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Prefácio de Ernani Maria Fiori: o professor tece apontamentos gerais sobre a obra de
Freire. Optei por pormenorizar os conceitos aqui citados a partir de meu entendimento sobre
cada capítulo. Porem, destaco uma passagem que em minha concepção sintetiza o método
desenvolvido por Freire que neste livro apresentado:
“Tudo foi resumido por uma mulher simples do povo, num círculo de cultura,
diante de uma situação representada em quadro: “Gosto de discutir sobre isto porque vivo
assim. Enquanto vivo, porém, não vejo. Agora sim, observo como vivo”.” P.9 do pdf
Capítulo 1
O livro pontua mais profundamente pontos antes abordados no livro Educação como
Pratica da Liberdade acrescentando novas nuances a discussão. Os homens pouco sabem de si
e essa máxima gera sua enorme inquietação por saber mais sobre seu lugar no mundo,
deslocam-se para o centro dessa problemática e suas questões os levam sempre a outras.
Constatar essa inquietude desvela o grave problema da desumanização enquanto uma
realidade histórica.
A violência a que estão submetidos os oprimidos não os torna ‘menos’, pois ao serem
dados como menos esses, cedo ou tarde, são levados a lutar contra quem os fez menos “e esta
luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar recuperar sua humanidade,
que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de
fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos.” p. 20 Nesse
sentido, Freire pontua a restauração da humanidade de ambos como sendo a grande tarefa
humanista e histórica dos oprimidos. Essa libertação, só será alcançada pela práxis da busca,
pelo reconhecimento e conhecimento do quão necessário é lutar por ela.
A preocupação desse trabalho é apresentar uma pedagogia do oprimido feita com ele e
não para ele, mecanismo esse que o conduzira a libertação. A problemática central esta
porem, no fato de que enquanto os homens não tomarem consciência de que são hospedeiros
do poder opressor a libertação não se efetivará. A descoberta critica do oprimido enquanto
oprimido e opressor enquanto opressor pelo oprimido é a chave para a efetivação da
humanização que prega esta pedagogia. No entanto, como estes se formam na existência,
situação concreta onde o seu conhecimento do que é ser oprimido esta em acordo à sua
imersão na realidade opressora, é decorrente que em um primeiro momento após essa
descoberta o oprimido se torne um subopressor, pois sua aderência ao opressor não possibilita
que este se enxergue enquanto classe oprimida, é esse o seu testemunho de humanidade.
“Desta forma, por exemplo, querem a reforma agrária, não para libertar-se, mas para
passar a ter terra e, com esta, tornar-se proprietários ou, mais precisamente, patrões de
novos empregados.” P.21
A superação desse ponto não poderá se dar em termos idealistas, embora subjetividade
seja fundamental para modificar as estruturas, mas sim práticos, a realidade concreta dos
oprimidos tem de deixar de ser um mundo fechado ao qual estão presos, fator que que leva a
temer a liberdade, mas sim encarada enquanto uma condição passageira, que por hora os
limita mas que eles podem modificar “é fundamental, então, que, ao reconhecerem o
limite que a realidade opressora lhes impõe, tenham, neste reconhecimento, o motor de
sua ação libertadora.” P.23 Assim, subjetividade e objetividade se colocam em constante
dialética no curso dessa mudança.
Na dualidade existencial a qual estão imersos os oprimidos, quase sempre não chegam
a localizar o opressor concretamente, pois introjetam seus modos, assim atribuem sua situação
a uma espécie de fatalismo natural ignorando por completo as razoes que geram seu estado de
opressão. Essa ordem invisivel na qual estão imersos, gera frustrações que por muitas vezes
os levam a praticar violências horizontais contra seus companheiros, demonstrando assim,
mais uma vez, a dualidade que os guia pois, agredindo eles agride indiretamente o opressor
hospedado neles. Há ainda no oprimido, em algum momento de sua alienação, uma inegável
atração pelos padrões de vida do opressor que faz com que queiram se parecer a todo custo
com este. Isso se dá, sobretudo, nos oprimidos de “classe média” que almejam se igualar ao
“homem ilustre”. Dentro dessa visão inautêntica sobre si e o mundo a sua volta o oprimido se
resigna assumindo sua sina, sentindo-se enquanto uma “quase coisa” de propriedade do
opressor que dita as regras desse mundo. A autodesvalia é outro aspecto que merece destaque,
pois de tanto ouvir a forma que os opressores os vem os oprimidos passam a crer que de fato
são incapazes. Essa característica no entanto, passa a sofrer alterações conforme se modifica a
situação opressora ruma a libertação:
Capítulo 2