
armai-vos dos mesmos sentimentos; quem sofreu no seu corpo rompeu definitivamente com o pecado (IPd
4,1). Assim fazendo, ele estabelece um princípio de enorme importância: quem sofre rompe com o pecado.

O sofrimento, depois que o Filho de Deus passou por ele, santificando-o, tem o poder misterioso de
“destruir” o pecado, de desfazer as malhas da trama de paixões e desalojar o pecado dos nossos membros.
Sucede o mesmo que quando se sacode com violência uma árvore e todos os seus frutos murchos caem por
terra. Não sabemos por que isto acontece, mas sabemos que é assim. Verificamo-lo todos os dias em nós e à
nossa volta. “Sofrer significa tornar-se particularmente susceptíveis, particularmente sensíveis à operação
das forças salvíficas de Deus oferecidas à humanidade em Cristo” (João Paulo II, Enc, Salvifici doloris, n. 23).

O sofrimento é um canal que liga, de modo singular, quem sofre à paixão de Cristo, da qual deriva toda a
remissão dos pecados. Não se trata, normalmente, de andar à cata do sofrimento, mas de acolher, com ânimo
novo, o que já existe em nossa vida. Deveríamos ficar atentos sobretudo a não desperdiçar o pouco
sofrimento “injusto” que ocorre em nossa vida, pois ele nos une de modo todo especial a Cristo; humilhações,
críticas injustas, ofensas, hostilidades que nos parecem premeditadas e que tanto nos fazem sofrer. Um certo
grau de intimidade com o Redentor só se consegue por este meio: mediante “a participação nos seus
sofrimentos” (Fl 3,10). Só assim, nisto fica superado o pecado fundamental de autoglorificação. Não
desperdiçar este sofrimento significa não falar dele sem real necessidade e utilidade: guardá-lo ciosamente
como um segredo entre si e Deus, para que ele não perca o seu perfume e o seu caráter expiatório. “Por
muito grandes que sejam as tuas penas – dizia um padre do deserto –, a tua vitória sobre elas está no silêncio”
(Apoph., Poemen 37;PG 65, 332).

O sofrimento fica sendo, para o homem, um problema, mas um problema que, depois de Cristo, tem solução
em si mesmo. Sofrimento com fé, de fato, descobre-se pouco a pouco o porquê do sofrimento, para que
serve; toca-se com a mão o fato de que nós, homens, não somos mais capazes, depois do pecado, de
caminhar com Deus e progredir na santidade, sem sofrimento. Bastam-nos poucos dias de ausência de
qualquer cruz para recair em grande superficialidade e debilidade de espírito. O homem – diz um salmo – na
prosperidade não compreende; é semelhante aos animais que perecem (Sl 49). Percebe-se assim por que,
para os santos, o sofrimento cessa não raro de ser problema e torna, ao invés, uma graça, como afirmava o

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Apóstolo, escrevendo aos Filipenses: “A vós foi concedida a graça não só de crer em Cristo, mas também de
sofrer por ele” (Fl 1,29). Então, padecer pode tornar-se a única coisa pela qual valha a pena viver, até pedir a
Deus, como fazia Santa Teresa de Ávila: “Ou sofrer ou morrer!” (Vida, 40,20). Mas não tenhamos a pretensão
de já ter alcançado tais sumidades e contentemo-nos, ao menos, com aceitar o sofrimento que nos cabe e
praticar um pouco de renúncia. De fato, é preciso começar com o sacrifício do prazer, para chegar, um dia, ao
prazer do sacrifício… É falso pensar que tudo isso possa suceder com prejuízo da fé na cruz de Cristo e
reavivar a supremacia das obras. Pelo contrário, “Quando uma alma houver cumprido as obras da cruz e de
uma viva penitência, diuturna e séria, então é que, na verdade, reconhece-se serva inútil e, se pedir alguma a
Deus, pedi-la-á não em nome do próprio sofrimento, mais em nome do sofrimento que Cristo suportou nele e
por ele” (Santa Ângela, op. cit., p, 438).

A par do sofrimento, outro meio poderoso para destruir o “corpo do pecado” é o louvor. O louvor é, por
excelência, o contrário do pecado. Se o pecado-mãe, como nos ensinou o Apóstolo no princípio, é a
impiedade, ou seja, a recusa de glorificar a Deus, então o contrário do pecado não será a virtude, mas o
louvor! O contrário da impiedade é a piedade. É mister aprender a combater o pecado com meios de vulto,
não com os mesquinhos, com meios positivos, não com meios meramente negativos, e o meio vultoso e
positivo por excelência é o próprio Deus. Nós não teríamos o pecado em nós se tivéssemos Deus; onde entra
Deus, sai o pecado. A Bíblia fala frequentemente de um “sacrifício de louvor”: Oferece a Deus – diz – um
sacrifício de louvor... Quem oferece o sacrifício de louvor é o que me honra... A ti oferecerei sacrifícios de
louvor (Sl 50,12,23; 116,7). Que relação pode haver entre o louvor e o sacrifício? O sacrifício indica a imolação e
destruição de alguma coisa; mas o que é que se imola e destrói no louvor? Imola-se e se destrói o orgulho do
homem! Quem louva sacrifica a Deus a vítima mais agradável que se possa: a própria glória. Nisto reside o
extraordinário poder de purificação do louvor. No louvor esconde-se a humildade.

A coisa mais extraordinária de todas é que nada existe que não possa ser transformado, se quisermos, em
motivo de louvor e agradecimento a Deus, nem sequer o pecado. Não há situação de consciência, por pesada
que seja, que não possa ser invertida, se alguém, arrancando-se com santa violência a todos os raciocínios da
carne, resolve pôr-se a glorificar a Deus. Eu posso glorificar a Deus – dizia eu – até por meu pecado: não por
ter pecado (que isto seria escarnecer de Deus), mas pelo modo de Deus proceder ante o meu pecado, porque
me conservou vivo e não me privou da sua misericórdia. A Bíblia conhece muitos motivos para louvar a Deus,
mas nenhum maior do que este: que Ele é um Deus que perdoa os pecados: Qual é o deus como tu, que tira a
iniquidade e perdoa o pecado ao resto da sua herança, que não guarda a ira para sempre, mas se compraz em
usar de misericórdia? (Mq 7,18). Nós podemos louvar a Deus porque “Ele, que transformou em bem o maior
mal do mundo, que é o pecado de Adão, até induzir a liturgia a exclamar: “O felix culpa! ”, transformará em
bem e na sua glória, de um modo que nos escapa, também os pecados de todos os que acolhem a salvação,
que são, decerto, males menores que aquele. “De fato o pecado – garante o próprio Deus a uma famosa
mística – é inevitável. Mas, no fim de tudo, será um bem e todas as espécies de coisas serão um bem” (Juliana
de Norwich, Livro das revelações, c. 27).

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Tendo concebido a nossa libertação do pecado como um êxodo pascal, ela deve transformar-se, agora que
chegamos ao fim, numa festa, como sucedeu no primeiro êxodo. Os hebreus haviam mostrado relutância em
sair do Egito e, quando chegaram diante do mar Vermelho, foram tomados, por um momento, de terror e
murmuraram; mas, apenas saíram do mar, puseram-se a cantar atrás de Moisés e Maria dizendo: Quero
cantar em honra do Senhor: porque triunfou admiravelmente, precipitou no mar cavalo e cavaleiro… (Ex 15,1).
Assim também queremos nós fazer agora. O faraó que Deus lançou no mar é o nosso ‘’homem velho’’, os seus
cavalos e cavaleiros são os nossos pecados. Ele “lançou ao fundo do mar todos os nossos pecados” (Mq 7,19).
Atravessado o mar Vermelho, encetamos agora a caminho ao nosso Sinai; celebrada a Páscoa, dispomos-nos a
celebrar o Pentecostes. O nosso coração agora é um odre novo, pronto a receber o vinho novo que é o
Espírito Santo.

Da contrição 266. Os que se confessam com frequência devem insistir na contrição e no bom propósito que
delas são efeitos necessários. Importa pedir contrição com insistência e estimulá-la com a consideração dos
motivos sobrenaturais, que, não obstante serem substancialmente os mesmos, variarão um pouco conforme
as almas e as faltas que as afetam. Os motivos sobrenaturais gerais para a contrição estão tanto em Deus
como na alma. Vamos indicá-los brevemente.

267. A – Em relação a Deus, o pecado, por menor que seja, é uma ofensa, uma resistência à sua vontade, uma
ingratidão para com o pai e benfeitor mais amante e mais amável, ingratidão que O fere ainda mais por
sermos seus amigos privilegiados. Por isso, Ele se volta para nós e diz-nos: “Se o ultraje viesse de um inimigo,
eu o teria suportado... Mas eras tu, meu companheiro, meu íntimo amigo, com quem me entretinha em doces
colóquios”. (Sl 54,13-15). Ouçamos essa censura bem merecida e deixemo-nos preencher de humilhação e
confusão. Ouçamos também a Jesus e reconheçamos que nossos pecados amargaram ainda mais o cálice que
Lhe foi apresentado no Horto das Oliveiras e intensificaram a sua agonia. Então, do fundo da nossa miséria,
peçamos humildemente perdão: “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a
imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade…” (Sl 50).

268.B - Por parte da alma, o pecado venial, sem diminuir em si a graça santificante, afeta a intimidade com
Deus. Que perda não é a dessa intimidade! Paralisa ou, ao menos, entorpece consideravelmente a atividade
espiritual, empoeirando o delicado mecanismo da vida sobrenatural, reduz as energias para o bem e aumenta
o amor do prazer. Sobretudo, no caso de faltas deliberadas, predispõe para o pecado mortal, porque em
muitos assuntos, mormente no que toca à pureza, é tão imperceptível e tênue a linha de separação entre o
pecado mortal e venial e tão forte a atração para o meu prazer, que o limite é ultrapassado muito facilmente.
Considerando tão lastimosos efeitos, não é difícil arrepender-se sinceramente de tais negligências e recobrar
o desejo de evitá-las no futuro. Para dar precisão a esse bom propósito, é oportuno rever as medidas que se
devem tomar para diminuir as recaídas, como acima indicamos. (n 265)

269 . Contudo, para mais nos assegurar de que não houve falta de contrição, convém acusar-se de um pecado
grave da vida passada, do qual estamos certos de que houve contrição, especialmente se for um pecado da
mesma espécie das faltas veniais que lamentamos. Destarte, devemos evitar dois defeitos: a rotina que pode

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converter a confissão em uma fórmula vazia, sem verdadeiro sentimento de contrição; e a negligência, que
pode fazer com que não nos preocupemos com o arrependimento das faltas veniais acusadas na atual
confissão. Praticada com esse espírito, a confissão, juntamente com os conselhos de um prudente diretor e,
sobretudo, com a virtude purificadora da absolvição, é um meio poderoso para a alma libertar-se do pecado e
progredir na virtude.

ANEXOS EXTRAS –

ANEXO II- Texto retirado do Livro Compêndio de Teologia Ascética e Mística – Adolphe Tanquerey –
Trecho de “Da contrição”

Da contrição 266. Os que se confessam com frequência, devem insistir na contrição e no bom propósito, que
delas são os efeitos necessários. Importa pedir a contrição com insistência e estimulá-la com a consideração
dos motivos sobrenaturais, que, não obstante ser substancialmente os mesmos, variarão um pouco conforme
as almas e as faltas que as afetam. Os motivos sobrenaturais gerais para a contrição estão tanto em Deus
como na alma. Vamos indicá-los brevemente. 267. A – Em relação a Deus, o pecado, por menor que seja, é
uma ofensa, uma resistência à sua vontade, uma ingratidão para com o pai e benfeitor mais amante e mais
amável, ingratidão que O fere ainda mais por sermos seus amigos privilegiados. Por isso Ele Se volta para nós
e nos diz: “Se o ultraje viesse de um inimigo, eu o teria suportado... Mas eras tu, meu companheiro, meu
íntimo amigo, com quem me entretinha em doces colóquios”. (Sl 54,13-15). Ouçamos essa censura bem
merecida e nos deixemos preencher de humilhação e confusão. Ouçamos também a Jesus e reconheçamos
que nossos pecados amargaram ainda mais o cálice que Lhe foi apresentado no Horto das Oliveiras e
intensificaram a sua agonia. Então, do fundo da nossa miséria, peçamos humildemente perdão: “Tende
piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a
minha iniquidade…” (Sl 50). 268.B - Por parte da alma, o pecado venial, sem diminuir em si a graça
santificante, afeta a intimidade com Deus. Que perda não é a dessa intimidade! Paralisa ou ao menos
entorpece consideravelmente a atividade espiritual, empoeirando o delicado mecanismo da vida sobrenatural,
reduz as energias para o bem e aumenta o amor do prazer. Sobretudo no caso de faltas deliberadas, predispõe
para o pecado mortal, porque, em muitos assuntos, mormente no que toca à pureza, é tão imperceptível e
tênue a linha de separação entre o pecado mortal e venial e tão forte a atração para o meu prazer, que o
limite é ultrapassado muito facilmente. Considerando tão lastimosos efeitos, não é difícil arrepender-se
sinceramente de tais negligências e recobrar o desejo de evitá-las no futuro. Para dar precisão a esse bom
propósito, é oportuno rever as medidas que se devem tomar para diminuir as recaídas, como acima
indicamos. (nº 265) 269 . Contudo, para mais nos assegurar de que não houve falta de contrição, convém
acusar-se de um pecado grave da vida passada, do qual estamos certos de que houve contrição,
especialmente se for um pecado da mesma espécie das faltas veniais que lamentamos. Destarte, devemos
evitar dois defeitos: a rotina que pode converter a confissão em uma fórmula vazia, sem verdadeiro
sentimento de contrição; e a negligência, que pode fazer com que não nos preocupemos com o
arrependimento das faltas veniais acusadas na atual confissão. Praticada com esse espírito, a confissão, com
os conselhos de um prudente diretor e, sobretudo, com a virtude purificadora da absolvição, é um meio
poderoso para a alma libertar-se do pecado e progredir na virtude.

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ANEXO III – Exortação Apostólica Pós-sinodal Reconciliatio et pænitentia de sua santidade Papa João Paulo
II ao Episcopado, ao Clero e aos Fiéis sobre a reconciliação e a penitência na missão da Igreja hoje –
Capítulo segundo «Mysterium Pietatis»

19. Para conhecer o pecado, era necessário fixar o olhar na sua natureza, tal como a revelação da economia da
Salvação no-la deu a conhecer: ele é o mistério da iniquidade («mysterium iniquitatis»). Mas, nesta economia,
o pecado não é protagonista nem, menos ainda, vencedor. Contrasta, antes, como antagonista, com um outro
princípio operante, que — usando uma bela e sugestiva expressão de São Paulo — podemos chamar o mistério
ou sacramento da piedade («mysterium», ou «sacramentum pietatis»). O pecado do homem seria vencedor e,
por fim, destruidor, e o desígnio salvífico de Deus ficaria incompleto ou mesmo vencido, se este mistério da
piedade não se tivesse inserido no dinamismo da história para vencer o pecado do homem.

Encontramos esta expressão numa das Cartas Pastorais de São Paulo, a primeira a Timóteo. Aparece aí,
repentina, como por uma inspiração impetuosa! O Apóstolo, na verdade, consagrará em precedência longos
parágrafos da sua mensagem ao discípulo predileto, para explicar o significado da organização da
comunidade (litúrgica e, ligada a esta, hierárquica); falará depois do papel dos chefes da comunidade, para se
referir, em seguida, ao comportamento do próprio Timóteo na «Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da
verdade». E depois, no final da passagem, evoca quase ex abrupto, mas com intuito profundo, aquilo que dá
significado a tudo o que escrevera: «é grande, sem dúvida, o mistério da piedade...». (104)

Sem trair minimamente o sentido literal do texto, podemos alargar esta magnífica intuição teológica do
Apóstolo a uma visão mais completa do papel que a verdade, por ele anunciada, tem na economia da Salvação.
«é verdadeiramente grande — repitamos com o mesmo Apóstolo — o mistério da piedade», porque vence o
pecado.

Mas o que é, na concepção paulina, esta «piedade»?

É o próprio Cristo

20. É profundamente significativo que, para apresentar este «mistério da piedade», São Paulo transcreva
simplesmente, sem estabelecer uma ligação gramatical com o texto precedente, (105) três linhas de um Hino
cristológico, que — segundo a opinião de autorizados estudiosos — era usado nas comunidades
helênico-cristãs.

Com as palavras desse Hino, densas de conteúdo teológico e ricas de nobre beleza, esses cristãos do século
primeiro professavam a sua fé no mistério de Cristo, pelo qual

• Ele se manifestou na realidade da carne humana e foi, pelo Espírito Santo, constituído como o Justo,
que Se oferece pelos injustos;

• Ele apareceu aos Anjos, tornado maior que eles, e foi pregado aos povos, como portador de salvação;

• Ele foi acreditado no mundo, como enviado do Pai, e pelo mesmo Pai assumido no céu, como Senhor.
(106)

• O mistério ou sacramento da piedade, portanto, é o próprio mistério de Cristo, E, numa síntese bem
densa, ele é o mistério da Encarnação e da Redenção, da plena Páscoa de Jesus, Filho de Deus e Filho de
Maria: mistério da sua paixão e morte, da sua ressurreição e glorificação. O que São Paulo, ao referir as frases
do Hino, quis recordar foi que este mistério é o recôndito princípio vital que faz da Igreja a casa de Deus, a
coluna e o fundamento da verdade. E na pegada do ensino paulino, nós podemos afirmar que este mesmo

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mistério da infinita piedade de Deus para conosco é capaz de penetrar até as raízes escondidas da nossa
iniquidade, para suscitar na alma um movimento de conversão, para redimi-la, e a fazer de vela em direção à
reconciliação.

Referindo-se, sem dúvida, a este mistério, também São João, com a sua linguagem característica, que é
diversa da de São Paulo, pôde escrever que «aquele que nasceu de Deus, não peca»: o Filho de Deus salva-o e
«o Maligno não o toca» (107). Nesta afirmação joanina há uma indicação de esperança, fundada sobre as
promessas divinas: o cristão recebeu a garantia e as forças necessárias para não pecar. Não se trata, pois, de
uma impecabilidade adquirida por virtude própria e, menos ainda, ínsita no homem, como pensavam os
Gnósticos. É um resultado da ação de Deus. Para não pecar, o cristão dispõe do conhecimento de Deus,
recorda São João nesta passagem. Mas, pouco antes, já tinha escrito: «Todo o que nasceu de Deus não comete
pecado, porque habita nele uma semente divina». (108) Se por esta «semente de Deus» entendermos — como
propõem alguns comentadores — Jesus, o Filho de Deus, então podemos dizer que para não pecar — ou para
libertar-se do pecado — o cristão dispõe da presença, em si, do próprio Cristo e do mistério de Cristo, que é
mistério da piedade.

O esforço do cristão

21. Mas há, no mistério da piedade, um outro aspecto: à piedade de Deus para com o cristão há-de
corresponder a piedade do cristão para com Deus. Nesta segunda acepção, a piedade (eusébeia) significa
exatamente o comportamento do cristão, que à piedade paterna de Deus corresponde com a sua piedade
filial.

Também neste sentido podemos afirmar com São Paulo que «é grande o mistério da piedade»; e ainda, que
esta piedade, qual força de conversão e de reconciliação, combate a iniquidade e o pecado. Neste caso, ainda,
os aspectos essenciais do mistério de Cristo são objeto da piedade, enquanto o cristão acolhe o mistério,
contempla-o e a ele vai buscar a força espiritual necessária para modelar a sua vida segundo o Evangelho.
Também aqui se deve dizer que «quem nasceu de Deus não comete pecado»; mas a expressão tem sentido
imperativo: sustentado pelo mistério — e pelos mistérios — de Cristo, como por uma nascente interior de
energia espiritual, o cristão é avisado para não pecar e, mais ainda, recebe o mandamento de não pecar:
há-de comportar-se dignamente «na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo», (109) sendo, como é, um filho
de Deus.

Para uma vida reconciliada

22. Assim a Palavra da Escritura, ao revelar-nos o mistério da piedade, abre a inteligência humana para a
conversão e para a reconciliação, entendidas não como abstrações, mas como valores cristãos concretos a
conquistar no dia a dia.

Insidiados3 pela perda do sentido do pecado, tentados, algumas vezes, pela ilusão bem pouco cristã de
impecabilidade, também os homens de hoje precisam de ouvir de novo, como dirigida a cada um deles,
pessoalmente, a advertência de São João: «Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos
e a verdade não está em nós»; (110) e, mais ainda, que «todo o mundo jaz sob o jugo do Maligno». (111) Cada
um, pois, é convidado, pela voz da Verdade divina, a ler realisticamente, na própria consciência, e a confessar
que foi gerado na iniquidade, como dizemos no Salmo Miserere. (112)

Ameaçados pelo medo e pelo desespero, os homens de hoje podem, no entanto, sentir-se consolados pela
promessa divina, que os abre à esperança da plena reconciliação.

3
Enganado, traído

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O mistério da piedade, da parte de Deus, é a misericórdia de que o Senhor e nosso Pai — repito-o mais uma
vez — é infinitamente rico. (113) Como disse na Encíclica dedicada ao tema da misericórdia divina, (114) esta é
um amor mais poderoso do que o pecado, mais forte do que a morte. Quando nos damos conta de que o amor
que Deus nos dispensa não se detém diante do nosso pecado, não retrocede diante das nossas ofensas, mas
se torna ainda mais solícito e generoso; quando nos apercebemos de que este amor chegou a causar a paixão
e a morte do Verbo feito carne, que aceitou remir-nos pagando com o seu Sangue, então prorrompemos em
reconhecimento: «Sim, o Senhor é rico em misericórdia», e dizemos mesmo: «O Senhor é misericórdia». O
mistério da piedade é o caminho aberto pela misericórdia divina à vida reconciliada.

BIBLIOGRAFIA

ESCUTA, Revista. Nº 06, Tempo Novo, Edições Shalom, 2020.

CATÓLICA, Catecismo da Igreja. Mandamentos

FRANKL, Viktor, E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Ed. São Leopoldo, Editora
Sinodal: Petrópolis, Editora Vozes, 1991.

LIGÓRIO, Santo Afonso de. A prática do amor a Jesus Cristo Editora: Santuário; Edição: 17ª.

PAULO II, João. Exortação Apostólica Pós-Sinodal, Reconciliatio et Paenitentia, 2 dezembro 1984.

BENTO XVI, Papa. Mensagem para a Quaresma 2012.

GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. As três idades da vida interior – Tomo I.

CANTALAMESSA, Raniero. A vida sob o senhorio de Cristo. Edições Loyola. Ano 1994.

TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. Editora Ecclesiae. Ano 2018.

LINKS:

Carta a Henry de Castries, 14 de agosto de 1901.


https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20051113_de-foucauld_po.html
https://www.qumran2.net/ritagli/index.php?ritaglio=8683

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