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Luigi Di Carluccio
A maternidade
espiritual
de Madre Nazarena
pelos sacerdotes
Este estudo esboça brevemente o quadro, para depois desenhar Nazarena Majone (1869-
1939) e registrar suas características maternas para com os sacerdotes.
O autor expõe os meios espirituais que a Igreja promove hoje para lidar com as
chamadas "fragilidades dos sacerdotes". Obviamente, as considerações tratam também do que
há de positivo nos sacerdotes, e a celebração deste Ano Sacerdotal é a demonstração para
além das contingências.
Na proposta do Cardeal Hummes, aprovada por Bento XVI, estão dois aspectos: a
adoração, perpétua se for possível, e a maternidade espiritual para com os sacerdotes. É
necessária “uma oração incessante para despertar um número suficiente de vocações ao
sacerdócio e, juntamente, acompanhar, pela maternidade espiritual, todos aqueles que já
foram chamados ao sacerdócio".
Nunca como nos últimos anos se fazem tão admoestadoras e encorajadoras as palavras,
anseios e iniciativas de Santo Aníbal e das duas famílias religiosas, as Filhas do Divino Zelo e
os Rogacionistas, sobre o problema das vocações e sobre o primado da oração que as
imploram ao Dono da Messe.
Nesse contexto se insere cada Filha do Divino Zelo, sobretudo, Nazarena Majone como
sua superiora e animadora, mergulhada nas entranhas da espiritualidade sacerdotal.
À oração unia o sacrifício, o jejum, a penitência. Os sacerdotes eram para ela os anjos
de Deus enviados à terra. E lhe chorava o coração ao vê-los, às vezes, com as asas feridas e o
voo comprometido.
Mas vale a pena passar à leitura. O autor, como um bom comunicador, a torna fluida.
Visto que, "O agir que segue o ser e a alma de todo apostolado é a intimidade divina, e
pretendemos iniciar um movimento espiritual que, tomando maior consciência da ligação
ontológica entre Eucaristia e Sacerdócio e da especial maternidade de Maria em relação a
todos os sacerdotes, dê vida a uma Associação de adoração perpétua, pela reparação das
faltas e santificação dos sacerdotes e a um novo compromisso das almas femininas
consagradas, a fim de que, na tipologia da Virgem Maria, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote e
participante da Sua obra de Redenção, queiram adotar os sacerdotes espiritualmente para
ajudá-los com a oferta de si mesmas, a oração e a penitência”.
Maria é o modelo do amor materno de todos aqueles que cooperam com a Igreja na
missão regeneradora das almas. A ela, Mãe do Sumo e Eterno Sacerdote, é confiada cada
sacerdote, como foi João, aos pés da cruz. A ela, são confiadas as novas vocações ao
sacerdócio. Ao mesmo tempo, se pretende criar ou, desejar, dar um novo impulso a “um
movimento de oração que coloque como centro, a adoração eucarística contínua, por mais
de vinte e quatro horas, para que, de todos os cantos da terra, sempre se eleve a Deus,
incessantemente, uma oração de adoração, ação de graças, louvor, prece e reparação, com o
objetivo principal de despertar um número suficiente de santas vocações ao estado
sacerdotal e, juntos, de acompanhar espiritualmente - no nível do Corpo Místico - com uma
espécie de maternidade espiritual, todos aqueles que já foram chamados ao sacerdócio
ministerial...”.
Até aqui, a Carta, sucinta e densa, da Congregação para o Clero. A ela se juntam um
anexo bastante encorpado, "Maternidade Espiritual pelos Sacerdotes", que oferece outros
documentos da Igreja e testemunhos exemplares de mulheres, consagradas ou não, que se
destacaram nesse propósito.
“Rogai ao dono da messe para que mande operários”! Isso significa: a colheita está lá,
mas Deus quer servir-se dos homens para trazê-la ao celeiro. /…/.
Santo Aníbal, já em 1897, quando se dirigia aos Bispos e Padres para associá-los à
“Sagrada Aliança Sacerdotal” por ele instituída, recordava essas coisas, prefigurando o
futuro desenvolvimento da Pastoral Vocacional, na qual não se avança, como se faz em outras
profissões, por meio da propaganda bem direcionada e por meio de estratégias apropriadas,
como se tratasse de recrutar funcionários de empresa. Ele enfatizava e repetia que as vocações
sacerdotais e de consagração descem do Alto, e se não se reza e não se força o “Senhor da
Messe”, elas não vêm.
Bento XVI traduz hoje com expressões singulares, e parece ler o Rogate:
“Nós sacudimos o coração de Deus. Mas o rezar a Deus não é somente através de
palavras de oração; implica também, em transformar a palavra em ação, para que do nosso
coração orante possa surgir a centelha da alegria em Deus, da alegria pelo Evangelho, e
despertar em outros corações a vontade de dizer “sim”. Como pessoas de oração, cheias da
Sua luz, alcançamos os outros e, ao envolvê-los em nossa oração, os façamos entrar no raio de
Deus, o qual por Sua vez, fará a Sua parte. Nesse sentido, sempre queremos rezar novamente
ao Senhor da messe, sacudir o Seu Coração, e com Deus, tocar também com a nossa oração, o
coração dos homens”.
Será melhor compreendido, mais adiante, em apoio a essas palavras, o que significava
para Santo Aníbal e para Nazarena Majone “fazer-se Marta e Maria”, que, no que se refere à
maternidade pelos sacerdotes, queria dizer para ela, colocar-se como lâmpada orante diante de
Deus e, ao mesmo tempo, como uma animadora, promotora de vocações, ávida sustentadora
dos sacerdotes1.
1
Escreve Padre Aníbal: “Oh, se descobrissem nos nossos olhos os mistérios do retiro, da penitência, das orações
e do amor de muitas criaturas eleitas, isoladas do mundo e consagradas ao Celeste Esposo das Virgens!
Veríamos de onde se originam muitas grandes obras que surgem na Santa Igreja / ... /. Veríamos de onde emana
esse impulso divino, que impulsiona os missionários a navegar pelos oceanos e entrar nas regiões mais bárbaras,
para levar a luz do Evangelho; veríamos quanto valem os gemidos da mística pomba presa em seu ninho: Vox
turturis audita est, e que influência eles exercem nos grandes empreendimentos da Igreja Católica / ... /; oh,
também veríamos quantos divinos flagelos são afastados dos povos pelas humildes orações das virgens Esposas
de Jesus, quantos pecadores voltam à penitência!” (Elogio fúnebre para a Irmã Lúcia do Coração de Jesus,
Essas indicações nos fazem entender com quanta satisfação Bento XVI aprovou a
campanha de adoração eucarística e as indicações sobre a maternidade espiritual pelos
sacerdotes, promovidas pela Congregação para o Clero. A este dicastério, acrescentou uma
Carta em 22 de abril de 2008, expressando seu apoio ao projeto, que, solicitando
especialmente às “almas consagradas femininas”, tem em vista um novo fervor de vida e um
apostolado pelos sacerdotes.
1907). Se veja adiante o que é dito da Irmã Lucia. Este texto é relatado, juntamente com muitos outros, na
recente Antologia dos Escritos do Padre Aníbal sobre o sacerdócio: ANNIBALE MARIA DI FRANCIA,
Palavras sobre o Sacerdote, série Padre Annibale, oggi, 33, Rogazionisti - Roma 2010.
João Paulo II e as cartas da Quinta-feira Santa
A Igreja celebra na Quinta-Feira Santa o nascimento da Eucaristia e o dia do
Sacerdócio. João Paulo II deixou um tesouro de indicações sobre este tema. Desde 1979, no
início do seu Pontificado, ele enviou quase todos os anos uma Carta aos sacerdotes, 22 no
total. O Rogacionista Pe. Leonardo Sapienza as recolheu num esplêndido volume, com a
apresentação do Cardial Darìo Castrillòn Hoyos2.
Na Carta, o Papa se dirige de forma íntima aos sacerdotes, exorta, faz entender sem
impor a voz. Eis alguns pontos de meditação, também para as almas consagradas e os fiéis:
- “Da missa partem, quase que como raios, as múltiplas vias de uma sã pedagogia do
espírito.
- “Entre essas vias emerge a adoração ao SS. Sacramento, que é uma extensão natural
da celebração. Graças a isso, os fiéis podem fazer uma peculiar experiência do “permanecer”
no amor de Cristo, entrando cada vez mais profundamente na sua relação filial com o Pai”3.
A força dessa mensagem parece evidente. Sem palavras, João Paulo II e agora Bento
XVI, mostram à opinião pública mundial o quão importante e indispensável é a vida
escondida contemplativa, mesmo em nossa era agitada, e qual o valor que a Igreja hoje atribui
à oração no silêncio e ao sacrifício no escondimento. Se o papa Woytila queria as freiras de
clausura perto dele, é porque ele estava convencido de que a fecundidade de seu ministério
como pastor universal provinha, em primeiro lugar, da oração e do sacrifício de outros.
É a mesma convicção de Bento XVI. Várias vezes ele celebrou a missa das “suas
freiras”, agradecendo-as pela oferta da vida por ele. As palavras que ele dirigiu às Clarissas de
Castelgandolfo em 15 de setembro de 2007, também são válidas para as Irmãs enclausuradas
do Vaticano:
“Eis, então, queridas irmãs, o que o Papa espera de vocês: que vocês sejam tochas
ardentes de amor”, ‘mãos unidas’ que velam em oração incessante, totalmente desapegadas
do mundo, para sustentar o ministério daquele a quem Jesus chamou para guiar a sua Igreja”.
As razões para essa presença no Vaticano são resumidas por Madre Sofia, atual
superiora das Beneditinas, nos escritos ali recolhidos:
Nicola Cusano (1401-1464), cardeal e bispo de Bressanone, não foi apenas um grande
filósofo e político a serviço da Igreja. Ele também era um homem do silêncio e da
contemplação. Em um sonho, vamos chamá-lo assim, ele teve a visão do quanto ainda hoje é
verdadeiro e válido para todos os sacerdotes e crentes: o poder da oração e do sacrifício das
mães espirituais no segredo dos conventos. No sonho-visão, um imenso número de religiosas
apareceu ao cardeal. Elas rezavam intensamente em uma igreja, de pé, com as mãos voltadas
para cima, em uma posição de oferenda. O incrível dessa visão reside no fato de que essas
freiras, em suas mãos pobres e frágeis, seguravam homens e mulheres, imperadores e reis,
cidades e vilas. No entanto, a maioria das freiras tinha nas mãos, apenas um irmão ou irmã.
Nas mãos de uma esbelta e jovem freira, quase uma criança, o cardeal Nicola viu o Papa.
Estava claro quanta carga pesava nela, mas seu rosto brilhava de alegria. Nicola Cusano,
bispo de Bressanone e cardeal, estava nas mãos de uma freira idosa. O guia que estava ao lado
dele o apresentou à cripta da igreja, onde milhares de outras freiras rezavam. Enquanto
aquelas vistas anteriormente, seguravam as pessoas com as suas mãos, aquelas na cripta as
sustentavam com os corações. O guia explicou que assim as freiras transmitiam o calor de
seus corações àqueles que pararam de amar. O cardeal olhou para as mulheres vítimas
voluntárias. Ele sabia da sua existência, mas nunca ficou tão claro o que significavam para a
Igreja, para os pecadores, para os sacerdotes4.
No tempo de Nazarena Majone, o Papa São Pio X afirmava por experiência própria:
“Toda vocação sacerdotal vem do coração de Deus, mas passa pelo coração de uma mãe!”.
A Venerável tinha em casa, pode-se dizer, o testemunho da mãe de Aníbal Maria, a quem ela
não conhecia diretamente, mas sobre a qual ouvia o fundador falar. Anna Toscano criou seus
filhos pelo exemplo e oração, incluindo Aníbal e Francesco, que se tornaram ilustres
sacerdotes, um já presente nos altares desde 2004, outro sob processo de santidade pelas
autoridades eclesiásticas, se ao Senhor assim se agradar5.
Nazarena Majone viveu de 1869 a 1939. Nesse período, registramos numerosas almas
femininas, mães de famílias e religiosas igualmente dotadas de um profundo espírito
sacerdotal. Até que ponto ela sabia disso, não nos é dado saber.
4
Resumo do anexo da Carta da Congregação para o Clero, 8.12.07, p. 12-13 (a seguir: anexo).
5
O Servo de Deus Francesco Di Francia (1853-1913) era dois anos mais novo que Aníbal. Ambos vestiram a
batina em 1869 e se tornaram ilustres sacerdotes em Messina. Francisco foi também Vigário Geral da
Arquidiocese, um homem de grande caridade, fundador das Irmãs Capuchinhas do Sagrado Coração.
Não ignorou a mística irmã Maria Luísa Ascione do Sagrado Coração (1799-1875),
fundadora das chamadas Irmãs de Stella Mattutina. O jovem seminarista Aníbal Maria Di
Francia procurou-a em busca de conselhos, indo várias vezes pessoalmente a ela, outras
vezes, a procurava através de cartas, às quais a irmã sempre respondia. Aníbal reconheceu
nela, uma mãe espiritual e a ela foi grato para sempre. De fato, ele continuou frequentando
aquela comunidade; na Casa Mãe delas, no distrito de S. Antônio Abade, em Nápoles, ele
costumava parar, em suas frequentes viagens.
Entre as superioras que sucederam a irmã Maria Luisa, estava a Irmã Maria Lucia do
Sagrado Coração. Após sua morte em 1907, o Padre Aníbal recebe o discurso fúnebre. Nele
há uma passagem que Nazarena Majone conhecia pelo Fundador e por isso ela mesma teria
relação com aquele querido mosteiro.
No discurso, portanto, lemos que, como seminarista, ele se sentiu apoiado nos caminhos
de Deus, pelas orações da Irmã Maria Luisa, e como jovem sacerdote, em 1880, empenhado
na evangelização dos pobres no bairro Avinhone, em Messina, ele havia confiado “às orações
destas santas virgens, aquela insignificante Obra”. Em seguida, acrescenta: “Ela, isto é, Irmã
Lúcia, juntamente com umas outras santas virgens deste Instituto, interessou-se tanto por este
trabalho que havia apenas iniciado, que posso atestar ter sido seu anjo da guarda e um
poderoso impulso à sua formação. São 27 anos e mais que miseravelmente, trabalho nesta
Obra, em meio a dificuldades muitas vezes tão graves, que em alguns momentos pareceestar
tudo acabado. E Irmã Maria Lúcia, juntamente com sua outra felicíssima companheira,
acompanhava passo a passo todo o processo, interessando-se com orações contínuas diante de
seu amado Senhor e de sua dulcíssima Mãe, a brilhante Stella Mattutina. Oh, quantas vezes
minhas frágeis forças estavam a ponto de vacilar e de desistir diante do impossível! Mas eu
tinha um refúgio: escrevia para o mosteiro de Stella Matutina e recebia cartas cheias de
celestiais confortos...; e mais do que cartas para mim, chegavam aos céus as humildes preces
daquelas almas amantes, que me atraíam aquela graça, que eu não podia merecer, para me
apoiar no árduo empreendimento”.
Padre Aníbal reconhece a Irmã Lucia e a comunidade de Stella Matutina de terem tido
uma “parte essencial” em seu sacerdócio e no seu ministério. Com um sorriso gentil nos
lábios, ele diz que uma vez, recebeu uma carta desta superiora com as seguintes palavras: “O
Senhor Jesus é Aquele que formará esta Obra; mas levará algum tempo e não veremos na
Terra, todo o seu desenvolvimento, mas no céu, eu e outros, que fomos os fundadores”6.
Padre Aníbal tem boas razões, em uma visão de fé, para concluir que “a virgindade
esposada com Deus através da profissão religiosa, também é um sacerdócio”7.
6
Cf. ANNIBALE M. DI FRANCIA, Discursos, p. 138. Padre Aníbal parece sorrir: “Eu pensei que estava me
tornando o Fundador, mas eis que a inspirada irgem me fez saber que não era o meu conhecimento, mas o seu
zelo, suas orações, suas ofertas... deram o direito de chamar-me Fundador, Ela e as outras virgens
consagradas...”.
7
Ibid, p. 139.
Teresa tinha apenas 14 anos quando, durante uma peregrinação à Roma, entendeu sua
vocação de mãe espiritual dos sacerdotes. Em sua autobiografia, ela escreve como, depois de
ter encontrado muitos santos sacerdotes na Itália, entendeu que, apesar de sua sublime
dignidade, eles continuavam sendo homens fracos e frágeis. “Se os santos sacerdotes...
mostram com seu comportamento que precisam muito de orações, o que se deve dizer
daqueles que são mornos?” (História de uma alma, p. 157). Em uma carta à sua irmã Celina,
ela a exortou a viver pelas almas, a salvar “especialmente as almas dos sacerdotes: ‘Rezemos,
soframos por eles’” (LT, 94).
Casos clamorosos são contados de outras mães espirituais que elevaram as vocações
com a oração e o sacrifício de si mesmas.
Quando jovem, nutria sonhos ambiciosos e mal podia esperar para fazer carreira e
dinheiro depois de se formar em direito. Mas uma noite, aconteceu algo que perturbou seus
8
Resumo do Anexo, p. 39
planos. Enquanto ele estava sozinho em seu quarto, pensando em suas ambições, ele viu (“Eu
não sei... se eu estava acordado ou dormindo”, diz ele), que Cristo estava acima dele em uma
nuvem de luz e lhe mostrou seu Sagrado Coração. À sua frente havia uma freira de joelhos,
que levantava as mãos em uma posição de súplica. Da boca de Jesus, ouviu as seguintes
palavras: “Ela reza continuamente por você!”.
Ketteler fez essas confidências a um amigo seu, um bispo também alemão. Depois dessa
visão, Ketteler mudou sua vida e direção, aos trinta anos de idade mergulhou nos estudos de
teologia, tornou-se sacerdote e Príncipe da Igreja, mas aquela visão distante estava gravada
em sua mente, e ele estava convencido de que ainda havia aquela alma desconhecida e oculta
que rezava por ele, sem que ele soubesse quem era.
Ele soube, um dia em que foi visitar um convento e celebrou para elas a Santa Missa, na
capela. Quase no final da distribuição da Sagrada Comunhão, chegando à última fila, seu
olhar se fixou em uma freira. Seu rosto empalideceu, ele permaneceu imóvel, depois se
recuperou e desceu do altar.
Enquanto lhe ofereciam o café da manhã, o bispo pediu à madre superiora que o
apresentasse todas as freiras. Estas passavam na frente dele e ele as cumprimentava
observando-as cuidadosamente. Ele não encontrou aquela que procurava. Então, ele se virou
para a madre superiora: “Todas as freiras estão aqui?” A resposta foi que faltava uma, porque
era a freira que cuidava do estábulo e não podia sair. Ketteler pediu para que fossem chamá-
la. Ela chegou e o bispo empalideceu-se novamente, depois pediu para falar com ela. A freira
explicou-lhe como vivia e como costumava oferecer uma hora de adoração todas as noites,
por uma alma: por uma alma que ela não conhecia, acrescentou. Assim lhe haviam ensinado
desde criança em sua paróquia. Em seguida, afirmou: “Devemos rezar muito por aqueles que
estão em perigo de perder-se para a eternidade. Mas como somente Deus sabe quem mais
precisa, o melhor seria oferecer orações ao Sagrado Coração de Jesus, confiando em Sua
sabedoria e onisciência. Foi o que fiz, e sempre pensei que Deus encontra a alma certa”.
A esse ponto, Ketteler perguntou à freira quantos anos ela tinha. Ela tinha 33 anos e
também especificou o dia do nascimento. O bispo então fez uma exclamação: era
precisamente o dia de sua conversão! Ele tinha visto exatamente assim, diante dele como
estava naquele momento. A freira admitiu, com toda a simplicidade, que nada sabia do
sucesso ou não, de suas orações e sacrifícios. Nada queria saber, confiando-se totalmente em
Deus. O bispo chocado, disse: “Pelo amor de Deus, continue com essa obra!”. Ketteler se
sentia abalado no seu íntimo. Ele então confidenciou ao amigo bispo que havia encontrado
aquela, a quem devia sua vocação: “Ela é a última e mais pobre “conversa” do convento...
Essa freira está orando por mim há quase vinte anos... Se algum dia eu me sentir tentado a
me gabar de eventuais sucessos e por minhas obras diante dos homens, devo ter em mente
que tudo me vem da graça da oração e do sacrifício de uma pobre serva no estábulo de um
convento” 9.
Desde a infância, a grande mística belga Berthe Petit (1870-1953) rezava: “Meu Jesus,
faça que o Teu sacerdote não Ti cause desgosto!”. Desejou entrar em um mosteiro, mas a
situação de sua família a impediu. Então, pediu à Nossa Senhora para que se fizesse
9
Resumo do Anexo, p. 26-28.
mediadora, a fim de que, em vez de sua vocação religiosa, Jesus chamasse um zeloso e santo
sacerdote.
O que ela não podia prever aconteceu dias depois: um jovem jurista de 22 anos, o Dr.
Louis Decorsant, estava rezando, quando de repente e inesperadamente, teve a certeza de que
sua vocação não era o mundo e a profissão de notário. Deus o chamava para o sacerdócio.
Depois de estudar em Roma, ele se tornou padre em 1893. Berthe tinha 22 anos. No mesmo
ano, o jovem sacerdote concelebrou a missa da meia-noite em um subúrbio de Paris. Nesta
mesma hora, Berthe, participando da missa da meia-noite em outra paróquia, prometia
solenemente ao Senhor: “Jesus, quero ser um holocausto pelos sacerdotes, por todos os
sacerdotes, especialmente pelo sacerdote da minha vida”. Quando o Santíssimo Sacramento
foi exposto, a jovem viu de repente uma cruz com Jesus e aos seus pés Maria e João. Ela
ouviu as seguintes palavras: “O seu sacrifício foi aceito. Eis o teu sacerdote... Um dia o
conhecerá”. Berthe viu que os traços do rosto de João haviam assumido os de um padre
desconhecido para ela: o reverendo Decorsant. Ela o encontraria 15 anos depois e
reconheceria o seu rosto10.
Padre Pinho então quis investigar com o cardeal de Lisboa se naquele tempo havia um
padre que lhe causava tristeza. Sim, houve. Quando o nomeou, o Padre Pinho percebeu, para
sua surpresa, que era o mesmo que Jesus havia falado para Alexandrina.
Alguns meses depois, Dom Davide Novais, um amigo do Padre Pinho, informou que
acabara de realizar um curso de exercícios espirituais em Fátima. Havia participado também,
um cavalheiro reservado que havia chamado à atenção de todos, por seu comportamento
exemplar. Aquele homem teve um ataque cardíaco na última noite dos exercícios. Antes de
morrer, se confessou, se comungou e logo depois morreu reconciliado com Deus. Descobriu-
se que aquele distinto senhor, vestido de leigo, era um sacerdote e era precisamente, aquele
por quem Alexandrina havia lutado tanto11.
10
Cf. Ibid, p. 22.
11
Cf. Ibid, p. 20.
Melhor então, colocar os pés no chão. Visões, sonhos e tudo o mais, são considerados
autênticos e credíveis através de fatos concretos. Nos casos mostrados, a credibilidade vem da
energia transformadora da oração e do sacrifício oferecido por mulheres que se tornaram
geradoras espirituais de sacerdotes.
Vários meses depois, Virgínia recebe outra carta, na qual Padre Aníbal, seu mestre
espiritual, a parabeniza pelo seu progresso. Ele a vê mudada, e brincando pergunta-lhe onde
está a "queda" do passado: “Agora há um nova Virgínia, que não tem outro pensamento, além
de um: Deus e os Seus interesses! / ... /. A nova Virgínia pensa em sofrer pela conversão dos
pecadores, reza para que o Senhor envie bons operários para a Santa Igreja, e geme e
suspira não por si mesma, mas pelos interesses de Jesus e das almas”13.
A linguagem usada pelo Padre Aníbal com Virgínia (os bons operários, os interesses de
Jesus e das almas) lembra o núcleo carismático do Rogate, de onde fluí com rigorosa
consequência a projeção das consagradas do Rogate para o exercício da maternidade
espiritual pelos sacerdotes. É o que será dito, um mundo de graça em que Nazarena Majone se
encontra plenamente.
12
LP, I, p.524.
13
Ibid, p. 527-28, Carta de 26.10.1911.
Nazarena Majone, as raízes de sua maternidade espiritual
Na base, existe nela uma disposição natural, desde criança sensível aos outros, com o
olhar, além de si mesma para ajudar e socorrer. Desse húmus emergem os pequenos
sacrifícios da camponesa devotada à Igreja, consciente de realizá-los, e que ofuscam aqueles
da futura consagrada. Os traços naturais, obtidos no ambiente de Graniti e da família, estão
repletos de valores cristãos, influenciando assim, em sua personalidade oblativa 14. Isso parece
já esboçado, quando, em 14 de outubro de 1889, Maria (depois Nazarena de religiosa), aos
vinte anos, deixa a casa de sua família, substituindo sua Irmã Concetta, inicialmente
designada para a aventura no bairro de Avignone com Padre Aníbal. Determinada a ocupar o
lugar de sua irmã, a linguagem de Nazarena é, de alguma maneira, a linguagem do sacrifício
que a envolverá em sua idade madura: “Você não vai? Vou eu!”. Poucas palavras, muitos
fatos. Nazarena sempre será mais silêncio que palavras. Como quando, no início da militância
religiosa, respondeu ao Padre Aníbal em busca de almas de sacrifícios para a Obra que nascia
entre mil dificuldades: “Padre, eu estou aqui!”15.
Considerarei que, para a salvação das almas e para todo bem espiritual e temporal, não
pode haver remédio mais eficaz e soberano do que este, ou seja, implorar ao Senhor com a
oração...
Considerarei que de nada vale o esforço dos homens para formar sacerdotes santos, se
Deus não os formar...
Dedicarei a esta oração todos os meus dias e todas as minhas intenções, e terei imensa
preocupação e zelo, para que esse divino mandamento seja conhecido e observado em todos
os lugares...
Esforçar-me-ei para que no mundo todos os sacerdotes, todas as almas piedosas, todas
as virgens consagradas a Jesus, todos os seminaristas, os pobres e as crianças rezem pelos
bons operários...
Estarei pronto a qualquer sacrifício, mesmo que dar o sangue e a vida, para que esta
“rogação” se torne universal16.
Esta imagem foi substancialmente esboçada na mente e nos escritos de Padre Aníbal, e,
portanto, transmitida já às primeiras Filhas do Divino Zelo, que até 1901 eram chamadas de
Pobrezinhas do Coração de Jesus. Mesmo antes que Nazarena Majone entrasse na Obra, |
Padre Aníbal já havia lançado páginas tocantes sobre o “zelo” pela glória de Deus e pela
salvação das almas.
Essas, geradas pelo Coração de Jesus, deviam sentir como próprio, tudo aquilo que é
d’Ele, o que só seria possível realizar se estivessem intimamente unidas a Ele no amor
esponsal.
O Padre dedicou o ano de 1888 a Jesus, o Sumo Sacerdote. Inspirado pelo título
inculcava nas poucas noviças, o primeiro germe da Obra, “a grande missão de obter os bons
operários para a Santa Igreja”. Então continuava com a seguinte passagem, que tem todas as
características de uma iluminação:
16
Cf. A XXI das "Quarenta declarações", escrita pelo padre Aníbal em 1910 como Carta Magna de seus
institutos religiosos. Os destinatários são formalmente os Rogacionistas, mas, como em outros documentos, o
Fundador também quis dizer suas freiras.
Assim, falava Padre Aníbal e se surpreendia consigo mesmo, se sentia “confuso e cheio
de admiração”, porque até pouco tempo, ele não tinha tido a “luz” sobre esse aspecto da
vocação de suas filhas. Mas essas, as Pobrezinhas do Coração de Jesus, mostravam sobre o
peito, estampado num pedaço de pano, as palavras “Rogate ergo...”. Nelas estavam
condensados múltiplos valores, mensagens intensas e compromissos urgentes. O Rogate era
oração e espírito de oração, era zelo e espírito de zelo, era contemplação e ação. Dizer isso
com poucas palavras era muito pobre! Mas, era igualmente urgente dizer isso, para acender a
primeira centelha dessa súplica universal para obter os bons operários, que lhe parecia
preliminar a todo bem da Igreja, obra mãe de muitas boas obras17.
Às Pobrezinhas, era necessário não apenas dizer, mas também explicar, usando uma
linguagem simples. Então, o Padre especifica a extensão do compromisso pelos bons
operários: “A Pobrezinha, se estiver no coro, vai implorar os bons operários da Santa Igreja
com gemidos de pombas; se ela estiver educando órfãos, fará isso para ensinar aos órfãos a
oração pelos bons operários; se vai mendigar, levará no peito o lema: Rogate ergo...; e se as
pessoas perguntarem o que significa esse lema, responderá explicando a importância dessa
oração propagando-a para todos”18.
Padre Aníbal explicava o Rogate de modo que se tornava fácil compreender, objeto do
quarto voto que unifica e harmoniza toda a vida da Filha do Divino Zelo. Sua vocação vive no
Rogate e para o Rogate, nele o ser e o agir encontram sua unidade.
Chamar-se Filha do Divino Zelo é, para Nazarena Majone, zelar com todas as suas
forças, e também com o sacrifício de sua vida, os interesses do Coração de Jesus; significa ser
chamada aos compromissos de Marta e Maria, o que implica olhar além de si mesma, para a
colheita do mundo que aguarda e corre o risco de se perder. No zelo pelo Rogate, está a
compaixão e o “tenho sede” de Cristo pelas almas: “Arranque o máximo que puder /... / à
eterna ruína. Não sejas indiferente nem à perda de uma única alma”19.
17
Cf. Palavras sobre o sacerdócio, p.34. A expressão é retirada do livreto “Uma grande Palavra de Nosso Senhor
Jesus Cristo, um livreto sobre o Rogate que o Padre Aníbal imprimiu para o Congresso Eucarístico Internacional
em Roma (24 a 29 de maio de 1922).
18
ADF / Carta as Pobrezinhas do Sagrado Coração, 2 de julho de 1888, em AR p. 65-68.
19
É fácil argumentar que o espírito do Rogate confere um dinamismo e uma nova perspectiva também aos três
votos comuns de pobreza, castidade e obediência. Podemos ler observações muito pertinentes sobre essa
suposição em: ROSA GRAZIANO, O quarto voto de Rogate no Instituto das Filhas do Zelo Divino, Editora
Rogate, Roma, 1997, p. 175-91.
20
A referência se lê, entre outros, na exortação de João Paulo II, Vita Consecrata, p. 30-31.
21
Os textos do Padre Aníbal citados aqui e ali, sugerem a amplitude semântica da oração. Uma interpretação
exemplar do pensamento do Padre Aníbal está na “Mensagem de João Paulo II para o Centenário dos
Rogacionistas (16/04/1997)”. Diz: “A oração do Rogado / ... / não é simplesmente uma oração dirigida a Deus,
mas uma oração vivida em Deus: porque animada pelos gemidos do Espírito (cf. Rm 8,26), porque dirigida ao
Pai, fonte de Muito bom”. Lê-se também a passagem de Bento XVI, proposta aqui nas páginas iniciais.
espécie de sacerdócio. No auge de sua ação geradora, há aquela de tornar-se espiritualmente
mãe de sacerdotes22.
Para Nazarena Majone, amar com o coração de Cristo significa, portanto, tornar a vida
uma vida de amor oblativo, de serviço concreto e generoso para com a todos e
especificamente para com os sacerdotes. Se é verdade que a projeção de si mesma para com
os irmãos e irmãs é comum às virgens de Deus, é de modo específico e particular para uma
mulher que assumiu por si própria a compaixão de Cristo e as suas penas íntimas pelas almas
que se perdem: eis pois o espírito do Rogate. Assim, unida à Pessoa do Verbo, feito carne e
rosto da misericórdia do Pai, Nazarena sente fortalecido o compromisso, uma nova
capacidade de transformar a história, de libertar o homem daquilo que desfigurou sua divina
beleza da imagem divina.
22
Cf. Ibid, p. 179-80. As afirmações que fiz seguem vários escritos do padre Aníbal, em parte já mencionados.
23
AR, p. 468.
24
Ibidem.
Nazarena e a inteligência do sacerdócio
“Madre Nazarena tinha a inteligência penetrante do Sacerdócio”. Com esse pressuposto,
abre-se um testemunho da Irmã Geltrude Famularo (1867-1957), que ingressou nas Filhas do
Divino Zelo desde muito cedo e professou em 1899. Suas memórias foram cuidadosamente
redigidas e apresentadas ao Processo, junto com a de outras irmãs da primeira geração. O
conhecimento direto que ela tinha da venerável Madre Nazarena dá às suas palavras, um valor
documental inquestionável. Ela, portanto, escreve:
“A Rev. Madre dizia: No sacerdote, vejo outro Jesus Cristo na terra. Quando estava na
presença de algum sacerdote, se fosse possível, ela se ajoelhava, quando não, juntava as
mãos e inclinava a cabeça, demonstrando uma profunda veneração e com grande convicção,
pedia a todos a santa bênção. Convicta da sua missão de pedir ao Senhor para enviar santos
e numerosos sacerdotes à Santa Igreja, ela rezava com gemidos, suspiros e lágrimas.
Suplicava também, para que enviasse na Congregação /dos/ Rogacionistas santos. Dizia: o
sacerdote é o elo entre o céu e a terra / ... /”25.
“Cada sacerdote era considerado na fé. Mas, a ela foi dado como medida da figura do
ministro de Deus, olhando para quem estava diante de seus olhos todos os dias e a quem, ela
também sabia ser seu mestre espiritual: Padre Aníbal. O primeiro biógrafo afirma que, nas
comunidades, ela “estabeleceu um culto ao Padre de sua alma”26.
Esse culto para ele, ou veneração, que seja, tinha lugar as orações, os sacrifícios, os
cuidados. Pode-se sugerir com segurança que, o aprendizado da maternidade pelos sacerdotes,
Nazarena o fez primeiramente, com o Fundador. Mas, não, porém, sem um processo de
maturação anterior. Quando, em 1889, ela se coloca na escola de Aníbal, sente-se uma
criança, com um olhar voltado para si mesma, numa espécie de egoísmo espiritual. É assim
também, para com as almas mais santas, como encontramos, por exemplo, na Autobiografia e
nas Cartas de Teresa de Lisieux. Nazarena deve passar do se fazer santa ao tornar os outros
santos; da preocupação consigo mesma, deve se converter em dom para os outros no sentido
de uma calorosa maternidade do coração.
Em 1912, Nazarena aparece como aquela que deixou para trás a fase da infância:
“Verdade, Padre, que antes eu era muito infantil e me abatia com pequenas coisas, mas
agora pela misericórdia de Deus me parece ser indiferente a tudo”27.
A atitude materna começou a tomar forma. Materna porque se projetou para fora de si.
Materna porque protegia os órfãos, as irmãs e o Fundador, a quem ela queria salvar das
25
AFDZ / RM, CP, V, p. 210-11. Em um memorial semelhante, Irmã Olimpia Basso (1899-1985), também ela,
por muitos anos ao lado de Madre Nazarena, anota o dia a dia de oração, sacrifícios e incitação às Filhas do
Divino Zelo para formar uma alma materna para os sacerdotes: Cf. Ibid, p. 119 n. 58-59.
26
GIUSEPPE PESCI, A luz nasce ao pôr do sol, San Giovanni Valdarno 1968, p. 194.
27
MN / Escritos, p. 496. A carta é de 11 de outubro.
aflições daquela agitação de problemas e de coisas que enfrentavam as comunidades daquela
época em contínuo por vir.
“Repito: nem sempre lhe digo as coisas para não o fazer sofrer, tantas vezes quanto
tenho que sofrer. Me perdoe Padre / ... /. Abençoe-me e acredite em mim. Obedientíssima
filha em J.C, Irmã M. Nazarena”28.
Apenas alguns exemplos. Quando em 1919 soube que não havia remédio para a
cegueira do Irmão Mariano Drago (1890-1927), escreveu ao Fundador em estado de aflição,
encorajando-o a ter esperança. “Quanto ao irmão, não se deve lamentar /... /. Padre, não
escondo de você que chorei quando soube do resultado. Embora eu tivesse sonhado três noites
seguidas, V.P. doloroso"30.
Por isso, encontramos Nazarena Majone, mas não somente ela, atenta aos primeiros
seminaristas rogacionistas e aos sacerdotes, então muito poucos, mas, portanto, com muito
maior amor seguidos em seu caminho. Quando, em 1924, chegou a ordenação dos dois
primeiros clérigos rogacionistas, Nazarena estava no auge da felicidade. Chegando o tempo,
“como uma verdadeira mãe, ela se apresentou ao Rev. Padre e disse-lhe: Precisamos
preparar o enxoval para esses nossos primeiros sacerdotes. Sim, respondeu o Padre: / sim /
será preparado um paramento sagrado para cada um, o vestido novo, o kit de linho: seis
peças para cada um. Para o dia destinado, a Rev.da. Madre tinha tudo preparado. A função
ocorreu na catedral / ... /. A Rev.da Madre rezava. Oh! Como transparecia em seu rosto a
santa alegria que inundava a alma”31.
“A saúde do Padre era uma preocupação para todos, mas para a Madre Geral das Filhas
do Divino Zelo, M. M. Nazarena Majone, se tornava uma dor dilacerante /.../. Frequentemente
28
Ibid, p. 490-91.
29
MN / Positio, I, Depoimento da Irmã Daniela Pilotto, p.179.
30
MN / Scritti, editado por L. Di Carluccio, p. 521
31
AFDZ / RM: CP, V, p. 211, Memória da Irmã Geltrude Famularo. Alterei alguns erros gramaticais no texto.
ela enxugava as lágrimas e não podia ir ao quarto do doente, porque desatava a chorar e o
Padre sentia pena. Se esforçava o máximo que podia. Frequentemente me perguntava, com
real interesse, como havia passado a noite, se ele havia comido ou bebido alguma coisa, se
havia expressado algum desejo.
“Um dia - continua o Padre Carmelo - ela me perguntou quantos dos membros de Ória
já estavam na teologia, quantos eram religiosos e quantos aspirantes iniciaram os estudos para
o sacerdócio. Assim que ouviu o número, exultou de alegria e disse: “Agora sim que morro
de felicidade, depois de ver que, graças a Deus, a Congregação começa a ter seus sacerdotes
e ter grandes esperanças para o futuro. Esse sempre foi o objeto de minhas preocupações, de
minhas orações e de meus sacrifícios”32.
Dizia-se das suas preocupações com as ordenações de 1924. Um dos dois sacerdotes era
Padre Teodoro Tusino. É difícil buscar nos escritos autobiográficos de Nazarena algum
episódio que a dizem respeito. Era humilde demais para liberá-los, estava sempre envolvida
em obras de bem. Portanto, o episódio transmitido pela Irmã Filippina Parisi (1898-1985) que
presenciou a cena, assume um valor muito maior.
Certa manhã, Pe. Tusino, ainda jovem sacerdote, celebrou na capela da Casa Mãe
feminina. Terminada a missa, enquanto na sacristia ele retirava seus paramentos, caiu
inconsciente no chão. Nesse barulho, Madre Nazarena e outras correram para ver. “Eu -
escreve a Irmã Filippina - era sacristã e testemunhei uma cena emocionante. A Madre
inclinou-se, pegou a cabeça do Padre, colocou-a sobre os seus joelhos, deixando-o sentado no
chão. E praticou o socorro necessário. Ela fez o melhor possível para ajudá-lo e confortá-
lo. /.../. A Madre se comportou, em relação ao jovem Padre, com o carinho e a preocupação de
uma verdadeira mãe”33.
Em diversas publicações, foi necessário falar de seu relacionamento de mãe para filho,
com o irmão Concetto Ruta (1904-1987)35. Sem forçar a mão, aqui estão os fatos essenciais.
32
CARMELO DRAGO, O Padre - Fragmentos da vida cotidiana, Editora Rogate, Roma 1995, p. 484-85.
33
AFDZ / RM, CP, V, p. 179
34
Padre Bonaventura F. Vitale (1866-1950) é o sucessor do Fundador, uma figura eminente entre os
rogacionistas, para os quais Nazarena exercia ao mesmo tempo, uma maternidade terna e um culto filial em uma
visão de fé do sacerdócio.
35
Ver: MN / Scritti, Doc. 136, 141, 157, 158, 161, 162, 164, 166, 168, 169, 172. Os principais pontos dessa
correspondência com seu Irmão Concetto são analisados em: LUIGI DI CARLUCCIO, Nazarena Majone -
História e memória de uma mãe, Editora Vaticano, Roma 2008, p. 347-52 (a seguir: história e memória). Note-se
que os censores dos Escritos, Don L. Bogliolo e Mons. S. Garofalo, reconhecido em suas cartas ao Irmão
Concetto “uma Madre Nazarena cuidadosamente maternal e amorosa cofundadora”. Então Mons. Garofalo:
Concetto foi recebido aos 15 anos por Padre Aníbal, no bairro de Avignone, em 1819.
Piedoso e inteligente, ele se destacou como auxiliar na tipografia, quando esta, estava
instalada num barraco de madeira no antigo pátio. Em seu obituário e nos vários testemunhos
de sua morte, um trecho difícil de seu percurso profissional, nos anos de 1828 a 1832, é
mantido em silêncio. Atingido com o início da tuberculose, ele teve de se retirar para
Rosolini/SR, em família. A nostalgia inicial pelo “doce redil”, como Nazarena costuma falar,
foi substituída pelo desânimo, uma crise, talvez um plano diferente para o futuro.
A boa Nazarena escreve para ele. O Padre Vitale, sucessor do Fundador, deu-lhe
permissão para fazê-lo. Supõe-se, no entanto, que certamente Concetto tenha solicitado,
porque sentia em Nazarena uma mãe afetuosa e disponível.
Para Nazarena, falam também as mãos cheias de pão, de leite, de tudo quanto pode
trazer um pouco de alívio moral para aquele filho. Mas ela também sabe como infundir
pensamentos ricos de doçura espiritual, como especialista de Deus, aquela que considerava
apenas necessária ciência o saber carregar a cruz de Jesus.
O estado de aflição do jovem, seu momento psicológico, talvez pouco equilibrado entre
a lealdade e a lisonja do mundo, sugerem à boa Madre pensamentos como estes: “... Tenha
coragem, caríssimo Irmão em Jesus Cristo! Nosso Dileto Jesus sabe como afligir as almas que
Ele ama. Precisa, porém, tomar tudo de suas mãos/... /37.
Nos movimentos de sua maternidade espiritual, está Padre Aníbal, como foi
mencionado e demonstrado por essas passagens sinópticas:
Ela: “Agrada tanto a Jesus ver aos seus pés as almas aflitas /.../. Joguemos nossas
misérias na imensidão da Divina Vontade e, assim, elas serão absorvidas no grande abismo
do seu coração38.
O Padre: “Jogue todo o seu passado, todo o presente e todo o futuro no abismo de toda
Misericórdia, que é o Coração amorosíssimo, dulcíssimo e suavíssimo de Jesus!” 39.
MN / Positio, I, p. 251.
36
Cf. História e Memória, p. 351
37
Ibdem.
38
Ibidem.
39
Ibidem.
Esta é expressa diante de Deus. E diante de Deus não são válidas distâncias e distinções.
Se consuma no anseio da oração que implora os bons operários, que repara os indignos,
que geme investida de amor compassivo ao ver a colheita que se perde no campo do mundo.
Aqui está ela, diante do tabernáculo. O Esposo está ali, ao “amanhecer”, como
maravilhosamente disse Dante das virgens de Deus. Ela correu para acordar o Esposo, foi
antes do amanhecer. Às cinco da manhã, asseguram as freiras que a viam ajoelhada, recolhida
na capela ainda deserta.
Era uma alma eucarística. Falar sobre ela, filha do Rogate, não é o mesmo que falar
genericamente de outra mulher consagrada. O leitor deve guardar tudo aquilo que acima foi
afirmado a este respeito.
Havia uma súplica vocacional que Nazarena, como as outras irmãs e órfãs, recitava com
frequência na comunidade. Ela aprendeu essa oração quando chegou em Avignone, em 1889.
Ali, ela pode medir visivelmente o drama das multidões abandonadas e, por outro lado, ela se
alegrara ao ouvir ecoando a súplica como uma esperança para novos tempos “nas cabanas dos
pobrezinhos”40.
Ainda hoje, aquela súplica ressoa nas casas masculinas e femininas como a voz coral da
Ópera Rogacionista. É bem fundamentado pensar que em suas horas diante ao tabernáculo,
especialmente nos anos romanos (1934-39), ela se nutriu da oração ao “Coração compassivo
de Jesus” e que a Ele fez chegar o seu gemido de pomba (era a expressão do Fundador) para
implorar os bons Trabalhadores para a messe, para os altares que ficaram desertos, para as
almas que perecem, pelas “criancinhas que pedem o pão da vida e não há quem o partilhe”41.
Também é plausível, mas não se quer forçar demais, que diante do Sacrário ela tenha
ofertado a si mesma pelos numerosos e santos sacerdotes à Igreja. A oferta de si mesma por
essa causa era sugerida pelo Fundador e fazia parte dos gestos normais de cada Filha do
Divino Zelo.
40
AR, p. 392. A expressão é retirada de uma longa apresentação da “Sagrada Aliança” que o Padre Aníbal
propôs aos bispos e ao clero em 1897. Ele faz saber que a oração era o contínuo sopro da Obra nascente. Às
vezes, mesmo à noite, rezávamos com vigílias especiais (cf. Ibid, p. 390). Em particular, pedia ao clero que
oferecesse uma missa anual pelas intenções de Rogate. A Eucaristia, coração da Igreja e o lugar eminente de
súplica, era a ideia-risorsa para alcançar da misericórdia de Deus os santos sacerdotes à Igreja (cf. Ibid., p. 391-
93).
41
Das súplicas mais inspiradas do Padre Aníbal para bons operários, conhecidas pela expressão de abertura
como “Coração Compassivo”. O texto completo desta oração é proposto na parte final deste estudo.
Além disso, assim que entrou em Avignone, aos vinte anos, Nazarena encontrou em
Padre Aníbal o superior e pai espiritual. Ainda recém-sacerdote, em 3 de maio de 1880,
Aníbal Maria havia se oferecido como vítima diante do Eterno Deus para implorar um santo
sacerdote para sua Messina. Para suplicar ele tinha timbres ousados. “Se, para suscitar este
sacerdote segundo o Vosso coração, quereis, ó Deus, a oferta da minha vida, eis, Vo-la
ofereço agora mesmo...”.
Se o texto da súplica não é exatamente este, o espírito de sacrifício com o qual nele
permeia, certamente chegou a Nazarena. Acho que, depois de vinte anos estudando sua
interioridade, ela não tenha recuado.
O seu pedido de sacerdotes é uma petição muito simples: “Peço-lhe, meu Jesus, de
recordar-lhe /.../ especialmente do Sumo Pontífice e de toda a Igreja Católica” 42. Aqui se
pode intuir uma fórmula do Vademecum para o uso de pessoas devotas. Nada mais.
Em outra oração, sempre sem desperdiçar palavras, ela invoca as santas vocações: “Ó
Jesus, Sacerdote dos sacerdotes, suscitai sacerdotes segundo o Vosso Coração. Virgem
Santíssima, Rainha dos Sacerdotes, reine com o amor de Jesus e com vosso amor, no coração
dos Sacerdotes. São José, celeste guardião dos sacerdotes, guarda a pureza das almas
sacerdotais”43.
Isto é o que será dito adiante sob o título: Nazarena, uma maternidade espiritual
reparadora.
42
MN/Escritos, Doc. 305.
43
Ibid. Doc. 333, 334, 335.
Nazarena e a maternidade com as Filhas do Divino Zelo
Seria muito estranho que se calasse quanto à maternidade de Nazarena para com suas
próprias coirmãs, noviças e aspirantes. Elas se enquadram bem na categoria dos bons
operários, ou, se, preferirmos melhor dizer, das boas operárias da messe.
Sua atitude materna é declarada em alta voz pelas coirmãs que viveram próximas a ela
ou que testemunharam durante o Processo.
Ela era uma mãe dulcíssima, generosa na compreensão e no perdoar, forte no corrigir
sem desencorajar. “Quando, no tempo do noviciado, devia ir até a Madre para me acusar de
pequenos defeitos, como retornava feliz, parecia-me que tinha falado com uma alma santa,
tanto que, uma vez, me veio ao coração de dizer-lhe: 'Madre, quando venho falar com a
senhora, pareço-me estar tão aliviada como se estivesse em confissão’, tanto era a unção e a
doçura no seu falar (Testemunhos, v. 1, p. 50)”44.
“Ela era a superiora geral e agia como a última das freiras”. É um testemunho da Irmã
Olímpia Basso. Também este outro: “As minhas filhas menos virtuosas eu as mantenho
debaixo das minhas saias; em outro lugar não me suportariam”46.
Difícil de ler e deixar cair da memória palavras como essas. Olímpia vivia lado a lado
com Nazarena e compreendia, pode-se dizer, o seu respiro.
44
MN / Positio, I, p. 209
45
Ibid, p. 210, Testemunho da Irmã Vita Catalfamo (1897-1980) e da Irmã Filomena Nocera (1884-1964).
46
AFDZ / RM CP, V, Q60, p. 121.
47
Cerca de vinte exemplares podem ser lidos na coleção: LUIGI DI CARLUCCIO, As pequenas flores da
Madre Nazarena (apresentação por Chiara Lubich), Editora Rogate 2008, p. 51-71. Os fatos, embora escritos na
delicadeza literária dos ramalhetes, são fiéis aos testemunhos, principalmente de freiras que viviam em contato
direto com a Madre. Em resposta à sua lealdade editorial, a fonte é relatada de tempos em tempos.
iria a Messina a pé, e surge uma expressão com significado de quem vive uma gestação: “Se
assim for, vou morrer com os meus”.
Ela chega. Messina é um imenso entulho sob o qual se encontram 80 mil vítimas.
Ela se aventura entre os estilhaços, destroços, restos miseráveis de uma cidade fantasma
e, como Deus deseja, ela consegue chegar à Casa Mãe feminina. Entra no jardim, a fábrica
destruída inspira medo. As comunidades estão acampadas ao ar livre. As Irmãs e as noviças a
cercam, tranquilizam-na, mas ela intui e começa a chamar uma por uma de suas filhas. Treze
não respondem, nunca mais responderão. Naquele silêncio irreal, suas lágrimas partem o
coração. Então a fé prevalece e, ajoelhada com o rosto no chão, ela repete por três vezes o seu
“fiat”48.
Nazarena, a Madre, como toda mãe, deixa-se ferir na carne. É o caminho natural
daqueles que geram. Foi também para ela. Nos últimos anos, ela permaneceu exilada em
Roma. Seria melhor dizer, marginalizada e isolada. Forçosamente isolada de suas filhas, das
quais ela tinha tanto cuidado. Ela não conseguia conter as lágrimas quando as via sofrer em
um contexto comunitário que realmente se tornou muito difícil.
Negar a uma mãe de abraçar seus filhos e aos filhos de abraçar a mãe é o maior flagelo.
O direito da família e a lei da natureza condenam aqueles que assim dilaceram os laços
parentais.
As irmãs foram proibidas de parar nos corredores para encontrar-se com Nazarena, a
Primeira Madre da Obra, Superiora Geral por um quarto de século, amada como uma preciosa
relíquia.
Dentro deste contexto, delineado, é claro, sem forçar os tons, aqui está um episódio.
“Um dia - diz a Irmã Sistine -, quando eu estava em Roma com o ofício de Vice-
Superiora da Casa, saí para certas práticas e voltei, às 14 horas. A comunidade já havia
almoçado, e eu estava em jejum e toda pálida. Em vez de me deixar restaurar um pouco, me
foi dada a ordem de verificar o peso da madeira, descarregada por um fornecedor. Era pleno
inverno, o frio estava cortante, mas ninguém levou em conta meu estado de cansaço e
fraqueza. Somente a Madre Nazarena, assim que percebeu minha palidez, cobriu o rosto com
as mãos, dizendo: ‘São minhas filhas! São minhas filhas! Esta é minha filha!’.
E chorou.
Era a Mãe.
48
AFDZ / RM, CP, V, p. 216. O episódio resume um memorial da Irmã Gabriella Ruvolo, uma testemunha
ocular. No entanto, é o relato mais importante da própria Madre Nazarena, intitulado “Memória dolorosa”.
Tudo absorvia com admirável uniformidade com o Senhor, mas ela não podia calar ao
ver as boas filhas sofrerem por negligência e maus tratos”49.
Certamente, o que é dito aqui de Nazarena como Mãe, é dito sempre com o objetivo de
demonstrar sua maternidade espiritual sobre as filhas, como operárias no campo do Senhor.
“Como verdadeira Filha do Divino Zelo, /era/ zelante pela sua própria santificação e
pela dos outros, fervorosa e constante na oração do Rogate. Sempre exemplar em tudo. Com o
seu contínuo bom exemplo de verdadeira Filha do Divino Zelo, e com suas contínuas
exortações à oração e ao sacrifício para obter muitos, mas muitos e santos sacerdotes para a
Santa Igreja.... (pensamento incompleto). A palavra da Madre estava sempre viva entre as
filhas, não passava nenhum dia ou circunstância, sem que ela precisasse fazer alguma
exortação, advertência e incitar à virtude”50.
No capítulo XVI, “Coração da mãe”, Padre Pesci admira em Nazarena a mulher que
abraçou “os filhos que ela não gerou na carne, mas recebeu no espírito impulsionado por
49
Fioretti, p. 55. Cf l’originale in AFDZ/RM, CP, V, p. 169.
50
AFDZ/RM, CP, V, p. 119.
uma chama de amor”51. Tendo libertado o coração das fronteiras do sangue, tornou fecunda a
vocação para a maternidade, para além das dimensões comuns e permitiu estender as asas
maternais para acolher todos aqueles que vagueiam sozinhos pelo mundo em busca de amor.
“Madre Majone - conclui o biógrafo - alcançou os últimos degraus porque era uma mãe
heroica apaixonada por aqueles que Jesus colocou próximo do seu coração” 52. A prova de que
Padre Pesci colocou felizmente os tijolos também é dada ao ver esta e outras definições
retomadas centenas de vezes por aqueles que vieram mais tarde, escrever sobre Nazarena.
Entre as categorias de pessoas cobertas pela sua asa materna estão as coirmãs. Na
biografia se lê observações e episódios parcialmente considerados também neste estudo. O
que quero dizer, no entanto, é que sobre as freiras, as noviças, as aspirantes, Nazarena
exercitava uma espécie de sacerdócio feminino, mesmo que pareça um pouco forçada a frase.
E que outra coisa seria, o seu entendimento, o seu perdão, o seu incentivo à perseverança, se
não um exercício de maternidade sacerdotal?
Se os leigos fossem até ela, descarregar seus encargos morais, com muito mais
prudência, suas filhas encontravam nela um coração que escuta aquilo que só à mãe (e ao
confessor!), pode ser dito.
“Ao fechar esta doce canção no coração materno - escreve Padre Pesci - nos agrada vê-
la ainda no quarto em Roma, que estende os braços não mais trêmulos, que fixa os olhos não
mais velados, que amplia o coração que não está mais cansado, para todos: ... às postulantes e
noviças, e, sobretudo às suas Irmãs, enquanto seus lábios repetem o grito de amor: 'São todas
minhas filhas, todas minhas filhas...!”53.
Convém enfatizar que Nazarena alimentava todos os dias a lâmpada das vocações,
digo, as vocações de seminaristas, de sacerdotes já nos altares do mundo: são eles os bons
operários para os quais ela elevava o olhar em oração incessante. Desta oração nutria as suas
coirmãs. Afirma-se em sentido literal, pois todos os dias as Filhas do Divino Zelo elevam o
gemido de Pombinhas. Todos os dias elas se oferecem por aquele santo ideal, desejando, gerar
como mães espirituais os ministros de Deus, como já, em 1888, inculcava-lhes o Fundador.
51
GIUSEPPE PESCI, A luz nasce ao pôr do sol, p. 163.
52
Ibid, p. 165
53
Ibid, p. 181
Nazarena, uma maternidade de reparação espiritual
Era necessário citar acima uma carta de Nazarena às Visitandinas, que através de Santa
Margherita Maria Alacoque (1647-1690) contribuiu muito para o culto do Sagrado Coração
na linha reparadora.
Agora, o espírito de reparação se faz um, com o espírito do Rogate. Está ligado ao
movimento de participação da Filha do Divino Zelo nos interesses do Coração de Cristo. Não
é de surpreender, que uma das meditações mais comoventes do Padre Aníbal e dos seus
seguidores foi e continua sendo, a das penas íntimas do Redentor. Nestas páginas mencionei
isso mais de uma vez.
As fórmulas de reparação são aquelas geralmente usadas entre os séculos XIX e XX.
Hoje, nem tudo é aceito pelo movimento bíblico e pela teologia pós-conciliar. No entanto, os
fatos estão contra as relutâncias até peculiares, isto é, a resposta generosa que as almas
consagradas deram ao contexto sociocultural da época, profundamente infectado pelo pecado.
Na época das desordens sociais, após a Primeira Guerra Mundial, as práticas piedosas se
intensificaram e combateram um dilúvio de muitos males morais. Certamente Padre Aníbal,
Madre Nazarena e os outros, observaram pela fresta da fé, as turbulências e não podem ser
responsabilizados por verem a escuridão em torno de si. “Ah, Coração Santíssimo de Jesus –
fazia rezar o Fundador - se pudéssemos reparar com o derramamento de todo o nosso
sangue, teríamos prazer em fazê-lo, e nos consideraríamos muito afortunados em nos imolar
todos como Vossas vítimas de amor”54.
54
O texto é citado em AP, p. 222. O contexto histórico é o de 1919-22.
55
No texto, o Catecismo recorda Is 53,10-12 e o Concílio de Trento: Denz.-Schonm, 1529.
Seu itinerário para Deus é marcado por “um fogo tão ardente e violento” que desejou
transmiti-lo a todas as criaturas”. São suas as palavras. Estava, no entanto, convencida de que
era uma grande pecadora quando confrontada com as grandes exigências do Senhor, enquanto
na realidade todos os erros dos quais se acusava eram apenas legítimas reivindicações da
natureza; mas, ela os considerava como resistência à graça. Nasce, assim, nela, o desejo de
reparação em referência às próprias fraquezas. É muito fácil abordar esse estado de
consciência, de Esposa de Jesus consciente da distância entre o Nada e o Todo, da qual leu em
Teresa de Ávila, com a necessidade de recompensar a honra de Deus 56. Em si mesma, antes
que nos outros. Até Nazarena Majone, especialmente em sua juventude, tinha um conceito
pejorativo de si mesma, a ponto de se considerar uma pecadora com um passado que nunca
pode ser adequadamente reparado. Foi uma fase não temporária, destinada a não desaparecer,
a ponto de se dissolver com maturidade no abandono filial ao Senhor57.
56
Para esta seção e outras notas, consulte: M-M. Alacoque, O grande dicionário dos santos e dos beatos, Finegil
Editorial S.p.a., Roma 2006, v. IV, p. 358ss.
57
Cf. NM / Escritos: No Apêndice, especialmente as cartas de Nazarena ao Padre Aníbal de 1900 a 1907, p. 412-
27. Ela se declara “capaz de todo o mal”, de “natureza má”, de modo a exortar seu mestre espiritual a usar o
“chicote” com ela, para fazê-la “expiar o passado”. O que foi dito sobre os supostos pecados de Santa Margarida
se encaixa nela.
58
Cf MN / História e memória, p. 153. A propósito, a mensagem lançada por Margherita no mundo teve uma
vida difícil e a própria vida da santa, escrita pelo Padre Croiset, “Vie abrègèe” (Vida breve) foi colocada no
índice. Apenas dois séculos depois, a devoção ao Sagrado Coração triunfou. A tal ponto que, na época do Padre
Aníbal e da Madre Nazarena, mais de mil congregações religiosas ostentavam esse título, incluindo os
Rogacionistas do Coração de Jesus.
O magistério da Igreja pronunciou-se várias vezes sobre a reparação-satisfação-
expiação59. A teologia espiritual e a psicologia desenvolveram respostas comumente aceitas,
as quais, no entanto, não pretendem revelar todo o mistério da graça. É possível liquidar uma
dívida moral para com outro ser humano, mas não aquilo que atinge a pessoa de Deus. Em
relação a Deus, a satisfação e a reparação jamais serão proporcionais, ou seja, elas não se
igualam à dimensão infinita da pessoa ofendida.
Nesse aprendizado entre o homem pecador (ou mesmo reparador) e o Deus ofendido,
um elemento central é enxertado na revelação cristã, ou seja, a chamada satisfação vicária de
Cristo. O fato da Encarnação do Verbo insere o divino na natureza humana e, ao mesmo
tempo, executa outra tarefa, suplementar à fragilidade humana e à insuficiência da criatura de
satisfazer. Cristo, com o seu sacrifício e obra redentora, oferece satisfação e reparação ao
Pai60.
Em Nazarena, a razão profunda das práticas reparadoras está no fato de que com essas,
ela assume os outros como parte de si mesma, pela fraternidade-maternidade que a liga a eles.
Quando Nazarena reza pelos sacerdotes, ela inter-cede, o que etimologicamente significa
inter-por-se entre as partes, comprometendo-se ativamente para que Deus se lembre de curar
as feridas de seus ministros, suas fraquezas ou mesmo preservá-los do mal. Quando Nazarena
faz memória do outro, sacerdote ou leigo, ela o recebe novamente de Deus iluminado pela
vontade divina que é transformadora.
O estar entre os sacerdotes com orações e ações maternas e o estar diante de Deus em
intercessão eleva Nazarena na fecundidade da graça. Ela sabe que a oração, os sacrifícios são
colocados em Cristo e, por isso, privilegia a oração diante do tabernáculo, onde a energia
misteriosa que salva encontra presente o próprio Autor para doá-la em plenitude.
Muitas vezes Nazarena manifesta querer rezar em Deus e ao mesmo tempo, pede a
Deus que ore nela. É a maneira teologicamente correta para tornar a intercessão plenamente
eficaz e frutuosa. É também uma maneira de estabelecer uma espécie de equivalência ou,
então, um filtro entre rezar pelo outro e amá-lo. A oração de Nazarena é um ato de amor.
Portanto, nunca se pode dizer que sua adoração diante da Eucaristia ou na solidão de seu
quarto é algo separado da realidade concreta. Não, Nazarena se faz mãe e cobre de calor
materno aqueles que entram no raio de sua súplica.
Uma seção dos escritos de Nazarena é reservada para os espirituais. Geralmente são
orações: fórmulas curtas e densas, repetidamente imbuídas de surpresas místicas e
corretamente consideradas pelos estudiosos como vibrações singulares da alma. Alguns
exemplos:
“Ora em mim, ó Jesus, e ofereço-lhe estas minhas orações, feitas em Sua Vontade, para
satisfazer as orações de todos e para dar ao Pai a glória que todas as criaturas deveriam
59
Limitados aos tempos de Nazarena Majone, lembramos a Encíclica de Leão XIII, Annum sacrum (25-5-1899),
que prescreveu a Consagração do mundo ao Sagrado Coração, e a de Pio XI, Miserentissimus Redentor (8-5-
1928) que desenvolve o conceito e a obrigação de reparação.
60 Para essas características conceituais, ver S. OFFELLI, na Enciclopédia Filosófica, Ed. Lucarini 1982, v. VII,
sob Satisfação.
dar-Lhe”. E ainda: “Jesus, eu te dou as dores da minha alma como reparação e alívio pelas
Tuas dores: Tu sofreste demais, descanse, eu sofro por Ti”61.
Talvez, seja uma elevação da noite. Em vez disso, esta é a oração da manhã, na qual
Nazarena cumprimenta o Esposo e se consagra a Ele, seguindo as linhas de devoção ao
Sagrado Coração:
“...No começo deste dia, dirijo a Vós meus pensamentos e afetos. Adorável meu
Salvador, aceite tudo o que farei, a partir de agora, como também os muitos atos de
expiação, de honrosos e contínuos sacrifícios ao Vosso Coração, ultrajado pela ingratidão
humana. Ofereço-me a Vós, ó Coração do meu Jesus, com a intenção de que toda a minha
vida, todos os meus sofrimentos sejam empenhados a amar-vos, adorar-vos e glorificar-vos
no tempo e na eternidade”62.
O exercício de reparação em Nazarena tem uma ancoragem segura: “Ó bom Jesus /.../
com humilde confiança e firme esperança, uno / a minha oração / à Vossa que fazeis a Deus
Pai”63.
61
MN / Escritos, Doc. 317-318.
62
Ibid, Doc. 322.
63
Ibid, Doc. 330.
Nazarena, uma maternidade sem limites pelos sacerdotes
Seria enganoso pensar que a propensão materna de Nazarena pelos sacerdotes se
limitava apenas à oração e, a mesma coisa, ao aspecto de reparação. Se a exposição feita até
agora pode levar a pensar assim, é bom esclarecer a dúvida. Em grande parte, é isso mesmo.
Mas, é também uma oração de pedido e de obtenção. A primeira preocupação de Nazarena
veio da visão do campo coberto da messe, mas desprovido de trabalhadores.
Talvez, seja digno de nota, que a vocação do Rogate coloca a Filha do Divino Zelo
como uma oração vivente e como a mãe natural dos sacerdotes. Lembre-se da exortação de
Padre Aníbal, já em 1888, quando ele viu a extensão máxima do espírito do Rogate na
capacidade de se tornar mãe dos sacerdotes, de gerá-los e, gerados, de acompanhá-los com os
gemidos da oração e da oferta de vida.
Dito isto, é preciso admitir em primeira mão, que os documentos sobre esse tema são
muito escassos e principalmente genéricos. Acho que já escrevi sobre isso. Precisamente por
esse motivo, insisti sobre a espiritualidade fundante do Rogate, que cada Filha do Divino Zelo
traduz em movimentos internos e gestos oblativos. Essa perspectiva ajuda a compreender e
ressignificar o pouco material que as fontes reservam para nós. Mesmo nos Documentos
Processuais, há uma certa carência de quantidade e, eu diria, de qualidade. Por outro lado, as
testemunhas não são chamadas a aprofundamentos específicos sobre um assunto tão limitado,
como o da maternidade pelos sacerdotes.
No entanto, o que se costuma dizer de Nazarena, cada um ao seu modo, constitui uma
prova, quando a definem como lâmpada vivente da Eucaristia, diante da qual ela se coloca e
alimenta a “oração Rogacionista”.
“O Corpo de Cristo oferecido é oração e holocausto do Filho ao Pai, para que Ele
possa gerar na Igreja os sacerdotes e outros operários para a messe. Sabemos que o
Fundador indicava e vivia o mistério da Eucaristia como o cume da oração do Rogate”64.
Portanto, a adoração eucarística de Nazarena, como das outras Filhas do Divino Zelo,
não poderia ser configurada fora da preocupação pelos bons operários. Falar de Nazarena de
joelhos diante do tabernáculo é o mesmo que dizer da sua preocupação com os sacerdotes, em
pedir a Deus e a outros para que possam sustentar os caídos ou em perigo de cair.
Mas, finalmente, uma vez concluída a escavação das raízes e motivações internas que
sustentam a sua maternidade pelos sacerdotes, é apropriado dar uma olhada nas práticas
piedosas externas.
O que se sabe sobre as práticas particulares de Nazarena está quase tudo limitado aos
seus escritos espirituais pessoais67. Na coletânea, estão elencados como documentos em
progressão numérica.
Essas intenções são comentadas por breves exortações que o Senhor dirige à alma
reparadora. A referência às visões de Santa Margarida Maria é evidente, provavelmente a das
mensagens de Salette, Fátima e Lourdes.
65
MN / Scritti, Doc. 36, p. 84. Carta de 8 de dezembro de 1919.
66
Cf. AP, p. 263. O Padre T. Tusino declara: “O amor do Padre pelo Coração de Jesus foi definido em um
testemunho com uma frase escultural muito eficaz: O Sagrado Coração era o seu Coração”
67
Os Escritos de Nazarena Majone, publicada pela Editora Rogate em 2006, com apresentação do cardial José
Saraiva Martins, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, está dividido em duas partes. A segunda
inclui os escritos espirituais, necessariamente sem ordem cronológica, mas com conteúdo.
O esquema semanal apresenta intenções alternativas para alguns dias, como no domingo
em reparação pelos delitos cometidos por ela mesma, ou seja, pela própria Nazarena; no
sábado, para reparar a Virgem Maria “que é tão desprezada”.
Ela apoiava os sacerdotes, sentia o peso de suas infidelidades. Tanto que uma sua Via
Sacra personalizada termina com um apelo às “Seis chagas de Jesus”. Seis, explica-se, porque
a Cabeça (o líder) sofreu mais do que qualquer outro membro pela santificação dos justos, do
clero, dos religiosos”70.
E é talvez uma remanescente desvantagem aquela linguagem simples que ela usa para
exprimir a responsabilidade da oferta de mãe pela causa dos sacerdotes e das outras vocações?
Com este registro linguístico pobre, ela transpõe sob o horizonte da graça o terreno
opaco e amargo de certa realidade. É, por fim, comovente ler os adjetivos negativos para
conotar a infidelidade sacerdotal que provocam calafrios também a nós, apesar de
anestesiados pela falta de senso de pecado. Exatamente uma qualificação, negativa!, com a
exclamação reforçada, é em sua simplificação um sinal de maternidade para com os
sacerdotes necessitados da misericórdia de Deus: ela os sente como filhos e em Deus os
adota. Lembre-se do apóstrofo afetuoso de mães de família com filhos desobedientes, os
maus, os bandidos.
68
Cf. Doc. 353, análise do editor. A partir da lembrança da Irmã Filippina Parisi (1898.1985), apreendemos: “Eu
tinha um lugar na capela ao lado de Madre Maria Nazarena. Muitas vezes, notei que, depois da Comunhão, se
derretia em lágrimas, enquanto em sua postura parecia uma estátua”.
69
Cf. ALBERTO NEGLIA, Madre Nazarena: misticismo como itinerário para Deus, em: Madre Nazarena no
mundo além das coisas - por Rosa Graziano - Anais da conferência de estudo, Messina, de 24 a 25 de janeiro de
2004, Rubbettino 2004, p. 83-97.
70
Doc. 396. É uma referência às penas íntimas, um tema primorosamente ligado ao Rogate da compaixão e do
pecado, especialmente o dos sacerdotes e almas consagradas. Certa vez, por volta de 1920, Nazarena coordenava
as impressões do Relógio da Paixão, de Luisa Piccarreta, com uma a apresentação do Padre Aníbal. Por um erro
de digitação, haviam sido omitidos ou tornados incompreensíveis o ponto em que se dizia que um único instante
das dores íntimas ou morais de Jesus era mais doloroso do que toda a paixão e de todos os sofrimentos de sua
vida. O Fundador advertiu fortemente, que esse erro devia ser alterado. E foi alterado pela Irmã Filomena
Nocera, oficial da tipografia.
O espírito do Rogate era para ela esperança para os novos tempos. Tudo no Rogate
clama a esperança viva de que o Senhor da messe possa transformar a dureza dos corações de
pedra em corações de chamas ardentes.
Uma oração, acima de todas, preenchia as suas horas de adoração até à idade avançada.
Ela a havia memorizado, recebia dela ecos na contraluz das pobrezas humanas e dos altares
que via desertos.
Foi e continua sendo uma oração em que se sente uma ânsia de redenção para todos os
povos da Terra.
Domine messis, Domine messis, mitte operarios em messem tuam, etiam ergo in istam.
Amém.
Senhor da messe, Senhor da messe, envie os operários para a sua messe, portanto,
também para esta messe. Amém.
71
Da Obra de Padre Aníbal, v. I, p. 59 aprendemos que o texto autografado dessa oração foi enviado a Leão XIII
para que ele a indulgenciasse. A primeira publicação foi feita em 1885. Desde então, foi a oração “oficial” das
comunidades masculinas e femininas de Padre Aníbal.
Nesse espaço, sem limites, Nazarena combateu a sua batalha.
Uma batalha de amor da Esposa pelo Esposo Jesus, juntamente com Ele, consumida
pela glória de Deus e pela salvação das almas.
Quando ela rezava e se oferecia particularmente pelos sacerdotes, tinha um olhar não só
para o alto, mas expandia seu coração além dos limites do contexto cotidiano.
Chega de perseguir uma verdade gritante, dificultada pelo sabor de pelo no ovo, a
fraqueza dos pesquisadores.
Talvez mereça uma medalha, o gentil leitor, o leitor amigo que tenha respirado até aqui.
No dia em que foi inaugurado o Jubileu do Ano 2000 em Roma e João Paulo II deu
indulgências generosas, uma mãe de família foi visitada pelo sofrimento.
O marido vagava, sozinho pelas ruas e com os olhos lacrimejando sob as lentes.
“De manhã, recebo a comunhão por sua família”, disse uma velhinha.
Ele se refez: saber-se lembrado nas orações por pessoas que apenas encontrava pelas
calçadas, para ele era uma grande lição.
Ganhava a sua indulgência plenária sobre o altar doméstico, no leito de sua esposa com
derrame vascular paralisante.
Desde então, ele entendeu a força da oração, a pobre arma que coloca um pouco de
eternidade na amargura da terra.
Ele recuperou o seu humor, tudo o que precisávamos era que ele pendurasse a sua
promessa em algum santuário.
Mas não, a oração também mudou seu vocabulário: hoje, para ele tudo é graça.
Nestas páginas, escrevi sobre virgens desconhecidas que, por trás de grades, como mães
cuidadosas alcançavam com o sopro da oração, sacerdotes que nem conheciam.
Não quero dizer mais nada, a não ser convidar-lhe a revisitar esta ou aquela página que
mais se adapte à sua sensibilidade: desejo que a faça sua, como mulher consagrada, como mãe
da família ou mesmo como leigos conscientes, que permite o desígnio de Deus sobre sua
história e sente as preocupações da igreja.
Documento
Oração ao Coração de Jesus pelas vocações
Nas últimas páginas, relatei como Nazarena participou com tanta intensidade dessa
oração, fazendo-a sua, enxertando-a em sua maternidade pelos sacerdotes. Por isso, gostaria
de oferece-la aqui, mesmo que seja de Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927).
Vós tendes fome e sede de almas, dulcíssimo Jesus, e o Vosso coração amoroso se
consome de amor. Tornou-se escasso o número de agricultores de Vossa vinha. Tornaram-se
poucos os bons operários da Vossa Igreja. A luz do mundo se eclipsa, e, os povos ficam nas
trevas da ignorância e do pecado; portanto, as pobres almas perecem, por isso, Satanás devora
as presas, as crianças pedem o Pão da Vida, e não há quem os reparta com elas.
Ó Senhor Deus, movei-Vos à compaixão por tal situação tão miserável, a que foram
reduzidas tantas cidades, e especialmente tantas pequenas vilas do campo, por falta dos bons
operários. Ó Senhor da messe, dignai-Vos enviar santos operários na Vossa messe. Ó Bom
Pastor das almas, enviai os Vossos representantes para salvar o místico rebanho das insídias
do lobo infernal. Nós Vos suplicamos ardentemente com as palavras do próprio Daniel:
Ostende faciem tuam super sanctuarium tuum quod desertum est, propter temetipsum. “Por
Vosso amor, ó Senhor, fazei irradiar a Vossa face sobre o Vosso Santuário que se tornou
deserto” (Dn 9,17). É verdade, Senhor Jesus, que nós não merecemos ser atendidos, e que Vós
não precisais de nós, criaturas, para serdes infinitamente glorioso e feliz; mas é também
verdade que o Vosso Coração amantíssimo geme e se aflige pela perdição das almas, e por
outro lado se alegra e exulta quando as almas são edificadas, santificadas e conduzidas à vida
eterna, por meio dos bons operários.
Fazei-o, portanto, por amor a Vós mesmo, isto é, para a consolação do Vosso Coração
amorosíssimo: enviai santos operários à Vossa messe. Nós Vos suplicamos com aqueles
ardentes suspiros, com os quais os Profetas e Patriarcas suspiravam pela Vossa vinda sobre a
terra: “Que as nuvens do céu chovam o Justo! - diziam eles - e a terra germine o Salvador”; e
nós exclamamos com gemidos ainda mais ardentes: Abra-se, ó Jesus, o Vosso Divino
Coração, e dele venham à vossa Igreja, bons e santos operários. Sim, tirai-os do íntimo do
Vosso Coração, Vós que sois Onipotente para tirar os filhos a Abraão até mesmo das pedras.
Tirai-os daquela fornalha ardente de caridade, enriquecei a Vossa Igreja com este grande e
inestimável tesouro de bons operários!
Senhor Jesus, dignai-Vos mandar o sopro onipotente da santa vocação nos corações de
tantas crianças ou de tantos jovens, cujo espírito, esteja disposto à santificação. Vós que
chamastes Mateus da banca de impostos; Pedro André, Tiago e João, das redes. Sacerdotes
para toda a Igreja nós Vos pedimos, para todos os vilarejos, para todas as cidades, para todos
os lugarejos do campo, para todas as regiões dos não crentes, e Vos pedimos que eles sejam
segundo o Vosso Coração. Vós dissestes: Eu suscitarei o sacerdote fiel que trabalhará
segundo o Meu Coração; e nós Vos suplicamos: Suscitai os sacerdotes fiéis que trabalhem
segundo o Vosso Coração.
Se é grande demais esta graça que pedimos, e se grandes são os pecados das nações,
lembrai-Vos, ó piedosíssimo Jesus, que maior que a nossa maldade é a Vossa Misericórdia.
Fazei superabundar a Vossa onde abundou o pecado. Senhor Supremo da Mística Vinha,
ouvi-nos, enviai santos operários à Vossa messe. Fazei-o por Vossos méritos, fazei-lo por
amor de Maria Santíssima Vossa Mãe e Mãe da Igreja. Lembrai-Vos que os seus lamentos
feriram o Vosso Coração, quando com seus suspiros, à maneira da rolinha, rezou pelo gênero
humano e apressou a Vossa vinda sobre a Terra.
02 de outubro de 1898 Sucede a Melania Calvat, que por um ano dirigiu as Irmãs.
Permanecerá Superiora das Filhas do Divino Zelo
ininterruptamente até 1928.
24 de janeiro de 1934 Foi transferida para Roma na Cúria Geral, onde na solidão
reza, expia pela salvação da Obra e se oferece maternalmente
pelos sacerdotes e as vocações.
11 de maio de 1992 Translado de seus restos mortais de Roma para Messina junto
a Igreja de Santa Maria do Espírito Santo, Casa Mãe das Filhas
do Divino Zelo.
Índice
Apresentação
Mas basta...
Documento
Notas biográficas