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Notas sobre o capitulo 1 (Crítica da Razão Negra p.

25 - A questão da raça )

Se aprofundarmos a questão, a raça será um complexo


perverso, gerador de medos e de tormentos, de problemas
do pensamento e de terror, mas sobretudo de infinitos
sofrimentos e, eventualmente, de catástrofes. Na sua
dimensão fantasmagórica, é uma figura da nevrose fóbica,
obsessiva e, porventura, histérica.
Quanto ao resto, trata-se do que se apazigua odiando,
mantendo o terror, praticando o alterocídio, isto é, cons
tituindo
o Outro não como semelhante a si mesmo, mas
como objecto intrinsecamente ameaçador, do qual é pre
ciso
proteger-se, desfazer-se, ou que, simplesmente, é
preciso destruir, devido a não conseguir assegurar o seu
controlo total1
 Mas, tal como explica Frantz Fanon, a

raça é também o nome que deve dar-se ao ressentimento
amargo, ao irrepreensível desejo de vingança, isto é, à
raiva daqueles que lutaram contra a sujeição e foram, não
raramente, obrigados a sofrer um sem-fim de injúrias,
todos os tipos de violações e de humilhações e inúmeras
ofensas
a raça não existe enquanto facto natural físico,antropológico ou genético [J.
Karen E. Fields e Barbara
Fields propõem distinções úteis entre
(a ideia segundo a qual a natureza teria produzido humanida
des
distintas, reconhecíveis por traços inerentes e características espe
cificas
que consagrariam as suas diferenças, ordenando-as segundo
uma escala de desigualdade),
(o conjunto das prãticas
sociais, jurídicas, políticas, institucionais e outras fundadas na recusa
da presunção de igualdade entre os seres humanos) e o que eles cha
mam
(o repertório de manobras que pretendem situar os
seres humanos assim diferenciados em grelhas operatórias) ]

A raça não passa de uma ficção


útil, de uma construção fantasista ou de uma projecção
ideológica cuja função é desviar a atenção de conflitos

Na sua ávida
necessidade de mitos destinados a fundamentar o seu
poder, o hemisfério ocidental considerava-se o centro do
globo, o pais natal da razão, da vida universal e da verda
de
da Humanidade. Sendo o bairro mais civilizado do
mundo, só o Ocidente inventou um «direito das gentes».
Só ele conseguiu edificar uma sociedade civil das nações

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