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Resenha de Livro
Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 17ª ed.
Esta obra foi desenvolvida, graças ao contacto do autor com os operários, camponeses e
outros trabalhadores, do qual foi possível entender a posição destes em relação aos das
classes dominantes. Na sua reflexão crítica da pedagogia, o autor afirma que a educação
dos indivíduos deve-se basear no diálogo, na liberdade e na busca da fé, para o despertar
da consciência dos oprimidos, que são controlados pelos opressores.
A obra está divida em quatro capítulos. Antes destes capítulos surge uma breve
introdução, em que o autor salienta a presença do “medo da liberdade” como o obstáculo
à conscientização dos oprimidos. Segundo o autor, a consciência crítica permite ao sujeito
expressar-se sobre as injustiças sociais e a combater a opressão (p. 15).
O autor defende a ideia, de que os homens precisam de unir-se para libertarem-se como
indivíduos. Os oprimidos necessitam observar o opressor e reconhecer o seu potencial,
para a sua libertação. Este processo engloba a reflexão crítica e ação libertadora,
formando assim a práxis. Desta forma, é através da “liderança revolucionária” que a
liberdade dos oprimidos se torna possível (p.34).
No capítulo II, o autor apresenta o conceito da “concepção bancária” da educação, como
um instrumento da opressão. Com base no autor, o educador atua como um agente e “real
sujeito”, cuja sua tarefa predomina-se em depositar no educando, os conteúdos da sua
narração. Neste processo de “concepção bancária”, compete apenas ao educando receber,
decorar e repetir. Por consequência, os educandos não irão desenvolver sentido crítico e
por isso, não irão sentir necessidade de haver mudanças sociais (pp. 37-40).
Outra ideia que surge é a de que ninguém se educa a si mesmo, mas sim, os homens
educam-se entre si. É necessário passar de uma “educação problematizadora” para uma
educação de libertação, superando a contradição bancária. O processo de “educação
libertadora” tem de basear-se na relação recíproca de aprendizagem entre o educador e
educando em comunhão. É neste momento que o homem se encontra num “movimento
de busca”. A busca do ser-se humano em comunhão, será possível para combater a relação
contraditória entre os opressores e oprimidos (pp. 44-48).
No último capítulo, Paulo Freire pretende analisar a teoria da ação antidialógica. O autor
afirma que “os homens são seres da práxis (…) e seres do puro fazer”. No entanto, na
liderança não pode haver homens que apenas detenham a prática, é essencial a reflexão
para a práxis ser autêntica. Esta “práxis revolucionária” tornará possível derrubar a práxis
das “elites dominadoras” (pp.77-78).
O antídoto para derrubar estas características, faz parte da teoria dialógica. Para alcançar
a liderança revolucionária junto das massas, é necessário um diálogo espontâneo e
empático de ambas a partes, para que não seja contraditório. A teoria da ação dialógica é
composta pela colaboração, união para a libertação, organização e a síntese cultural
(p.101).
Por fim, como uma necessidade de intervenção a nível macro, surge o método do Serviço
Social de Comunidade. De acordo com Maria Andrade, o Serviço Social de Comunidade
conceitua-se como um processo de “(…) desenvolvimento social dos indivíduos e a sua
orientação pela promoção das relações eficientes e úteis entre eles em busca de um
desenvolvimento equilibrado e harmonioso (…)”. Este método atua num todo, com vista
a estimular a mudança social e a participação ativa (Andrade, 2008, p.285).
Então é a partir desta estimulação dada pelo último método do Serviço Social, que
considero importante abordar a grande obra de Paulo Freire, a Pedagogia do Oprimido.
Ao longo da leitura da sua obra, apesar de complexa, foi possível entender a ideia de que
existem desigualdades na sociedade que necessitam de ser reivindicadas.
Com base, na observação do autor feita aos indivíduos das várias classes sociais da
sociedade brasileira, o autor interpreta a sociedade como oprimida, sendo que é necessária
a mudança para uma sociedade democrática, libertadora e consciente. Freire, dá
importância ao conceito de conscientização, uma vez que permite “(…) a compreensão
global do país de modo a gerar ações que promovessem o desenvolvimento nacional e
consolidassem a democracia.” (Scheffer, 2013, p. 295).
Antes dos considerados oprimidos partirem para a ação, o autor salienta a necessidade da
reflexão e instrução, de forma a realizar a práxis correta. É nesta via, que considero os
métodos de Serviço Social de caso, de grupo e de comunidade como a base para a reflexão
e subsequente, ação.
Primeiramente, as ideias de democracia, de cidadania ativa e do bem comum que Paulo
Freire defende, vão ao encontro da forma de atuação do Serviço Social. Sendo que, com
base na tríade dos três métodos de caso, grupo e comunidade, a luta da integração dos
oprimidos na sociedade será possível (Scheffer, 2013, p. 295).
Em segundo lugar, Paulo Freire refere a importância da união entre os que querem ser
libertados das opressões e daqueles que permitem que haja essa libertação. Este é um tipo
de intervenção que compete ao Assistente Social. Os profissionais têm como função, dar
ouvidos às necessidades dos seus utentes e incentivá-los a encontrar soluções, praticando
a escuta ativa.
Nas sociedades opressoras, o Assistente Social tem o poder de despertar nos indivíduos
o desejo da transformação para uma vida justa e digna. A obra de Freire ajuda-nos a
compreender a importância de “práticas pedagógicas”, como um meio de libertação dos
oprimidos face às desigualdades sociais. A prática educativa, feita através do diálogo,
permite incentivar no indivíduo, uma atitude política. Por isso, considero relevante o
papel daqueles que trabalham junto da sociedade, uma vez que conhecem as necessidades
e as potencialidades sociais (Scheffer, 2013, p. 299).
Outra ideia da importância de Paulo Freire para o Serviço Social, é o pensamento biófilo
de Freire. O autor defende que os indivíduos são biófilos, mais especificamente, são seres
humanos que têm amor à vida, e não máquinas. É por isso que o autor aborda a
necessidade do processo de humanização, ou seja, tornar-se humano. Só desta forma será
possível a libertação do oprimido, feita através da pedagogia e da ação. Com base nesta
ideia ressalvo a visão do Serviço Social aos seus utentes, como seres humanos, e não
como números (Scheffer, 2013, p. 302).
Em último lugar, a influência deste autor contribuiu para a mudança de um Serviço Social
assistencialista para um Serviço Social crítico. Na medida em que a intervenção social,
deixa de se focar nas fragilidades do indivíduo, mas sim na valorização e estímulo das
potencialidades do mesmo, com o objetivo de promover o desenvolvimento pessoal e
social.
FREIRE, P. (1987). Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.