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Vocação Sacerdotal – Live Vocacional 07/08/21

Vocação sacerdotal: um chamado de Deus!


Por A Tribuna -3 de agosto de 2013
(*) João Henrique

Neste domingo, dia 4 de agosto, comemoramos o dia do padre. É também o dia de São João Maria
Vianney, o padroeiro de todos os sacerdotes, um modelo de zelo e caridade pastoral a ser seguido
pelos padres, como bem lembrou o papa Bento XVI no ano sacerdotal. A vida sacerdotal não é uma
simples escolha arbitrária, mas antes disso é uma vocação!
A palavra Igreja vem da palavra “ekklesia”, que é comumente traduzida por assembleia. Mas a
abrangência dessa palavra vai muito além daquilo que hoje entendemos por assembleia. Muito mais
do que uma simples reunião de pessoas, “ekklesia” pode perfeitamente ser traduzida por “reunião
de pessoas convocadas”, “assembleia convocada”, “comunhão daqueles que foram chamados”. Isso
exprime bem a natureza da Igreja! Mas quem é que faz o chamado? Deus, é claro. É Ele quem nos
chama, como atesta o apóstolo: “chamados por Jesus Cristo” (Rm 1,6), “Fiel é Deus, que vos
chamou à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Senhor nosso” (1Cor 1,9), “a paz de Cristo, à qual
fostes chamados a fim de formar um corpo” (Cl 3,15).
Podemos então dizer que a Igreja é formada por pessoas vocacionadas – vocação significa
chamado, e uma vez que todos são chamados, todos são vocacionados. Assim, todos os fiéis tem um
chamado para realizar a sua vida cristã conforme a missão que Deus lhe confere.
Neste mês de agosto, celebramos o mês das vocações. A cada domingo lembramos e oramos de
maneira especial por um dos tipos de vocação com as quais Deus embeleza e dá forma à Igreja para
que ela possa cumprir a sua missão.
No primeiro domingo de agosto, celebramos o Dia do Padre e da vocação sacerdotal. A vocação
daqueles que são chamados a servir o povo de Deus como seus pastores, guiando-os no
ensinamento da Palavra de Deus e nos sacramentos.
Para que existem sacerdotes? No ano de 2010, em uma carta dirigida aos seminaristas, o Papa Bento
XVI assim explicava o sentido do sacerdócio: “Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele
e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de
sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir”. A vocação sacerdotal é um
chamado que Deus faz a alguns homens para dedicaram inteiramente sua vida a Ele, servindo-O em
seu povo.
Dentre tantas imagens que expressam a sentido da vocação sacerdotal, uma muito expressiva é a de
Jesus Bom Pastor, que é inclusive o título do seminário onde são formados os padres da diocese de
Rondonópolis. Jesus disse aos seus discípulos: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10, 11). Ele é “o grande
Pastor das ovelhas” (Hb 13,20) e chamou seus apóstolos e seus sucessores e colaboradores, a servi-
lo nessa missão cuidar das ovelhas (cf. Jo 21, 15-17; 1 Ped 5, 2).
Os sacerdotes não existem para serem os donos da Igreja, como as vezes podemos pensar
erroneamente. Os sacerdotes existem para servir o povo de Deus, para levá-los a uma vida de
entrega a Deus, para consolar os tristes, animar os desanimados, para fazer com os fiéis sintam o
grande amor que Deus tem por eles, e incentivá-los a responder a este amor assumindo a missão que
Deus tem para cada um.
Todos os fiéis são chamados a voltar seus olhos para os seus pastores, sendo seus colaboradores,
companheiros de missão! Sendo um ombro amigo, sendo comunidade que acolhe, que apoia e
incentiva. Igualmente, é dever de todos animar os jovens que estão na caminhada vocacional – Deus
continua chamando! – para abraçarem a vida sacerdotal.
Neste domingo, temos, então, uma ocasião especial para rezar para que muitos jovens escutem o
chamado da vocação sacerdotal, rezar pelo nosso bispo e pelos nossos padres, expressar-lhes o
nosso carinho e nossa gratidão pela dedicação e pelo serviço que prestam aos fiéis, oferecendo suas
vidas para que as pessoas se encontrem com Deus e vivam o amor fraterno.
04.Ago - Vocação sacerdotal: amor do coração de Jesus
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A beleza da vocação sacerdotal, celebrada neste dia 4 de agosto, consiste em responder,
cotidianamente, o chamado divino de doar a vida ao próximo

“Não fostes vós que me escolhestes, pelo contrário, fui eu que vos escolhi”. O trecho retirado do
Evangelho de João permite compreender a essência da vocação. Chamados por Deus, aqueles que
se dispõe a ouvir a voz que vem do alto, doam sua vida e se colocam a serviço. Assim, em agosto, a
Igreja celebra as vocações - sacerdotal, diaconal, familiar, religiosa, leiga e catequista – e convida à
reflexão e à oração para que os batizados “sejam fiéis como apóstolos leigos, como sacerdotes,
como religiosos e religiosas, para o bem do povo de Deus e de toda a humanidade”.

Escolhidos por Deus para viver a graça e o desafio

É Jesus quem escolhe o padre e o envia em missão. Em Seu nome, o sacerdote se coloca a serviço
da comunidade cristã, na missão de acolher, perdoar, unir, e motivar a vivência da fé. Para o padre
Mateus Danieli que foi ordenado em 2009 e atua, hoje, na paróquia Nosso Senhor Bom Jesus ser
padre é, ao mesmo tempo, uma graça e um desafio. “Uma graça porque vem de Deus que nos
chama e espera todos os dias a nossa resposta. Um desafio porque vivemos em um mundo exigente
e o ministério presbiteral não é uma profissão, é uma vida dedicada totalmente à missão, à
comunidade e ao Reino de Deus”, coloca. Para ele, o essencial é compreender que a vocação faz
bem e traz felicidade.

Para o padre Élio Eilert, que completou 25 anos da sua ordenação sacerdotal em dezembro de 2016,
a felicidade em viver a vocação é característica central da vida como padre. Vida essa que, segundo
ele, é desafiadora. “É um desafio muito grande, pois diante das realidades que se apresenta na vida
cotidiana, o padre precisa estar muito atento para poder responder com amor e com fé tudo aquilo
que as pessoas pedem orientação”, inicia e acrescenta, também, que ser padre é estar sempre atento
às realidades da vida. “Sinto, como padre, que é preciso estar junto ao povo percebendo aquilo que
a pessoa precisa. Não podemos esperar que as pessoas venham até nós. O padre precisa dar a
resposta, ir ao encontro. A Igreja, através do padre, acolhe, abraça e ajuda as pessoas a viverem a
sua fé. Quem escolheu a vocação do ser padre, é muito feliz. E isso posso dizer pela minha vida:
sou muito feliz pela minha vocação”, completa.

Dom para viver o testemunho

As palavras do padre Mateus e do padre Élio vão ao encontro do que pensa o padre Itamar Lavarda,
ordenado em 1981. “Ser padre é um dom especial doado por Deus ao homem, a fim de que possa
colaborar como seguidor de Cristo, no testemunho de vida e no anúncio do Evangelho junto ao
povo”, coloca. “Sou um padre muito feliz nesta vocação, como um dom especial para viver como
anunciador do Reino de Deus”, enfatiza o sacerdote que atua, hoje, em Tapejara. Ele acrescenta,
ainda, que a vocação não é algo pronto, mas, exige esforços, renúncias e, especialmente, dedicação.
“Deus chama a todos para segui-lo, mas nem todos tiram tempo para escutar o convite de Deus. É
preciso deixar que Deus entre na vida dos jovens. Hoje, eu agradeço a Deus por confiar a mim a
missão que, um dia, confiou a Jesus Cristo”, destaca.

Para o padre Dalci Debastiani, ordenado em 1986, toda vocação é bela quando a pessoa responde,
com liberdade, o chamado de Deus. “É preciso que a pessoa escute o coração e a voz de Deus sobre
a qual vocação ela está sendo chamada. Ser padre é procurar identificar-se todos os dias com a
pessoa de Jesus Cristo nos seus gestos e atitudes”, define e complementa: “A juventude traz dentro
de si grandes projetos e desafios. Por isso, é necessário que se apresente ao jovem a pessoa de Jesus.
Quando o jovem se encantar com Jesus poderá se encantar, também, com a vocação ao sacerdócio”,
sugere.

Servir por amor

A felicidade em responder o chamado divino, perceptível na fala dos padres, é constante, também,
na vida do pároco da paróquia Nossa Senhora da Glória, em Carazinho, padre Leandro de Mello.
Ordenado em 2008, o sacerdote – que tem como lema “Eu amo todos vocês em Jesus Cristo – vê o
sacramento da Ordem como um serviço, assumido livremente, por amor. “Consagra a pessoa para
doar a vida a serviço do Reino no auxílio às pessoas e a comunidade, especialmente as mais
necessitadas”, inicia. “Ser padre é maravilhoso, é nobre, é graça, é dom, é resposta. Arriscaria dizer
que ser padre, hoje, é loucura. É preciso estar enlouquecido pelo projeto do Reino para viver o
ministério sacerdotal. Uma loucura evangélica, profética, exodal”, coloca.

O padre acrescenta, também, a necessidade de viver a vocação com entrega. “Ser padre exige
preparação, porque ao rezar a missa, por exemplo, se meu coração não pulsar no ritmo cardíaco do
coração de Cristo, não consigo presidir a missa com profundidade e ela se torna mecânica, se torna
apenas ritual. É preciso saber que a Igreja é uma expressão de Cristo ressuscitado onde vivemos seu
amor”, enfatiza e conclui: “Nós, padres, somos chamados a viver o mistério de amor em meio à
comunidade, povo de Deus. Tudo o que fazemos, quando realizado com amor, se torna oração. É
uma relação de entrega, de sentir-se preenchido pelo divino, seja em Deus Pai, Jesus Cristo ou no
Espírito”.

Exemplos que fortalecem a vocação

Padre Leandro, que atua diretamente com a juventude, coloca, também, o seu desejo de ver outros
jovens respondendo ao chamado divino. “Desejo e sonho que outros jovens ousem viver a vocação
sacerdotal, porque ser padre é encontrar um valioso tesouro guardado no coração amoroso de Deus,
presente em cada rosto humano”. Este é o desejo, também, do Serviço de Animação Vocacional que
acredita que o exemplo destes e de outros padres fortalecem a vocação presbiteral. “Dentro da
família presbiteral, os padres têm referências significativas para sua atuação pastoral”, inicia o
responsável pelo SAV, padre Eberson Fontana. “A vocação do padre é uma resposta de amor ao
chamado de Deus. A exemplo de Jesus, o Bom Pastor, o presbítero se coloca a serviço da sua
comunidade, exercendo a missão de pastor, sacerdote e profeta”, completa.
Padre Carlos Kipper: o testemunho que fica

Além dos exemplos daqueles que vivem diariamente sua vocação, o presbitério é guiado, também,
pelo testemunho daqueles que já partiram. Neste ano, a Arquidiocese lamentou a perda do padre
Carlos Kipper que, aos 82 anos, vivia o lema “Envia-me, Senhor”. “Ainda marcados pela recente
perda do padre Kipper, os presbíteros encontram em seu testemunho a marca da alegria, da doação
total e da simplicidade. Aos padres mais jovens, estas características tornam-se marcos para a
espiritualidade do seguimento a Jesus Cristo - em consonância com os apelos do papa Francisco.
Seu jeito jovem de ser ensina que a idade não é determinada em absoluto apenas pelo número de
anos vividos. Ser jovem é questão de atitude diante da vida; é viver com intensidade a missão
confiada por Deus”, conclui padre Eberson.

VOCAÇÃO SACERDOTAL: CHAMADO PARA EXERCER UM SERVIÇO DE AMOR


EDITOR
28/02/2011
ARTIGO
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Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano de Amparo – SP
Santo Agostinho escreve que o sacerdócio é um serviço de amor (amoris officium) porque é um
serviço de pastor, é gastar a vida no zelo pelo rebanho que é o povo de Deus. A caridade pastoral é a
pedra de toque da vida sacerdotal bem vivida, constitui o eixo da espiritualidade do padre diocesano
e também a nota característica da nova evangelização: “Evangelização nova em seu ardor supõe fé
sólida e caridade pastoral intensa…”2 . Deste modo, quem sente no íntimo do coração o chamado
de Deus para seguir a vocação sacerdotal deve se preparar para o serviço de amor ao próximo no
seguimento de Jesus, ou seja, na entrega da vida. Há necessidade de um período relativamente
longo de preparação.

Esta preparação vai exigir um discernimento contínuo durante o tempo de formação que inclui a
vida no seminário, estudo na faculdadede filosofia e teologia, trabalho de estágio pastoral, etc.
Discernimento para descobrir a vontade de Deus a respeito da própria vocação, e discernimento
para perceber até que ponto, está correspondendo com sinceridade aos sinais que Deus aponta no
íntimo do coração. “Discernir é separar, selecionar, interpretar e julgar, para escolher e decidir”3 .

Há hoje um conflito entre vida como projeto pessoal e vida como vocação. A vida como projeto
pessoal coloca o acento na liberdade da pessoa para fazer o que lhe apraz, e a vida como vocação
coloca a pessoa diante do mistério de um chamado que faz do homem interlocutor de Deus. Daí
surge o desafio de harmonizar e relacionar o projeto pessoal com o chamado de Deus. O período de
discernimento tem como objetivo mostrar que a liberdade pode ser colocada a serviço da causa do
Evangelho, e a vida pode ser descoberta como dom e missão. A vocação é dom do Espírito Santo, o
vocacionado deve aprender a discernir com ajuda da comunidade, daqueles que a Igreja coloca
tendo a missão de ajudar no processo de discernimento e de formação. São pessoas que tem o
“ministério da orientação”, pessoas espirituais que vão ajudar perceber a qual é a vontade de Deus.

Daquele que se sente chamado ao sacerdócio, o período de discernimento e formação vai exigir
muita atenção, disponibilidade e sensibilidade, para perceber os sinais que serão emitidos a partir do
interior. Nesta situação a vida de oração, a espiritualidade é essencial para iluminar todo o processo
de formação em todas as suas dimensões. “A voz do Senhor que chama não deve ser esperada de
forma nenhuma, como algo que vá chegar de modo extraordinário aos ouvidos do futuro presbítero.
Pelo contrário deve ser entendida e distinguida por meio dos sinais que diariamente se dão a
conhecer aos cristãos atentos, prudentes”.4

Todo jovem chamado ao seguimento de Jesus na vida sacerdotal, recebe uma grande graça de Deus,
mas ao mesmo tempo esta graça, este dom é exigente. É um chamado que impõe condições novas
de vida, que faz o vocacionado diferente dos outros e isto às vezes pode pesar. Já no Antigo
Testamento se enfatiza a separação, mesmo a respeito de familiares (Gn 12,1; Is 8,11; Jr 12, 6; 1Rs
19,4). Jesus vai também ser exigente (Lc 9, 23-24). O seguimento radical de Jesus exige a opção
precisa de perder a vida no dom de si: “é morrendo que se vive”. Esta é a experiência profunda que
o jovem chamado ao sacerdócio deve conseguir fazer, para ter paz durante o exercício de seu
ministério e não ficar à mercê de uma imaturidade que nunca termina, com seu corolário de
indecisões, meias verdades e decisões incompletas.5

Durante o período de formação para o ministério sacerdotal, muitos serão os elementos que vão
ajudar o seminarista a consolidar sua vocação e adquirir aquela certeza de ter sido chamado, aquela
intimidade com Jesus Cristo , que vai sustentá-lo por toda a vida. Gostaria de destacar aqui três
elementos que julgo fundamentais, faço-o a partir da sinalização que nos dá o Concílio Vaticano II.
“Ao afirmar o primado da evangelização, o Vaticano II propõe ao presbítero uma espiritualidade
apostólica, profética e missionária, não só voltada em primeiro lugar para o culto e a vida interna da
Igreja, mas para a missão no mundo e a convivência fraterna com os leigos (cf. PO n. 9)”6 .
Lembremo-nos que somos hoje recordados de que a Igreja é missionária por sua natureza e quer
responder aos desafios de hoje estando em permanente estado de missão: “A Igreja deve ir ao
encontro de todos com a força do Espírito”.7

Em primeiro lugar sinalizo o amor à Palavra de Deus. Quem se sente chamado ao ministério
presbiteral deve ser um apaixonado pela Palavra de Deus, pois será o “homem da palavra”. O papa
Bento XVI deixa bem claro a necessidade de se apresentar a Palavra de Deus aos jovens
vocacionados e seminaristas como sendo fonte de firmeza e sabedoria: “Autênticas vocações para a
vida consagrada e para o sacerdócio encontram seu terreno propício no contato fiel com a Palavra
de Deus (…) Queridos jovens não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, e dá tudo. Quem se
entrega a Ele, recebe o cêntuplo”.8 O papa recorda ainda que o estudo destes livros sagrados deve
ser como afirma o concílio Vaticano II, a “alma da teologia”.9 O padre é profeta a serviço de um
povo de profetas. Sem conhecer e assimilar a Palavra de Deus, o padre corre o risco de pregar a si
mesmo e cair na mediocridade.

É a partir da Palavra de Deus lida, refletida, meditada e rezada, que se fortalece o amor a Jesus
Cristo que é a seiva da árvore da vocação sacerdotal. Ele é a suprema revelação de Deus: “Se eu te
falei já todas as coisas em minha Palavra, que é meu Filho, e não tenho outra palavra a revelar ou
responder que seja mais do que ele, põe os olhos só nele; porque nele disse e revelei tudo, e nele
acharás ainda mais do que pedes e desejas”.10

Em segundo lugar sinalizo o amor à Eucaristia. A Eucaristia é fonte e ápice de toda a evangelização,
é o centro da Assembléia Eucarística, o centro da comunidade de fiéis presidida pelo presbítero.11
Sem a Eucaristia e a vivência do mistério eucarístico impregnando a sua vida, o presbítero não vai
perceber a dimensão comunitária da Igreja, não vai captar a Igreja como mistério de comunhão,
poderá ser um diretor de consciências, conselheiro atento à vida íntima das pessoas. Porém, o
múnus de pastor não se reduz ao cuidado individual dos fiéis, mas abarca a formação da
comunidade cristã. “Não se edifica no entanto, nenhuma comunidade cristã se ela não tiver por raiz
e centro a celebração da Santíssima Eucaristia: por ela há de se iniciar por isso toda educação do
espírito comunitário”12. O padre é sacerdote a serviço de um povo sacerdotal. Sem o gosto pela
liturgia, cujo cume é a celebração Eucarística, haverá sempre o risco de se tornar um “funcionário
do culto” e podendo ser fonte de desilusão para o povo de Deus.

Há um contraste entre o fixismo e absolutização de expressões litúrgicas, de um lado e o descuido e


ignorância das normas litúrgicas de outro. Recordo aqui o que escreve o Papa Bento XVI sobre a
Eucaristia e a evangelização das culturas: “A Eucaristia torna-se critério de valorização de tudo o
que o cristão encontra nas diversas expressões culturais”.13 Assim, é necessário que o presbítero
tenha cuidado, zelo e atenção às normas liturgias, mas também que tenha abertura para o que nos
ensina ainda o papa Bento XVI ao discorrer sobre Bíblia e inculturação: “A aculturação ou
inculturação será realmente um reflexo da encarnação do Verbo, quando uma cultura, transformada
e regenerada pelo Evangelho produzir na sua própria tradição expressões originais de vida, de
celebração, de pensamento cristão”.14

Em terceiro lugar o amor ao Reino de Deus que exige o empenho para a construção de uma
sociedade justa e fraterna. Sem alçar o olhar para o que os Evangelhos indicam como Reino de
Deus, corre-se o risco de uma excessiva espiritualização do ministério presbiteral que, não raro,
desemboca no fanatismo ou na idolatria de lideranças. O Catecismo da Igreja Católica aponta a
Doutrina Social da Igreja como “o desenvolvimento orgânico da verdade do Evangelho sobre a
dignidade da pessoa humana e sobre sua dimensão social. Ela contém princípios de reflexão,
formula critérios de juízo e oferece normas e orientações para a ação em favor do Reino de
Deus”.15

O Papa João Paulo II foi firme na doutrina, mas não menos firme em apontar a necessidade do
empenho social da Igreja, na busca de defender os princípios de uma ética evangélica que trabalhe
pela promoção integral da vida16 . Sua preocupação com a justiça social nos legou o Compêndio da
Doutrina Social da Igreja no qual podemos ler: “Não menos relevante deve ser o esforço por utilizar
a doutrina social na formação dos presbíteros e dos candidatos ao sacerdócio os quais, no horizonte
da preparação ministerial, devem desenvolver um conhecimento qualificado do ensino e da ação
pastoral da Igreja no âmbito social e um vivo interesse pelas questões sociais do próprio tempo”.17
A Congregação para a Educação católica ofereceu indicações e disposições precisas para a correta e
adequada programação do estudo da Doutrina Social da Igreja por parte dos seminaristas.18 O
padre é rei/pastor a serviço de um povo real de pastores.

Esta tria munera, que são características, mas também tarefas da Igreja, povo de profetas (Palavra),
sacerdotes (Eucaristia) e Reis/Pastores (Paixão pela justiça do Reino) devem ser plasmada na vida e
na consciência daqueles que estão se preparando para assumir o ministério presbiteral na Igreja. Um
processo formativo mal conduzido, pode tender o formando a fixar-se somente em um destes itens.
Ou privilegiando um em detrimento do outro o que produzirá padres desequilibrados no exercício
de seu ministério: alguns querem se dedicar somente à Palavra conforme a tradição protestante.
Outros com atenção somente para a liturgia e sacramentos conforme a tradição da reforma
tridentina e outros ainda somente se ocupando da dimensão ética e social da fé caindo muitas vezes
na tentação do secularismo.

Quero concluir esta reflexão sobre vocação e formação dos futuros presbíteros recordando as
palavras do apóstolo Pedro a Jesus: “Tu sabes tudo Senhor, Tu sabes que eu vos amo” (Jo 21, 15-
17). É o amor profundo por Jesus, Palavra encarnada, Palavra que se faz pão na Eucaristia para a
vida do mundo, que deve nortear o itinerário de quem deseja tornar-se padre, ou quem já o é. O
amor por Jesus deve ser a explicação do caminhar, a síntese da história de cada um. Este amor deve
ser para o padre a chave de compreensão de toda sua vida e de seu empenho pastoral. É este amor
que dará forças ao padre para exclamar como Ezequiel; “Andarei à procura da ovelha perdida e
reconduzirei ao redil a que se extraviou, carregarei aquela ferida e cuidarei da que está doente”(Ez
34, 16).
São oportunas as ponderações do papa Bento XVI sobre a escassez de vocações sacerdotais que
transcrevo aqui e desejaria fossem lidas à luz do que refleti acima: “A solução para a escassez não
se pode encontrar em meros estratagemas pragmáticos; deve-se evitar que os bispos, levados por
compreensíveis preocupações funcionais devido à falta de clero, acabem por não realizar um
adequado discernimento vocacional, admitindo à formação específica e à ordenação candidatos que
não possuam as características necessárias para o serviço sacerdotal. Um clero insuficientemente
formado, e admitido à ordenação sem o necessário discernimento, dificilmente poderá oferecer um
testemunho capaz de suscitar noutros o desejo de generosa correspondência à vocação de Cristo.
Na realidade, a pastoral vocacional deve empenhar a comunidade cristã em todos os seus
âmbitos”.19

Enfim, o desabrochar da vocação sacerdotal e o processo de formação deve ser capaz de introduzir
o futuro presbítero na compreensão do dinamismo do amor cristão, o qual consiste em abraçar a
causa do amor-serviço como caminho para a liberdade , no seguimento daquele que veio para servir
e não para ser servido. É este amor que sustentará o padre quando ele tiver que segurar nas mãos de
Jesus e caminhar sozinho com Ele.

O que é a vocação sacerdotal?


Conheça mais sobre esta vocação que desperta nos corações o chamado para servir a Igreja e
conduzir o povo de Deus

07/08/2019 • 15:15

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Muitos de nós ao acompanhar uma missa ou homilia já paramos para pensar na missão do
sacerdote. No último domingo, a Igreja celebrou a vocação sacerdotal e o missionário redentorista,
Pe. Natalino Martins, aceitou o chamado para o sacerdócio e cumpre sua missão com muita alegria.
Para ele, reconhecer sua vocação foi como receber a confiança de um ofício muito importante.
“Trabalhar para Deus é ser o próprio encarregado da obra, é ser aquele que responde e fala em nome
do próprio patrão, que é Deus. Ele nos confia uma vinha, um ofício e este ofício tem que ser
detalhadamente realizado, todos nós que somos chamados, somos capazes, e os que não se sentem
capazes, o próprio Senhor os capacita ao longo do caminho”, explicou.

O Papa Francisco define a vocação sacerdotal da seguinte maneira: “Ser sacerdote significa arriscar
a vida pelo Senhor e pelos irmãos, carregando na própria carne as alegrias e angústias do povo,
dedicando tempo e escuta para curar as feridas dos outros, oferecendo a todos a ternura do Pai”.
Padre Natalino conta que o caminho nem sempre é fácil. “Eu me via uma pessoa fraca diante de
todas as necessidades que apareciam nos relatos dos fieis, mas o Senhor por meio da oração
cotidiana que eu realizava em nome Dele, para Ele e com Ele, me dava esta gama de força para eu
continuar minha tarefa com toda confiança. Trabalhar para o Pai é Trabalhar sendo a própria
imagem Dele para aqueles que se aproximam da gente”, afirmou.

Pe. Natalino Martins relembra como recebeu o chamado de Cristo e explica que a proximidade
entre ele, sua família e a Igreja colaborou para que ele percebesse que seu caminho estava traçado
para trabalhar pela obra do Senhor Jesus. “Eu descobri minha vocação sacerdotal quando eu via a
minha mãe e o meu pai juntando todos os irmãos para ir a missa, logo cedinho no domingo. Essa
realidade ficou impregnada de tal maneira no meu coração, que este chamado foi se clareando dia
após dia, nos terços, nas novenas, nos momentos de oração em família, nos encontros de catequese
que eu participava todo domingo… Ele me chamava, eu escutava e respondia este apelo do
Santíssimo Redentor agindo na comunidade, vivendo no grupo de jovens, fazendo e gastando minha
vida nos trabalhos pastorais que me eram confiados na juventude”, relembrou.

Ser padre é estar entregue ao próximo, à serviço do povo de Deus, a vocação para sacerdote não é
mérito pessoal, mas um chamado de Cristo. É Ele quem escolhe os vocacionados e que os envia em
missão. Pelo Nome de Deus, o sacerdote se coloca a serviço da comunidade cristã, na missão de
acolher, perdoar, unir e motivar a vivência da fé.

Essa definição não é feita por acaso, Jesus disse: “Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e me siga” (Lc 9,23). Pe. Natalino não esconde a gratidão e a felicidade por ter
atendido este chamado. “Eu sou muito feliz como sacerdote, como padre missionário redentorista.
Ser sacerdote é ser aquele que se coloca no lugar de Cristo para os outros que estão a procura de um
consolo, de uma libertação ou de uma cura. Não é um simples papel, é ser o próprio Cristo, para
aqueles que se aproximam com todas as situações de conflitos, dificuldades, obstáculos, choro e
ranger de dentes”, pontuou.

O mês das vocações é propício para que reconheçamos a dedicação de nossos padres no trabalho
missionário, é um tempo de refletir sobre a importância da vocação como um todo e também sobre
o nosso papel e compromisso com a Igreja e a sociedade. “Viver o mês das vocações é viver este
mesmo mergulho de alegria e confiança no Senhor que espera muito de cada um de nós. Rezar no
mês das vocações é viver esta realidade bonita do chamado de Deus que não cessa, que não para,
que não acaba, por isso, eu me convido todos os dias para ladear essa caminhada com Cristo
respondendo o Seu convite”, finalizou Pe. Natalino.

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