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Dicas para o bom discernimento vocacional

O período de discernimento vocacional, geralmente na juventude, é um tempo de


escuta, de revelação da vontade de Deus. Esta etapa ajuda o jovem a amadurecer suas
ideias e a perceber o sentido de sua existência.

Por isso, é muito importante que você, que passa por essa fase de percepções e
escolhas, fique atento aos detalhes, aos pequenos sinais sobre sua vocação.

Discernimento vocação

Separamos algumas dicas que podem contribuir no seu fortalecimento interior e ajudar a
superar os desafios do discernimento vocacional. Veja:

1- Mantenha um ritmo de intimidade com Deus através da oração pessoal. Tenha algum
contato diário com a leitura bíblica, seja através da missa, da leitura pessoal ou de outra
forma de contato com a Palavra de Deus.

2- Não deixe de participar das atividades da sua comunidade, da sua paróquia. Isso vai
confirmando cada dia mais sua vocação, seu desejo de servir ao povo de Deus, como
também o fortalecerá como batizado, como homem que precisa aprender com o povo,
com os serviços na comunidade.

3- Busque orientação do seu pároco ou de religiosos (as) que experimentam a radicalidade


da vocação sacerdotal ou religiosa. Isso fará você obter muitos conhecimentos sobre a
vocação, sobre a igreja, sobre a missão de Jesus.

4- Na escola, o quanto puder, não dê atenção para as investidas dos colegas que querem
que você desista, apenas ouça e mantenha-se no seu propósito. Mas quando você se
sentir atacado ou ofendido, peça ajuda aos seus professores ou orientadores.

5- Estude e conheça profundamente sobre o que é vocação sacerdotal e religiosa, para


que você tenha cada vez mais certeza sobre o que você quer ser.

6- Busque conversar com amigos da sua idade que demonstra ter a mesma opção
vocacional. Trocar ideias com quem deseja ser padre,traz momentos de partilha, de
crescimento, de sonhar juntos.

Ainda tem dúvidas sobre sua vocação? Entre em contato conosco:


1 - Eu amo Jesus Cristo e tenho desejo de trazer Jesus e os seus ensinamentos ao
mundo.

2 - Eu esforço-me por acreditar e praticar a minha fé católica.

3 - Eu tento viver a vida de oração e desejo uma vida de oração.

4 - Eu tento servir os outros e desejo uma vida de serviço aos irmãos.

5 - Eu sinto um desejo de ser padre, embora umas vezes seja mais forte que
outras.

6 - Os outros dizem-me que eu deveria ser padre ou que eu daria um bom padre.

7 - A lectio divina da Sagrada Escritura conduz-me a acreditar que talvez eu seja


chamado a ser padre.

8 - Eu esforço-me por ter uma vida virtuosa.

9 - Eu gosto de estar rodeado de pessoas e tenho as aptidões sociais suficientes


para relacionar-me com os outros.

10 - Eu tenho inteligência suficiente para completar um curso académico e


exercer a missão de um padre.

11 - Acho que tenho a estabilidade física, emocional e psicológica para ser padre.

12 - Sou feliz e tenho bom sentido de humor.

13 - Eu acho que tenho um "coração de padre", um coração com bondade e


compaixão pelos outros.

14 - Eu acredito que tenho o auto-controlo para ser um homem de oração e de


liderança.

15 - De um modo geral, demonstro estabilidade na minha vida.

16 - As pessoas que me conhecem diriam que eu sou um bom cristão.

17 - Tenho ou tive acontecimentos na minha vida que pareçam ser sinais apontar-
me o sacerdócio.

18 - Sou capaz de aceitar normalmente o sucesso e o fracasso sem perder a


esperança.

19 - Eu acredito ter um desenvolvimento e orientação psico-sexual saudável.

20 - Tento estar verdadeiramente aberto à vontade de Deus para a minha vida.


Vocação sacerdotal: chamado para exercer um serviço de
amor
Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano de Amparo – SP

Santo Agostinho escreve que o sacerdócio é um serviço de


amor (amoris officium) porque é um serviço de pastor, é gastar
a vida no zelo pelo rebanho que é o povo de Deus. A caridade
pastoral é a pedra de toque da vida sacerdotal bem vivida,
constitui o eixo da espiritualidade do padre diocesano e
também a nota característica da nova evangelização:
“Evangelização nova em seu ardor supõe fé sólida e caridade
pastoral intensa…”Deste modo, quem sente no íntimo do
coração o chamado de Deus para seguir a vocação sacerdotal
deve se preparar para o serviço de amor ao próximo no
seguimento de Jesus, ou seja, na entrega da vida. Há
necessidade de um período relativamente longo de
preparação.
Esta preparação vai exigir um discernimento contínuo durante
o tempo de formação. Discernimento para descobrir a vontade
de Deus a respeito da própria vocação, e discernimento para
perceber até que ponto, está correspondendo com sinceridade
aos sinais que Deus aponta no íntimo do coração. “Discernir é
separar, selecionar, interpretar e julgar, para escolher e
decidir”
Há hoje um conflito entre vida como projeto pessoal e
vida como vocação. A vida como projeto pessoal coloca o
acento na liberdade da pessoa para fazer o que lhe apraz, e a
vida como vocação coloca a pessoa diante do mistério de um
chamado que faz do homem interlocutor de Deus. Daí surge o
desafio de harmonizar e relacionar o projeto pessoal com o
chamado de Deus. O período de discernimento tem como
objetivo mostrar que a liberdade pode ser colocada a serviço
da causa do Evangelho, e a vida pode ser descoberta como
dom e missão. A vocação é dom do Espírito Santo, o
vocacionado deve aprender a discernir com ajuda da
comunidade, daqueles que a Igreja coloca tendo a missão de
ajudar no processo de discernimento e de formação. São
pessoas que tem o “ministério da orientação”, pessoas
espirituais que vão ajudar perceber a qual é a vontade de Deus.
Daquele que se sente chamado ao sacerdócio, o período
de discernimento e formação vai exigir muita atenção,
disponibilidade e sensibilidade, para perceber os sinais que
serão emitidos a partir do interior. Nesta situação a vida de
oração, a espiritualidade é essencial para iluminar todo o
processo de formação em todas as suas dimensões. “A voz do
Senhor que chama não deve ser esperada de forma nenhuma,
como algo que vá chegar de modo extraordinário aos ouvidos
do futuro presbítero. Pelo contrário deve ser entendida e
distinguida por meio dos sinais que diariamente se dão a
conhecer aos cristãos atentos, prudentes”
Todo jovem chamado ao seguimento de Jesus na vida
sacerdotal, recebe uma grande graça de Deus, mas ao mesmo tempo
esta graça, este dom é exigente. É um chamado que impõe condições
novas de vida, que faz o vocacionado diferente dos outros e isto às
vezes pode pesar. Já no Antigo Testamento se enfatiza a separação,
mesmo a respeito de familiares (Gn 12,1; Is 8,11; Jr 12, 6; 1Rs 19,4).
Jesus vai também ser exigente (Lc 9, 23-24). O seguimento radical de
Jesus exige a opção precisa de perder a vida no dom de si: “é
morrendo que se vive”. Esta é a experiência profunda que o jovem
chamado ao sacerdócio deve conseguir fazer, para ter paz durante o
exercício de seu ministério e não ficar à mercê de uma imaturidade
que nunca termina, com seu rosário de indecisões, meias verdades e
decisões incompletas.
Durante o período de formação para o ministério sacerdotal,
muitos serão os elementos que vão ajudar o seminarista a consolidar
sua vocação e adquirir aquela certeza de ter sido chamado, aquela
intimidade com Jesus Cristo , que vai sustentá-lo por toda a vida.
Gostaria de destacar aqui três elementos que julgo fundamentais,
faço-o a partir da sinalização que nos dá o Concílio Vaticano II. “Ao
afirmar o primado da evangelização, o Vaticano II propõe ao
presbítero uma espiritualidade apostólica, profética e missionária,
não só voltada em primeiro lugar para o culto e a vida interna da
Igreja, mas para a missão no mundo e a convivência fraterna com os
leigos (cf. PO n. 9)”6 . Lembremo-nos que somos hoje recordados de
que a Igreja é missionária por sua natureza e quer responder aos
desafios de hoje estando em permanente estado de missão: “A Igreja
deve ir ao encontro de todos com a força do Espírito”.
Em primeiro lugar sinalizo o amor à Palavra de Deus.
Quem se sente chamado ao ministério presbiteral deve ser um
apaixonado pela Palavra de Deus, pois será o “homem da
palavra”. O papa Bento XVI deixa bem claro a necessidade de
se apresentar a Palavra de Deus aos jovens vocacionados e
seminaristas como sendo fonte de firmeza e sabedoria:
“Autênticas vocações para a vida consagrada e para o
sacerdócio encontram seu terreno propício no contato fiel com
a Palavra de Deus (…) Queridos jovens não tenhais medo de
Cristo! Ele não tira nada, e dá tudo. Quem se entrega a Ele,
recebe o cêntuplo”.8 O papa recorda ainda que o estudo
destes livros sagrados deve ser como afirma o concílio Vaticano
II, a “alma da teologia”.9 O padre é profeta a serviço de um
povo de profetas. Sem conhecer e assimilar a Palavra de Deus,
o padre corre o risco de pregar a si mesmo e cair na
mediocridade.
É a partir da Palavra de Deus lida, refletida, meditada e
rezada, que se fortalece o amor a Jesus Cristo que é a seiva da
árvore da vocação sacerdotal. Ele é a suprema revelação de
Deus: “Se eu te falei já todas as coisas em minha Palavra, que é
meu Filho, e não tenho outra palavra a revelar ou responder
que seja mais do que ele, põe os olhos só nele; porque nele
disse e revelei tudo, e nele acharás ainda mais do que pedes e
desejas”.
Em segundo lugar sinalizo o amor à Eucaristia. A Eucaristia é
fonte e ápice de toda a evangelização, é o centro da Assembléia
Eucarística, o centro da comunidade de fiéis presidida pelo presbítero.
Sem a Eucaristia e a vivência do mistério eucarístico impregnando a
sua vida, o presbítero não vai perceber a dimensão comunitária da
Igreja, não vai captar a Igreja como mistério de comunhão, poderá ser
um diretor de consciências, conselheiro atento à vida íntima das
pessoas. Porém, o múnus de pastor não se reduz ao cuidado individual
dos fiéis, mas abarca a formação da comunidade cristã. “Não se
edifica no entanto, nenhuma comunidade cristã se ela não tiver por
raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia: por ela há de se
iniciar por isso toda educação do espírito comunitário”. O padre é
sacerdote a serviço de um povo sacerdotal. Sem o gosto pela liturgia,
cujo cume é a celebração Eucarística, haverá sempre o risco de se
tornar um “funcionário do culto” e podendo ser fonte de desilusão
para o povo de Deus.
Em terceiro lugar o amor ao Reino de Deus que exige o empenho para
a construção de uma sociedade justa e fraterna. Sem alçar o olhar
para o que os Evangelhos indicam como Reino de Deus, corre-se o
risco de uma excessiva espiritualização do ministério presbiteral que,
não raro, desemboca no fanatismo ou na idolatria de lideranças. O
Catecismo da Igreja Católica aponta a Doutrina Social da Igreja como
“o desenvolvimento orgânico da verdade do Evangelho sobre a
dignidade da pessoa humana e sobre sua dimensão social. Ela contém
princípios de reflexão, formula critérios de juízo e oferece normas e
orientações para a ação em favor do Reino de Deus”.
O Papa João Paulo II foi firme na doutrina, mas não menos
firme em apontar a necessidade do empenho social da Igreja, na
busca de defender os princípios de uma ética evangélica que trabalhe
pela promoção integral da vida. Sua preocupação com a justiça social
nos legou o Compêndio da Doutrina Social da Igreja no qual podemos
ler: “Não menos relevante deve ser o esforço por utilizar a doutrina
social na formação dos presbíteros e dos candidatos ao sacerdócio os
quais, no horizonte da preparação ministerial, devem desenvolver um
conhecimento qualificado do ensino e da ação pastoral da Igreja no
âmbito social e um vivo interesse pelas questões sociais do próprio
tempo”.
Esta tria munera, que são características, mas também tarefas
da Igreja, povo de profetas (Palavra), sacerdotes (Eucaristia) e
Reis/Pastores (Paixão pela justiça do Reino) devem ser plasmada na
vida e na consciência daqueles que estão se preparando para assumir
o ministério presbiteral na Igreja.

Quero concluir esta reflexão sobre vocação recordando as


palavras do apóstolo Pedro a Jesus: “Tu sabes tudo Senhor, Tu sabes
que eu vos amo” (Jo 21, 15-17). É o amor profundo por Jesus, Palavra
encarnada, Palavra que se faz pão na Eucaristia para a vida do mundo,
que deve nortear o itinerário de quem deseja tornar-se padre, . O
amor por Jesus deve ser a explicação do caminhar, a síntese da
história de cada um. Este amor deve ser para o padre a chave de
compreensão de toda sua vida e de seu empenho pastoral. É este
amor que dará forças ao padre para exclamar como Ezequiel; “Andarei
à procura da ovelha perdida e reconduzirei ao redil a que se extraviou,
carregarei aquela ferida e cuidarei da que está doente”(Ez 34, 16).
Enfim, o desabrochar da vocação sacerdotal e o processo de
formação deve ser capaz de introduzir o futuro presbítero na
compreensão do dinamismo do amor cristão, o qual consiste em
abraçar a causa do amor-serviço como caminho para a liberdade , no
seguimento daquele que veio para servir e não para ser servido. É este
amor que sustentará o padre quando ele tiver que segurar nas mãos
de Jesus e caminhar sozinho com Ele
IDENTIDADE DE CRISTO

“E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15)


Esta pergunta sobre a identidade de Jesus ocupa um lugar DE
DESTAQUE NOS EVANGELHOS DE MATEUS, MARCOS E LUCAS.
Ela nos oferece as respostas do povo e da comunidade de
discípulos, personalizados em Pedro.
Como seus seguidores, devemos continuar nos perguntar
“quem é Jesus?”. Aqui não se trata do conhecimento externo da
pessoa de Jesus: quando e como viveu, quem são seus pais, em que
cultura viveu, qual era seu entorno social e religioso; nem sequer se
trata de conhecer e aceitar seus ensinamentos.
Nosso seguimento está fundamentado no Jesus que encarna o
ideal do ser humano querido por Deus, Aquele que nos revela, ao
mesmo tempo, quem é Deus e quem é o ser humano. Por isso, a
pergunta que devemos responder é: “quê significa Jesus, para mim?
É preciso deixar muito claro que não se pode responder a essa
pergunta se não nos perguntamos ao mesmo tempo: “quem sou
eu?” . O encontro com a identidade de Jesus desvela nossa própria
identidade.
Na realidade, a pergunta pela identidade é a mais importante
de todas aquelas que podemos nos fazer: “Quem sou eu?” A rigor,
essa é a primeira e essencial pergunta. A resposta adequada à mesma
nos liberta da ignorância, da confusão e do sofrimento. Faz-nos livres
e nos possibilita viver na luz.
Porque o objetivo de nossa vida não pode ser outro que o de
viver o que somos. E isso não é algo que devemos “alcançar”,
“conseguir” ou “conquistar”..., mas, simplesmente, reconhecer. Trata-
se de cair na conta ou compreender quem somos. Ao compreender
isso, emerge a plenitude, a sabedoria e a alegria.
Dito de outro modo: a causa de muitos sofrimentos existenciais
não é outra que a ignorância ou inconsciência de nossa identidade
profunda. O grande místico cristão do séc. XIII, Mestre Eckhart, repetia
essa expressão contundente: “Meu solo e o de Deus são o mesmo”.
Em outras palavras: a Rocha é o divino que nos habita. No
caminho do Seguimento de Jesus vamos tirando os véus que
bloqueiam e obscurecem nossa visão, permitindo que aflore
resplandecente nossa radiante identidade.
No evangelho de hoje, Jesus revela sua identidade (“Messias, o
Filho do Deus vivo”) e, ao mesmo tempo, desvela a identidade de
Pedro: “Tu és “petros” (pedregulho) e sobre esta “petra”(rocha)
edificarei minha igreja”. Pedro se torna rocha firme (“petra”) quando
se apoia na identidade de Jesus (a verdadeira Rocha).
Pedro, que era “petros” (pedra de tropeço no caminho), foi
sendo transformado, através da identificação com Jesus, em “petra”,
rocha firme da primitiva comunidade cristã. Dessa forma, o Simão que
era “petros”/pedra se converte em “Petra”/rocha firme, porque o
mestre desvelou a nobreza que estava escondida no coração dele, ou
seja, sua verdadeira identidade sobre a qual o mesmo Jesus iria
edificar sua igreja.
Todo ser humano possui dentro de si uma profundidade que é
o seu mistério íntimo e pessoal; trata-se do “EU original”, aquele lugar
santo, intocável, onde reside o lado mais positivo da pessoa. É aqui
onde a pessoa encontra a sua identidade pessoal; trata-se do
CORAÇÃO, da dimensão mais verdadeira de si, da sede das decisões
vitais, lugar das riquezas pessoais, onde vive o melhor de si mesma,
onde se encontram os dinamismos do seu crescimento, de onde parte
as suas aspirações e desejos fundamentais, onde percebe as
dimensões do Absoluto e do Infinito da sua vida.
O próprio ser é a rocha consistente e firme, bem talhada e
preciosa que cada pessoa tem para encontrar segurança e caminhar
na vida superando as dificuldades e os inevitáveis golpes da luta pela
vida. Com confiança em si e na rocha do próprio interior todas as
forças vitais se acham disponíveis para crescer dia-a-dia, para a pessoa
se tornar aquilo que originalmente é chamada a ser.
Descobrir a própria identidade pessoal é situar-se na linha da
orientação e sentido da vida. A pessoa deve ter a capacidade de voltar
sobre si mesma e perceber por onde está sendo conduzida e porquê.
Concretamente, isso pressupõe uma atitude de atenção e escuta que
permitem à pessoa situar-se diante do “para onde” e “para quê”,
diante da motivação básica do viver e do agir, diante da “intenção”
com que faz as coisas...
“Viver em profundidade” significa “entrar” no âmago da
própria vida, “descer” até às fontes do próprio ser, até às raízes mais
profundas. Aí se pode encontrar o sentido de tudo aquilo que é, o
porquê do que se faz, se espera, busca e deseja.
“Descobrir a si mesmo” é descobrir que no próprio interior há
um movimento infinito de construção de si, de identidade em
expansão... que se torna possível graças a um constante arrancar-se
do imobilismo e da paralisia existencial que impedem o fluxo da vida
Nossa existência não pode ser de anonimato e indefinição. Ela
exige identidade clara e bem definida. Normalmente confunde-se a
identidade com certas “marcas distintivas”: o nome, a profissão, a
posição social, política ou religiosa, a função...
A identidade, no entanto, é dinâmica, histórica, fecunda, aberta
ao desconhecido, aventureira...; ela é lugar de expansão e de
manifestação da livre circulação do impulso vital, que faz de cada ser
humano um “sopro divino vivo”.
Esse movimento não permite mais que se responda à pergunta:
“Quem sou eu?”, pois o ser humano não é, ele se “torna”. O ser
humano é um contínuo “tornar-se”, um “vir-a-ser”, um “ek-sistir”,
capacidade de ir além de si e adiante de si, no movimento de infinita
transcendência.
Só transcende quem se aproxima da própria interioridade, do
próprio coração.
Ter identidade é viver em contato com as raízes que nos
sustentam. Em contato com a fonte e na viagem para dentro, clareia-
se a visão de nós mesmos, da nossa originalidade e dignidade. Há uma
força de gravidade que nos atrai progressivamente para o mais
profundo de nós mesmos, onde Deus nos espera e nos acolhe, e onde
encontraremos a nossa própria identidade e a verdadeira paz.
“Que eu me conheça e que te conheça, Senhor! Quantas
riquezas entesoura o homem em seu interior! Mas de que lhe servem,
se não se sondam e investigam” (S. Agostinho).
De “petros” a “petra”: esse é o desvelamento que acontece em
todo seguidor de Jesus quando escuta e vive sua Palavra, proclamada
no Sermão da Montanha.
Nossa identidade profunda é constituída pela
fragilidade/petros e pela fortaleza/petra. Só no encontro com Aquele
que é a Rocha firme é que transparece a “petra” que está oculta em
nosso interior.
Texto bíblico: Mt 16,13-19
Na oração: A oração é o caminho interior que faz a pessoa
chegar até o próprio “eu original”, aquele lugar santo, intocável, onde
reside não só o lado mais positivo da pessoa, mas o mesmo Deus. Este
é o nível da graça, da gratuidade, da abundancia, onde a pessoa
“mergulha” no silêncio à escuta de todo o seu ser.
Através da oração a pessoa desce a uma dimensão mais
profunda e assim chega à corrente subterrânea.
Aqui ela experimenta a unidade de seu ser.
Coloque-se diante da verdade de Deus, na verdade de si
mesmo:

IDENTIDADE CRISTA
A razão de ser e de existir da pessoa está contida na sua
identidade, nos seus gestos e ações e práticas concretas,
trazendo como consequência a alegria e a felicidade da vida. É
uma festa permanente, com apoio numa consciência de fé.
A vida do cristão acontece sob a ação de símbolos e gestos, que
trazem consigo significados, revelando a ação do amor de Deus
para com o seu povo. Vemos isto nos nossos momentos
festivos e celebrativos, como acontece numa festa de
casamento.
O perfil do cristão caminha no mundo marcado pela retidão,
pela justiça e fidelidade. Mesmo na diversidade entre as
pessoas e entre os dons, há um esforço constante de unidade,
procurando não excluir ninguém, lutando para a conquista do
bem comum e o valor da naturaza.
Na identidade cristã é importante superar as distinções raciais,
sociais e nacionais. A unidade não significa uniformidade, mas
complementariedade rica e saudável. As pessoas não podem
ser feridas nas suas originalidades, no seu próprio ser.
É fundamental ter em vista que cada pessoa tem uma história
real de vida, tem um modo todo próprio de ser, de falar e de
agir na construção do bem comum. A identidade pessoal
corrobora com a identidade coletiva.
A humanidade busca sempre usufruir da festa da vida, daquilo
que lhe faz feliz, mas nem sempre está preparada para isto.
Muitos estão desligados dos compromissos que alimentam a
qualidade da festa. Faltam a sensibilidade, a solidariedade e a
justiça.
Encontramos pessoas que vivem na opulência total e no
esbanjamento desmedido, sem escrúpulo e temor de Deus. Há
uma insensibilidade ética em relação ao todo, buscando
interesses injustos, violentos e até criminosos. Isto estraga a
ação dos bem intencionados.
Têm identidade feliz aquelas pessoas que conseguem ter o
sabor da sabedoria divina, a bondade, a verdade, o cuidado
com a vida e com as pessoas, com o meio ambiente, com a
água e com a terra. É preciso mudar aquilo que dificulta uma
vida saudável e cheia de esperança.
- que resposta você daria, agora, se um repórter lhe
entrevistasse e lhe perguntasse: “quem é você?”
- o que você colocaria na sua carteira de identidade que lhe
diferenciasse de todas as outras pessoas? Quais seriam os seus
sinais digitais mais originais? Quais os seus sinais digitais
divinos? (as “marcas” de Deus);
- o que em você é “rocha” consistente, fundamento inabalável?

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