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Colégio Universitário – UNIPAM

Segundo ano do Ensino Médio


Disciplina de Sociologia
Prof. Me. Arthur Willian S. Alves

APONTAMENTOS SOBRE PRECONCEITO NA ABORDAGEM DA TEORIA CRÍTICA


(ESCOLA DE FRANKFURT)
FUNDAMENTAÇÃO PARA O TRABALHO DA DISCIPLINA DE ARTES

Base de síntese:
O conceito de preconceito e a perspectiva da teoria crítica – capítulo de José Leon Crochik no livro
“Perspectivas teóricas acerca do preconceito”, organizado pelo autor. (São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2008)1

• O preconceito não é uma questão somente atinente ao indivíduo. A psicologia não é


suficiente para a compreensão do fenômeno.
• Deve-se localizar, na sociedade, o que leva o indivíduo a ser ou não preconceituoso.
• O preconceito deve ser analisado nas relações entre indivíduo e sociedade, uma vez que a
sociedade se reproduz, no que tem de violência, através de indivíduos.
• Pergunta inicial nos estudos sobre a personalidade autoritária: seria possível o fascismo nos
EUA?
• Indivíduos que não podiam ser classificados como autoritários poderiam, contudo, ter
preconceitos.
• Indivíduos com problemas na constituição de sua personalidade: ego frágil, superego
rígido
• O ego frágil não depende necessariamente da ideologia política.
• Ele se manifesta por meio de um modo de pensar estereotipado, indiferençado, a que
Adorno e Horkheimer chamam de "ticket" - trata-se de uma mentalidade generalizadora.
• Esse ticket pode trocar de alvos. Ele expressa uma estrutura social em que a diferença é
perseguida.
• Adorno e Horkheimer estão pensando em como pode surgir uma coletividade fascista,
tendo em vista evitar isso. Como pode a “cadela do fascismo” estar sempre no cio, como
disse Brecht?
• Como podem os sujeitos estarem suscetíveis à propaganda fascista? Que características
comportamentais se aproximam do fascismo?

Convencionalismo: Adesão aos valores convencionais, de forma rígida e inflexível.


Submissão autoritária: Em direção a figuras de autoridade dentro do grupo.
Agressão Autoritária: Contra pessoas que violam os valores convencionais.
Anti-intelectualidade: Oposição à subjetividade e à imaginação.
Superstição e Estereotipia: Crença no destino individual; pensando em categorias rígidas.
Poder e Resistência: Preocupado com submissão e dominação; afirmação de força.
Destrutividade e cinismo: hostilidade contra a natureza humana.
Projetividade: Percepção do mundo como perigoso; tendência a projetar impulsos inconscientes.
Preocupação demasiada com as práticas sexuais alheias.

1 Referenciais originais: Theodor Adorno e Max Horkheimer:


"Elementos do Antissemitismo" (no livro Dialética do Esclarecimento - 1947)
Estudos acerca da personalidade autoritária (1949)
"Preconceito" (texto sobre o tema)
• Para a teoria crítica, o preconceito surge de determinações das condições objetivas. O
indivíduo é determinado.
• A barbárie se expressa apesar da civilização, na forma de uma explosão do que teria sido
reprimido.
• A origem do preconceito está vinculada à racionalidade dominante nas sociedades
industriais. Essa racionalidade suprime a autonomia do indivíduo.
• Além de discriminar seu interesse dos demais, o indivíduo ideal da civilização reconheceria
que sua própria existência depende da existência dos outros. (Ou, como se coloca
frequentemente: “a verdadeira individualidade só é possível na coletividade”.
• Esse indivíduo é um indivíduo consciente, autônomo, senhor da razão.
• No capitalismo industrial, porém, as relações humanas são transformadas em meras relações
coisificadas, sem afetos, mercantilizadas.
• Impõe-se, assim, uma situação de menoridade (Kant) como condição para a sobrevivência.
Como a sobrevivência de todos não é garantida, o indivíduo moderno regride: ele passa a
evocar formas primitivas de compreensão da sociedade, entre as quais está o preconceito.
• O preconceito é contrário à experiência. Pode haver preconceito sem ter havido qualquer
contato. Há antissemitas que nunca conheceram um judeu.
• O indivíduo preconceituoso é contraditório: ele é um tipo humano autoritário que combina
ideias típicas de uma sociedade industrial com crenças irracionais. Ele é ilustrado e
supersticioso, orgulhoso de si e medroso frente aos outros, zeloso de sua independência e
propenso a se submeter cegamente.
• O autoritário presente no fascismo é um forte defensor da ordem vigente. Ele se contrapõe a
todos os que, de uma maneira ou de outra, negam essa ordem.
• Exemplo dessas contradições: a vociferação racista sendo defendida como se fosse liberdade
civil

A psicologia antissemita foi, em grande parte, substituída por um simples ‘sim’ dado ao ticket
fascista, ao inventário de slogans da grande indústria militante… O antissemitismo praticamente
deixou de ser um impulso independente, ele não é mais do que uma simples prancha da plataforma
eleitoral: quem dá uma chance qualquer ao fascismo subscreve automaticamente, juntamente
com a destruição dos sindicatos e a cruzada antibolchevista, a eliminação dos judeus. A
experiência é substituída pelo clichê e a imaginação ativa na experiência pela recepção ávida. (p.
187)

O preconceito não é um fenômeno, sobretudo, cognitivo; antes, ele é contrário ao ato de


conhecer: obsta o conhecimento, a nova forma de pensar se associa com uma distinta
configuração psíquica. (p. 78)

• A partir do que se lê no trecho destacado acima, pode-se apontar que as explicações e os


contra-argumentos racionais não bastam para aplacar o preconceito.
• Adorno e Horkheimer mostraram como o preconceito (e, no limite, formas como o fascismo
e ao antissemitismo) está na constituição histórica da sociedade ocidental e a acompanha
imanentemente.
• “Eles (os judeus liberais) achavam que era o antissemitismo que vinha desfigurar a ordem,
quando, na verdade, é a ordem que não pode viver sem a desfiguração dos homens.”
• os grupos a serem perseguidos variam historicamente:

A cólera é descarregada sobre os desamparados que chamam a atenção. E como as vítimas são
intercambiáveis segundo a conjuntura: vagabundos, judeus, protestantes, católicos, cada uma
delas pode tomar o lugar do assassino, na mesma volúpia cega do homicídio, tão logo se converta
na norma e se sinta poderosa enquanto tal. Não existe um genuíno antissemita e, certamente, não
há nenhum antissemita nato (p. 81).
• Adorno e Horkheimer apontam que o desenvolvimento do capitalismo enseja a dissolução
de elementos sociais como a família.
• Ou seja, há, no capitalismo, uma obsolescência da instituição familiar, que é incompatível,
na origem, com o princípio de troca do capital, uma vez que é baseada em relações de
sangue.
• A dissolução ou a irrelevância da família acelera a atomização social e produz indivíduos
que não têm referência de ego, ou seja, não de diferenciam em relação à exterioridade e, por
conseguinte, tendem a procurar formas de autoridade que propiciem segurança, vantagens
materiais e a possibilidade de descarregar o sadismo sobre os outros.
• O eu, nesse contexto, não se delimita, mas se expande, projeta-se sobre o líder autoritário.
• A escola é outra instituição que, se outrora servia para a formação do eu burguês, agora é
transformada em um espaço de recepção de conhecimentos descartáveis.
• Em fez de fortalecer o sujeito, a escola mercantilizada fomenta a frieza nas relações pessoais
e a força necessária para a sobrevivência.

Esses sujeitos, contudo, negam a sua felicidade e a sua fragilidade, numa sociedade que fomenta a
frieza nas relações pessoais e a força necessária para a sobrevivência. Essa força encobre a sua
fragilidade, que é projetada sobre os que são julgados mais frágeis. O verdadeiro fortalecimento
do sujeito poderia ser obtido pela compreensão do que o impede de ser feliz ou, em outras
palavras, o ódio ao mais frágil e aparentemente mais feliz indica que a felicidade, que já poderia
ser real, deve ser constantemente negada nos próprios sujeitos. A cultura que se representa pela
força e impele à competição e humilhação dos menos aptos força os indivíduos a renunciarem a
qualquer felicidade que não possa ocorrer numa relação de poder. (p. 88. Adaptado.)

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