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TANIA RIVERA
É sempre contra a corrente que a arte tenta operar de novo seu
milagre.
JACQUES LACAN
CORPO,
IMAGEM E
PALAVRA
O RETORNO DO SUJEITO:
SOBRE PERFORMANCE E CORPO
do corpo uma obra – essas expressões não dizem tudo e mostram o jogo
mesmo entre corpo e arte, entre corpo e sujeito. Algo se subtrai e nos atinge
na presença maciça de um corpo oferecido ao olhar. Nesse jogo, refletir
sobre a performance é construir uma reflexão sobre a própria noção de
sujeito hoje. Em outras palavras, a performance põe em questão o sujeito –
e a arte, talvez seu reduto mais próprio.
O sujeito está no centro da questão da arte. Isso poderia parecer um viés
subjetivante, ou, pior, psicologizante. Mas não se trata disso. É necessário
afirmar hoje que a arte contemporânea é marcada por um verdadeiro
retorno do sujeito, de forma articulada ao que Hal Foster, em um famoso
texto, propõe como “retorno do real”.[5] Após a crítica à mímesis realizada
pelas vanguardas modernistas, que desmantelou a bem-aventurada e
calculada relação entre o sujeito da pintura e a “realidade” representada, o
sujeito, assim como o real, se faz valer de fora do espaço da representação,
contra, ao mesmo tempo, ilusionismos e formalismos. O real que, segundo
Foster, retorna na arte contemporânea, e que ele explora especialmente no
que diz respeito à pop art, é o oposto da realidade mimética construída de
forma ilusionista. Por uma torção talvez sutil, porém vigorosa, não se trata
mais da realidade como janela para o mundo, dada por e para um olho fixo.
Trata-se do real do léxico de Lacan, aquele que é uma espécie de fundo
último das coisas, destacado da imagem, e que se trata sempre de tentar
representar, sem que tal operação jamais se cumpra de forma definitiva.
Real traumático, terrível, com o qual o sujeito se depara repetida e
violentamente.
O sujeito de que se trata na arte há muito não é mais aquele olho
soberano capaz de ordenar a representação em regras mais ou menos fixas.
Ele é outro: descentrado, não coincide mais com um centro organizador da
representação. O sujeito que retorna na arte contemporânea se
desmaterializou e problematizou suas fronteiras em relação ao outro, no
mesmo passo em que se temporalizou e deslocou em uma nova concepção,
fragmentada, do espaço. Contudo, uma vez abandonado seu lugar como
origem inequívoca da representação, ele volta de fora da representação,
como corpo real – o que reconfigura suas relações consigo próprio, com o
objeto e com o espaço. O sujeito recusa-se a se assimilar ao olho ideal e,
nesse deslocamento, perde seu lugar de direito para retornar como questão,
em uma convocação direta do espectador.
Se, como dizia Robert Smithson, “a fotografia torna a realidade
obsoleta”,[6] o sujeito que zanzou pelo “deserto” de Malevich, sem se
encontrar no espelho, veio a esbarrar nas impecáveis ruínas que são os
objetos minimalistas, objetos que parecem recusar o sujeito para se afirmar
como entidades autônomas, puros objetos. Para se destacar da representação
mimética, é necessário que eles neguem o homem como seu par e se
recusem a espelhá-lo. Mas o que alcançam, assim, é convocar o sujeito a
uma nova forma de presença. “As três dimensões são principalmente um
espaço para mover-se”, já considerava o artista em seu fundamental
“Objetos específicos”, de 1965.[7] O minimalismo recoloca a
interdependência entre objeto e sujeito em termos não mais
complementares, mas alternantes: o objeto, como o cubo de seis palmos de
Tony Smith, diz ao sujeito: Die! (“morra”, este é seu título). “Seis palmos”,
reflete o próprio Smith, “sugere que se está morto. Uma caixa de seis
palmos. Seis palmos sob a terra.” [8] Extraído do campo da representação
para se inserir nas coordenadas do espaço circundante, o objeto faz aí um
inequívoco apelo ao sujeito, convidando-o a se perceber e se mover nesse
espaço real em que, eventualmente, o objeto vem violentamente – ou
belamente – atingi-lo.
Georges Didi-Huberman já mostrou o quanto as esculturas de Smith são
“objetos-questões”, o que podemos entender como objetos que põem
radicalmente em questão o eu (diante de Die, diz o autor, “nosso ver é
inquietado”,[9] pois somos postos diante daquilo que seria uma espécie de
túmulo e aparece em um verso de Mallarmé como um “calmo bloco caído
de um desastre obscuro”).[10] Desde o ready-made, o objeto já questionava
seu autor e qualquer ideia de autoria, ressaltando o contraste entre as
“intenções do artista”, como diz Duchamp, e o produto realizado. Mas, se o
autor é desbancado, é para que melhor possa surgir o sujeito, do lugar que
lhe seria de direito: “de fora”. São os “olhadores” que “fazem o quadro”, na
famosa fórmula de Duchamp.[11]
Contra qualquer psicologia a se fazer arauto da “interioridade” do eu e
defender sua “exteriorização” em uma ideologia expressionista, a
psicanálise é a reflexão que surge na aurora do século XX para literalmente
pôr o sujeito fora de si. O eu, diz a frase lapidar de Freud, “não é mais
senhor em sua própria casa”.[12] Talvez ele nem tenha mais casa, uma vez
que o inconsciente o desaloja, faz de seu mais íntimo o que Lacan
denomina êxtimo, cunhando um neologismo para denominar o que é
radicalmente singular, e no entanto vem de fora.
Seria seu corpo a sua casa, como parece defender Lygia Clark com seus
A casa é o corpo e O corpo é a casa? Não, no corpo o sujeito está um tanto
desconfortável. Não há coincidência entre eu e meu corpo. Isso é o que a
linguagem comum acentua todos os dias, quando dizemos “tenho um
corpo”, mais do que “sou um corpo”. No espaço, essa “casa” abre-se para
uma imprevisibilidade, um nomadismo, um trânsito que é o contrário da
ideia de um lócus fixo e assegurador. “O espaço arquitetural me transtorna”,
diz Lygia, explicando em seguida o que seria tal espaço: “Pintar um quadro
ou fazer uma escultura é tão diferente de viver em termos de arquitetura”.[13]
É nesse sentido do “transtorno” que o espaço vivido impinge ao sujeito que
deve ser tomada a afirmação de Freud de que a primeira casa do homem,
sua única legítima casa, absolutamente asseguradora mas de saída perdida,
seria o ventre materno.
Não basta uma apresentação do corpo, seja ela orgiástica, dolorosa ou
poética, para que se reafirme o sujeito. Ricardo Basbaum denuncia com
muita pertinência a existência de uma “anestesia” atual em relação à
performance.[14] Não creio que tal anestesia seja devida a condições
desfavoráveis de recepção, como desinteresse ou massificação extrema.
Talvez ela se deva ao fato de que, hoje, não basta a presença do corpo para
que a verdadeira questão do sujeito se coloque. A performance deve
explicitar uma reflexão poética que se engate na fugidia condição do sujeito
na contemporaneidade.
Ricardo Basbaum nota que a performance hoje está em quase toda parte,
misturada a outros meios na produção contemporânea. Essa é uma
indicação preciosa. Mais do que ao abandono da mesma como objeto de
estudo, a performance talvez nos leve à obrigação de recolocarmos hoje a
questão: o que ela significa? Mais do que a presença do corpo ou a primazia
do comportamento sobre o objeto ou o produto, trata-se de pôr em questão
seu dispositivo operante.
Fala-se muito em desaparecimento ou desmaterialização do objeto na arte
contemporânea, e com isso se perde de vista sua fundamental operação
sobre o sujeito: deslocalização e convocação – o sujeito é deslocado, diante
do objeto, para aparecer como efeito de sujeito.
Tal efeito de sujeito é poderoso – ele nos punge e assujeita, dá limites e
ao mesmo tempo, tenho vontade de dizer, nos faz oceano. Tal catarse,
verdadeiro acontecimento (happening?), o acontecimento humano por
excelência (pois é o que nos faz humanos), nos refaz em momentos
precisos, preciosos, em que o sujeito é o acontecimento. O sujeito é o
acontecimento – o sujeito é ato, é gesto, é movimento que transforma o
espaço, mas só depois, nunca antes, só depois que o outro empresta a esse
gesto seu olhar, seu corpo. Caminhante, o sujeito é um “itinerário interior
fora de mim”, nas palavras, ainda, de Lygia Clark.[45]
O teatro perfeito é uma performance concebida em 1975 por Byars e, ao
que parece, jamais realizada. Cem pessoas, reunidas em um jardim de uma
vila europeia, dirigem seu olhar suavemente para o horizonte. De repente,
ouvem um sussurro: “O teatro perfeito é o olhar”. No horizonte, exatamente
à distância que o olho pode discernir, um homem vestido de vermelho
aparece por apenas um instante.
KOSUTH COM FREUD:
A IMAGEM E A PALAVRA
É nesse sentido que Freud afirma que “as palavras são frequentemente
tratadas, nos sonhos, como se fossem coisas”[56] como coisas visíveis.
Bergasse 19, casa e consultório de Freud durante décadas, até sua fuga dos
nazistas em 1938. O artista cobriu as paredes com uma cuidadosa
reprodução de trechos da obra do psicanalista Psicopatologia da vida
cotidiana e, em seguida, cobriu-os com fita negra, barrando-os de modo a
impedir quase totalmente sua leitura – de maneira semelhante ao que Freud
caracteriza como o trabalho da censura sobre o material inconsciente. Zero
& Not foi o primeiro passo para transformar em um espaço de arte
contemporânea o imóvel esvaziado dos principais pertences de Freud, que
seguiram com ele para Londres e hoje compõem o Museu Freud nessa
cidade. Kosuth convenceu artistas como John Baldessari, Jenny Holzer e
Ilya Kabakov, entre outros, a doarem obras suas para o museu, formando a
base da coleção da Fundação para as Artes, Museu Sigmund Freud em
Viena. Em 1997, a exibição da coleção foi reaberta com novos trabalhos de
artistas como Sherrie Levine, Marc Goethals e Jessica Diamond. Kosuth
apresentou aí um novo trabalho, intitulado O. & A. / F!D! (to I.K. and J. F.).
Nesta última obra, Kosuth se apropria de uma passagem de “Os chistes e
sua relação com o inconsciente”[57] reproduzido sobre uma parede. O trecho
de Freud trata dos sonhos e, mais especificamente, da transformação do
conceito em imagem, dos pensamentos em “quadro onírico”:
Parte do texto citado, que prossegue ainda em algumas frases, é coberto por
uma grande fotografia emoldurada que impede parte de sua leitura (lê-se
integralmente o trecho que vai até “não entendido anatomicamente”). A
imagem (a “pictorialidade”, ou melhor, a visualidade (Anschaulichkeit), no
termo usado por Freud) é aí decomposta em sua relação com o desejo. O
sonho transforma o desejo (“would it were”, na versão em inglês empregada
por Kosuth) em imagem (“it is”). Essa obra sublinha e revela o sentido em
que o sonho, na fórmula de Freud, é uma “realização de desejo”: ele realiza,
põe em cena o desejo, isso que desliza incessantemente na linguagem, nas
cadeias do significante. A expressão utilizada por Freud, Wunscherfüllung,
não acentua tanto a dimensão de construção de realidade presente na
tradução para o português, correspondendo mais à noção de que o desejo
seja “cumprido” ou “atendido”. Mas o verbo erfüllen também pode tomar o
sentido de aparecer, o que reforça a ideia de que o sonho consiste em uma
realização de desejo na medida em que ele torna visual – faz aparecer – o
desejo. Talvez se possa generalizar a fórmula e afirmar que a imagem é um
trabalho que faz aparecer o desejo.
O trabalho de Kosuth faz do próprio texto de Freud, por sua vez, um it is,
mostrando-o como uma imagem que escapa em parte à significação, já que
uma fotografia – justamente! – vela parte do texto (como um “quadro
onírico” velaria o texto do sonho, ao mesmo tempo que o faz ver),
mostrando uma porta de entrada (de um consultório? Do Museu Freud? Do
inconsciente? Seja como for, ela está fechada). Por sua vez, essa imagem é
recortada por um breve texto de Kosuth, uma espécie de slogan que ocupa
quase um quarto de sua superfície, cobrindo todo o canto inferior direito:
“Uma fronteira aqui se encontra entre uma ‘coisa’ independente e sua
seleção e substituição”.
A referência a uma coisa e sua seleção evoca o procedimento de Marcel
Duchamp e nos faz perceber que Kosuth faz uma espécie de ready-made
com o texto freudiano. “A inicialmente brilhante mudança de paradigma de
Duchamp com o ready-made estava, compreensivelmente, situada no
mundo de objetos: ela parecia insistir em maior flexibilidade formal, mas
ainda assim formal”, nota o artista. Ele realiza então uma torção na noção
de ready-made que dá o tom de toda sua obra, na intenção de levar o
“conceito de ready-made ao seu nível estrutural mais profundo no que diz
respeito ao processo de significação na arte”.[59] Ele chegará a rebatizá-lo
made-ready.
O “processo de significação na arte” assim concebido por Kosuth, em
companhia de Freud, parece, portanto, jogar com imagem e linguagem,
estabelecendo relações e descontinuidades entre eles, marcando zonas de
invisibilidade e, por assim dizer, “dessignificação”. As “coisas” (os “it is”
que formam o “quadro onírico”), no sonho, são selecionadas e substituídas
à exaustão, levadas a remeter sempre a outras “coisas”, e assim se coloca
em jogo, repetidamente, a “fronteira” entre “uma coisa” e “sua seleção ou
substituição”. Uma “coisa” qualquer, inócua em si mesma, é tornada opaca
por sua “seleção” pelo sonho, abrindo infinitas possibilidades de
substituição associativa. Tal como Freud o concebe e se propõe a lê-lo, o
próprio sonho, por implicar uma espécie de subversão da representação,
talvez se aparente a um ready-made: selecionadas e substituídas de maneira
múltipla, suas imagens são retomadas nos fios da linguagem, do desejo,
para se descolar de referentes concretos em prol de uma opacidade e uma
incerteza interpretativa prenhe de sentidos.
Se a imagem é apresentação de desejo, como arriscamos dizer acima, isso
não significa, portanto, que ela tenha um significado preciso, podendo ser
reduzida a um único enunciado. Pelo contrário, a relação entre imagem e
desejo põe em xeque a própria linguagem, apontando para zonas nas quais a
significação resiste e torna sensível a pulsação do sujeito desejante.
O uso da “cosmografia” (ressalte-se aí a grafia) freudiana interessa a
Kosuth por prover “uma estrutura de significação mais ampla que pode
situar proposições artísticas específicas” e consistir em um “contexto
teórico que é não assertivo (uma presença teórica negada) mais do que uma
falta ‘a ser’ interpretada”.[60] Ele parece se referir especialmente a Zero &
Not, no qual reproduz uma passagem de Freud nas paredes e sobre ela
inscreve uma grossa linha que a torna ilegível. A obra censura ou nega a
teoria, impedindo que ela seja “assertiva”, para usar o termo do artista. A
tensão assim produzida duplica e reflete a questão da própria natureza da
significação, entre palavra e imagem. A teoria, tornada imagem, torna-se
opaca e problemática, tanto quanto a arte: ela não interpreta, mas recoloca,
com a arte, a questão da significação e de seu sujeito.
É em tal contexto de reflexão sobre o processo de significação na arte
que o artista “usa” Freud por nove anos, a partir de 1981. Kosuth se
apropria e reflete, em seu trabalho, sobre a obra de outros autores, como
Kafka, Musil, Joyce e Italo Svevo – além de Walter Benjamin e
Wittgenstein, sua influência seminal e mais marcante –, interessado no
“amplo campo de pensamento que afetou as ‘margens’ intelectuais do
século XX”. Kosuth põe em ato um “serviço filosófico” ou “uma atividade
pós-filosófica” que visa reciclar a filosofia com a arte, visto que “de alguma
forma, a arte herdou muito do programa da filosofia, sem os riscos de
alguns dos aspectos especulativos que trouxeram problemas para esta”.[61]
Não é surpreendente que ele avance nessa direção justo com Freud,
apesar do antissubjetivismo professado pelo artista. A psicanálise rompe
com a filosofia ao se embasar em uma práxis clínica – que herda da tragédia
grega sua primeira denominação como “método catártico” – e por ela se
livra de certo risco especulativo, sem contudo deixar de retornar a alguma
“especulação” na elaboração de sua teoria, que tem como núcleo, diga-se de
passagem, ainda outro empréstimo à tragédia grega, o complexo de Édipo.
A psicanálise apela para o sujeito, visa nele operar efeitos, assim como
Kosuth pretende engajar seu olhador / leitor no processo de significação
posto em marcha por suas obras. De fato, o artista parece orgulhoso ao
relatar que seu Zero & Not, originalmente realizado no consultório de um
psicanalista na cidade belga de Gent, teria, segundo este profissional, se
tornado parte da terapia.
Dizíamos, com Freud, que recordações de vivências
REPETIÇÃO, FERIDA E IMAGEM
Uma cena bastante complexa nos interessa em particular, por tratar direta
e explicitamente da problemática do espelho. Apesar de ser difícil descrevê-
la, pelo acúmulo de elementos em um tempo reduzido, é fundamental tentar
trazê-la para o domínio da escrita. Um homem tem a face muito próxima do
espelho. Ele sopra, produzindo o embaçamento de uma pequena área em
forma de círculo. Traça com o dedo uma borda para o círculo ao mesmo
tempo que pronuncia o termo “omokage”, que aparece na parte superior da
tela em letras pouco contrastadas em relação ao fundo. No embaçado
aparece o termo “visage” (rosto). O homem passa novamente o dedo no
espelho, fazendo o mesmo movimento no sentido inverso: “omokage” se
revira, e a ele é acrescida a letra “u”, ao mesmo tempo que é dito egako
omou. Aparece a palavra “traces” (traços) sobre o embaçado, em seguida
percorrem a tela thought draws breath drawing breath (pensamento
desenha sopro desenhando sopro). Nesse momento percebemos que a cena
está sendo passada ao revés, pois o homem aspira o vapor que estava
condensado sobre o espelho. O ator pronuncia algo repetidamente e o termo
“breath” se revira e duplica duas vezes em seu canto inferior. Ele se desloca
para trás e nesse momento a câmera, fixa até então, gira noventa graus para
a direita de modo a mostrar sua figura de perfil.
A montagem é muito sofisticada e a cena é particularmente perturbadora.
Não sabemos muito bem onde está a câmera, o jogo de espelhos e de
reversão de cenas nos deixa perdidos. As palavras se espelham como as
imagens, mas algo quebra este espelho e nos deixa sem lugar, entre
estranhas cenas e línguas estrangeiras. Demoramos a perceber que se trata
de um espelho de três faces fazendo ângulo entre si, como uma janela com
dois batentes abertos em ângulo.
A cena prossegue com uma dupla sequência que realiza um vertiginoso
percurso da imagem sobre o espelho – levando-nos à sensação de quase
atravessá-lo. Aparece o termo “face” (rosto) revirado no canto da tela. A
câmera gira no sentido oposto cerca de 120 graus, mostrando
sucessivamente três diferentes reflexos: perfil, frente e outro perfil do
homem, que diz algo. No meio desse caminho, reflete-se no fundo do
espelho um vulto de mulher, coberto por um véu negro, andando de costas,
ao mesmo tempo que uma voz feminina pronuncia algo. Entre a imagem
fora do espelho e seu reflexo, um elemento portanto se interpõe, passando
tão rapidamente quanto uma palavra sussurrada. A cena é então passada no
sentido oposto, trazendo a passagem do vulto andando para frente, enquanto
“face” se desdobra em espelho e entre “ecaf” e “face” surge, exatamente no
momento em que a mulher sussura algo, o termo “evil” (maldade). “Evil”
se reverte então em “live” (vivo). O homem aproxima-se e se distancia do
espelho, com ritmo, enquanto “evil” gira sobre seu eixo transformando-se
em “devil” (diabo, demoníaco), em seguida “lived” (vivido) e novamente
“devil”.
Esse vídeo faz palíndromos com imagens, ou seja, as toma de modo
“literal”, decompondo-as em letras. A face, o encontro de si mesmo no
espelho que organiza num só golpe espaço e sentido, dá lugar a traços,
pistas que tentamos seguir, tracejamentos onde a unidade semântica das
palavras se dissolve. O sopro, noção central no pensamento taoísta que
“engendra a vida, ao mesmo tempo o espírito e a matéria, o Um e o
múltiplo, as formas e sua metamorfose”, retoma no espelho o
engendramento das coisas e do sujeito.[112] Na superfície vítrea um gesto
escreve com o sopro um traço – esse é o estopim para a viravolta
vertiginosa que se realiza então, graças ao jogo formado entre os espelhos.
Somos postos em movimento, pelo ponto de vista da câmera, de modo a
acompanhar a multiplicação do reflexo no espelho. Entre reflexo no espelho
e objeto capturado diretamente pela câmera não há distinção nítida, posto
que não sabemos onde estamos, de que lado está nosso olho-câmera. Graças
à manipulação da cena em sua edição, nos é apresentado então o vislumbre
de um atravessamento do espelho. A “face” se põe pelo avesso de maneira a
dar origem a um insuspeitável mal que é a própria vida, seu fulcro no
mundo revirado que nos esforçamos em manter encoberto. Um elemento
enigmático da cena, em preto, apenas passa, andando para frente ou para
trás, enquanto sopra uma palavra estrangeira (“evil”, provavelmente) –
como para marcar a importância do aparecimento de algo obscuro e
inapreensível, quase demoníaco, cuja sombra fugaz traça no espelho uma
brecha, marcando nele uma sutil mas indelével rachadura. “O que sustenta a
imagem”, dizia Lacan no Seminário 20, “é um resto.”[113]
O backside existe: a imagem traz seu inquietante avesso que nos tira o
tapete e nos faz ir além da completude ilusória de nossa imagem no
espelho. Ura Aru nos força a abrir os olhos, se consideramos que, como
dizia André Breton, “o olho não está aberto enquanto se limita ao papel
passivo de espelho”.[114]
Os palíndromos demonstram de forma privilegiada a possibilidade de a
língua se revirar e mostrar sua literalidade, seu caráter de letra capaz de
romper o sentido. A função da letra aparece então como apelo ao corpo,
mas não para simplesmente afirmá-lo e defendê-lo, e sim para denunciar
sua dimensão imagética, especular, e então evocar sua materialidade
sensível, sua presença erótica. Dispositivos artísticos podem assim suscitar
o gozo provocado pela escrita, pelas marcas (do outro) no meu corpo – não
o corpo que vejo no espelho, domesticado, mas aquele que aparece, em
rébus e sensações, no sonho. A letra faz entrever o impossível mundo do
espelho revirado – o que podemos chamar de avesso do imaginário.
SUBLIMAÇÃO,
ESPAÇO E
FANTASIA
SUBLIMAÇÃO, PARANGOLÉ
E CULTURA
O acento aí não é dado ao objeto criado, nem ao seu criador, mas a uma
operação significante – a de criação do próprio significante, ou seja, sua
incidência capaz de gerar, no mundo “natural”, a cultura (e, no mesmo
golpe, o sujeito como efeito dessa operação). Tal operação introduz num
objeto – ou num ato – um “nada de particular” capaz de comemorar ou “re-
suscitar” em nós a origem da cultura. Não se trata necessariamente,
portanto, de fazer surgir um objeto tal que jamais tenha antes existido, mas
de um agenciamento significante que pode ser como uma bricolagem, uma
sutil operação sobre objetos que já estão lá, fora de nós – objetos quaisquer
como as caixinhas de fósforo que Lacan encontra durante a guerra na casa
de Jacques Prévert (elas eram a única coisa que restava, em tempos de
guerra). A tais objetos a dignidade da Coisa perdida só confere um brilho
problemático (posto que a Coisa, como diz Lacan, “literalmente não é: ela
se distingue como ausente, estrangeira”).[121] A Coisa só se apresenta como
fora e em perda. Em vez de senhor da criação, capaz de produzir a Coisa, o
eu se descentra, diante dessa familiar estranheza. Poeira, restos de comida
ou o corpo, algo se apresenta de modo a desmontar a pretensa dignidade do
objeto primordial. Somos, nessa apresentação da Coisa, tomados e
subvertidos como por um lance de dados – jogo simbólico que produz
alguma poesia. Nesse golpe, e não antes dele, pode surgir algum sujeito,
efemeramente, como seu produto. A miragem da Dignidade da Coisa, assim
como a d’O Belo, desfaz-se na própria obra – com minúsculas, pois não é
mais possível aí A Obra (assim como não é mais possível O Sujeito, mas
apenas o sujeito barrado, dividido, castrado).
Freud aponta que a ficção oferece mais meios para a evocação do campo
do estranho do que a “vida real”.[130] Assim como o eu se constitui numa
linha de ficção, sua subversão depende de dispositivos ficcionais(e / ou
espaciais: como já dizia Jentsch, o autor que serve de base a Freud para sua
reflexão sobre o estranho, o Unheimliche tem a ver com uma “falta de
orientação”).[131] Se, como afirma Lacan, “a fantasia é a obra de arte de uso
interno do sujeito”,[132] é na medida em que a fantasia aliena o sujeito, mas o
fantasiar também pode atuar na contracorrente e levar a uma
desestabilização dessa cena em reviramentos parciais que põem o eu em
movimento e incitam a algumas pulsações do sujeito. Nas artes visuais
como na literatura, o campo da cultura oferece pontos de enganchamento e
reviramento da fantasia.
civilização é vista por Freud como nociva à saúde mental, por se basear em
injunções morais que imporiam ao homem uma severa repressão sexual.
Em 1908, ele afirma que, apesar de não ser atribuição do psicanalista
propor reformas na sociedade, suas considerações a respeito dos efeitos
nocivos da “moral sexual civilizada” poderiam servir como defesa da
necessidade de mudanças. A vulgarização da teoria psicanalítica trouxe,
sem dúvida, contribuições para a revolução dos costumes realizada no
século XX. Em geral, os psicanalistas seguiram, contudo, sem propor
reformas na sociedade – apesar de Freud não ter se furtado a exprimir
publicamente suas opiniões sobre o antissemitismo e a guerra, por exemplo.
Em um espectro mais amplo, podemos considerar o próprio nascimento
da psicanálise como produto de uma crise na cultura, e ver em sua trajetória
até hoje uma atuação problematizadora do homem e da civilizacão. A
psicanálise surge no amplo contexto de crítica da representação da realidade
que, desde o Renascimento (e com nuances que não cabe aqui destrinchar),
se sustentava em uma racionalidade central e sem falhas. Em fins do século
XIX, o equilíbrio entre o sujeito e a representação mostra-se em crise em
Em lugar de “eu sou”, logo “eu existo”, a enunciação “subsisto” indica uma
existência dividida, precária e oscilante, uma posição em crise – e crítica,
fomentadora da crise. Única enunciação, talvez, capaz de definir o sujeito
descentrado, subsisto é ela mesma a apropriação de um significante:
Oiticica a toma de Colidouescapo, o livro-poema publicado por Augusto de
Campos em 1971. Formado de folhas duplas soltas dobradas ao meio, cada
uma com uma inscrição (“suscrevo”, “exispero”, “esisto”, “subscontro”,
entre outras), esse livro se transforma segundo a manipulação de seu leitor,
convidado a redobrar e / ou misturar as folhas à vontade. Formam-se, nessa
transliteração reveladora, palavras como “susto”, “excrevo” e “subsisto”.
Subsisto indica a possibilidade, no trânsito entre sujeitos e na remodelagem
literal da língua, de alguma recriação do sujeito e da cultura.
A FANTASIA E O ESPAÇO:
LYGIA CLARK
É muito impertinente que o real não se conceba senão por ser impróprio.
JACQUES LACAN
Cruzeiro do Sul é um cubo de nove milímetros de lado composto de uma
seção de pinho e outra de carvalho. Ele alude à mitologia indígena, na qual
o atrito entre os dois tipos de madeira para produzir faísca corresponde a
uma espécie de ritual de invocação da divindade do fogo. Nesse trabalho de
1969-70, Cildo Meireles ressalta a poética delicadeza da cosmogonia
indígena. Há nele algo fundamental, contudo, que não se esgota nessa
referência, mas reside na relação desse objeto com o espaço: ele deve ser
colocado em uma sala vazia de pelo menos duzentos metros quadrados.
Esse cubo é um objeto mínimo que rompe o espaço circundante e o
transforma. A sala torna-se enorme, e nossa própria estatura e lugar
oscilam. O cubo, tão pequeno, reveste-se de uma dignidade monumental e
parece, em um primeiro momento, excluir-nos. Nele não temos a
possibilidade de nos reconhecer, ele não nos estende um espelho – não
apenas por não ser figurativo, mas, mais fundamentalmente, porque põe em
questão a simetria e a homogeneidade ilusória do espaço onde nos
encontramos. A despeito de seu tamanho, Cruzeiro do Sul carrega mesmo
uma poderosa centelha: ele tem a potência de suspender a organização
imaginária do espaço, sua lógica especular, ameaçando revirar essa malha
imagética para nos fazer entrever o espaço real. O espectador oscila,
perdendo sua ilusória posição central, sua pretensão de ser senhor do espaço
e da imagem. Retirado do espelho, ele não tem mais lugar.
Com a linha tênue pela qual se unem os dois retângulos de madeira de
cores diferentes, Cruzeiro do Sul mostra que um objeto pode materializar a
sentença de Lacan segundo a qual “nada é mais compacto que uma falha”.
[184]
Chamado objeto a, ele nos obriga, para concebê-lo, a “outro modo de
imaginarização”.[185] Encontramo-nos habitualmente em uma construção
espacial imaginária, graças ao enodamento fornecido por nossa imagem
especular. Rompendo a ilusória complementaridade sujeito-objeto e
fazendo oscilar tal montagem imaginária, o objeto engataria uma espécie de
reviramento desse campo, por assim dizer. O eu não tem mais lugar. O
pequeno bloco mostra-se capaz de sugar as coordenadas do espaço ilusório
e homogêneo, e, tornando-se uma espécie de sumidouro, convida o sujeito a
atravessá-lo.
Com suas ressonâncias celestes, astronômicas e mitológicas, bem como
suas alusões históricas ao massacre e à catequização dos índios, Cruzeiro do
Sul nos recoloca a questão de qual seria a “casa” do homem. “O homem
encontra sua casa”, diz Lacan, “num ponto situado no Outro para além da
imagem de que somos feitos. Esse lugar representa a ausência em que
estamos.”[186] Lugar de ausência no Outro, lugar entre significantes:
localizações sem consistência imaginária. É impossível fazer desse lugar
uma residência segura para o sujeito.
Para Cildo Meireles, a palavra mais bonita “é lejos porque pressupõe que
seu ser está aqui e lá ao mesmo tempo. O lá é uma constatação do ser”.[187]
Menos uma constatação do que uma condição do sujeito, lejos: a de nunca
estar aqui, em sua casa, mas sempre deslocado, lá. Onde nem se sabe bem,
nesta terra de ninguém que é o inconsciente. Estar lá – Wo Es war, soll Ich
werden, na proposta de Freud costumeiramente traduzida por “ali onde isso
estava, eu devo advir”.[188] Nessa espécie de programa de uma análise, ao
mesmo tempo caracterizada por Freud como um “trabalho de cultura”, é
curioso que se trate de uma preposição de lugar, wo: onde isso estava, eu
devo advir. Indicação de um lugar do qual é impossível determinar a estrita
localização, mas onde vem ocorrer uma passagem ou uma substituição de
peso: do Es, d’isso, ao Eu, Ich. Lá onde isso estava, eu devo tornar-me. Lá
devo tornar-me – as noções de descentramento do eu e subversão do sujeito
explicitam aí seu substrato espacial. Em vez de tomá-la como afirmação de
um lugar enfim encontrado para o sujeito do inconsciente, devemos ver na
frase de Freud a indicação de uma operação que concerne ao espaço tanto
quanto ao sujeito, em um complexo imbricamento.
Ou talvez, pensando em Mallarmé, possamos levá-la às últimas
consequências para afirmar, sobre o que se passa em uma análise, que “nada
terá tido lugar senão o lugar”.[189]
Quando o artista modela uma cabeça, parece que ele copia apenas a
superfície visível; na verdade ele plasma o que é propriamente
invisível, a saber, o modo como essa cabeça olha no mundo, como ela
detém-se no aberto do espaço no qual ela é solicitada e pelos homens e
pelas coisas.[192]
Die, o cubo que Tony Smith realizou em 1958, tem seis pés
O ESPAÇAMENTO
Estudo para área: por meios acústicos (sons). Escolha um local (cidade
ou campo), pare e concentre-se atentamente nos sons que você
percebe, desde os próximos até os longínquos.
O sujeito, espaçando, abre mão da visão em prol dos sons que lhe dão
notícia do próximo e do distante, sem que possam, contudo, lhe fornecer
uma clara localização de si (como seria o caso para alguns animais, como
os morcegos). O espaço, liberado da visão, torna-se aí dinâmico, vivo,
transformando-se a cada instante de acordo com a distância precariamente
estimada entre o objeto que dá notícias de si pelo som e o sujeito-espaço
que tenta liberar-se da janela pela qual ele habitualmente confina o espaço
na moldura do visível (essa janela pela qual vemos o mundo e que Lacan
designa como a fantasia).
Apesar de não sermos obrigados a fechar os olhos para fazer análise,
Freud nota que para descobrir o segredo dos sonhos teria sido necessário
fechar ao menos um olho. É o que um sonho, justamente, lhe ensina, na
noite que precede o funeral de seu pai. Num grande cartaz estaria impresso
“pede-se que você feche os olhos”, ou, relata o sonhador, “pede-se que você
feche um olho”.[195] Também na estruturação de uma situação analítica há,
como bem se sabe, uma certa operação que concerne à visão, no dispositivo
do divã. Analista e analisando não se veem – para que possa então se abrir o
espaçamento que define o campo do olhar. Tal montagem não deixa de ser
um setting, mas visa romper com o que há nele de cênico para que se
entreabra a Outra Cena do inconsciente. Para tanto, é necessário que o
analista, um pouco como o Cruzeiro do Sul, seja o suporte do objeto a.
Em As meninas de Velázquez, obra diante da qual seríamos
O ESPAÇO DA OBRA
“tomados em seu espaço”, Lacan afirma que ficaria claro o quanto uma
obra de arte é uma carta roubada, uma carta de baralho virada, que se
apresenta a nós como questão. O essencial ao efeito dessa obra residiria na
maneira como cada um responderá a tal questão, ou seja, baixará suas
cartas, subjugando-se a ela. Tal sujeição tem uma estreita relação com a
subversão do sujeito, pois,
de fato, a relação com a obra de arte está sempre marcada por essa
subversão. Parecemos ter admitido, com o termo de sublimação, algo
que, em suma, não é outra coisa, porque se aprofundamos
suficientemente o mecanismo da pulsão para ver o que acontece aí, é
uma ida e volta do sujeito ao sujeito, sob a condição de se captar que
essa volta não é idêntica à ida e que, precisamente, o sujeito, conforme
a estrutura da fita de Moebius, se fecha a si mesmo depois de ter
logrado essa meia-volta que faz que, partindo de seu anverso, volte a
se costurar em seu reverso. Em outras palavras, há que se fazer duas
voltas pulsionais para que se logre algo que nos permita captar o que
concerne autenticamente à divisão do sujeito.[196]
estamos aqui para ver como esse quadro nos inscreve a perspectiva das
relações do olhar no que se chama a fantasia (fantasme) enquanto ela é
constitutiva. Há uma grande ambiguidade sobre o termo “fantasia”.
Fantasia inconsciente, bem, isso é um objeto. Em primeiro lugar, é um
objeto onde perdemos sempre uma das três peças que há aí dentro, a
saber, dois sujeitos e um a.[203]
Mas, para Lacan, o essencial é a relação que o quadro agencia entre tal
sujeito dividido e o objeto a. O sujeito “se sustenta”, diz ele, “em sua
própria divisão, em torno deste objeto a presente que é armação (ou
engaste, monture)”.[204] Essa fenda corresponde à figura da infanta
Marguerita. É interessante notar a natureza espacial dessa relação, marcada
pela locução prepositiva “em torno de”. Lacan a confirma em seguida,
pondo na boca do personagem Velázquez, presente no quadro, a frase: “Tu
não me vês de onde eu te olho”. Este onde não é um ali, ou um aí como
aquele do Dasein de Heidegger, não é propriamente um lugar e sim uma
fenda, um intervalo no qual algo cai. Assim se define o objeto a cuja
posição é assumida pela figura da infanta Marguerita, no centro do quadro.
É a presença desse objeto que constituirá um apelo ao sujeito, na medida
em que ele engancha a divisão do eu e também evoca uma função do Outro
pela qual este é esvaziado, puro reflexo como o casal real no espelho ao
fundo, que o psicanalista chega a comparar à tela de televisão.
Encarnando desse modo a presença do objeto a, a obra de arte poria em
jogo a própria estrutura da fantasia. O quadro desmonta a cena e põe em
jogo seus elementos constitutivos, convidando o sujeito a se redividir em
suas relações com o objeto e com o Outro.
Essa sofisticada operação depende de um complexo agenciamento
significante, na própria composição do quadro e especialmente no que se
refere à sua construção perspectiva, capaz de traçar nele um lugar que é de
crítica da própria representação. Outras estratégias poderiam ser adotadas
para isso, e duas vias são rapidamente mencionadas por Lacan: a da arte
moderna, com “suas manchas de cor” (que não são mais que merda, diz ele)
ou com os ready-mades de Duchamp. Em jogo com a figura da princesa, é
importante notar que temos ainda em As meninas, como aponta o
psicanalista, uma janela que representa a janela de nosso próprio olhar,
emoldurado pela fantasia. Trata-se de uma porta semiaberta, no plano mais
recuado do quadro, na qual encontra-se um homem, identificado como um
outro Velázquez, um certo Nieto Velázquez, figura que teria favorecido o
pintor junto ao rei. Ele está em movimento, quase saindo da cena. É essa
figura quem ocupa, para Lacan, o lugar de outro sujeito na citação acima. O
enredo, os personagens do quadro refletem e representam, assim, as
próprias condições da fantasia, inclusive o fato de que nela o sujeito se
divide de modo a se dirigir a seu umbral, chegando quase a sair de cena.
A apresentação na arte desse limiar da posição do sujeito na fantasia é
sublinhada pelo psicanalista Marco Antonio Coutinho Jorge, especialmente
a partir de telas de Edward Hopper, nas quais se apresenta uma cena que
explicita seu próprio umbral e mostra personagens que por vezes parecem
estar prestes a atravessá-lo. Esses quadros explicitariam que a fantasia não
deixa de ser uma “janela para o real”, segundo Lacan.[205]
Sua depurada análise de As meninas indica assim, entre os demais
elementos da fantasia, a apresentação de uma janela para o real semelhante
ao que Freud denomina “umbigo do sonho”: um ponto de opacidade, em
geral recôndito, que é uma condição necessária à construção de toda
representação. Ao mesmo tempo que a fantasia vem, a serviço do
imaginário, cobrir o real como uma tela e fornecer um lugar fixo ao eu, ela
agencia pontos de enganchamento da divisão do eu, da subversão do
sujeito, convidando a que se ponha pelo avesso o imaginário de modo a que
se deixe entrever o real.
Vimos que Lacan traça no espaço do quadro um oco no qual vem se
situar (como fenda) a infanta Marguerita. Teríamos aí, talvez, a
transformação da tela em uma espécie de vaso, como aquele que servia de
modelo para a sublimação. Mas ao apresentar criticamente o quadro como
uma janela e desmontá-lo nos elementos estruturais da fantasia, essa obra
vai além da função do vaso. Ela agencia a abertura de um espaço que não se
delimita mais pelas coordenadas imaginárias da geometria, mas revira-se no
interior de si mesmo e constitui um trans-espaço difícil de fixar, chegando
quase a apresentar um fora da cena, um espaço impossível como aquele
obtido pelo que os matemáticos chamam “inversão” e que consistiria em
fazer passar o quadro por dentro de sua janela interna como quem o vira
pelo avesso. Então seríamos puxados, talvez, junto com nossa cena
cotidiana, por essa mesma mão que manipula o quadro – pois tal espaço
atrai o sujeito em uma vertigem cheia de gozo.
Sem chegar à radicalidade dessa inversão, a arte nos capta em seu espaço
de modo a nos incitar a dar alguns passos na cena da fantasia, em
atravessamentos pontuais. A travessia da fantasia que, para Lacan, se
operaria em uma análise, não deve ser compreendida como uma trajetória
pela qual se passa pela cena para deixá-la para trás, tampouco como uma
inversão completa da cena capaz de jogar o sujeito para fora dela. A
travessia da fantasia é plural, sempre a se refazer como o passeio do dedo
sobre a superfície da fita de Moebius. Ela nomeia a movimentação que o
sujeito se põe a realizar nesse espaço de modo a revirar suas coordenadas
imaginárias, tomá-las criticamente e assim, em alguma medida,
reconfigurar sua montagem.
É nessa medida que o quadro constitui uma tela, mostrando que “a tela
não é apenas o que oculta o real”, pois ela “ao mesmo tempo o indica”.[206]
Essa obra convida o sujeito a se descentrar no espaço para reencontrar a
moebiana subversão que é sua dimensão real. Daí vem a necessidade de se
considerar, para a própria experiência analítica, a topologia, o rompimento
com a geometria tradicional em prol do reviramento do espaço, nos limites
do “imaginarizável”. Para um psicanalista, dirá Lacan, a topologia não é um
conhecimento suplementar, mas “é o próprio tecido que ele corta, quer o
saiba ou não”.[207] Ele deve cortá-lo com o gume da linguagem, desmontando
e remontando criticamente sua estrutura cênica.
Isso não está feito para que nós, analistas, que sabemos que aí está o
ponto de encontro do fim de uma análise, nos perguntemos como, para
nós, se transfere esta dialética do objeto a, se é neste objeto a que está
dado o término e o encontro onde o sujeito deve se reconhecer? Quem
deve fornecê-lo? Ele ou nós? Não teríamos tanto a fazer quanto
Velázquez em sua construção? [208]
O objeto a é algo que está em jogo entre o sujeito barrado e o Outro. Mas
acho que ele, mais do que ser fornecido, é o que se perde. Só se pode
construí-lo no espaço, na cena, ou seja, na fantasia, e talvez se trate aí de
uma construção perspectiva como a do quadro de Velázquez, um
agenciamento capaz de revirar a cena imaginária para que as relações entre
o sujeito, o objeto a e o outro apresentem sua montagem e possam ser
matéria de análise, ou seja, quebra. A fantasia já estava lá e no entanto tem
que ser construída em análise, como sublinha Freud. Tal construção
implica, paradoxalmente, desmontagens e reviramentos da cena, em
pontuais e repetidos atravessamentos que o sujeito nela realiza – como nos
ensina a arte.
É curioso que Lacan fale de uma “transferência” da dialética do objeto a
entre psicanálise e arte. Talvez a psicanálise tenha que aceitar se submeter
um tanto à alteridade de um campo outro, o campo da arte, para refletir
sobre tal encontro com o objeto a no próprio seio da experiência analítica.
Entre elas, algo cai e se perde. Essa relação deve assumir seu caráter
histórico, no sentido que a psicanálise nasce num determinado momento e
um trabalho artístico se constrói numa complexa relação com sua época.
Fundamentalmente, talvez ambos os campos se rocem, por lidarem, por
meios próprios a cada um deles, com o trabalho de cultura de que fala
Freud, convocando aquele lugar indeterminado, aquela Outra Cena onde
d’isso, desta carta escondida, deste objeto qualquer, pode (re)fazer-se o
sujeito e seu mundo.
PARTE TRÊS
A CRISE,
A ÉTICA E
O OBJETO
NADA
da memorável crise
ou se houvesse
o evento
ARTE É CRÍTICA: SOBRE ATRAVÉS
SENÃO O LUGAR
inferior marulho qualquer como para dispersar o ato vazio
[…] nessas paragens
do vago
onde toda realidade se dissolve
STÉPHANE MALLARMÉ
Eis por que é privilégio da arte nos dar da vida uma imagem muito
mais complexa e profunda do que qualquer outro meio de expressão.
Suas formas nos revelam virtualidades irrealizáveis ou inconcebíveis
pelo nexo causal simples, descobrindo em nós mesmos novas maneiras
de sentir e, portanto, de ser. Uma nova ética.
Para essa nova ética o pensamento de Freud nos vem, desde que
apareceu, abrindo caminho e nos preparando o advento com força e
penetração incomparáveis.[240]
TRANSMISSÕES
ERNESTO NETO:
A PELE E O ESPAÇO
A gente está sempre caindo, o mundo está sempre caindo. O giro que o
planeta dá em torno do Sol é uma queda constante, só que ao mesmo
tempo que há queda, a velocidade mantém você nessa órbita. A gente
está sempre caindo no chão, caindo na cama. O nosso corpo vai
caindo, né? [293]
Homem cadente: ele não está em si, mas no espaço – não tanto em ilimitada
expansão quanto em tensão permanente. No espaço, ele não tem lugar fixo,
esse herdeiro decaído das utopias nas quais floresceu o século XX.
Fora encontra-se seu íntimo.
Malevich dizia que o crânio do homem é também cosmos. Neto diria que a
pele do homem é talvez o universo – ou melhor, universos múltiplos e
cheios de dobras, de torções, improváveis paisagens que não conseguimos
sequer imaginar, pois obrigam corpo e pensamento a uma louca
cambalhota. Isso que a matemática concebe com números e fórmulas, Neto
concretiza com lycra e sutileza.
A ação da gravidade traçaria em suas instalações as únicas retas ali
existentes. A natureza, lembra o artista, não apresenta reta perfeita, a não
ser na linha virtual da queda do corpo no espaço. As gotas esguias formadas
por algum peso – especiarias, plástico, isopor, lantejoulas – encarnam no
tecido fino e flexível a queda, essa fundamental condição humana. Ela é
revelada, porém contida, ou melhor: suspensa. Para de repente se
apresentar, lúdica, na queda de um corpo (o meu, talvez) sobre um volume
macio.
Não há reta – aquela resultante da ação da força da gravidade está
balanceada, modulada, e pode apenas ser intuída das linhas curvas formadas
nas paredes elásticas de seus pendentes em forma de gota alongada. O cubo
branco da tradicional sala de exposição transforma-se, sutil mas
poderosamente, graças a essa arquitetura mole. Não se trata aí de
coordenadas, de paralelas, mas de um espaço talvez hiperbólico, espaço
curvo. Louco e lírico espaço.
O espaço que não obedece à geometria euclidiana, esse impensável da
matemática e da física, fascina os artistas desde o início do século XX. A
quebra do protocolo de representação da perspectiva artificial empreendida
por Cézanne e pelos cubistas tira o homem do lugar central que ocupava
desde o Renascimento. Era essa sua maior ilusão. Rompida, ela cede lugar a
uma mescla da arte com o mundo, seja em uma intenção iconoclasta, seja
em uma utopia revolucionária (ou em ambas).
E onde está o homem, nos novos “sistemas de representação” (para falar
como Malevich) postos em ação na arte? Ele quer espaço. “Espaço não
existe apenas para o olho”, escreve El Lissitzky em 1923, “ele não é um
quadro; se quer viver nele.” [294] Não se trata, porém, de nele viver como em
um cubículo feito na medida exata do homem. Não se trata de tentar
recuperar sua velha casa. No suprematismo, trata-se de abri-la ao infinito.
Trata-se, é certo, de conceber um espaço sem centro, espaço excêntrico no
qual o homem ganha em mobilidade o que perde em segurança. “O espaço
existe para o homem”, sublinha El Lissitzky, “o homem não existe para o
espaço.”[295]
(Olho para a janela e me surpreende uma forma suspensa, curva
recortada no céu azul de inverno, não muito acima da corcova de um morro
carioca. Bem próximo – mas talvez por ilusão de ótica –, parado no ar,
enquanto pássaros pretos passam rápidos e indiferentes entre mim e ela,
parece estar uma pessoa num parapente, súbito surfista num céu sem ondas.
Me encanta a duradoura suspensão, a paralisia que contradiz, de pé, a lei da
gravidade. E contradiz o artista russo: o homem parece existir para o
espaço.)
Por um infeliz acaso ele teria os pés na Terra, na terra. Neto lhe restitui a
suspensão.
A própria Bourgeois não parece dar muito crédito a esse tipo de relação
simbólica, portanto. Sem deixar de evocar simbolismos desse tipo ao longo
de sua obra, ela afirma desconfiar das palavras.
Mas, se “as formas são tudo”, a artista não deixa de empregar palavras em
seu trabalho – não só em títulos, como em comentários e fabulações
autobiográficas que devem ser considerados parte de sua obra, e não algo
exterior a ela e capaz de decifrá-la.
Além de suspeitar de Lacan, Louise Bourgeois também se declara
decepcionada com ele, bem como com Freud e André Breton, pois eles lhe
“prometeram a verdade e só mostraram teorias”. Ela declara ainda que os
dois grandes psicanalistas nada teriam feito pelos artistas, e que ela
simplesmente não poderia “usá-los”.[310] Se ela “usa” muito a psicanálise,
não é, portanto, por devoção ou homenagem. A menção ao bispo e teólogo
do século XVII Jacques-Bénigne Bossuet, por sua vez, parece feita para que
não restem dúvidas a respeito do quanto a artista põe em questão suas
próprias falas e reconhece não deter, em suas palavras, o saber sobre sua
obra (e si mesma), como vemos no famoso trecho do grande orador
católico:
agora tomado como incerto e que havia sido negado pela artista em
entrevista de 1993: [316] Louise Bourgeois fez análise durante vários anos.
Seu analista foi Henry Lowenfeld, entre 1952 (após algumas sessões com
outro analista, Leonard Cammer) e 1966, e ela continuou a vê-lo, de modo
esporádico, até 1982. Alemão, judeu e marxista, Lowenfeld teve como
analista e mentor justamente Otto Fenichel, que era integrante do primeiro
círculo de discípulos de Freud. Lowenfeld chegou a frequentar a Sociedade
Psicanalítica de Viena antes de emigrar para os Estados Unidos às vésperas
da Segunda Guerra Mundial, e em uma de suas reuniões apresentou um
escrito que se tornou um clássico sobre a dinâmica psíquica do artista. É
óbvio que essa apresentação de caso não podia se referir a Bourgeois, pois
apenas quinze anos mais tarde ele começaria a recebê-la em análise.
Estranhamente, porém, ao ler Lowenfeld tem-se a impressão de que poderia
se tratar dela.
Alguns de nós somos tão obcecados pelo passado que morremos disso.
É a atitude do poeta que nunca encontra o paraíso perdido e é de fato a
situação dos artistas que trabalham por um motivo que ninguém
consegue apreender. Talvez queiram reconstruir algo do passado para
exorcizá-lo. É que, para certas pessoas, o passado tem tal atração e tal
beleza…
Tudo que faço é inspirado no início de minha vida.
À esquerda, a mulher de branco é A Mestra. Ela veio para a família,
mas dormia com meu pai e ficou dez anos.
Após mencionar o fato de que a mãe a usava para vigiar seu marido e que
isso é “abuso infantil”, além de lamentar a traição que teria sofrido por
parte de seu pai e também de sua professora, Bourgeois conclui: “Todo dia
você tem de abandonar seu passado ou aceitá-lo, e se não conseguir aceitá-
lo torna-se uma escultora”.[322]
Referências como essa talvez possam, sim, ser tomadas em Bourgeois
como construções em análise, ou seja, recriações, fabulações. Elas se
apresentam como evidência (e podem apresentar fotografias como uma
espécie de “prova”), mas são assumidamente “reconstruções” do passado,
na tentativa de “exorcizá-lo”. O trabalho artístico seria homólogo ao
trabalho analítico, nesse sentido. Suas construções correm o risco, porém,
de se tornarem lembranças encobridoras. Elas recobrem o trauma e mais
escondem do que mostram o recalcado. A fixidez e a insistência nessa
narrativa apontam notadamente para essa possibilidade, que a própria artista
evoca várias vezes através de uma citação de La Rochefoucauld: “Como
disse La Rochefoucauld, ‘Por que vocês falam tanto? O que é que têm a
esconder?’. O objetivo das palavras muitas vezes é esconder as coisas. Eu
quero ter uma lembrança total e um controle total do passado. Então, que
sentido teria mentir?”.[323]
A narrativa de Abuso infantil é uma variante edípica, é claro, mas isso
não faz dela um trauma, propriamente. Independentemente da vida de
Louise, contudo, se definirmos o trauma (lembrando-nos que o termo
significa ferida, em grego) como aquilo que se repete, causando sofrimento
e demandando elaboração, percebemos que seu funcionamento fornece os
fundamentos da proposta de Bourgeois, seu tema preferido e a própria
estrutura de seu trabalho, que repete incessantemente certas recordações
quase anedóticas. O trabalho artístico mimetiza a estrutura do trauma e o
reconstrói ficcionalmente, poeticamente. A teoria de Lowenfeld parece,
assim, ser confirmada por sua mais famosa paciente, que se apresenta como
uma traumatofílica empedernida (como ironiza um blog a respeito da
artista, “a dor é o meu negócio”). Mas ali onde esse psicanalista pressupõe
absoluta identidade entre a pessoa e o que ela produz, a artista introduz uma
torção: para ela como para algumas outras pessoas, “o passado tem tal
atração e tal beleza…”, como vimos em Abuso infantil. No que seria
trauma, a artista aponta beleza. E atração: inclusive para um outro, para
outros. Há um claro endereçamento ao outro, na apresentação de tais
elementos supostamente biográficos e íntimos.
Para Freud, boa parte de nossa atividade psíquica consiste na produção
de fantasias análogas àquelas criadas pelo escritor ou artista em suas
ficções. O eu é formado ficcionalmente, como ressalta Lacan, e não bastam
os fatos em si: os acontecimentos de nossa vida devem formar uma espécie
de romance. Nossas fantasias são realizações de desejo, mas nos outros
provocariam repulsa ou indiferença. No domínio da arte, esse terreno de
jogo e brincadeira, as fantasias do artista seriam capazes, contudo, de
enganchar as nossas próprias fantasias, levando-nos assim a extrair delas
algum deleite. Para chegar a tal efeito, segundo Freud, o poeta ou artista
deveria suavizar e disfarçar o caráter egoísta de seus devaneios, além de
seduzir com um “prazer puramente formal, isto é, estético”.[324]
Louise Bourgeois parece contradizer o psicanalista, ao assumir suas
fantasias e traumas como radicalmente pessoais. Ela ensina que é justo ao
apresentar a intimidade de modo extremo que se alcança algo universal,
algo que está entre os humanos. É o radicalmente “pessoal” que toca o
outro, é o singular que chega a tocar o que é comum a todos. Para alcançar
o universal, dedique-se a pintar sua aldeia, como se sabe desde Tolstói. Mas
a estratégia da escultora não é tão simples e merece mais atenção. Não se
trata da fantasia ou do trauma brutos, neles próprios, e sim de engatar o
processo de (re)construção do trauma, assumindo-o como largamente
estruturado pela ficção, pois há nele algo – que é o que realmente interessa
evocar – que só pode ficar “escondido”, porque, a bem dizer, é impossível
de apresentar como tal.
Ao mesmo tempo que parece apresentar literalmente sua própria vida, a
artista afirma: “Jamais falo literalmente; para compreender-me é preciso
usar analogia e interpretação, saltos de todo tipo…”.[325] Essa afirmação é um
tanto irônica, pois um trabalho como Abuso infantil impede qualquer
interpretação no sentido de uma decifração de algo que ali estaria
disfarçado. Mas ao negar a literalidade a artista aponta que um trabalho
como este já é interpretação, e não mais propriamente memória, nem muito
menos fato ocorrido. Quando algo é aí apresentado como uma lembrança, é
na medida em que esta se assume como ficção, em sua própria apresentação
– seja qual for o seu grau de fidelidade em relação às vivências factuais da
artista.
Se todo dia tem-se que abandonar o passado ou aceitá-lo, e quem não
consegue aceitá-lo torna-se uma escultora, como vimos afirmar Bourgeois,
essa recusa a aceitar implica não simplesmente repeti-lo literalmente, mas
dele fazer algo, com ele construir outra coisa – uma escultura,
eventualmente. Ela não abandona o passado, tampouco chega a esquecê-lo,
mas dele forma “sedimentos”, como indica em uma de suas notas: “Que os
sedimentos se formem selados pela / paz da desmemória”.[326]
Segundo Larrat-Smith, os escritos recém-revelados de Louise Bourgeois
“certamente confirmam a centralidade da memória em seu processo
criativo”.[327] Isso é verdade, mas apenas na medida em que a artista faz da
memória uma desmemória. Isso não parece corresponder exatamente à
ausência de memória, mas sim à lembrança de algo que se assume como
não recordação. “Tive um flashback de algo que nunca existiu”,[328] diz
Bourgeois em um livro feito artesanalmente em tecido e sugestivamente
chamado Ode à l’Oubli (Ode ao esquecimento), de 2002. Além dessa frase,
a única inscrição ali presente é “The Return of the Repressed” (O retorno do
recalcado). Isso sugere que para a artista o recalcado tem a ver com o
retorno, a recordação de algo que não houve, mas é um importante
acontecimento humano. O passado pulsa, fragmentário, demandando
reconstrução, e as esculturas formam dele sedimentos, precipitados que são
testemunhos do acontecido, mas também são dele uma desmemória, ou
seja, marcam a impossibilidade de total revivescência.
Não é o estudo da psicanálise, mas sim, provavelmente, sua própria
experiência em análise que mostra a Louise que o inconsciente não é um
baú de imagens maravilhosas ou terríveis que podemos recuperar, mas uma
escrita fragmentária, uma inscrição intermitente de traços de memória, o
encontro fortuito com cacos de palavras e imagens multívocas e em fuga.
Na recordação trata-se de cenas, sejam elas vagas ou bem construídas, que
com frequência escondem outras cenas. A lembrança é fragmentária ou até
mesmo inexistente (habitando aquilo que Freud chama de Outra Cena), ou
é lembrança encobridora, véu sobre outra coisa que não se deixa lembrar,
mas deve ser construída ficcionalmente para que se tenha algum acesso à
verdade do sujeito.
Talvez não seja a verdade mas pode ser uma forma de verdade, você
sabe tão pouco, tem de tentar fazer o possível para aprender a ler o que
a rodeia! […] Vou perder minha verdade agora que a tenho, vou perdê-
la.[330]
Arte é um troço mole, por isso são necessários fios flexíveis para tirar suas
medidas.
MILTON MACHADO
Milton Machado é um arquiteto sem medidas e um historiador do futuro.
Em seu trabalho parece se condensar, em um pulsante e heterogêneo caos,
nada menos que o mundo (um pouco como o aleph de Borges: tudo estaria
ali, ao mesmo tempo). Quando nos aproximamos um pouco mais, porém,
percebemos o rigor do traçado lógico e a ousadia da construção poética. “A
expressão do que existe é uma tarefa infinita”, como dizia Merleau-Ponty.[348]
Mas ao arquiteto não basta exprimir o que já existe. Exprimir o que existe
é, obrigatoriamente, construir o mundo (e seu tempo), incessantemente e de
forma plural.
Não se trata, portanto, de tecer sobre a realidade uma malha de ficção,
como talvez tenha feito até hoje boa parte da literatura e da arte. Trata-se de
revelar a própria estrutura que sustenta a relação entre coisa e linguagem e
embasa nossa ilusão de realidade homogênea. Trata-se, como na música, de
um trabalho de significantes, reordenando domínios como o do ritmo, da
harmonia, da melodia. Talvez isso tenha alguma relação com a paixão foliã
de Milton ao tocar tamborim na bateria Tsunami do tradicional bloco
carnavalesco das Carmelitas, e com sua prática solitária de improviso no
violão. Menos especulativamente, pode-se supor ligada a isso a importante
presença da música em vários de seus trabalhos, em geral em parceria com
seu grande amigo Rodolfo Caesar (mas também com Alexandre Fenerich e
Vania Dantas Leite, mais pontualmente). Nas cogitações poéticas de Milton,
trata-se de tocar o mundo, refazê-lo. Redesenhá-lo. Apresentar suas tripas,
ou seja: a estrutura simbólica que coincide em parte com o sistema da
linguagem, mas em outra grande parte o transforma, obrigando-o a ir além
dele mesmo, apontando para os restos que o transbordam e põem em xeque.
Porque tal estrutura é precária, fragmentada, está puída como tecido velho.
É necessário reinventá-la.
Como na máquina do mundo de Carlos Drummond de Andrade, estamos
diante de uma revelação. Mas ela não vem de repente, como no poema,
brotada da terra pedregosa de Minas durante uma perambulação do poeta.
Seu aparecimento é laborioso, pois coincide com uma verdadeira
reconstrução do dispositivo criador do mundo. Diante da possibilidade de
sua súbita revelação, o artista não renuncia e parte, mãos pensas, deixando
que se reencerre a resposta final que ali se oferecia. Ele sabe, de saída, que
não há resposta, e por isso põe a mão na massa; o pensamento força o sulco
do chão de barro e revira-lhe os torrões, refaz o mundo e pergunta, sabendo
que terá que repetir mil vezes essa operação, cada vez um pouco diferente.
O artista é a própria máquina do mundo.
Para assim revirar o mundo, é necessário ao mesmo tempo construir uma
narrativa e ir além de qualquer narrativa, subvertendo-a. É impossível e sem
interesse retomar a velha manta da modernidade com suas grandes e
unívocas narrativas. E já que não há uma História, mas muitas histórias,
variadas e sempre parciais, toda história, em vez de narrar fatos, ao se
desdobrar revela sua própria potência de gerar mundo (o que ecoa a ideia
de mundo erigindo mundo de Hélio Oiticica, sem, contudo, que se possa
identificar aí uma influência direta para História do futuro).
O simbólico é um jogo, uma aposta. A partir de sua leitura de Lévi-
Strauss, Lacan anuncia que “o inconsciente é estruturado como uma
linguagem” porque estamos tomados em um jogo de significantes que
produz intersubjetividade. Assim se constrói nossa realidade, como num
jogo de par ou ímpar. A estrutura é jogo imprevisível, e não sistema
imutável. A estrutura é máquina: ela gera mundo e portanto está voltada
para o futuro, só se realiza depois, assim como o significado de uma frase
se oferece após o fim de sua enunciação, retroativamente. O inconsciente,
da mesma forma, ignora a passagem do tempo cronológico – sob seu
domínio o passado não ficou para trás, mas continua pulsando no presente,
traçando narrativas futuras (que Freud chama de fantasias). A
temporalidade do inconsciente é aquela do só depois, da retroação. O
passado lateja e demanda (re)construção, ele não cessa de retomar sentidos,
retroativamente, e de apontar sua seta para o futuro. Diariamente,
reinventamos nossas histórias do futuro.
E sem a garantia do fato anterior e já dado de modo definitivo, toda
história torna-se paródia de si mesma.
em 1927, escrever sobre nosso próprio tempo. Seria necessário tomar certa
distância para fazer dele um passado, uma história. Impossível fazer disso
em que estamos mergulhados um objeto de reflexão rigorosa, de
conhecimento imparcial. É des-conhecendo que estamos no mundo, e toda
reflexão sobre ele – e o homem – acaba talvez reproduzindo um certo
velamento, atualizando uma alienação no sentido forte que lhe dá Lacan: a
formação do eu se dá fora, no objeto.
Informados sobre o caráter ilusório e parcial de toda abordagem do
“presente”, não cessamos, porém, de tentar falar dele. Mesmo quando não
tomamos a atualidade como objeto, mesmo quando pretendemos fazer
história e nos debruçamos, prudentes, sobre o passado. Não é possível sair
de seu tempo para, observador onisciente, percorrer os acontecimentos
passados e atuais com um mesmo sábio e soberano distanciamento. Não só
estamos implicados nesses acontecimentos, como neles nos formamos e
vivemos. O sujeito nunca aparece em si, como entidade deles independente
– ao contrário, ele se aninha em alguns objetos singulares, que ocupam um
lugar de destaque na cultura: especialmente as obras de arte. Nelas, o
sujeito se esconde mas se deixa parcialmente revelar, de acordo com a
estrutura de alienação pela qual se constituiu.
Tentando talvez dar notícia do fora que nos formou, a crítica de arte
sustenta-se como discurso sobre alguns objetos privilegiados na cultura, os
objetos de arte. Mas o mundo dos objetos da cultura é, de saída, o sujeito –
nele se passa algo de fundamental que nos faz sujeitos. Toda consideração
sobre as relações da arte com a sociedade deve levar em conta o fato de que
a arte agencia ações sobre a cultura e o sujeito, sobre seu complexo vínculo
constitutivo. Seria muito redutor pensar uma incidência da arte sobre a
sociedade que não passasse por uma ação sobre o sujeito.
O objeto de arte transmite algo do sujeito, pois ele carrega um
testemunho do acontecimento incomparável que nos constitui. A arte
projeta às vezes no futuro, como o faz Mário Pedrosa, este acontecimento
subversivo, “cambalhota no cosmos”, pela qual o homem se revira em
objeto de si mesmo.
Uma das belas experiências que eu tive com arte foi com o Umberto
Costa Barros, em 1970 [na montagem da exposição “Do Corpo à
Terra”, com curadoria de Frederico Morais]. De manhã ele chegou e
ocupou o porão do Palácio das Artes em Belo Horizonte, que estava
cheio de tijolos, ripas, sarrafos, caibros, telhas etc., restos da obra que
tinha sido ali realizada. No final do dia, quando eu desço no porão,
vejo que Umberto pegou tudo que estava no equilíbrio mais instável.
Simplesmente pegava uma ripa e botava em pé, no equilíbrio mais
precário mesmo. Tijolos, numa linha assim, infinita. Você tinha a
impressão de que se respirasse um pouco mais forte ia derrubar tudo.
Uma sensação estranha, muito legal.
numa concepção de plano que deixa de ser uma mera superfície para
“incluir o espaço”, ultrapassando a perspectiva em prol de uma
“pangeometria” variada que constituía tentativas plurais de exploração do
espaço, em diálogo com a matemática e a física.[374] Ele reconhece um marco
dessa invenção do espaço no quadrado negro de Malevich: “Esse quadrado
inteiramente cromático, inteiramente saturado de cor em uma superfície
branca, engendrou uma nova concepção de espaço”.[375] Em 1919, Malevich
já escrevera que “nesse momento, o caminho do homem passa pelo espaço.
O suprematismo, semáforo da cor, situa-se em seu abismo infinito”.[376] Se o
homem caminha num espaço dinâmico e complexo, a arte o põe a andar na
beira do abismo.
Em seu alinhamento com as vanguardas russas do início do século XX, ao
lado da influência direta de Pedrosa, o projeto neoconcreto delineava-se
como uma tentativa de expansão no espaço, a partir do uso do “vocabulário
geométrico” para expressar “realidades humanas complexas”, como
explicita Ferreira Gullar no Manifesto Neoconcreto. A arte se daria como
“fenômeno que dissolve o espaço e a forma como realidades causalmente
determináveis e os dá como tempo – como espacialização da obra”.[377]
Gullar precisa: “Entenda-se por espacialização da obra o fato de que ela
está sempre se fazendo presente, está sempre recomeçando o impulso que a
gerou e de que ela era já a origem. […] A arte neoconcreta funda um novo
‘espaço’ expressivo”.[378]
O espaço surge como preocupação expressiva, tanto em Lygia Clark com
sua linha orgânica e, em seguida, seus Casulos e seus Bichos, quanto em
Hélio Oiticica e seu mergulho na cor (seu “corpo-cor”) para chegar à
arquitetura dos Núcleos e dos Penetráveis. O espaço se distende em
dimensões múltiplas e se desmaterializa em tempo e ato, o que levará ao
desdobramento das trajetórias de Lygia e Hélio, para além do
neoconcretismo, como busca do sujeito no corpo e do ato transformador do
sujeito – e do social, explicitamente em Oiticica. A respeito dessas
questões, Cildo Meireles refere-se a uma conversa com Guy Brett, anos
atrás:
Guy via a obra de Lygia Clark como se dando da pele para dentro, e a
de Hélio Oiticica, da pele para fora. Isso batia com uma questão que eu
tinha com esses dois artistas. Quando você pega os Bichos da Lygia,
ainda se trata de um acesso a uma interioridade, mas conseguida
através de um observador externo que se insere na história da
escultura. Houve uma época em que eu ficava pensando qual dos dois
teria chegado a uma chave mais geral para essa questão do lugar do
sujeito, desse novo lugar do sujeito. Num determinado momento eu
achei que era essa saída do Bicho, que é um primeiro estágio na Lygia,
porque depois ela passou mesmo para uma coisa que era da
sensibilidade lá para dentro. E o Hélio, tinha essa coisa que desde o
início me impressionou: o fato de que o objeto, esse lá, esse limbo, sei
lá, de repente passa a ser o lugar do sujeito. Quer dizer, você está
dentro da cor – sempre lembrando que, quando você pensa no El
Lissitzky, você vê a origem de tudo, sobretudo do neoconcretismo.
Mas eu acho que houve esse avanço, a partir exatamente desse
reposicionamento do sujeito em relação a esse tipo de produção. Eu
noto que em alguns trabalhos essa é uma preocupação que aparece às
vezes, e às vezes até esqueço onde aparece – mas, por exemplo, acho
que no Cinza isso é muito claro.
um país tão estreito, tão estreito que não coubesse ninguém lá dentro.
Todos os seus nacionais seriam necessariamente estrangeiros. Isso é
um pouco também uma situação de fronteira que eu acho interessante,
onde exatamente esse sujeito da pele para fora, digamos, ele não tem
um lugar físico. Isso é a coisa do malabarista, que você só resolveria se
introduzisse uma outra variante – o tempo, sei lá. Seria impossível
numa coisa meramente espacial.
À medida que o tempo passa, eu cada vez mais acredito que a única
coisa que existe mesmo é o tempo, todo o resto é resíduo. Talvez exista
apenas esse único e grande mecanismo que a gente não consegue saber
exatamente o que é. […] Às vezes eu me pego pensando assim: mas o
que será um planeta? Talvez seja o acúmulo de algum resíduo que só
um tempo muito longo permitiria se manifestar como tal. Talvez a
Terra não seja grande coisa, talvez ela não seja mais do que um
cisquinho de uma bactéria que se reproduziu, agora necessariamente
vai chegar um ponto irredutível do que ela é. E é isso que vai constituir
todo o resto.
Estudo para área: por meios acústicos (sons). Escolha um local (cidade
ou campo), pare e concentre-se atentamente nos sons que você
percebe, desde os próximos até os longínquos.
Existe, portanto, na base da política, uma “estética” que não tem nada
a ver com a “estetização da política” própria à “era das massas” de que
falava Benjamin. Essa estética não deve ser entendida no sentido de
uma captura perversa da política por uma vontade de arte, pelo
pensamento do povo como obra de arte. Insistindo na analogia, pode-
se entendê-la num sentido kantiano – eventualmente revisitado por
Foucault – como o sistema das formas a priori determinando o que se
dá a sentir. É um recorte dos tempos e dos espaços, do visível e do
invisível, da palavra e do ruído que define ao mesmo tempo o lugar e o
que está em jogo na política como forma de experiência. A política
ocupa-se do que se vê e o que se pode dizer sobre o que é visto, de
quem tem competência para ver e qualidade para dizer, das
propriedades do espaço e dos possíveis do tempo.[390]
Todo ato artístico seria político, portanto, num sentido muito mais
fundamental do que o da intenção de veicular um enunciado ideológico.
Podemos dizer que o objeto ou ato artístico seria capaz de evocar o campo
sensível que está na base da política e de agir sobre ele de maneira
eventualmente transformadora, na medida em que rearranjaria os recortes
entre tempos e espaços, visível e invisível, palavra, ruído e melodia. Com
isso, a arte incidiria justamente sobre o “lugar” do sujeito na pólis.
Incidir sobre esse campo não significa reafirmar os recortes já
estabelecidos entre tempo e espaço, visível e invisível, palavra e ruído, mas
introduzir neles um certo desvio, como faz com frequência Cildo Meireles.
Desvio para o vermelho (1967-84) é um de seus trabalhos mais conhecidos.
Mais que a simbologia introduzida pela cor vermelha ao cobrir todo um
espaço doméstico bem arrumado e pequeno-burguês – vermelho comunista,
vermelho do sangue, das paixões, da violência – o fundamental parece ser
aí o desvio. Subvertendo as categorias do visível e do objeto, esse trabalho
nos põe em suspense diante de um espaço estranhado e que tem um canto –
onde, como já ouvimos Cildo dizer de seus Cantos, pode acontecer de tudo.
Um dos vértices da sala integralmente vermelha abre-se para o escuro no
qual podemos acompanhar, após os instantes necessários para a
acomodação dos olhos, a grande mancha vermelha, ondulante, que vai se
tornando mais fina. O vermelho desvela-se como tinta, como cor de onde
parte todo aquele pedaço de mundo, aquela arquitetura tão ordenada. Um
ruído de líquido escorrendo ressoa em nós, até que avistamos a fonte de
todo o vermelho: uma pia pregada na parede, torta, quase deixando escorrer
o líquido vermelho que jorra da torneira, sem parar. É dispensável ressaltar
que a pia faz oscilar nosso chão, nosso espaço.
Para Marie-José Mondzain, o sujeito é em sua origem um homo
spectator, nascendo na imagem que tem como modelo as “mãos em
negativo” da gruta de Chauvet – aquelas inscrições rupestres feitas com
pigmentos soprados da boca sobre a mão espalmada na parede da caverna
de maneira a se obter, ao retirá-la, o contorno da mão recortado na mancha
de cor à sua volta. Tal gesto funda o olhar ao mesmo tempo que funda o
sujeito: aquele que não se confunde com sua presença corporal, mas dela se
demarca, retirando sua mão para produzir o signo pelo qual ele se
inscreveria na cultura. É marcando sua ausência, pela retirada da
materialidade de seu corpo, que o homem se inscreve como imagem – que
se dá a ver para si e para os outros – e ao mesmo tempo se separa e se
diferencia da imagem como sujeito falante. “A imagem da mão é a imagem
de um outro com o qual nenhuma relação real é acessível, mas com o qual a
ligação imaginária passa pelo reconhecimento do que se assemelha e faz
sinal (ou faz signo, signe) desde o distante.”[391]
A partir de tal mítico momento originário, o homem se separa de si
mesmo e se articula, no campo do olhar, ao outro. Suas marcas, na imagem,
dão notícia dele, um pouco como as inscrições em carvão e giz presentes
nos painéis de Cinza. Há então que se pensar sobre a “situação política dos
laços que se tecem na partilha dos olhares”, como nota Mondzain.
Discutindo com Benjamin, a filósofa francesa nota que
importante para sua decisão de se tornar artista. Ele viu um homem muito
simples passando pela vegetação próxima à casa de sua avó. De casa, à
noite, as crianças avistavam a fogueira que o homem havia feito no mato, a
cerca de trezentos metros dali. Cildo passou toda a noite imaginando o que
ele estaria fazendo. Pela manhã, correu ao local. “Ele já havia partido, mas
o que encontrei ali foi talvez a coisa mais decisiva para o caminho que
tomei em minha vida.”[403] O andarilho havia construído durante a noite uma
casa em miniatura, feita de pequenos pedaços de madeira, com janelas e
portas que se abriam. Impressionou muito a Cildo a possibilidade de “se
fazer coisas e deixá-las para os demais”.[404] Ele comenta:
O cativeiro é exatamente isso, o que cada artista acha que pode, que
poderia partilhar, e que pudesse ser uma coisa legal para o outro, que
fosse uma coisa positiva, que participasse de uma construção desse
outro (ideal para ele mesmo). Os votos, os augúrios são os melhores
possíveis. Claro que você já fez trabalhos que mudaram as vidas de
pessoas. Talvez você nunca venha a saber. Quando você tiver 103
anos, vem alguém te dizer isso.
Mas o que se partilha não seria justamente o sequestro? Seria, diz Cildo,
algo “que possibilitasse esse sequestro, que seria exatamente um estado de
diálogo entre um sujeito qualquer e determinado objeto”. O cativeiro não é
nosso lugar, dele devemos sair. Reagindo à pergunta de se tal cativeiro seria
uma fronteira, seria seu país tão radicalmente estreito, o artista lembra que
se trata de “um país que só pode existir de fora”.
Para Jean-Christophe Bailly, a política é um “pensamento de pontes e
passarelas, um pensamento do umbral”.[407] O umbral é uma abertura, uma
passagem entre o dentro e o fora, uma possibilidade de troca e partilha.
Nesse umbral, o modelo do comum abrigando diferenças é o da linguagem,
comum entre as diversas línguas como estrutura subjacente a suas
diferenças. Entre línguas há traduções possíveis, mesmo que elas sempre
impliquem algum resto, apontando impossibilidade de uma tradução
perfeita. Bailly constrói então uma alegoria próxima do estreito país de
Cildo Meireles: a da casa feita só de umbrais. O nome dessa casa seria o da
“comunidade da existência”,[408] na qual o comum é uma participação do
múltiplo no mesmo, abrindo para o surgimento do outro, das diferenças.
Tal formulação de uma multiplicidade no mesmo não diz respeito apenas
à troca dita intersubjetiva, ao jogo de espelhos entre um e outro onde as
semelhanças podem atrair e encantar, mas podem também levar à violência
mais pura. Uma comunidade possível é a do país que só existe “de fora”,
como dizia o artista: é aquela que reconhece um fora como testemunho do
nosso íntimo, e portanto inaugura o umbral por onde algo pode se passar, se
transmitir. Um fora nos determina, e dele a arte dá notícias, de forma
privilegiada, construindo um incerto e efêmero território onde surgimos,
fora de nós. É isso, que Blanchot nomeava “alguma coisa fora de nós”, que
é coletivo, levando-nos portanto a buscar o outro para sua transmissão. Só
pelo outro pode-se falar disso (d’Isso, o Id de Freud).
Cildo menciona esse “coletivo” ao falar das coincidências que aparecem
na produção científica: duas pessoas podem estar trabalhando sem saber,
independentemente e geograficamente bem distantes, na mesma hipótese ao
mesmo tempo, sem que haja nenhuma comunicação entre elas.
Rápido encontro em que algo se passa – algo que nem se sabe bem o que é.
Seu poder transformador pode se limitar a uma promessa, mas com ela
talvez já consiga abrir alguma brecha sutil porém vigorosa, algum desvio,
se acreditarmos no que formula Bailly pouco após o fim dos regimes
comunistas:
1 Mário Pedrosa, “Especulações estéticas: Lance final III”, in Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975, p. 139.
2 Hélio Oiticica, “Crelazer”, in Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 116.
3 Walter Benjamin, “Brèves Ombres ii”, in Oeuvres ii. Paris: Gallimard, 2000, p. 349.
5 Hal Foster, The Return of the Real: The Avant-Garde at the End of the Century. Cambridge/ Londres: mit Press, 1996.
6 “Discussões com Heizer, Oppenheim, Smithson” [1970], in G. Ferreira & C. Cotrim (orgs.), Escritos de artistas: Anos 60/70. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 280.
7 Donald Judd, “Objetos específicos”, in G. Ferreira & C. Cotrim, op. cit., p. 102.
8 Citado em Georges Didi-Huberman, O que vemos, o que nos olha, trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1998, p. 91.
11 Marcel Duchamp, “Le Processus créatif”, in Duchamp du Signe. Paris: Flammarion, 1994, p. 247.
12 Sigmund Freud, “Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse” [1917], in Gesammelte Werke [GW], V. XI. Londres: Imago, 1940, p. 295 [ed. bras.: “Conferências
introdutórias sobre psicanálise”, in Edição standard brasileiras completas de Sigmund Freud [ESB], V. XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1987, p. 336].
13 Lygia Clark, “Do ato” [1965], in Lygia Clark (catálogo). Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1997/99, p. 164.
14 Em mesa-redonda que acompanhou a exposição Jardim das delícias no Museu da República, Rio de Janeiro, em 7/12/2006.
15 Maurice Merleau-Ponty, O olho e o espírito, trad. Maria Ermantina Pereira e Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 42.
16 Citado em Tracey Warr & Amelia Jones, The Artist’s Body. Londres: Phaidon, 2000, p. 125.
17 Jacques Lacan, Seminario xv: El ato psicoanalítico, sessão 14 (20/03/1968). Transcrição inédita.
18 S. Freud, “Vergänglichkeit”, in gw, op. cit., V. X, p. 359 [ed. bras.: “Sobre a transitoriedade”, in esb, op. cit., v. xiv, p. 346].
20 Citado em Pierre Kaufmann, Dicionário enciclopédico de psicanálise: O legado de Freud e Lacan, trad. Maria Luiza X. de A. Borges & Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1996, p. 505.
22 Id., “Capturar um fragmento de tempo suspenso” [1973], in Lygia Clark, op. cit., p. 187.
23 Id.,“Da supressão do objeto (Anotações)” [1975], in Lygia Clark, op. cit., p. 265.
24 J. Lacan, “L’Acte psychanalytique: Compte rendu du séminaire 1967-1968”, in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 375 [ed. bras.: “O ato psicanalítico: Resumo do seminário de
27 Id., Le Séminaire, livre x: L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004, p. 60 [ed. bras.: O seminário, livro x: A angústia, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 58].
28 Citado em T. Warr & A. Jones, op. cit., p. 194.
30 Ver M. Merleau-Ponty, O visível e o invisível, trad. José Arthur Giannotti & Armando Mora d’Oliveira. São Paulo: Perspectiva, 2000, pp. 131-32.
31 Roger Caillois, “Mimetismo e psicastenia legendária”. Che Vuoi? Psicanálise e Cultura, n. 0, v. 1, 1986, p. 60.
37 J. Lacan, O seminário, livro xi: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 104.
42 J. Lacan, “Télévision”, in Autres écrits, op. cit., p. 537 [ed. bras.: “Televisão”, in Outros escritos, op. cit., p. 535].
46 Hal Foster et al., “Psychoanalysis in Modernism and as Method”, in Art Since 1900: Modernism, Antimodernism, Postmodernism. Londres: Thames & Hudson, 2004, p. 1.
47 Stéphane Mallarmé, “Richard Wagner: Rêverie d’un poète français”, in Écrits sur l’art. Paris: Flammarion, 1998, p. 364.
48 Ver Arlindo Machado, O quarto iconoclasmo e outros ensaios hereges. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.
49 Ver Sigmund Freud, “Lembranças encobridoras”, in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud [esb], V. III. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
50 Ver a respeito dessa distinção meu livro Cinema, imagem e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
51 In visuelle Bilder, no original. Ver S. Freud, “Die Traumdeutung”, in Gesammelte Werke [gw], V. II/III. Londres: Imago, 1942, p. 551 [ed. bras.: “A interpretação dos sonhos”, in
52 Walter Benjamin, “Pequena história da fotografia” [1931], in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 94.
54 No original, Bildliche Sprache: linguagem ou língua pictórica. Ver S. Freud, “Die Traumdeutung”, op. cit., V. II/III, p. 323.
55 Id., “Sobre os sonhos”, in ESB, op. cit., V. V, p. 590. Tradução revista de acordo com a edição original.
57 E não um trecho de “A interpretação dos sonhos”, como afirma equivocadamente o catálogo da exposição Freud and Contemporary Art: The Collection of the Sigmund Freud
58 S. Freud, “Os chistes e sua relação com o inconsciente”, in esb, op. cit., pp. 186-87. Tradução revista de acordo com a edição original. Ver “Der Witz und Seine Beziehung zum
59 Joseph Kosuth, Zeno at the Edge of the Known World (catálogo). xlv Bienal de Veneza, 1993, p. 104.
60 Id., “Art After Philosophy and After”, in Collected Writings: 1966-1990. Cambridge / Londres: mit Press, 1991, p. 233.
61 Id., Zeno at the Edge of the Known World, op. cit., p. 104.
63 Neue Oberflächen, no original. Ver S. Freud, “Über den Traum”, in gw, op. cit., V. II/III, p. 673 [ed. bras.: “Sobre os sonhos”, in ESB, op. cit., V. V, p. 591].
72 H. Foster, The Return of the Real: The Avant-Garde at the End of the Century. Cambridge / Londres: mit Press, 1996, p. 149.
73 Citado em Alfredo Bosi, “Uma cultura doente?”, in I. Svevo, A consciência de Zeno. São Paulo: Nova Fronteira, 2001, p. 409.
74 J. Kosuth, Zeno at the Edge of the Known World, op. cit., p. 153.
77 J. Kosuth, Zeno at the Edge of the Known World, op. cit., p. 152.
79 Aristóteles, Poética, trad. Eudoro de Sousa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994, p. 107 (§ 1448b: 8; 16-19).
82 Eu assinalo a expressão que corresponde ao original hoher Genuss. Ver S. Freud, “Além do princípio do prazer”, in esb, op. cit., V. XVIII, p. 29.
84 Rosalind Krauss, The Optical Unconscious. Cambridge / Londres: mit Press, 1998, p. 24.
85 J.-F. Lyotard, “Foreword: After the Words”, in J. Kosuth, Collected Writings, op. cit., p. xviii.
89 Roland Barthes, “O espírito da letra”, in O óbvio e o obtuso. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 93.
92 “Traumbild”, como grafa Freud, entre aspas. Ver S. Freud, “Os chistes e sua relação com o inconsciente” [1905], in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas
95 Jacques Lacan, “Fonction et champ de la parole et du langage”, in Écrits. Paris: Seuil, 1966, p. 267 [ed. bras.: “Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise”, in Escritos.
96 Id., Le Séminaire, livre ii: Le Moi dans la théorie de Freud et dans la technique de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1978, p. 231 [ed. bras.: O seminário, livro ii: O eu na teoria de
98 J. Lacan, Le Séminaire, livre XX: Encore. Paris: Seuil, 1975, p. 45 [ed. bras.: O seminário, livro XX: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 63].
99 Robert Mittenthal, “Standing Still on the Lip of Being: Gary Hill’s Learning Curve”, in Gary Hill (catálogo). Washington, Hirshhorn Museum, 1994, p. 93.
100 Raymond Bellour, L’Entre-images 2: Mots, images. Paris: P.O.L., 1999, p. 37.
101 Gary Hill: O lugar do outro /Where the Other Takes Place (catálogo). Rio de Janeiro: CCBB, 1997, p. 70.
103 Michel Foucault, As palavras e as coisas: Uma arqueologia das ciências humanas, trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1985, p. 25.
105 Lucinda Furlong, “A Manner of Speaking: An Interview with Gary Hill”. Afterimage, n. 10, 1983.
106 J. Lacan, “Avis au lecteur japonais” [1972], in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 498 [ed. bras.: “Aviso ao leitor japonês”, Outros escritos, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
107 Jean-Louis Gault, “Quelques traits remarquables de la langue japonaise”, in Analytica 55 (Lacan et la chose japonaise). Paris: Navarin, 1988, p. 25.
108 John G. Hanhardt, “Between Language and the Moving Image: The Art of Gary Hill”, in Gary Hill, op. cit., p. 64.
109 S. Freud, “Os chistes e sua relação com o inconsciente”, in ESB, op. cit., V. III, p. 49.
110 Paul-Emmanuel Odin, “Ura Aru (The Backside Exists)”, in <www.newmedia-art.info/cgi-bin/show-oeuasp?ID=150000000034433&lg=FRA>. Consultado em 06/07/2012.
111 Arlindo Machado, “Por que se desorganizam a linguagem e o sentido?”, in Gary Hill: O lugar do outro/ Where the Other Takes Place (catálogo), op. cit., p. 19.
112 François Cheng, “Lacan et la Pensée chinoise”, in J. Aubert et al., Lacan: L’Écrit, l’image. Paris: Flammarion, 2000, p. 136.
113 J. Lacan, Le séminaire, livre XX: Encore, op. cit., p. 12 [ed. bras.: O seminário, livro xx: Mais, ainda, op. cit., p. 14].
115 Ver S. Freud, “Uma nota sobre o bloco mágico”, in ESB, op. cit., V. XIX.
116 J. Lacan, “Lituraterre” [1971], in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 16 [ed. bras.: “Lituraterra”, in Outros escritos, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 21].
119 Sigmund Freud, “Escritores criativos e devaneio”, in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud [ESB], V. IX. Rio de Janeiro: Imago, 1987.
120 Jacques Lacan, Le Séminaire, livre vii: L’Éthique de la Psychanalyse. Paris: Seuil, 1986, p. 145 [ed. bras.: O seminário, livro vii: A ética da psicanálise, trad. Antônio Quinet. Rio
124 Marie-José Mondzain, “Les Images parlantes”, in M. Gagnebin (org.), Les Images parlantes. Paris: Champ Vallon, 2005, p. 21.
125 Id., ibid., p. 22.
126 Kasimir Malevich, “Suprematismo”, in H. B. Chipp (org.), Teorias da arte moderna, trad. Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 347.
128 Barnett Newman, “O primeiro homem era um artista”, in H. B. Chipp, op. cit., p. 559.
131 Ernst Jentsch, Zur Psychologie des Unheimlichen, in <http://edocs.ub.uni-frankfurt.de/volltexte/2008/10095>. Consultado em 1/7/2012.
132 J. Lacan, Le Séminaire, livre XIII: L’Objet de la psychanalyse, sessão de 25/05/1966.Transcrição inédita.
133 J. Lacan, “La Méprise du sujet supposé savoir”, in Autres Écrits. Paris: Seuil, 2001, p. 330 [ed. bras.: “O engano do sujeito suposto saber”, Outros escritos, trad. Vera Ribeiro. Rio
134 Id., Le Séminaire, livre VII: L’Éthique de la Psychanalyse. Paris: Seuil, 1986, p. 167 [ed. bras.: O seminário, livro VII: A ética da psicanálise, trad. Antônio Quinet. Rio de
135 Roland Barthes, “Qu’est-ce que la Critique?”, in Essais critiques. Paris: Seuil, 1964, p. 266 [ed. bras.: “O que é a crítica”, in Crítica e verdade. São Paulo: Perspectiva, 2007].
136 J. Lacan, Le Séminaire, livre VII: L’Éthique de la Psychanalyse, op. cit., p. 237 [ed. bras.: p. 246].
137 Theodor W. Adorno, “O ensaio como forma”, in Notas de literatura i. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2003, p. 36.
138 Walter Benjamin, “Annonce de la revue Angelus Novus”, in Oeuvres i. Paris: Gallimard, 2000, p. 268.
139 Hélio Oiticica, Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 72.
141 H. Oiticica, “Bases fundamentais para uma definição do Parangolé”, in Aspiro ao grande labirinto, op. cit, pp. 66-67.
142 H. Oiticica, “Anotações sobre o Parangolé”, in Aspiro ao grande labirinto, op. cit., p. 71.
143 Citado em L Figueiredo (org.), Hélio Oiticica: A pintura depois do quadro. Rio de Janeiro: Silvia Roesler, 2008, pp. 264-65.
144 H. Oiticica, “Esquema geral da nova objetividade”, in Aspiro ao grande labirinto, op. cit., p. 93.
146 Id., “Anotações para serem traduzidas para inglês: para uma próxima publicação”, in P. Braga (org.), Fios soltos: A arte de Hélio Oiticica. São Paulo: Perspectiva, 2008, p. 318.
147 Sigmund Freud, “Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse”, in Gesammelte Werke [GW], V. XI. Londres: Imago, 1944, p. 295 [ed. bras.: “Conferências introdutórias
sobre psicanálise”, in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud [ESB], V. XV. Rio de Janeiro: Imago, 1976, p. 336].
148 Id., “Das Ich und das Es” [1923], in GW, op. cit., V. XIII, p. 253 [ed. bras.: “O ego e o Id”, in esb, op. cit., V. XIX, p. 39]
149 Jacques Lacan, “L’Instance de la lettre ou la raison depuis Freud”, in Écrits. Paris: Seuil, 1966, p. 517 [ed. bras.: “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”, in
150 Id., “Remarque sur le rapport de Daniel Lagache”, in Écrits, op.cit., p. 681 [ed. bras.: “Obsevações sobre o relatório de Daniel Lagache, in Escritos, op. cit., p. 688].
151 Georges Didi-Huberman, O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998, pp. 246-47. Grifos meus.
152 François Baudry, “Fantasia”, in Pierre Kaufmann, Dicionário enciclopédico de psicanálise: O legado de Freud e Lacan, trad. Maria Luiza X. de A. Borges & Vera Ribeiro. Rio de
154 Id., O olho e o espírito, trad. Maria Ermantina Pereira & Paulo Neves. São Paulo: Cosac Naify: 2004, p. 29.
155 Stéphane Mallarmé, “Richard Wagner: Rêverie d’un poète français”, in Écrits sur l’art. Paris: Flammarion, 1998, p. 364.
156 Tristan Tzara, “Manifeste Dada 1918”, in Dada est tatou, tout est Dada. Paris: Flammarion, 1996, p. 208.
157 J. Lacan, “Le Stade du miroir comme formateur de la fonction du Je telle qu’elle nous est révélée dans l’expérience psychanalytique”, in Écrits, op. cit., p. 93 [ed. bras.: pp. 96-
97].
159 Roger Caillois, “Mimetismo e psicastenia legendária”. Che Vuoi? Psicanálise e Cultura, n. 0, V. 1, Porto Alegre, 1986, p. 62.
162 Gérard Wajcman, “L’Art, la psychanalyse, le siècle”, in J. Aubertet et al., Lacan: L’Écrit, l’image. Paris: Flammarion, 2000.
163 J. Lacan, Le Séminaire, livre X: L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004, p. 51 [ed. bras.: O seminário, livro x: A angústia, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 50].
164 Maurice Blanchot, “Les Deux Versions de l’imaginaire”, in L’Espace littéraire. Paris: Folio, 2000, p. 350 [ed. bras.: “As duas versões do imaginário”, in O espaço literário, trad.
166 Lygia Clark (catálogo). Barcelona: Fundació Antoni Tàpies, 1997/99, p. 164.
170 Lygia Clark & Hélio Oiticica, Cartas: 1964-1974. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998, p. 57.
178 “Não estar em repouso com as palavras (entrevista com Pierre Fédida)”, in Lygia Clark, da obra ao acontecimento: Somos o molde, a você cabe o sopro (catálogo). São Paulo:
183 S. Freud , “Achados, ideias, problemas” [1938], in ESB, op. cit., V. XXIII, p. 336.
184 Jacques Lacan, Le Séminaire, livre XX: Encore. Paris: Seuil, 1975, p. 14 [ed. bras.: O seminário, livro XX: Mais, ainda, trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p.
17].
185 Id., Le Séminaire, livre x: L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004, p. 51 [ed. bras.: O seminário, livro X: A angústia, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 50].
186 Id., ibid., p. 60 [ed. bras.: p. 58]
187 Cildo Meireles: Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: Artviva, 2001, p. 20.
188 Sigmund Freud, “Neue Folge der Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse”, in Gesammelte Werke [gw], v. xv. Londres: Imago, 1944, p. 86.
189 Stéphane Mallarmé, “Um lance de dados jamais abolirá o acaso”, in Mallarmé, trad. A. de Campos, D. Pignatari & H. de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2006, pp. 170-71.
190 S. Freud, “Über den Traum”, in gw, op. cit., V. II/III, p. 673 [ed. bras.: “Sobre os sonhos”, in ESB, V. V, p. 39].
191 Martin Heidegger, “Observações sobre arte – escultura – espaço”. Artefilosofia, n. 5, 2008, p. 19.
193 J. Lacan, Le Séminaire, livre X: L’Angoisse, op. cit., p. 51 [ed. bras.: pp. 50-51].
194 Citado em Georges Didi-Huberman, O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 1998, p. 91.
195 S. Freud, “A interpretação dos sonhos”, in ESB, op. cit., V. IV, p. 304.
196 J. Lacan, Le Séminaire, livre XIII: L’Objet de la psychanalyse, sessão de 11/05/1966. Transcrição inédita.
199 Michel Foucault, As palavras e as coisas: Uma arqueologia das ciências humanas, trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 1985, p. 31.
205 Ver Marco Antonio Coutinho Jorge, Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 251.
209 Walter Benjamin, A modernidade e os modernos, trad. Heidrun Krieger Mendes da Silva. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, p. 15.
210 Id., Obras escolhidas II: Rua de mão única, trad. Rubens Rodrigues Torres Filho & José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 54.
212 Citado em Murielle Gagnebin, “Picasso, Iconoclaste… ”. L’Arc, n. 82, 1981, p. 39.
213 Sigmund Freud, “Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse” [1917], in Gesammelte Werke, V. XI. Londres: Imago, 1944, p. 295.
214 W. Benjamin, Obras escolhidas ii: Rua de mão única, op. cit., p. 54.
215 Jacques Lacan, Le Séminaire, livre vii: L’Éthique de la Psychanalyse. Paris: Seuil, 1986, p. 133 [ed. bras.: O seminário, livro VII: A ética da psicanálise, trad. Antônio Quinet.
217 Hal Foster, The Return of the Real: The Avant-Garde at the End of the Century. Cambridge / Londres: mit Press, 1996, p. 146.
218 Roland Barthes, A câmara clara, trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
222 Arthur Rimbaud, “Carta dita do vidente”, in Rimbaud por ele mesmo, trad. Alberto Marsicano & Daniel Fresnor. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 109.
223 Leon Battista Alberti, De la peinture,de pictura [1435]. Paris: Macula / Dédale, 1992, p. 147 [ed. bras.: Da pintura, trad. Antonio Silveira Mendonça. Campinas: Editora da
225 Stéphane Mallarmé, Divagações, trad. Fernando Scheibe. Florianópolis: ufsc, 2010, p. 238. Grifos meus.
226 Id., “Um lance de dados jamais abolirá o acaso” in Mallarmé, trad. A. de Campos, D. Pignatari & H. de Campos. São Paulo: Perspectiva, 2006, p. 152.
227 Raymond Bellour, “L’Analyse flambée”, in L’Entre-Images: Photo, cinéma, vidéo. Paris: La Différence, 2002.
228 Citado em Theodor W. Adorno, “O ensaio como forma”, in Notas de Literatura i, trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2003, p. 38.
229 Jean Durançon, “Le Droit à l’essai”, in M. Gagnebin & S. Liandrat-Guigues (orgs.), L’Essai et le cinéma. Seyssel: Champ Vallon, 2004, p. 232.
235 Otília Arantes, “Mário Pedrosa, um capítulo brasileiro da teoria da abstração”, in M. Pedrosa, Forma e percepção estética. São Paulo: Edusp, 1996.
236 Paulo Herkenhoff, Poética da percepção: Questões da fenomenologia na arte brasileira. Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna, 2008, p. 61.
238 Ferreira Gullar, Manifesto Neoconcreto, in Experiência neoconcreta. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
239 Mário Pedrosa, “Arte e revolução”, in Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975, p. 247.
240 Id., “Arte e Freud”, in Forma e percepção estética, op. cit., p. 230.
242 El Lissitzky, “Proun Space”, in Russia: An Architecture for World Revolution. Cambridge / Londres: mit Press, 1989, p. 138.
243 M. Pedrosa, “Da abstração à auto-expressão”, in Mundo, homem, arte em crise, op. cit., p. 37.
245 P. Herkenhoff, “Diagrama da vida (entrevista com Suely Rolnik)”, in Lygia Clark, da obra ao acontecimento: Somos o molde, a você cabe o sopro (catálogo). São Paulo,
246 M. Pedrosa, “Da abstração à auto-expressão”, in Forma e percepção estética, op. cit., p. 44.
249 M. Pedrosa, “Forma e personalidade”, in Forma e percepção estética, op. cit., p. 220.
254 M. Pedrosa, “Arte ambiental, arte pós-moderna, Hélio Oiticica”, in Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. São Paulo: Perspectiva, 1981, p. 205.
256 Em entrevista concedida em 2009 para a realização do vídeo Ensaio sobre o sujeito na arte contemporânea brasileira, que acompanha este livro.
257 Citado em Pierre Kaufmann, Dicionário enciclopédico de psicanálise: O legado de Freud e Lacan, trad. Maria Luiza X. de A. Borges & Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge
258 Theodor W. Adorno, Teoria estética, trad. Artur Mourão. Lisboa: Edições 70, 2008, p. 127.
259 M. Pedrosa, “Arte ambiental, arte pós-moderna, Hélio Oiticica”, in Forma e percepção estética, op. cit., p. 207.
260 Hélio Oiticica, “Programa ambiental”, in Aspiro ao grande labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 79.
261 Hélio Oiticica (catálogo). Rio de Janeiro: Centro de Arte Hélio Oiticica, 1996, p. 88.
262 H. Oiticica, “Esquema geral da Nova Objetividade”, in Aspiro ao grande labirinto, op. cit., p. 93.
263 Lygia Clark & Hélio Oiticica, Cartas: 1964-1974. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998, p. 248.
264 Tunga, “O sabonete é uma escultura (entrevista a Suely Rolnik)”, in Lygia Clark, da obra ao acontecimento, op. cit., p. 89.
265 Citado em Suely Rolnik, “Uma terapêutica para tempos desprovidos de poesia”, in Lygia Clark, da obra ao acontecimento, op. cit, p. 13.
268 Walter Benjamin, “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” [1935], in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo:
271 Sigmund Freud, “Sobre a transitoriedade” [1915], in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1987, V. XIV, p.
317.
276 Id.,“Sobre alguns temas de Baudelaire”, in A modernidade e os modernos, trad. Heidrun Krieger Mendes da Silva. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000, p. 56.
277 Id., “Pequena história da fotografia” [1931], in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, op. cit., p. 94.
281 Id., “Brèves Ombres” [1933], in Oeuvres ii. Paris: Gallimard, 2000, p. 343.
287 S. Freud, “O Estranho” [1919], in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, op. cit., v. xvii, p. 282.
288 W. Benjamin, “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, op. cit., p. 189.
290 Id., “Brinquedo e brincadeira: Observações sobre uma obra monumental” [1928], in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, op. cit., p. 253.
292 Mário Pedrosa, “Especulações estéticas: Lance final iii”, in Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975, p. 139.
293 Em entrevista que concedeu, em abril de 2009, para o vídeo Ensaio sobre o sujeito na arte contemporânea brasileira, que acompanha esse volume.
294 El Lissitzky, “Proun Space”, in Russia: An Architecture for World Revolution. Cambridge/ Londres: mit Press, 1989, p. 138.
296 Martin Heidegger, “Observacões sobre arte – escultura – espaço”. Artefilosofia, n. 5, 2008, pp. 18-19.
299 Citado em Katya Garcia-Anton, “Ernesto Neto: Gramatica Jocosa”, in Ernesto Neto. Londres: Institute of Contemporary Arts, 2000, p. 28.
300 Cildo Meireles: Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: Artviva, 2001, p. 21.
302 Sigmund Freud., “Goethe-Preis 1930: Brief an Dr. Alons Paquet” [O prêmio Goethe], Gesammelte Werke [gw]. Londres: Imago, 1944, v. xiv, p. 550.
303 Louise Bourgeois: O retorno do desejo proibido. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2011, p. 49.
309 Louise Bourgeois, Marie-Laure Bernadac & Hans-Ulrich Obrist, Louise Bourgeois: Destruição do pai, reconstrução do pai, trad. Álvaro Machado & Luiz Roberto Mendes
311 Philip Larrat-Smith, “Introdução: A escultura como sintoma”, in Louise Bourgeois: O retorno do desejo proibido, op. cit., p. 9.
315 S. Freud, “Der Wahn und die Träume in W. Jensens Gradiva” [1906], in gw, op. cit., V. VII, p. 61.
317 Henry Lowenfeld, “Traumatisme psychique et expérience créatrice chez l’artiste” [1937], in Psychanalyse à L’Université, n. 8, v. 2, 1977, p. 671.
324 S. Freud, “Escritores criativos e devaneios” [1907], in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1987, V. IX, p.
158.
326 Citado em Donald Kuspit, “Louise Bourgeois em análise com Henry Lowenfeld”, in Louise Bourgeois: O retorno do desejo proibido, op. cit, p. 30.
331 Arthur Rimbaud, “Carta dita do vidente”, in Rimbaud por ele mesmo, trad. Alberto Marsicano & Daniel Fresnor. São Paulo: Martin Claret, 2008, p. 109.
332 João Guimarães Rosa, “O espelho”, in Ficção completa i. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p. 52.
333 Roland Barthes, Roland Barthes por Roland Barthes, trad. Leyla Perone-Moisés. São Paulo: Estação Liberdade, 2003, p. 11.
334 Louise Bourgeois: Destruição do pai, reconstrução do pai, op. cit., p. 313.
335 Stéphane Mallarmé, “Um lance de dados jamais abolirá o acaso”, trad. Haroldo de Campos, in A. de Campos, D. Pignatari & H. de Campos (orgs.), Mallarmé. São Paulo:
336 Maurice Blanchot, “L’Expérience de Mallarmé”, in L’Espace littéraire. Paris: Gallimard, 1955, p. 38 [ed. bras.: “A experiência de Mallarmé”, in O espaço literário, trad. Álvaro
337 R. Barthes, O óbvio e o obtuso, trad. Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 183.
338 Louise Bourgeois: Destruição do pai, reconstrução do pai, op. cit., p. 173.
346 Louise Bourgeois: Destruição do pai, reconstrução do pai, op. cit., p. 111.
349 Raymond Roussel, Comment j’ai écrit certains de mes livres. Paris: Gallimard, 1995, p. 23.
353 Jean-François Lyotard, “Philosophy and Painting in the Age of their Experimentation”, in The Lyotard Reader. Nova York: Wiley-Blackwell, 1989, p. 186.
354 Walter Benjamin, Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 232.
355 J.-F. Lyotard, Le Post-moderne expliqué aux enfants. Paris: Galilée, 1988, p. 27.
356 Id., “Philosophy and Painting in the Age of their Experimentation”, op. cit., p. 190.
358 Mário Pedrosa, “Especulações estéticas: Lance final iii”, in Mundo, homem, arte em crise. São Paulo: Perspectiva, 1975, pp. 138-39.
359 Esta e as demais citações do artista, salvo indicação explícita, provêm da entrevista que ele concedeu em 2009 para o vídeo Ensaio sobre o sujeito na arte contemporânea
361 Walter Benjamin, “Sobre o conceito da história”, in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 223.
362 Id., “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, in Obras escolhidas i: Magia e técnica, arte e política, op. cit., p. 170.
363 Sigmund Freud, “Sobre a transitoriedade” [1915], in Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1987, p.
317.
364 W. Benjamin, “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, op. cit., p. 170.
368 Roland Barthes, A câmara clara, trad. Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
370 Cildo Meireles: Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: Artviva, 2001, p. 40.
372 Cildo Meireles: Algum desenho (1963-2008). Curitiba: Museu Oscar Niemeyer, 2008, p. 60.
373 Mário Pedrosa, “As relações entre a ciência e arte” [1953], in Forma e percepção estética. São Paulo: Edusp, 1996, p. 248.
374 El Lissitzky, “A. and Pangeometry”, in Russia: An Architecture for World Revolution. Cambridge/ Londres: mit Press, 1989, p. 143.
376 Kasimir Malevich, “Le Suprématisme”, in Malevitch Écrits. Paris: Ivrea, 1996, p. 226.
377 Ferreira Gullar, “Manifesto neoconcreto” [1959], in Experiência neoconcreta. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
379 Piet Mondrian, “Arte plástica e arte plástica pura (Arte figurativa e arte não figurativa)”, in H. B. Chipp (org.), Teorias da arte moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 354.
383 Martin Heidegger, “Observações sobre arte – escultura – espaço”. Artefilosofia, n. 5, 2008, pp. 19-21.
384 Id., ibid., p. 19.
387 Barnett Newman, “O primeiro homem era um artista”, in H. B. Chipp (org.), Teorias da arte moderna, op. cit., p. 560.
388 Em entrevista a Camila Molina, “A obra sonora de Cildo Meireles”. O Estado de S. Paulo, 21/08/2011.
389 Jacques Rancière, A partilha do sensível: Estética e política, trad. Mônica Costa Neto. São Paulo: Editora 34 / Exo, 2005, p. 15.
391 Marie-José Mondzain, Homo Spectator. Paris: Bayard, 2007, p. 31. Grifos meus.
393 Hannah Arendt, A vida do espírito, trad. Antônio Abrances et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 513.
398 Jean-Luc Nancy, “La Comparution”, in J.-L. Nancy & J.-C. Bailly, La Comparution. Paris: Christian Bourgois, 2007, p. 57.
402 Maurice Blanchot, “Le Dernier à parler”, in Une Voix venue d’ailleurs. Paris: Gallimard, 2002, p. 71.
403 Nuria Enguita, “Lugares de divagación: Una entrevista con Cildo Meireles, in Cildo Meireles. Valencia: ivam Centre del Carme / Generalitat Valenciana, 1995, p. 13.
406 Jacques Lacan, Le séminaire, livre x: L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004, p. 60 [ed. bras.: O seminário, livro x: A angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 58].
407 Jean-Christophe Bailly, “Avant Propos”, in J.-L. Nancy & J.-C. Bailly, op. cit., p. 20.
409 Citado em M. Blanchot, La Communauté inavouable. Paris: Les Éditions de Minuit, 1983, p. 16.
410 J.-C. Bailly, “L’Isthme”, in J.-L. Nancy & J.-C. Bailly, op. cit., p. 42.
SOBRE OS TEXTOS
Parte dos ensaios deste livro tiveram como ponto de partida, às vezes com
muitas modificações e acréscimos, outras com pequenos ajustes, os
seguintes textos:
Moeda, 1994.
BAILLY, Jean-Christophe. “Avant Propos”, in J.-L. Nancy & J.-C. Bailly. La
1983.
_______. “Les Deux Versions de l’imaginaire”, in L’Espace littéraire.
Paris: Folio, 2000 [ed. bras.: “As duas versões do imaginário”, in O
espaço literário, trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987].
_______. “L’Expérience de Mallarmé”, in L’Espace littéraire, Paris:
Gallimard, 1955 [ed. bras.: “A experiência de Mallarmé”, in O espaço
literário, trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987].
_______. “Le Dernier à parler”, in Une Voix venue d’ailleurs. Paris:
Gallimard, 2002.
bourgeois, Louise; bernadac, Marie-Laure & Hans-Ulrich obrist. Louise
Bourgeois: Destruição do pai, reconstrução do pai, trad. Álvaro
Machado & Luiz Roberto Mendes Gonçalves. São Paulo: Cosac Naify,
2000.
_______. Louise Bourgeois: O retorno do desejo proibido. São Paulo:
Instituto Tomie Ohtake, 2011.
BOSI , Alfredo “Uma cultura doente?”, in Italo Svevo, A consciência de Zeno,
trad. Ivo Barroso. São Paulo: Nova Fronteira, 2001.
BRETON, André. Le Surréalisme et la peinture. Paris: Gallimard, 2006.
e Cultura, n. 0, V. 1, 1986.
CHENG, François. “Lacan et la Pensée chinoise”, in J. Aubert et al., Lacan:
DANTAS, Marcello (org.). Gary Hill: O lugar do outro / Where the Other Takes
_______. O que vemos, o que nos olha, trad. Paulo Neves. São Paulo:
Editora 34, 1998.
DUCHAMP, Marcel. “Le Processus créatif”, in Duchamp du Signe. Paris:
Flammarion, 1994.
_______. Notes. Paris: Flammarion, 1999.
DURANÇON, Jean. “Le Droit à l’essai”, in M. Gagnebin & S. Liandrat-Guigues
<www.museumexperts.com>.
GUIMARÃES ROSA, João. “O espelho”, in Ficção completa. V. I. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1995.
GULLAR, Ferreira. “Manifesto neoconcreto”, in Experiência neoconcreta. São
Gary Hill”, in Gary Hill: O lugar do outro / Where the Other Takes
Place. Rio de Janeiro: ccbb, 1997.
HEIDEGGER, Martin. “Observações sobre arte – escultura – espaço”. Artefilosofia,
n. 5, 2008.
HEIZER, Michael; oppenheim, Dennis & Robert smithson. “Discussões com
<http://edocs.ub.unifrankfurt.de/volltexte/2008/10095>.
JORGE, Marco Antonio Coutinho. Fundamentos da psicanálise de Freud a
2001.
_______. “Aviso ao leitor japonês”, in Outros escritos, trad. Vera Ribeiro.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
_______. “Fonction et champ de la parole et du langage”, in Écrits. Paris:
Seuil, 1966 [ed. bras.: “Função e campo da fala e da linguagem em
psicanálise”, in Escritos, trad. Vera Ribeiro. São Paulo: Perspectiva,
1996].
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Seuil, 2001.
_______. “O engano do sujeito suposto saber”, Outros escritos, trad. Vera
Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
_______. “L’Acte psychanalytique: Compte rendu du séminaire 1967-
1968”, in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001 [ed. bras.: “O ato
psicanalítico: Resumo do seminário de 1967-68”, in Outros escritos,
trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003].
_______. “Le Stade du miroir comme formateur de la fonction du Je telle
qu’elle nous est révélée dans l’expérience psychanalytique”, in Écrits.
Paris: Seuil, 1966.
_______. Le Séminaire, livre II: Le Moi dans la théorie de Freud et dans la
technique de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1978 [ed. bras.: O seminário,
livro II: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise, trad. Marie
Christine Lasnik Penot & Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1995].
_______. Le Séminaire, livre VI: La Sublimation. Paris: Seuil, 1986.
_______. Le Séminaire, livre VII: L’Éthique de la Psychanalyse. Paris: Seuil,
1986 [ed. bras.: O seminário, livro VII: A ética da psicanálise, trad.
Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988].
_______. Le Séminaire, livre X: L’Angoisse. Paris: Seuil, 2004 [ed. bras.: O
seminário, livro x: A angústia, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2005].
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_______. Le Séminaire, livre XIII: L’Objet de la psychanalyse, sessão de
18/05/1966.
_______. Le Séminaire, livre XIII: L’Objet de la psychanalyse, sessão de
25/05/1966.
_______. Le Séminaire, livre XIII: L’Objet de la psychanalyse, sessão de
08/06/1966.
_______. Le Séminaire, livre XX: Encore. Paris: Seuil, 1975 [ed. bras.: O
seminário, livro XX, Mais, Ainda, trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985].
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razão desde Freud”, in Escritos, trad. Inês Oseki-Dépré. São Paulo:
Perspectiva, 1996].
_______. “Lituraterre” [1971], in Autres écrits. Paris: Seuil, 2001 [ed. bras.:
“Lituraterra”, in Outros escritos, trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2003].
_______. O seminário, livro XI: Os quatro conceitos fundamentais da
psicanálise, trad. M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
_______. “Remarque sur le rapport de Daniel Lagache”, in Écrits. Paris:
Seuil, 1966.
_______. Séminaire L’Objet de la psychanalyse (1965-66), sessão de
25/05/66.
_______. Seminario XV: El ato psicoanalítico, sessão 14 de 20/03/1968.
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MEIRELES, Cildo. “A obra sonora de Cildo Meireles” [entrevista a Camila
_______. O olho e o espírito, trad. Maria Ermantina Pereira & Paulo Neves.
São Paulo: Cosac Naify, 2004.
_______. Le Visible et l’invisible. Paris: Gallimard, 1990 [ed. bras.: O
visível e o invisível, trad. José Arthur Giannotti & Armando Mora
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_______. Sens et non-sens. Paris: Gallimard, 1996.
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RIVERA, Tania. Cinema, imagem e psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
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ROLNIK, Suely. “Uma terapêutica para tempos desprovidos de poesia”, in Lygia
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SIGMUND freud museum. Freud and Contemporary Art: The Collection of the
A
Abramovic, Marina 25, 28, 32, 43-44
Adorno, Theodor W. 120, 196-97, 216
Alberti, Leon Battista 167, 191
Andrade, Mário de 260
Apollinaire, Guillaume 84
Arantes, Otília 204, 207
Arendt, Hannah 356-66
Aristóteles 65, 73, 312
B
Bailly, Jean-Christophe 376, 378
Baldessari, John 56
Barrenechea, Alejandro 342
Barros, Umberto Costa 335
Barthes, Roland 7, 81-83, 91, 119, 186, 292, 294, 339
Basbaum, Ricardo 23, 45
Bastos, Oliveira 212
Bataille, Georges 40, 69, 377
Baudelaire, Charles 181, 197, 238, 240-41, 243
Beethoven, Ludwig van 358
Bellour, Raymond 88, 196
Benjamin, Walter 11-12, 53-54, 60, 75, 121, 181-82, 184, 195, 197, 225,
228-29, 231-35, 237-43, 266, 312, 316, 318, 321, 332-33, 335, 337-39,
361, 364, 372
Bense, Max 196
Bergson, Henri 205
Bill, Max 32
Blanchot, Maurice 79, 141, 293-94, 372, 375-76
Bonaparte, Marie 273
Borges, Jorge Luis 301, 377
Bossuets, Jacques-Bénigne 274
Bourgeois, Louise 7, 269, 271-77, 280-83, 285-91, 293-97
Breton, André 99, 199, 210, 212, 274, 313
Brett, Guy 346
Bueno, Guilherme 319
Byars, James Lee 17, 19-20, 45
C
Caesar, Rodolfo 302
Cage, John 141
Caillois, Roger 39-42, 129, 138-39
Caldas, Waltercio 11, 227, 231
Calle, Sophie 30
Cammer, Leonard 282
Camões, Luís Vaz de 307
Campos, Augusto de 127
Cassirer, Ernst 204
Castro, Amilcar de 204
Cézanne, Paul 137, 251
Charcot, Jean-Martin 277
Chardin, Teilhard de 373
Clark, Lygia 11, 23, 30, 33, 36-38, 45, 110, 123, 129, 140, 142, 144-51,
202, 204, 208, 214-15, 218-19, 222, 247, 253-54, 259, 321, 328, 345-47,
352, 358
D
Da Vinci, Leonardo 207, 322
Dalí, Salvador 211
Darwin, Charles 66
della Mirandola, Pico 322
Descartes, René 132
Diamond, Jessica 56
Didi-Huberman, Georges 22, 65, 67-68, 133
Drummond de Andrade, Carlos 302
Duchamp, Marcel 22-23, 58, 109, 169, 264, 307, 309
Durançon, Jean 196
E
Einstein, Albert 253, 349
El Lissitzky 208, 251-53, 343, 346
Escher, Maurits Cornelis 32
F
Fédida, Pierre 147, 149, 218
Fenerich, Alexandre 302
Fenichel, Otto 281-82
Ferreira, Glória 31
Flaubert, Gustave 323
Foster, Hal 20, 69, 77, 185-87
Foucault, Michel 90-91, 165-66, 172, 308, 361
Freud, Sigmund 23, 31, 50-71, 73-75, 77, 82-84, 90, 92, 95, 100, 107-08,
112-14, 116-17, 119, 126, 131-32, 134, 137, 146, 148, 152, 157-58, 162,
164, 169, 173, 182-83, 205, 207, 210-12, 232-33, 235, 241-42, 261,
263-64, 271, 273-74, 276, 280, 282, 287, 289-90, 293, 296, 303, 320,
329-30, 334-35, 337, 351, 353-54, 359, 376
G
Galton, Francis 66
Gault, Jean-Louis 93
Goethals, Marc 56
Goethe, Johann Wolfang von 237
Greenaway, Peter 92-93
Guimarães Rosa, João 292, 356
Gullar, Ferreira 204, 212-13, 316, 345, 353
H
Hanhardt, John 95
Heidegger, Martin 111, 159,161, 168, 205, 252, 259, 299, 350-51
Herkenhoff, Paulo 204, 209, 211, 215
Hill, Gary 85, 88-92, 94-95, 100-01
Holbein, Hans 184
Holzer, Jenny 56
Hopper, Edward 169
Hosey, Andy 358
Husserl, Edmund 204
J
Jackson, Michael 357
Jameson, Fredric 202
Janet, Pierre 41
Jardim, Reynaldo 204, 212
Jenks, Charles 202
Jentsch, Ernst 116
Jorge, Marco Antonio Coutinho 169
Joyce, James 60
Judd, Donald 189
Jung, Carl G. 209
K
Kabakov, Ilya 57
Kant, Immanuel 205, 361, 365
Klein, Melanie 273, 282, 358
Kosuth, Joseph 47, 51, 56-62, 69-72, 75-77, 306
Krauss, Karl 240
Krauss, Rosalind 40, 75
Kris, Ernst 206
Kristeva, Julia 47, 69
L
La Rochefoucauld, Antoine de (conde) 286
Lacan, Jacques 7, 21, 23, 28, 30, 32-33, 36-38, 41-44, 47, 50, 55, 67-68, 74,
84-85, 89, 93, 95, 99-101, 105, 110-12, 114, 116, 118, 120-24, 132-34,
136-38, 140-42, 145, 150-51, 153, 156-60, 162-73, 183-87, 194, 211-12,
216, 239, 269, 274, 287, 303, 329, 354, 374
Langer, Suzanne 204
Lanzmann, Claude 141
Larrat-Smith, Phillip 275, 272, 277, 289, 291
Leirner, Nelson 110
Leite, Vania Dantas 302
Levine, Sherrie 56
Lévi-Strauss, Claude 303
Lowe, David 322
Lowenfeld, Henry 282-83, 286, 291
Lyotard, Jean-François 62, 67, 75-76, 79, 202, 316, 318-19, 323
M
Machado, Arlindo 51, 96
Machado, Milton 299, 301, 304-07, 310-13, 316-19, 321
Machado de Assis, Joaquim Maria 313
Maciunas, Georges 110
Magritte, René 165
Malevich, Kazimir 21, 115, 213, 250-51, 345, 347
Mallarmé, Stéphane 22, 50-51, 137, 158, 177, 195, 197, 293
Manuel, Antonio 110
Matisse, Henri 210
Mavignier, Almir 209
Meireles, Cildo 11, 155, 157, 161-62, 190, 194, 236, 258, 260-61, 305, 328,
330-31, 335, 337, 339, 341-42, 346-50, 352-53, 356-60, 362, 366-67,
373-77, 379
Meirelles, Cildo (pai) 351
Meirelles, Francisco 351
Merleau-Ponty, Maurice 24, 39, 136-37, 147, 187, 204-05, 239, 301
Mondrian, Piet 208, 347-48
Mondzain, Marie-José 114-16, 362, 364-65
Morais, Frederico 335, 342
Musil, Robert 60
Muybridge, Eadweard 54
N
Nancy, Jean-Luc 367, 372, 374
Neto, Ernesto 249-50, 252-55, 258-61, 263-66
Newman, Barnett 115-16, 358-59
Nietzsche, Friedrich Wilhelm 205, 320
O
Odin, Paul-Emmanuel 95-96
Oiticica, Hélio 10-11, 121-24, 126-27, 145, 147, 150, 202, 208, 214-18,
222, 254, 258-60, 303, 321, 325, 328, 345-48, 352
On Kawara 19
Ono, Yoko 25, 31
P
Paik, Nam June 88
Palatnik, Abraham 209
Pape, Lygia 204-05, 214
Pedrosa, Mário 9, 11, 147, 201-02, 204, 206-12, 214, 216, 249, 330, 332,
342, 345, 370
Picasso, Pablo 182, 211
Platão 372
Plínio (o Velho) 322
Poe, Edgar Allan 85
Ponge, Francis 182
Pontual, Roberto 149
Prévert, Jacques 112, 184
Prinzhorn, Hans 210
Proust, Marcel 239
R
Rancière, Jacques 63, 73, 258, 361
Rilke, Rainer-Maria 31, 334-35
Rimbaud, Arthur 190, 292, 294, 296
Rolnik, Suely 149
Rops, Félicien 280
Roussel, Raymond 307-08
S
Sade, Marquês de 120
Andreas-Salomé, Lou 31, 334
Schelling, Friedrich Wilhelm Joseph von 241
Schuler, Alfred 12, 225
Schwitters, Kurt 218
Serpa, Ivan 209
Shakespeare, William 84
Sherman, Cindy 69
Silveira, Nise da 209
Smith, Tony 110, 160-61
Smithson, Robert 21
Spanudis, Theon 204
Steinberg, Leo 202
Svevo, Italo 60, 69-71
T
Tolstói, Liev 288
Tunga 219
Tzara, Tristan 137
U
Ulay 43-44
V
Valéry, Paul 239-41
Van Eyck, Hubert 337
Van Eyck, Jan 337
Vautier, Ben 110
Velázquez, Diego 91, 163, 165, 168-69, 171-73, 243
Velázquez, Nieto 169
Vermeer, Johannes 342
W
Wajcman, Gérard 141
Warhol, Andy 110, 185-86, 188
Weissmann, Franz 204
Winnicott, Donald 219
Wittgenstein, Ludwig 60, 263
Y
Yoshihara, Jiro 38
+ A numeração dos links, dos índices, corresponde à paginação da edição impressa do mesmo título.
Optamos por mantê-la apenas como referência, já que ela na verdade varia conforme a plataforma digital de leitura que se utilize.
ÍNDICE DE OBRAS
A
A adoração do cordeiro místico 337
A casa é o corpo 23
A destruição do pai 277
Abuso infantil 285-88
Ambulance Disaster 186
Arch of Hysteria 277
Around & About 85, 88-92
Arte é uma garantia de sanidade 283
As férias do investigador 307
As meninas 91, 163-65, 169, 171-72, 227-28
Através 11, 190-91, 194, 196, 236, 239, 241-42, 339-40, 350
B
Baba antropofágica 148
Babel 360, 370, 372
Bicho 33, 144, 345-46
Bólide 126, 222, 259
Branco sobre branco 115
C
Camelô 260
Caminhando 33, 36-37, 110, 142, 144, 146, 151, 215, 222, 253, 321, 358
Canibalismo 148
Cantos 341, 343, 362
Casulos 345
Cathexis 76
Cell xxiv (retrato) 276
Chão 379
Cigarras 360
Cinza 346-48, 364
Cruzeiro do Sul 155-57, 161-63, 351
Cumuls 295
Cut Piece 25
D
Death in America 185
Dengo 265
Desvio para o vermelho 362
Diáfora 310
Diálogo de mãos 215, 259, 321
Die 110, 160
Do corpo à terra 335
E
Edifício Galaxie 312
Escritos psicanalíticos 272-73, 291
Espaços virtuais: Cantos 341, 343
Estruturação do self 149-50, 219
Estudo para espaço 162
Eureka Blindhotland 373
F
Fábrica utópica de realidades objetivas (f.u.r.o.) 313
Filletes 271
Fita de Moebius I 32
Fita de Moebius I I 32
Fluência topológica em um campo estrutural para um ponto de alta
densidade, yeah 254
Fonte 109
Fort! Da! 73, 76
From Sebastian to Olivia 255
G
Grande vidro (ou A noiva despida por seus celibatários, mesmo) 264, 309
H
História do futuro 303, 312, 316-17, 319-21, 323
Homem muito abrangente 321-22
I
Impressões da África 307
Inserções em circuitos ideológicos 305, 366-67
J
Janus florido 290
L
Les Dormeurs 30
Liverbeatlespool 357-58
Livro Velázquez 227
Los Velázquez 227
M
Malhas da liberdade 258
Marulho 372
Máscara abismo 219
Mebs / Caraxia 353
Mergulho do corpo 121
Merz 218
Mystery Box 110
N
Nova objetividade 217
Nowhere is my Home 343
Núcleos 345
O
O corpo é a casa 23
O dentro é o fora 33, 145, 321
O livro de cabeceira 92
O teatro perfeito 45
O.&A. / F!D! (to I.K. and J. F.) 56
Objetos relacionais 149, 219
Ode à l’Oubli 289
One and Others 295
Os embaixadores 184
P
Parangolé 119, 122-24, 217-18, 259-60, 321, 328
Penetráveis 126, 208, 259, 345, 348
Pensamento mudo 147, 149
Pilha 304
Produção 304
Projeto cédula 366
Projeto Coca-Cola 366
Q
Quadrângulo 115
R
Red Room 277
Rest Energy 43
Rhythm 0 25, 28
Rio oir 359
Roda de bicicleta 109
S
Sal sem carne 355-56
Shoah 141
Sleep ii 281
Sleeping Figure 295
T
The Edges of the World 258
The Perfect Performance is to Stand Still 20
Tractatus i Deuses 261
Trepantes 33
U
Unidade tripartida 32
Untitled #153 69
Ura Aru (the backside exists) 94-96, 99
V
Vermelho 304
W
While u Wait 379
Z
Zeno nas margens do mundo conhecido 69
Zero & Not 59, 60-61, 76
A Secretaria de Estado de Cultura (SEC) vem trabalhando desde 2008 para
difundir, estimular e fortalecer a cultura do Rio de Janeiro, criando
mecanismos de fomento e políticas estruturantes para o setor, em todas suas
vertentes, buscando contemplar todos os setores e áreas, desde as
manifestações mais tradicionais, e abrangendo agentes culturais de todo o
estado.
Como parte desse trabalho, a sec criou o edital de Artes Visuais – dentro
do pacote de 41 editais lançado em agosto de 2011 –, com a finalidade de
incentivar a criação artística, bem como a integração cultural, a pesquisa de
novas linguagens, a formação e o aprimoramento de pessoal de sua área de
atuação.
Balizado por esses parâmetros, o edital proporcionou apoio financeiro a
projetos que propunham a circulação, o intercâmbio e a implementação de
ações de Artes Visuais no Rio de Janeiro, visando estimular a
multiplicidade e a diversidade de tendências e linguagens.
Através do edital, a sec contemplou projetos como este, de exposições de
arte, intervenções urbanas e publicações de arte. E, assim, reiterou o
compromisso do Governo do Rio de Janeiro de oferecer uma programação
plural, de qualidade, ampla e diferenciada.
ISBN 978-85-405-0664-0
1. Arte contemporânea
2. Psicanálise
I. Título.
professor@cosacnaify.com.br
Este e-book foi projetado e desenvolvido em dezembro de 2013, com
base na 1ª edição impressa, de 2013.
Z-Access
https://wikipedia.org/wiki/Z-Library
ffi
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