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Capítulo 5

Abordagem sócio-cultural

5.1. Características gerais

Uma das obras referentes a esse tipo de abordagem,


que enfatiza aspectos sócio-político-culturais, mais signifi­
cativas no contexto brasileiro, e igualmente uma das mais
difundidas, é a de Paulo Freire, com sua preocupação com
a cultura popular.
O fenômeno da preocupação com a cultura popular sur­
ge após a II Guerra Mundial e se liga à problemática da
democratização da cultura. Em países industrializados, o
Movimento de Cultura Popular volta-se para os valores que
caracterizam um povo em geral. Já nos países do Terceiro
Mundo, esse movimento tem-se voltado freqüentemente, por
exemplo, para as camadas sócio-econômicas. inferiores, e
uma de suas tarefas tem sido a de alfabetização de adultos.
Parte sempre do que é inerente ao povo, sobretudo do que
as pessoas assimilaram como sujeitos, não lhes fornecendo,
portanto, coisas prontas, mas procurando trazer valores que
são inerentes a essas camadas da população e criar condi­
ções para que os indivíduos os assumam e não somente os
consumam.
O Movimento de Cultura Popular no Brasil, até 1964,
contribuiu para a elaboração de uma verdadeira cultura, a
partir de uma motivação de cunho vivencial. Tratava-se de

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um trabalho com o objetivo de possibilitar uma real parti­ consc1encia crítica, cujas características serão analisadas
cipação do povo enquanto sujeito de um processo cultural. posteriormente, que ele assumirá cada vez mais esse papel
A proposta de Paulo Freire é também aqui analisada, de sujeito, escolhendo ,e decidindo, libertando-se, enfim.
pois supõe-se que os educadores brasileiros, ou pelo. menos O homem é um ser que possui raízes espaço-temporais:
parte deles, possam ter tido informações a seu respeito, é um ser situado no e com o mundo. É um ser da práxis,
quer nos cursos de formação de professores, quer na lite­ compreendida por Freire como ação e reflexão dos homens
ratura disponível, o que, igualmente, pode ter influenciado sobre o mundo, com o objetivo de transformá-lo.
suas concepções de homem; mundo, cultura, educação, as­
sim como a sua ação educativa.
Em termos de posicionamento, a obra de Paulo Freire 5. 3. Sociedade-cultura
consiste numa síntese pessoal de tendências tais como: o
neotomismo, o humanismo, a fenomenologia, o existencia- O homem cria a cultura na medida em que, integrando­
lismo e o neomarxismo. .se nas condições de seu contexto de vida, reflete sobre ela
e dá respostas aos desafios que encontra. Cultura, aqui, é
entendida como
5. 2. Homem e mundo
...todo o resultado da atividade humana, do esforço criador
Consideram-se aqui ambas as categorias conjuntamente, e recriador do homem, de seu trabalho por transformar e es­
tabelecer relações dialogais com outros homens. (Freire, 1974a,
pois se trata de abordagem interacionista, embora com ên­ p. 41)
fase no sujeito como elaborador e criador do conhecimento.
Na obra de Freire, o homem é o sujeito da educação e, Desta forma, cultura constitui a aquisição sistemática da
apesar de uma grande ênfase no sujeito, evidencia-se uma experiência humana, aquisição esta que será crítica e cria­
tendência interacionista, já que a interação homem-mundo, dora e não simplesmente armazenamento de informações
sujeito-objeto é imprescindível para que o ser humano se justapostas, que não foram incorporadas ao indivíduo total.
desenvolva e se torne sujeito de sua práxis.
Segundo esta abordagem, não existem senão homens Nesse sentido é lícito dizer que o homem se cultiva e cria a
cultura no ato de estabelecer relações, no ato ãe responder aos
concretos, situados rio·. tempo e no espaço, inseridos num
desafios que a natureza coloca, como também no próprio ato
contexto sócio-econômico-cultural-político, enfim, num con­ de criticar, de incorporar a seu próprio ser e de traduzir por
texto histórico. uma ação criadora a experiência humana feita pelos homens
Considerando-se esta inserção, a educação, para ser vá­ que o rodeiam ou que o precederam. (Freire, 1974a, p. 41)
lida, deve levar em conta necessariamente tanto a vocação
ontológica do homem (vocação de ser sujeito) quanto as A história consiste, pois, nas respostas dadas pelo ho­
condições nas quais ele vive (contexto). mem à natureza, aos outros homens, às estruturas sociais,
O homem chegará a ser sujeito através da reflexão so­ e na sua tentativa de ser progressivamente cada vez mais o
bre seu ambiente concreto: quanto mais ele reflete .sobre a sujeito de sua práxis, ao responder aos desafios de seu con­
realidade, sobre a sua própria situação concreta, mais se texto. Consiste também numa cadeia· contínua de épocas,
torna progressiva e gradualmente consciente, comprometi­ caracterizadas por valores, aspiràções, necessidades, moti­
do a intervir na realidade para mudá-la. vos. Uma época se cumprirá na medida em que seus temas
Sendo o homem sujeito de sua própria educação, toda são captados e suas tarefas realizadas, e torna-se superada
ação educativa deverá promover o próprio indivíduo e não quando os seus temas e tarefas não são mais pertinentes às
ser instrumento de ajuste deste à sociedade. Será graças à novas necessidades que surgem.

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A participação do homem como sujeito na sociédade,
na cultura, na história, se faz na medida de sua conscienti­
zação, a qual implica a desmitificação. O opressor mitifica
1 codificada) é necessario que ele reconheça o objeto como
uma situação na qual se encontra com outros sujeitos. É ne­
cessária a análise de sua situação concreta, existencial, co­
a realidade e o oprimido a capta de maneira mítica e não dificada. Esta codificação exige que se passe do abstrato
crítica. Daí a necessidade do trabalho huma:nizante ser ini­ ao concreto, da parte para o todo, para depois se voltar no­
cialmente um trabalho de desmitificação, consistindo a cons­ vamente às partes.
cientização num processo de tomada de consciência crítica A distribuição das diversas modalidades de consciência
de uma realidade que se desvela progressivamente. Os mi­ varia do ponto de vista de• sua ocorrência social relativa­
tos ajudam a manter a realidade da estrutura dominan1;e. mente à conjuntura histórica do país considerado.
Quando os temas são ocultos pelas situações-limite, si­
... a consciência crítica da realidade nacional é requisito
tuações que não são percebidas claramente, as respostas imprescindível para a revolução que venha a arrancar o país
dos homens, sob forma de uma ação histórica, não poderão do estado de subdesenvolvimento econômico. Mas, é seguro
ser cumpridas, quer de maneira autêntica, quer crítica; Os também que essa só ocorrerá pela constituição de uma ideo­
homens são incapazes de transcender. essas situações-limite logia que, vinculada às massas, por elas compreendida e incor­
para verificar o que existe além delas. Quando o ser huma­ porada, desencadeia um movimento social, de que o aspecto
no percebe estas situações-limite como a fronteira entre ser econômico é apenas um setor, que termina por fazer a comu­
e ser mais humano, começa a trabalhar de maneira cada nidade ascender a outro plano de existência histórica. Nisso
vez mais crítica, para alcançar o possível ainda não experi­ consiste a revolução nacional. (Vieira Pinto, 1960, p. 94)
mentado.
Os indivíduos que são servidos pela existência e manu­ No caso de sociedades latino-americanas, que se apre­
tenção de situações-limite momentâneas consideram o pos­ sentam, em geral, como sociedades fechadas desde o tempo
sível não experimentado como situação ameaçadora, que a da conquista por espanhóis e portugueses, a cultura do si­
todo o cUsto deverá ser impedida de realização. Dessa for­ lêncio tomou forma. De modo geral, estas sociedades con­
ma, trabalham para a manutenção do status quo. tinuam ainda fechadas, dependentes, sendo que as mudan­
Para Paulo Freire, o tema fundamental de nossa época ças que normalmente ocorrem estão relacionadas com os
pólos de decisão de que essas sociedades são. objeto, em
constitui o da dominação que supõe seu contrário, o tema da
libertação, como objetivo a ser alcançado. (Freire, 1974a, p. 34)
diferentes momentos históricos.
Tais sociedades, em geral, caracterizam-se por: estrutu­
A libertação não se chegará por acaso, mas pela práxis de ra social hierárquica e rígida; falta de mercados internos já
sua busca. que sua economia é controlada pelo exterior; exportação de
matérias-prinías e importação de produtos manufaturados;
Para realizar a humanização que supõe a eliminação da sistema precário e seletivo de educação, sendo a escola um
opressão desumanizadora, é absolutamente necessário transcen­
instrumento de manutenção do status quo; alta porcentagem
der as situações-limite nas quais os homens são reduzidos ao
de analfabetismo e de evasão escolar; enfermidades decor­
estado de coisas. (Freire, 1974a, p. 34)
Humanização e desumanização, dentro da História, num
rentes do subdesenvolvimento e da dependência econômica;
contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens tênue esperança de vida e elevada taxa de criminalidade.
como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão. (Frei­ As sociedades objeto são sociedades dependentes carac­
re, 1975c, p. 30) terizadas por processos culturais alienados, onde, obviamen­
te, o próprio pensamento-linguagem é alienado. Não há ma­
Só a humanização é vocação do homem. Muitas vezes, para nifestação de pensamento autêntico. Seu conceito de rea­
que o sujeito se reconheça no objeto (a situação existencial lidade não corresponde à realidade objetiva, mas à realida-

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de que o homem alienado imagina. O homem alienado não ra original. Não há receitas ou modelos de respostas, mas
se relaciona com a realidade objetiva, como um verdadeiro tantas respostas quantos forem os desafios, sendo igualmen­
sujeito pensante: o pensamento é dissociado da ação. O ho­ te possível encontrar respostas diferentes para um mesmo
mem alienado é atraído pelo estilo de vida da sociedade do­ desafio. A resposta que o homem dá a cada desafio não só
minante e não se compromete com o seu mundo real. Sua modifica a realidade em que está· inserido, como também
forma de pensar é reflexo do pensamento e expressões da modifica a si próprio, cada vez mais e de maneira sempre
sociedade dominante. Por seu lado, as sociedades dominan­ diferente (perspectiva interacionista na elaboração do conhe­
tes também sofrem processos de alienação ao se convence­ cimento).
rem da infalibilidade de seu pensamento. A elaboração e o desenvolvimento do conhecimento es­
Durante os processos de transição, no entanto, pelos tão ligados ao processo de conscientização. O conhecimen­
quais essas sociedades podem passar, e passarão· em virtude to é elaborado e criado a-partir do mútuo condicionamento,
de mudanças econômicas, o caráter estático da sociedade pensamento e prática. Como processo e resultado, consiste
fechada dá lugar progressivamente a um dinamismo que ele na superação da dicotomia sujeito-objeto.
se apresenta em todas as dimensões da vida social. As con­ O processo de cpnscientização é sempre inacabado, con­
tradições emergem, provocando conflitos e os velhos mode­ tínuo e progressivo, .é uma aproximação crítica da realidade
los da sociedade fechada já não são mais válidos, quarido as que vai desde as formas de consciência mais primitivas até
massas se constituem em presença histórica que surge. As a mais crítica e problematizadora e, conseqüentemente, cria­
etapas de transição dessas sociedades são caracterizadas por dora. Implica a possibilidade de transcender a esfera da
períodos históricos, que são os mais problematizadores e os simples apreensão da realidade para chegar a uma esfera
mais criativos.. Numa democracia autêntica, pois, os indi­ crítica, na qual o homem assume uma posição epistemoló­
víduos não se reduzem a objetos para o poder constituído, gica: a ·realidade se dá como um objeto cognoscível ao ho­
mas são co-responsáveis e co-participantes desse poder, em mem. Conscientização implica e consiste, portanto, um con­
forma de co-gestão. tínuo e progressivo des-velamento da realidade, "quanto
Ora, acontece que existe uma diversidade enorme entre os mais se des-vela a realidade, mais se penetra na essência
homens não só politicamente, mas, também, social, cultural, fenomenológica do objeto que se pretende analisar" (Frei­
econômica e religiosamente. A democracia deve, então, buscar re, 1974a, p. 30). A nova realidade torna-se objeto de uma
a unidade nesta diversidade, mediando a todos pelo mesmo nova reflexão crítica.
objeto, a nova comunidade a ser instaurada. Daí que num re­
gime autenticamente democrático devem estar incluídos todos Faz-se necessário, pois, identificar algumas caracterís­
os homens como, igualmente, deve haver lugar para todas as ticas definidoras de cada tipo de consciência. A tipologia
ideologias. Caso tal não se realize, estará acontecendo uma apresentada a seguir é ba1?eada em A. V. Pinto (1960).
mitificação enganadora sob a capa da democracia. (Jorge, 1981, Consciência intransitiva - É caracterizada pela quase
p. 13) centralização dos interesses do homem em torno das formas
mais vegetativas de vida. As preocupações do indivíduo
(se e quando as tem) são circunscritas ao domínio do que
5. 4. Conhecimento
nele há de vital, do ponto de vista biológico. É um tipo de
O homem se constrói e chega a ser sujeito na medida consciência à qual falta historicidade e é característica das
em que, integrado em seu contexto, reflete sobre ele e com populações das regiões pouco desenvolvidas. Representa um
ele se compromete, tomando consciência de sua historici­ quase descompromisso do homem com a sua existência, pois
dade. O homem é desafiado constantemente pela realidade dele escapa a apreensão dos problemas que extrapolam a
e a cada um desses desafios deve responder de uma manei- esfera estritamente biológica. O indivíduo não percebe de

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forma clara - e nem tem condições para isso - os condi­
cionantes das ações humanas em resposta aos desafios que
a. vida lhe apresenta. Para ele as características do objeto
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sentação do real de um país é produzido e o faz, não apenas
para apreciar a gênese psicológica de tal representação, mas
principalmente para descobrir a natureza e a extensão das
e dos estímulos se confundem, e, portanto, as explicações ações que sobre ela exercem os fatores que a condicionam.
que dá sobre os fenômenos são explicações mágicas. Esse Está permanentemente atenta para denunciar as influências
tipo de consciência, no entanto, não corresponde a um fe­ a que está submetida e para criticá-las. Interessa-se em des­
chamento absoluto e irreversível do homem, esmagado por cobrir os determinantes de seu conteúdo, pois sabe que eles
espaço e tempo todo poderosos. O homem em qualquer existem, e tem por tarefa lógica distingui-los e avaliá-los.

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estágio que esteja, é sempre ontologicamente aberto. Realiza tal empreendimento indagando sobre a legitimidade
Consciência transitiva ingênua - Continuam presentes, de · seus enunciados e procurando as influências que os ex­
neste nível, as explicações mágicas fornecidas em relação à pliquem. A finalidade que impõe a si própria é a de revela­
transferência da responsabilidade e da autoridade, e à subes­ ção consciente destas influências. É uma consciência diri­
timação do homem comum. Este tipo de consciência se ca­ gida à objetividade, aberta às coisas e aos acontecimentos
racteriza por forte inclinação ao gregarismo - pertinente à e voltada para a convivência com os homens. Vê a si pró�
massificação """""" pela impermeabilidade à investigação, pelo pria em função do mundo, explica-se em termos de depen­
gosto por explicações fabulosas e pela fragilidade de argu­ dência histórica, sente-se condicionada pelo processo social
mentação. O indivíduo atém-se ao passado e exibe saudo­ e justifica-se como variável no processo social, de acordo
sismo, prestando pouca atenção ao presente, por ele consi­ com as alterações da realidade. Caracteriza-se igualmente
derado como época sempre inferior, medíocre e vulgar. Ale­ 1 por não renegar a noção de liberdade individual e por ten­
ga que o período atual é caracterizado por dissolução de
valores e instituições. Manifesta pessimismo e visão catas­
. 11 tar conciliá-la com os fatores que sobre ela atuam, restrin­
gindo-a e condicionando-a. É necessário que se diga que a

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trófica do presente, assume atitude de resistência a todos consciência que investiga a si própria, como é o caso desta
os projetos modificadores da realidade, e expõe-se, conse­ modalidade de consciência, tem como núcleo de todas as
qüentemente, a uma contradiç�o: declara que as condições suas estruturas e reações, a propriedade de ser uma cons­
do presente são miseráveis, mas se opõe a qualquer modi­ ciência histórlca. Sua_ representação do real é condicionada
ficação que estabeleça condições inéditas de existência. por objetividade relativa, não possuindo o caráter de ver­
Uma das modalidades deste tipo de consciência .é a atitude a dade eterna e refletindo, pois, o momento que lhe dá ori­
reacionária, cujos elementos principais implicam: defender gem. É sensível ao ritmo das transformações do mundo, à
as regalias de grupos sociais ou de situações econômicas compreensão da queda e do aparecimento de valores que
privilegiadas, em ser cega em relação a esses condiciona­ proponham modificar as condições de vida. Conseqüente­
mentos, - julga estar falando em nome da verdade, sem mente, é uma consciência anti-reacionária e antecipadora.
compreender que erigiu em ideologia sua própria condição A passagem da consciência predominantemente intransi­
privilegiada - e em absolutizar esta situação, fazendo dela tiva para a predominantemente transitiva ingênua se faz,
um paradigma lógico e. moral. segundo Paulo Freire, de forma paralela à promoção dos
padrões econômicos da comunidade. Esta promoção é au­
Consciência transitiva - Caracteriza-se por manifestar tomática; no entanto, a promoção da consciência predomi­
consciência de sua dependência, indagando sobre os fatores nantemente transitivo-ingênua para a predominantemente
de que depende e, como estes, não se dá a conhecer à pri­ transitivo-crítica não se--dá-aütom.àticamente, mas apenas
meira vista, exigindo uma análise epistemológica. É uma quando inserida num trabalho educativo com esta destina­
forma crítica de pensar, pois que busca identificar e com­ ção. A criticidade implicará, portanto, uma crescente apro­
preender os motivos e procedimentos pelos quais a repre- priação, pelo homem, de seu contexto.
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5. 5. Educação educandos. Geralmente, pensamos que estamos a trabalhar
para os homens, isto é, com os homens, para a sua libertação,
Toda ação educativa, para que seja válida, deve, neces­ para a sua humanização, contudo, estamos a utilizar os mesmos
sariamente, ser precedida tanto de uma reflexão sobré o ho­ métodos com os quais impedimos os homens de se tornarem·
mem como de uma análise do meio de vida desse homem livres. Isto passa-se deste modo precisamente porque estamos
concreto, a quem se quer ajudar para que se eduque. O ho, impregnados de mitos que nos tornam incapazes de desenvol­
mem se torna, nesta abordagem, o sujeito da educação. ver um tipo de ação a favor da liberdade, da libertação. Assim,
A ausência de uma reflexão sobre o homem implica o não é apenas necessário saber que é impossível haver neutra­
risco de adoção de métodos educativos e diretrizes de tra­ lidade da educação, mas é absolutamente necessário definir am­
oalho que o reduzem à condição de objeto. Por outro lado, bas estas ações diferentes, antagônica13. Por isso, preciso de
a ausência de uma análise do meio cultural implica o risco analisar, de conhecer, de distinguir esses difürentes caminhos
no campo da educação. (Freire, 1975b, p. 24)
de se realizar uma educação pré-fabricada, não adaptada ao
homem concreto a quem se destina. A educação é fator de suma importância na passagem
É preciso que a educação esteja em seu conteúdo, em seus das farmas mais primitivas de consciência para a consciência
programas e em seus métodos, adaptada ao fim que se persegue: crítica, que, por sua vez, não é um produto acabado, mas
permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pes­ um vir-a-ser contínuo.
soa, transformar o mundo e estabelecer com os outros homens · Para Paulo Freire, a educação tem caráter utópico.
relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história. . . (Frei­
re, 1974a, p. 42)
Quando deixa de ser utópica, não mais enfocando a unidade
anunciar-denunciar, é porque o futuro já não significa nada
·I para o homem ou porque este teme arriscar seu futuro por

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O homem não participará ativamente da história, da
sociedade, da transformação da realidade, se não tiver con­ ter conseguido dominar a situação presente. Essa esperan­
dições de tomar consciência da realidade e, mais ainda, da ça utópica implica compromissos cheios de riscos e terá de
sua própria capacidade de transformá-la. ser um ato de conhecimento da realidade d.enunciada, tanto
É preciso que se faça, pois, desta tomada de consciên­ ao nível de sua alfabetização como de sua pós-alfabetização,
cia, o objetivo primeiro de toda a educação: provocar e cria:r que são, em ambos os casos, ação cultural.
condições para que se .desenvolva uma atitude de reflexão

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crítica, comprometidá com a ação.
A educação se dá, enquanto processo, em um contexto 5.6. Escola
que deve necessariamente ser levado em consideração.
Na obra de Paulo Freire, a educação assume caráter
Todavia, na verdade, a neutralidade da educação é im­ amplo, não restrita à escola em si e nem a um processo
possível, como impossível é, por exemplo, a neutralidade de educação formal. Caso a escola seja considerada, deve
na ciência. Isso quer dizer que não importa se como edu­ • ser ela um local onde seja possível o crescimento mútuo,
cadores somos ou. não conscientes, a nossa atividade desen­ J. do professor e dos alunos, no processo de conscientização,
volve-se ou para a libertação dos homens - a sua humaniza­ o que implica uma escola diferente da que se tem atualmen­
ção - ou para a sua domesticação - o domínio sobre eles.
Precisamente por causa disso penso que é muito importante te, com seus currículos e prioridades.
esclarecer as diferentes formas de ação no campo educacional, A posição de Paulo Freire fica bastante clara em sua
a fim de tornar possível a nossa verdadeira· opção ou escolha. a.presentação contida no livro Cuidado, Escola (Harper et
Se a minha escolha é a da libertação, a da humanização, é-me alii, 1980):
absolutamente necessário ser esclarecido de seus métódos, téc­ Enquanto categoria abstrata, instituição em si, portadora
nicas e. processos que tenho de usar quando estou diante ,dos de uma naturezâ imutável da qual se diga é boa, é má, a escola
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não existe. Enquanto espaço social em que a educação formal, 2 . Atitude fatalista: o oprimido introjeta o opressor.
que não é toda a educação, se dá, a escola na verdade não é, É ele e ao mesmo tempo o outro, daí assumir atitudes fata­
a escola ESTA SENDO HISTORICAMENTE. . . A compreen­ listas frente à situação concreta de opressão em que se en­
são do seu ESTAR SENDO, porém, não pode ser lograda fora contra, quando não chega a localizar o opressor e não chega ·
tj.a compreensão de algo mais abrangente que ela - a socie­ a ter consciência de si. Este fatalismo é muito mais o fruto
dade mesma na qual se acha. A educação formal que é vivida
de uma situação histórica e social do que um traço essencial
na escola é um subsistema do sistema maior.
da forma de ser do povo.
As relações entre eles - subsistema e sistema maior -
não são contudo mecânicas. Se não se pode pedir à escola, 3 . Atitude de autodesvalia: há, em certos momentos
o que vale dizer, à educação formal, que se torne alavanca das da experiência existencial dos oprimidos, uma irresistível
transformações sociais, não se pensa, por outro lado, que ela atração pelo opressor, por sua maneira de viver; passam a
seja um puro reflexo do sistema que a engendra. querer, em sua alienação, não só parecer com o opressor
como também segui-lo e imitá-lo.
A escola, pois, para Paulo Freire, é uma instituição que 4 . O medo da liberdade ou a submissão do oprimido:
exist0 num contexto histórico de uma determinada socieda­ na relação opressor-oprimido, um dos elementos básicos é
de. Para, que seja compreendida é necessário que se enten­ a imposição de uma consciência à outra. A consciência que
da como o poder se constitui na sociedade e a serviço de recebe ordem e se transforma em consciência hospedeira
quem está atuando. da consciência opressora. Assim, o comportamento do opri­
mido se situa dentro dos ditames dos opressores, manifes­
tando por um lado a falta de confiança em si mesmo e, por
5. 7. Ensino-aprendizagem outro, a crença mágica no opressor.

A pedagogia do oprimido, segundo Paulo Freire, é aque­ Uma situação de ensino-aprendizagem, entendida em
la que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto seu sentido global, deverá procurar a superação da relação
homem ou povo, na luta incessante de recuperação de sua opressor-oprimido. A superação deste tipo de relação exi­
humanidade. Uma pedagogia que faça da opressão e de ge condições tais como: reconhecer-se, criticamente, como
suas causas o objeto de sua reflexão, resultando daí o enga­ oprimido engajando-se na práxis libertadora, onde o diálo­
jamento do homem na luta por sua libertação. go exerce papel fundamental na percepção da realidade
opressora; solidarizar-se com o oprimido, o que implica
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada
assumir a sua situação e lutar para transformar a realida­
pela contradição vivida na situaçãc concreta, existencial em
de que o torna oprimido; transformar radicalmente a situa­
que o oprimido se forma, resultando daí conseqüências tais ção objetiva, entendida como a transformação da situação
como (Freire, 1975c) : concreta que gera a opressão ( tarefa histórica dos homens ) .
1 . Seu ideal é ser mais homem, mas pará ele ser ho­ Ensino e aprendizagem assumem um significado amplo,
mem, na condição em que sempre esteve e cuja superação tal qual o que é dado à educação. Não há restrições às si­
não lhe está clara, é ser opressor. Assume uma atitude de tuações formais de instrução.
aderência ao opressor e assim não consegue descobri-lo fora A verdadeira educação, para Freire, consiste na educa­
de si. Esta aderência ao opressor não permite a consciência ção problematizadora, que ajudará a superação da relação
de si mesmo como pessoa e nem a consciência de classe opressor-oprimido. A educação problematizadora ou cons­
oprimida. Somente na medida em que o oprimido se des­ cientizadora, ao contrário da educação bancária, objetiva o
cobrir hospedeiro do opressor poderá contribuir para uma desenvolvimento da consciência crítica e a liberdade como
pedagogia libertadora. meios de superar as contradições da educação bancária, e

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responde à essência de ser da consciencia, que é a sua in­ A educação, portanto, é uma pedagogia do conhecimen­
tencionalidade. A dialogicidade é a essência desta educa­ to, e o diálogo, a garantia deste ato de conhecimento. Pa­
ção. Educador e educando são, portanto, sujeitos de um ra que sejam atos de conhecimento, o processo de alfabe­
processo · em que crescem juntos, porque " . . . ninguém edu- . tização de adultos,; .assim como qualquer outro tipo de ação
ca ninguém, ninguém se educa; os homens se educam en­ pedagógica, devem comprometer constantemente os âlunos
tre si, mediatizados pelo mundo". (Freire, 1975c, p. 63 ) com a problemática de suas situações existenciais.
o educador é sempre um sujeito cognoscente, quer
quando se prepara, quer quando se encontra dialogicamen­ 5.8. Professor-aluno
te com os educandos. A educação problematizadora im­
plica um constante ato de des-velamento da realidade, e A relação professor�aluno é horizontal e não imposta.
é um esforço permanente, através do quai os homens vão Para que o processo educacional seja real é necessário que
percebendo criticamente como estão sendo no mundo. E�­ o educador se torne educando e o · educando, por sua vez,
ta educação supera, pois, o autoritarismo do educador ban­ educador. Quando esta relação não se �fetiva, não há edu­
cário assim como o intelectualismo alienante e a falsa cons­ cação. O homem assumirá a posição de sujeito de sua pró­
ciência do mundo. pria educação e, para que isto ocorra, deverá estar cons­
A ação do homem, sem objetivos, não constitui práxis cientizado do processo: é, portanto, muito difícil pretender
e sim uma ação ignorante de seu próprio processo históri­ participar de um processo educativo q�e, por sua vez, é .
co · e de sua finªlidade. A base da ação planificada do ser processo de conscientização, a :µienos que se seja conscien-
humano (inter-relação entre a consciência do objeto pro­ te de si e de tal processo.
posto e o projeto empreendido para alcançá-lo) implica Um professor que esteja engajado numa prática trans­
opções de valor, métodos e objetivos. formadora procurará desmitificar e questionar; com o alu­
Em tal contexto, o processo de alfabetização de adul­ no, a cultura dominante, valorizando a linguagem e cultu­
tos é compreendido como um ato de conhecimento, que im­ ra deste, criando condições para que cada um deles ana­
plica diálogo autêntico entre professor e aluno. "O verda­ lise seu contexto e produza cultura. Os conteúdos dos tex­
deiro diálogo une os homens na cognição de um objeto cog­ tos utilizados serão constantemente analisados no sentido
noscível que se antepõe entre eles" (Freire, 1975d, p. 29). de expressarem pontos de vista do autor e do grupo social
Neste processo, os alunos deverão assumir desde o início .e cultural que representam, e os ,qonhecimentos científicos
o papel de sujeitos criadores. Aqui é necessário que se analisados como um produto histórico , representando a
considere a unidade pensamento-ação, pois, para Paulo Frei­ interpretação física, biológica, psicológica etc. dos fenôme­
re, os aspectos cognitivos do processo de alfabetização de­ nos, num , determinado momento concreto. O professor
vem incluir necessariamente as relações dos sujeitos com procurará criar condições para que, juntamente com os alu­
seu mundo. nos, a consciência ingênua seja superada e que estes pos­
Aprender a ler e a escrever deveria ser uma oportunidade sam perceber . as contradições da sociedade e grupos em
para que o homem saiba qual é o significado verdadeiro de que vivem.
"falar a palavra", um ato humano que implica reflexão e ação. Haverá preocupação com cada aluno em si; com o pro­
Deveriam ser considerados como um direito humano primordial cesso e não com produtos de aprendizagem acadêmica pa­
e não o privilégio de poucos. Falar uma palavra não é um ato dronizados. O diálogo é desenvolvido, ao mesmo tempo
verdadeiro se não está ao mesmo tempo associado com o di­ em que são oportunizadas a cooperação, a união, a organi­
reito de "expressar a si mesmo", "expressão do mundo'', crian­ zação, a solução em comum dos problemas. Os alunos,
do e recriando, decidindo, elegendo e, finalmente, participando
do processo histórico da sociedade. (Freire, 1975d, p. 30)
pois, participarão do processo juntamente com o professor.
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5.9. Metodologia verdadeira consiste em transmitir o mundo e em transfor­
má-lo.
O método de alfabetização elaborado por Paulo Freire A palavra destituída de ação transforma-se em verba­
reflete sua abordagem sobre educação. Neste método, a
codifica't;ão inicial consiste numa espécie de figura, um de­ lismo. Quando, porém, se enfatiza a ação, sem reflexão, a
senho representativo de . uma situação . existencial real ou p�la_vr� se convert: em ativismo. E a ação pela ação, ao
construída pelos alunos. Ao elaborar essa representação, mm��mzar a reflexao, nega a práxis vercladei:rn,, Jlllpedindo
os alunos realizam uma operação de distanciamento do o dialogo. Qualquer destas dicotomias gera distorçõei;; no
objeto cognoscível. Desta forma, professor e alunos pode­ pensar. Somente atrávés do diálogo será possível demo­
rão refletir conjuntamente de forma crítica sobre os obje­ cratizar a cultura. Esta democratização implica (Maciel
tos que os mediatizam. 1963, p. 30): igualdade ontológica de todos os homens aces� ·
sibilidade ilimitada ao conhecimento e à cultura e �omu­
A codificação repr�senta uma dimensão da realidade nicabilidade ilimitada do conhecimento e da cultura.
dos indivíduos, e implica análises realizadas num contexto
É a partir da consciência que se tenha da realidade
diferente. daquele no qual eles vivem. Transforma, pois, o
que consistia numa maneira de viver, no contexto real; em que . �e irá buscar o _ conteúdo programát;.ico da educação.
um objeto do contexto teórico. Os alunos poderão receber O dialogo da educaçao como prática da -liberdade é inau­
informações e analisar os aspectos de sua . própria expe­ gurado no momento em que é realizado o ,que Paulo Frei­
riência existencial que foi representada na codificação. re denomina de universo temático do povo ou o conjunto
A busca do tema gerador objetiva explicitar o pensa­ de seus temas geradores. A investigação deste universo
mento do homem sobre a realidade e sua ação sobre ela, temático implica uma metodologia que não pode contradi­
o que constitui a sua práxis. Na medida em que os ho­ zer a dialogicidade da educação libertadora. Sendo dialó­
mens participam ativamente da exploração de suas temáti­ gica e conscientizadora, proporciona não só a apreensão
cas, sua consciência crítica da realidade se aprofunda. dos temas geradores, mas a conscientização destes.
A busca da temática implica busca· do pensamento dos O método de Paulo Freire implica .. nas seguintes fases:
homens, pensamento este que se encontra somente no meio ievantamento do universo vocabular dos grupos com quem
deles, os quais, reunidos, indagam a realidade. A posição se trabalha; escolha das palavras geradoras; criação de si­
interacionista de Freire - é bastante clara: os homens, en­ tuações existenciais típicas do grupo · que será alfabetiza­
qu�nto seres em situação, encontram-se imersos em condi­ do; criação de fichas-roteiro e elaboração de fichas com
ções espaço-temporais que neles influem e nas quais eles a decomposição das famílias fonéticas correspondentes aos
igualmente influem, consistindo. o desenvolvimento nesta vocábulos geradores e ficha de descoberta, contendo as fa­
interação construtivista. mílias fonêmicas, que é utilizada para a descoberta de no-
Utilizando situações vivenciais do grupo, em forma de . vas palavras com aquelas sílabas.
debate, Pauló- Freire delineou seu método de alfabetização, Na etapa de alfabetização, a educação problematizado­
que tem como características básicas: ser ativo, dialógico na busca investigar a palavra geradora e, na pós-alfabetiza­
e crítico: criar um conteúdo programático próprio, e usar ção, os temas geradores. Apesar de intimamente ligada à
técnicas tais como redução e codificação. educação de adultos, ao processo de alfàbetização, a abor­
O diálogo implica relação :b,orizontal de pessoa a pes­ dagem de Paulo Freire considera a educação como um pro­
soa, sobre alguma coisa, e nisto reside o novo conteúdo pro­ cesso contínuo de tomada de consciência e de modificação
gramático da educação. A palavra é vista em duas dimen­ de si próprio e do mundo, o que tem profundas implica­
sões: a da ação e a da reflexão. Não há palavra verdadeira ções no ensino de 1.0, 2.0 e 3.º graus.
que não/ seja práxis. Daí se afirmar que dizer a palavra

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5 . 10 . Avaliação na, indivíduos e/ ou grupos de indivíduos podem permane: .
cer no período simbólico, intuitivo, ou mesmo no operató­
A verdadeira avaliação do processo consiste na auto­ rio concreto, não chegando aos estágios finais de desenvoí­
-avaliação e/ou avaliação mútua e permanente da prática vimento do pensamento hipotético-dedutivo.
educativa por professor e alunos. Qualquer processo for­
mal de notas, exames etc. deixa de ter sentido em tal abor­ . . . por um lado (e isto na evolução mental do indivíduo,
como na sucessão histórica das mentalidades) , existem escalas
dagem. No processo de avaliação proposto, tanto os alu­ sucessivas de estruturação lógica, isto é, de inteligência prática,
nos como os professores saberão. quais suas dificuldades, intuitiva ou operatória. Por outro lado, cada uma dessas es­
quais seus progressos. "A avaliação é da prática educati­ calas (sendo que várias podem coexistir numa mesma socieda­
va, e não de um pedaço dela." (Freire, 1982, p. 94 ) de) é caracterizada por certo modo de cooperação ou de in­
teração social, cuja sucessão representa o progresso da socia­
lização técnica ou intelectual mesma. (Piaget, 1973b, p, 103)
5 . 11 . Considerações finais

Numa abordagem sócio-cultural a educação assume ca­


ráter amplo e não se restringe às situações formais de en­
sino-aprendizagem.
A análise presente no entanto contrapõe-se · essencial­
mente ao que foi denominado ensino tradicional e ao ensi­
no decorrente da abordagem comportamentalista, princi­
p almente pelos seus pressupostos relativos a homem, mun­
do, educação etc. A ciência, considerada geralmente neu­
tra nesta última abordagem, é explicitada na abordagem
sócio-cultural como um produto histórico; a educação, sem­
pre como um ato político; o conhecimento como transfor­
mação contínua e não transmissão de conteúdos programa­
dos; a regulação da aprendizagem como tendo sempre o
sujeito como centro e hão a comprovação de desempenhos
com normas ou critérios pré-fixados.
Na abordagem sócio-cultural, no entanto, o aspecto téc­
nico da educação não é descartado. É considerado relacio­
nado a todo um processo do qual não pode ser enfocado
como independente, tampouco ser priorizado.
É interessante se considerar, ainda, as formas de cons­
ciência e todo o processo de conscientização analisados por
Freire, em comparação com o processo de desenvolvimen­
to menti:i,l proposto por Piaget, não somente sob a perspec­
tiva ontogenética mas também filogenética.
· Na proposta de Freire, � promoção da conscientização
se faz de estágios mais primitivos aos mais elaborados, po­
dendo tanto o indivíduo, como toda uma sociedade, perma­
necer ao nível de consciência ingênua. Na teoria piagetia-
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