Análise da exposição

O Rigor da Distração
Tunga

Museu de Arte do Rio

João Victor Castilho

O artista
Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o
Tunga é pernanbucano filho de escritor. Formado em
arquitetura e urbanismo, iniciou sua carreira artística
na década de 1970. Expoente do mordernismo, sua
obra está exposta permanentemente ao redor do mun-
do em grandes meuseus e galerias, como o Guggenhein,
em Veneza e o Instituto Inhotim, no interior de Minas
Gerais. O artista, em sua obra, investiga inúmeras áre-
as do conhecimento, tais quais a alquimia, a filosofia,
a biologia e, sobretudo, a psicanálise freudiana. Tunga
faleceu em 2016 em decorrência de um câncer.
A curadoria
A curadoria da exposição foi feita por Luisa Duarte e
Evandro Salles, em parceria com o Instituto Tunga, que
é responsável pelo acervo do artista. Trazendo como
eixo central desenhos, a mostra busca trazer ao público
uma face menos explorada de Tunga, que tem normal-
mente sua obra relacionada à produção de esculturas,
afirma Luisa.
O título da exposição ‘‘ O Rigor da Distração ‘‘, rela-
ciona-se com o pensamento do artista que enxergava
no mundo onírico, no subconsciente, algo muito con-
creto e importante para a vida humana. Na mostra en-
contram-se reproduções de diversos textos do artista,
muitos com caráter surrealista, remetendo à fábulas e
relatos de sonhos.
Além dos desenhos, encontram-se expostas outras mí-
dias também utilizadas por Tunga, como a fotografia, a
pintura, o vídeo e tambem algumas de suas esculturas.
Uma das fotos da mostra, a dupla Xipófogas Capilares
retrata uma perfomance realizada em 1984 na qual duas
gêmeas presas pelos longos cabelos caminham juntas
sem jamais se separarem. A obra acompanha também
um pequeno texto de caráter fantasioso que descreve a
suposta jornada das irmãs imaginada pelo artista.
Ficha Técninca
Título: O Rigor da Distração
Artista: Tunga
Local: Museu de Arte do Rio
Data: 30 de junho a 4 de novembro de 2018
Curadoria: Luisa Duarte e Evandro Salles
A montagem
A exposição está montada em um dos andares do Museu
de Arte do Rio em uma única galeria. Os tons sóbrios
marcam a mostra contrastando com o piso de madeira
do museu. As fichas técnicas simples trazem apenas os
dados formais das obras, sem análises sobre seus signifi-
cados e interpretações, como corre em algumas exposi-
ções. Toda a organização contribui para o equilíbrio das
peças e cria uma unidade, as obras ‘‘conversam entre si’’.
Análise pessoal
Evidenciar o processo subconsciente de produção da
mente humana foi a grande questionamento que a ex-
posição me provocou. Por ser uma grande interessado
por surrealismo, os textos do artista foram os elementos
que mais me sensibilizaram. O teor poético e onírico
desses imediatamente me remeteu a minha obra lite-
rária favorita: Cem Anos de Solidão, de Gabriel Gar-
cía Márquez. O livro, assim como o trabalho do artísta
possúi uma aura quase que deliriosa, flertando com o
mundo dos sonhos e o impossível de maneira épica po-
rém muito delicada. Essas características tambem estão
presentes nas séries de aquarelas, muito sutis, quase que
como névoas.
O artista também trabalha muito com o corpo huma-
no. Figuras ambíguas se fundem, evocando uma fra-
gilidade do ser humano e a nescessidade de interação.
Nessas obras o erótico é muito presente, o que dialóga
com a temática do subconsciente freudiano, já que a te-
oria do psicanalista trata a pulsão sexual como o motor
de toda as vontades - conscientes ou não -.
Como um todo, O Rigor da Distração me fez questio-
nar de maneira mais consciente as imagens que minha
mente é capaz de criar e me fez pensar de que maneiras
posso externá-las através da arte e da produção de pe-
ças que dialoguem com a parte mais interna da minha
personalidade. Tunga me inspirou a buscar mais ainda
novas referências em mim mesmo atráves da reflexão.