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RENOVAÇÃO CARISMÁTICA

CATÓLICA - BRASIL
SECRETARIA PAULO APÓSTOLO

ORAÇÃO: CAMINHO DE
SANTIDADE

MÓDULO BÁSICO
APOSTILA 4

AUTORES:
Helena Lopez Rios Machado
Maria Lucia Vianna
Ronaldo José de Sousa

1
SUMÁRIO

Apresentação

Capítulo I – Oração, caminho de santidade

Capítulo II – Oração na vida cristã

Capítulo III – As formas da oração

Capítulo IV – Oração pessoal

Capítulo V – A oração de Jesus

Capítulo VI – A oração da Igreja

Bibliografia

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APRESENTAÇÃO
Este conjunto de ensinos quer aprofundar o estudo a respeito da vida de oração,
instrumento para se percorrer um verdadeiro e seguro caminho de santidade. O objetivo é
revitalizar em cada participante do Grupo de Oração e, por extensão, nele mesmo enquanto
dimensão de oração comunitária, a compreensão acerca da necessidade da oração no dia-a-dia,
como condição para o crescimento espiritual.
O texto está dividido em seis capítulos. No primeiro deles (Oração: caminho de
santidade) procuramos conceituar a oração e fazer indicações de sua necessidade e eficácia no
processo de santificação. No segundo (Oração na vida cristã) indicamos, em acordo com o
Catecismo da Igreja Católica, os caminhos e as fontes da oração cristã. No terceiro (As formas
da oração), enumeramos e cometamos as formas de oração. Por causa do tamanho desse capítulo,
recomendamos que seja dividido em dois ensinos, quando estiver sendo ministrado o conteúdo
da apostila. No quarto capítulo (Oração pessoal), discorremos sobre os principais elementos que
envolvem a caminhada da vida de oração pessoal. O capítulo quinto (A oração de Jesus)
apresenta o Jesus orante e comenta o Pai-Nosso. Por fim, fazemos no sexto capítulo (A oração da
Igreja) algumas observações fundamentais acerca da Liturgia das Horas, do Ano Litúrgico e do
Terço.
Recomendamos a aplicação de dinâmicas após cada ensino, de acordo com o seu
conteúdo e público alvo. Sugerimos as seguintes:

a) Oração Pessoal – tempo de oração pessoal. Insistir no recolhimento, buscando não ficar
conversando, mas sim, em silêncio. Deve-se exortar à interiorização e à intimidade com
Deus. Na oração deve-se anotar o que o Senhor inspirou e quais as dificuldades
encontradas.
b) Jardim – tempo de meditação pessoal sobre o que foi proposto no ensino.
c) Grupos – devem ser orientados grupos 2 a 2 ou mesmo de mais pessoas, para crescimento
mútuo sobre o que foi ouvido no ensino.
d) Tendas – formar grupo de 5 pessoas para orar e pedindo o batismo no Espírito Santo.

Os temas a serem desenvolvidos estão apresentados em conteúdo e resumo (esquema). O


formador deve tomar o cuidado com o fator tempo para que o ensino fique bem motivado. Deve
procurar resumir os conteúdos e possibilitar ao máximo a experiência.
Agradecemos sinceramente a colaboração do padre Francisco de Assis da Silva (Diocese
de Cajazeiras-PB) e da professora Flaviana de Oliveira Pereira, pelo esforço que desprenderam
nas revisões teológica e técnica respectivamente. Esperamos, enfim, que o esforço desprendido
na elaboração dessa apostila possa ser fecundo na formação dos irmãos de todos os lugares e
situações.

Deus abençoe a todos.

OS AUTORES

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CAPÍTULO I
ORAÇÃO: CAMINHO DE SANTIDADE

1. Introdução

A vontade de Deus é que todos sejam puros e santos. “Esta é a vontade de Deus: a vossa
santificação; que eviteis a impureza; pois Deus não nos chamou para a impureza, mas para a
santidade” (1 Tss 4, 3.7).
A essência de Deus é a santidade, e todos podem se aproximar d‟Ele na medida em que
respondem ao Seu chamado. A iniciativa é sempre de Deus, que dá o desejo e a graça de se
aproximar d‟Ele.

2. Santidade

Santidade é a finalidade da obra salvífica de Jesus, é o caminho que todos são convidados
a percorrer, seguindo o estilo de vida próprio de cada um.
A Igreja orienta que “todos os fiéis cristãos são convidados e obrigados a procurar a
santidade e a perfeição do próprio estado”.1 Esta participação brota do batismo quando os fiéis
são mergulhados na graça de Deus, morrendo para o pecado e ressurgindo com Cristo Jesus.
Com o batismo, ele readquire a graça santificante, que o torna capaz de crer e amar a Deus
através das virtudes teologais: fé, esperança e caridade, que constituem o alicerce da vida cristã.
“A vocação à santidade mergulha suas raízes no Batismo e volta a ser proposta pelos
sacramentos, sobretudo a Eucaristia; revestidos de Jesus Cristo, impregnados por seu Espírito, os
cristãos são „santos‟ e por isso habilitados e empenhados em manifestar a santidade do seu ser”.2
Santo é aquele que busca fazer a vontade de Deus; é aquele que é separado do mundo,
embora no mundo, para uma vida consagrada a Deus; “porque és um povo consagrado ao
Senhor, teu Deus, o qual te escolheu para seres o seu povo, sua propriedade exclusiva, entre
todas as outras nações da terra” (Dt 7, 6).
Este chamado, esta escolha de Deus leva o cristão a ter uma vida de vigilância com o
objetivo de estar sempre em busca de Sua face, para uma transformação interior. O grande amor
de Deus é que gera todas essas coisas. São João diz em sua Primeira Carta (4, 16): “Deus é Amor
e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele”. Esta permanência é decorrente da
perseverança, quando frutifica a semente principal: o amor.
Alguns são os meios e caminhos para chegar a esse aperfeiçoamento. A palavra da Igreja
orienta que “cada fiel deve voluntariamente ouvir a palavra de Deus e com auxílio de Sua graça
cumprir por obras Sua vontade, participar freqüentemente dos sacramentos, sobretudo da
Eucaristia, e das sagradas ações, aplicar-se constantemente à oração, à abnegação de si mesmo,
ao serviço fraterno atuante e ao exercício de todas as virtudes. Pois a caridade como vínculo de
perfeição e plenitude da lei (cf. Cl 3,14; Rm 13,10), rege, informa e conduz ao fim todos os
meios de santificação”.3
Portanto, a vida de oração constante é um meio eficaz pelo qual se caminha rumo à
santidade.

1. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Lumen gentium, n. 42.


2. JOÃO PAULO II, Christifideles laici, n. 16.
3. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Lumen gentium, n. 42 (grifo nosso).

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3. O que é a oração

A oração é um dos caminhos para uma vida nova, pois oração é comunicação com Deus.
É um diálogo de uma relação viva e pessoal. O orante fala com Deus e Ele responde; Ele fala
com o orante e este responde adequadamente.
O fundamento da oração é duplo: na ordem da criação, o fiel é dependente e na ordem da
graça é filho. A essência da oração é a atividade do amor. Santa Teresinha diz que: “a oração é
um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor
no meio da provação ou no meio da alegria”.4 O coração voltado ao Senhor, cada vez mais
plenificado pelo seu amor; deixa o fiel totalmente livre para poder elevar a alma a Deus ou pedir
bens convenientes.5
Jesus diz que Ele é a Videira e que cada um está ligado a Ele como ramo (cf. Jo 15, 3). Se
o ramo não permanecer ligado à Videira, murchará e morrerá. Jesus é a fonte que supre todas as
necessidades da vida do fiel orante.
“Permanecei em mim, e Eu permanecerei em vós” (Jo 15,4). Permanecer no Senhor,
viver na presença do Senhor, estar ligado ao Senhor na mente, no coração e no espírito é graça
que o fiel recebe porque “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5b).
Acima de tudo, a oração é relacionamento filial, em que a pessoa se encontra com Deus
para estabelecer um diálogo de amor. Não se pode crescer na vida de oração sem a acomodação
da verdadeira imagem do Pai, revelada por Jesus e comunicada pelo Espírito Santo. A oração
não é predominantemente metódica nem deve ser encarada como uma obrigação árida e
desprovida de significado. A relação com o Senhor deve ser paternal e não patronal. Santa
Teresa afirma que a oração “não é, a meu parecer, (...) senão tratar de amizade - estando muitas
vezes a sós - com quem sabemos que nos ama” (Santa Teresa).6
É necessário, portanto, absorver a imagem misericordiosa, amorosa e benevolente de
Deus. Assim Ele o é. Relaciona-se com os homens dessa forma e quer transformar a vida de
oração dos seus filhos em verdadeiro espaço de crescimento espiritual e humano.
Muitas pessoas constroem uma imagem negativa de Deus, assim como o fazem de si
mesmos e dos outros. As vezes a imagem paterna de Deus acaba sendo distorcida por causa da
experiência familiar, marcada por traumas e frustrações. Isso pode transformar a oração numa
“coisa aprendida por rotina” (cf. Is 29, 13c), uma relação marcada pelo medo e a desconfiança 7
ou uma prática intimista, pela qual a pessoa se centraliza nela mesma, foge de suas necessidades
interiores mais profundas e se detém sempre nas suas preocupações mais latentes (emprego,
filhos, carências, etc), sem dirigir sua inteligência e vontade à vivência do senhorio de Cristo.
Para usufruir uma vida de oração saudável e frutuosa, é necessário perceber que Deus não
é:

a) Egoísta – quer tudo para Ele; exige da pessoa que não peque, que lhe sirva, sem considerar as
limitações de cada um;

b) Indiferente – desconsidera os pedidos e orações que não são “do seu interesse”;

c) Castigador – está sempre pronto a punir os erros cometidos;

4. Apud RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Vida de santidade, vida de oração, p. 9.


5. Cf. SÃO JOÃO DAMASCENO apud Ibid., p. 9.
6. Apud RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Vida de santidade, vida de oração, p. 46.
7. A pessoa tem medo que Deus lhe peça algo de que não quer se desapegar, que lhe chame à uma vocação a
qual se acha incapaz e desconfia das intenções de Deus, achando que Ele, como Senhor, lhe forçará a fazer opções
que não deseja.

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d) Distante – está no céu e o homem na terra, como se houvesse um longo caminho entre um e
outro.

Mas também Deus não é escravo do homem, ou seja, alguém todo poderoso que está
sempre disposto a satisfazer as vontades humanas. Deus é Pai e, como tal, educa o orante num
maravilhoso processo de purificação das paixões e adequação à mentalidade do Evangelho. Isso
plenifica a pessoa e a estabelece como referencial profético de santidade, na medida em que os
frutos da vida de oração vão se fazendo perceber em sua vida.
Somente quem ama o Pai e nele confia, consentirá que Ele interfira na vida,
transformando-a, redimensionando-a de acordo com a via de santidade. Aqui, a vida de oração
começa e acontece efetivamente.

4. Atitudes de oração

Não sendo uma prática meramente intelectual, mas um relacionamento de amor, a vida de
oração exige da pessoa algumas atitudes, capazes de deixá-la com o coração aberto para Deus. É
possível citar:

a) Humildade

É a virtude que revela a consciência da própria fraqueza. Dirigir-se ao Senhor com


humildade é fundamental8 para que a vida de oração seja autêntica (cf. Mt 15, 21-28); a soberba
e a prepotência diante de Deus tornam a oração improdutiva (cf. Lc 18, 9-14).

b) Sinceridade

O orante deve manifestar ao Senhor o que sente e vive sem disfarces, sem máscaras, sem
tentar esconder as verdadeiras intenções do coração. Deus perscruta o ser do homem, nada lhe é
oculto (cf. Sl 138, 1-15). Esquivar-se de Deus seria assumir a mesma atitude dos primeiros
homens, após o pecado original (cf. Gn 3, 8-10).

c) Desprendimento

Desapego de bens materiais e preocupações egoístas. Quem pauta sua vida de oração
somente sobre os próprios problemas e dificuldades, sem se abrir ao que Deus quer construir
além deles, permanecerá na superficialidade. É necessário buscar o Senhor e Sua vontade e não
se prender a sonhos e desejos pessoais (cf. 1 Rs 3, 4-15; Tg 4, 3).

d) Confiança

Nesse caso, trata-se da segurança interior quanto à presença e ação de Deus. O orante
deve confiar no Senhor sem reservas, sem jamais desconfiar do Seu amor e cuidado (Cf. Lc 11,
11-13; 1 Rs 18, 20-40).

e) Temor

Sentimento de respeito e reverência ao Senhor. Quem a Ele se dirige, deve fazê-lo com a
consciência clara de Sua grandeza e majestade (cf. Mt 8, 5-10).

8. Cf. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2559.

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5. Conclusão

“Sede santos porque Eu sou Santo” (1 Pe 1, 16). Jesus envia o Espírito Santo para que
todos sejam santos. E o mesmo Espírito ora em cada um sem cessar. A chave da permanência em
Deus é “orar sem cessar” (1Tss 5, 17-18).
Jesus prometeu que aquele que viver unido a Ele, produzirá muitos frutos (cf. Jo 15, 5).
Os frutos refletem uma vida transformada; a vivência do Batismo no Espírito Santo dá condição
para que a pessoa abandone os frutos da carne e saboreie os do Espírito Santo. Assim, a oração
não é apenas um diálogo com Deus, mas um estilo de vida (cf. 1 Tss 5,17).
A vida no Espírito tem por base a vida de oração. Quem quer crescer no conhecimento de
Deus precisa orar. Vários são os momentos, modos e necessidades de orar; mas, antes de orar, é
bom pedir o Espírito Santo, o Espírito de Santidade, “que vem em nosso auxílio porque não
sabemos orar como convém” (Rm 8, 26).

RESUMO
1) Introdução
Santificação – é a vontade de Deus I Tss 4, 3.7

2) Santidade é:

- A essência de Deus
- A finalidade da obra Salvífica de Jesus
- O caminho a que somos chamados a percorrer (cf. LG 42)

Vocação à Santidade – tem raízes no batismo (CRL n. 16)

Ser Santo é aquele que:

- Busca fazer a vontade de Deus


- É separado pelo Senhor
- É consagrado ao Senhor (Dt 7, 6)

Meios e caminhos para alcançar o aperfeiçoamento

- Palavra de Deus
- Participar dos sacramentos
- Aplicar-se constantemente à oração
- Exercício das virtudes

3) O que é oração?

- É um diálogo de uma relação viva e pessoal


- É um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu... (Sta Teresinha do Menino
Jesus)
- É a elevação da alma a Deus (S. João Damasceno)
- É falar com Deus (S. João Crisóstomo)
- É falar da amizade com quem sabemos que nos ama (Santa Teresa)

7
A essência da oração é a atitude do amor:
João 15,4 – Jesus pede permanência n`Ele
I Tss 5,17-18 – chave da permanência n`Ele, Orar sem cessar
João 15,5b – Sem Ele nada podemos fazer

Vida de Oração Saudável.

- Perceber que Deus é amor


- Permitir que Ele interfira em sua vida

4) Atitudes de Oração

a- Humildade – ser dependente de Deus – Mt 15,21-28


b- Sinceridade – não ter disfarces diante de Deus – Sl 138,1-15
c- Desprendimento – desapego, buscar a vontade de Deus – Tg 4,3
d- Confiança – Segurança quanto à ação de Deus Lc 11,11-13
e- Temor – respeito e reverencia ao Senhor Mt 8,5-10

5) Conclusão:

I Pd 1,16 – Sede Santos porque Eu Sou Santo


João 15,5 – Os frutos refletem uma vida transformada
Vivência do Batismo no Espírito Santo – dá condição para saborear estes frutos.
A vida no Espírito tem por base a Vida de Oração

8
CAPÍTULO II
A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ

1. Introdução

Orar é conversar com Deus. Mas, a oração deve ser mais do que simples palavras. A
oração é a expressão profunda da alma, uma comunicação real com o Criador. Deve envolver a
vida do fiel de tal maneira que tudo o que fizer se torne um ato de oração.
Para o cristão, tudo o que se faz é para o Senhor. Os afazeres e atividades de rotina, as
conversas e atitudes, os relacionamentos e a vida profissional, tudo deve ser oferecido ao Senhor
como um ato de oração.

2. Oração como dom de Deus

Quando a pessoa recebe Jesus como Salvador e Senhor, nasce espiritualmente, e o


Espírito Santo começa a habitar nela. Jesus disse à Samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus”
(Jo 4, 10). “A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos poços aonde vamos
procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de todo ser humano, é o primeiro a nos
procurar e é Ele que pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido vem das profundezas do Deus
que nos deseja. A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa.
Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele”.9
“Tu é que lhe pedirias e Ele te daria água viva” (Jo 4,10). “Nossa oração de pedido é,
paradoxalmente, uma resposta. Resposta à queixa do Deus vivo: „Eles me abandonaram, a fonte
de água viva, para cavar para si cisternas furadas!‟ (Jr 2, 13), resposta de fé à promessa gratuita
da salvação, resposta de amor à sede do Filho único”.10
À medida que experimenta a oração em sua vida, a fé da pessoa torna-se mais forte e o
amor a Deus aumenta. Quanto mais tempo a pessoa ora, tanto mais profundamente poderá
experimentar a dimensão espiritual e nela viver.

3. O caminho da oração11

“Não existe outro caminho da oração cristã senão Cristo. Seja a nossa oração comunitária
ou pessoal, vocal ou interior, ela só tem acesso ao Pai se orarmos „em nome‟ de Jesus”.12 É,
portanto, o Nome divino de Jesus que contém a “presença que significa”;13 Por Ele e por Sua
vontade é que o homem deve se dirigir ao Pai e construir sua vida de intimidade com Deus.
Orar em nome de Jesus é invocar sua própria essência e significado: “Iahweh salva”. É
seguir pela via da cruz e da ressurreição, pela qual todo homem foi introduzido na relação com a
Trindade. “A invocação do santo nome de Jesus é o caminho mais simples da oração contínua.
Muitas vezes repetida por um coração humildemente atento, ela não se dispersa numa torrente de
palavras (Mt 6,7), mas „conserva a Palavra e produz fruto pela perseverança‟”.14
“Ninguém pode dizer „Jesus é Senhor‟ a não ser no Espírito Santo (1Cor 12, 3). Cada vez
que começamos a orar a Jesus, é o Espírito Santo que, por sua graça proveniente, nos atrai ao
caminho da oração. Se Ele nos ensina a orar recordando-nos Cristo, como não orar a Ele mesmo?

9. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2560.


10. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2561.
11. Cf. Ibid., ns. 2663-2672.
12. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2664.
13. Cf. Ibid., n. 2666.
14. Ibid., n. 2668.

9
Por isso, a Igreja nos convida a implorar cada dia o Espírito Santo, sobretudo no início e no fim
de toda ação importante”.15
“O Espírito Santo, cuja unção impregna todo o nosso ser, é o Mestre interior da oração
cristã. É o artífice da tradição viva da oração. Sem dúvida, existem tantos caminhos na oração
quantos orantes, mas é o mesmo Espírito que atua em todos e com todos. Na comunhão do
Espírito Santo a oração cristã se torna oração da Igreja”.16
O Espírito reza por cada fiel e se une a ele em sua oração. S. Judas encoraja a buscar esta
santa interação com o Espírito e a crescer nela (cf. Jd 1, 20).

4. As fontes de oração17

Por fonte se entende um lugar que brota. Portanto, fontes de oração são lugares de onde
brotam motivações para rezar ou, eles mesmos se tornam oportunidades “em que Cristo nos
espera para nos saciar com o Espírito Santo”.18 A Igreja indica pelo menos três principais:

a) A Palavra de Deus

Nela estão contidas muitas orações e motivações para rezar. A Palavra de Deus suscita
respostas no coração do orante. Ele se sente naturalmente impulsionado a rezar tendo como
matéria aquilo que leu e meditou.
A Palavra de Deus questiona a vida do orante, interpela-o, provoca-o, coloca palavras em
sua boca e propósitos em seu coração. “Só com a Palavra de Deus! Enquanto a abro, a primeira
passagem que cai sobre meus olhos apodera-se de mim e urge-me. É como se o próprio Deus me
perguntasse: „Puseste isso em prática?‟”19
Muitas pessoas reclamam que “esgotou o assunto” na oração. Quase sempre isso é
ocasionado pela falta de leitura orante da Palavra. “Os Padres espirituais, parafraseando Mt 7,7,
resumem assim as disposições do coração alimentado pela Palavra de Deus na oração: „Procurai
pela leitura, e encontrareis meditando; batei orando, e vos será aberto pela contemplação‟”.20
Os salmos alimentam significativamente a oração cristã, pois exprimem a oração do povo
de Deus como assembléia, sendo inseparavelmente pessoal e comunitária.21 “Os Salmos são
marcados por características constantes: a simplicidade e a espontaneidade da oração; o desejo
do próprio Deus através dele com tudo que é bom em sua criação; a situação desconfortável do
crente que, em seu amor preferencial ao Senhor, está exposto a uma multidão de inimigos e
tentações e, na expectativa do que fará o Deus fiel, a certeza de seu amor e a entrega à sua
vontade. A oração dos Salmos é sempre motivada pelo louvor e por isso o título desta coletânea
convém perfeitamente ao que ela nos oferece: „os Louvores‟. Feita para o culto da Assembléia,
ela anuncia o convite à oração e canta-lhe a resposta: „Hallelu-Ya‟! (Aleluia), „Louvai o
Senhor‟!”22

b) A Liturgia da Igreja

15. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2670.


16. Ibid., n. 2672.
17. Cf. Ibid., 2652-2660.
18. Ibid., n. 2652.
19. S. KIERKEGAARD apud Mariano BALLANO, Lectio Divina, In. Dicionário teológico da vida
consagrada, p. 595.
20. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2654.
21. Cf. Ibid., n. 2586.
22. Ibid., n. 2589.

10
A liturgia sacramental anuncia, atualiza e comunica o mistério da salvação. Por isso, ela
se prolonga no coração de quem reza. “Os Padres espirituais comparam às vezes o coração a um
altar. A oração interioriza e assimila a Liturgia durante a após sua celebração. Mesmo quando é
vivida „no segredo‟ (Mt 6, 6), a oração é sempre oração da Igreja, comunhão com a Santíssima
Trindade”.23

c) As virtudes teologais

A oração não é fé, mas há uma relação muito íntima entre as duas. A oração sempre
reaviva a fé. A porta da oração é a fé. Por ela, o orante deseja a Face do Senhor, procura ouvir e
guardar Sua Palavra e identifica os sinais de Sua presença.
Do mesmo modo, a esperança que não decepciona (cf. Rm 5, 5) permeia a vida de
oração, sobretudo em relação à volta de Cristo e sua manifestação gloriosa.
Mas, sobretudo o amor é a fonte da oração; “quem dela bebe atinge o cume da oração”.24

5. Conclusão

A oração na vida cristã é um dom de Deus. O caminho da oração é o próprio Cristo: orar
em nome de Jesus, buscando viver o seu senhorio e a experiência da unção do Espírito Santo. A
oração tem diversas fontes, entre elas: a Palavra de Deus, a liturgia e as virtudes teologais.

RESUMO
1) Introdução
Orar é conversar com Deus
Oração é a expressão profunda da alma
Oração não é apenas um diálogo, é um estilo de vida.

2) Oração como dom de Deus:


João 4,10 – “Se conhecesses o dom de Deus”
Nossa oração é um encontro da nossa sede de Deus e a dele para que a tenhamos.

3) O Caminho da Oração
O único caminho é Cristo Jesus
Seja oração comunitária, vocal, pessoal, interior
Pela vontade sua vontade é que se deve dirigir ao Pai
Invocação do nome de Jesus Mt 6,7
Só pelo poder do Espírito Santo I Cor 12,3
O Espírito é o artífice da tradição viva da oração

4) As fontes de Oração
Fonte de oração são lugares onde brotam motivações para rezar.

a- Palavra de Deus
- suscitar respostas no coração do orante
- questionar a vida do orante

23. Ibid., 2655.


24. Ibid., n. 2658.

11
- coloca palavras em sua boca e propósitos em seu coração
- os Salmos alimentam a oração cristã

b- A Liturgia da Igreja
A Liturgia Sacramental:
Anuncia, atualiza e comunica o mistério da Salvação

c- As Virtudes Teologais
A oração não é fé
A oração reaviva a fé
A oração permeia a vida do orante de esperança
A fonte da oração é o amor

5) Conclusão
A oração na vida cristã é um dom de Deus
O caminho é o próprio Cristo Jesus

12
CAPÍTULO III
AS FORMAS DE ORAÇÃO
1. Introdução

O Espírito Santo indica o objetivo da oração e como se deve orar. Ele sonda as
profundezas de Deus, toma as coisas de Cristo e as revela. O Espírito é Deus, comunhão com
Deus Pai e Deus Filho, e os três são um só Deus. Ele é o poder que opera em todos. Ele é quem
une os corações em oração.
A oração pode acontecer de diversas formas, de acordo com as intenções, sentimentos e
necessidades do orante e, também, com as moções do Espírito Santo.

2. A oração de louvor

O louvor exprime uma relação fundamental do homem com Deus. O louvor reconhece
que Deus é Deus! “Canta-o pelo que Ele mesmo é, dá-lhe glória, mais do que pelo que Ele faz,
por aquilo que Ele É. Participa da bem-aventurança dos corações puros que o amam na fé antes
de o verem na Glória. Por ela, o Espírito se associa ao nosso espírito para atestar que somos
filhos de Deus, dando testemunho do Filho único em quem somos adotados e por quem
glorificamos o Pai. O louvor integra as outras formas de oração e as leva Àquele que é sua fonte
e o termo final”.25
Louva-se a Deus porque Ele é: Onisciente, Onipotente, Onipresente! Ele criou os céus e a
terra, e tudo o que neles há! Ele é grandioso! Ele é glorioso! Ele é Santo! Ele é justo! Ele é
amoroso! Todo fiel deve lembrar-se das graças que recebe e louvar a Deus. Ele deu Seu Espírito
Santo a fim de que todos possam viver uma vida santificada. Ele cura! Livrou o homem da morte
e do inferno e lhe deu a vida eterna. Por isso se deve louvar a Deus! Sempre haverá motivos para
louvá-Lo.
O homem foi criado para o “louvor da glória de Deus” (cf. Ef 1, 14b). “É por isso que
Davi diz muito acertadamente: „Louvai o Senhor, pois o Salmo é uma coisa boa: a nosso Deus,
louvor suave e belo!‟ E é verdade. Pois o Salmo é bênção pronunciada pelo povo, louvor de
Deus pela assembléia, aplauso de todos, palavra dita pelo universo, voz da Igreja, melodiosa
profissão de fé...”.26

3. Oração de ação de graças

“A ação de graças caracteriza a oração da Igreja que, celebrando a Eucaristia, manifesta e


se torna mais aquilo que ela é”.27 A ação de graças é uma expressão de humildade pessoal e uma
forma de respeito e reverência. Quando o fiel agradece com sinceridade, torna-se mais
consciente da grandeza de Deus.
Um coração agradecido é capaz de transformar todo acontecimento em oferenda.
Quaisquer que sejam as circunstâncias dá graças a Deus por elas.

4. Oração de adoração

25. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2639.


26. SANTO AMBRÓSIO apud CATECISMO da Igreja Católica, n. 2589.
27. CATECISMO da Igreja Católica, n. 2637.

13
A adoração é a primeira atitude do homem que se reconhece criatura diante do seu
Criador. É o silêncio respeitoso diante de Deus “sempre maior”. A adoração do Deus três vezes
Santo e sumamente amável enche o homem de humildade.
Adorar é reconhecer que Deus é Senhor, Pai, Criador, Salvador; que é grande, bom,
poderoso, misericordioso. Adora-se somente a Deus: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; adora-se a
Jesus porque é Deus, seu Corpo, seu Coração, suas Chagas, Jesus na Cruz e na Eucaristia.
A adoração pode ser com palavras, como S. Tomé ao ver Jesus Ressuscitado: “Meu
Senhor e meu Deus!” (cf. Jo 20, 28) A adoração pode ser com gestos, como se prostrar de rosto
em terra ou de joelhos. A adoração pode ser em silêncio, como Maria, perfeita adoradora, que
“guardava tudo em seu coração” (Lc 2, 51). Deus busca adoradores em espírito e em verdade (cf.
Jo 4,23).

5. A oração em línguas

A razão e a intuição humanas limitam a oração. Com a ajuda do Espírito Santo, ela passa
a ser uma oração que dá frutos. O orante empresta sua voz ao Espírito Santo e Ele lhe dá o tom e
a forma. É o que se chama de oração no Espírito ou oração em línguas, que nasce das
profundezas de Deus e se expressa “em gemidos inefáveis” (cf. Rm 8, 26) ou em louvor e
adoração, conforme o Espírito introduz na necessidade do momento.
O cântico em línguas é uma expressão de louvor. É dom de Deus. O verdadeiro cântico
em línguas sai do coração e vai além das palavras humanas. Muitas vezes é o que resta ao orante
nos períodos de purificação e de dificuldade espiritual.
Numa assembléia de oração, o Espírito Santo pode levar a um louvor coletivo em línguas
para, entre outras coisas, abrir o coração dos presentes à escuta da palavra profética.

6. Oração de escuta

A oração de escuta é uma atitude de fé expectante. Faz parte da permanência em Deus, do


colóquio interior da alma com Deus, da busca de um discernimento daquilo que se apresenta no
coração do homem. A verdadeira escuta é o acolhimento da inspiração do Espírito Santo,
esclarecendo, revelando, orientando conforme a necessidade. A pessoa que vive constantemente
na presença do Senhor sabe distinguir Sua voz das outras vozes interiores, que muitas vezes
levam à distração e ao desvio da verdade. “E as ovelhas seguem-no, pois lhe conhecem a voz”
(cf. Jo 10, 46). “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo
10, 27).

7. Oração de súplica

Suplicar é pedir a Deus por uma necessidade pessoal ou comunitária. As Escrituras


mostram que Deus deseja que os seus filhos lhe façam pedidos: “Não tendes, porque não pedis”
(Tg 4, 2). “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que
pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu
filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que
sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas
aos que lhe pedirem” (Mt 7, 7-12).
O fiel deve pedir a Deus com muita honestidade. A atitude básica para uma oração
madura de súplica é a de entrega do pedido a Deus para que a vontade d‟Ele seja feita. É a
mesma atitude de Jesus diante da Sua Paixão: “Não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu
queres” (Mt 26, 39).
Na súplica sincera e amadurecida, deve haver também o desejo profundo de que Deus
receba toda glória. “Portanto, quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo

14
para a glória de Deus” (1 Cor 10, 31). “Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no qual
perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Ef 6, 18).

8. Oração de entrega

“Entrega teu caminho ao Senhor, confia nEle, e ele agirá” (Sl 36, 5). A oração de entrega
implica em estabelecer um compromisso sério com o Senhor, evitando-se afirmações vagas. É
uma oração sábia. Em três curtas frases, observando o sentido dos três verbos, dedica-se ao
Senhor a pessoa de maneira total e plena:

a) “Entrega teu caminho ao Senhor” - o ato da entrega, leva a um despojamento total, à mesma
atitude de Jesus na Cruz (cf. Lc 23, 46); é uma decisão definida e específica, implica não
somente em entregar, mas deixar nas mãos de Deus. Fazer a entrega não é fácil, mas deixá-la ali
é ainda mais difícil; entretanto, é necessário confiar.

b) “Confia nele” - confiar na palavra de Deus e ter a certeza que esta palavra será cumprida (cf.
Mc 11, 24). Deus chama atenção para a necessidade de que o fiel creia quando ora, tomando uma
posição definida de fé. A fé não pode ser apenas uma disposição mental de crer, ela tem que
estar fundamentada na promessa de Deus.

c) “Ele agirá” – orando deste modo, a resposta de Deus virá e o fiel poderá dar inúmeras ações
de graças a Ele.

9. Oração de intercessão

As Escrituras animam a interceder uns pelos outros. “Não cessamos de orar por vós” (Cl
1, 9). “Orai uns pelos outros” (Tg 5, 16). “Pois sei que isso me resultará em salvação, graças às
vossas orações e ao socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fl 1, 19).
Paulo muitas vezes encorajou a Igreja a rezar também por ele. Ele conhecia os benefícios
da oração. A oração de intercessão traz bênção, proteção e crescimento espiritual.
Deus procura intercessores: “Tenho procurado entre eles alguém que construísse o muro
e se detivesse sobre a brecha diante de mim, em favor da terra, a fim de prevenir a sua
destruição, mas não encontrei ninguém” (Ez 22, 30). Interceder é pedir a Deus que aja na vida de
outra pessoa (cf. Tg 5, 16).
Quando o fiel não sabe como orar, o Espírito Santo vem em seu auxílio, intercedendo
através dele “com gemidos inefáveis”, numa oração perfeita, pois é o próprio Deus que sabe o
que é necessário e ora em seu favor (Rm 8, 26-27).
Todos são chamados a interceder. A intercessão leva à consolação do coração de Deus.
Unido a Jesus, o verdadeiro e único Intercessor perfeito diante do Pai, o intercessor participa de
seu sofrimento e consola sua dor.
O intercessor é um intermediário junto de Deus. Toda a vida e morte de Jesus foi em
favor dos homens. Na cruz, antes do último suspiro, Ele intercedeu: “Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem” (Lc 23, 34).
“Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por
todos os homens, pelos reis e por todos o que estão constituídos em autoridades, para que
possamos viver uma vida calma e tranqüila, com toda a piedade e honestidade. Isto é bom e
agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens se salvem e
cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 1-3).
Interceder por alguém é entrar em território usurpado pelo inimigo e resgatar alguém para
Deus. Por isso, a intercessão é muitas vezes uma batalha espiritual, para a qual deve-se estar
preparado com o auxílio da oração pessoal, dos sacramentos e do jejum. “Pois não é contra

15
homens de carne e sangue que temos de lugar, mas contra os principados e potestades, contra os
príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares” (Ef
6, 12).
A intercessão exige, também, insistência e perseverança até obter a resposta. “Por acaso
não fará justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por Ele dia e noite? Porventura tardará
em socorrer?” (Lc 18, 7).
A oração tem o poder de transformar tudo, inclusive o curso da história. A Bíblia
apresenta vários exemplos de intercessão:
- Gn 18,23-33 – intercessão de Abraão por Sodoma.
- Ex 32, 11-14 – Moisés intercede em favor dos israelitas que haviam feito o bezerro de ouro.
- Dn 9, 1-19 – intercessão de Daniel para que Deus libertasse seu povo da Babilônia.

10. Oração de cura

Deus quer que todos os homens sejam curados, que sejam saudáveis de corpo, mente e
espírito. A obra da salvação realizada na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus foi para que o
homem fosse salvo, curado, em todas as áreas de sua vida.
O perdão, que é a chave da cura, atinge a raiz de várias enfermidades, por isso, uma boa
confissão (cura espiritual pelo perdão dos pecados) pode libertar uma pessoa de traumas
emocionais ou ser causa de cura de alguma doença física.
Jesus pregava e curava. A unção messiânica que recebeu deu-lhe condições de realizar a
palavra do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu...” (Lc 4, 18).
Esta mesma missão foi conferida aos 12 apóstolos, aos 72 discípulos e, depois, a todos os
batizados: “Ide por todo mundo (...). Estes milagres acompanharão os que crerem: (...) imporão
as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 15-18).
Orar pelos doentes foi mandato de Jesus. Para isso, a fé é um requisito importante: é
preciso acreditar que Jesus cura hoje, como curava na Galiléia e na Judéia. Textos: Mt 19, 13; Mt
8, 3; Mt 8, 15; Mt 9, 27; Mc 8, 2.
Antes de orar por alguém, é necessário perdoar a todos. Tem-se visto e experimentado na
Renovação Carismática o poder de Deus operando nas pessoas, curando e libertando. “Sinais e
prodígios acompanharão aqueles que crêem” (cf. Mc 16, 17). Todos os que crêem são, portanto,
canais da graça de Deus para os irmãos.

11. Conclusão

São muitas as formas de oração, todas elas necessárias ao crescimento espiritual do fiel.
No entanto, é o mesmo Espírito que move o orante no momento certo, para que este receba e
viva a graça de uma caminhada de oração em busca da santidade.

RESUMO
1) Introdução

O Espírito Santo indica o objetivo da oração


É o Mestre interior da oração cristã
Nos ensina a orar n`Ele e por Ele
A oração pode acontecer de diversas formas.

2) Oração de louvor
- Exprime uma relação fundamental com Deus
- Reconhece os atributos de Deus

16
- O que Ele é: Onisciente, Onipotente, Onipresente
- Com os Salmos

3) Oração de ação de graças


- é uma expressão de humildade pessoal, reverência e respeito
- é ter um coração agradecido com simplicidade

4) Oração Adoração
- reconhece Deus como seu criador
- silêncio respeitoso diante de Deus
- reconhece que Deus é Senhor, Pai, Criador, Salvador
- à Santíssima Trindade

A adoração pode ser feita por gestos ou espírito e verdade. Jo 4,23

5) Oração em línguas
- é uma oração que dá frutos pela ação do Espírito Santo
- nasce das profundezas de Deus e se expressa em “gemidos inefáveis” (Rm 8,26)
- o orante empresta sua voz ao Espírito Santo que lhe dá tom e forma
O cântico em línguas é uma expressão de louvor, ajuda abrir corações à escuta.

6) Oração de escuta é:
- uma atitude de fé expectante
- o acolhimento da inspiração do Espírito Santo
- conhecer a voz do Senhor (João 10,27)
- ficar na sua presença em adoração
- deixar a mente livre

7) Oração de súplica é:
- pedir a Deus por uma necessidade pessoal ou comunitária (Tg 4,2)
- apresentar suas preocupações (Mt 7,7-12)
- pedir com muita sinceridade (Mt 26,39)

8) Oração de entrega
Salmo 36,5 – “Entrega teu caminho ao Senhor, confia n`Ele e Ele agirá”.
A oração de entrega implica em estabelecer um compromisso com o Senhor, observando os
verbos.

Entrega – ato despojamento diante do Senhor, decisão definida e específica - Jesus na cruz.
Lc 23,46

Confia – posição definida de fé - fundamentada na palavra

Agirá – Deus toma iniciativa e age.

9) Oração Intercessão
- interceder é pedir a Deus por outras pessoas ou situações. Cl 1,9 e Tg 5,16
- a intercessão leva à consolação do coração de Deus, exige insistência e perseverança.
- o intercessor é um intermediário junto a Deus

17
Exemplos bíblicos: Gn 18,23-33 – intercessor de Abraão por Sodoma
Ex 32,11-14 – Moisés pelos israelitas
Dn 9,1-19 – Daniel pela libertação do seu povo da Babilônia

10) Oração de Cura


- O perdão é a chave da cura, atinge raízes profundas

A cura acontece: no espírito pelo perdão dos pecados


no corpo pela cura física
na mente e nas emoções pela cura interior

Jesus pregava e curava – O amor de Deus passa através de nós para curar
Missão conferida aos apóstolos (Mc 16, 15-18)
Hoje aos que crêem (Mc 16, 17)

Conclusão

São muitas as formas de oração, todas são necessárias ao crescimento espiritual de cada um.

18
CAPÍTULO IV
ORAÇÃO PESSOAL
1. Conceito

A oração pessoal formal é um momento de intimidade entre a pessoa e Deus, um diálogo


sincero do filho enquanto pessoa para o Pai que é essencialmente amor. Toda a vida do orante
está empenhada em sua relação com o Senhor. Na oração pessoal, ele se apresenta diariamente a
Deus, caracterizando a relação de duas pessoas que se amam e que necessitam de momentos “a
sós”.
A oração pessoal também se caracteriza pela espontaneidade, no sentido de ser o
momento específico em que a pessoa se coloca na presença do Senhor, para ai partilhar a sua
vida e entender o plano de Deus para si mesmo. Portanto, não é “fazer orações”, mas crescer
num relacionamento de intimidade com o Senhor. A oração do Terço ou litúrgica não caracteriza
a oração pessoal, embora nela possa influenciar. “Este encontro deve ser totalmente conduzido
pelo Espírito de Deus, que ora inspirará um desabafo íntimo, ora inspirará um desejo de
manifestar amor e gratidão a Deus, ora exporá ao Senhor as próprias misérias e fraquezas,
revelará as próprias penas, suplicará auxílio, apresentará seus propósitos, ora romperá um
silêncio de escuta, outros de adoração, de êxtase diante da infinita bondade e misericórdia, ora
será impulsionado a derramar lágrimas de profundo arrependimento por ter ofendido um Deus
que é só amor e bondade, ora perceberá as inspirações e moções da graça, através das quais o
Senhor lhe fala, revela-lhe seus mistérios, o atrai a si, impele-o ao bem. Assim esse diálogo será
alternado com pausas de silêncio, de meditação, de adoração e oração vocal com grande
devoção”.28

2. Características

Pelo menos três coisas caracterizam a oração pessoal e devem ser levadas em conta por
aqueles que querem crescer no relacionamento com Deus:

a) Tempo reservado

Quem deseja entrar na intimidade divina deve saber reservar no seu dia um bom tempo
para orar, ficando a sós com o Senhor. Esse tempo pode ser escolhido dentro de um
planejamento pessoal, de acordo com os afazeres de cada um. O importante é que ele exista e
seja bem aproveitado. “É verdade que o homem pode a qualquer instante do dia, pôr-se em
contato com Deus, mas é preciso colocar todo o seu ser na oração e, por isso convém retirá-lo de
vez em quando das suas ocupações habituais para mergulhá-lo neste clima do sobrenatural”.29
É comum se recomendar “uma hora” como sendo o tempo suficiente e ideal para a oração
pessoal diária. Isso tem um certo respaldo em Mt 26, 40. Porém, dificilmente alguém que está
iniciando a vida de oração conseguirá rezar sozinho durante uma hora ininterruptamente. Assim,
o iniciante deve começar com períodos menores e aumentá-los gradativa e progressivamente, na
medida em que a oração pessoal for se tornando hábito. “Devemos pois, nos disciplinarmos para
esse tempo, escolhendo a melhor hora do nosso dia, para não darmos a Deus somente o nosso
cansaço e a nossa pressa; marcando-o e reservando-o, para que possamos criar um espaço do

28. CENTRO DE FORMAÇÃO SHALOM, A oração, p.6.


29. Ibid., p.7.

19
nosso dia dedicado a Deus (...). Diz Santa Teresa: „O tempo da oração já não mais me
pertence‟.”30

b) Fidelidade

Qualquer que seja o tempo escolhido e reservado, o mais importante é ser fiel a ele. A
quem é fiel no pouco, o Senhor confia mais (cf. Mt 25, 21).
Surgirão, com certeza, muitas adversidades, mas é necessário orar sempre (cf. Lc 18, 1-
8). Quem quer crescer na vida de comunhão com o Senhor terá que se esforçar para cumprir o
compromisso firmado com ele, assim como o faz com tudo o que julga importante para si. A
vida de oração exige um pouco de disciplina. Dificilmente uma pessoa indisciplinada se manterá
fiel à oração pessoal. “Assim, eu digo a Ele: „Vós sois importante para mim. Meu
relacionamento convosco é a coisa mais importante da minha vida (...). Talvez eu tenha que ficar
sem uma refeição para poder ter esse encontro -, mas estar convosco significa mais para mim do
que comer ou dormir. Não quero colocar nada em vosso lugar, nem antes de vós em meu
coração”.31

c) Perseverança

Mesmo que surjam dificuldades como: distrações, preguiça, preocupações, problemas


pessoais, muitos afazeres, lugar inadequado, entre outros, é necessário perseverar na oração,
insistir em permanecer tendo oração pessoal na vida. A perseverança gera a intimidade.

São muitos os frutos da oração pessoal. Numa palavra, a pessoa vai passando por um
processo de conversão contínuo. Nesse sentido, a oração é progressiva, sendo elemento
fundamental no processo de formação da pessoa em relação a si mesmo, a Deus, aos outros e às
coisas. Não é possível classificar de autêntica uma vida de oração que não produza frutos de
conversão e vida nova: “... o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade,
bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra essas coisas não há lei” (Gl 5, 22-23).

3. Formas diferentes de orar

“A razão principal da dignidade humana consiste na vocação do homem para a comunhão


com Deus. Já desde sua origem o homem é convidado para o diálogo com Deus”. 32 Na
comunicação com Deus, a iniciativa é sempre dEle. É Ele quem convida, mesmo quando o
homem não percebe. O fiel dirige-se a Ele, mas é Ele quem coloca o desejo e a graça da oração.
Esta comunicação com Deus é a oração.
A oração inclui a comunicação com Deus em suas três Pessoas: Pai, Filho e Espírito
Santo. Também com Maria, os anjos e os santos que estão com Deus no céu.
A oração pessoal é uma necessidade natural do fiel, tanto quanto o comer e o respirar.
Por isso, esta comunicação com Deus deve ser algo natural e relativamente agradável.

3.1. Oração vocal

A oração vocal é a oração que se faz com palavras. Ela responde a uma exigência da
natureza humana. O homem é corpo e espírito e experimenta a necessidade de expressar
exteriormente seus sentimentos.

30. Ibid., p. 8.
31. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Oração pessoal, p. 14.
32. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Gaudium et Spes, n. 19

20
3.2. Oração mental

Como oração mental, podem ser destacadas a meditação e a contemplação. A meditação é


um exercício da mente que procura compreender a vida cristã e responder ao que Deus pede. Há
muitos métodos de meditação. Geralmente se medita com a ajuda de algum livro espiritual,
especialmente da Sagrada Escritura, sobretudo dos evangelhos. Podemos meditar também nos
mistérios do Rosário.
Na meditação usa-se o pensamento, a imaginação, os sentimentos e as emoções. Para que
a meditação seja oração, precisa-se estar diante do Senhor, procurando fazer a Sua vontade.
Existe perigo de distração e de divagação. Mas é necessário ir adiante e levar a oração ao
coração, até o conhecimento e à experiência do amor de Jesus e à união com Ele. Então, a oração
passa a ser contemplação. A contemplação é mais oração do coração do que da mente. A
contemplação é ocupar a alma com a intenção de pensar em Deus e de considerar seus divinos
atributos ou os mistérios da fé.
Não se faz contemplação quando sobra tempo, mas quando se reserva um tempo para o
Senhor. Não é sempre que se pode meditar, mas pode-se entrar em contemplação
independentemente das condições de saúde, trabalho ou afetividade.

4. Aspectos práticos da vida de oração

4.1. O lugar

Não existe um lugar determinado para a oração. O melhor lugar é aquele em que a pessoa
se sente livre e à vontade para estar na presença de Deus.33 Recomenda-se um lugar privativo,
não muito exposto, para que o orante possa desenvolver seu momento com o Senhor sem
interrupções ou constrangimentos.
Jesus chegou a falar do quarto (cf. Mt 6, 6). Os Atos dos Apóstolos trazem Pedro subindo
ao “terraço de cima” para fazer sua oração (cf. 10, 9). Porém, pode-se rezar em qualquer lugar,
desde que ele seja adequado à oração. “Pode ser na própria casa: no quarto, na varanda, no
jardim, numa capela ou numa Igreja; pouco importa onde (...). O que se torna mais importante é
que a alma esteja totalmente atenta a Deus, sem se dispersar pela impertinência dos ruídos,
sensações, distrações e pensamentos importunos”.34 Jesus costumava retirar-se para lugares
ermos e fazer sua oração (cf. Mt 4, 1-2; 14, 22-23; 26, 36).
O orante precisa de um lugar que favoreça sua intimidade com Deus, onde não fique
exposto a distrações ou interferências. É possível ter, em casa, o “cantinho da oração”.

4.2. Ambientação

É sempre bom criar um ambiente propício à oração, ordenado à caráter, favorecedor de


um encontro importante. Ninguém gosta de receber pessoas com a casa bagunçada ou em
ambientes impróprios. Para cada encontro, um tipo de ambientação. Do mesmo modo, o
encontro com o Senhor deve se dar em lugar preparado para tal (cf. Mc 14, 12-16).
A utilização de objetos devocionais (imagens, crucifixos, etc) é bastante salutar. De
qualquer forma, um ambiente bem preparado – como em outras situações da vida – facilita a
introdução na oração, bem como o seu desenrolar. “Se você orar em seu quarto ou em sua casa,

33. Cf. CENTRO DE FORMAÇÃO SHALOM, A oração, p. 8.


34. Ibid., p. 8.

21
poderá acender uma vela, ou usar um ícone, ou uma estampa, ou ainda uma imagem para ajudar
o contexto da oração e fixar sua atenção no Senhor”.35

4.3. Horário

Como dito, cada um deve ser escolher o melhor horário, conforme as atividades diárias. É
bastante tomar cuidado para não dar ao Senhor o tempo mais cansado e difícil. A vida de oração
deve ser levada a sério e não tratada como algo supérfluo, para ser praticada se sobrar tempo.

4.4. Postura

O corpo coopera com a oração, na medida em que expressa atitudes do coração. O corpo
– que também é pessoa – ora junto, expressando os diversos sentimentos de louvor, súplica,
intercessão, canto, entre outros.
Pode-se rezar sentado, de pé, ajoelhado, prostrado ou mesmo alternando várias posições,
de acordo com o espírito da oração. Os braços erguidos são sinal de louvor e bendição a Deus.
Deve-se evitar, contudo, posições demasiadamente cômodas, que favorecem o sono e a tibieza.

4.5. Diário espiritual

Anotar as inspirações de Deus na oração pessoal é de grande ajuda na caminhada


espiritual. É um passo fundamental para iniciar uma experiência em oração que continuará
funcionando. Além disso, é uma fonte de incentivo para o futuro.
Anotar também os textos bíblicos utilizados durante a oração e o discernimento que teve
naquele momento. Anotar as profecias pessoais, que são inspirações de Deus para edificar o
orante e incentivá-lo na missão.
Em tempos de aridez, o diário espiritual serve como uma linha de orientação dada pelo
Espírito Santo, apoiando, ensinando, mostrando o caminho.

5. Dificuldades na oração

Alguns empecilhos podem prejudicar a oração, como por exemplo, o pecado. O Demônio
procura bloquear e suprimir a vida de oração dos cristãos. Por isso a oração é muitas vezes uma
batalha espiritual, na qual, através da humildade, arrependimento e confiança em Deus, o fiel
torna-se instrumento do Espírito Santo para a vitória de Deus.
“Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado” (Sl 50, 7). O fiel peca
muitas vezes. Precisa se conscientizar do seu pecado, arrepender-se e pedir perdão. Da mesma
forma, precisa perdoar àqueles que o ofenderam. A falta de perdão é um dos maiores bloqueios à
oração. Jesus referiu-se a isto no Sermão da Montanha: “Se estás, portanto, para fazer a tua
oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua
oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua
oferta” (Mt 5, 23-24).
Em outra ocasião, Jesus reafirmou a necessidade de reconciliação: “E quando vos
puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que
também vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os vossos pecados” (Mc 11, 25).
Existem barreiras à oração que podem e devem ser vencidas na fé e na perseverança. A
incredulidade é uma delas. Sem acreditar no poder de Deus e na ação do Espírito, a pessoa terá

35. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Oração pessoal, p.17.

22
uma oração fraca e sem fruto. A incredulidade leva a racionalizar a ação de Deus. Foi também a
causa de Jesus ter feito tão poucos milagres em Nazaré (cf. Mt 13, 53-58).
As distrações também perturbam a oração: pensamentos sobre pessoas e fatos,
preocupações, entre outras. O orante deve entregar tudo ao Senhor e permitir que os impulsos e
inspirações do Espírito Santo indiquem que caminhos trilhar para vencer os limites de sua vida
de oração. Porém, é necessário perseverar e esforçar-se por disciplinar a vida espiritual, obtendo
dela o melhor possível. Não desanimar. Jesus é o centro da oração. Pedir ao Espírito Santo que
faça ver as barreiras e dificuldades à oração, para colocar tudo aos pés de Jesus.
O Espírito Santo encontrará barreiras para agir livremente, se o orante estiver preso a
dinheiro, pessoas, interesses pessoais e não quiser abrir mão de seus apegos. Os apegos
desordenados podem ser facilmente detectados, pois afastam do Senhor.
Há também tempos em que o orante passa por aridez na oração. Não sente gozo nem na
oração, nem na Palavra; não sente vontade de orar; não escuta mais a voz do Senhor nem suas
inspirações; tem a impressão de que a oração é inútil e ineficaz. São períodos de grande graça,
quando o Senhor tira toda a consolação para que o fiel viva na fé. Ele está sendo provado para
crescer na fé e na graça, purificado em seus sentimentos interiores para que seja mais afinado às
moções do Espírito. “Portanto, a aridez e a secura na oração não é sinal de regressão, mas de
crescimento; não é perda da intimidade, mas caminho para a maturidade (...). Entendido no
contexto da relação de Deus com o homem, dentro de um processo formativo, é assim que Deus
faz avançar: pela aridez, que é fase seguinte, progresso no caminho da espiritualidade e,
sobretudo, prova de fé e confiança”.36 É necessário continuar orando, mesmo sem nada sentir,
com toda a confiança, numa fé expectante, até o dia em que o Senhor se manifestar outra vez,
para consolação e fortalecimento da vida espiritual.
Por fim, é preciso lembrar que a incoerência enfraquece o espírito. Por exemplo,
participar de conversas frívolas, mentir, deixar-se envolver pela mentalidade amoral dos
programas de televisão, dos conceitos contrários à Palavra de Deus; viver no egoísmo, de
coração fechado às necessidades dos outros, na indiferença ao irmão. A vida do cristão precisa
estar de acordo com aquilo que ele professa. É preciso estar ligado ao Senhor, sem se deixar
envolver pela mentalidade do mundo.

6. O jejum

O jejum fazia parte do dever religioso dos judeus no tempo de Cristo. Foi praticado
continuamente desde o tempo de Moisés. Tanto os fariseus como os discípulos de João jejuavam
(cf. Mc 2, 18). O povo ficou surpreso quando viu que os discípulos de Jesus não jejuavam. Ao
perguntar a razão, Jesus explicou que enquanto Ele estivesse presente, eles não jejuariam. Mas,
que viria o tempo em que o noivo lhes seria tirado e, naquele dia, eles haveriam de jejuar (cf. Mc
2, 19-20).
Esse tempo é agora: tempo em que “o noivo foi tirado”. A decisão de jejuar (como de
orar) deve ser tomada com pureza de intenção, livre de qualquer orgulho (cf. Lc 18, 9-14).
Quando Jesus explicou a seus discípulos por que eles não foram capazes de libertar um rapaz da
possessão diabólica, atribuiu um poder especial ao jejum (Mt 17, 20c). Quando foi levado ao
deserto pelo Espírito Santo, Jesus não comeu durante 40 dias. Em outras palavras, Jesus jejuou
antes de iniciar seu ministério (cf. Lc 4, 1-2).
O jejum facilita o arrependimento e a conversão, mas não é um fim em si mesmo. Como
resultado do jejum, o orante faz a experiência da fraqueza, conhecendo mais a verdade sobre si
mesmo e sobre as coisas de maneira nova. Aprende a não ser auto-suficiente e tem a certeza de
que necessita de Deus. O jejum ajuda a crescer na oração.

36. Ronaldo José de SOUSA, Pregador ungido, p. 36.

23
7. Conclusão

A oração pessoal é um dos meios mais eficazes de crescimento espiritual. Existem formas
diferentes de rezar, mas, essencialmente, deve-se ter tempo reservado para tal e a ele ser fiel.
Também a perseverança e o jejum são importantes.
A perseverança ajuda a vencer as dificuldades da oração. É preciso, por fim, agir com
coerência frente a alguns aspectos práticos da vida de oração, como: o lugar, a ambientação, o
horário, a postura e o diário espiritual.

RESUMO
1) Conceito

A oração pessoal é: um momento de intimidade com Deus, um diálogo sincero essencial de


amor, um encontro espontâneo no sentido do ser.

Oração pessoal - não é “fazer orações”; ela é totalmente dirigida pelo Espírito Santo.

2) Características para um crescimento

a) tempo reservado
- deve-se separar no seu dia um bom tempo para ficar a sós com o Senhor
- escolher a melhor hora para isto

b) fidelidade
- qualquer que seja o tempo escolhido ser fiel a ele (Mt 25,21)

c) perseverança
- mesmo que surjam dificuldades, preguiça, distrações é necessário perseverar.

3) Formas diferentes de orar

- desde sua origem o homem é convidado para o diálogo com Deus


- a oração pessoal é uma necessidade natural do fiel

3.1- Oração vocal – é a oração que se faz com palavras –necessidade de se expressar

3.2- Oração mental –

Meditação - exercício da mente. Lc 5,16


- com a ajuda de algum texto espiritual
- ou com o pensamento, a imaginação
Contemplação - oração com o coração (Lc 1,49)
- ocupa a alma com a intenção de pensar em Deus e seus atributos

4) Aspectos práticos da vida de oração

4.1-O lugar:
- é aquele em que a pessoa se sente à vontade e livre para estar na presença de Deus
- deve ser um lugar privativo

24
- se possível ter o seu “cantinho de oração”.

4.2-Ambientação
- Criar um ambiente acolhedor, agradável e propício.

4.3-Horário
- respeitar o horário diariamente

4.4-Postura
- escolher a melhor posição, na qual terá maior liberdade de oração.

4.5-Diário espiritual
- anotar diariamente as inspirações do Senhor
- anotar os pedidos feitos ao Senhor e as suas respostas
- no tempo de aridez o diário espiritual serve como uma orientação apoiando e mostrando
o caminho.

5) Dificuldades na oração
Empecilhos que prejudicam a oração
- o pecado, por onde o demônio procura bloquear a ação de Deus (Sl 50, 7).
- necessidade de reconciliação (Mc 11,25).
- incredulidade, não acreditar fielmente no poder de Deus.
- aridez, não ter vontade de orar, é momento de crescimento.

6) O Jejum:

Tão necessário quanto como a oração


É a oração do corpo
O jejum facilita o arrependimento e a conversão
Ajuda a crescer na oração

7) Conclusão

A oração pessoal é um dos meios mais eficazes de crescimento espiritual.


Aspectos práticos: o lugar, a ambientação, o horário, a postura e o diário espiritual.

25
CAPÍTULO V
A ORACÃO DE JESUS
1. Jesus ensina a orar

Jesus começou seu ministério com oração: orou e jejuou durante 40 dias (cf. Lc 4, 1-2).
Sua vida esteve imersa em oração, isto é, viveu unido ao Pai durante toda a sua existência
terrestre.
Os evangelhos mostram as palavras com que Jesus se dirigia ao Pai e enfatizam sua vida
de oração:

a) Mt 14,23 - “Feito isso, subiu à montanha para orar na solidão. E, chegando a noite, estava lá
sozinho”.
b) Mt 26,36 – “Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes:
„Assentai-vos aqui, enquanto vou ali orar‟”.
c) Mc 1,35 – “De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um
lugar deserto, e ali se pôs em oração”.
d) Mc 6, 46 – “E despedido que foi o povo, retirou-se ao monte para orar”.
e) Mc 14, 35 – “Adiantando-se alguns passos, prostrou-se com a face por terra e orava que, se
fosse possível, passasse dele aquela hora”.
f) Lc 3,21 – “Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o
céu se abriu”.
g) Lc 5,16 – “Mas, ele costumava retirar-se a lugares solitários para orar”.
h) Lc 9,28-29 – “Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago e a João, e subiu ao monte para orar.
Enquanto orava, transformou-se o seu rosto e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de
brancura”.

Às vezes, os evangelhos transcrevem as palavras com que Jesus orava:

a) Lc 10,21 – “Pai, Senhor do céu e da terra, eu te dou graças porque escondeste estas coisas aos
sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, bendigo-te porque assim foi do teu
agrado”.
b) Lc 23,46 – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
c) Jo 11,41-42 – “Pai, rendo-te graças, porque me ouviste. Eu bem sei que sempre me ouves, mas
falo assim por causa do povo que está em roda, para que creiam que tu me enviaste”.

Especialmente a oração de Jesus pela unidade de sua Igreja: Jo 17, 20-21 – “Não rogo
somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que
todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em
nós e o mundo creia que tu me enviaste”.
Um dos aspectos importantes nas orações de Jesus é sua relação com o Espírito Santo.
Segundo Lucas, depois de ser batizado, Jesus pôs-se a orar; foi então que se abriram os céus e
sobre Ele desceu o Espírito Santo (cf. Lc 3, 21-22). Sob a ação do Espírito Santo, Jesus foi
levado ao deserto, onde orou e jejuou por 40 dias e, depois, foi à sinagoga de Nazaré, onde
confirmou sua missão, lendo a passagem de Isaías 61 (cf. Lc 4, 1-30).
Em seus ensinamentos aos discípulos, Jesus animou-os a pedir, buscar e clamar ao Pai.
Pois, o Pai do Céu dará o Espírito Santo a quem o pedir (cf. Lc 11, 13).
Jesus torna-se um intercessor diante do Pai: “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro
Paráclito” (Jo 14,16). Outras referências de Jesus a respeito da oração:

a) Pois o Pai busca adoradores em Espírito e em Verdade (cf. Jo 4,21-24).

26
b) Mt 6, 5-6 - “Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas
sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já
receberam sua recompensa. Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em
segredo; e teu Pai que vê num lugar oculto, recompensar-te-á”.

Nesse segundo texto, Jesus chama a atenção para que a oração não seja usada como um
meio de vanglória. Em seguida, Jesus se dirige a cada um, falando, na segunda pessoa do
singular, sobre a intimidade com o Pai, a importância da oração pessoal e da simplicidade das
palavras.
Orar dirigindo-se ao Pai no segredo do coração extingue as atitudes falsas e as palavras
inúteis. Quanto mais simples e direto for o orante, melhor. Muitas vezes, nem há necessidade de
palavras. Basta ficar diante do Senhor, em adoração, no silêncio e na escuta.

2. O Pai Nosso

“Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de
seus discípulos: „Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos‟” (Lc
11,1). Foi em resposta a este pedido que o Senhor confiou a seus discípulos e à sua Igreja a
oração cristã fundamental: o Pai Nosso. São Lucas traz um texto breve (de cinco pedidos); São
Mateus, uma versão mais desenvolvida (sete pedidos). A tradição litúrgica da Igreja conservou o
texto de São Mateus:
Pai nosso que estais nos céus,
Santificado seja o vosso nome;
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu;
o pão nosso de cada dia
nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido;
e não nos deixeis cair em tentação
mas livrai-nos do mal.

O uso litúrgico conclui a Oração do Senhor com uma doxologia: “Pois vosso é o poder e
a glória para sempre”. “A oração dominical é realmente o resumo de todo o Evangelho”. Depois
de ter legado esta fórmula de oração, o Senhor acrescentou: “Pedi e vos será dado” (Lc 11, 9).
Convém examinar o Pai Nosso em suas partes.

2.1. “Pai Nosso que estais nos Céus”

Pode-se invocar a Deus como “Pai” porque Ele foi revelado por seu Filho Jesus e seu
Espírito no-lo dá a conhecer. Aquilo que o homem não pode conceber nem podem as forças
angélicas entrever - a relação pessoal do Filho com o Pai - eis que o Espírito do Filho dá a
participar aos que crêem que Jesus é o Cristo.
Um coração humilde e confiante, que faz “tornar-nos crianças” (cf. Mt 18, 3) é a atitude
que deve ter todo aquele que se dirige ao Pai.

2.2. “Santificado seja o Vosso Nome”

27
Reconhecer como santo e adorar o Senhor. Glorificar a Deus na vida, nas atitudes, na
fidelidade a Ele. Santificar o nome de Deus significa também ser santo a seus olhos, refletindo a
sua santidade.

2.3. “Venha a nós o Vosso Reino”

O Reino de Deus foi comunicado aos homens quando Jesus se encarnou e “habitou entre
nós” (cf. Jo 1, 14; Mc 1, 14-15). O Reino de Deus continua na Igreja através do Espírito Santo
que foi derramado no Pentecostes e continua sendo derramado em todos os que crêem. O Reino
de Deus vai sendo realizado no mundo através da evangelização de todos os povos até a vinda
definitiva do Reino no final dos tempos. A oração de Jesus trata da vinda final do Reino de Deus
mediante o retorno de Cristo.

2.4. “Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu”

É vontade do Pai “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da


verdade” (1 Tm 2, 3-4). Em Jesus, a vontade do Pai foi realizada plenamente. Jesus “se entregou
a si mesmo pelos nossos pecados segundo a vontade de Deus” (Gl 1, 4).
Pela oração, o cristão pode “discernir qual é a vontade de Deus” (cf. Rm 12, 2; Ef 5, 17) e
obter “a perseverança de cumpri-la” (cf. Hb 10, 36). Jesus ensina a entrar no Reino dos Céus não
por palavras, mas “praticando a vontade de meu Pai que está nos céus” (cf. Mt 7, 21).

2.5. “O Pão nosso de cada dia nos dai hoje”

O pão nosso - O Pai, que dá a vida, não pode deixar de dar o alimento necessário à vida,
todos os bens materiais e espirituais. No Sermão da Montanha Jesus insiste nesta confiança filial
que coopera com a providência do Pai. Aos que procuram o Reino e a justiça de Deus, em
primeiro lugar em suas vidas, Ele promete dar tudo por acréscimo.
Este pedido também vale para outra fome da qual os homens padecem: “O homem não
vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus” (Dt 8, 3; Mt 4, 4). É a
fome da Palavra de Deus. Há uma fome na terra, “não fome de pão, nem sede de água, mas de
ouvir a Palavra de Deus” (Am 8, 11). Este pedido, assim, refere-se ao Pão da Vida, à Eucaristia e
à Palavra de Deus, a Palavra da Verdade, que é dada na evangelização, como luz que mostra o
caminho para Deus.

2.6. “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido”

Recusando a perdoar os irmãos e irmãs, o coração se fecha e se torna impermeável ao


amor misericordioso do Pai. O perdão é a chave do céu. Perdoando, todos também são
perdoados.
Uma exigência insubstituível à oração é ter um coração perdoador. Em seus ensinamentos
sobre a oração, Jesus afirmou várias vezes a necessidade do perdão.“Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos
homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (Mt 6, 14).

2.7. “E não nos deixeis cair em tentação”

Foi pela oração que Jesus venceu a tentação no deserto e no último combate de sua
agonia. Jesus manda vigiar. A vigilância do coração é em comunhão com a vigilância de Jesus
nos momentos de sofrimento, como no Getsêmani (cf. Mt 26, 36-46). A vigilância consiste em
“guardar o coração” e Jesus pede ao Pai que “nos guarde em seu nome” (cf. Jo 17, 11).

28
2.8. “Mas, livrai-nos do mal”

É o último pedido ao Pai que aparece na oração de Jesus: “Não peço que os tires do
mundo, mas sim que os preserves do mal” (Jo 17, 15).
O demônio tenta e assedia. Foi por ele que o pecado entrou no mundo. A vitória sobre o
“príncipe deste mundo” (cf. Jo 14, 30) foi alcançada de uma vez por todas, pela morte e
ressurreição de Jesus. Ao pedir “livrai-nos do mal”, o cristão pede igualmente que Deus o liberte
de todos os males: presentes, passados e futuros.
Neste último pedido a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a
libertação dos males que oprimem toda a humanidade, a Igreja implora o dom precioso da paz e
a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo.

RESUMO
1) Jesus nos ensina a orar

Início do seu ministério com oração: orou e jejuou (Lc 4,1-2).

Jesus orava sempre:

Mt 14,23 – subiu à montanha, à noite


Mt 26,36 – retirou-se, sozinho
Mc 1,35 – de manhã, pela manhã
Lc 9,28-29 – Jesus tomou consigo... , com os discípulos
Jo 17,20-21 – pela unidade de Igreja

Orava ao Pai:

Lc 10,21 – Lc 23,46 – Jo 11,41-42


Mt 6,5.6 – nos ensina o recolhimento na oração-humildade, simplicidade, confiança e
agradecimento.

2) Jesus nos ensina o Pai Nosso.

Lc 11,1 – em resposta ao pedido de seus discípulos


Lucas apresenta um texto breve de cinco pedidos e Mateus uma versão mais desenvolvida.
A tradição da Igreja conservou o texto de Mateus
O uso litúrgico – na missa – conclui com uma doxologia: “Pois vosso é o poder e a glória
para sempre.
A oração dominical é realmente o resumo de todo o evangelho.

Convém examinar o Pai-Nosso em suas partes

Três invocações ao Pai


- Pai-Nosso que estais no Céu – nos identifica com os filhos
- Santificado seja o Vosso Nome – significa sermos santos refletindo a sua santidade
- Venha a nós o Vosso Reino – habita em nós através da oração e dos sacramentos.

Quatro pedidos para nós


- Seja feita a Vossa vontade assim na terra como no Céu.

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- pela oração podemos discernir a sua vontade. Rm 12,2
- a perseverança em cumpri-la. Hb 10,36

- O Pão-Nosso de cada dia nos dai hoje


- refere-se ao Pão da vida, a Eucaristia, à Palavra da verdade e ao pão material.
(Dt 8,3 e Mt 4,4)
- Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos tem ofendido.
- necessidade do perdão. Mt 5
- E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
- vigilância – consiste em “guardar o coração” do mal
- preservar do mal – Jo 17,15

30
CAPÍTULO VI
A ORAÇÃO DA IGREJA

1. Liturgia

“A palavra „liturgia‟ significa originalmente „obra pública‟, „serviço da parte de/e em


favor do povo‟. Na tradição cristã ela quer significar que o povo de Deus toma parte na „obra de
Deus‟. Pela liturgia, Cristo, nosso redentor e sumo sacerdote, continua na sua Igreja, com ela e
por ela, a obra de nossa redenção”.37A partir do Concílio Vaticano II, especialmente a publicação
da constituição Sacrossantum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia, houve uma significativa
renovação na Liturgia da Igreja. “Pois a Liturgia, pela qual, principalmente no divino Sacrifício
da Eucaristia, „se exerce a obra de nossa Redenção‟, contribui de modo mais excelente para que
os fiéis exprimam em suas vidas e aos outros manifestem o mistério de Cristo e a genuína
natureza da verdadeira Igreja”.38

2. O Ano Litúrgico

O Ano Litúrgico revive toda a história da salvação, desde a criação até o fim do mundo.
O Ano Litúrgico é a lembrança dramática, festiva e solene de todos esses acontecimentos, uma
espécie de representação sagrada em que se ver desfilar os antigos profetas, os pastores, os anjos
do Natal, os magos da Epifania, entre outros. Vê-se a Igreja revestida de luto na Quaresma,
chorar a morte de Cristo e exultar de alegria na Ressurreição.
Quando se celebra uma festa litúrgica, esse acontecimento torna-se presente e real pelas
graças ativas e operantes que dele emanam. “O Ano Litúrgico – escreve Pio XII – é, por isso,
Cristo que vive na sua Igreja para pôr as almas humanas em contato com os seus „mistérios‟ e
fazê-las viver por eles”.39
O Ano Litúrgico compreende dois ciclos fundamentais:

1. Ciclo Pascal
2. Ciclo do Natal

Cada ciclo inclui:

1. Um período de preparação
2. Um período de celebração
3. Um período de prolongamento

Entre os ciclos tem-se o chamado “Tempo Comum”. Os domingos após a Epifania e


Pentecostes constituem os inícios do chamado “Tempo Comum”, durante o qual a Igreja vive o
mistério da nova vida com o nascimento de Jesus e a vida que jorra do mistério da Páscoa e se
prolonga sob a atuação do Espírito Santo até o fim do Ano Litúrgico que se encerra com a Festa
de Cristo Rei.

2.1. Ciclo do Natal

37. CATECISMO da Igreja Católica, n. 1069.


38. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Sacrosanctum concilium, n. 2.
39. Apud D. Carlo FIORI, Liturgia para o povo de Deus, p. 184.

31
a) Preparação – Advento: “O Senhor vem”

O Advento permite reviver o longo tempo da humanidade escrava do pecado, da dor, da


morte, à espera do libertador. É para o cristão a espera da vinda de Cristo, o tempo que desperta
o desejo de encontrar o Salvador. Recorda, finalmente, a vinda futura de Cristo em Sua glória e
majestade no fim do mundo para julgar todos os homens.

b) Celebração: Festa de Natal e da Epifania.

Natal – Jesus nasce em Belém, a Luz do Mundo. Com Cristo que nasce, celebra-se o nascimento
espiritual de cada crente.
Epifania – A Luz de Cristo atrai todos os povos, representados pelos Reis Magos.

c) Prolongamento: Domingos depois da Epifania ou Tempo Comum

Cristo, o Messias, agindo e pregando com autoridade divina.

2.2. Ciclo Pascal

Apresenta a Morte e Ressurreição do Senhor: a Páscoa. Cristo liberta a humanidade da


morte, ressuscitado pelo Pai no poder do Espírito Santo.

a) Preparação: Quaresma

A Quaresma é uma caminhada de 40 dias de preparação para a Páscoa. Reflete vários


episódios bíblicos de preparação, em jejum, oração e penitência, para uma libertação,
simbolizando a libertação definitiva por Jesus em sua morte e ressurreição. Por exemplo: os
hebreus caminharam 40 anos no deserto até chegar à Terra Prometida (cf. Ex 16, 35); Moisés
ficou 40 dias no Monte Sinai antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Ex 24, 18); Elias caminhou
40 dias no deserto até chegar ao Monte Horeb (cf. 1Rs 19, 8); Jesus jejuou 40 dias no deserto
antes de iniciar sua vida pública (cf. Mt 4, 1-2).
Quaresma é o tempo de purificação para a celebração da Páscoa.

b) Celebração: Cristo Ressuscitou!

Cristo ressuscitou e todos ressuscitarão com Ele. Em Cristo, são vencidos o Demônio, o
pecado e a morte.
Páscoa é “passagem”:

- a “passagem” do anjo sobre o Egito para dizimar os primogênitos, salvando os hebreus


protegidos pelo sangue do cordeiro pascal (cf. Ex 12, 13);
- a “passagem” do mar vermelho (cf. Ex 3, 21);
- a “passagem” de Cristo da morte para a vida, ressuscitando (cf. Rm 6, 4);
- a “passagem” nossa de uma vida de pecado a uma vida de santidade (cf. 6, 14).

Os cinqüenta dias que transcorrem entre o domingo de Páscoa e o domingo de


Pentecostes são celebrados com grande alegria. É principalmente nesses dias que se canta o
“aleluia”.

c) Prolongamento: os domingos depois da Páscoa.

32
É o tempo da Igreja, cuja alma é o Espírito Santo, o qual faz amadurecer nele os frutos de
santidade.
Após o Batismo e a Crisma, os grandes sacramentos da Páscoa e de Pentecostes, celebra-
se a Eucaristia na Festa de Corpo de Deus. Alimentada pela Eucaristia, a Igreja caminha sob a
direção do Papa, celebrada na festa de S. Pedro e S. Paulo.
Além das celebrações dos grandes santos, há as celebrações marianas, entre elas a festa
da Assunção. A Igreja inseriu no curso do ano a memória dos mártires e de outros santos que
estão no céu.40

3. Ofício divino: a Liturgia das Horas

A Liturgia das Horas é a oração pública da Igreja, pela qual são santificados as horas do
dia e a totalidade das atividades humanas.41 “Esta celebração, em fidelidade às recomendações
apostólicas de „orar sem cessar‟ (1 Ts 5, 17; Ef 6, 18), „está constituída de tal modo que todo o
curso do dia e da noite seja consagrado pelo louvor de Deus‟. (...) Celebrada „segundo a forma
aprovada‟ pela Igreja, a Liturgia das horas „é verdadeiramente a voz da própria esposa que fala
com o esposo, e é até a oração de Cristo, com seu corpo, ao Pai‟”.42
A Liturgia das Horas desenvolveu-se pouco a pouco, até se tornar oração da Igreja, tendo
sido aumentada gradualmente, no decorrer dos tempos. O livro do Ofício Divino tornou-se
instrumento adequado para ação sagrada a que se destina. “Recomenda-se que os próprios leigos
recitem o Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros, ou reunidos entre si, e até cada um
individualmente”.43
A Igreja santifica o ano inteiro mediante os ciclos de festas litúrgicas, santifica a semana
com a celebração do domingo e quer santificar as horas do dia e da noite com orações especiais
extraídas dos Salmos e da Bíblia, distribuídas pelo Ofício Divino. É a oração oficial e pública da
Igreja e supera em dignidade todas as outras formas, como a Via Sacra, a recitação do Rosário
etc, que são, contudo, orações belíssimas e tradicionalmente populares.
Já no Antigo Testamento eram prescritos no templo dois sacrifícios por dia, um pela
manhã e outro ao pôr-do-sol. Além destes, os habitantes de Jerusalém tinham o costume de subir
ao templo para orar em determinadas horas do dia (cf. At 3, 1); os próprios Apóstolos o faziam
(cf. At 3, 1). Os primeiros cristãos costumavam orar três vezes por dia: pela manhã, ao meio dia
e à tarde.44
Por isso o Concílio Vaticano II valorizou o costume que a Igreja conservava. No desejo
de renová-lo, ela procurou rever esta oração, a fim de que os ministros ordenados, os
consagrados pela profissão dos votos evangélicos e os outros membros da Igreja pudessem rezá-
la melhor e mais perfeitamente, nas condições da vida de hoje.45
É Cristo Cabeça, unido ao Corpo Místico, que faz subir ao Pai eterno este divino canto de
louvor ao qual une a si toda a humanidade para glorificar a Deus e interceder pela salvação do
mundo. O Ofício Divino é como um prolongamento da oração que Cristo dirigiu ao Pai em sua
vida terrena, um eco do soleníssimo hino de louvor entoado por todas as criaturas na Pátria
celeste. Quem recita o Ofício Divino se une a esse imenso coro de glorificação que associa anjos
e homens em um coro único de orações.
O Ofício Divino consta principalmente de dois elementos: os Salmos e as Leituras da
Bíblia.

40. Cf. D. Carlo FIORI, Liturgia para o povo de Deus, p. 182-3.


41. Cf. CATECISMO da Igreja Católica, n. 1174.
42. Ibid., n. 1174.
43. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Sacrosanctum concilium, n. 100.
44. Cf. D. Carlo FIORI, Liturgia para o povo de Deus, p. 190.
45. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Sacrosanctum concilium, n. 84.

33
3.1. Os salmos

A salmodia é a mais antiga e mais nobre forma de oração. Os salmos foram utilizados
amplamente pelos antigos Hebreus e pelo próprio Cristo que muitas vezes pregou com palavras
neles inspiradas (cf. Jo 6, 31-32). Na Igreja constituem o texto mais freqüente e sagrado de
oração, usado já pelos primeiros cristãos.
Os salmos são, ainda hoje, uma bela e riquíssima forma de oração, porque permitem
exprimir com as próprias palavras de Deus, todos os sentimentos para com Ele: a adoração, a
glorificação, a admiração, a gratidão, o temor, o perdão, a súplica, a confiança, a mais viva
alegria.

3.2. As leituras da Bíblia

A Bíblia é o livro sagrado da humanidade e transmite a Palavra de Deus (compreende


também os salmos). Por isso, no Ofício Divino, são alternadas a recitação dos salmos com
leituras dos trechos da Bíblia, em que Deus torna a falar e ensinar as suas verdades. Lêem-se às
vezes trechos mais longos (“leituras”), às vezes somente breves pensamentos: mas é sempre a
Palavra de Deus que é transmitida.

Com as primeiras comunidades de monges e organização da Igreja, o Ofício Divino se


desenvolveu em duas direções:
- nos mosteiros se deu grande desenvolvimento aos ofícios noturnos e diurnos: Matinas, Tércia,
Sexta e Noa.
- Nas Igrejas públicas, ao contrário, se desenvolveram as orações da manhã e da tarde: Laudes e
Vésperas.
Pelo fim do século IV as duas tradições se fundiram e o ofício ficou distribuído nas
seguintes “Horas”:
- três “Noturnos” (chamados “Matinas”);
- Laudes;
- Tércia, Sexta e Noa (hora média);
- Vésperas.
Com base na estrutura atual, segue-se um breve resumo das várias partes da atual Liturgia
das Horas (Breviário):

a) Matinas (um, dois ou três noturnos) ou Vigília

É a grande oração monástica que os monges recitam ainda hoje alta noite ou pela
madrugada, uma grande vigília à espera da Ressurreição, simbolizada pelo nascer do sol.

b) Laudes

Constituem a solene oração da manhã: o nascer do sol imprime à oração um tom de


alegria, louvor e gratidão.

c) Tércia, Sexta e Noa

Por serem breves são chamadas “Horas Menores”, como as Completas.

Tércia (09:00h): recorda a vinda do Espírito Santo em Pentecostes a essa hora.


Sexta (12:00h): é a oração do meio-dia, quando o sol está a pino e mais forte é o calor.

34
Noa (15:00h): o sol começa a declinar, o dia de trabalho caminha para o seu término.

d) Vésperas

É a solene oração da tarde que encerra o dia aberto pelas Laudes, em cuja estrutura se
inspira, substituindo o Benedictus (Bendito seja) pelo Magnificat (Minha alma).

e) Completas

Significa “encerramento”. Chegaram as sombras da noite: antes de repousar, o fiel dirige


a Deus a última oração, pedindo-lhe perdão pelos pecados após o exame de consciência. A noite
e o sono trazem ao pensamento a imagem da morte e do repouso eterno.

É desejo do Concílio que haja uma verdadeira volta aos salmos e à Bíblia e que estas
sejam as fontes da oração também para os leigos. A Palavra de Deus, as invocações transmitidas
pelos lábios das gerações hebraicas e do próprio Cristo, são a oração mais universal e mais nobre
que todos os cristãos devem assumir com gratidão ao Concílio que quer ver aberto este imenso
tesouro a todos os filhos da Santa Igreja.46
A Igreja favorece as “Celebrações da Palavra de Deus” compostas de salmos, leituras
bíblicas e orações litânicas, particularmente nos tempos do Advento e Quaresma. O canto
meditado dos salmos assume então particular importância e valor.
A celebração festiva e comunitária de alguma “Hora” mais importante, como as Vésperas
dominicais, é vivamente recomendada aos domingos, dias de festa e solenidades.
O cristão dos dias atuais sente a necessidade de voltar às grandes fontes milenares da
oração para sua maior união com Cristo e a Igreja.

4. O Terço

Apesar de não ser uma oração oficial da Igreja, o Terço se tornou uma devoção quase
universal. A Renovação Carismática tem particular devoção por sua recitação. A oração do
Terço teve início no século XIII. Ela introduz o orante nos acontecimentos bíblicos
fundamentais, a começar pelo Pai-Nosso. A oração da Ave Maria é inspirada no Evangelho
escrito por Lucas (cf. Lc 1, 28-45).
O Terço conduz o fiel ao Evangelho, colocando-o ao lado de Jesus, o centro da oração
cristã. E, à medida que se torna mais íntimo de Cristo, ele cresce na fé e no amor. Maria é
saudada pelos homens e pelos anjos, e guarda a Igreja até o dia em que aparecer “vestida de sol,
com a lua debaixo dos pés, coroada de estrelas” (Ap 12, 1).
Rezar o Terço, anunciando os mistérios de Cristo, é passar em oração pelos fatos da
história da salvação. Na verdade, o Terço é um eficiente recurso para manter vivo na memória,
na imaginação, na inteligência, no coração, na alma, tudo quanto o Espírito Santo inspirou aos
evangelistas e quer continuar inspirando ao mundo por intermédio dos cristãos. É uma
oportunidade de memorizar rezando o Evangelho, para mais facilmente vivê-lo e testemunhá-lo.
O Rosário consiste na oração e meditação de 15 diferentes cenas da Sagrada Escritura,
isto é, três terços meditados. O Rosário é, para muitos, um grande auxílio na oração. Ele pode ser
recitado lentamente, enquanto o orante medita sobre os mistérios de sua fé. Isso ajuda na
caminhada espiritual, principalmente nos momentos de aridez.

4.1. Mistérios a serem meditados: os 15 Mistérios do Rosário

46. Cf. D. Carlo FIORI, Liturgia para o povo de Deus, p. 194.

35
4.1.1. Os Mistérios gozosos da vida de Jesus e de Maria

a) Anunciação

O Anjo Gabriel foi enviado por Deus à Virgem Maria para anunciar que ela conceberia e
daria à luz o Filho de Deus feito homem (cf. Lc 1, 26-38).

b) Visitação

Maria, levando Jesus em seu seio, apressa-se em ajudar sua prima Isabel que, em sua
idade avançada, está grávida (cf. Lc 1, 39-55).

c) Nascimento de Jesus

Deus Filho nasceu de Maria, como um bebê, num estábulo (cf. Lc 2, 1-20).

d) Jesus é apresentado ao templo

Maria e José oferecem Jesus no Templo, conforme as disposições da lei. Mas, na


realidade, Deus entra em seu Templo na realização de todas as Escrituras (cf. Lc 2, 21-39; Lv 12,
6-8; Ex 13, 2-12).

e) Encontrando o menino Jesus no templo

Maria e José perderam por três dias seu Filho de doze anos. Ao encontra-lo, Jesus
explicou que estava fazendo o que seu Pai queria que Ele fizesse. Maria “meditava isto em seu
coração” (cf. Lc 2, 40-52).

4.1.2. Os Mistérios dolorosos na vida de Jesus

a) A agonia no jardim

Deus pediu a seu amado Filho Jesus que tomasse sobre si os pecados dos homens. Jesus
suou sangue em sua agonia para cumprir esse desejo do Pai, para obedecer. “Aquele que não
conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornássemos justiça de Deus”
(2 Cor 5, 21).

b) Jesus é flagelado

Jesus, traído por seu amigo, foi capturado, julgado na palavra de falsas testemunhas e
flagelado. “Por suas chagas fomos curados” (1 Pd 2, 24). “Se alguém perguntar: que ferimentos
são estes em tuas mãos? Ele responderá: „são ferimentos que recebi na casa de meus amigos‟”.
(Zc 13, 6).

c) Jesus é coroado de espinhos

Os líderes judeus entregaram Jesus ao exército de ocupação romana. Eles caçoaram desse
“rei” (Jo 19, 2-4). “Ele, ultrajado, não retribuía idêntico ultraje; maltratado, não proferia
ameaças, mas entregava-se àquele que julgava com justiça” (1 Pd 2, 23).

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d) Jesus carrega sua cruz

Como um criminoso condenado à morte, Jesus carrega sua Cruz para o lugar de
execução. “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou nossos sofrimentos”
(Is 53, 4).

e) Jesus morre na cruz

Jesus disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus
amigos... Vós sois meus amigos” (Jo 15, 13). “E quando eu for levantado da terra, atrairei todos
os homens a mim” (Jo 12, 32).

4.1.3. Os Mistérios gloriosos na vida de Jesus e de Maria

a) Jesus ressuscita dos mortos (cf. Jo 20, 1-31)

“Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, (para que) assim também nós vivamos
uma vida nova” (Rm 6, 4). “Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não
era possível que ela o retivesse em seu poder” (At 2, 24).

b) Jesus ascende aos céus (cf. At 1, 9-11)

“...Foi levado ao céu e está sentado à direita de Deus” (Mc 16, 19). ”...Juntamente com
Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus” (Ef 2, 6). “Pai, quero que onde
eu esteja estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória” (Jo 17, 24).

c) O Espírito Santo desce sobre os apóstolos (At 2, 1-4)

Os Apóstolos esperaram em oração pela promessa: “E eu vos mandarei o prometido de


meu Pai; entretanto, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24, 49).
“E recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós e para vossos filhos” (At 2,
38-39). “Ficaram todos cheios do Espírito Santo” (At 2, 4).

d) A assunção da Santíssima Virgem Maria ao céu

Como Jesus, Maria passou pela morte. Depois, foi levada, em corpo e alma, ao céu.
Nesse mistério, contempla-se a sua entrada na glória de Deus.

e) Maria é coroada Rainha do Céu e da Terra

“Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, a lua debaixo
dos seus pés, e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1). “E Maria disse: (...) porque
realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo Nome é Santo” (Lc 1, 46.49).

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RESUMO

1) Liturgia

Liturgia significa “obra pública” – o povo de Deus toma parte na “obra de Deus”

2) Ano litúrgico

Revive toda a história da Salvação, compreende dois ciclos fundamentais


1- Ciclo Pascal
2- Ciclo do Natal

Cada Ciclo conclui:


1- um período de preparação
2- um período de celebração
3- um período de prolongamento
Entre os Ciclos tem-se o chamado “Tempo Comum”.

2.1- Ciclo do Natal


a) Preparação – Advento-“O Senhor Vem”

b) Celebração – Festa de Natal e Epifania-Jesus nasce em Belém e a Luz de Cristo atrai todos os
povos “manifestação”

c) Prolongamento – Domingos depois da Epifania


Cristo agindo e pregando com autoridade divina

2.2- Ciclo Pascal


a) Preparação – Quaresma - tempo de purificação para a celebração da Páscoa (40 dias)

b) Celebração – Cristo Ressuscitou - Páscoa


Páscoa = Passagem
- a “passagem” do anjo sobre o Egito, salvando os hebreus protegidos pelo sangue do
Cordeiro (Ex 12,13)
- a “passagem” do mar Vermelho (Ex 3,21)
- a “passagem” de Cristo da morte para a vida, ressuscitando (Rm 6,4)
- a “passagem” nossa vida de pecado a uma vida de santificação

c) Prolongamento – os domingos depois da Páscoa


É o tempo da Igreja, cuja alma é o Espírito Santo. O qual faz amadurecer nele os frutos
de santidade, além da celebração dos grandes Santos, há as celebrações marianas.

3) Oficio divino: a Liturgia das Horas


- é a oração pública da Igreja pela qual são santificadas as horas do dia
- desenvolvem-se pouco a pouco, até se tornar oração da Igreja

O ofício divino é como um prolongamento da oração que Cristo dirigiu ao Pai, consta
principalmente de dois elementos: os Salmos e as Leituras da Bíblia.

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Com base na estrutura atual temos:

a) Matinas – na madrugada
b) Laudes – pela manhã
c) Tércia, Sexta, Noa – (9h - meio-dia - 15h)
d) Vésperas – à tarde
e) Completas – à noite

4) O Terço

- Teve início no Séc XIII, conduz o fiel ao Evangelho, colocando-o ao lado de Jesus, o centro
da oração cristã
- Rezar o Terço, anunciando os mistérios de Cristo, é passar em oração pelos fatos da história
da Salvação

O rosário consiste na oração e na meditação de 15 diferentes cenas da Sagrada Escritura

4.1- Mistérios a serem desenvolvidos:

4.1.1- Mistérios Gozosos da vida de Jesus e de Maria


a) Anunciação – Lc 1,26-38
b) Visitação – Lc 1, 39-55
c) Nascimento de Jesus – Lc 2,1-20
d) Apresentação de Jesus no Templo – Lc 2,21-39
e) Jesus no Templo – Lc 2,40-52

4.1.2- Mistérios Dolorosos da vida de Jesus


a) Agonia no jardim – 2 Cor 5,21
b) Jesus é flagelado – 1 Pd 2,24
c) Jesus é coroado de espinhos – Jo 19,2-4
d) Jesus carrega sua Cruz – Is 53,4
e) Jesus morre na Cruz – Jo 12,32

4.1.3- Mistérios Gloriosos na vida de Jesus e de Maria


a) Jesus ressuscita dos mortos – Jo 20,1-31
b) Jesus ascende aos Céus – Mc 16,19
c) O Espírito Santo desce sobre os apóstolos – At 2,1-4
d) A Assunção da Santíssima Virgem Maria ao Céu
e) Maria é coroada Rainha do Céu e da Terra – Ap 12,1

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BIBLIOGRAFIA
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