PRÁTICA DA VIA MARTINISTA: UMA ABORDAGEM MAIS REALISTA DA INICIAÇÃO MARTINISTA
Essa é a tradução do francês para o português de um
documento sobre exercícios práticos que se encontra em minha possessão e altamente esclarecedor sobre a Via Martinista, que poucos conhecem no Brasil, e talvez no mundo. A parte do documento traduzido não revela a essência dos “exercícios de despertar psíquico” destinados exclusivamente aos Irmãos e Irmãs desta memorável Ordem. Ele nos comunica e faz saber apenas que a Ordem Martinista, ao contrário do que muitos pensam e defendem, não é uma Ordem tão passiva assim, que reúne apenas um bando de “carolas” que só fazem rezar e esperar que tudo que lhes caia do céu exatamente como nas religiões exotéricas, induzindo-os a um estado de hipnose iniciática ou paz temporária para seus medos e frustrações com relação às incertezas que nutrem sobre a vida espiritual. Esse veneno, esse ranço religioso que tem penetrado a fundo muitos círculos iniciáticos com o objetivo de induzir os adeptos a mais completa indolência (preguiça e passividade) necessita ser tratado como uma doença psíquica das mais graves. Isso tem induzido muitos dos que se dizem “iniciados” a uma crença no poder absoluto do Mal e, com o simples objetivo de justificar a passividade, a negligência e o ócio, defeitos e vícios de sua pessoa como ações ou incitações de entidades maléficas. Afirmam ser perigosos os exercícios de despertar e expansão da consciência. Nunca se ouviu algo tão contraditório ao espírito e essência do pensamento do Filósofo Desconhecido. Por isso, recomendo a leitura urgente da obra de Saint-Martin:Dos Erros e da Verdade, na qual em seu primeiro capítulo esclarece a Origem do Mal como uma percepção e concepção humana apenas; não como uma essência Universal, como tantos têm defendido.
“Todas as ideias absurdas, falsos conceitos, preconceitos,
interpretação errada dos símbolos místicos universais encontram origem em uma mesma e comum fonte: a falta de prática, relaxo e ócio dos adeptos. São manobras mentais do ego não transmutado para justificar seus vícios e perseverar no caminho do puro engano.” “Com isso, o diabo, essa figura mítica e criada pelo senso de oportunismo, encontra perfeita acolhida e aceitação nas mentes deslumbradas pela preguiça, vaidade e orgulho, assim como a teoria de um salvador que já fez todo o trabalho pelo adepto, por meio de seu sacrifício na cruz, deixando-o liberado de todo o esforço individual para sua ascese espiritual; o qual é entregue nas mãos de intermediários entre ele e Deus.” “Com o desvio e interpretação ao pé da letra da palavra Reparador, muito usada no Martinismo, o Diabo e Jesus Cristo se abraçam em um enlace conspiratório ímpar na história da evolução da raça humana; um para criar o medo, o terror, o pavor; o outro para induzir o homem a cruzar os braços, a ser preguiçosos, vagabundos e esperarem que lhe venham do alto todas as benesses celestiais sem nada fazer, bastando para isso que tenham fé. Com isso, Jesus e o Diabo são os dois lados da mesma realidade, pois que um depende do outro para ter sua existência. É o verso e o anverso da mesma moeda. Até quando o ser humano, isso também inclui os que se dizem „iniciados‟, permanecerão neste sono hipnótico da imbecilidade espiritual? Até quando a forma externa será tomada pela essência?” “Refiro à indústria de exploração da fé e das necessidades humanas que colocou Jesus Cristo como acionista máximo da Bolsa de Valores do mundo inteiro, assim como a mercadoria mais barata de uma loja de 1,99, tendo o Diabo como seu sócio principal num jogo aparente de disputa de poder entre o céu e a terra, na qual o ser humano é colocado como foco central dessa luta aparente – criando, desse modo, mais elementos para afagar e engrandecer a vaidade humana. Essa união favorável Diabo X Jesus, um tenta e outro que salva; e Jesus X Diabo, um que salva e o outro que corrompe, é que abre a porta para os oportunistas e mercadores da fé, uma vez que, pautada na preguiça e na passividade da salvação „prêt-à-porter‟ (pronta-entrega) do mundo capitalista, se torna mercadoria altamente rentável para os mercadores e negociantes (intermediários entre Deus e homem) na redenção da alma humana. Esta, sim, é rejeitada pela iniciação que é um trabalho individual intransferível e de todos os dias da vida do adepto.” A tentativa desesperada de justificar a necessidade da salvação sobre conjeturas infundadas e sofismas (especulações puramente intelectuais e não baseadas na experiência mística) tem levado muitos ao erro, ao engano, e com isso, passam anos de sua vida terrena sem avançar sequer um passo em direção à Iluminação ou Reconciliação. O Cristo pregado na Cruz ainda é tomado ao pé da letra e, com isso, um símbolo místico e cabalístico de fundamental importância na realização do ser permanece mal interpretado e desvirtuado de seu verdadeiro propósito. Esses modelos gastos e deteriorados de uma época primitiva do pensamento humano não podem e não devem predominar nos meios ocultos e iniciáticos como vem acontecendo nos tempos atuais. Na verdade, esse modo de pensar só tem produzido loucos alucinados, doentes mentais e desequilibrados; menos iniciados ou Adeptos Perfeitos. O Cristianismo vem sendo imposto mais como um veneno para alma do que como forma de redenção para a mesma, pois ainda conserva o caráter político da época de Constantino, e o caráter comercial da época da Reforma Religiosa, promovido pelo Capitalismo emergente, como instrumento de diminuição do poder da Igreja Romana. O Protestantismo só deu certo como movimento religioso, porque os interesses econômicos da sociedade burguesa, oprimida por modelos sócio-religiosos de exploração que ofuscavam seus interesses comerciais e econômicos, viu no novo movimento uma oportunidade para romper com esse domínio, por isso o patrocinou. O mesmo se sucedeu com os modelos do Feudalismo, que foram substituídos mais tarde pelo Absolutismo. A história nos dá o testemunho de todos eles. Com isso, a evolução das religiões e da fé não podem ser desvinculadas dos modelos econômicos e sociais predominantes em cada época porque se reportavam às massas. O que difere dos modelos iniciáticos, normalmente frutos de um trabalho de aprofundamento místico e ascese espiritual de seus fundadores, como é o caso de Martinez de Pasqually, com seus Elus Cohen do Universo, e Louis-Claude de Saint-Martin com seu Martinismo, e Jean-Baptiste Willermoz com seu Rito Escocês retificado, que se reportavam a uns poucos interessados em transcender os dogmatismos impostos pelas religiões cristãs vigentes.
O texto abaixo segue completado com nossas notas especiais
de esclarecimentos para tornar mais amplo o seu entendimento por parte de todos os leitores.
PRÁTICA DA VIA MARTINISTA: UMA ABORDAGEM MAIS
REALISTA DA INICIAÇÃO MARTINISTA
O presente corpo, ritual e simbólico, é destinado ao uso
exclusivo dos Irmãos e Irmãs do Colégio que formamos. É importante, então, considerá-lo como estritamente pessoal, reservado unicamente ao nosso trabalho.
Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes:
O trabalho exclusivo refere-se ao Martinismo prático destinado a todos os Irmãos e Irmãs de Ordem, assim como todos os que têm afinidades com a obra do Filósofo Desconhecido.
Da maneira como foi pensado e realizado, este conteúdo é
inicialmente baseado sobre a tradição própria ao Martinismo dito “russo”, amplamente “herdeiro” (com outros) da Tradição dos Elus Cohen, assim como de algumas vias que saíram da Rosa-Cruz; tal era o nosso desejo inicial, sempre foi esse o nosso escopo. Não obstante, é ao Martinismo em geral que atribuímos os trabalhos de nosso Colégio, assim é considerado. De fato, através desta via, o objeto, a meta principal deste corpo é de conduzir, passo a passo, o ser de desejo sincero e zeloso que anseia pela via teúrgica, e neste quadro particular o esoterismo judaico-cristão. Existe, aí, certamente, um caminho, entre outros, igualmente válidos e dignos de serem estudados; todavia – reservando-nos de todo sincretismo, assim como de toda dispersão – é somente este que retém toda nossa atenção, todos os nossos esforços. Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: Este trecho prova de forma contundente que não existem desavenças entre o Martinismo de Louis-Claude de Saint-Martin e as práticas teúrgicas realizadas pelos Elus Cohen, que podem ser conciliadas em uma única e mesma escola. É importante notar também que todos os Martinistas de destaque após Louis-Claude de Saint- Martin foram teurgos altamente ativos. O que desmente a característica de perigo das práticas mágico-teúrgicas.
Quanto à “Teurgia Martinezista” (e, partindo, das do Martinismo
em geral), se algum de nossos documentos é particularmente a ela consagrada (com os rituais em uso em nosso Colégio), é importante notar desde agora que toda nossa abordagem (a exemplo de nossos predecessores) necessita de um bom conhecimento do conjunto do corpo Elus Cohen, tanto teoricamente quanto na prática, assim como uma circunstância mínima de sua elaboração.
Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes:
As condições mínimas a que se referem o texto diz respeito ao TREINAMENTO MÁGICO, que dever ser observado por todo adepto na realização de sua iniciação, mas que, infelizmente é posto de lado. É a partir das práticas individuais e diárias que devem ser realizados os rituais e iniciações de Templo; não o inverso. Infelizmente, a negligência, a preguiça e a falta de disciplina são as que mais predominam no mundo iniciático moderno (face social da ostentação, o ter por ter; dane-se o ser), por isso nos deparamos com tantos “iniciados” medíocres com toda a mentalidade, defeitos, medos, fobias, preconceitos e vícios dos mais comuns entre os homens.
É o objetivo essencial da base dos documentos, livros que a
constituem que são comunicados ao iniciado por meio de instrução: permitir a todo Irmão, a toda Irmã, engajados na via da iniciação Martinista, sob os auspícios da Rosa-Cruz de ter acesso ao material original, com vistas a compreender definitivamente o espírito de nossos trabalhos e o que os conduziu à sua forma atual. Este material, contrariamente ao presente corpo, não é exclusivamente nosso e pode, por isso, servir a todo buscador sincero externo ao nosso Colégio.
DA UTILIDADE DOS EXERCÍCIOS
“[…] é ainda possível ao homem de reencontrar, e em si mesmo, e nas imagens passageiras de suas potencialidades convencionais e terrestres os vestígios daquilo que deveria ser. (Louis-Claude de Saint-Martin, Ecce Homo).” Os exercícios propostos em nosso trabalho constituem uma ferramenta de despertar dos planos superiores do ser e estão destinados a favorecer o desenvolvimento psíquico. O encadeamento deles é concebido de maneira a permitir este despertar com o máximo de eficácia, sempre evitando os riscos inerentes a toda técnica não controlada e mau adaptada. Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: Esta é a base do que constitui aquilo que chamamos de TREINAMENTO MÁGICO, indispensável a todo o candidato e buscador sincero da Magia Prática e Ritualística. E é justamente na negligência deste que se encontra a base do desequilíbrio mental, pois não desejam a Magia como ciência de evolução da alma, mas sim para angariar glórias e prestígios mundanos. A preguiça dá origem à vaidade que assim pensa: “Por que eu vou fazer esse exercício bobo? Ninguém está vendo mesmo! Se perguntarem, eu digo que fiz todos os dias”. Ou ainda se reveste sobre essa máscara; “Para quê eu vou fazer esse exercício idiota, eu estou muito além disso, minhas [encadernações] passadas me dizem que estou muito elevado para me rebaixar a este ponto”. Pasmem! Isso de fato acontece com muito mais frequência no mundo iniciático do que possa imaginar. A preguiça apoia a vaidade, e esta se escora na preguiça para justificar-se entre si.
Por gradação, das quais eles são o objeto (certos princípios
são retomados no decurso de diferentes exercícios, espalhados no conjunto), quisemos instaurar uma escala progressiva que permitisse a necessária preparação de cada um para trabalhos de natureza mais elevada. Deve-se, então, ficar claro que, em uma primeira etapa, o estudo deles e a colocação em prática deve ser feita de modo imperativo e na ordem em que são dados e classificados; cada exercício deve ser corretamente assimilado antes de passar-se ao seguinte. É fazendo assim somente que se tirará o máximo de proveito do valor de cada um e, principalmente, evitar-se-á o risco de acidentes, sendo sua colocação em prática uma condição indispensável a esse despertar (progressivo e prudente) ao qual o candidato à iniciação aspira. Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: Mais uma vez a preguiça humana trabalhando contra a iniciação e os exercícios praticados no silêncio e no retiro cogitará: “Bom, despertar progressivo significa que não precisa ser tão rígido como são propostos os exercícios, e basta aí apenas 10 ou 15 minutos e já posso voltar a navegar nas redes sociais, snapchat e whatsapp”. Em síntese, pode-se passar mais de três ou quatro horas caçando assunto na rede, e na maioria das vezes, a madrugada inteira, todavia, cinco minutos de dedicação ao exercício parecem levar a eternidade. Tempo e Iniciação é uma questão de prioridade, infelizmente, a Iniciação que não pode ser ostentada não é prioridade do assim dito “iniciado”. Depois, recorrem a um Mago experiente para este afaste de suas vidas os diabos que estão lhe atentando e desviando-o do caminho. Há aqueles ainda que recorrem a mim para que medite em seus lugares, enquanto passam mais de duas horas em conversa telefônica com a namorada. Para as coisas do espírito não encontram tempo, para as fúteis sobra tempo, e até demais. Pasmem! Isso acontece com os que se julgam mais evoluídos e adiantados do que a maioria!!!
De fato, toda iniciação – e este é o objetivo – torna
indispensável uma boa preparação do indivíduo. Citemos a advertência seguinte extraída daCabala Prática de Robert Ambelain: Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: A parte sublinhada e em itálico é uma marca nossa para destacar a importância do trabalho individual realizado no isolamento e no silêncio.
“[…] quando uma iniciação é muito poderosa, ou para qual nós
temos uma afinidade particular, desperta em nós o centro de Tifereth ou de Kether [...], nós devemos em seguida ser submetidos a um período mais ou menos longo de tentações e provas morais de todos os tipos […]. É que o Ruach Elohim foi desperto de modo imprudente e que, por sua vez, acelerou de maneira anormal a “irradiação” de uma das últimas Sefiras inferiores: Yesod… (Op. cit. Bussières, Paris, 1992, p. 207)” Daí, mais uma vez, a necessidade de uma preparação adequada de qualquer um que pretenda a Iniciação: ou de alguma forma que ela assuma. Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: É preciso sempre colocar em destaque aquilo que chama a atenção do adepto e para aquilo a que deve prestar atenção em seu processo iniciático, por isso os trechos sublinhados. É preciso lembrar e reforçar sempre que toda a segurança em Magia depende do praticante e são unicamente suas ações que determinará o sucesso, o fracasso e a perda da sanidade mental em práticas mágicas. Por essa mesma razão, reforçamos sempre que a vaidade, a preguiça, a falta de disciplina estão na base de queda e erro do mago, por isso vemos muitos por aí afora que, brincando de alakazam e Harry Potter, acabam sofrendo os reveses e ataques de formas-pensamento deletérias que atraíram para si por sua falta de responsabilidade; não pela ação de demônios (seres divinos do grego daimon). Estes últimos sequer tomam conhecimento das palhaçadas realizadas em nome da vaidade e da tentativa de reconhecimento público. O pessoal anda assistindo muito aquele seriado SUPERNATURAL. Todo iniciado sério e que conhece a Teurgia Prática repudia aquilo.
Insistimos então sobre um ponto: não se deve em caso
nenhum esforçar-se por obter, a qualquer preço, resultados, nem consagrar mais tempo do que o razoável para a prática de cada exercício; é preciso deixar as coisas acontecerem, dar tempo aos efeitos para que apareçam no ritmo que nos é – para cada um – adequado, e para que as técnicas abordadas se integrem progressivamente ao nosso ser. Sobre este ponto, o mesmo autor nos adverte:
Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes:
Este trecho também dá outra âncora para a preguiça e a para o relaxo. O tempo mínimo para as práticas que é preciso cumprir se estende de 30 a 1 hora. À medida que o grau de concentração aumenta é possível estender esse tempo para uma hora e meia, ou mesmo, duas a três horas. O tempo inicial de 10 a 15 minutos é praticamente destinado ao relaxamento do corpo físico e ao controle dos pensamentos. São muitos os que tomam esses efeitos como definitivos da prática, movidos que estão pela ansiedade de retornar para a internet. Tenha sempre em mente que o esforço gera a aptidão. E quando perdemos a noção de tempo no exercício significa que nossa consciência saltou para um grau maio de VONTADE.
“Com muita frequência e impaciente por ter, enfim, uma
“experiência” pessoal, a explosão de um sentimento violento nos dá uma ilusão particularmente prejudicial. Um fenômeno qualquer se produz, induzindo a ser tomada por uma realização espiritual. De fato, enquanto a purificação da afetividade não estiver concluída […], um perigo deve ser temido por ocasião de uma elevação da consciência produzida de maneira prematura. […]. desde então, nossa natureza que conserva ainda suas impurezas, escorrega em seus impulsos animais e suas lembranças biológicas… (Ibid., p. 206-207). Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: De fato, efeitos relativos são tomados como definitivos e são muitos os que saem por aí para expor esses efeitos parciais e muito fracos como verdades cósmicas reveladas, passam a fundar grupos de magia e arrastar um séquito de imbecis que lhe dão ouvidos. Sua vaidade é maior do que seu desejo de aprimoramento interior. Este é um dos efeitos de despertar indevido do qual fala Amberlain. As impurezas escondidas no subconsciente vêm à tona e manifestam com clareza na personalidade e a dominam. Por isso, vemos tantos loucos preconizar o fim do mundo e que estão aqui para salvar a humanidade. Um detalhe muito importante: nenhum deles quer ser crucificado e expiar os pecados do mundo. Por que será???
Se o número de nossos exercícios permite a experimentação
de certos princípios, e pode somente ser postos em prática ocasionalmente, outros, mais precisamente (técnicas de despertar) são destinados a um uso regular; mais que isso, alguns constituem, de fato, rituais com objetivos bem específicos. De qualquer forma, o papel geral deles é conduzir progressivamente o “caminhante” à Iluminação, meta última de toda a iniciação verdadeira. Sempre do mesmo autor, meditemos nas linhas seguintes, extraídas de A Alquimia Espiritual: “Os Mestres misteriosos que suscitaram, primeiramente, Martinez de Pasqually, lhe confiaram as chaves da regeneração universal […]. Por conseguinte, suscitaram Louis-Claude de Saint-Martin, seu discípulo mais imediato, e confiaram-lhe as chaves da reconciliação individual. Mas é muito evidente que é inútil atacar o problema da Regeneração do Universo e de seus componentes, se não for executada uma ação semelhante e paralela em nós mesmos! (Op. cit., La Diffusion Scientifique, Paris, 1985, La Réintegration universelle, p. 128)”
Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes:
Este trecho é genial porque aborda diretamente a responsabilidade individual com relação à Iniciação que cada adepto deve ter. Este é um dos aspectos mais centrais do Martinismo e do pensamento de Louis-Claude de Saint-Martin, característica, diga-se de passagem, muito intrínseca da Alta Magia Teúrgica, que muitos pretendem negar ao Martinismo.
Entretanto, se é verdade que os exercícios (qualquer que seja
o sistema – válido – do qual formam o conjunto de suas práticas), que desempenham uma importante função no despertar do ser, não é menos verdade que seríamos levados ao engano se nos mantivéssemos a operar somente no físico, negligenciando o espiritual. Sobre este ponto, quanto ao “físico” propriamente dito, escutemos o conselho experiente de Louis-Claude de Saint-Martin, evocando “o vício da ciência hermética” (sic): “A meta [que os filósofos herméticos] buscam é o do despertar de todos os seres; é o da felicidade […]. Seria de se esperar que sua caminhada fosse tão segura e tão sensata quanto a pressão interna de seus desejos; porém, infelizmente, fixando-se continuamente sobre o físico, eles fecham as portas à inteligência. (Sequência de instruções sobre um outro plano, em Presença de Louis-Claude de Saint-Martin, atos do colóquio na Universidade de Tours, Société Ligérienne de Philosophie, L’Autre Rive, Tours, 1986, p. 110)” Nota do Soberano Colégio dos Magos Praticantes: Esta concentração sobre físico refere-se à iniciação na forma externa de ritos simbólicos e não na iniciação interna empreendida pelas práticas individuais de cada adepto. A iniciação simbólica ou externa é incapaz de promover a transmutação interna se ela não tiver o apoio e dedicação do adepto em suas disciplinas individuais. O ritual de Templo ou coletivo deve ser a somatória das VONTADES individuais exaltadas pelo trabalho solitário para realizar o Divino Coletivo; e não o inverso. É primeiramente a realização do um para o Todo (Formação da Egrégora), de pois do Todo para o um (influência da Egrégora sobre os indivíduos que a compõem e a alimentam). Eis o significado exato de “Paz na Terra aos homens de Boa Vontade” tão mal interpretada no Evangelho do Cristo. A Boa Vontade e paz é uma questão de realização e de um querer ativo; não um simples ato passivo de fé.
É, por conseguinte, certo que uma ferramenta de
desenvolvimento é aqui confiada aos homens de desejo, de acordo com a expressão felizarda: todavia, esta ferramenta (que é apenas uma entre tantas) não deve ser considerada como superficial! Que ela seja, então, colocada em operação, todas as vezes em que se fizer necessária, a fim de que ela conduza à meta buscada; e que, então, como um bastão de apoio que afirma nossa utilização momentânea, que seja em seguida posto de lado, para que nos consagremos unicamente ao essencial… Fonte de pesquisa: Colégio Martinista – documentos básicos gerais, Colégio Tifereth
Com isso concluímos, mais uma importante tradução e
bastante esclarecedora sobre o Martinismo e os Elus Cohen em sua prática, da perfeita harmonia que existe entre o espírito e filosofia de Louis-Claude de Saint-Martin com os ensinamentos de sua antiga escola e com a nova corrente iniciática da qual foi o propulsor. É claro que somente o presente texto ainda não é o suficiente para lançar todas as luzes necessárias sobre o assunto. Daremos sequência, na medida do possível, com mais traduções, textos e artigos esclarecedores. Por hora, vale lembrar que o Filósofo Desconhecido atribuía uma singular preocupação com a participação individual do adepto em sua busca pela Reconciliação, uma característica predominantemente afeita à prática da Teurgia. Todo seu na Luz do Soberano Colégios dos Magos Praticantes! Charles Lucien de Lièvre – S:: G:: M::