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C O N G R E G A Ç Ã O P A R A O C L E R O

A d or a ç ã o e u c a r í s t ic a
pela santificação dos sacerdotes
e Maternidade espiritual
CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O

Adoração eucarística
pela santificação dos sacerdotes
e Maternidade espiritual
Responsável pela publicação:
S.E.R. Dom Mauro Piacenza,
Arcebispo. tit. de Victoriana,
Secretário da Congregação para o Clero

Congregação para o Clero


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aos benfeitores e amigos da Fundação AIS

Setembro de 2009

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2 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


CONGREGATIO PRO CLERICIS
Carta que a Congregação está a enviar para promover a adoração
eucarística pela santificação dos sacerdotes e maternidade espiritual:

EXCELÊNCIA REVERENDÍSSIMA

S ão realmente muitas as coisas a serem feitas para o verdadeiro bem do Clero e para a fecun-
didade do ministério pastoral nas circunstâncias actuais, mas, exactamente por isso mesmo,
com o firme propósito de enfrentar essas dificuldades e essas fadigas, cientes de que o agir
sucede ao ser e que a alma de cada apostolado é a intimidade com Deus, pretende-se iniciar um
movimento espiritual que, favorecendo uma consciência cada vez maior da ligação ontológica
entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial Maternidade de Maria em relação a todos os Sacer-
dotes, dê vida a uma corrente de adoração perpétua, para a santificação dos clérigos, e a um
novo empenho das almas femininas consagradas para que, inspirando-se na Bem-Aventurada
Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e associada, de modo singular, à sua obra
de Redenção, queiram adoptar espiritualmente sacerdotes para os ajudar com a oferta de si,
a oração e a penitência. Na adoração está sempre incluído o acto de reparação pelas próprias
faltas e, nas actuais circunstâncias, sugere-se uma particular intenção em tal sentido.

S egundo o dado constante da Tradição, o ministério e a realidade da Igreja não se reduzem


à estrutura hierárquica, à liturgia, aos sacramentos e aos ordenamentos jurídicos. De facto,
a natureza íntima da Igreja e a origem primeira da sua eficácia santificadora, devem ser procu-
radas na mística união com Cristo.
A doutrina, e a própria estrutura da constituição dogmática Lumen Gentium, afirmam que essa
união não pode ser imaginada separada da Mãe do Verbo Encarnado, Aquela que Jesus quis
intimamente unida a Si para a salvação de todo o género humano.
Não é casual, portanto, que no mesmo dia em que foi promulgada a constituição dogmática
sobre a Igreja – 21 de Novembro de 1964 -, Paulo VI proclamasse Maria “Mãe da Igreja”,
ou seja, mãe de todos os fiéis e de todos os pastores.
O Concílio Vaticano II – referindo-se à Bem-Aventurada Virgem – assim se expressa: “...
Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo
com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança
e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta
razão nossa mãe na ordem da graça.” (LG n 61).

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 3


S em nada acrescentar ou tirar à única mediação de Cristo, a sempre Virgem é reconhecida
e invocada, na Igreja, com títulos de Advogada, Auxiliadora, Socorro e Medianeira; Ela é o
modelo do amor materno que deve animar todos os que cooperam, através da missão apostólica
da Igreja, na regeneração da inteira humanidade (cfr LG n 65).
À luz destes ensinamentos, que são parte da eclesiologia do Concílio Vaticano II, os fiéis, diri-
gindo o olhar para Maria – exemplo fúlgido de toda virtude -, são chamados a imitar a primeira
discípula, a mãe, à qual foi confiado, em João – aos pés da cruz (cfr Jo 19, 25-27) –, cada discí-
pulo, e assim, tornando-se seus filhos, aprendem com ela o verdadeiro sentido da vida em Cristo.

Desta forma – e exactamente a partir do lugar ocupado pela Virgem Santíssima e do papel
por Ela desenvolvido na história da salvação - pretende-se, de maneira muito especial, confiar
a Maria, a Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, cada Sacerdote, suscitando, na Igreja, um movi-
mento de oração que coloque no centro a adoração eucarística contínua, no arco de tempo das
vinte e quatro horas, de modo que, de cada canto da terra, sempre se eleve a Deus, incessante-
mente, uma oração de adoração, agradecimento, louvor, pedido e reparação, com o objectivo
precípuo de suscitar um número suficiente de santas vocações para o estado sacerdotal e, ao
mesmo tempo, de acompanhar espiritualmente – na realidade do Corpo Místico -, com uma
espécie de maternidade espiritual, todos os que já foram chamados ao sacerdócio ministerial
e são ontologicamente modelados ao único Sumo e Eterno Sacerdote, para que cada vez melhor

Nossa Senhora com os Apóstolos

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sirvam a Ele e aos irmãos, colocando-se não apenas “na” Igreja, mas também “perante” a Igreja,
como prolongamento visível e sinal sacramental de Cristo que representam como cabeça, pastor
e esposo da Igreja (PdV n 16).
Pede-se portanto a todos os Ordinários diocesanos que percebem, em particular, a especi-
ficidade e a insubstituibilidade do ministério ordenado na vida da Igreja, em conjunto com
a urgência de uma acção comum a favor do sacerdócio ministerial, de se tornarem parte activa
e de promover – nas diferentes comunidades do povo de Deus a eles confiadas -, verdadeiros
cenáculos onde clérigos, religiosos e leigos, unidos entre si e em espírito de verdadeira comu-
nhão, se dediquem à oração, sob forma de adoração eucarística contínua, inclusive em espírito
de genuína e real reparação e purificação. Para tal fim, inclui-se um fascículo que tem como
finalidade fazer compreender melhor a índole da iniciativa, para aderir em espírito de fé ao
projecto aqui apresentado.

Maria, Mãe do Único, Eterno e Sumo Sacerdote, abençoe esta iniciativa e interceda, junto
a Deus, pedindo uma autêntica renovação da vida sacerdotal a partir do único modelo possível:
Jesus Cristo, Bom Pastor!

Presto obséquios cordiais no Vínculo da comunhão eclesial com sentimentos de intenso


afecto colegial.

Cláudio Card. Hummes Mauro Piacenza


Prefeito Secretário

Do Vaticano, 8 de Dezembro de 2007


Solenidade da Imaculada Conceição da B.V. Maria

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“ROGAI AO SENHOR
DA MESSE PARA QUE
ENVIE TRABALHADORES”

R
“ ogai ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a Sua messe!” Isto significa que:
a messe existe, mas Deus quer servir-Se dos homens, a fim de que ela seja levada ao celeiro.
Deus necessita de homens. Necessita de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a tornar-me
Vosso trabalhador na messe, estou disposto a ajudar para que esta messe, que está a amadurecer
nos corações dos homens, possa realmente entrar nos celeiros da eternidade e a tornar-se perene
comunhão divina de alegria e de amor.
“Rogai ao Senhor da messe”! Isto quer dizer também: não podemos simplesmente “produzir”
vocações, elas devem vir de Deus. Não podemos, como talvez noutras profissões, por meio
de uma propaganda bem definida, através das chamadas estratégias adequadas, simplesmente
recrutar pessoas. A chamada, partindo do coração de Deus, deve sempre encontrar o caminho
rumo ao coração do homem. E no entanto, exactamente para que chegue aos corações dos
homens, é necessária também a nossa colaboração. Rogar ao Senhor da messe significa certa-
mente, antes de mais nada, rezar por isso, tocar o Seu coração e dizer: “Fazei-o por favor!
Despertai os homens! Acendei neles o entusiasmo e a alegria pelo Evangelho! Fazei-os entender
que este é o mais precioso de todos os tesouros e que quem o descobriu deve transmiti-lo!”
Nós tocamos o coração de Deus. Mas o rogar a Deus não se realiza somente mediante palavras
de oração; implica também a transformação da palavra em acção, para que o nosso coração que
pede lance a faísca da alegria em Deus, da alegria pelo Evangelho, e suscite em outros corações
a disponibilidade a dizer um “sim”. Como pessoas de oração, repletas da Sua luz, atingimos
os outros e, envolvendo-os na nossa oração, fazemos com que entrem na luz da presença de
Deus, que fará então a Sua parte. Neste sentido queremos sempre e novamente rogar ao Senhor
da messe, tocar o Seu coração e tocar, com Deus, na nossa oração, também os corações dos
homens para que Ele, segundo a Sua vontade, faça amadurecer neles o “sim”, a disponibilidade
e a constância - através de todas as confusões do tempo, através do calor do dia e também
através da escuridão da noite - de perseverar fielmente no serviço, haurindo continuamente dele
a consciência de que, embora fatigante, este esforço é bom, é útil porque conduz ao essencial,
ou seja, faz com que os homens recebam o que esperam: a luz de Deus e o amor de Deus.

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© L’Osservatore Romano

BENTO XVI
Encontro com os Sacerdotes e os Diáconos
em Freising, 14 de Setembro de 2006

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MATERNIDADE ESPIRITUAL
DOS SACERDOTES
A vocação de ser mãe espiritual dos sacerdotes é muito pouco conhecida, insuficien-
temente compreendida e portanto pouco vivida, apesar da sua vital e fundamental
importância. Essa vocação muitas vezes está escondida, invisível aos olhos humanos,
mas tem como objectivo transmitir vida espiritual.
Disto tinha certeza o Papa João Paulo II: por isso ele quis no Vaticano um mosteiro de
clausura onde fosse possível rezar pelas suas intenções como Sumo Pontífice.

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I ndependentemente da idade e do estado civil, todas as mulheres se podem tornar mães espiri-
tuais de um sacerdote, e não somente as mães de família. É possível também para uma mulher
doente, para uma mulher solteira ou para uma viúva. Adapta-se, em particular, às missionárias
e às religiosas que oferecem inteiramente a própria vida a Deus pela santificação da humani-
dade. João Paulo II agradeceu até mesmo a uma menina pela sua ajuda materna: “Exprimo
a minha gratidão também à beata Jacinta de Fátima pelos sacrifícios e orações oferecidas pelo
Santo Padre, que ela tinha visto em grande sofrimento”. (13 de Maio de 2000).

Cada sacerdote é precedido de uma mãe que, frequentemente, também é uma mãe de vida
espiritual para os seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, o futuro Papa Pio X, logo depois
de ser consagrado bispo foi visitar sua mãe, na altura com setenta anos de idade. Ela beijou
respeitosamente o anel do filho e de repente, ficando pensativa, indicou a sua pobre aliança de
prata: “Sim, Peppo, mas tu agora não estarias usando esse anel se eu antes não tivesse usado
a minha aliança”. S. Pio X, justamente, confirmava a partir da sua experiência: “Cada vocação
sacerdotal vem do coração de Deus, mas passa através do coração de uma mãe!”.

“O QUE ME TORNEI E COMO,


O DEVO À MINHA MÃE!”
Sto. Agostinho

Um excelente testemunho é a vida de Sta. vesse ao seu lado; ela escutava atentamente,
às vezes intervinha com um parecer delicado
Mónica. Santo Agostinho, seu filho, que aos deza-
ou, para assombro dos sábios presentes, dava
nove anos, como estudante em Cartago, havia
respostas a questões abertas. Portanto não
perdido a fé, escreveu nas suas ‘Confissões’:
surpreende que Santo Agostinho se decla-
“... Mas Vós, lá do alto, estendestes a mão
rasse seu ‘discípulo em filosofia’!
e arrancastes a minha alma desta voragem tene-
brosa, enquanto minha Mãe, Vossa fiel serva,
junto de Vós chorava por mim, mais do que as
outras mães choram sobre os cadáveres dos
filhos. … Entretanto aquela viúva casta, piedosa
e sóbria - como Vós a quereis - já, certamente,
mais alegre pela esperança, mas não menos
remisse em prantos e gemidos, não se cansava
de Vos fazer queixa de mim, durante as horas
em que orava.” Após a conversão disse com
gratidão: “Minha santa mãe, Vossa serva, nunca
me abandonou. Ela me deu à luz com a carne
para esta vida temporal e com o coração para
a vida eterna. O que me tornei e como, o devo
à minha Mãe!”.
Durante as suas discussões filosóficas, Santo
Agostinho queria sempre que a sua mãe esti-

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O SONHO DE UM CARDEAL

O Cardeal Nicolau Cusano (1401-1464), Bispo de Bressanone, não foi somente um


grande político da Igreja, famoso legado papal e reformadorda vida espiritual do
clero e do povo no século XV, mas também um homem do silêncio e da contemplação.
Num “sonho” foi-lhe mostrada aquela realidade espiritual que ainda hoje vale para
todos os sacerdotes e para todos os homens: o poder do abandono, da oração e do
sacrifício das mães espirituais no segredo dos conventos.

MÃOS E CORAÇÕES
QUE SE SACRIFICAM

“... Ao entrar numa igreja pequena e muito o cardeal Nicolau viu o papa. Percebia-se
quanto a carga pesava sobre ela, mas o seu
antiga, decorada com mosaicos e frescos dos
primeiros séculos, o cardeal teve uma visão rosto brilhava de felicidade. Sobre as mãos
imane. Milhares de religiosas rezavam na de uma religiosa idosa estava ele próprio,
pequena igreja. Elas eram tão graciosas e reco- D. Nicolau Cusano, Bispo de Bressanone
lhidas que havia lugar para todas, apesar da e cardeal da Igreja romana. Ele reco-
comunidade ser numerosa. As irmãs rezavam nheceu-se claramente a si mesmo com
e o cardeal nunca tinha visto rezar tão inten- as suas rugas e com os defeitos da sua alma
samente. Elas não estavam de joelhos, mas e da sua vida. Observava tudo com olhos
firmes em pé, o olhar não longínquo, porém arregalados e assustados, mas logo ao susto
fixo num ponto próximo a ele e, no entanto, seguiu-se uma indescritível beatitude.
invisível aos seus olhos. Os braços das irmãs O guia, que estava ao seu lado, murmurou-
estavam abertos e as mãos viradas para o alto, lhe: “Veja como apesar dos seus vossos
numa posição de oferecimento”. pecados, são ajudados e suportados
os pecadores que não deixaram de amar
O incrível desta visão é que as irmãs segu- a Deus!”. O cardeal perguntou: “O que
ravam, em suas pobres e delicadas mãos, acontece então aos que deixam de amar?”.
homens e mulheres, imperadores e reis, Repentinamente, sempre acompanhado pelo
cidades e países. Às vezes as mãos aper- sua guia, encontrou-se na cripta da igreja,
tavam-se ao redor de uma cidade; outras onde rezavam outros milhares de religiosas.
vezes de um país, reconhecível pelas
bandeiras nacionais, estendia-se sobre Enquanto que as anteriores sustentavam
uma muralha de braços que o sustentavam. as pessoas com as mãos, estas na cripta
Nestes casos também em volta de cada sustentavam-nas com o coração. Estavam
irmã que rezava expandia-se um halo de profundamente envolvidas, pois tratava-
silêncio e discrição. A maioria das reli- se do destino eterno das almas. “Veja,
giosas, porém, sustentava com as mãos Eminência”, disse o guia: “assim são
um só irmão ou irmã. Nas mãos de uma suportados aqueles que deixaram de amar.
jovem e frágil monja, quase uma menina, Algumas vezes acontece que se aquecem

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com o calor dos corações que se consomem O cardeal fitou as mulheres vítimas volun-
por eles, mas nem sempre. Às vezes, na tárias. Ele sempre soubera da sua exis-
hora da morte, passam das mãos daqueles tência. Nunca, porém, havia percebido
que ainda os querem salvar para as mãos com tanta clareza o que significavam para
do Juiz divino, a quem devem justificar-se a Igreja, para o mundo, para os povos e para
inclusive pelo sacrifício que lhes foi ofere- cada indivíduo; somente agora, confuso,
cido. Nenhum sacrifício fica sem frutos, compreendia. Curvou-se, então, profunda-
mas quem não colhe o fruto que lhe foi mente perante as mártires do amor.
oferecido, amadurece o fruto da ruína”.

Desde o ano 550 e durante meio século, Säben foi a sede episcopal da diocese de Bressanone. A partir de
1685, portanto há mais de 300 anos, o castelo tornou-se um mosteiro, onde até hoje uma comunidade de
Irmãs Beneditinas vive a maternidade espiritual, rezando e consagrando-se a Deus, exactamente como
o cardeal Nicolau Cusano vira no seu sonho.

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ELIZA VAUGHAN

É uma verdade evangélica que as vocações sacerdotais devem ser pedidas com
a oração. Evidencia-o Jesus no evangelho quando diz: “A messe é grande, mas os
trabalhadores são poucos. Peçam, pois, ao Senhor da messe que envie trabalhadores
para a sua messe!”(Mt 9,37-38).
Oferece-nos um exemplo muito significativo a inglesa Eliza Vaughan, mãe de família
e mulher dotada de espírito sacerdotal, que rezou muito pelas vocações.

Eliza provinha de uma família protestante,


a dos Rolls, que sucessivamente fundou a
indústria automobilística Rolls-Royce, mas
quando jovem, durante a sua permanência
e educação em França, havia ficado muito
impressionada pelo exemplar empenho da
Igreja Católica para com os pobres.
No Verão de 1830, após o casamento
com o coronel John Francis Vaughan,
Eliza, apesar da forte resistência dos seus
parentes, converteu-se ao catolicismo.
Havia tomado essa decisão com convicção
e não somente por ter passado a fazer parte
de uma famosa família inglesa de tradição
católica. Os antepassados Vaughan, durante
a perseguição dos católicos ingleses no
reinado de Isabel I (1558-1603), prefe-
riram sofrer a expropriação dos bens
e a prisão a renunciar à própria fé.
Courtfield, a residência originária da
família de seu marido, tornara-se, durante Certa do poder da oração silenciosa e fiel, Eliza
as décadas de terror, um abrigo para os Vaughan reservava cada dia uma hora de adoração
sacerdotes perseguidos e um lugar onde na capela da casa, rezando pelas vocações na sua
família. Tornando-se mãe de seis sacerdotes foi
se celebrava a Santa Missa. Desde então grandemente atendida. Falecida em 1853, a Mãe
haviam passado três séculos, mas nada Vaughan foi enterrada em Courtfield, na propriedade
mudara no espírito católico da família. da família que ela tanto amara.
Hoje, Courtfield é um centro de exercícios espirituais
da diocese de Cardiff. Com o exemplo da santa vida
de Eliza, em 1954 a Capela da Casa foi consagrada
pelo bispo como “Santuário de Nossa Senhora das
Vocações”, título que foi confirmado no ano 2000.

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OFEREÇAMOS OS NOSSOS
FILHOS A DEUS

Convertida de todo o coração, cheia de zelo, deiras. Os filhos não se entediavam quando
a mãe lhes contava as vidas dos santos, que aos
Eliza propôs ao marido oferecer os filhos
a Deus. Essa mulher de elevadas virtudes poucos se tornaram para eles amigos íntimos.
rezava todos os dias durante uma hora em Eliza levava consigo os filhos também nas
frente ao Santíssimo Sacramento, na Capela visitas e nos cuidados aos doentes e aos sofre-
da residência de Courtfield, pedindo a Deus dores das vizinhanças, para que pudessem
uma família numerosa e muitas vocações nestas ocasiões aprender a serem generosos,
religiosas entre os seus filhos. Foi atendida! a fazer sacrifícios, a dar aos pobres as suas
Teve catorze filhos e morreu pouco depois poupanças e seus brinquedos.
do nascimento do último filho em 1853. Dos Faleceu pouco depois do nascimento do
treze filhos vivos, entre os quais oito rapazes, décimo quarto filho, John. Dois meses
seis tornaram-se sacerdotes: dois em ordens após a sua morte, o coronel Vaughan,
religiosas, um sacerdote diocesano, um bispo, convencido que ela havia sido um dom
um arcebispo e um cardeal. Das cinco filhas, da Providência, escreveu numa carta:
quatro tornaram-se religiosas. Que bênção “Hoje, durante a adoração, agradeci
para a família e que efeitos para toda a Ingla- o Senhor, por ter podido devolver-Lhe
terra! Todos os filhos da família Vaughan a minha amada esposa. Abri-Lhe o coração
tiveram uma infância feliz, porque na sua cheio de gratidão por ter-me dado a Eliza
educação a sua santa mãe possuía a capaci- como modelo e guia, A ela ainda me liga
dade de associar de modo natural a vida espi- um vínculo espiritual inseparável. Que
ritual e as obrigações religiosas com as diver- maravilhosa consolação e que graça me
sões e a alegria. Por vontade da mãe faziam transmite! Ainda a vejo, como sempre a
parte da vida quotidiana as orações e a Santa vi, perante o Santíssimo com aquela sua
Missa na capela da casa, bem como a música, pura e humana gentileza que lhe iluminava
o desporto, o teatro, a equitação e as brinca- o rosto durante a oração”.

TRABALHAI
NAS VINHAS DO SENHOR
As numerosas vocações entre os filhos do de um pouco de tempo para aceitar o anúncio,
pois sobre o filho mais velho, herdeiro da casa,
casal Vaughan são realmente uma extraordi-
nária herança na história do Reino Unido e uma havia colocado muitas esperanças e havia
bênção que provinha principalmente da mãe pensado para ele uma brilhante carreira militar.
Eliza. Quando Herbert, o filho mais velho, aos Como teria podido imaginar que Herbert iria
dezasseis anos anunciou aos pais que queria tornar-se Arcebispo de Westminster, fundador
tornar-se sacerdote, as reacções foram dife- de Millhill e posteriormente Cardeal?
rentes. A mãe, que havia rezado muito para que Mas o pai também logo se persuadiu
isso acontecesse, sorriu e disse: “Meu filho, eu já e escreveu a um amigo: “Se Deus quer
sabia há muito tempo”. O pai, porém, precisou Herbert para si, também pode ficar com

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todos os outros”. Reginaldo, porém,
casou-se, como Francis Baynham, que
herdou a propriedade da família. Deus
chamou ainda outros nove filhos dos
Vaughan. Roger, o segundo, tornou-se
prior dos beneditinos e mais tarde respei-
tado Arcebispo de Sydney, na Austrália,
onde mandou construir a catedral. Kenelm
tornou-se cisterciense e mais tarde sacer-
dote diocesano. José, o quarto filho dos
Vaughan, foi beneditino como o irmão
Roger e fundador de uma nova abadia.
Bernardo, talvez o mais animado de todos,
que amava muito a dança e o desporto,
que não perdia uma diversão, tornou-se
jesuíta. Conta-se que no dia anterior à sua
entrada na ordem, tenha tomado parte de
um baile e tenha dito ao seu par: “Este é
o último baile a que venho, porque vou
para jesuíta!”. Surpreendida, a jovem
teria exclamado: “Mas por favor! Logo
o senhor, que tanto ama o mundo e dança
maravilhosamente bem, quer ser jesuíta?”.
A resposta, que pode ser interpretada de
várias maneiras, é muito bonita: “Exacta-
mente por isso me entrego a Deus!”. John,
o mais novo, foi ordenado sacerdote pelo
irmão Herbert e posteriormente tornou-
se Bispo de Salford, em Inglaterra. Das
Herbert Vaughan tinha dezasseis anos quando no cinco filhas da família, quatro tornaram-
verão, durante um retiro espiritual, resolveu ser se religiosas. Gladis entrou na ordem da
sacerdote. Foi ordenado em Roma aos 22 anos
de idade e mais tarde tornou-se Bispo de Salford,
visitação, Teresa foi irmã da misericórdia,
em Inglaterra, e fundador dos Missionários de Claire irmã clarissa e Mary madre supe-
Millhill, que hoje actuam no mundo inteiro. Por riora das agostinianas. Margareta, a quinta
fim, tornou-se Cardeal e terceiro Arcebispo de filha dos Vaughan, também queria ser
Westminster. No seu brasão está escrito: “Amare
et Servire!”. O seu programa estava enunciado
religiosa, mas não pôde por causa da sua
na frase “O amor deve ser a raiz da qual brota saúde delicada. Viveu, porém, em casa
todo o meu serviço”. como consagrada e passou os últimos anos
da sua vida num mosteiro.

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BEATA MARIA
DELUIL MARTINY
(1841-1884)

Há cerca de 120 anos, nalgumas revela- dos sacerdotes... é tão belo e grande que seria
ções particulares, Jesus começou a confiar preciso ter mil vidas e mil corações!... Daria
às pessoas consagradas nos mosteiros e no de bom grado a minha vida para que Cristo
mundo o Seu plano para a renovação do sacer- pudesse encontrar nos sacerdotes aquilo que
dócio. Ele confiou a algumas mães espirituais deles se espera! A daria de bom grado mesmo
a chamada ‘obra para os sacerdotes’. Uma se um só pudesse realizar perfeitamente
das precursoras desta obra é a beata Maria o plano divino em si!”. De facto, aos 43 anos,
Deluil Martiny. Sobre esse seu grande íntimo ela selou com o martírio a sua maternidade
desejo ela disse “Oferecer-se pelas almas espiritual. As suas últimas palavras foram:
é belo e grande! Mas oferecer-se pelas almas “É para a obra, a obra para os sacerdotes!”.

VENERÁVEL
LOUISE MARGUERITE
CLARET DE LA TOUCHE
(1868-1915)

J esus também preparou por longos anos a Serva


de Deus Louise Marguerite Claret de la Touche
ao apostolado para a renovação do sacerdócio.
Ela contou que a 5 de Junho de 1902, durante
uma adoração, aparecera-lhe o Senhor.
“Eu tinha-Lhe pedido pelo nosso pequeno
noviciado e suplicado que me desse algumas
almas que eu pudesse plasmar para Ele. Ele
respondeu-me: ‘Dar-te-ei almas de homens’.
Fiquei em silêncio pois não compreendi as
Suas palavras. Jesus acrescentou: ‘Dar-te-
ei almas de sacerdotes. Ainda mais surpre-
endida por estas palavras, perguntei: ‘Meu
Jesus, como o farás?’. Ele então expôs-me
a obra que estava a preparar e que devia
aquecer o mundo com o amor. Jesus continuou
a explicar o Seu plano e, assim, quis dirigir-Se
aos sacerdotes: ‘Como há 1900 anos eu pude

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renovar o mundo com doze homens – eles Jesus e deveria ser iluminado pelo amor do
eram sacerdotes – hoje também eu poderia Seu Espírito. Os sacerdotes deveriam cultivar
renovar o mundo com doze sacerdotes, mas a união entre si, ser um coração e uma alma
deverão ser sacerdotes santos.” e nunca ser obstáculo uns para os outros”.
O Senhor mostrou então a Louise Margue- Louise Marguerite descreveu com expres-
rite a obra em concreto. “É uma união de sões muito felizes o sacerdócio no seu livro
sacerdotes, uma obra que abrange o mundo “O Coração de Jesus e o sacerdócio”, que
inteiro”, escreveu. “Se o sacerdote quer alguns sacerdotes acreditaram ser a obra de
realizar a sua missão e proclamar a miseri- um comfrade. Um jesuíta declarou: “Não sei
córdia de Deus, deveria em primeiro lugar, quem escreveu o livro, mas uma coisa sei com
ele mesmo ser invadido pelo Coração de certeza, não é obra de uma mulher!”.

LU MONFERATO
Vamos, agora, à pequena povoação de Lu no para a adoração do Santíssimo Sacramento,
sob a orientação do seu pároco, Monsenhor
Norte de Itália, uma localidade com poucos
milhares de habitantes, situada numa região Alessandro Canora, e a rezar pelas vocações.
rural a 90 km a oeste de Turim. Esta pequena Todos os primeiros domingos do mês rece-
povoação teria ficado desconhecido se em 1881 biam a Comunhão por essa intenção. Após
algumas mães de família não tivessem tomado a Missa todas as mães rezavam juntas para
uma decisão que iria ter “grandes repercussões”. pedir vocações sacerdotais. Graças à oração
cheia de confiança destas mães e à abertura
Muitas dessas mães tinham no coração de coração destes pais, as famílias viviam
o desejo de ver um dos seus filhos tornar-se num clima de paz, de serenidade e de alegre
sacerdote ou uma das suas filha entregar-se devoção que permitiu aos filhos discernir com
totalmente ao serviço do Senhor. Come- maior facilidade o seu chamamento.
çaram então a reunir-se todas as terças-feiras

16 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


Quando o Senhor disse: “Muitos são fazia dizer aos nossos pais: O Senhor nos deu
os chamados, mas poucos os eleitos” filhos e se Ele os chama nós certamente não
(Mt 22,14), devemos entendê-lo desta maneira: podemos dizer não!”. Luigi Borghina e Pietro
muitos serão chamados, mas poucos respon- Rota viveram a espiritualidade de Dom Bosco
derão. Ninguém podia pensar que o Senhor de maneira tão fiel que foram chamados um
teria atendido tão amplamente o pedido destas “o Dom Bosco do Brasil” e o outro “o Dom
mães. Desta povoação surgiram 323 vocações Bosco da Valtellina”. Monsenhor Evasio
à vida consagrada (323!): 152 sacerdotes (e Colli, Arcebispo de Parma, também vinha
religiosos) e 171 religiosas pertencentes a 41 de Lu (Alessandria). Dele disse João XXIII:
diferentes congregações. Em algumas famílias “Ele é que devia ser papa, não eu. Tinha tudo
houve até três ou quatro vocações. O exemplo para ser um grande papa”.
mais conhecido é o da família Rinaldi.
A cada 10 anos, todas as religiosas, reli-
O Senhor chamou sete filhos desta família.
giosos e sacerdotes ainda vivos reuniam-se
Duas filhas entraram para as irmãs Salesianas
em Lu, vindos de todas as partes do mundo.
e, enviadas a Santo Domingo, tornaram-se
Dom Mario Meda, pároco da cidade durante
pioneiras e missionárias corajosas. Entre os
muitos anos, contou como esse encontro na
homens, cinco tornaram-se sacerdotes Sale-
realidade era uma grande festa, uma festa de
sianos. O mais conhecido dos cinco irmãos,
agradecimento a Deus por ter feito grandes
Filippo Rinaldi, foi o terceiro sucessor de
coisas em Lu.
Dom Bosco, beatificado por João Paulo II
a 29 de Abril de 1990. De facto, muitos A oração que as mães de família rezavam em
jovens entraram para os salesianos. Não foi Lu era breve, simples e profunda:
por acaso, visto que Dom Bosco durante
a sua vida visitou quatro vezes a cidade de Lu. “Senhor, fazei que um dos meus filhos se torne
O santo participou da primeira Missa de sacerdote! Eu mesma quero viver como boa
Filippo Rinaldi, seu filho espiritual, na sua cristã e quero conduzir os meus filhos para
cidade de origem. Filippo gostava muito de o bem, a fim de obter a graça de poder oferecer-
lembrar a fé das famílias de Lu: “Uma fé que Vos, Senhor, um sacerdote santo. Amém”.

Esta fotografia é única na história da Igreja Católica.


De 1 a 4 de Setembro de 1946 grande parte dos 323
sacerdotes, religiosos e religiosas provenientes de
Lu encontraram-se na sua povoação. Este encontro
teve repercussão no mundo inteiro.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 17


BEATA
ALEXANDRINA DA COSTA
(1904-1955)

Também um exemplo de vida como a de Alexan- O P. Pinho quis então indagar junto do cardeal
de Lisboa para saber se naquele momento algum
drina da Costa, beatificada a 25 de Abril de 2004,
demonstra de maneira impressionante a força sacerdote estaria a dar-lhe muitos desgostos.
transformadora e os efeitos visíveis do sacrifício O cardeal confirmou com sinceridade que de
de uma jovem doente e abandonada. Em 1941 facto havia um sacerdote que o preocupava;
Alexandrina escreveu ao seu pai espiritual, P. o nome que pronunciou era exactamente
Mariano Pinho, que Jesus Se havia dirigido a ela o mesmo que Jesus dissera a Alexandrina.
com estas palavras: “Minha filha, em Lisboa vive Alguns meses mais tarde foi referido ao P.
um sacerdote que corre o risco de se condenar Pinho, por parte de um amigo sacerdote, P.
eternamente; ele ofende-me de maneira grave. David Novais, um episódio especial. O P. David
Chama o teu pai espiritual e pede-lhe autori- acabara de dar um curso de exercícios espirituais
zação para que Eu te faça sofrer particularmente, em Fátima, no qual também havia participado
durante a paixão, por aquela alma”. um senhor muito discreto que todos haviam
Recebida a licença, Alexandrina sofreu muitís- notado pelo seu comportamento exemplar. Este
simo. Sentia o peso dos pecados daquele sacer- homem, no último dia dos exercícios, sofreu um
dote, que não queria mais saber de Deus e estava ataque de coração; foi chamado um sacerdote
prestes a condenar-se. A coitada vivia no seu e ele pôde confessar-se e receber a Comunhão.
corpo o estado infernal em que se encontrava Pouco depois falecia, reconciliado com Deus.
o sacerdote e suplicava: “Não, no inferno não! Descobriu-se que aquele senhor, vestindo roupas
Ofereço-me em holocausto por ele até quando Tu leigas, era um sacerdote e era exactamente aquele
quiseres”. Ela chegou a ouvir o nome e o apelido pelo qual Alexandrina tanto havia lutado.
do sacerdote.

18 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


SERVA DE DEUS
CONSOLATA BETRONE
(1903-1946)

O s sacrifícios e as orações de uma mãe


espiritual de sacerdotes destinam-se em
particular aos consagrados que se perderam
ou que abandonaram a própria vocação.
Jesus, na Sua Igreja, chamou a esta vocação
inumeráveis mulheres, como por exemplo
a Irmã Consolata Betrone, Clarissa Capu-
chinha de Turim. Jesus disse-lhe: “A tua
tarefa na vida é dedicares-te aos teus
irmãos. Consolata, tu também serás um
bom pastor e irás em busca dos irmãos
perdidos para trazê-los de volta a Mim”.
Consolata ofereceu tudo por eles, pelos
“seus irmãos” sacerdotes e consagrados
que se encontravam em dificuldade espiri-
tual. Na cozinha, durante o trabalho, rezava
sem cessar a sua oração do coração: “Jesus,
Maria, Vos amo, salvai as almas!”.
Transformou conscientemente qualquer
pequeno serviço e tarefa em sacrifício.
Jesus disse-lhe a esse propósito: “Estas
são acções insignificantes, mas como tu
as ofereces com grande amor, concedo
a elas um valor desmedido e transformo-as
em graças de conversão que descem sobre
os irmãos infelizes”.
Muitas vezes no convento eram assinalados
por telefone ou por carta casos concretos dos
quais Consolata carregava o peso no sofri- uma grande promessa: “Consolata, não
mento. Às vezes sofria durante semanas ou é só um irmão que devolverás a Deus,
meses pela aridez, pela sensação de inutili- mas todos. Prometo-te que Me darás os
dade, de obscuridade, de solidão, de dúvidas irmãos, todos, um após o outro”. E assim
e pelos estados pecaminosos dos sacerdotes. foi! Levou de volta a um sacerdócio rico
Uma vez, durante essas lutas interiores, de graça todos os sacerdotes que lhe haviam
escreveu ao seu pai espiritual: “Quanto me sido confiados. Muitos destes casos foram
custam os irmãos!”. Jesus, porém, fez-lhe documentados com precisão.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 19


BERTHE PETIT
(1870-1943)

Berthe Petit é uma grande mística belga, uma alma de expiação pouco conhecida.
Jesus indicou-lhe com clareza o sacerdote pelo qual devia renunciar aos seus
projectos pessoais e também fez com que o encontrasse.

O “PREÇO” DE UM
SACERDOTE SANTO

Desde os quinze anos, Berthe durante cada


Santa Missa rezava pelo celebrante: “Meu
Jesus, faz com que o Teu sacerdote não te cause
desgostos!”. Quando tinha dezassete anos, os
seus pais perderam todo o património por causa
de uma fiança; no dia 8 de Dezembro de 1988,
o seu director espiritual disse-lhe que a sua
vocação não era o mosteiro, mas ficar em casa
e cuidar dos pais. Com desgosto, aceitou o sacri-
fício; pediu, porém, a Nossa Senhora que interce-
desse para que, em vez da sua vocação religiosa,
Jesus chamasse um sacerdote zeloso e santo.
“Serás atendida!” garantiu-lhe o pai espiritual.
O que ela não podia prever aconteceu dezasseis à mesma hora Berthe, assistindo à Santa Missa
dias mais tarde: um jovem advogado de 22 anos, da meia-noite em outra paróquia, prometia sole-
o dr. Louis Decorsant, estava a rezar perante uma nemente ao Senhor: “Jesus, quero ser um holo-
imagem de Nossa Senhora das Dores. De repente causto para os sacerdotes, para todos os sacer-
e inesperadamente, ele teve a certeza de que a sua dotes, mas de modo especial para o sacerdote
vocação não era casar com a rapariga que amava da minha vida”.
e exercer a profissão de jurista. Compreendeu
Quando foi exposto o Santíssimo, a jovem viu de
com clareza que Deus o chamava ao sacerdócio.
repente uma grande cruz com Jesus e aos Seus
Essa chamada foi tão clara e insistente que ele
pés Maria e João. Ela ouviu as seguintes pala-
não hesitou nem um instante em abandonar tudo.
vras: “O teu sacrifício foi aceite, a tua súplica
Após os estudos em Roma, onde havia termi-
atendida. Eis o teu sacerdote... Um dia o conhe-
nado o seu doutoramento, foi ordenado sacerdote
cerás”. Berthe viu que os traços do rosto de João
em 1893. Berthe tinha então 22 anos.
assumiram os de um sacerdote desconhecido.
Nesse mesmo ano um jovem sacerdote, com 27 Tratava-se do reverendo Decorsant, mas ela
anos, celebrou a Santa Missa da meia-noite num somente o encontraria em 1908, ou seja, quinze
subúrbio de Paris. Esse facto é importante porque anos depois, reconhecendo o seu rosto.

20 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


O ENCONTRO
DESEJADO POR DEUS

Berthe encontrava-se em Lourdes, em pere- dote desceu do comboio. Exactamente um


mês mais tarde, o mesmo reverendo Decor-
grinação. Aqui Nossa Senhora confirmou-
lhe: “Verás o sacerdote que pediste a Deus sant fez uma peregrinação a Lourdes para
há vinte anos. Está prestes a acontecer”. Ela confiar a Nossa Senhora o seu futuro de
estava com uma amiga na estação de Austerliz sacerdote. Carregando a sua bagagem encon-
em Paris, num comboio que ia para Lourdes, trou novamente Berthe e a sua amiga. Reco-
quando um sacerdote entrou na carruagem nhecendo as duas mulheres, convidou-as
onde elas estavam para guardar o lugar para para a Santa Missa. Enquanto o P. Decorsant
uma doente. Era o reverendo Decorsant. Os elevava a hóstia, Jesus disse a Berthe no seu
seus traços eram os que Berthe havia visto íntimo: “Este é o sacerdote pelo qual aceitei
no rosto de S. João quinze anos antes, era o Teu sacrifício”. Após a liturgia, ela soube
portanto aquele pelo qual havia oferecido que “o sacerdote da sua vida”, como lhe teria
tantas preces e tanto sofrimento físico. Após chamado posteriormente, estava hospedado
ter trocado algumas palavras gentis, o sacer- na mesma pensão que ela.

UMA TAREFA EM COMUM

Berthe revelou ao P. Decorsant a sua vida


espiritual e a sua missão para a consa-
gração ao Coração Imaculado e Doloroso
de Maria. Ele, por sua vez, compreendeu
que essa alma preciosa lhe havia sido
confiada por Deus. Aceitou ser transferido
para a Bélgica e tornou-se para Berthe
Petit um santo director espiritual e um
apoio incansável para a realização da sua
missão. Sendo um excelente teólogo foi
um mediador ideal para a hierarquia ecle-
siástica em Roma.
Durante vinte e quatro anos, ou seja até
à sua morte, acompanhou Berthe que, como
alma de expiação, muitas vezes estava
doente e sofria de modo especial pelos
sacerdotes que abandonavam a vocação.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 21


VENERÁVEL
CONCHITA DO MÉXICO
(1862-1937)

Maria Concepción Cabrera de Armida, Conchita, esposa e mãe de numerosos filhos, é


uma das santas modernas que Jesus preparou para uma maternidade espiritual pelos
sacerdotes. No futuro ela terá grande importância para a Igreja universal.

Jesus uma vez explicou a Conchita: “Existem Santo sobre os Meus sacerdotes como num
novo Pentecostes”. “A Igreja e o mundo neces-
almas que receberam uma unção através da
ordenação sacerdotal. Porém, há também sitam de um novo Pentecostes, um Pentecostes
almas sacerdotais que têm uma vocação sem sacerdotal, interior”.
ter a dignidade ou a ordenação sacerdotal. Elas Quando era jovem Conchita rezava com
oferecem-se em união comigo... Essas almas frequência frente ao Santíssimo: “Senhor, sinto-
ajudam espiritualmente a Igreja de maneira me incapaz de te amar, portanto quero casar.
poderosa. Tu serás mãe de um grande número Dá-me muitos filhos e que eles possam amar-Te
de filhos espirituais, mas eles custarão ao teu mais do que eu sou capaz.”. Do seu casamento
coração como mil martírios. Oferece-te como muito feliz nasceram nove filhos, duas meninas
holocausto, une-te ao Meu sacrifício para obter e sete rapazes. Ela consagrou-os todos a Nossa
as graças para eles” ... “Desejaria voltar a este Senhora: “Entrego-os completamente a ti como
mundo... nos Meus sacerdotes. Desejaria renovar se fossem teus filhos. Tu sabes que eu não os sei
o mundo, revelando-Me neles e dar um impulso educar, pouco sei do que significa ser mãe, mas
forte à Minha Igreja, derramando o Espírito Tu, Tu sabes”. Conchita viu morrer quatro dos

Conchita, jovem viúva e o filho Manuel

22 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


seus filhos e todos tiveram uma morte santa. e principalmente esquece-te a ti mesmo! Não
Conchita foi realmente mãe espiritual para o sacer- posso imaginar um consagrado que não seja um
dócio de um dos seus filhos; e sobre ele escreveu: santo. Não é possível entregar-se a Deus pela
“Manuel nasceu na mesma hora em que morreu o metade. Procura ser generoso com Ele!”.
Padre José Camacho. Quando ouvi a notícia, pedi
Em 1914 Conchita encontrou-se com Manuel em
a Deus que o meu filho pudesse substituir este
Espanha pela última vez, porque ele nunca mais
sacerdote no altar. Desde o momento em que
voltou ao México. Nessa época o filho escreveu-
o pequeno Manuel começou a falar, rezámos
lhe: “Minha querida, pequena mãe, indicaste-
juntos pela grande graça da vocação ao sacer-
me o caminho. Tive a sorte, desde pequeno, de
dócio... No dia da sua primeira Comunhão e em
ouvir de teus lábios a doutrina salutar e exigente
todas as festas importantes renovei a súplica... Aos
da cruz. Agora quero pô-la em prática”. A mãe
dezassete anos entrou na Companhia de Jesus”.
também experimentou a dor da renúncia: “Levei
Em 1906, de Espanha, onde estava, Manuel a tua carta perante o tabernáculo e disse ao
(o terceiro filho, nascido em 1889) comunicou-lhe Senhor que aceito com toda minha alma esse
a sua decisão de se tornar sacerdote e ela escreveu- sacrifício. No dia seguinte coloquei a carta no
lhe: “Entrega-te ao Senhor com todo o coração meu peito enquanto recebia a Santa Comunhão
sem nunca te negares! Esquece as criaturas para renovar o sacrifício total”.

MÃE, ENSINA-ME
A SER SACERDOTE

Dia 23 de Julho de 1922, uma semana antes miséria”. Dez anos mais tarde escreveu ao filho
“Não consigo imaginar um sacerdote que não
da ordenação sacerdotal, Manuel, então com 30
anos de idade, escreve a sua mãe: “Mãe, ensina- seja Jesus, ainda menos quando ele é parte
me a ser sacerdote! Fala-me da imensa alegria da Companhia de Jesus. Rezo por ti, para que
de poder celebrar a Santa Missa. Entrego tudo a tua transformação em Cristo, desde o momento
nas tuas mãos, como me protegeste no teu peito da celebração, se cumpra de modo que tu sejas,
quando eu era criança e me ensinaste a pronun- dia e noite, Jesus” (17 de Maio de 1932).
ciar os belos nomes de Jesus e Maria para me “O que faríamos sem a cruz? A vida sem as
introduzir nesse mistério. Sinto-me realmente dores que unem, santificam, purificam e obtêm
como uma criança que pede preces e sacrifícios... graças, seria insuportável” (10 de Junho de
Assim que eu for ordenado sacerdote, enviar-te- 1932). O P. Manuel morreu aos 66 anos de idade
ei a minha bênção e depois, ajoelhado, receberei em odor de santidade. O Senhor fez com que
a tua”. Quando Manuel foi ordenado sacerdote, Conchita compreendesse para o seu apostolado:
a 31 de Julho de 1922, em Barcelona, Conchita “Confio-te mais um martírio: tu sofrerás aquilo
levantou-se para participar espiritualmente da que os sacerdotes cometem contra mim. Tu
ordenação; devido ao fuso horário no México o viverás e oferecerás pela infidelidade e pelas
era noite. Ela comoveu-se profundamente: “Sou misérias deles”. Esta maternidade espiritual
mãe de um sacerdote! ... Posso somente chorar pela santificação dos sacerdotes e da Igreja
e agradecer! Convido todo o céu a agradecer em consumiu-a completamente. Conchita morreu
meu lugar porque me sinto incapaz pela minha em 1937 aos 75 anos.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 23


O MEU SACERDÓCIO
E UMA DESCONHECIDA

BARÃO WILHELM
EMMANUEL KETTELER
(1811-1877)

Todos nós devemos o que somos e a nossa vocação às preces e aos sacrifícios dos
outros. No caso do famoso Bispo D. Ketteler, extraordinária figura do episcopado
alemão do século XIX e figura de destaque entre os fundadores da sociologia católica,
a benfeitora foi uma religiosa, a última e a mais pobre irmã do seu convento.

Em 1869 estavam juntos o bispo de uma Cristo estava por cima de mim numa nuvem
diocese na Alemanha e o seu hóspede, o Bispo de luz e mostrava-me o Seu Sagrado Coração.
de Mainz, D. Ketteler. Durante a conversa Em frente dEle estava uma freira ajoelhada
o bispo diocesano elogiava as tantas obras com as mãos erguidas em posição de implo-
benéficas do seu hóspede. Mas D. Ketteler ração. Da boca de Jesus ouvi as seguintes
explicou ao seu interlocutor: “Tudo o que palavras: ‘Ela reza ininterruptamente por
alcancei com a ajuda de Deus, o devo às ti!’. Eu via com clareza a figura da irmã,
preces e ao sacrifício de uma pessoa que não e sua fisionomia impressionou-me de maneira
conheço. Posso somente dizer que alguém tão forte que ainda hoje a tenho perante
ofereceu a Deus a sua vida em sacrifício por os meus olhos Ela parecia-me uma simples
mim e graças a isso tornei-me sacerdote”.
conversa. A sua roupa era pobre e rústica,
E continuou: “Antes eu não me sentia desti-
e as suas mãos avermelhadas e calejadas pelo
nado ao sacerdócio. Tinha feito alguns exames
na faculdade de direito e desejava fazer uma trabalho pesado. O que quer que tenha sido,
rápida carreira que me permitisse ter um sonho ou não, para mim foi extraordinário,
lugar de prestígio no mundo, ser respeitado pois fui atingido no íntimo e, a partir daquele
e ganhar muito dinheiro. Um acontecimento momento, resolvi consagrar-me inteiramente
extraordinário porém impediu tudo isso a Deus no serviço sacerdotal.
e conduziu a minha vida noutra direcção.
Recolhi-me num mosteiro para os exercí-
Uma noite, enquanto estava sozinho no meu cios espirituais e conversei sobre tudo isso
quarto, abandonei-me aos meus sonhos de com meu confessor. Comecei os estudos de
ambição e aos planos para o futuro. Não sei teologia aos trinta anos. O resto o senhor já
o que me aconteceu, não sei se estava acor- conhece. Se agora o senhor acredita que algo
dado ou não. O que eu via era a realidade de bom foi feito por meu intermédio, saiba de
ou um sonho? Só uma coisa sei com certeza: quem é o mérito: daquela irmã que rezou por
vi aquilo que sucessivamente provocou mim, talvez sem sequer me conhecer. Tenho
a viragem da minha vida. Claro e límpido, a certeza que por mim se rezou e ainda se

24 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


reza em segredo, e que sem aquela prece eu “Não. Posso somente pedir a Deus que
não poderia alcançar a meta à qual Deus a abençoe, se ainda vive, e que lhe devolva
me destinou”. “Tem ideia de quem reza por mil vezes o que fez por mim”.
si e onde?” perguntou o bispo diocesano.

A IRMÃ DO ESTÁBULO

No dia seguinte D. Ketteler foi visitar saber D. Ketteler. “Não tenho consciência
disso, pois não sabia da existência de Vossa
um convento de religiosas numa cidade
próxima e lá celebrou a Santa Missa na Excelência”. O bispo ficou alguns instantes
capela. Quando estava prestes a terminar imóvel em silêncio, depois continuou com
a distribuição da Sagrada Comunhão, já outras perguntas. “Que devoções ama mais
na última fila, o seu olhar deteve-se sobre e pratica com maior frequência?” “A vene-
uma irmã. O seu rosto empalideceu e ele ração ao Sagrado Coração”, respondeu
ficou imóvel, mas logo se recompôs e deu a a irmã. “Parece que a Irmã tem o trabalho
comunhão à religiosa que não se apercebera mais pesado de todo o convento!” conti-
de nada e estava devotadamente ajoelhada. nuou. “Ah não, Excelência! Certamente
Concluiu então serenamente a liturgia. não posso negar que às vezes me repugna”.
“Então o que faz quando é atormentada pela
Para o pequeno-almoço chegou também ao tentação?”. “Acostumei-me a enfrentar,
convento o bispo diocesano do dia anterior. por amor a Deus, com zelo e alegria todas
D. Ketteler pediu à madre superiora que lhe as tarefas que me custam muito e depois
apresentasse todas as irmãs e elas apare- oferecê-las por uma alma no mundo. Será
ceram imediatamente. Os dois bispos apro- o bom Deus a escolher a quem dar a Sua
ximaram-se e D. Ketteler cumprimentou-as graça, eu não quero saber. Também ofereço
observando-as, mas percebia-se claramente a hora de adoração da noite, das 20 às 21
que não encontrava quem procurava. Em voz horas, por essa intenção”. “E como teve
baixa dirigiu-se à madre superiora: “As irmãs a ideia de oferecer tudo isso por uma alma?”
estão todas aqui?” Ela, olhando o grupo, “É um costume que eu já tinha quando
respondeu: “Excelência, mandei chamá-las ainda vivia no mundo. Na escola, o pároco
a todas mas, de facto, falta uma!”. “E porque ensinou-nos que devíamos rezar pelos
não veio?” A madre superiora respondeu: outros como se faz pela própria família.
“Ela cuida do estábulo, e de maneira tão E também acrescentava: ‘Seria necessário
exemplar que às vezes no seu zelo se esquece rezar muito por aqueles que correm o risco
das outras coisas”. “Desejo conhecer essa de se perderem para a eternidade. Mas visto
irmã”, disse o bispo. Pouco depois a religiosa que só Deus sabe quem tem mais necessi-
chegou. Ele empalideceu e, após ter dirigido dade, o melhor seria oferecer as orações ao
algumas palavras a todas as religiosas, pediu Sagrado Coração de Jesus, confiantes na
para ficar a sós com ela. Sua sabedoria e omnisciência’. E eu assim
“A Irmã conhece-me?” perguntou. “Exce- fiz, e sempre acreditei que Deus encontra
lência, eu nunca o vi!”. “Mas a Irmã rezou a alma certa”.
e ofereceu boas obras por mim?” queria

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 25


DIA DO ANIVERSÁRIO
E DIA DA CONVERSÃO

“Quantos anos tem?” perguntou D. Ketteler. O bispo estava abalado: “Então, por amor de
Deus, continue com essa obra!”.
“Trinta e três anos, Excelência”. O bispo,
impressionado, reflectiu por um instante A irmã ajoelhou-se à sua frente e pediu
e depois perguntou: “Quando é que a Irmã a bênção. O bispo levantou solenemente as
nasceu?” A irmã disse o dia do seu nascimento. mãos e com profunda comoção disse: “Com
Então o bispo ficou perplexo: tratava-se exac- os meus poderes episcopais, abençoo a sua
tamente do dia da sua conversão! Ele vira-a alma, as suas mãos e o trabalho que elas
à sua frente assim, exactamente como naquele cumprem, abençoo as suas orações e os seus
momento. “A Irmã não sabe se as suas preces sacrifícios, o seu domínio de si e a sua obedi-
e os seus sacrifícios tiveram sucesso?” “Não, ência. Abençoo-a principalmente para a sua
Excelência”. “E não gostaria de saber?”. última hora e peço a Deus que a assista com
“O bom Deus sabe quando fazemos algo de a Sua consolação”. “Amém”, respondeu
bom, isso me basta”, foi a simples resposta. serena a irmã e afastou-se.

UM ENSINAMENTO
PARA TODA A VIDA
orações e as boas obras daquela irmã.
O bispo estava abalado no seu íntimo.
Aproximou-se da janela, tentando recuperar Que ensinamento e que advertência para
a calma. Mais tarde despediu-se da madre mim! Se um dia cair na tentação de me
superiora e voltou à casa do seu amigo e orgulhar pelos eventuais sucessos e pelas
confrade. E a ele confidenciou: “Agora encon- minhas obras perante os homens, devo
trei aquela a quem devo a minha vocação. sempre lembrar que tudo me vem da graça,
É a última e a mais pobre irmã conversa do da oração e do sacrifício de uma pobre serva
convento. Nunca poderei agradecer a Deus que está no estábulo de um convento. E se um
o suficiente pela Sua misericórdia, porque trabalho insignificante me parecer de pouco
aquela religiosa reza por mim há quase valor, devo reflectir sobre isto: o que aquela
vinte anos. Deus porém já havia aceite a serva faz com humilde obediência a Deus
sua prece e também tinha previsto que o dia e oferece em sacrifício com domínio de si, tem
do seu nascimento coincidiria com o dia da um valor tão grande perante Deus que as suas
minha conversão; depois, Deus acolheu as obras criaram um bispo para a Igreja!”.

O Bispo D. Wilhelm Emmanuel Ketteler

26 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 27
SANTA
TERESA DE LISIEUX
(1873-1897)

Teresa tinha somente 14 anos quando,


durante uma peregrinação a Roma, compre-
endeu a sua vocação de mãe espiritual dos
sacerdotes. Na sua autobiografia escreve
como, após ter conhecido em Itália muitos
santos sacerdotes, entendera que, apesar
da sua sublime dignidade, não deixavam
de ser homens fracos e frágeis. “Se
santos sacerdotes ... mostram com o seu
comportamento uma necessidade extrema
de orações, o que dizer dos tíbios?”
(A 157). Numa das suas cartas encorajava
a irmã Celina: “Vivemos pelas almas,
somos apóstolos, salvamos principal-
mente as almas dos sacerdotes... rezamos,
sofremos por eles e, no último dia, Jesus
estará grato” (LT 94).
Na vida de Teresa, doutora da Igreja, há cansado e desanimado, portanto ofereço as
um episódio comovente que demonstra minhas fadigas por ele”.
o seu zelo pelas almas e especialmente
Deus demonstrou ter acolhido o desejo de
pelos missionários. Já estava muito doente
Teresa de oferecer a sua vida pelos sacerdotes
e podia andar somente à custa de muito
quando a madre superiora lhe confiou dois
esforço, mas o médico recomendara-lhe
nomes de seminaristas que haviam pedido
passear meia hora por dia no jardim. Mesmo
o apoio espiritual de uma carmelita. Um era
sem acreditar na utilidade desse exercício,
o abade Maurice Bellière, que poucos dias
ela fazia-o fielmente todos os dias. Uma
depois da morte de Teresa recebia o hábito
vez uma irmã que a acompanhava, vendo
de “Padre Branco”, tornando-se um sacer-
o grande sofrimento que lhe provocava
dote missionário. O outro era o P. Adolphe
o caminhar, disse-lhe: “Mas, irmã Teresa,
Roulland, que a santa acompanhou com as
porquê toda essa fadiga se o sofrimento
suas preces e sacrifícios até a ordenação
é maior que o alívio?”. E a santa respondeu:
sacerdotal e de modo especial durante a sua
“Sabe irmã, estou pensando que talvez
missão na China.
exactamente neste momento um missio-
nário em algum país remoto se sinta muito

28 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


BEATO CARDEAL
CLEMENS AUGUST
VON GALEN
(1878-1946)

A 13 de Setembro de 1933, com 55 anos


de idade, o pároco Clemens von Galen foi
nomeado Bispo de Münster pelo Papa Pio XI.
Fiel ao seu lema de não se deixar influenciar
“nem pelo elogio, nem pelo medo”, protestou
publicamente contra as medidas terroristas
da Gestapo e denunciou o Estado que havia
prejudicado os direitos da Igreja e dos seus
fiéis. Em 1946, o Papa Pio XII nomeou cardeal
o Bispo de Münster pelos seus méritos e pela
extraordinária coragem em professar a fé.
Na tomada de posse como pastor de Münster,
D. Galen fez imprimir uma imagem com
o seguinte texto: “Sou o décimo terceiro filho
da nossa família e agradecerei eternamente
a minha mãe por ter tido a coragem de dizer
sim a Deus também a esse décimo terceiro
filho. Sem esse sim de minha mãe, hoje eu não
seria sacerdote e bispo”.

O SERVO DE DEUS
PAPA JOÃO PAULO I
(1912-1978)

“FOI MINHA MÃE


QUEM ME ENSINOU”

J oão Paulo I começou a sua última audiência


geral em Setembro de 1978 rezando o acto de cari-
dade. “Eu vos amo, meu Deus, de todo o coração
e sobre todas as coisas, porque sois infinita-
mente bom e amável, e nossa eterna felicidade.
Por vosso amor, amo o meu próximo como
a mim mesmo e perdoo as ofensas rece-

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 29


bidas. Senhor, que eu vos ame sempre mais’. na sala de audiências respondeu com um
É uma famosíssima oração com as palavras aplauso impetuoso. Entre eles, uma jovem
da Bíblia. Foi minha mãe quem me ensinou. disse com lágrimas nos olhos: “Como
Continuo a rezá-la várias vezes por dia”. é comovedor que o Papa fale da sua mãe! Agora
Pronunciou essas palavras sobre a sua mãe entendo melhor quanta influência nós, mães,
com tanta ternura, que quem se encontrava podemos ter sobre os nossos filhos.”

“SENHOR DAI-NOS
NOVAMENTE SACERDOTES!”
Durante a perseguição comunista, Anna Stang sofreu muito e, como tantas outras
mulheres na sua situação, ofereceu os seus sofrimentos pelos sacerdotes. Na velhice
tornou-se, ela mesma, uma pessoa com espírito sacerdotal.

“FICÁMOS SEM PASTORES!”

Anna nasceu em 1909 na parte alemã do


Volga numa numerosa família católica. Era uma
simples aluna de nove anos quando viveu o início
da perseguição.
“... 1918, no segundo ano, no começo das aulas
ainda rezávamos o Pai-nosso. Um ano mais
tarde já havia sido proibido e o pároco já não
podia entrar na escola. Começavam a troçar de
nós, cristãos, já não respeitavam os sacerdotes
e destruíam os seminários.”
Aos onze anos Anna perdeu o pai e alguns
irmãos e irmãs por causa de uma epidemia de
cólera. Pouco tempo depois morreu também
a sua mãe, e ela, com apenas dezassete anos,
cuidou dos irmãos e das irmãs menores, mas
“…nosso pároco também morreu naquela
época e muitos sacerdotes foram presos.
Assim, ficámos sem pastores! Isso foi um
duro golpe. A Igreja na paróquia vizinha
ainda estava aberta, mas ali também não
havia nem um sacerdote. Os fiéis reuniam-se
assim mesmo para rezar, mas sem o pastor
a igreja estava abandonada. Eu chorava Anna Stang (à direita) e a sua amiga Vittoria.

30 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


e não conseguia acalmar-me. Quantos cantos, a Sagrada Comunhão! Tudo sofro de bom grado
quantas preces a haviam enchido e agora tudo pelo Teu amor, grande Coração de Jesus!” Anna
parecia morto”. ofereceu pelos sacerdotes todos os sofrimentos
Depois dessa escola de profundo sofrimento que se seguiram de modo especial, mesmo
espiritual, Anna começou a rezar de modo espe- quando numa noite de 1938 o seu irmão e o seu
cial pelos sacerdotes e missionários. “Senhor, marido – tinha um casamento feliz há sete anos –
dá-nos novamente um sacerdote, dá-nos foram presos e nunca mais voltaram.

ENTREGA
DO SERVIÇO SACERDOTAL

Em 1942 a jovem viúva Anna foi deportada cida minha, para participar na Santa Missa.
A viagem era longa, mais de 1000 km, mas
para o Cazaquistão com os seus três filhos.
para nós foi uma grande alegria. Há mais de
“Foi duro enfrentar o frio do Inverno, mas vinte anos que não víamos um sacerdote nem
depois chegou a Primavera. Naquela época um confessionário! O pastor daquela cidade
chorei muito, mas também rezei muitíssimo. Eu era idoso e passara mais de dez anos na prisão
tinha a sensação que alguém estava a segurar- por causa da sua fé. Enquanto ali estive, foram-
me na mão. Na cidade de Syrjanowsk encon- me confiadas as chaves da igreja e, assim,
trei algumas mulheres católicas. Reuníamo-nos pude fazer longas horas de adoração. Nunca
às escondidas todos os domingos e dias de festa imaginei poder estar tão próxima do taberná-
para cantar e rezar o terço. Eu suplicava com culo. Cheia de alegria ajoelhei-me e beijei-o”.
frequência: Maria, nossa mãe querida, vê como
somos pobres. Dai-nos novamente sacerdotes, Antes de viajar, Anna teve a licença de levar a
mestres e pastores!” Sagrada Comunhão aos católicos mais idosos
da sua cidade, que nunca poderiam ter ido
A partir de 1965 a violência da perseguição pessoalmente à igreja. “A pedido do sacerdote,
diminuiu e Anna podia ir uma vez por ano na minha cidade, durante trinta anos baptizei
à capital do Quirguistão, onde vivia um sacer- crianças e adultos, preparei os casais para
dote católico no exílio. o sacramento do matrimónio e orientei enterros
“Quando estive em Biskek foi construída uma até que, por motivos de saúde, deixei de poder
igreja. Fui lá com a Vittoria, uma conhe- prestar esse serviço”.

ORAÇÕES ÀS ESCONDIDAS PARA


FAZER CHEGAR UM SACERDOTE!

Não é possível imaginar a gratidão de Anna seus olhos a realização desse desejo profundo.
quando em 1995 encontrou pela primeira vez um A Santa Missa foi celebrada na sua casa e esta
sacerdote missionário. Chorou de alegria e com maravilhosa mulher de alma sacerdotal pôde
emoção exclamou: “Veio Jesus, o Sumo sacer- receber a Sagrada Comunhão. Durante o resto do
dote!”. Rezava há décadas para que chegasse um dia Anna não comeu nada, para manifestar dessa
sacerdote à sua cidade, mas chegando aos 86 anos forma o seu profundo respeito e alegria.
de idade tinha perdido a esperança de ver com os

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 31


UMA VIDA OFERECIDA
AO PAPA E À IGREJA
No verdadeiro sentido da palavra, exac- Esta tarefa é confiada, cada cinco anos, a uma
diferente ordem contemplativa. A primeira
tamente no coração do Vaticano, à sombra
da cúpula de São Pedro, encontra-se um comunidade internacional era composta por
convento consagrado à “Mater Ecclesiae” Clarissas provenientes de seis diferentes
(Mãe da Igreja). O edifício, simples, foi países (Itália, Canadá, Ruanda, Filipinas,
usado no passado para várias funções e refor- Bósnia e Nicarágua). Posteriormente foram
mado há alguns anos para ser adaptado às substituídas pelas Carmelitas, que continu-
necessidades de uma ordem contemplativa. aram a rezar e a oferecer a própria vida pelas
O próprio Papa João Paulo II fez com que esse intenções do papa. Desde o dia 7 de Outubro
convento de clausura fosse inaugurado no dia de 2004, festa de Nossa Senhora do Rosário,
13 de Maio de 1994, dia de Nossa Senhora encontram-se no mosteiro sete Irmãs Bene-
de Fátima; aqui as irmãs iriam consagrar ditinas de quatro nacionalidades. Uma irmã
a sua vida para as necessidades do Santo Padre é filipina, uma vem dos EUA, duas são fran-
e da Igreja. cesas e três italianas.
Com essa fundação, João Paulo II mostrava
à opinião pública mundial, sem palavras
mas de maneira muito clara, quanto a vida
contemplativa oculta é importante e indis-
pensável, mesmo na nossa época moderna
e frenética, e quanto valor ele atribuía à oração
no silêncio e ao sacrifício oculto. Se ele
queria ter tão próximas as irmãs de clausura
para que rezassem por ele e pelo seu ponti-
ficado, é porque tinha a profunda convicção
de que a fecundidade do seu ministério de
pastor universal e o êxito espiritual da sua
imensa obra, proviessem, em primeiro lugar,
da oração e dos sacrifícios de outros.
O Papa Bento XVI também tem a mesma
profunda convicção. Duas vezes foi celebrar
a Santa Missa junto às “suas irmãs”, agrade-
cendo-lhes pela oferta das suas vidas por ele.
As palavras que ele dirigiu no dia 15 de
Setembro de 2007 às Clarissas de Castel
Gandolfo, também valem para as irmãs de
clausura do Vaticano: “Eis então, queridas
Irmãs, o que o Papa espera de vós: que sejais
chamas ardentes de amor, “mãos postas”

32 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


que vigiam em oração incessante, totalmente A Providência dispôs realmente bem que, sob
separadas do mundo, para apoiar o minis- o pontificado de um papa que tanto aprecia São
tério daquele que Jesus chamou para guiar Bento, possam estar ao seu lado, de uma maneira
a Sua Igreja”. verdadeiramente especial, as Irmãs Beneditinas.

UMA VIDA MARIANA QUOTIDIANA

Não é por acaso que o Santo Padre escolheu Deus realiza no mundo e na vida de cada homem
e mulher, quer a adoração pelo mistério da Sua
ordens femininas para essa tarefa. Na história
da Igreja, seguindo o exemplo da Mãe de amorosa presença junto de nós. No contexto
Deus, sempre foram as mulheres a acompanhar do mundo de hoje a nossa vida afastada do
e apoiar, com orações e sacrifícios, o caminho mundo, mas não indiferente a ele, poderia
dos apóstolos e dos sacerdotes nas suas activi- parecer absurda e inútil. No entanto, podemos
dades missionárias. Por isso, as ordens contem- testemunhar com alegria que não é uma perda
plativas consideram como carisma próprio dedicar o tempo só a Deus. Lembra a todos
“a imitação e a contemplação de Maria”. profeticamente uma verdade fundamental:
AIrmã M. Sofia Cicchetti, actual madre superiora a humanidade, para ser autêntica e plena, deve
do mosteiro, define a vida de sua comunidade ancorar-se em Deus e viver no tempo a respi-
como uma vida mariana quotidiana: “Aqui nada ração do amor de Deus. Queremos ser como
é extraordinário. A nossa vida contemplativa tantas “Moisés” que, com os braços erguidos
e de clausura somente pode ser compreendida e o coração dilatado por um amor universal
à luz da fé e do amor de Deus. Nesta nossa mas concretíssimo, intercedem para o bem
sociedade consumista e hedonista, quase parece e a salvação do mundo, tornando-se, dessa
ter desaparecido quer o sentido da beleza e do forma, “cooperadoras no mistério da Redenção”
deslumbramento perante as grandes obras que (cfr Verbi Sponsa, 3).

Encontro com o Santo Padre João Paulo II na sua biblioteca particular a 23 de Dezembro de 2004

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 33


A nossa tarefa baseia-se, mais que no portanto um grande amor pelo Papa,
“fazer”, no “ser” nova humanidade. À luz onde quer que estejamos. Certamente, ser
desta realidade podemos dizer que a nossa chamadas tão próximas a ele – inclusive
vida é vida cheia de sentido, não é de forma fisicamente – neste mosteiro “original”,
alguma perda e desperdício, nem recusa ou aprofundou o amor por ele. Procuramos
fuga do mundo, mas alegre doação ao Deus- transmiti-lo também aos nossos mosteiros
Amor e a todos os irmãos sem exclusão, de origem. Nós sabemos que somos
e aqui no “Mater Ecclesiae” em particular chamadas a sermos mães espirituais na
pelo Papa e seus colaboradores”. nossa vida oculta e no silêncio. Entre
os nossos filhos espirituais, ocupam um
A Irmã Chiara-Cristiana, madre superiora
lugar privilegiado os sacerdotes e os semi-
das Clarissas da primeira comunidade
naristas, e todos os que se dirigem a nós
no centro do Vaticano, contou: “Quando
pedindo apoio para as suas vidas e o seu
cheguei aqui encontrei a vocação na
ministério sacerdotal, nas provas ou deses-
minha vocação: dar a vida pelo Santo
peros do caminho. A nossa vida quer ser
Padre como Clarissa. Assim foi para todas
“testemunho da fecundidade apostólica da
as outras irmãs”.
vida contemplativa, em imitação de Maria
A Irmã M. Sofia confirma: “Nós, como Santíssima, que no mistério da Igreja se
Beneditinas, estamos profundamente apresenta de maneira eminentemente
ligadas à Igreja universal, e sentimos singular como virgem e mãe”(cfrLG63).

A Irmã M. Sofia Cicchetti oferece ao Santo Padre um conjunto de panos litúrgicos para a Santa
Missa bordados à mão pelas irmãs.

34 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 35
MÃE DA SAGRADA EUCARISTIA,
ROGAI CONNOSCO PARA QUE HAJA SANTOS SACERDOTES!

36 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


UMA HORA
DIANTE DO SANTÍSSIMO
Pensamentos para a realização de uma hora de adoração pela santificação dos sacerdotes
“A adoração é, no seu sentido mais profundo, um abraço a Jesus, em que eu Lhe digo:
«Eu pertenço-Te e peço-Te que também Tu estejas sempre comigo!»”

Papa Bento XVI

1. Saudação ao Senhor eucarístico com um cântico de adoração


(Eventualmente tocado por um CD)

2. Num breve silêncio, tomamos consciência diante de quem estamos


Diante de nós está o Deus Uno e Trino, nosso criador, a quem tudo devemos. Eu sou Sua
criatura, Seu Filho. O Deus todo-poderoso e misericordioso está presente e aproxima-Se de
mim com todo o Seu amor.
A adoração eucarística é um encontro pessoal da alma com Deus, que está sempre à nossa
espera. Embora estejamos ajoelhados ante uma hóstia branca totalmente insignificante, que
se encontra oculta num tabernáculo, ou visível numa custódia, e embora nada sintamos
e nada vejamos de extraordinário, como crentes sabemos muito bem: Aqui está Jesus vivo
e verdadeiro diante de nós. Ele oferece ao Pai louvor e acção de graças perfeitos, aos quais
podemos unir o nosso louvor e acção de graças.
Só raramente reflectimos que na Sagrada Hóstia podemos adorar Jesus, tanto criança como
adulto; tanto como Homem das Dores, como Rei ou Mestre. Ele espera por nós como pastor
e salvador, como consolador e autor de milagres, como crucificado e redentor ressuscitado
e como Aquele que há-de voltar na Sua glória.

3. Louvor, acção de graças e contrição


Se com fé tomarmos consciência de quem aqui está presente, tão silencioso e humilde no
meio de nós, ao início da hora de adoração voltar-nos-emos para Deus com igual assombro
e louvor e agradecer-Lhe-emos a Sua presença com palavras livres.
Simultaneamente tomamos consciência, na presença do Deus todo amoroso, das nossas
próprias imperfeições, falhas e pecados. Assim, não tenhamos medo de nos arrependermos.
Deixemos entrar em nós a dor do arrependimento, e oremos com sinceridade e cheios de

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 37


amor: “Jesus, perdoa-me. Tu sabes que Te amo! Faz que tudo fique bem!” Só quando,
através desta contrição perante Deus, nos tivermos tornado uma criança humilde e tivermos
da nossa parte perdoado a todos, podemos realmente rezar bem.
De facto, por vezes sentimos a nossa oração fraca e insignificante, mas se a unirmos
ao Adorador divino no tabernáculo, ela torna-se poderosa e infinitamente valiosa.
Também de grande auxílio é recorrer aos santos anjos e unir-se à sua adoração perfeita,
como recomendou Jesus a Sta. Margarida Alacoque.
Criemos, além disso, o hábito de nos aproximarmos tanto quanto possível do Santíssimo.
Pois quem ama quer estar perto do seu amado como Maria em Betânia aos pés de Jesus.

4. Um cântico em forma de louvor

5. Oração contemplativa comunitária


Para impregnarmos de sentido divino as nossas meditações e as nossas orações, existem
muitas possibilidades!
Para isso, tenhamos sempre à mão sobretudo a Sagrada Escritura, onde fala connosco
Aquele diante de quem nos ajoelhamos. Quando é lido um breve excerto do Evangelho,
podemos ouvi-lo como se fosse Jesus a falar-nos pessoalmente do Seu tabernáculo.
Naturalmente que se pode também rezar em comum o “Rosário bíblico”, lendo-se antes
de cada mistério do Rosário uma passagem apropriada da Sagrada Escritura ou uma frase
apropriada de um excerto do Evangelho durante esse mistério, sucessivamente antes
de cada Ave Maria.
Na sua Carta Apostólica “Fica Connosco, Senhor” o Papa João Paulo II realçou, por
ocasião do Ano da Sagrada Eucaristia, em Outubro de 2004: Aprofundemos na adoração
eucarística a nossa contemplação pessoal e comunitária, servindo-nos também de utensí-
lios de oração imbuídos da Palavra de Deus e da experiência de tantos místicos antigos
e recentes. O próprio Rosário visto no seu sentido profundo, bíblico e cristocêntrico…poderá
ser um caminho particularmente adequado para a contemplação eucarística, que se pratica
em companhia e na escola de Maria.”
Já na sua Encíclica “O Rosário da Virgem Maria”, o mesmo Papa sublinhou no ano 2002:
“Com efeito, recitar o Rosário nada mais é senão contemplar com Maria o rosto de Cristo…
O Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe
de Deus apoia-se na nossa confiança de que a sua intercessão materna tudo pode conseguir
no coração do seu Filho.”
Podemos, assim, recitar os mistérios do Rosário com diferentes intenções: pelo Santo
Padre, pelos cardeais, bispos e missionários, pelos sacerdotes e religiosos, que estão desani-
mados ou prestes a abandonar o seu caminho sacerdotal, ou por todos aqueles que deitaram

38 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


a mão ao arado, mas que depois se volveram para trás, bem como por todos os sacerdotes
falecidos. Sobretudo que a oração também se aplique pela santificação das famílias, pois
é delas que emanam as vocações.
Entre os mistérios do Rosário podem ser cantados cânticos apropriados (eventual-
mente peças de música de um CD).
Uma outra alternativa de oração contemplativa consiste em meditar a Via Sacra. Para isso,
as 14 estações, por exemplo, podem ser lidas em voz alta por um orador, em que, após cada
estação, poderá ser recitada uma breve oração à escolha pelas intenções dos sacerdotes.
É sempre diversificado e ajuda a nossa atenção quando, em algumas estações, é cantado um
lindo cântico (eventualmente uma peça de música apropriada de um CD).
Visto estarmos ajoelhados ante a Misericórdia viva, adequa-se também o Rosário
da Divina Misericórdia como oração contemplativa. Jesus revelou-o à religiosa polaca
Faustina Kowalska, que o Papa João Paulo II canonizou no chamado Domingo da Mise-
ricórdia no ano 2000. Neste sentido, antes de cada mistério, podia ser lido um breve pará-
grafo da consoladora mensagem de Jesus Misericordioso do Diário da Irmã Faustina. Jesus
promete: “Que grandes graças concederei às almas que rezarem este terço! As entranhas da
minha misericórdia têm compaixão daqueles que rezam esta oração.” (Diário N.º 848).
Uma outra alternativa da oração comunitária pelos sacerdotes poderá consistir em escolher
algumas invocações especialmente apropriadas de uma ladainha, tal como a do Coração de
Jesus, do Preciosíssimo Sangue, da Sagrada Face…, e recitá-las lentamente.
Muito enriquecedor pode também ser ler em voz alta palavras pronunciadas por santos
sobre a Sagrada Eucaristia, ou episódios da vida de santos eucarísticos. Poder-se-ia aqui
também apresentar uma das mães de sacerdotes que estão descritas na brochura“Adoração
Eucarística para a santificação dos Sacerdotes e maternidade espiritual” .

6. Palavras de amor trocadas em silêncio


O silêncio na adoração adquire um especial significado, em que podemos abrir o nosso
coração a Jesus.
Cada um é convidado, de forma muito pessoal, a falar com Jesus, como se falasse com
o melhor amigo sobre aquilo que o preocupa. Pode-se confiar-Lhe realmente tudo:
alegrias e tristezas, os nossos planos e anseios e, sobretudo, os sacerdotes!
Para este tempo de oração silenciosa, que pode ser sonorizado com música tocada
baixinho, aplicam-se também as palavras de Jesus à Ir. Faustina: “Fala-Me de tudo. Quero
que saibas que Me dás uma grande alegria … Fala coMigo sobre tudo, com a simplicidade
de uma criança, pois os Meus ouvidos e o meu Coração estão vergados sobre ti, e a tua fala
é-Me querida” (Diário N.º 921).
No silêncio é possível, por exemplo, pronunciar repetidamente breves jaculatórias: “Jesus,
eu amo-Te!” “sus, eu me ofereço a Ti, Cuida tu de mim!” “Jesus, eu confio em Ti!”, ou

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 39


o acto de amor “Jesus, Maria, eu Vos amo, salvai almas!”, como lhe recomendou o Senhor
à Serva de Deus, Ir. Consolata Betrone.
Quem talvez ainda não esteja habituado a falar de uma forma assim tão pessoal com Deus,
poderá, durante este tempo de silêncio, recorrer à contemplação “Um quarto de hora diante
do Santíssimo” de S. António Maria Claret.
Também seria muito bom rezar de forma contemplativa a oração preferida de S. Inácio
de Loyola, “Alma de Cristo”, ou uma outra oração conhecida.
No silêncio, podemos não só falar com Jesus, mas também ouvi-Lo. Jesus quer comu-
nicar-se ao nosso íntimo - também sem quaisquer palavras audíveis. Ele responde às nossas
perguntas e anseios, ao recordar-nos, por exemplo, uma determinada palavra do Evangelho.
Ele inspira-nos ao insinuar-nos, por exemplo, um pensamento belo e bom, que nos ilumina,
conforta e nos enche de paz interior.
Quando nos expomos aos amorosos raios do Senhor eucarístico, somos como uma flor que
só através dos quentes raios solares consegue abrir e desdobrar-se.
Deste modo, a hora de adoração torna-se não apenas uma oferenda aos sacerdotes, mas vai
lentamente transformando também a nossa própria vida, como Angelus Silesius exclamou:
“A mais nobre oração acontece quando o devoto se transforma intimamente naquilo diante
do qual ele se ajoelha.”

7. Comunhão espiritual
Antes de nos “despedirmos” do Senhor, podemos ainda comungar espiritualmente.
A comunhão espiritual acontece de forma muito simples: através do nosso desejo e do
pedido “Jesus, vem agora espiritualmente ao meu coração!” atraímo-Lo à nossa alma.
A comunhão espiritual é como um intenso abraço entre mim e Jesus, é como um amoroso
beijo interior.
O grande pregador e santo franciscano Leonardo de Porto Maurício disse: “Prometo-vos
que, se fizerdes a comunhão espiritual várias vezes ao dia, o vosso coração estará comple-
tamente transformado no período de um mês.”

8. Propósito
Teresa de Ávila, a grande santa doutora da Igreja e mestra da oração, nos seus escritos
espirituais, aconselha a nunca se abandonar a contemplação sem se ter formulado um
propósito concreto para o dia-a-dia.

9. Um cântico final ou o tantum ergo,


se houver disponível um sacerdote para a bênção eucarística.

40 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


10. Bênção
Juntos com Jesus regressemos agora ao quotidiano. Levamo-Lo espiritualmente no
coração, da igreja para o nosso mundo meritocrático e acelerado. Levamo-Lo para o lugar
onde nos chama o dever. Por isso, dizia Papa João Paulo II: “A nossa adoração não deve
nunca terminar.”

Alma de Cristo, santificai-me.


Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do Lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Meu bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que me separe de Vós.
Do inimigo maligno defendei-me.
Na hora da minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós,
para que eu Vos louve com os Vossos santos
no Vosso reino por toda a eternidade.
Ámen.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 41


TERÇO DA DIVINA
MISERICÓRDIA
As palavras deste terço foram ditadas por Jesus à Ir. Faustina Kowalska durante uma
visão impressionante a 13 e 14 de Setembro de 1935 em Vilna.

“À noite avistei na minha cela um anjo, o Executor da Ira de Deus. Usava uma veste
clara, e o seu rosto estava radiante. Sob os seus pés estava uma nuvem de onde saíam
trovões e relâmpagos para as suas mãos, e saídos da sua mão atingiam a Terra. Quando
vi o sinal da ira de Deus, que devia atingir a Terra, mas especialmente um determinado
lugar, cujo nome por razões compreensíveis não posso revelar, pedi ao anjo que se deti-
vesse por um certo tempo, pois o mundo iria fazer penitência. Mas o meu pedido de nada
valeu ante a cólera divina. Avistei então a Santíssima Trindade. A grandeza da Sua majes-
tade trespassou-me até ao mais íntimo de mim, e eu não ousava repetir o meu pedido.
Nesse mesmo momento, senti em mim o poder da graça de Jesus, que reside na minha
alma. Quando tomei consciência desta graça, fui de repente arrebatada para diante do
trono de Deus. Oh, como é grande o nosso Senhor e Deus, e como é inconcebível a Sua
santidade! Não vou sequer tentar descrever a Sua grandeza, pois em breve todos veremos
como Ele é. Comecei então a suplicar a Deus pelo mundo, com palavras ouvidas interior-
mente. Quando assim rezava, vi a impossibilidade do anjo continuar a executar aquele
justo castigo, merecido por causa dos pecados. Nunca tinha rezado com tanta força inte-
rior como naquela ocasião. As palavras com que suplicava a Deus eram as seguintes:
“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso amado
filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelos nossos pecados e os pecados de todo o mundo.
Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós.”
(Diário N.º 474-475).

Como se recita o Terço da Divina Misericórdia?


Jesus ensinou, com todos os pormenores, como deve ser feita esta oração:

“Recitá-lo-ás...como o Rosário habitual, da seguinte forma:


Primeiro, um “Pai Nosso” e uma “Ave Maria” e o “Credo”,

a seguir – nas contas do Pai-Nosso – as palavras:


“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso muito amado filho,
Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos pecados de todo o mundo.

42 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


Nas contas pequenas rezarás da seguinte forma:
Pela Sua dolorosa paixão, tende misericórdia de nós e de todo o mundo.

No fim, rezarás três vezes estas palavras:


Deus santo, Deus forte, Deus imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro”
(Diário N.º 476).

Uma vez, a Ir. Faustina ouviu na sua alma as


seguintes palavras:

“Q uem recitar o terço da Divina Mise-


ricórdia receberá a minha grande mise-
ricórdia na hora da sua morte. Os sacer-
dotes o recomendarão aos pecadores como
a última tábua de salvação. Ainda que
o pecador seja o mais endurecido, se recitar
este Terço uma só vez, alcançará a graça da
Minha infinita misericórdia. Desejo que todo
o mundo reconheça a Minha misericórdia.
Desejo conceder graças insondáveis às almas
que confiarem na Minha misericórdia.”
(Diário N.º 687)

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 43


UM QUARTO DE HORA
DIANTE DO ALTÍSSIMO
Guia para um diálogo com o Senhor eucarístico por Sto. António Maria Claret

Este santo é o fundador dos claretianos, a ordem


missionária mais importante de Espanha no séc.
XIX, Arcebispo de Santiago de Cuba e, poste-
riormente, confessor da rainha Isabel de Espanha,
bem como orientador espiritual de Santa Micaela
do Ssmo. Sacramento. Como grande figura
da história da Igreja de Espanha do seu tempo,
assim escreveu:
“Foi no dia 26 de Agosto de 1861. Eu rezava
o Rosário em La Granja e, ao final da tarde,
pelas sete horas, realizei aí a minha adoração.
O Senhor concedeu-me então a grande graça
de as espécies sacramentais terem permanecido
no meu peito, de forma que noite e dia trago
comigo o Altíssimo. Tenho pois de estar sempre
muito recolhido e crescer cada vez mais profun-
damente na vida de graça.”
No diálogo “Um Quarto de Hora diante do Altíssimo”, Sto. António Maria Claret deixa Jesus
falar a cada alma pessoalmente:
“ Não é preciso saberes muito para me agradares, basta que ames a Mim próprio. Fala pois
coMigo com a simplicidade com que falarias com o teu amigo mais próximo.

Tens alguma coisa a pedir-Me por alguém?


Diz-me o seu nome e o que Eu poderia fazer agora por ele.
Pede muito! Não hesites em pedir. Fala-Me também com simplicidade e sinceridade dos pobres
que queres consolar; dos doentes que vês sofrer; dos desencaminhados que desejas ardente-
mente que regressem ao caminho certo. Por todos eles, diz-me pelo menos uma palavra.

E para ti, não precisas de alguma graça para ti?


Diz-Me francamente que talvez sejas orgulhoso, egoísta, inconstante, negligente ... e pede-Me
depois que venha em teu auxílio nos poucos ou muitos esforços que fazes para te libertares
disso. Não tenhas vergonha! Há muitos justos, muitos santos no Céu que tiveram exactamente os
mesmos defeitos. Mas pediram com humildade ... e pouco a pouco foram-se vendo livres deles.
Não hesites também em pedir saúde, bem como uma saída feliz para os teus trabalhos, negócios
ou estudos. Tudo isto te posso dar, e dou-te. E desejo que Mo peças, desde que não seja contra

44 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


a tua santificação, mas que te beneficie e apoie. E de que precisas hoje mesmo? Que posso
Eu fazer por ti? Se tu soubesses como desejo tanto ajudar-te!

Tens contigo algum plano?


Então, conta-Me. Que te preocupa? O que pensas? O que desejas? O que posso fazer pelo teu
irmão, tua irmã, teus amigos, tua família, teus superiores? O que gostarias que fizesse por eles?
E em relação a Mim: Não desejas que Eu seja glorificado? Não gostarias de poder fazer algum
bem aos teus amigos, que talvez ames muito, mas que talvez vivam sem pensarem em Mim?
Diz-Me: O que desperta hoje em especial a tua atenção? O que desejas ardentemente? De que
meios dispões para o conseguir? Conta-Me se algum empreendimento te corre mal, e Eu te direi
as razões do insucesso. Não gostavas de Me conquistares para ti?

Sentes-te talvez triste ou de mau humor?


Conta-Me com todo o pormenor o que te faz triste. Quem te magoou? Quem feriu o teu amor
próprio? Quem te desprezou? Conta-me tudo, e em breve chegarás a ponto de Me dizeres que,
seguindo o Meu exemplo, tudo perdoas, tudo esqueces. Como recompensa, receberás a Minha
bênção reconfortante. Terás medo, talvez? Sentes na tua alma uma melancolia indefinida, que
é na verdade injustificada, mas que apesar disso não acaba, que te destroça o coração? Lança-te
na providência dos Meus braços! Eu estou contigo, do teu lado. Vejo tudo, oiço tudo, e nem por
um momento te abandono. Sentes a relutância entre as pessoas, que antes gostavam de ti e que
se afastam de ti sem que tu lhes tenhas dado o mínimo motivo? Pede por elas e Eu as recondu-
zirei para junto de ti se elas não forem impedimento para a tua santificação.

E não terás a comunicar-Me alguma alegria?


Porque não Me deixas participar dessa alegria, dado que sou teu amigo? Conta-me aquilo que
desde a última visita que Me fizeste confortou o teu coração e te fez sorrir. Talvez tenhas expe-
rimentado agradáveis surpresas; talvez tenhas recebido boas notícias, uma carta, um sinal de
afecto; talvez tenhas superado uma dificuldade, tenhas saído de uma situação sem saída. Tudo
isto é obra Minha. Só tens que me dizer simplesmente: Obrigado, Meu Pai!

Não queres prometer-Me nada?


Leio no fundo do teu coração. É fácil enganar os homens, mas não a Deus. Fala pois coMigo
com toda a sinceridade. Estás firmemente decidido a nunca mais te expores àquela ocasião
de pecado, a renunciar àquele objecto que te prejudica, a deixar de ler aquele livro que provocou
a tua imaginação, a deixar de falar com aquela pessoa que perturba a paz da tua alma? Queres
voltar a ser gentil, amável e complacente para essa outra pessoa que até agora consideravas
hostil porque te tratou mal?
Muito bem, regressa agora à tua ocupação habitual, ao teu trabalho, à tua família, ao teu estudo.
Mas não te esqueças do quarto de hora que ambos passámos aqui. Guarda, na medida em que
possas, silêncio, modéstia, recolhimento interior, amor ao próximo. Ama a Minha Mãe, que
também é tua.
E volta com um coração ainda mais cheio de amor, ainda mais devoto do Meu espírito. Se o fizeres,
cada dia no Meu coração encontrarás novo amor, novos benefícios, novas consolações.”
Publicado pelo Secretariado Pastoral da Arquidiocese de Viena 1988.

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 45


O SACERDOTE
E A MÃE ESPIRITUAL
DOS SACERDOTES SEGUNDO
O MODELO DE JESUS E MARIA

Para a actual situação da Igreja num mundo viúvas, religiosas e consagradas e, sobretudo,
aquelas que oferecem o seu sofrimento por
secularizado, onde com frequência se torna
evidente uma crise de fé, o papa, os bispos, amor. Até a uma criança que não sabia ler
os sacerdotes e os crentes procuram uma nem escrever, a bem-aventurada Jacinta de
solução. Nesta crise, torna-se cada vez mais Fátima, agradeceu o próprio Papa João Paulo
visível que a verdadeira solução reside na II, a 13 de Maio de 2000, pelo seu auxílio na
renovação interior dos sacerdotes e, neste sua vocação pastoral universal: “Exprimo
contexto, a chamada “maternidade espiritual também a minha gratidão à beata Jacinta
dos sacerdotes” adquire um especial signifi- pelos sacrifícios e orações que ofereceu
cado. Através deste “ser mãe espiritual”, as pelo Santo Padre, que ela tinha visto em
mulheres e mães tomam parte da maternidade grande sofrimento.”
universal de Maria que, sendo Mãe do Eterno Naturalmente que os homens não ficam de
Sumo Sacerdote, é também Mãe de todos os forma alguma excluídos da ajuda pelas voca-
sacerdotes de todos os tempos. ções e pela santificação dos sacerdotes; pois
Se já na vida natural a criança é acolhida, temos todos a vocação de colaborarmos neste
dada à luz, alimentada e cuidada pela sua processo! Neste tempo presente, é necessário
mãe, este pensamento muito mais se aplica mais do que nunca todo o nosso apoio para
à vida espiritual: por detrás de todos os que os sacerdotes se santifiquem na fidelidade
sacerdotes encontra-se uma mãe espiritual, à sua vocação.
que suplicou a Deus a sua vocação, que os
De que forma uma mãe espiritual ajuda os
traz ao mundo entre dores espirituais e que
sacerdotes?
os “alimenta”, oferecendo como dádiva
Para quem se decidiu interiormente: “Desejo
a Deus tudo o que no decurso do dia faz,
oferecer a minha vida inteira a Deus pela
para que se tornem sacerdotes santos, sacer-
santificação dos sacerdotes!”, não é natural-
dotes fiéis à sua identidade específica e às
mente possível estar sempre a pensar concre-
suas funções específicas.
tamente nesta maternidade espiritual. Isso
Quem pode ser uma mãe espiritual é Jesus que assume, a quem, por exemplo,
dos sacerdotes? uma mãe de família oferece, como dádiva
Para ser mãe espiritual de sacerdotes, uma espiritual aos sacerdotes, o seu quotidiano,
mulher não precisa de ser mãe física de um com todos os seus deveres e renúncias.
sacerdote. Independentemente da idade Até mesmo uma breve oração no momento
e estrato social, todas as mulheres podem da Sagrada Comunhão, feita deliberadamente
tornar-se mães espirituais dos sacerdotes, por um sacerdote, é uma dádiva concreta; ou
ou seja, mulheres solteiras, mães de família, quando se passa em recolhimento uma hora

46 CONGREGAÇÃO PAR A O CLER O


junto de Deus, diante do Santíssimo, se reza e a aridez, humilhações e ofensas, provações
o terço e se Lhe oferece este tempo de oração e tentações do mundo, que também os sacer-
pelos sacerdotes, os quais, na actual falta de dotes muito bem conhecem, em seu lugar.
sacerdotes, estão tantas vezes sobrecarre- Também suportar uma doença ou uma dor
gados com tarefas pastorais e administrativas, física, no espírito da fé e com paciência,
que julgam não ter mais tempo para a oração pode tornar-se uma preciosa fonte de graças
pessoal e silenciosa. para os sacerdotes.
Ajudas particularmente valiosas pela vida de Os comoventes exemplos de mães consagradas
um sacerdote são naturalmente os sacrifícios aos sacerdotes, descritos nesta brochura, devem
espirituais: quando uma mãe espiritual dos encorajar-nos a acreditar, de forma muito mais
sacerdotes, por exemplo, renuncia delibe- viva, no poder da maternidade espiritual pelos
radamente a viver a experiência de se sentir sacerdotes, invisível mas inteiramente real.
amada por Deus ou a afastar-se da oração sem Mostram que a oração e os sacrifícios ocultos
consolo, para que um sacerdote possa viver feitos por amor e em atitude sobrenatural
de forma sensível este amor e este consolo; possuem um efeito poderoso e passível de ser
ou quando suporta com amor a solidão sentido pelos sacerdotes.

“CADA VOCAÇÃO SACERDOTAL


... PASSA PELO CORAÇÃO DE UMA MÃE!”
S. PIO X

Cada sacerdote é precedido de uma mãe que não e mostrou a Giuseppe a sua aliança de casamento
raro se tornou também mãe para a vida espiritual em prata e gasta pelo trabalho: “É verdade,
dos seus filhos. Giuseppe Sarto, por exemplo, Seppi, mas não usarias hoje o teu anel se eu não
o futuro Papa Pio X, logo após a sua consagração tivesse primeiro usado a minha aliança.” Ao que
como bispo, visitou a sua mãe septuagenária. Pio X retorquiu, confirmando: “Toda a vocação
Respeitosamente, beijou o anel do seu filho, sacerdotal brota do coração de Deus, mas passa
mas logo após ficou repentinamente pensativa pelo coração de uma mãe!”

ADOR AÇÃO EUCARÍSTICA - pel a santificação dos sacerdotes e M aternidade espiritual 47


AJUDA À IGREJA QUE SOFRE
UMA ORGANIZAÇÃO AO SERVIÇO DA IGREJA

A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) é uma a Igreja enfrente dificuldades. Os desafios são
múltiplos: totalitarismo de esquerda ou de
Organização Pública Universal Dependente
da Santa Sé em estreita colaboração com as direita, fanatismo religioso, multiplicação de
Conferências Episcopais de cada país e com seitas, materialismo, falta de sacerdotes.…
os Bispos Diocesanos. Foi fundada em 1947 Como dizia João Paulo II aos delegados da
pelo R.P. Werenfried van Straaten, o. praem., AIS reunidos em Roma: (…) nem toda a gente
inspirado na mensagem de Fátima, após ouve esses cristãos que sofrem em silêncio…
a Segunda Guerra Mundial, para ajudar os Vós actuais, recolheis ofertas, enviais ajudas
milhões de refugiados da Alemanha de Leste que levam, aos que esperam, a certeza de que
que fugiam da ocupação comunista. os seus irmãos na fé conhecem as suas neces-
Organização essencialmente pastoral, não sidades e não os abandonam… Esta caridade
cessa de ajudar a Igreja, onde quer que seja concreta e multiforme é um testemunho indis-
perseguida, refugiada e ameaçada, em mais pensável em todas as épocas, sobretudo na
de 150 países. A AIS apoia todos os anos nossa. É este o trabalho da AIS, graças à ajuda
cerca de 8.000 projectos em todo o mundo: na de mais de 700.000 benfeitores que dão regu-
América Latina, na África, na Ásia e também larmente apoio com as suas ofertas generosas.
na Europa de Leste e Ocidente, onde quer que

Para mais informações, contacte a


Fundação AIS e ser-lhe-á enviada
documentação gratuita.
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