Emmanuel Oliveira Guimarães

MOBILIZANDO A IGREJA LOCAL

O
conceito de igreja, na mente de muitos cristãos modernos, tem perdido o seu propósito ori-
ginal. O maior desafio da igreja cristã, atualmente, é conseguir o envolvimento individual de
cada membro na missão de pregar o evangelho e na compreensão do sacerdócio universal
de todos os crentes.
As igrejas têm se tornado centros de bons programas, mas não têm conseguido levar a
maioria dos membros a testemunhar de forma pessoal sobre o que Deus tem feito em suas
vidas. Alguns chegam a comparar a igreja a um clube social, em que a cada final de semana as pessoas se
encontram e recebem um “entretenimento” ou uma “socialização” e voltam para seus lares sem nenhum
compromisso pessoal de testemunhar.

A compreensão correta da missão do indivíduo
na igreja e em sua comunidade é importante para
a formação teológica sobre sua eclesiologia e mis-
siologia. Segundo Raul Dederen, a “igreja é chama-
da a confessar Jesus como Cristo e proclamar o
evangelho do Reino até os confins do mundo”1.
Neste sentido, como indivíduos, somos cartas
vivas (II Cor. 3:2-3), e hoje “você está escrevendo um
capítulo do seu evangelho todos os dias pelo que
você faz e que você diz. Homens leem tudo que você
escreve, sejam coisas verdadeiras ou falsas. Diga-
-Me, como é o evangelho de acordo com você? “2
A Igreja Instituição
É maravilhoso ver o crescimento da igreja como
instituição, com lindos templos, escolas, universi-
dades, clínicas, hospitais, projetos e tantas áreas
de atuação. Contudo, diante deste quadro se forma
um outro, não tão promissor: a ausência de com-
promisso pessoal, que pode levar obreiros volun-
tários e servidores a perderem a compreensão do
propósito original dado por Deus para cumprir a
missão.
dos? A conclusão é óbvia: trabalho em equipe. Mas
não é só isso, o que faz as coisas acontecerem é o
desafio de cada um fazer a sua parte no processo.
São mais de 23 pessoas com a missão de trocar 4
pneus. O desafio de cada um é diferente, com fun-
ção diferente, mas todos têm o mesmo propósito.
Quando cada membro tem o seu desafio na
igreja, ela alcança seu propósito de evangelizar o
mundo. Jesus mostrou o desafio de uma perspec-
tiva muito simples ao geraseno, Ele disse: “Vai para
tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão gran-
des coisas o Senhor te fez, e como teve misericór-
dia de ti”, Marcos 5:19.
É muito simples, conte o que Deus fez por você,
o que está acontecendo em sua vida depois que co-
nheceu Jesus. Conte as alegrias, conte como Deus
tem te dado forças para vencer. Conte sobre o po-
der de Deus em sua vida e na de sua família. Na
Palavra de Deus encontramos o que acontece com
quem tem uma experiência real com o Senhor Je-
sus. Como os apóstolos de Cristo, podemos dizer:
“Não podemos deixar de falar das coisas que vimos
e ouvimos”, Atos 4:20.

Desafio 1 + 1 Testemunho Pessoal

Um fato que nos chama atenção sobre o papel Jesus comissionou de maneira direta seus se-
do envolvimento de um indivíduo na missão é o que guidores: “sereis minhas testemunhas”, Atos 1:8.
acontece, por exemplo, em uma corrida de Fórmula A importância de uma vida de testemunho é vi-
1. Como se trocam 4 pneus em apenas 2,03 segun- tal para o crescimento e para as bênçãos na vida

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 cristã. Ellen White escreveu: “a graça de Deus não
habitará por muito tempo na alma daqueles que,
tendo grandes privilégios e oportunidades, perma-
necem silenciosos”3.
O processo de testemunhar é desenvolvido in-
cialmente na rede de relacionamentos que cada
membro possui pois, “todo seguidor de Jesus tem
uma obra a fazer como missionário de Cristo, na fa-
mília, na vizinhança, na vila ou cidade que reside”4.
O testemunho pessoal tem um poder extraor-
dinário de levar pessoas a tomarem a decisão por
Cristo e Sua Igreja, acima de muitas metodologias
de pregação do Evangelho usadas na atualidade.
Na verdade, “[...] o que será mais eficaz é o tes-
temunho pessoal de nossa própria experiência
[...] esses preciosos reconhecimentos [...] quan-
do corroborados por uma vida semelhante a de
Cristo, possuem poder, eficaz para a salvação de
almas”5.
Contudo, este conceito de trabalho que ocor-
re na vida da pessoa que aceitou a Cristo só pode
acontecer quando se entende que:
Viver uma vida cristã genuína é pré-requisito
para ter e expressar o coração de Deus em rela-
ção aos perdidos. Você precisa estar convencido,
por meio de experiências novas e constantes com
Cristo, de que segui-Lo é a melhor maneira de vi-
ver. Você precisa ter uma convicção inabalável de
que seus amigos precisam do que você encontrou
nEle – só assim se sentirá motivado a falar-lhes
sobre o amor de Deus.6
O Desafio 1 + 1 como um projeto na igreja:
S specific - específico
M measurable - mensurável
A attainaible - atingível
R realistic - realista
T timely - em tempo
A partir da ferramenta de planejamento SMART,
a igreja faz um plano simples, porém eficaz, para
que cada membro cumpra o seu desafio pessoal
de testemunhar dentro de um plano geral de to-
das as igrejas que compõem um distrito, associa-
ção, união e divisão, com programas e calendários
específicos. Há um imperativo administrativo dado
por Deus:
Modalidades mais simples de trabalhar de-
vem ser ideadas e adotadas nas igrejas. Se os
membros aceitarem unanimemente esses planos
e perseverantemente os executarem, recolherão
recompensa farta; porque a sua experiência se
irá enriquecendo, a habilidade aumentando e, por
seus esforços, salvar-se-ão almas.8

A grande questão na igreja institucional moder-

na é o papel dos membros no contexto da igreja.
Você pode frequentar o melhor templo, sua igreja
pode possuir a melhor música, pregação profissio-
nal, os melhores líderes, mas sem o testemunho
pessoal a igreja pode estar em situação crítica.

Os pastores podem pregar sermões aprazíveis

e convincentes, e fazer muito esforço para edificar
a igreja, e fazê-la prosperar; mas a menos que
seus membros façam individualmente sua parte
como servos de Jesus Cristo, a igreja estará sem-
pre em trevas e sem forças.7

O desafio é que você seja uma testemunha da

graça de Jesus para ganhar pelo menos uma pes- Pastor Domingos Souza, Presidente da União Central Brasileira,
soa para Cristo, independente de seu “status quo”. lançando o projeto 1 + 1 para pastores do Estado de São Paulo.

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 As bases para o Desafio 1+1
estão sobre três pilares muito sim-
ples, mas poderosos: Comunhão,
Relacionamento e Missão.
Comunhão
O desafio pessoal de sepa-
rar mais tempo para oração,
meditação, estudo da Palavra
de Deus e o estudo da Lição da
Escola Sabatina é o início de um
grande preparo. O crescimento
espiritual não deve parar. Paulo
escreveu: “[...]Contudo, vos exor-
tamos, irmãos, a progredirdes
cada vez mais”, I Tessalonicen-
ses 4:10.
Como estrutura para apoiar
este crescimento, a igreja utili-
zará a Escola Sabatina, centro de
vida e missão de cada membro.
No cartão da Unidade da Escola
Sabatina constará os planos de
testemunho pessoal de cada alu-
no da classe. As anotações não
serão apenas do que foi feito na
semana anterior, mas também o
plano de testemunho de cada um
para a semana seguinte.
Os projetos dos “Dez dias de
oração e dez horas de jejum”
são fatores coletivos na igreja
que ajudarão no preparo pessoal
para o testemunho, além da ora-
ção intercessora, como parte do
crescimento, que lhe dará inten-
cionalidade para salvar. A orien-
tação é:
Selecionai uma nova pes-
soa, e ainda outra, buscando
diariamente a guia de Deus,
em Suas mãos depondo tudo
em fervente oração, e traba-
lhando na sabedoria divina.
Ao fazerdes isso, vereis que
Deus dará o Espírito Santo
para convencer a pessoa, e o
poder da verdade para con-
vertê-la.9
Pastores distritais participam do lançamento do Projeto 1 + 1.
Relacionamento
Esse é um dos maiores fatores de êxito no testemunho pessoal, já
que “é pelas relações sociais que a religião cristã entra em contato
com o mundo”10.
Os cristãos não foram feitos para ficarem enfurnados nas igrejas,
mas para se relacionarem com o mundo, exalando o bom perfume de
Cristo (II Coríntios 2:14-15).
A vida cristã consiste em viver o cristianismo diário e ir à igreja
para adorar e contar o que Deus tem realizado através de nós ao nos
envolvermos na comunidade.
Há centenas de métodos para cumprir a missão pelo relaciona-
mento, mas o Desafio 1+1 está focado em três métodos principais:
1. Transformar a unidade de ação da Escola Sabatina em um Pe-
queno Grupo durante a semana, isto integra os membros da
unidade diretamente com relacionamentos saudáveis e com alto
potencial missionário;
2. Grandes festivais de Pequenos Grupos como fator relacional
com a igreja;
3. Projetos comunitários baseados na maneira usada por Jesus
para alcançar os pecadores. Jesus tinha um plano simples com
a comunidade: “O Salvador misturava-se com os homens como
uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por
eles, ministrava-lhes as necessidades e granjeava-lhes a con-
fiança. Ordenava então: Segue-me”11.
Missão
O Desafio 1+1 tem seu ponto mais forte na missão do indivíduo.
Métodos evangelísticos e midiáticos têm trazido milhares pessoas
com interesse no Evangelho, mas por não haver envolvimento pessoal
e atendimento às necessidades primárias de atenção e acompanha-
mento, milhares se vão. E, ao exemplo da igreja em seu nascimento
no tempo de Jesus, precisamos desenvolver um ministério para cada
membro. Segundo Russel, “o envolvimento de cada membro no minis-
tério em harmonia com seus dons espirituais era a norma da igreja
do primeiro século, e também deve ser a norma na igreja de Deus nos
últimos dias”12.
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 Lançamento do Desafio 1 + 1.

Jesus disse ao geraseno: “Vai para tua casa,

para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coi-
sas o Senhor te fez, e como teve misericórdia
de ti”, Marcos 5:19. Esta orientação bíblica é
confirmada por Ellen White: “Muito mais do
que o fazemos, devemos falar dos capítulos
preciosos de nossa experiência”13.

Dizei a quem visitais como encontras-

tes Jesus, e como tendes sido abençoados
[...]. Contai-lhes a ventura que vos advém de
sentar-vos aos pés de Jesus, aprendendo
preciosas lições de Sua Palavra. Falai-lhes
da alegria, da satisfação que existe na vida
cristã.14

Além do fator “testemunho pessoal”, o De-

safio 1+1 implementa para o fortalecimento da
missão de cada membro da igreja as seguintes
ações: discipulado, Projeto “Viva com Esperan-
ça” (distribuição em massa do livro missioná-
rio por cada membro da igreja), evangelismo
da Semana Santa nos lares e na igreja, e séries
de evangelismo de colheita na igreja.

Estrutura e suporte ao Desafio 1+1

1. O projeto envolve, pelo menos, um perí-
odo de quatro anos para sua consolidação em
todos os setores da igreja. Pastores participam da Santa Ceia após o lançamento do Desafio 1 + 1.

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 2. A cada ano, uma estrutura ou departamento
Conclusão
são escolhidos para que todos os segmentos dire-
O Desafio 1+1 é um projeto simples de
cionem seu foco para o fortalecimento. Na primei-
envolvimento de todos, para que levemos
ra etapa, a Escola Sabatina é a estrutura escolhida
amigos, parentes, vizinhos e outras pessoas
para atender os membros de todas as idades no
a aceitarem a Jesus e serem batizadas, pois
crescimento espiritual e missionário.
“os pecadores necessitam de especial traba-
3. O principal instrumento de acompanhamento
será a Unidade de Ação da Escola Sabatina, dentro lho em seu favor, para que se convertam e
do CRM – Comunhão, Relacionamento e Missão. batizem”16.
O testemunho pessoal no Desafio 1+1
4. A Comissão da Igreja acompanha o nível de
fortalecerá a unidade e harmonia da igreja
envolvimento na missão de cada oficial, pastor, col-
e, pela graça de Deus, concluirá a pregação
portor, professor e membro. Dessa forma, todos
do Evangelho. Nas palavras de Ellen White,
possuirão a meta de buscar pelo menos uma pes-
“a obra de Deus na Terra nunca poderá ser
soa para Cristo dentro do ano.
5. Materiais de suporte15, tais como: marca-pá- terminada a não ser que os homens e as mu-
ginas, folders explicativos, cartões de decisão, livro lheres que constituem a igreja concorram ao
Desafio 1+1, filmes conceituais e promocionais do trabalho e unam os seus esforços aos dos
Desafio da Comunhão, Relacionamento e Missão. pastores e oficiais da igreja”17.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 DEDEREN, Raul. Tratado de Teologia. CPB, p. 604.
2 SAMAAN, Philip G. El Método de Cristo para Testificar. Casa Editora Sudamericana, Argentina, p.144.
3 WHITE, Ellen G. Serviço Cristão. CPB, p. 90.
4 WHITE, Ellen G. Serviço Cristão. CPB, p. 18.
5 WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas As Nações, p. 347.
6 MITTELBER, Mark. Igreja Contagiante. Editora Vida, SP, p. 45.
7 WHITE, Ellen G. Serviço Cristão. p. 68.
8 WHITE, Ellen G. Testemunhos Seletos. Vol.3, p. 66.
9 WHITE, Ellen G. Medicina e Salvação, p. 245.
10 WHITE, Ellen G. A Ciência do Bom Viver. p. 496.
11 Idem. P. 60
12 BURRILL, Russel. Revolução na Igreja. Casa Publicadora Atlântico, p. 27.
13 WHITE, Ellen G. Parábolas de Jesus. p. 338.
14 WHITE, Ellen G. Evangelismo. p. 486.
15 Ver filme do Desafio 1+1, disponível em: http://ucb.adventistas.org/desafio1mais1/filme/ e http://ucb.adventistas.org/
desafio1mais1 .
16 WHITE, Ellen G. Evangelismo. p. 306
17 WHITE, Ellen G. Obreiros Evangélicos. p. 352

EMMANUEL GUIMARÃES

O pastor Emmanuel Guimarães é o Secretário da União Central Brasileira. Mestre em

Teologia Pastoral pelo Unasp e em Liderança pela Andrews University, tem servido
no ministério por quase três décadas. Durante este período, atuou como pastor
distrital e departamental de várias áreas. Tornou-se especialista em Ministério
Pessoal, como resultado de uma experiência de dezessete anos em associações e
na União Sudeste Brasileira. É autor de vários livros, entre eles, Anseios Humanos,
Solução Divina; Liderança Pastoral; Dom de Deus e A Esperança é Jesus. É casado
com Maria de Lourdes, com quem tem três filhas: Jacqueline, Gracielle e Viviane.

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