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GRANDE ORIENTE DE NAVEGANTES
Aug\ e Resp\ Loj\ Simb\ Luz de Navegantes n° 3033

PEÇA ARQUITETÔNICA:

“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”

A\ M\ Rafael Diogo Theiss


Navegantes – SC
27/01/2016
A presente Peça Arquitetônica trata-se de uma síntese acerca de
pesquisa realizada sobre o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que é
parte do estudo filosófico do grau de Aprendiz Maçom.
Inicialmente, cumpre destacar que o lema maçônico “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade” é reconhecido mundialmente, sendo que a
Maçonaria imprime esforços para que esse lema se torne realidade e alcance a
humanidade como um todo.
Antes de abordar objetivamente o significado simbólico desse lema, é
necessário fazer uma breve contextualização histórica da sua possível origem.
Pois bem, o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” está
diretamente associado à Revolução Francesa (1789-1799), mas segundo a
doutrina pesquisada, não teve origem na Ordem Maçônica.
Inicialmente, o lema da revolução era “Liberdade, Igualdade, ou a
Morte”, e somente em 1848, com a Segunda República é que se tornou
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Ocorre que o lema acabou sendo vulgarizado pelos maçons que
trabalhavam sob a influência da Grande Loja da França, talvez por isso, muitos
acreditam que sua origem tenha sido maçônica.
Esse tema é tão interessante que voltei aos livros de história para
relembrar alguns fatos dos quais já não lembrava, como a origem da revolução
francesa, seus ideais e os fatos que mudaram o rumo da história com a
ascensão do iluminismo.
De certa forma, fiquei um tanto apreensivo quanto a participação da
maçonaria na revolução, pois apesar de ter sido um marco na mudança de
paradigmas e dogmas da época, com o início da república e a criação de
direitos individuais, não me fora ensinado nos tempos da escola, o quão
sangrenta e violenta havia sido referida revolução.
Segundo fontes bibliográficas históricas, durante a Revolução
Francesa, ocorreu um período que durou aproximadamente um ano e foi
denominado de “Terror”. Durante esse período, e sob a liderança de Maximilien
Robespierre, as garantias civis foram suspensas e o governo revolucionário,
controlado pela facção do partido jacobino, perseguiu e assassinou seus
adversários, cerca de 17.000 (dezessete mil) pessoas foram executadas.
Eis que da necessidade em eliminar tantos condenados de forma
igualitária e célere, surgiu a tão famosa guilhotina (nome herdado da
homenagem ao seu criador, o médico francês Joseph-Ignace Guillotin).
A repressão aos membros de outro partido revolucionário, porém
menos radical, conhecido como girondino, tornou-se uma perseguição geral a
todos os que discordavam da Revolução segundo o ponto de vista dos
jacobinos, inclusive, alguns elementos da própria facção jacobina receberam a
sentença de morte pelo Comitê de Salvação Pública, liderados por
Robespierre.
Ao findar de uma breve pesquisa, me parece que a Maçonaria foi
sobrepujada por uma revolução que apenas influenciou através do pensamento
dominante da época, divergente inclusive entre seus membros, mas sem
efetivamente ter planejado que tal fato e tamanha barbárie ocorresse. Alguns
doutrinadores afirmam inclusive que a revolução mais influenciou a Maçonaria
moderna que a Maçonaria influenciou a revolução.
Iniciando o estudo sob o aspecto filosófico, refletindo os ensinamentos
de Rizzardo da Camino sobre o significado de “Liberdade”, percebo o quão
perigoso e complexo é seu significado, porque mesmo na atualidade, observo
que em nome da “Liberdade”, são cometidos os mais hediondos crimes, assim
como ocorreram na Revolução Francesa.
O trinômio de ideal maçônico “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”,
tem do ponto de vista iniciático, um significado bem diferente do da possível
interpretação político-profana.
Segundo os ensinamentos de Aldo Lavagnini, a Liberdade do iniciado
não se deve confundir com aquela que pode conceder ou limitar a prática de
determinado ato segundo as leis da sociedade, pois no seu sentido intrínseco,
significa a liberdade individual, interior, fundamentalmente independente da
liberdade externa que pode ser outorgada pelas leis e regras de
comportamento. É a liberdade que se adquire buscando a verdade, que
somente será alcançada após o desvirtuamento do erro e da ilusão, dominando
as tendências viciosas, hábitos profanos e paixões destrutivas.
A Liberdade exige um conjunto de ações de afirmação, pois uma falsa
Liberdade, ou sua interpretação equivocada, gera opressão e injustiça,
desequilíbrio e desilusão.
Ainda sobre Liberdade, deve-se afirmar que fora o aspecto social e
político, o pensamento do ser humano deve ser Livre, a consciência e a
espiritualidade não podem ter limites ou freios.
De modo geral a Maçonaria preocupa-se com a Liberdade individual de
seus filiados, com a Liberdade da própria Instituição e com a Liberdade da
Humanidade.
Quanto a “Igualdade”, as Constituições de vários países considerados
democráticos contêm princípios que reconhecem serem todos iguais perante a
Lei. Porém, é necessário fazer uma distinção no campo filosófico, pois a
Maçonaria não considera todos os homens iguais entre si, pois segundo a
doutrina maçônica, existem os iniciados e os profanos.
Lavagnini nos coloca que a igualdade iniciática, deve basear-se na
consciência da identidade fundamental de todos os seres, por cima e por trás
de todas as diferenças exteriores de direção e grau de desenvolvimento. Esta
igualdade é representada simbolicamente pelo “esquadro” e pelo “nível”, que
proporcionam ao maçom conduta reta e justa com todos os seus semelhantes.
Interiormente, essa igualdade nos permite cultivar nossos sentimentos
para com os demais, independentemente da forma de tratamento que
recebemos, e com igual serenidade, nos permite manter a postura tanto nas
condições favoráveis como nas adversas, na fortuna e na desgraça, no êxito e
no fracasso, na perda e no ganho, ou seja, diante de todos os pares de
opostos, os ladrilhos brancos e negros da existência sobre os que igualmente
devemos progredir, apoiando nossos pés (LAVAGNINI).
Segundo Nami, Igualdade significa, sobretudo, equidade e justiça. A
equidade é a disposição de reconhecer o direito de cada um, a justiça é a
virtude de dar, a cada um, o que é realmente seu, é a faculdade de julgar
segundo o direito e a melhor consciência.
Sobre “Fraternidade”, tem-se a definição como uma associação, cujo
objetivo é demonstrar que todos os homens podem conviver como se fossem
irmãos na mesma carne (CAMINO).
Maçonicamente, após o ingresso na ordem, o maçom integra a
Fraternidade maçônica de sua Loja, surgindo tanto obrigações como direitos.
Faço menção as obrigações mútuas de amparo, quando um maçom necessita,
toda a Fraternidade maçônica tem a obrigação de socorrê-lo.
Assevera-se ainda, que à Fraternidade deve ser considerada a soma e
o complemento da liberdade individual e da igualdade espiritual, das quais
constitui a adaptação prática, equiparando-se à base do triângulo formado por
essas duas linhas divergentes.
A Fraternidade representa tolerância com relação à liberdade e
compreensão com relação à igualdade, e ademais, a relação que a Maçonaria
estabelece entre seus membros, como núcleo e exemplo daquilo que deveria
existir entre todos os homens.
Por fim, peço licença às luzes e demais irmãos para fazer menção a
uma parábola que reflete um pouco o ideal do lema ora estudado. Trata-se de
uma antiga parábola sobre a diferença entre o céu e o inferno:
DIFERENÇA ENTRE O CÉU E O INFERNO.
“Conta-se que um poeta estava um dia passeando em uma floresta, quando
de repente surgiu diante dele o maior dos poetas romanos, Virgílio.
Virgílio diz ao apavorado poeta que o destino havia sorrido para ele, pois
tinha sido escolhido para conhecer os segredos do Céu e do Inferno. O poeta,
apavorado, mas curioso, concorda. Virgílio, então, leva-o primeiramente ao inferno.
Quando chegaram, o poeta ficou surpreso por encontrar um lugar semelhante
à floresta onde estavam, e não feito de fogo e enxofre, nem infestado de demônios
alados e criaturas nojentas exalando fogo, como ele esperava.
Virgílio conduziu o poeta por uma trilha. Quando se aproximavam de um
aglomerado de rochas cobertas de arbustos, o poeta sentiu o cheiro de um delicioso
ensopado. Junto com o cheiro, entretanto, vinham misteriosos sons de lamentações e
ranger de dentes.
Ao contornar as rochas, deparou-se com uma estranha cena. Havia uma
grande clareira com muitas mesas grandes e redondas. No meio de cada mesa havia
uma enorme panela contendo o ensopado cujo cheiro agradável o poeta sentira, e
cada mesa estava cercada de pessoas muito magras e famintas. Cada pessoa
segurava uma colher com a qual tentava comer o ensopado. O cabo das colheres,
entretanto, era duas vezes mais comprido do que os braços das pessoas que as
usavam. Devido a isto e ao tamanho da mesa, as pessoas não conseguiam colocar a
comida na boca. Havia muita revolta e imprecações enquanto cada pessoa tentava
desesperadamente pegar, sem conseguir, pelo menos uma gota do ensopado.
O poeta ficou muito abalado com a terrível cena e suplicou a Virgílio que o
tirasse dali. Virgílio, então, transportou-se com ele ao Céu. Quando chegaram, o
poeta surpreendeu-se novamente ao ver uma cena que não correspondia às suas
expectativas. Aquele lugar era muito semelhante ao que eles tinham acabado de
deixar. Não havia grandes portões de pérolas, nem anjos a cantar. Novamente Virgílio
conduziu-o por uma trilha aonde um delicioso cheiro de comida vinha de trás de
rochas e arbustos.
Desta vez, entretanto, o poeta ouviu cantos e risadas ao se aproximarem.
Quando contornaram a barreira, ficou muito surpreso por encontrar um quadro quase
idêntico ao que eles tinham acabado de deixar: grandes mesas cercadas por pessoas
com colheres de cabos desproporcionais e uma grande panela de ensopado no centro
de cada mesa. A única e essencial diferença entre aquele grupo de pessoas e o que
eles tinham acabado de deixar, era que as pessoas neste grupo estavam usando suas
colheres para alimentar uns aos outros.”
Meus respeitáveis e valorosos irmãos, a interpretação que faço da
parábola é que o céu e o inferno derivam de nossas atitudes mentais. Acredito
que não são os eventos exteriores que nos traumatizam ou nos fazem felizes,
mas sim a maneira como os encaramos, como decidimos enfrentá-los.
Felizmente, a vida nos apresenta inúmeras provações, que no fundo, são
oportunidades para aprimoramento e aprendizado. Mas o mais importante, é
que nem sempre conseguiremos vencer as adversidades sozinhos, mas se
contemplarmos a verdadeira "fraternidade", perceberemos que o irmão ao
nosso lado será nosso alicerce, a mão amiga, que nos alimentará tanto
fisicamente quanto espiritualmente.
Concluo com um singelo e humilde pedido, vamos não só aclamar por
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, vamos exercer o lema que nos conduz,
através de nossas atitudes.

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Referência Bibliográfica:
CAMINO, Rizzardo da. Dicionário Maçônico. 4ª ed. São Paulo: Ed. Madras,
2013.
LAVAGNINI. Aldo. Manual do Aprendiz Franco Maçom. “Versão traduzida”.
Buenos Aires: Ed. Sociedade das Ciências Antigas, 1995.
NAMI. Antônio. Maçonaria de A a Z. 1ª ed. São Paulo: Ed. Madras, 2013.
Sítio da internet: dialogandoeaprendendo.blogspot.com.br/2010/09/uma-
parabola-sobre-o-ceu-e-o-inferno.html

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