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As linguas de sinai: sua importancia para os Surdos" A lingua de sinais € a lingua usada pela maioria dos Surdos, na vida didria. E a principal forca que une a comunidade Surda, 0 simbolo de identificagio entre seus membros. E comum que se pense que a lingua de sinais é universal, ficil de aprender e que permite a comunicagao entre povos diferentes. E verdade, como afirma Markowicz (1980), que um viajante surdo tem mais facilidade em entender ¢ em se fazer entender no pais que est visitando que um viajante ouvinte. Por meio do uso de pantomima, : A Pantomima consiste em usar 0 corpo e os gestos para surdos de paises diferentes sio capa- se expressar. zes de se comunicar melhor que pessoas 3 intes que falam diferentes linguas orais. Segundo o mesmo auror, em situagdes em que nao hé uma lingua partilhada, as pes- soas surdas dramatizam e descrevem uma pessoa ou um objeto sem usar a linguagem falada ou a lingua de sinais; essa comunica- 40 gestual da a impressao de que existe s6 uma lingua de sinais e que ela é universal, 1 Seguindo convengo proposta por James Woodward (1982), neste livro ser usado 0 termo “surdo” para se referir 8 condigo audiolégica de nao ouvir, e 0 ter- mo “Surdo" para se referir a um grupo particular de pessoas surdas que partilham uma lingua e uma cultura. Digitalizado com CamScanner UBRAS O gestuno é uma lingua ar- tificial, criada com o objetivo de possibilitar a comunica- Go entre as pessoas surdas Embora, em certas situagées, os Surdos recorram A pantomima para se comunicar, e embora, também, a representagao Cad mica seja a fonte de muitos sinais, estudiosos das linguas de sinais (Bellugi e Klima, 1979) enfatizam que, por meio de abreviacao — movimentos condensados, simplificados —, 0 sinal se torna bem diferente da pantomima. Cada pas tem sua lingua de sinais, como tem sua lingua na modalidade oral. As linguas de sinais sio linguas naturais, ou seja, nasceram “naturalmente” nas comunidades Surdas. Uma vez que nao se pode falar em comunidade universal, tampouco est4 correto falar em lingua universal... // Outro aspecto a considerar é a relacdo estreita que existe entre lingua e cultura. As linguas de sinais refletem a cultura dos dife- rentes paises onde so usadas, ¢ esse € mais um argumento contra a ideia de uma lingua de sinais universal. Nao existe uma lingua natural universal. Existem linguas artifi- ciais, criadas com um determinado fim, como, por exemplo, faci tar o processamento de dados de um computador. Ainda no grupo das linguas artificiais esto as linguas auxiliares internacionais, como 0 esperanto, criadas para facilitar a comunicagéo verbal entre in- dividuos de linguas diversas, na esperanca de contribuir para um melhor relacionamento entre os povos. Como curiosidade, vale lembrar a existén- cia do gestuno, criado para possibilitar a comunicagao entre as pessoas surdas e, ; mui , 7 de diferentes paises. | Muitas vezes, usado pelos Surdos em con. feréncias internacionais ou em viagens. As linguas de sinais distinguem-se das linguas orais porque uti- lizam o canal visual-espacial em vez do oral-auditivo. Por esse Digitalizado com CamScanner 7] Coe F eeu eee UU UU UU UU Ree AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA 05 suRDOS motivo, sio denominadas linguas de modalidade gestual-visual (ou visual-espacial), uma vez que a informagao linguistica é rece- bida pelos olhos e produzida:no espago, pelas méos, pelo movi- mento do corpo e pela expressio facial. Apesar da diferenca existente entre linguas de sinais e linguas orais, ambas seguem os mesmos principios com relacao ao fato de que tém um léxico, ito é um conjunto de simbolos conven- cionais, e uma gramatica, ‘ou seja, um sistema de regras que rege 0 uso € a combinagao desses simbolos em unidades maiores. Antes de aprofundar nossos estudos a respeito das Iinguas de sinais e de suas particularidades, vamos discutir um pouco 0 tra- tamento dado ao surdo ao longo da hist6ria, as concepgées de surdez ea evolucao das praticas educativas para esse grupo. Uma perspectiva histérica sobre a surdez e a educagao de surdos Uma retrospectiva histérica da educacéo de surdos permite constatar que, pelo prisma de misticismo da educaséo egipcia, pela filosofia grega, pela picdade crista, pela necessidade de pre- servacio ¢ perpetuacéo da nobreza e do poder, pelo desejo de uni- fcagio da lingua pétria, pelos avancos da medicina, da ciéncia e da tecnologia, ou pelos interesses politicos, diferentes concepg6es de surdez e de sujeito surdo permearam a escolha das abordagens usadas na educagao do surdo. No Egito antigo, os surdos eram considerados pessoas espe- cialmente escolhidas. Seu siléncio ¢ seu comportamento peculiar conferiam-lhes um ar de misticismo (Eriksson, 1998). | Digitalizado com CamScanner LpRas Ja na Grécia antiga, pelo fato de as sociedades estarem cons- tantemente em guerra ou envolvidas em conflitos armados, a bra- vura era considerada caracteristica essencial. Além disso, 0 gosto estético dos gregos fazia que a feitira ou o desvio fosse visto com desprezo. Assim, todos os individuos que fossem, de alguma for- ma, um peso para a sociedade eram exterminados. Os filésofos gregos acreditavam que o pensamento sé poderia ser concebido por meio das palavras articuladas. Por ter declara- do 0 ouvido como 0 drgéo de instrugio ¢ ter considerado a au- digéo 0 canal mais importante para a inteligéncia, Aristteles foi acusado de manter o surdo na ignorancia por dois mil anos (De- land, apud Moores, 1996). Por nao ouvirem, os surdos eram con- yoo 1» Siderados desprovidos de tanto, o que tornava sua educagio urna tarefa impossivel. Também entre os romanos, a vida dos surdos era extremamen- te dificil. Como conta a histéria (cf, Eriksson, 1998), era con- ferido a0 cabeca da familia poder irrestrito sobre a vida de seus filhos. Assim, era comum que ctiangas com algum defeito fossem afogadas no tio Tibre. O cédigo de Justiniano, formulado no reinado do imperador Justiniano, no século VI, ¢ que forneceu a base para a maioria dos sistemas legais na Europa moderna, determinou que os surdos que nfo falassem néo poderiam herdar foreunas, ter propriedades nem escrever testamentos. Por outro lado, os que eram sé surdos, ¢ ndo 2," »mudos, tinham direitos legais de herdar titulos e propriedades. Até a Renascenga, a ideia de educar os surdos patecia imposst- vel. E.a partir do século XVI qué se observa um esforco para edu- cé-los. Comega, entao, a histéria da educagio de surdos. Digitalizado com CamScanner [AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA 05 SURDOS Eriksson (1998), pesquisador surdo sueco, refere trés fases na historia da educagao de surdos. Primeira fase: até 1760 Na primeira fase da histéria da educagio dos surdos, as crian- as surdas das familias abastadas eram ensinadas individualmente por tutores — geralmente, médicos ou religiosos. Pedro Ponce de Leon (1520-1584) foi um dos tutores que se destacou no ensino de surdos da nobreza espanhola. Seu objeti- vo era ensinar seus alunos a falar para que tivessem direito a he- ranga. Ele utilizava 0 alfabeto manual com as duas maos e fazia uma jungio dos sinais usados pelos monges beneditinos que vi- viam sob a lei do siléncio ¢ dos desenvolvidos pela familia Velas- co (Moores, 1996). ef & 2 1 Entre os séculos XVI ¢ XVIII, a educagao das criangas surdas era planejada pela familia, Para isso, eram contratados tutores com 0 objetivo de ensinar os surdos a se comunicar oralmente ou por escrito. Os métodos utilizados no ensino das criangas surdas eram muito semelhantes: os tutores usavam a fala, a escrita, 0 al- fabeto manual ¢ os sinai Como os professores queriam guardar segredo sobre os méto- dos que usavam, pouco se sabe sobre esse perfodo. Segunda fase: de 1760 a 1880 — escolas para surdos O segundo periodo da histéria da educagéo de surdos come- ¢2 no final do século XVIII, quando trés homens, desconheci- dos entre si, fundaram escolas para surdos em diferentes paises da Europa. As criangas surdas passaram a ser escolarizadas em i en Digitalizado com CamScanner upras vez de individualmente, como antes. A educagéo formal tem, entdo, seu inicio com trés diferentes principios ¢ propostas no que diz respeito & lingua usada, Na Franga, 0 abade Charles-Michel de L’Epée, fundador da primeira escola para surdos no mundo, privilegiava a Lingua de Sinais Francesa (LSF), que havia aprendido com os Surdos nas tuas de Paris. Teve o mérito de reconhecé-la como lingua, divul- gécla ¢ valorizd-la, bem como, mostrar que, mesmo sem falar, os _ Surdos eram humanos. Outra grande contribuigéo de LEpée foi ace 0 ato de passar a educacéo do surdo de individual para coletiva, nao mais privilegiando os aristocratas, mas estendendo a possibi- lidade de educagao para surdos de todas as classes sociais (Moo- tes, 1996). Os surdos educados por L’Epée formaram-se e foram seus multiplicadores, fundando escolas para surdos pelo mundo, inclusive no Brasil. Com LEpée, teve inicio o periodo conhecido como a “Epoca de ouro da educagio de surdos’, de 1780 até 1880, quando os surdos formados em seu Instituto de Surdos de Paris atingiram cargos que anteriormente eram ocupados apenas por ouvintes. Jé as escolas fundadas por Thomas Braidwood, na Inglaterra, € Samuel Heinicke, na Alemanha, privilegiavam a lingua majori- téria na modalidade oral. Braidwood usava a escrita ¢ 0 alfabeto digital; ensinava seus alunos primeiro por meio da escrita, depois articulando as letras do alfabeto e passava, posteriormente, para a proniincia de palavras inteiras. Samuel Heinicke acreditava que a tinica ferramenta a ser usada na educagao de surdos deveria ser a palavra falada. Argumentava que permitir aos estudantes surdos usar a lingua de sinais inibiria Digitalizado com CamScanner VUREEUEUUUBRVVUVUVUVEU TRUE LEVBURULLeD Fl [AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA OS SURDOS seu progresso na fala. Nasceu, assim, uma nova corrente na edu- cago de surdos, chamada “a escola alema”. Heinicke acreditava que era somente aprendendo a fala arti- culada que a pessoa surda conseguiria uma posi¢ao na sociedade ouvinte. Usava maquinas de fala para demonstrar a posi¢4o apro- priada dos érgios vocais para a articulagao ¢ associava a prontin- cia de varios sons vocdlicos com certos sabores. O oralismo de Heinicke recusava a ‘ oralismo defende que a lingua de sinais, a gesticulagao ou o alfa- a. | comunicag3o com e pelos beto manual. ~" | surdos se dé exclusivamente pela fala, sendo os sinais e 0 Como se pode observar, 0 abade de - alfabeto manual proibidos. LEpée defendia 0 métedo visual, en- wquanto Heinicke defendia 0 método oral. Estabeleceu-se, entre os dois, uma O método visual baseia-se £ no uso dos gestos, dos sinais, polémica em relagio a melhor lingua 2 | 4. -tabetomanual eda escr- ser usada na educagao de surdos. No século XIX, 0 oralismo foi domi- } tana educacao dos surdos. nando as escolas para surdos, inclusive na: Q método oral, ou oral-aural Franga (Eriksson, 1998). Mesmo reco- nhecendo que, no método oral, os alunos baseia-se no acesso & lingua falada por meio da leitura la- bial (ou leitura orofacial) e da surdos recebiam uma educagao inferio, 2 5 * amplificagao do som e na ex- os defensores do oralismo acreditavam | pressdo por nieio da fata. que, sendo a surdez medicamente incuré- vel, as pessoas surdas deveriam falar a fim de se tornarem normais. ‘A preferéncia pelo oralismo foi reconhecida no II Congresso In- retnacional de Educacao do Surdo, ocorride em Miléo, na Itélia, em 1880, quando ficou decidido que a educagéo dos surdos deve- Ha se dar exclusivamente pelo método oral. Digitalizado com CamScanner Uaras 10 Com a aprovacio do método oral, os professores surdos foram destituidos de seu papel de educadores ¢ a lingua de sinais foi proibida de ser usada pelos professores na educagio e na comuni- cago com seus alunos surdos. Terceira fase: depois de 1880 Depois do Congresso de Milao, 0 método oral tomou conta de toda a Europa — o que, segundo Lane (1989), se explica pela confluéncia do nacionalismo vigente na época — e estendeu- Se por todo o mundo, permanecendo por quase cem anos. De acordo com Marchesi (1991), durante o século XX, até os anos 1960, o método oral manteve uma posigéo dominante na Europa e na América, _- Apesar da proibisio da lingua de sinais na educasio, ela con- tinuava a ser usada por adultos Surdos e pelos estudantes das es- colas residenciais especiais. Criaram-se associagées de Surdos, nas quais eram realizadas atividades diversas que serviam de ponto de referéncia fundamental para os Surdos. Grande parte dessas asso- ciagGes estava ligada a Igreja ¢ a outras instituigdes de cardter re- ligioso protegia a comunicacao por meio de sinais. Com 0 advento da tecnologia cletroaciistica, surgiram os apa- relhos de amplificagéo sonora individuais, que permitiram um melhor aproveitamento dos residuos auditivos, e, com isso, mui- tos passaram a acreditar na “cura” da surdez, o que eliminaria de vero uso de sinais, Surgiram, entao, dentro da abordagem oralis- ta, diferentes formas de trabalho que se baseavam na necessidade de oralizar o surdo, nao permitindo o uso de sinais. As abordagens orais, também conhecidas como “métodos orais- -aurais”, caracterizam-se pela énfase na amplificagao do som ¢ no Digitalizado com CamScanner ARANANATDT ‘ Pananannannns [AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA OS SURDOS uso da fala, Dependendo do canal que é priorizado na recep¢ao da linguagem, denomina-se abordagem unissensorial, que utiliza apenas a audigio residual ¢ 0 treinamento de fala, néo contem- plando 0 uso da visio, ou abordagem multissensorial, que, além do uso da audigao residual ¢ do treinamento de fala, utiliza a lei- tura orofacial (Moores, 1996). A proibigao do uso da lingua de sinais na educagéo de surdos por mais de cem anos trouxe como consequéncias baixo rendi- mento escolar ¢ a impossibilidade de 0 surdo prosseguir seus ¢s- tudos em nivel médio e superior. As expectativas de normalizacao do surdo, por meio de treinamento de audigéo ¢ fala, transformou o espaco escolar em terapéutico, descaracterizando a escola como espaco de ensino, troca e ampliacao de conhecimento. O ensino da fala tirava da escola para surdos um tempo precioso que deve- ria ser gasto com conhecimento de mundo ¢ contetidos escolares, entre outros. Por outro lado, a falta da oralizagao restringia as pos- sibilidades de integracéo dos surdos nas escolas de ouvintes. Na década de 1960, os resultados insatisfatdrios obtidos pelo oralismo, os estudos que apontavam para uma superioridade aca- démica das criangas surdas filhas de pais surdos em comparacao com aquelas filhas de pais ouvintes eas primeiras pesquisas linguis- ticas sobrea Lingua de Sinais Americana (ASL, do inglés American Sign Language) — desenvolvidas por Stokoe, que tinham como objetivo atribuir-the estatuto lin- adogéo de uma abordagem que contem- | manual e que se expressem por meio da fala, dos sinais e plasse os sinais na educagao de surdos, a a do alfabeto manual. comunicacéo total. que os surdos tenham acesso | 8 linguagem oral por meio da leitura orofacial, da amplifica- guistico (Moores, 1996) — levaram 4 Go, dos sinais e do alfabeto Acomunicagio total defende Digitalizado com CamScanner UpRas © bimodalismo refere-se a Embora a comunicacao total tenha sido concebida como filo- sofia que encorajava 0 uso de todas as formas de comunicaséo, incluindo sinais da lingua de sinais americana, pantomima, de- senho e alfabeto digital, entre outras, na pratica, ela se tornou um método simultaneo que se caracterizava pelo uso concomi- tante da fala ¢ da sinalizacao na ordem sintdtica da lingua da co- --»; Munidade ouvinte (Lane, Hoffmeister € Bahan, 1996). Tratava-se do uso de uma exposi¢ao ou ao uso de uma sé lingua, produzida em duas modalidades: oral e gestual. O bilinguismo refere-se a0 s6 lingua produaida em duas modalida- des, 0 que Schlesinger (1978) chamou de bimodalismo. Na década de 1980, os Surdos, na condi¢ao de minoria, pas- saram a exigir o reconhecimento da lingua de sinais como valida € passivel de ser usada na educagéo de criangas surdas, a reivin- dicar 0 direito de ter reconhecida sua cultura e de transmitir essa cultura as criangas surdas. Sairam de uma situacao de passivida- de, em que tinham sua vida decidida pelos ouvintes, ¢ iniciaram um movimento que exigia respeito a seus direitos de cidadaos (Lane, 1992). O movimento de reconhecimento da cultura, comunidade e identidade dos Surdos, além de afirmar a sua autenticidade por meio de traba- ensino de duas linguas para os surdos: a primeira, a lin- Ihos cientificos, movimentos de protes- gua de sinais, dao arcabou- ; toe ages culturais, conseguiu mobilizar 0 para o aprendizado da segunda, a lingua majoritéria — preferencialmente na mo- dalidade escrita n alguns responsdveis por sua educacio para que esta fosse reformulada. A nova proposta de trabalho recebeu 0 nome de bilinguismo. Digitalizado com CamScanner VAAAVVAT \\ [AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA OS SURDOS © bilinguismo, como abordagem de educagao para surdos, Ppropée que os alunos sejam expostos a duas linguas: a primeira, a lingua de sinais, e a segunda, a lingua majoritéria da comunida- de ouvinte, de preferéncia na modalidade escrita. Pequeno histérico da educagao dos surdos no Brasil A primeira escola para surdos no Brasil foi fundada em 1857, no Rio de Janeiro, por D. Pedro Il, que solicitou 0 encaminha- ~ mento de um professor surdo a0 ministro da Republica France- sa. O professor recomendado foi E. Huer,? que havia sido aluno do Instituto Nacional de Paris ¢ trouxe para o Brasil a lingua de jx sinais francesa (Lane, op. cit.). Inicialmente denominado Imperial Instituto de Surdos-Mudos, +, °. a escola para surdos no Rio de Janeiro recebeu, posteriormente, 0 t nome de Instituto Nacional de Educacao de Surdos (INES). Segundo Ciccone (1996), surdos brasileiros de varias regioes do pais, que para ld se dirigiam em busca de ensino, foram edu- cados por meio de linguagem escrita, do alfabeto digital ¢ dos si- nais, Assim, a lingua de sinais e o alfabeto digital utilizados por Huet na educagao do surdo passaram a ser usados ¢ conhecidos em todo o Brasil, uma vez que esses estudantes retornavam para suas cidades de origem ¢ os divulgavam. Nesse sentido, Huet é considerado 0 introdutor da lingua de sinais no Brasil: trouxe, iniciaimente, a lingua de sinais francesa, que se mesclou com a ¢ sobre o primeiro nome de Huet. Apenas & guisa de exemplo, 2 2 Ernest, enquanto Moura (2000) usa Edward, e Vieira (2000), Digitalizado com CamScanner UpRas lingua de sinais utilizada pelos surdos brasileiros e acabou for- mando a Lingua Brasileira de Sinais. Ao longo do tempo, como aconteceu com todas as escolas Para surdos no mundo, as abordagens adotadas na educacio de surdos foram acompanhando as tendéncias mundiais. Assim, por influéncia do Congresso de Milao, 0 Instituto Nacional de LAAT Educagio de Surdos adotou 0 oralismo, depois a comunicaao t otal, e, hoje, tem uma proposta de educagio bilingue para os alunos surdos, \ f PONS anos, éa Unica instituigéo fede- ral que atende alunos surdos. Em Sio Paulo, a primeira escola para surdas foi o Insticuto Santa Terezinha, fundado em 1929. Em 1954, foi fundado, tam- bém em Sao Paulo, o Instituto Educacional Sao Paulo (IESP), por iniciativa de pais de criangas surdas. Outras escolas particu- lares para surdos foram fundadas posteriormente na cidade, além de escolas municipais. - Pelo Brasil, ha outras instituig6es que atendem exclusiva- 3 mente alunos surdos. No entanto, a politica de inclusio do governo federal tem levado ao fechamento de muitas escolas para surdos. Embora nao se possa falar em modelo tinico, todas as escolas para surdos em Sao Paulo estéo em processo de construsio de uma proposta de educacao bilingue, na qual a Lingua Brasilei- . ta de Sinais (Libras) é a primeira lingua ea lingua portuguesa, na modalidade escrita, a segunda. Vejamos, entéo, um pouco mais sobre o bilinguismo. eS eS e eS Ee Ee Ee ee Ee eS e& eee Digitalizado com CamScanner [AS LINGUAS DE SINAIS: SUA IMPORTANCIA PARA OS SURDOS Bilinguismo na educagao de Surdos As ctiangas surdas que tém pais surdos, usuarios da lingua de | sinais, geralmente a aprendem na interagio com eles de forma se- es adqui- melhante ¢ na mesma época em que as criangas ouvinte rem a lingua majoritiria, Além da lingua de sinais, as criangas surdas filhas de pais surdos adquirem com a familia, aspectos da cultura Surda e identificam-se com a comunidade de Surdos. Quando chegam & escola, essas criangas jé contam com uma qual poderéo aprender a ingua majoritéria, lingua, com base na eas Bed OS na modalidade escrita. un ‘A maior parte das criangas surdas, no entanto, tem pais OUvIN- «54.1 (aces! ‘ nao sabem a lingua de sinais e usam a lingua majoritéria tes, que «com elas. Por causa da perda na modalidade oral para interagit auditiva, as criancas surdas conseguem adquirir apenas fragmen- os da fala dos pais. Consequentemente, embora cheguem a es- cola com alguma linguagem adquirida na interagéo com os pais ouvintes, nao apresentam nenhuma lingua constituida (Perei- ra, 2000). CO reconhecimento de que a lingua de sinais possibilita desen- volvimento das pessoas surdas em todos os seus aspectos, somado 4 reivindicagao das comunidades de Surdos quanto & adogao da lingua de sinais na educagio, tem levado, nos iltimos anos, mui- tas instituigdes 2 adotar um modelo bilingue na educagao dos alunos surdos. Nesse modelo, a primeira lingua é a de sinais (que, ' por ser visual, é mais acessivel aos alunos surdos), que dé o arca- bouco para o aprendizado da segunda lingua (preferencialmente na modalidade escrita, também por ser visual). Digitalizado com CamScanner Lusras \y A aquisicao da lingua de sinais pelas criangas surdas filhas de pais ouvintes s6 poderd ocorrer na interagao com adultos Surdos que as insiram no funcionamento linguistico da lingua de sinais por meio de atividades discursivas que envolvam seu uso, como didlogos e relatos de histérias; isto é, em atividades semelhan- tes as vivenciadas por criangas ouvintes ou surdas filhas de pais Surdos na interagao com os pais. A interagao com adultos Sur- dos ser4 propiciada por uma escola que conte com professores € profissionais surdos usuarios da lingua de sinais e com professo- res ouvintes fluentes que a usem na comunicagio e no desenvol- vimento do contetido programatico. O aprendizado da lingua majoritéria na modalidade escrita se dard por meio da exposigao, desde cedo, a textos escritos, uma vez que a leitura se constitui na principal fonte para o aprendizado da lingua majoritaria. Por meio da lingua de sinais, o professor deve explicar a crianca o contetido dos textos, bem como mostrar a ela semelhangas e diferencas entre as duas Iinguas (Pereira, 2005). Primeiros estudos sobre linguas de sinais Vimos que o bilinguismo se caracteriza pelo uso de duas linguas —sendo uma delas a de sinais, 0 que evidencia que as linguas de sinais sao, de fato, linguas. Uma série de estudos desenvolvidos sobre essas linguas ao longo do tempo colaborou para que se che- gasse a essa constatacao e para que se entendesse melhor o fun- cionamento dessas linguas. As primeiras pesquisa linguisticas sobre as linguas de sinais, i ~ mais especificamente sobre a lingua de sinais americana, fo- ram realizadas por William, Stokée, no inicio dos anos 1960, e Digitalizado com CamScanner ETRDRARTUTARLEL LS

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