Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
to
Poe I
ia
e.mpre
Márcia Glenadel
Guiherrne Sauerbronn
'1
c.^%
Angola e
PrwMÍo
« Uv Moçambiq,
vjempre
Poeoia
DI SSfe
Número 23
1 empre
Presidente da República
Lua Inácio Lula da Silva
Ministro da Cultura
Gilberto Gil Moreira
Presidente
Muniz Sooré
Diretora Executiva
Célia Portella
EDITORIAL
Adriana Moreno
Fotografia
Cláudio de Carvalho Xavier GOVERNO FEDERAL
"muchopes"
Ao lado, Mulheres com as tatuagens características, na Província de Inhambane - Moçambique
(foto: José
dos Santos Rufino, em Álbum
fotográfico e descritivo da Colônia de Moçambique, 1929. Acervo BN)
Sumária
Patraquim I 33
Partes (VÁfrica
(des) contínuos
Antônio O/e e Jorge Cambe: Ana Mafalda Leite I 35
a incessante
de raízes
procura
Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco I 13
ANGOLA
A voz da memória I 51
"Carlos
Drummond continua
Viriato da Cruz
História, magia e desejo:
Alda Lara
a de Melo
poesia João
Mário Antônio
Mário César Lugarinho I 21
Costa Andrade
Jorge Macedo
Frederico Ningi
Carlos Ferreira
Sebastião Alba
Luís Kandjinibo
Fleliodoro Baptista
José Eduardo Agualusa
Leite de Vasconcelos
Ana de Santana
Júlio Carrilho
Antônio Gonçalves
Calane da Silva
Amélia Dalomba
Manuela Sousa Lobo
Fernando Kafukeno
Albino Magaia
Conceição Cristóvão
Jorge Viegas
J.A.S. Lopito Feijóo K.
Juvenal Bucuane
Antônio Panguilla
Gulamo Khan
Sapyruca
Julius Kazembe
Antônio Pompílio
Afonso Santos
Carla
Queiroz Mia Couto
Ondjaki
Almeida Culo
Filimone Meigos
Nelson Saúte
Amin Nordine
Adelino Timóteo
Sônia Sultuane
Chagas Levene
Rui Knopfli e a Ilha de
Rogério Manjate
Moçambique
Celso Manguana
Márcia Glenadel I 251
Dinis Muhai
Jorge Matinê
A em Cabo Verde:
poesia
Ruy Ligeiro
um trajeto identitário
Songare Okapi
Simone Caputo Gomes I 263
música
para piano
Entre sonhos e memórias: Guiherme Sauerbronn I 275
trilhas da
poesia moçamhicana
rio. E aqui
pensamos também no Mama B), Alberto da
(a Costa e Silva,
Índico. Atravessá-los implica retomar os Eduardo Portella, Carmen Lúcia Tindó
laços de uma compreensão mútua, sem Ribeiro Secco, Mônica Carneiro e a
a deixamos de avançar
qual em nossa todos colaboraram direta
que ou
Sempre.
Marco Lucchesi
^***\ «-Owc
i*.
~
jxzzz; ^«iriVi'^
-tirfe
Ihfí&tSfc feiítÈ w
r**ntí
^ xjis K^Jrounr
2r <&}*-">
t^>
<*1 \fúS^ u w££..V?,T
t *J^-Wd& Mvt, «,-fcífo.
ft / À~k
1 r C3U'
^
"f^itmVt?
A1*A íX^Wff'
/^Xm- <*A~*~AM.U/V
4a»**<MAM.USV . A . -«' rt.W
4 CuV
/%****< c^\l
jnU- iví^uoAr *i ^ JLwCL*
jlu tuUfcV
Vtv«^3 •» íui«r a/w^' a couJt* Jü
^Li /wvOlt /wuY*fc» c*U,
(d
|vA
ÍCM* f6íí<^r atOo«i«. AíaCJ tyjvoJt^
fc~W£*V * A*
ta-JU-««^Ur
~~w-
^—4-
&r ctáff
'
/Wu/v^>tr t-Wr^ÍLo V/wx ^ A*^AA>/ /vor^.
/W< /WXií^
,^^Lo±/^u~*/ CK .
i
Ij^
Naturalidade
Gumbe:
a incessante
das raízes
procura
"um
A tradição angolana se faz Oliveira, tecido espiralístico,
quase
observar na convulsivo,
pintura de Antônio Ole e agita todo o espaço
Angola. "angolanidade"
As obras desses artistas do lugar comum da
(Foto: José dos Santos Rufino, em Álbum fotográfico e descritivo da Colônia de Moçambique, 1929. Acervo BN.)
cósmicos: o sol, fonte de energia ígnea, idéia das maternais águas marítimas de
mas se aproxima
que do neobarroco revelam o seu a escultura,
pendor para
assim designado e conceituado
por a arquitetura"6 e, a
portanto, para
Severo Sarduy: interdisciplinaridade. Nos trabalhos do
artista,
Barroco em sua ação de em
pesar,
sua (...) os elementos ativos da
queda, em sua linguagem
antepassado
(,..)7
Esse neobarroquismo representa
Os e o ar, na obra de
subversão, discordância pássaros
em relação ao
Antônio Ole, aparecem como
centro, ao Logus absoluto, à razão
metáforas da imaginação criadora:
imposta Europa
pela aos continentes
"Os
pássaros têm a ver com minha
periféricos, como a América Latina e a
sensiblidade: a liberdade."8 - explica
África. "sempre
Por essa razão, esteve
o
relacionado próprio pintor.
à literatura e à cultura dos
interdisciplinaridade, nela o
já que
escultura, a o vídeo e a
pintura,
9
arquitectura.
reconstituem os e as
pigmentos
^ "Antônio
MIXINGE, Adriano. Ole e a "O
SOUSA, Conceição Barreira de. Estado
Travessia dos Anéis Etnocêntricos". Jornal de das Coisas". In: Antônio Ole: Retrospectiva
Angola. Ano 24. N°. 7735. Vida & Cultura: 1967-1997 da Exposição).
(Catálogo Luanda:
Suplemento de Artes, Letras e Idéias do Jornal Centro Cultural Português de Angola e Instituto
de Angola. Lisboa, 17 de
janeiro de 1999. p. III. Camões, 1997. p. 22.
"Carlos
Drummond
continua a
fascinar-me"
hoje vou buscando as reminiscências. A antologia Cal & Grafia encerra esses
na órbita do recebendo no
própria planeta, quais já prelo.
inspirou e me inspira é o
precisamente
engajamento "Subpoesia".
com a vida, tem a ver com sintetizada no meu
poema
extemporâneas as correntes e
grandes
movimentos dos
político-literários
PS: A
poesia hoje em Angola. Como se escritores nos antecederam na era
que
mostra? Como se desvela? colonial. A reconstrução de Angola
convergem e se afastam?
passam,
Bibeiro, exemplo. Mas não chego a ainda não existe uma crítica literária
por
todos os lugares.
História, magia
e desejo: de
a
poesia
João Melo
Criar
o como antagonista do futuro. neste seja inserida a
que quadro
compreendida tal
porque procedimento
' se conservou como inerente à
SOARES, Francisco (org.). Antologia da
INCM,2001.
Aspecto parcial da Baía
de Lourenço Marques -
Álbum fotográfico e
descritivo da Colônia de
Moçambique, 1929.
Acervo BN)
^
IT n
Cenas do cotidiano
(ilustração L. S. Hans Erni, em Esquisses Africaines. Acervo BN)
nacionalidade,
contando a história
paulatinamente.
recente.
Poemas angolanos é uma antologia
comportamentos "Quatro
advindos da tradição, abertura, a seção intitulada
define o alvo utópico do futuro inserido sua função dentro das forças
transformadas/transmudadas em
como se vê no seguinte, em
poema
mundo/está/sempre/em andamento
("0 aprendiz de Kimbanda", p.n)
lâmpada e a do sol
pintado,
representações iludem os
que que
sobre o
poema, próprio presente. Melo
"Memória
concebe a da casa de vidro"
o estatuto de historiografia na
poesia
da Memória reinstalar,
para
o discurso da tradição, do se
qual
Sua
perspectiva poética, então, é a torna arauto. 0 reconhece o
poeta
promoção consciente de uma síntese. imenso
poder que utiliza fabricar
para
A seção seguinte de Poemas seu e inserir, radical e
poema
angolanos, "A
cidade de adobe" conscientemente, a no real
poesia
assenta-se
sobre a memória, objeto e angolano 7).
("Prefácio", p. Por isso, a
nao meio "Crônica
de sua Para ser supostamente ecológica"
poética.
angolano
ferozmente é necessário 39): Aqui havia naturais
que, (p. grandes
em seu discurso, as tradições milenares espaços / com árvores e amigas
fartas
de sua terra estejam bem marcadas.
que / tinham pássaros nos ramos. Mas
Por isso é visível um afastamento da os espaços não existem mais, foram
"O
O lamento, a dor, a tristeza não estabelecido. Se se retoma aprendiz
enuncia é forma de
problematização
das relações -
com o outro tema mais
do exaurido -,
que na literatura mas o
provenientes da Independência. h
(vu^uv
z£fl[Mwwil 11
I *J l\i%^f j]r^5iE
#
11 Tm II |\\\wll
ISwisS^
o
"Amor
Em diálogo direto com o soneto o objeto amado e sofre não
possuir por
28 -
» ,,
e togo arde sem se ver , de Joga um consigo
que possuí-lo. jogo
sobre a amorosa.
propositada prática
Eu sou um homem moderno,
0 amor existe, e só.
li uns livros
Mas a direção tomada por este
assimilei umas teorias
discurso amoroso define-se sob a
e acho as
pré-histórico privar
ordem da falência. Não importam as
mulheres
teses o
propostas pelo poeta, que
da sua liberdade
própria
importa são as situações representadas
em nome do amor.
em sua obra demonstram uma
que
determina 29
um afastamento direto do angolanos.
entregando-se
a ele desmedida moderna. As contradições são expostas
por
/ Permite
/ eu o colha. lugares a serem ocupados socialmente
que
0 encontra-se
poeta em total são definidos e não
já previamente
disponibilidade
para o objeto amoroso. ser mudados de forma alguma
podem
Ele a espera, -
em sua entrada doce nas nesse não há síntese
ponto possível,
asas da música, mas se encontra ilhado apenas a sua recusa como saída aos
parte de Tanto amor, reserva ao leitor amado, e esse, também, se recusa a ser
variações
do mesmo tema: o amor dominado, é os discursos não
porque
novamente
contado encontram mais suportes se
pelo poeta. para
A diferença reside nos tambores efetivarem. Mas se há a
que permanência
evocam o ritmo terrestre sagrado e da culpa após a total entrega ao
gozo,
inflamam
a em verdadeira o da tradição ainda mantém seu
paixão poder
descontinuidade
erótica. Os tambores caráter repressor ou, o não
pior, poder
encontram-se
no sangue dos homens sofreu modificação alguma. A lírica
fazendo-os
vibrar, se tomados / de amorosa de Melo apresenta um
repente
/ uma / selvagem discurso subliminar traduz a
por paixão que
Tambores" dominante,
é finalizado na falência, incapaz de firmar novas
modernidade,
a dúvida se instaura
que ^
Remeto, como exemplo, à situação da
fica longe -
de se resolver o
poeta mulher em sociedades em
que as leis islâmicas
realiza uma lírica amorosa no caminho tradicionais são também os Códigos Civil e
da incerteza, "Lições
tão distante das Penal.
levando de novo tudo o trouxera
que
(p. 64).
: /
poético para q / serves poesia? // eu
poeta. Em 1999,
publicou, pela Angola, 1991.
Caminho, 2004.
'¦ ' *
.*• St. ,¦
Critérios antológicos
parte angolana.
Aspectos de uma propriedade. em Lourenfo Marques - Motambique
(Foto: lose dos Santos Rufino, em Album
fotografico e descritivo da Coldnia de Mofambique, 1929. Acervo BN.) ^
. - - • ¦
' , '• £|E»- •
hjpl • Jft, v •'
>
'
i * '' .7 -. ^ .','* ¦**' I
* ¦' *r;„ ,
.l.j,-,^.. ®-- ^
JE **. 'rrW1^ ,
CHaWi^S^^<gMlajfeMSe^i'->*yinag^%!Lyd£jSn^n^itfra,itfyff?^*''
'-w- «'- •*. * . Jfc;
SIT*•• ^:1 ^ksH-l$!*&!»**: .frZ'tf?**&m"AM-
• •!* „r' :¦ '•- *0«'V m "<® if
;.m*??'s*-
¦' ^
v '•"''—>•• •¦"¦*.- .-'v; .*--•,¦¦ » '"•• ... ,JB ;. JK
'
f
TTl I § LfflmMi
Poesia
angolana:
cies
percursos
(contínuos)
77
Poesia de Mensagem e Cultura
-
décadas de 1950/1960
0 departamento de 1940.3
cultural da Associação
A lenta "Vamos
formação de elites literárias em Angola Descobrir Angola!", in Luso Brasilian
esteve entregue
à Igreja até aos primeiros Review, Madison, 1981. p. 18)
decênios deste 3
século, designadamente através No mesmo artigo citado na nota anterior,
do Seminário-Liceu "A
de Luanda; e recebe novo Mário Antônio afirma: charneira da metade
'mpulso com
a criação de do século é o tempo em que se
do Liceu Nacional passam os
Salvador Correia,
de onde emergem alguns dos acontecimentos relevantes: entre 1948 e 1952,
Naturais de
Angola, decrépita instituição da primeiro assomo de uma consciência nacional
chegara
quase só o eco dos bailes dos anos trinta, agora, o lugar primeiro foi entregue a Viriato
do liceu, aspirantes
em quadros públicos (...) centros onde se elaboraram os principais
Nessa Associação,
tiveram lugar muitos dos fatos documentos que lhe deram expressão."
promoveu uma conferência, onde leu poemas fortes, como o Brasil, / sem macaquear
dimensão de social e
protesto
de um Contratado, ou os
para poemas
Em simultâneo, os ecos da
primeiros
negritude e do afro-americanismo
do Primeiro Caderno de
publicação
imagens
da flora e fauna características, Poesia Negra de Expressão Portuguesa,
reclamando
a sua e filiação em Lisboa, Mário Pinto de Andrade
posse por
telúrica e
plena de um chão
próprio,
lemas 0
outros evidenciam o ambiente Os estudantes angolanos, a partir de 1940,
poesia angolana, Viriato da Cruz numa terra que lhes era estranha. Os poemas
(como
na '
evocativa de Aires de Almeida MARGARIDO, Alfredo. Estudos sobre
poesia
de João Abel e Arnaldo Santos apontam Portuguesa. Lisboa: A Regra do Jogo, 1980,
já um decantamento do verso, de
para p.124.
pela criação de espelham e brasileira, em
personagens, portuguesa os
que
nestes
poemas características vindas experimentalismos diversos renovaram
autenticidade
literária e nacional e independência sucede
(1975), que
servindo, em simultâneo, uma intenção no dealbar da escrita de
praticamente
didática. Pedagogia e crítica se todos eles, bem como a da
que passagem
traduzem
num apelo implícito aos colonial à civil, é sem
guerra guerra
homens angolanos a necessidade dúvida um fator imprime diferentes
para que
em renomear a terra em anseios e temáticas, e obriga a
país, procuras
denunciando
o colonial, repensar os rumos da angolana.
quotidiano poesia
descrevendo
a terra, o amor mãe- Se na década de 1950 e no da
pela princípio
'erra, as tradições crioulizadas das de 1960 se começou a desenvolver em
nacionais,
em especial do das suas conseqüências sociais e
quimbundo.
- durante a de
psicológicas que, guerra
de - esses temas e as
poesia guerrilha
A década de 1970 trouxe as formas não satisfazem
prevalecentes já
São eles David Mestre, Ruy Duarte de abordando-a de diversos meios e com
Carvalho
e Arlindo Barbeitos e sobre a técnicas variadas de escrita.
sua
poesia iremos discorrer mais E, na senda deste caminho, seria
longamente,
uma vez é a novidade injusto não invocar alguns nomes
que que,
imprimida
estes autores será de certo modo, deixam antever e
por que
uma das fontes de inspiração a mudanças nos
para prever paradigmas
niudança
não é alheia a modernidade sua a desconstrução visa a
poesia que
os ''Poema
fue anos 1960 trouxeram à de novas formas:
poesia procura que
se faz e nunca / feito / Calumba". Dessa mesma altura, os
poema para
dos mensageiros, e cujo ritmo é ainda terão continuidade nos seus livros
Arlindo Barbeitos no
prefácio ao seu forma de se simultaneamente
palavra,
Estatuetas simbólicas
por Angola adentro não é só meter-se adaptar os ritmos antigos aos tempos
"Na
pela é meter-se homens novos: minha há todo um
paisagem, pelos poesia
deixando os outros falar, falar boca história foi-nos roubada e nós temos de
pela
'amada
fazendo / e inda outras // casinhas revolução é difícil falar: /
As
preocupações estéticas e formais formas com o olhar, nas
progride
são conscientemente
referidas como tarefas de conquista e chama a si as
elementos
inseparáveis do tratamento referências do lugar Um
(...) homem
temático.
Nesse sentido, o autor afirma: vem fundir
geografias, polarizar as
«r
11 nao
quero ser forma só, reduzir-me forças da manhã deserta, vem fecundar
à linguagem"(ibidem,
p. 5). A as latitudes nuas um homem
guerra (...) que
civil é um dos temas fundamentais da alterou conjugações de estrelas, é uma
que o ser humano aspira sempre a uma inicialmente regente agrícola, dedica-se
melhoração,
pois quando deixa de mais tarde ao cinema e à antropologia,
aspirar
não tem razão existir. campos onde tem desenvolvido trabalho
para
Religiosa
também desejo de um importante, e
pelo que, paralelamente,
retorno
à imanência. A minha entram em consonância com as
(...)
(¦ibidem, 5) um conhecimento
p. permitiu-lhe cultural
decompõe
a fé, de um vigor
possui-se
ajustar-se, enquanto criativo, à textos recriados) fragmentadas nos
processo
designada
Luís Kandjimbo, Em 1984, um de
pelo poeta grupo jovens
corno a
geração das incertezas'°, fraciona-se da Brigada e cria o
enquadra-se "Coletivo
no contexto histórico do de trabalhos literários"
Angola,
a repercussão dos Entretanto, uma tertúlia
pequena
acontecimentos "O
de maio de 1977 e a literária Canteiro" tinha surgido em
mobilização
a dos 1979 em círculo fechado, visando
para guerra jovens,
na conseqüência
da civil. Tem, refletir sobre temas de literatura, crítica
guerra
inicialmente,
a ver com o surgimento de e divulgação de técnicas e de leituras
desenvolveu-se
outras cidades do Editorial do seu número 5, explica alguns
por
"A
País e, em 1981, surgiu a Brigada dos seus nossa descoberta,
propósitos:
Jovem da a razão
Literatura na Huíla. Em eis da nossa demanda
primeira
1982,
surgiu outra no Huambo, e um literária. E nesta afirmamos identificação
desses obrigam-nos,
justeza postulados
KANDJIMBO, "Breve
Luís. cerca de 40 anos volvidos, a um esforço
panorâmica
s°bre
a
geração literária do pós-independência" de atualização. A Archote inaugural, há
m Angola
30 Anos, Luanda, 2005, um ano atrás, falava das ânsias de
p.267.
'geração
criação de uma de delírio Maimona, José Luís Mendonça, João
toda / Que varia e está sempre bem e é numa outra anti-discursiva. Todavia
Virgem "Conjugações
Maria", sociedade onde se fazem os rituais de
Revelações
Inquietações & Não Só". iniciação, rituais de na vida
passagem,
Tal como os das mulheres e dos homens consoante
colegas de
geração,
de reconstrução
do sentido, tende e memória oral e visual
que pesquisa
ao despiste e à teatralização, ao mesmo sons, corais, canções) com
(cheiros, que
tempo
em a dimensão universalizante trabalha a sua escrita. Paula Tavares
que
do
poeta / minha Pátria é a nossa casa. Barbeitos, contenção e economia
pela
^ ~ É a minha campa dizer), m'bila e Ruy Duarte de Carvalho,
(é poéticas,
lami!
// chamar-se-ia Lucrécia, Mundo sua obra vocacionada o sul,
pela para
! °u Poesia, não fosse eu um onde a nasceu e foi criada. Em
poeta
apátrida!"(G4,
38). Usa recursos relação a este último faz também
p.
como
quebra de com barras, referência às lhe deu
palavras, pistas que para
hifens,
parênteses, ou de versos, recorrer à antropologia e à etnografia.
quebra
homofonias
e dialogai, entre A harmoniosamente, estabelece
pontuação poetisa,
em vários em o adotando
poemas, que pormenor poéticas menos vigiadas
a / 0 sono do à da década de
paciência profundo poesia 1970, uma vez
Já não Terminou
quero
E crescer
Caminho
das estrelas
Seguindo
Mas concreto
as mãos amparando a do
germinação
Simples
nota musical riso
mdispensável
átomo da harmonia sobre os campos de esperança
Partícula
cor
o som nos ouvidos,
tambor
Preciso
e inevitável num acelerado e claro ritmo
como o
presente capinzais
violentados
incolor
num ritmo claro de África
inodoro
curva ágil do da
pela pescoço gazela
entre as selvas desaromatizadas a harmonia do mundo.
para
In Sagrada Esperança
Agostinho
Neto nasceu em Catete em 1922 1979). Publicou Poemas
(f (1961),
Sagrada
Esperança Renúncia Impossível
(1974), (1987).
.
Antônio Jacinto
Monangamba
Quem?
plantações;
Quem dá dinheiro o
para patrão
Naquela roça tem café maduro comprar
grande
pisado, torturado,
dinheiro?
responderão:
à tonga "Monangambééé..."
desdém marufo
angolares
"porrada,
se refilares"? "Monangambééé..."
In Poemas
Quem?
Namoro
Mandei-lhe
uma carta em Mandei-lhe um recado Zefa do
papel pela
perfumado Sete
espalhando
diamantes na fúnbria do E ela disse não
que
mar
e dando
calor ao sumo das mangas. Levei à avó Chica, de fama,
quimbanda
Sua -
pele macia era sumaúma... A areia de marca o seu deixou
que pé
Sua
pele macia, da cor do Para fizesse um feitiço forte e
jambo, que
cheirando
a rosas seguro
Sua
pele macia as doçuras do nela nascesse um amor como o
guardava Que
corpo rijo meu...
Tão rijo -
e tão doce como o E o feitiço falhou
uiaboque...
Seus seios, -
laranjas laranjas do Loje Esperei-a de tarde, à da fábrica,
porta
Seus dentes... - marfim... Ofertei-lhe um colar e um anel e um
Mandei-lhe
essa carta broche,
Mandei-lhe
um cartão Estátua,
Corno um mona-ngamba.
Procuraram mim
por
Benjamim?"
E me deram no morro da
perdido
Samba.
r
56
Para me distrair
In Poemas
Regresso
transforma In Poemas
num inferno de cor...
(...)
Alda
Lara nasceu em Benguela em 1930 Poemas é uma
(fl962). (1966)
Publicação
póstuma.
Mário Antônio
Rua da Maianga
50 anos, 50
poemas (1988).
Costa
Andrade
Emboscada
Um tiro
e as rajadas uns
segundos
até
que estranhamente duro
0 silêncio
comandou de novo os
'Movimentos.
Talvez
fossem homens bons os
que
caíram
t^as cumpriam
estranhamente o crime
C'e assassinar
a alheia
pátria que
pisavam.
n Poesia
com Armas
Costa
Andrade nasceu no Huambo em 1936. Publicou em Terra das
poesia,
acácias
rubras Tempo angolano em Itália Um ramo de miósotis
(1960), (1962),
(1970), Armas com e uma certeza Poesia com armas e O regresso do
poesia (1973),
°anto
(1975), O caderno dos heróis Os sentidos da Limos de
(1977), pedra (1989),
lume
(1989), Memória depúrpura Lwini Luancla e Terra
(1990), (1991), (1997)
Sretada
(2000).
Jorge Macedo
Amanhecemos
Todos cantos
ao
povoação povo
cântico novo
kuku kukuééé
amanhecemos
***
as tetembua
pirilampeando
outro clarear
kimenemene
gargalhos
no kuakiár os voados
pássaros
In Clima do Povo
Canção
das chuvas
primeiras
Sob a noite
Inundando
o ventre da terra.
E descalça
percorreu nossas lavras
Massambala
e inilho
Crescendo
lado a lado.
Obrigado
ó deus obrigado.
Que voz
perpassa
Em teu dorso
quando
A noite
Passos-de-onça
Se aproxima?
Memória de areais
Negras falésias?
Se te escutando
Paciente é o trabalhar
De onda.
Eflúvios frêmito
Monandengue
Só da raiz do sangue.
meus sentidos.
para
In Caderno dum
guerrilheiro
outros (2004).
poemas
Angola
A dos
partir
anos 1980
Arlindo Barbeitos
David Mestre
Paula Tavares
João Maimona
João Melo
E. Bonavena
Rui Augusto
T R A J A N O N A\K H O VA T R A J A N O
Frederico Ningi
João Tala
Carlos! Ferreira
Luís Kandjimbo
Ana de Santana
Antônio Gonçalves
Amélia Dalomba
Fernando Kafukeno
Conceição Cristóvão
Antônio Panguila
Sapyruca
Antônio Pompílio
Carla Queiroz
Ondjaki
Ar lindo Barbeitos
a revolução é
e
perdendo-se
não é um elefante
como agarrá-lo
catatos
cacos de arco-íris
em tarde chuva
In Nzoji
segura
a sombra incauto baloiçando de muletas
pela lua
passearam intrusos
0 sol
vende-se a retalho a sul do sonho
a norte da esperança
In Fiapos de Sonho
a felici<jac]e
é um carrinho de menino
sem rodas
aP°drecendo
num monturo
Segura
a sombra incauto
amada
leus
°lhos são mirangolos
que
eu comeria
não
me custasse
o
pavor da cegueira
a alrna
amada
0 amor
um canibal assustado
a sul
do sonho
d norte
da esperança
a minha
pátria
® um
órfão
borboletas de luz
esvoaçando
de cadáver em cadáver
colhem
em vão
dos dias
passam álacres
do mundo do esquecimento
ao da indiferença
país
levando consigo
o fatal
pólen
das flores da
guerra
borboletas de luz
Aprendizagem
do dizer
festivo
i.
Atento,
desde sempre, às falas lugar,
do
nada sei dos sinais
Se os não confirmo no encontro da
memória
com a matriz,
Pauta de um compasso
argúcia,
a vocação da
pausa.
Provérbios
k'oilongo.
A minha bengala,
metida em espinheiras,
Dentro do cercado
Kwanyama
cercado.
vinham furtivas
hesitantes escusas
exibir os frutos:
a frágil e expansiva floração do Misturava humores
poupados ao uso
Junho
umbigos
nubentes.
A
guerra, ao longe, os noive
putrescia
A
guerra, ao lado,
ultrajava os
pastos
aviltava o
gado
humilhava a rama
sã do mantimento.
No mais alto das ramas não se
consente a ausência
*
Sujeito-me a vestir as velhas
peles
quando recorda.
tu não sentado.
que poderias perdurar
resposta:
Blues
Urn calor de
pernas
contar
o silêncio das horas a
guardadas
s°co
no sarilho
dos ventres
c°m
urn
jazzman a assobiar na
escuridão
dos
pares
a Memória
ácida do chicote
n°s
portões do Mundo
Do canto à idade
Do canto à idade
a voz
à idade a morte.
pouca palavra
Ouve-a
leveda.
Do canto à
em círculo
dobrada.
m°rdes
(de joelhos) a água.
Estrita escrita
poesia
Estrita escrita
poesia
da vida
vivida
de costas
e única mente
para
bólica
como um e
grito
móvel
Escrita estrita
poesia
as
pedras
ao mergulharem
para sempre
Lacônico
da rua da Maianga
^ssei
na Rua
da Maianga
a ver
se
a via:
havia
não.
Pássaros ao
passarem
refulge, coralínea
arquitectura ancorada
em cruz
Raros iluminam
pássaros
pássaros ao
passarem
lá
por
Rapariga
de bicicleta em
cantão
ao rio
junto
Passa
por mim
' edala
e sorri
^ma
fita de louça
Nos cabelos
bolina
Mariposa
lilás
Serpentina
feliz
In Subscrito
a Giz
)üvid
Mestre nasceu em Portugal em 1948. Publicou em Crônica do Ghetto
poesia
A abóbora menina
olhos
vacuda,
gordinha,
estende-se à distância
sabe
quem possa
acontecer o milagre:
folhinhas verdes
flor
amarela
ventre
redondo
depois é só esperar
rapazes.
In Ritos de
passagem
Ex-voto
rr,eu altar de
pedra
arde
um fogo antigo
estâo
dispostas
por ordem
as oferendas
"esTe
altar sagrado
0
^ue disponho
não ® vinho
nem
pão
nem
fores raras do deserto
neste
altar o
que está exposto
meu corpo de rapariga tatuado
neste
altar de
paus e de
pedras
(lUe
aqui vês
Víl'e
c°nio
oferenda
meu
Corpo de tacula
111611
Melhor
penteado de missangas.
'n ® togo
da lua
Esperei-te do nascer ao do sol
pôr
cabelo
terreiro
lá da curva do rio
para
entre os lagos.
pi .
Olha
a aldeia dos nossos Era o dos dez dias da lua nova
primeiro
Repassados
^ Verdadeira
aldeia sombreada de
Palmeiras
^h!
Os nossos antepassados
^ais
as aldeias nos obrigaram a
que
^andonar
Odeias sombreadas de
palmeiras
Eh.
O conjunto tão bonito das nossas
Odeias
Eli I A
A aldeia tão bonita dos nossos
Repassados
antepassados
usam o espelho todas
as noites
0 ancião
elevou a criança oriente:
para
«todos os teus
Pais»
e com
vagar ocidente:
para
«todas as tuas
ttiães»
s
clã da figueira brava
r°uxeram
o leite e os figos
O viajante
A dar à luz
Luas de
prata.
In Ex- Votos
Os
mortos não dormem
dedos
e um maiombola se levanta,
povo
minha mãe
dedos.
Um de mármore a
povo que
nitroglicerina
mito
coração
mãe
dedos,
dedos.
O incêndio
dos caminhos
A tempestade
arrancou os ventos do
peito.
A
pele de leão do meu coração faísca
nos subúrbios
da noite. De são
quem
estes
sonhos
Quem relincha
pela boca dos
amotinados
esPelhos
quebrados na mansão do
tempo
com os batendo no
joelhos queixo
cabelos de ventre
jibóia pelo
sentadas na roída de um
página país.
e a niulemba
alta do teu sorriso cresce
Terra
negra de sol no coração
e vinho
lunar
entre
as axilas
Espertas
na ciência
Primordial
do universo.
Logaríntimos
da Alma
Anoitece
Velhas de riscados
panos
Félix
culpa
i.
NSo falarei
das
gotas.
em *'a chuva
prometida.
*^ão falarei —
Ainda
que as nasçam
palavras
do incêndio
da boca.
Não
cantarei
os braços.
N>>e'tl
os corpos distraídos.
~
Não cantarei -
nda
que a voz atravesse
Ninhos
de crianças arruinadas.
rostos
estremecidos se apagam
que
'Cercados
de cruz crepitam no
que
CamP°
ardente -
CSSes>
esses florescerão, sempre
s°litários
ntre
0s meus lábios doloridos.
Nas
minhas
palavras residuais.
17.
Es
Ssas
nuvens não serão
já minhas,
minhas
serão as nutridas de
paredes
janelas.
ntre
as adormecidas
paredes
laÇarei
as árvores sonoras e
Aranhas,
silêncio
caminhará
pelas paredes,
casas
amargas irão aterrar na
história.
Os meus dedos irão novas
palpar
paisagens
indiferente.
alegria.
In Trajectória Obliterada
VII
atirem
para o meu
peito
Palavras sórdidas
palavras velhas
Para o meu
peito não atirem
Palavras velhas
palavras sórdidas
'iventarei
as minhas
n°
piso da cidade
n° chão
do campo
na escuridão
da solidão.
Palavras
velhas sórdidas
palavras
re> à busca
da
palavra
nde os homens desconhecem o
grito
're'
a busca
da
palavra
n^e
os homens cultivam no
peito
aS
Palavras hão-de
que ser ditas:
^tas
à
janela da cidade
lrei
a busca
da
palavra
rei 0
que se diz entre as
paredes
Para
que da nasça a luz.
palavra
ln
Traço
de União
As abelhas do dia
pedras
as do sonho.
paredes
ardem as Lundas
ardem as Lundas
ignoro-me nas do
pupilas planeta.
e as flores do dia
derrubam
as abelhas do dia.
A neblina
floria
urna neblina
n°s
pés
dos
meus avôs
<íUe
descem
os dos séculos
pés
(íUe
se despedem
da neblina
primeira
neblina
que sombreava
n°s
pés
dos
meus avôs.
ruv'es.savarn
as do dia.
pontes
P 'iam
a madeira das
pontes.
c°rdavam
a areia dos séculos.
6 das
pontes do dia
0uvia-se
a v°z
do destino da noite.
hAs
Abelhas
do Dia
João *
iviç>
'"'mona
nasceu em Kibokolo, Huíge em 1955. Publicou Trajectória
q,
^°ses Per(l"es de Cunene Traço de União
(1985), (1987),
l-v TaCl<l ^eS
e^as
do Dia se Ouvir o Sino das Sementes
(1988), Quando (1993), Idade das
p
Ql'ras
(1996), No Útero da Noite Festa da Monarquia e Lugar e
(2001), (2001)
q ngem
da Beleza
(2003).
João Melo
Instante
Um tambor inesperado
E um magnífico de
grito pássaro
sacode o ar do
quarto
quando atingido
o antigo e
profundo
epicentro do mundo
In Tanto Amor
{ i
k!v
® soldado
na trincheira
Pensa na
paz
P nso. a
paz ronda os meus canhões melhor ainda: a paz depende da
1110 unia
ameaça, ou: a
paz convicção dos meus dedos
nspira
dentro do meu duro coração. libertando a espoleta da da
prisão
0u então:
ambigüidade.
Paz rebenta
nas minhas unhas aqui: a ser inútil mas
guerra pode é
rri(| fungos
apodrecidos, dizer: necessária, digo:
quer
dorme
os fariseus resolvam esse
que paradoxo
0 outro
lado da minha pele camuflada, eu erguer-me sobre estes
pois: preciso
daí
corpos caídos
generosos
{^Ue'
Preciso estar alerta: a é
paz não esquecê-los um só minuto até
traiçoeira.
conquistar a há-de resgatá-los.
paz que
ereÇo
o meu sangue
por ela &
0 meu
ódio
0 e complacente
como um obus.
0
futuro (in)certo
tenho
palha,
barro seco e
um chão de milho
lavrar!
por
um fogareiro de lata,
amputada de uma
perna,
perdidas no mato,
tenho sede
as serpenteiam,
que
tenho febre
palustre,
de um sonho e um
país
refazer!
por
tenho esperança
no futuro se escreve
que
incerto!
97
Guernica
outra vez
se 0S
meus olhos
fossem
08 °lhos
de Picasso
estariam
transbordantes
f|<-
azu]
nia's
linda do mundo
(,Ue
a outra
se foi
P°r um dólar
0 Castanho-luz
do seu olhar
ao lado do azul
(^0s
°lhos da
princesa de Delfos
que se fecharam
'
O D'le ,
sairia da boca dos cavalos
Guemica,
lalvezj
In
Limites
da Luz
°navena.
pseudônimo de Nelson Pestana, nasceu em Luanda em 1955.
'er"
poesia Ulcerado de Míngua Lua (1987) e Os Limites da Luz (2003).
Adriano Botelho de Vasconcelos
parte do coração
porta
podia-se esquecer e os
procissão poetas
as mãos nos são suspeitas. Depois o
que podem perder desafio das luas
farão está
perfeito.
aberta em cal.
In Tábua
fujas ao desejo
não
procures na contenção
a filigrana
c°lhe
agora as flores de
jasmim
a"lc^a
que seja
perene
a fragância.
® Jardim
das Delícias
A noiva costurava com de
pontos
alquimia
Chegou a e morto
guerra jaz
o noivo.
água.
é um silêncio
e cada silêncio
um túnel
In Do Tempo Suspenso
k!^
' rria
guinda de laranjas sobre a mesa.
ílKaças
passam a o chão treme
galope,
e ressoa
como batuque.
elefantes
tão bebem água.
perto
6 rePente
rolam as laranjas ao chão.
Silêncio -
quedaram as árvores
s°litárias,
na
Paisagem, entretanto, nua.
11 lágrimas
e Laranjas
JVI ,
ar,a
Alexandre Dáskalos nasceu em
no Huambo 1957. Publicou 0 Jardim das
e^ícias
(1991), Do Tempo Suspenso e Lágrimas e Laranjas
(1998) (2001).
Rui Augusto
De
joelhos
Se arrasta a arte de
joelhos
tal
pedinte
menos do talento
quando que
de um alvará.
I
Segundo
flash
Sa°
mortais
guando marcham
as botas
,'0s
(IUf' trazem
í,rr°gâncias
escoltadas
de armas.
Inflação
Trazem sorrisos
de inflação
as laranjas
se entregam
que
verdes
nos mercados
da vida.
E a nudez
prematura
das árvores
violadas
cobre-se
de frágeis
panos
de indecisão.
Tempestade
copa agitada
das árvores
^
e a crina
do vento
C'Ue
vara a cidade
lés a lés,
C°m
seu
galope de água.
In O Amor
Civil
ftlli
U| Augusto
nasceu em Cainabatela, Kwanza-Norte, em 1958. Publicou/4 Lenda
Chá
(1987), 0 Amor Civil e Colar de Maldições
(1991) (1994).
Trajano Nankhova Trajano
décima oitava 2.
i. fúnebres
do ouro
da cidade
candelabros
ntre
a luz e a sombra dos múltiplos
^nhos
aceito a intensidade da rosa
Permanece
em mim o ensaio do riso no
Percurso
do reino
0
gesto longitudinal e o vislumbre
(]P°s
°Uro
místico numa azul-
paisagem
j
°utro
noivado entre a Pátria e o sol
, f
a Urri
cálice de rosa
branca
regencia
angular do verso alguém lê
Ve]L °
as crônicas
de zian
*
Tr aJano
Nankhova Trajano nasceu em Luanda em 1958. Publicou A Morte do Pão
Poente Calisto
IV
do molho das
extrema cobardia
às amantes do
mansões de
Portugal e de Cô
pequenos (deles
das -
guerras
de cupidinho e vendado
(des)gracioso
VII
acontecidas na
felizmente a morte só
imediata fulgurância
igual às amon-
SEM GUERRA E
MUITA GARRA
A MINHA TERRA
GUERRA
A MINHA MÃO
A MINHA TERRA
COM GUERRA
NA MINHA MÃO
TINHA UM PÃO
A MINHA MÃO
É O ROSTO DA MINHA
TERRA
A MINHA MÃO
É O ROSTO DA
MINHA
GUERRA
Títulos
de Areia
traumatizados
oprimido e
achados na
de meus - A
política geral gatafunhos.
das bocas
gíria
em rebelião.
Muitas
palavras
As
mesmas
palavras largadas ao chão
cheias
de
Caminhos.
mesmas
palavras esquecidas
^gadas
nos
Caminhos.
alavras
boçais repletas de
tempestades.
pa]
Vras insatisfeitas repetidas nos
c°rnícios
1 .
£ ris
Palavras convulsivas
palavras
Co«iplicadas
Palavras
vazias destemperadas
mcertezas;
tedio
das muitas
palavras palavras!
as essas
palavras como nos
ofuscaram
't-uém
mais se lembra. Esquecemo-
lfls
nos
tc°mícios.
N UtlCa
mais lhes daremos o valor da
Palavra
humana
rri
nossas
vidas lidas nos comícios.
Aunca
mais.
O meu
poeta
habitável
os seus de líricas;
passos
é de assim assino o
palavras que
homem;
dias
Quem o escuta?
saudade da
[palavra;
gente;
textuais
no corpo da palavra.
In Lugar Assim
(2004).
Carlos Ferreira
molhando as idéias
entranhas
Aqui
mistério
profano
havia um sonho e um
punho
(nós, os anti-imperialistas !)
Aqui
o o
poder para povo
Um e Exílio
(2001) Quase (2003).
Luis Kandjimbo
Na rota do
poente
horizonte. Em cheguei no
povo
algum de
poder
angústia de
e os caminhos.
compreender as
Acatei me
quando
encontras
pessoas que
mandam e vão
te a travessia. Se
pedir portagem para
não pagares,
os homens da
doenças
rumo de longe.
A chave e a
porta
húmidas
Um molho de lenha o
Doa fronte do tesouro para fogo
Diz a
porta:
porta
Correm mabecos
Correm mabecos
Os olhos abertos
temporais
E
punhais
Neste sangue
Os chacais.
dos Bosques
(1991).
Ana de Santana
Égua-mãe
cavalo de sonhos
(égua?)
no seu dorso
para
o desejo,
pousar
a alma aprisionada
procurando
o espírito adormecido
em cada canção
o faço
que
é os seus olhos.
procurar
Redacção
No meu País
não há carteiros.
...vazias latas
de NIDO/ carteiras...
Quando os carteiros
às crianças de rua)
(monumento
Homem (2000).
Amélia Dalomba
Corpos de algodao
Bailam
secas
plantas
na estiagem, enquanto
Larvas
passo
Mulher equilibrista
da fome
e não come
na Asa Branca
ao Roque
a cobrir nossa
nudez de linho
seda
e corpos de algodão
peles
Voar
Kwiti-kwiti
como invejo
tua liberdade
Será engano
lado do mar
Manco do
pé
caminho entre as
pedras
dilaceradas calcanhar
pelo
nas madrugadas
do teu
perguntar
Kwiti-kwiti
quero voar
In Espigas do Scihel
Manhã de
peixes
os visitam
peixes
as sem de prata
praias jeeps
a semente da súplica
ao tempo
os tomam forma
peixes
do mar criam
e os crocodilos
os visitam as
rios peixes
em de prata
praias jeeps
A doçura dos teus lábios
um brisa
poema pela
hás-de recebê-lo
na número 69
porta
da rua
jota
o cantará
poema
um brisa
poema pela
Irritantemente lentos
funerais.
a cobra descobre
se
ao deslocar
se
deixa rasto.
a cabra cobra
se
no óbito
há choro de mutudi.
se
e só se no
pó
se lê:
-
o riso da morte
é único
e redondo.
como um final.
ponto
In Amores Elípticos
É tão maduro
o veludo da
pele parceira
surpreendente
cristal fino e
puro
independente
acontece sempre
quase
corpo despido
vermelho e teso
Jura
Liberta
De tanto ardor
Pura coberta
De tanto amor
cortinas semelhantes
como em templos
jazidos
misteriosamente, evaporam-se os
cantantes
os desastres da
guerra
tormento/sofrimento, tudo
quase já
emperra.
- Inquietações de
quem espera
mudanças
possíveis
entre e
povo governantes.
e como d'antes
cintilantes
categoricamente aprimoram: -
Minúsculos!
In Cartas de Amor
CABEÇA AO CULTO DA
FECUNDUIDADE
muxima tatá
ngoma
salvação
que no flui
do condimenta a coreografia
geográfica
do teu verbo
zumbido da
pulsação
desperta
entre o da dicanza
gastroritmo
PÉ PALANGANA
QUE
INDAGAÇÃO!!!
130
cuspiu o suspirado
na noite enrugada
viveiro a suspirar
Coro
o dia está a sangrar
do
parte parto
encanta a kizomba
Coro
xinguila a kissangua
Aritmética
elementar
Ânsia + açaimo =
x desidratação
Eclipsol
E o resto?
In
Quando o Sol Nascer Comum
Sobre a velhice da idade da
pedra
procissão
estéril do
passado
eutanásia
pela
noite
naufrágios
can-tam
da idade da
pedra.
In Erosão do Fogo
Kuanza
a lágrima do kuanza
na dança da mágoa
os tocadores de dicanza
a voz do canto
na foz do kuanza
ao ritmo da água
na lágrima do kuanza.
134
A sina da
pátria
absorvido na retina do
escarlate coloriu de
Pátria?
555
555 cães
guardam 555 bois: não há
pasto, os
pastores
recolhem o leite nas vacas desnutridas.
a manada está
estradas da metáfora
do número.
in Simetrias
Declaração
Nasci
Cresci
Encaracolada e desfeita
pelo projecto
do cão
Multipliquei-me
sinistrados
pernoita no zumbido
Da argola e do conto
sonho
Mel
e espinho,
e eu sou
prosa e pranto
e vinho.
do canto e do verso
quero
a curva anunciada.
do manto e do inverso,
peço
a lareira inapagada.
e frio,
In Ac tu Sanguíneu
Para
por paz
ursos linguam
potes;
rapozas agalinliam-se
ondas engolfinham-se;
dorme à toa:
preguiça
toupeiras entunam-se
grilos estrelam-se;
noites adescaem
estrelas agrilam-se
eu libelulizo-me.
Memória
fundacional
citar alguns dos mais representativos. ligados de uma forma ou de outra, José
viria a marcar, até os nossos dias, uma Antônio Bronze e o cineasta Ruy Guerra,
"cinema
rica tradição estetizante na celebrizado novo
poesia pelo
orientadas
opinião crítica de Rui Knopfli, um por uma dinâmica intertextual,
"A literário
Knopfli: importância da sua obra revelam-se na criação de um
Alto Maé - como elemento dinamizador Actividade Literária", in Facho Sonap, n.° 30,
heteronímica na -
poesia moçambicana caldeando-os nas raízes da
portuguesa,
assinala um
período de confluência da literatura oral moçambicana.
da em língua
poesia portuguesa e dimensão dramática a sua escrita,
para
estrangeira, num tempo em a simultaneamente devedora de uma
que
censura
política se tinha agudizado. herança intertextual múltipla do
dramatizada, do
par Craveirinha &
knopfliano, num ritmo elegíaco com o e Momed Kadir, faz editar um caderno
livros (aí publicam, entre outros, ao longo Nelson Saúte revela uma herança do
José Craveirinha
Reinaldo Ferreira
Glória de SantAyna
NoEmi \ de Sot s\
Fonseca Amaral
*
Virgílio de Lemos , •
A
jV f !
JW
Hei Nogar
Rui Knopfli
Jorge Rebelo
l . •'#!
jpPlilimXI
kV,
H
¦
v*
¦NMMH
A rua Consiglieri Pedroso, o "chiado"
de Lourenço Marques - Moçambique
tu não os amas
que peixes
Zitundo.
Pindangonga a xidana-kata nas redes dos
pescadores
um
Funhalouro livres!
Munhuana
Amaramba, Murrupula,
mosto em Muanacamba
e as de corvos de
penas
agoiro
invencível Xicuembo!
ainda
de África
incandescentes
In Chigubo
parte.
Já temos
que
A valsa começada
E o Nada
Tu
pensas
Dum
par
Eu, nauseado e
grogue,
Eu vê lá bem,
penso,
E assim entre o eu e o tu
que penso que
sentes
empresto
O Nada é só o resto.
In Poemas
Poemas (1960).
Glória de Sant'Anna
Poema do mar
voltará à água.
de esperança e cuidado...)
e deixa na areia
um rasto de
prata.
(A rede o segue
que
0 vem do mar
pescador
Irá caminhando
pela madrugada.
Se me conhecer
quiseres
Se me conhecer, Se compreender-me
quiseres quiseres
estuda com os olhos bem de ver vem debruçar-te sobre minha alma de
esse de África,
pedaço pau preto
invisíveis 1949
altiva e mística,
Karamchand
sagradas, abissais,
germinando
ke a um sob o resfolegar asmático do
curto petromax!
gesto
a um milimétrico acto
"
rio murmuro sua barca te deu o sol no rosto.
que já
tem, solarmente, de
percorrer.
In Caliban
(1999).
Virgílio de Lemos
de si mesmo
1 Bolsa minha
a mãe
mundo. Frankfurt
toda de ironias 3
2 da ruptura,
judeus
de revolta da camisa,
Moçambique, 4
de espanto
se adivinhasse as coisas
deslimites.
In Eroticus Moçambicanus
para remendar
esta longa
longa solidão
lenta
que
e a
passo passo
nos arrasta
In Silêncio Escancarado
Marques em 1932
(Maputo) (f 1993). Publicou Silêncio Escancarado
(1982).
Rui Knopfli
Pátria
casuarina,
enlaçados.
também Esta
designá-los.
se. Depois,
escombros deveria,
dolente, mortos
que
lhe a morte, o e o Ladeado de sombras e árvores,
precederam primeiro o
porém,
por ficção
premonição de legado
gelos
o minado secreta,
perfil, por pertinaz
volvia meta
e de conceitos como
ponto partida, que,
a linha imaginária,
essencial.
Para sul
Apontei Sul com o nariz, com o Podia vê-los crescer nas tuas costas
para
coração, com os camarada da frente
pés
Fiquei completamente Também com esta terrível doença da
orientado
para
Sul impaciência nas costas
para Sul.
para Sul.
Na noite em o Rio
que passámos
Rovuma
teimoso
fosse andando
Nunca aceitámos
Nunca aceitámos.
Mas sabem
A angústia da espera
pesava-nos
(...)
(1969)
In Mensagens
Mensagens
(2004).
MOÇAMBIQUE
Sebastião Alba
Heliodoro Baptista
Leite de Vasconcelos
Júlio Carrilho
Calane da Silva
Albino Magaia
Jorge Viegas
Juvenal Bucuane
Gulamo Khan
Julius Kazembe
Afonso Santos
Mia Couto
Almeida Culo
Filimone Meigos
Ahmando Artur
Eduardo White
Guita Júnior
Momed Kadir
Nelson Saúte
Amin Nordiní
Adelino Timóteo
Sônia Sultuane
Chagas Levene
Rogério Manjate
Celso Manguana
Dinis Muhai
Jorge Matinê
Ruy Ligeiro
SONGARE OKAPI
Sebastião Alba
0 ritmo do
presságio
reflui de antipatia
e impregnadas, assíduas
cambam as borrachas
de dessorar os textos
de na cabeça
pausas
Vozes inarticuladas
uma tempestade
recôndita
E nubladas carregam-se
as suspensões
encandeando em nós
o ritmo do
presságio.
Subúrbio
a manhã
pousa
Os comerciantes assoam-se
de varanda varanda
para
fogueiras
colares.
In O Ritmo do Presságio
Evidência
(2001).
I 1
Heliodoro Baptista
Thandi
escrevemos na
pele:
amor;
e o tudo é o
pão
tenho
palavras
é imito o canto
porque
cedo);
minkulungwanas Nogar,
transformado
em Descolonizámos o me digam,
verde sangue, cheio do húmus do quê,
nascido rios.
cercada,
canto. a festa
para
infiável.
I orque, com Picasso em Guernica,
Quem visita a campa de João Dias, há a sua reincarnação nos tantos, mil
Fonseca Amaral,
Rwandas e
do Reinaldo, Fani Ffumo, Matateu, do Burundis.
Rui de Noronha?
E assim dói menos,
já
E isso ainda dói, de um doer súplice?
da miséria,
dos símbolos,
respiração.
Ser
nada é só o resto.
(o
Reinaldo Ferreira)
empaludado de crepúsculos
façam esconjuros
que
Preferiram na Suiça
pô-lo
a render
juros
Emergentes
Flamingo
0 dobrou-se sobre
pescoço
o corpo róseo
transformada em estaca
distantes
constantes
sibilantes
a o apetite discreto
panejar
dos amantes
(SÓ BRILHOS)
No ibericamente mulato,
preto
na negra branca
goesmente
Só brilhos e lembranças
do medo me acompanhava na
que
machila.
transfigurou o
gosto?
de timbila?
In Nónumar
Júlio Carrilho nasceu em Pemba em 1946. Publicou Dentro de Mim Outra Ilha
(1995) e Nónumar
(2001).
Calane da Silva
Pontuário nocturno
No cabaret
Afogamos os subúrbios
Vendo Mundinho
Do órgão electrónico.
Lá fora, agressivo
No alcatrão da rua
Aqui
Confessadamente
prisioneiros
Explodimos no álcool
Poemas clandestinos
Certos
de Oliveira.
In Lírica do Imponderável
encantavam
vozes tropicais
espreitavam
seus ais.
Gonzaga na memória
outra história
revoltadas.
pensamento húmido
aquece o lento
gesto
da doce
pele
e dedilho ziguezagues
na das frases e
persiana proclamo
descomplico-me Calcutá
morna
(inéditos)
no verso alexandrino
do corpo
Samarcanda desperta
telhados
antenas
cúpulas
Descolonizámos o Land-Rover
povoação companheira.
condutor rumo
Passa de iManica
pelos pomares
Pelo milho de Gaza
Pelas de Iiihambane
palmeiras
estrangeiros amigos
Revolução
-
Descolonizámos uma arma do inimigo
descolonizámos o Land-Rover!
potente
comando
ao medo
Já não afugentam o
povo:
boleia.
Minhas mãos
de todos os zeburanes
monocular
usando arma de
pólvora
Carícias
gêmeas
Aiuêê!!!
In Trilogia do Amor
Do meu
país
foram de morte e de
pássaros
melancolia.
Subversão
O subverte a paisagem.
pintor
0 subverte os da
poeta planos
linguagem.
O subverte os homens
guerrilheiro
mensagem.
Subverte. Subvertemos.
Subvertidos fomos.
A subversão devemos
A estatura do somos.
que
Canção de Bagarila
África,
estática,
afoite.
Vila Cabral, a 32
quilômetros.
Planalto de Lichinga.
Arame-farpada
0 inimigo, e nós,
Sabemos entrementes,
que,
As Kalashs cantam,
Estremece Inhaminga.
azimutes.
gasolina.
Baionetas caladas
Perfuram a noite.
Permaneço de
pedra.
Transmudado em basalto.
In 0 Núcleo Tenaz
A raiz e o canto
sopro fiel
aprestado a sacrifícios...
Voz às obrigações
presa
do
quotidiano premente
que a
percutem
para a lucidez
mas desenterrá-la:
para
as alturas sulcam
In A Raiz e o Canto
Aquela branca
pomba
era linda
aquela branca
pomba
era de
paz!
Sem vacilar
o negrume da noite;
feito de homens
no amor e na fraternidade;
feito de homens
na solidariedade universal!
e... de repente,
Limbo Verde
(1992).
Culamo Khan
é um xirico um beija-flor
é xituvana
MOÇAMBICANTO I
Céleres as águas
Zambezeiam memória
pela
me entontece
me ensurdece
os sulcos são
que
Oh
pátria
moçambiquero-te
neste alumbramento
e amar-te
deglutidos em revolta.
In Moçambicanto
Changara
vôo
milho.
campos
decantam-nos as estereofonias
Tempo
Coleccionador de
quimeras
Começam a morder-me
Ponho-lhes a trela
Saio à rua a
passeá-las
E deixo-as ladrar
Ao tédio transeunte
Depois asas
ponho-lhes
E deixo-as voar
como
pássaros
em busca de
primaveras
imprevisíveis.
In Coleccionador de Quimeras
(2000).
Mia Couto
(escre)ver-me
nunca escrevi
SOU
a vida
janelas
em me transcrevo e apago
que
SOU
um soldado
se apaixona
que
Fevereiro 1985
Sotaque da terra
Estas
pedras
sei
porque falo
a língua do chão
nascida
na véspera de mim
minha voz
agora,
ouço em mim
o sotaque da terra
e choro
com as
pedras
Junho 1986
A rola canta
tru-cru-tru
tru-cru-tru
Canta algures
e ausentes de sono
E não sei
se é a rola canta
que
Ou se é a memória dela
que ressoa
Deitado
E a rola canta
que
dentro de mim
In As Metamorfoses da Alma
Intertextualidade
-Em
caixa alta, aos de Maio; tindozolé e um tambor
poetas
uma pedra
meu soluço
espécies melhoradas
da civilização de Sidades e
genética
«Oh esperance
féconde ambition
de ceux croient
qui
changer le monde»
essa árvore
bambolear-se belecando-nos
Pensar o vermelho dá a
que mesma
sensação a todos?
convencionais'
bimóis
mensagem
O Inglês faz-me igual a mim mesmo, o tipo ADN tem contexto. Meiose,
que
Garimpeiro do Tempo
Filimone Meigos nasceu na Beira em 1960. Publicou Poema & Kalach In Love
da Costa do Sol)
(Praia
Aqui a manhã
chega-me inteira
redonda e
geométrica
de sândalo.
maravilhada é a imaginação
da luz, alucinada,
os rumores do vento
e os arautos
primeiros
da maturação do amor.
aqui a manhã
chega-me
pura
como as de Setembro.
gaivotas
e a incandescência da esperança.)
Os astrofísicos
acreditam
na curvatura do universo.
E eu, carapuça!.
qual quê, qual
Onde secretamente
pouso,
E depois me inebrio
E me ignoro.
Acredito no bosque e na
gruta
Próxima estação.
192
e as marés chegam e
partem.
medo.
murmúrio
pupila.
In Os Dias em Riste
Rosto de ébano
ébano
espelhos.
Na da espuma e da areia
quietude
morna.
obstinadamente
verso.
dor
desconsentido.
estepes
novos
Na das aves.
quietude
Sereno é o olhar da
pedra
Nos incumbiu.)
In A Quintessência do Ser
temos dentro.
aparição. que
*
Pode-se vê-la correr dorso do
pelo
papel,
rastejante,
não resiste.
delicada
passagem,
rítmica, latejante
o animal alado.
a textura do papel.
pedestre
Voa sobre as casas,
Mas a mão voa, explosiva,
um pássaro
procura
recolhimento. acasalar.
Voar é um ferveroso para
E no é a medida elementar
que quase
Sílaba a sílaba
do esquecimento
0 verso voa.
A escrita navega
de o
prendermos.
Não é um
justo pássaro
as sedas sobre
que
busco-te e recusas e o
para
eu viajo, tuas
meu amor, tocar-te esses búzios, sedes, a rosa dos ventos, o sextante dos
para
essas tempos,
peixes
oferendas ao Norte,
um deus, pensamento.
macua, uma
distante, e um
Tenho uma amarela virada
janela para
incessantes e um
poeta que pressinto
In Janela o Oriente
para
Mãos sobre
farrapo
impostos
mulalas
a verterem-nos da carne o
hematozoário
escasso
em busca da metamorfose
purpúrea
legal
motobombas
necessitar
é verdade
o farrapo e a esmola
para perpetuar
desarraigar as vontades
para
abdominais.
Diário de esperança
(1 de Outubro de 1991)
mas meço
palmo a
palmo
poro a
poro
cada retalho de carne
que besunta o
aço da alma
para sossegar
gatilhos
dorso
e filhos órfãos
quase
madrugada
cadáveres
pode
e mata
a arma mata
e chora
ao relento essenciais
o voltará deles?
que
estou
vinte e nove
tempo
resignadamente
chorar
vontade
mesma
choram os homens?
é o caminho
penoso
noite
presente
apenas os tempos
In Os Aromas Essenciais
sonhos
corpos
diáfanos
a solidão do asfalto
regista de alvenaria
passos
Desencantos
(1997).
Nelson Saúte
Pr o-arqueologia
i.
Da Mafalala um
poeta esconjura
as do mito. 0 Jacrau
quizumbas
devagar entardecer,
pelo
de me aos deuses
parecer
sem vigília.
In A Pátria Dividida
Os amantes não têm ocasião
imprevistas.
encontro.
estilhaços
silêncio.
tua ausência.
Carta
In A Viagem Profana
Os colibris
Ninharias no arco-íris
Por morada
compridas
itifaque
corânica
In Do Lado da Ala-B
observarmos o
É tão lindo e contagiante
país
de momento.
ousada, ao tocar na
Fico com impressão
tua boca,
em relação a
vivemos equilibrados
que
a regra,
imprimimos
desse
vivi e
emersas desta
reinventei as paisagens
pátria
a ferida
de fogo. É cima
sobre o espelho por
desta prova
ensino o vale
evidente te quanto
que
amar
pássaro,
..
Sônia Sultuane
o importa se te vais,
que
ti,
por
tenha roubado,
deixado,
abandonado,
cravado.
Voltar a tocar-te
Tornara a encontrar-me e a
perder-me,
profundamente,
In Sonhos
de vinho
amordaçado por garrafas
Respira-se do melhor há na
que
Vinte horas
em os baratos
de batôn a escrever perfumes
moda
lamentos de um tipo embriagado
Neste momento
vende mbangue
um Sony (inédito)
por
nacional acaba
Vestido de homem
poeira e estrada
fim e luz:
estou inutilmente
diante do espelho
e explica ao silêncio
1998
A-poca-elipse
Contanto viva de
que
abertas
janelas
me avive a luz
para que
e de livros abertos
aconteça o amor
para que
lá aparece deus
esquecido,
pequenino,
frio e diáfano
mas bassopa:
o da poesia
queimar papel
se aquecer.
para
2001
(inédito)
e Carlos Cardoso
Aqui
Meninos regressámos
jaz
a Nachingweya
a
pátria
não temos armas
no último vôo de liberdade
procuramos a
pátria
Paga-se um
preço Pátria
quero
por tudo mãe
Só uma
A morte
Quanto custa
A nenhuma cidadania
quanto custa mesmo
pertenço
amar a liberdade?
conheço
só as causas
justas memória
percorrida
loucura visitada
Que dizer da vida
e amores
quantos
quando mesmas armas
Libertam
vou norte
para
e também
sempre morte
para
Matam -minha
pátria-
Mas sonhámos
talvez sonhámos
só a meia-haste
caminho
sozinho
caminho
urino
não
despeço
peço
lume
charro
aceso
prossigo
para
norte
obviamente
para
morte
-minha
pátria
(inédito)
1974 em INampula.
Celso Manguana nasceu em
*
L
Dinis Muhai
Manifesto da
formapoéticamentria
alfa(b) ética
"b"
Um de brutalidade: Como último acto
chacinados
presa a crença
clássico lá de
perto
doutro mundo, e
para
a nonção
percentuavel
In Oásis
Quererei alienar
Em contemplarei a renascência
que
De suor
Catalogarei em vida
Os espectros umbigos
No estudante do pão
partidário
Do baleado sinaleiro
peão pelo
Quererei buscar
Na memória
O cidadão híbrido
Do tempo
In Abutres do Amor
Perguntaram
Perguntaram
E eu respondi
Escutei-lhes
Perguntaram
Analua
E disse-lhes
Falei-lhes da ausência
Tua
Viagem ao oriente
Perguntaram
Contei-lhes
Arranjei-lhes
pergaminhos de
Caminhos
Pauta
quotidiana
Este Pois,
poema
0 também é
E ser vendido poeta
para
Filho de Deus
Numa banca do Mercado Central
Tomate Energias
Contas domiciliárias
Cenoura
Impostos
Ou cebola
E algumas mordomias
Pronto
xavani va mamaria
Sem bassela
xavani...
Pois,
A dá de comer e vestir
quem
com um igual
quotidiano
ao vosso
Pois,
mendiga o óbolo
0 também tem
poeta
e não sabe outra coisa fazer
Caprichos e despesas
xavani...
Dum cidadão comum
Não
pensem
Este poema
este é de mahala
Que poema
É ser vendido
para
Sem impostos
pagar
Fugindo do fisco
Às vezes e encarcerado
preso
Num calabouço
Não interessa
O só lucrar
poeta quer
O tem
poeta
Filhos na escola
Come
Dorme
Comprem-lhe este
poema
Sem
graça
Poema lindo
Poeminha Barato
In O País do Medo
Barcos
Com o mar
chegam os barcos
Perto
Porto
para todos os
portos
do verso
poema
a verso
oh a brisa
e sinto-te inteira
toda e nua
(inédito)
()77
Songare de Cardoso Lindo Chongo, nasceu em 1 em
Okapi, pseudônimo
'
r? •* / ?C t c "
">*- * •. • ' 'v * .
aJ'ir * i ' •; l4IJ rlfi «J £ * ^ -7 | . *§#4 X %. . .•
Imagens de
Bertina Lopes
independência de Moçambique,
e europeu, a extensão e a
português
Lourenço Marques torna-se
irradiação italiana. E necessário partir
africanamente Maputo, Bertina está
já
daqui entender Bertina, para
para
Para distante.
no seu mundo de sinais.
penetrar
Os anos de adolescência em Lisboa,
sentir o murmurar da história na
escrava do Camões,
África, onde todas as raças, culturas, poeta português
a testemunhar em
anos eu sou chamada
foi de aproximadamente
protagonista
sabe conjugar o
com a imaginação que
Giacometti.
da cidade, na Praça
admirado no centro
um lava-cor se
vulcânica, com que
"públicasna fiel e
sempre mais sua
'
ao bem de
desinteressada devolução
Moçambique".
sensibilíssima Bertina.
#r
*"«Vjy4cri»A
lijunbírâ v- >A -Seosh '
7 ; S lr irúVie^oLi.. !lr^\ 1 , (i
ÍS HSA »ANKARA V\ ly y b .
^--4 A/w//y %S^T<yiuctó»ck #.
> <£»W Kjiijii od
I if,iií'w*^vr^. íw^^kvvUSÍ^\iit«>>«'« Ar a Vll^r
v r\x \ 0*or*'
fcy-Asfa-—.^^-r jlioMA >' '/^XRA JiE Cr AR M I 1 S*NNAÜ
^T 1 T S5
.tè£XÍS xXF3®
!
*-i*?-~-
. v ; -;ír *
~<yyA d*n Enij^bohrafn AÍN01Í ron d*nArabrru SVDANrtnjuntv«w
—-
S.-mla JfrttolM ionít Atich Nlfder . AltUlOpiín .
. J-.y;.!. /
•" GUBIR &or^*ra
1 *" Ktrurva J
• . »Aye> 1 . •'' .; v '
F •
~—-- —Ya 0^
lnij <
'
Bo«r.sffi|ii a '
\\/ Zs.f.WA.- / Om®*
"liai I'!'*'''.
f*r iAyT' JbJa""' ,
OK Rkich<w;
Hr.ir ji \ G A L IA *.w
REICH S HAKO •lês S K ni>KKO BOMBA «ivwíja
° '^r> lÍAtler A CftjtAir i
- S ,« D Ader AÃíorír *
Afbowrjk'í
í , v» V?JP
^ ««Trn,
x L*"' A^i.XUl * ° 3» ,3} E..^
OWJ^auMiy^fa
JS'IW . •'•"( ««diwwJ yenMuit -d
>-- — C.loj»oCon*»l\ tz^~ '— '• '' -t— é.c—I "', '•—r -
u - , I -' '' | »
I,/(UM.bon "JW zti-^su 1 Riüir baie. f A j ' ,- '¦ r 1
j AT ~1
° ij»;Am.,JlitocoMo«iorv1Kiprf'\
V f ^í 1 í
\ír.;./Af '# y.!'".,vr.Jr /»
¦ i RBXCH NIMKAMAY -iSfAÍr'
,-K rv ^<L
C. £ OAV&oN ^ f"
\/«A s? ,
— V- .- L.to.-^aFr_ A
w.. - «niíücrA*T- ,í" 4fl
..^Coarfo
'; luUJA __ /
' . MATA «BA?
N & O i- - „ tuínçatr ijí f f
I s M í: k m S A ^"«SMUS» $
unteAaanf j ¦ .7
^T^;^JÇ^/t>AI.JL|A
LA5 »
t' 4^^%^
Jtt 2——
/'W/
-jrzàai-í^jrjíMjf
"Stfr otil» wX"'
j*Bcl*na C o
/y**r JT*M/*j W tíl t»/-. X/Í-4 - A* CÍM»Ír<
I * 10 a 4,-n^wtf
Luilil dfl |
t i'» /^A >" M10 uiub o A calun^A
"nu nu ^0 I v. ^trr-fM 1
J
4-' t 4*,/
v ^ KKICHderClAlliKBAy.R
Jiarxrut» 1
C..r<rr* ^ À^-.<\ Ítr ÂutJfM ' tóte1
{, J/r^ Jliitâiaiu
'<•
Xit/nt.A Jiuit \ ^ 1" AJld ¦ifJC.rnttv '-
4' Jt+j-ir*> M /( UVtf Y
KÊÀJ^A /r&
,-Y
L,c»'rí„,„ I
/aijüüH,
)' H«jr '
'
Urofi»
^.{jt^rj /r-JJC '
a ll» aij 'C C.JíMa,
I'*!""
/ p 4 • Aw.»j
•r^r j^faVúv . CaÃ4-
' " ^ í^'X*»iaqi«i*s ',I,a XD\;:,\>fl i ,' I > I
SS Àntoi
-^í*'HfH JS. *^3TH—, '¦v "\^oTi •- - -<y
j E-cw r I
da
trilhas
memórias:
moçambicana
poesia
Ribeiro Secco
Carmen Lúcia Tindó
da literatura de
Estudiosos
o conjunto da
observarmos
entre os Fátima
Moçambique, quais
moçambicana
poesia Mafalda Leite,
Mendonça, Ana
-
Ao contemporânea, verificamos
Rosário, Mátteo Angius,
Lourenço
em essa produção
que, grande parte, Noa, são
Matusse, Francisco
Gilberto
vinte anos, opera,
dos últimos
poética apontar duas vertentes
unânimes em
resíduos de sonhos,
tematicamente, com
do sistema
estéticas caracterizadoras
e
desejos, sentimentos, paisagens
as se
moçambicano, quais,
às t poético
memórias resistiram guerras
que de Bosi antes
tomamos a classificação
sociais e
resistem, hoje, a novas pressões
mencionada, notamos que
das lutas
Se durante os tempos pela
políticas. respectivamente, ao
correspondem, que
dos
libertação, uma significativa parcela "poesia
brasileiro denominou
o crítico
se fez arma ideológica
poemas produzidos lirismo subjetivo" e
de afetos, do
colonialismo, atualmente
de combate ao
"poesia do epos
da utopia,
os discursos se revelam sob
poéticos
revolucionário :
apresentando outras
formas diversas,
Segundo o crítico
maneiras de resistir. "uma,
exprime um lirismo
"a t< m que
Alfredo Bosi resistência
brasileiro
se faz espaço de
individual, que
do
muitas faces. Ora propõe a recuperação
da eximindo-se de
afirmação poesia,
mítica,
sentido comunitário perdido (poesia
ou
comprometimentos políticos
a melodia dos
da natureza); ora
poesia exprimindo, mesmo
ideológicos,
subjetivo);
afetos em plena defensiva (lirismo
de forma oblíqua, mas não
assim
da desordem
ora a crítica direta ou velada
menos profunda, preocupações
da sátira, da paródia,
estabelecida (vertente
existenciais nos mais variados níveis.
da utopia)
do epos revolucionário,
Aqui, a figura emblemática é,
142 e p. 145.
São Paulo: Cultrix, 1983. p.
a outra, inserida num e ideológicas. Não deixar de
projecto podemos
¦LT a xj jH
• • ijl. '.
•. **'.
*11.
"Wr fa ^
w ~JW • VI
| : X Su .' •. * A
¦Uy> ^ *-VtfH
VtfH
A;- . <?v:*a j]
¦¦
"Bazar",
Aspecto do interior do em Lourenço Marques - Moçambique (foto: josé dos Santos Rufino, em Álbum
de do e do outrora, com
Moçambicanos, a criação páginas paisagens presente
do cidadãos moçambicanos se
semanário Tempo, a Diálogo
página
do de vivenciado com
urgência de serem reinventados os quotidiano poesia
redutores e limitados do
morre de ser ontem panfletarismo
inventar literário.
e é urgente
Relembrando fragmentos da
outra maneira de navegar
e os transformava, linguagem, em
Buscando outros ritmos, pela
pulsações
e matéria de
novos ventos literários, Mia Couto poesia:
de Craveirinha e Drummond,
procura
A de Luís Carlos
poesia
exorcizar o medo há séculos instalado
Patraquim também dialoga com a de
em Moçambique. Consciente das
representantes do antigo lirismo
mutilações físicas e mentais sofridas
por
moçambicano. No
poema
do o sujeito lírico
"Metamorfose", grande parte povo,
é visível a
adverte - como também observamos em
intertextualidade tecida com
de Mia Couto - a
poemas para
conhecidos versos de José
de se restaurarem as
premência
Craveirinha, conforme assinalaram
já
emoções individuais bloqueadas
pelos
vários estudiosos da sua
poesia:
anos de arbítrio exacerbado, exaltando,
Andrade linguagem.
"Sonhando
(...) um Moçambique mais
Evidente é, a importância
facetas da portanto,
textual, desvelando múltiplas
efetuada de
de da transição pelas poéticas
história de Moçambique. A poiesis
"Quer
Patraquim e Mia Couto.
Patraquiin é carnívora, de
prenhe
zonas sagradas o sistema
refazendo que
metáforas insólitas deixam sangrar
que
mito, o rito, o sonho, a
à tona profanou (o
a memória. Seus trazem
poemas
Eros), desfazendo o
Indico infância, quer
nódoas aviltaram o oceano
que
do em nome de uma
de sentido presente
comércio árabe e tráfico
pelo pelo
futura"8, o lirismo no
liberação praticado
escravos feito mas
por portugueses,
dos anos 1980 abriu espaço
o início
resgatam, também, sinestesicamente,
às tendências estéticas
o favorável
de temperos fortes, como
paladar —
revista Charrua
seu apresentadas pela
caril e o açafrão, os deixaram
quais
Juvenal Bucuane, Hélder
criada, por
sabor impresso na cultural
pele
Pedro Chissano a
de Muteia, qual
moçambicana, além da sensualidade
outros adeptos, entre os
conquistou quais
tufos e alcatifas cuja maciez
persas,
White, cuja obra é, atualmente,
Eduardo
desejos amortalhados na
despertou
reconhecida não so em Moçambique,
terra descaracterizada pelo
mas em meios literários estrangeiros.
entrecruzamento de diferentes culturas.
Uma da de Charrua se
das parte poesia
Os ventos índicos o sopro
portam "lirismo
caracterizou um de
"mil desse por
e uma noites vencendo,
afetos", cujo discurso literariamente
acordar da
modo, a morte social pelo
elaborado funcionou conio antídoto aos
imaginação fraturada miséria, pela
pela
slogans dos tempos
intermédio <lo poéticos
fome e Por
pela guerra.
constante, o guerrilheiros.
recurso à metalinguagm
A revolução deixou, assim, de ser tema
discurso se erotiza; a plasticidade
e passou a se manifestar no campo
e a se
verbal se intensifica poesia
"escrutínio formal da construção dos
próprios
transforma em em
paixão,
tecidos em linguagem de apuro
de um sexo fundo com palavras , no poemas,
da alma humana. Segundo Rita Chaves, também haviam estado desde o século
- vários do entre os
de inserir-se poetas passado,
produzido
Virgílio Lemos, Glória de
dialeticamente na tradição, negando- quais:
vagarosas,
a com as origens.
presente preocupação brâmane ou muçulmana?
( )
'' "Eduardo durando no ar...10
CHAVES, Rita. White: o Sal da
Moçambicana". 10
In: SEPÚLVEDA, M. C. e KNOPFLI, Rui. In: SAÚTE, Nelson e
SALGADO, M. T. África & Brasil: Letras em SOPA, Antônio. A Ilha de Moçambique pela
laços. Rio: Ed. Atlântica, 2000. 137. voz dos poetas. Lisboa: Edições 70. 1992.
pp. p. 35.
assinala na vários representantes de Charrua.
Nesses versos, Knopfli
Eduardo White, o
moçambicanas, tema explorado por principalmente por
Os mesmos fantasmas se
violência, sua busca reencontrar
poesia
cruzam "as
raízes do afecto"15 e o mistério da
nos paradoxos
pela praia, vida. Antes de White, outros
própria
repetidos
conforme referimos,
poetas, já
entre a cobiça e o cego desejo.'-
assumiram esse viés lírico-amoroso,
11 KNOPFLI. Nelson e
Rui. In: SAÚTE,
WI IITE, Eduardo . In: SAÚTE, Nelson.
SOPA, Antônio. A Ilha de Moçambique pela
nos anos 1950, adotou em seus versos Fernando Couto, entre outros, e passa
verdade tão / até mete medo. revista ou depois de ela se ter extinguido.
pura que
aos sonhos, compreendidos estes como White, é Armando Artur. Adepto do viés
partiram ontem. Sonhos ir-re-cons- ti-tu- sol, as águas, a luz, a terra, a maresia. Em
í-veis, durante muitos, muitos anos".18 No seu terceiro título, Estrangeiros de nós
"medo
Fátima Mendonça, referindo-se a embora ciente do ainda presente
"Criemos /
Artur uma canção, homens Que
(...) a de Armando
poesia
22 "Homília
MUTEIA, Hélder. em Versos". In:
Momed. Impaciências & desencantos. Maputo: In: SAÚTE, Nelson. Antologia da nova poesia
"Jfv>v«Vv,
\ ttr 1 m 1^- O f ^ fl
"príncipe" "indunas",
Um de Sabié com seus em trajes guerreiros, em Lourenço Marques - Moçambique
(foto: José dos Santos Rufino, em Álbum fotográfico e descritivo da Colônia de Moçambique, 1929. Acervo BN)
"personifica
injustiças étnicas e sociais, o lirismo de o lirismo mais
eclética. Encontramos nela, além dos kalashnikoff, arma soviética dos tempos
bicho da Terra", o eu-lírico não deixa, a confesso de Mangas verdes com sal" -
Livraria Universitária Eduardo Mondlane, KNOPFLI, Rui. 0 Monhé das cobras. Lisboa:
da do exílio ficará
jornada que
Outra figura emblemática, cultuada
marcado obra 0 Escriba
pela
"0 até entre os novíssimos da
poetas
Acocorado Desterro
(1977).
década de 1990, é José Craveirinha.
corresponde à última de
parte
cuja obra - condecorada ein 1991 com
0 Monhé das Cobras. Trata-se, no
Camões - diversas
o Prêmio , atravessa
essencial, da reprise de 0 Corpo de
encenado -
Cântico a uri dio de catrarne 1994, é também por poetas
(1966),
- as temáticas do sonho e da
representativos de sua a com
poesia
memória. Entre estes estão vários, cuja
narratividade encontra-se também em
os levou à consciência da
Karingana ua karingana, há a revolucionário
presença
"pátria usada
dividida", metáfora por
de um Só em
poeta-narrador. que,
32 CRAVEIRINHA,
José. Babalaze das hienas. de angústia progride (1979), A Linguagem da
sempre insepultos
para
Eng. Antônio de Almeida, 1998, v. III, p. SAÚTE, Nelson. A Pátria dividida. Lisboa:
.
e auxiliares da missão padres seculares
A banda da Missão Portuguesa de São José de fhanguene, com o superior
1929. Acervo BN
da Colônia de Moçambique,
(foto: José dos Santos Rufino, em Álbum fotográfico e descritivo
a condição de Moçambique
recorrente o uso da metalinguagem; denuncia
esquivo"4".
Carlos Patraquim, Heliodoro
"algo
expressando ceticismo: se
SANTOS, Afonso dos. Colecionador de
estagnou sobre a noite do tempo /
quimeras. Maputo: Ndjira, 1996.
p.55.
repousa na bruma dos mapas
GUITA JR., atualmente, é o presidente
"verbo Knopfli, se
o vazio dos anos 90 e o linguagem ensinado por
"valerá
hipócrita do opressor". Mas sua ainda a razão eterna
poder questiona:
anteriores, conforme se
Literários do e com o livro vozes poéticas
grupo
intertextualidade com
E noite na alma à espera de breve depreende pela
Eduardo Pitta.
edição.
Munoz, também de
Guita também desvela, como Francisco
Jr.
Xiphefo, a da desesperança
Momed, o clima de corrupção e o par
uma escarlates
1992, o sujeito lírico confessa
afogados
nos serve falar de amor / quando
a hora dos corpos sem rosto sem
apenas nos submetemos / ou a um
a uma nome
mundo turvo e desleal / ou
54
r veias na rua
religiosa digestão de perdida
preconceitos
lâminas e sangue
um enquanto o
52 KADIR, Poema do livro ainda político perdido
Momed.
nos repassou.
inédito fornecido a Rogério que também
(In)Diferenças,
56 Francisco. Poema cedido a
MUNOZ,
Manjate nos repassou.
que
54 GUITA Francisco. O Agora e o depois Rogério Manjate que nos repassou. Há uma
Jr.,
Esses reivindicavam um
jovens
ligada à Brigada João Dias e editada lusitana e ter sido criada com apoio
por
anos 1970. Estes se assumiam como então, da Associação Aro Juvenil que
moçambicana contemporânea,
morre de fome e são assassinados,
povo
detectamos uma ausência quase
no muitos dos defendem a
país, que
"Aqui de mulheres-poetas. Ecoam
a / No completa
liberdade: jaz pátria
ainda vozes antigas: algumas
último suspiro de sobrevivência //
em determinados
Interessa a vida/ as mesmas questionadas,
Quando
-
como a de Noêmia de Souza
/ também aspectos,
armas libertaram
que
conforme observamos no poema
matam?"60
- e outras reverenciadas, entre
anterior
Grande dos poetas que
parte
a de Glória de Sant'Anna, cuja
Geração 70 e as quais
da chamada
participaram
tutelar Eduardo White, em
seguindo o viés irônico presença
da revista Oásis,
— o entrevista a Michel Laban, reconhece
iniciado Craveirinha e Knopfli
por
sua obra. Clotilde Silva, com o livro
dizer em
entretanto, não quer que
que,
Testamento 1 editado pela
maturidade (1985),
tenha alcançado uma
-, AEMO e no
Mestres poemas publicados jornal
comparável à desses
poética
Lua Nova, conquanto tenha recebido o
não rompeu totalmente com o passado.
segundo Prêmio de Poesia no concurso
recusa explícita a
Mesmo há a
quando
literário Rui de Noronha em 1964, é
certas líricas precedentes,
propostas
conhecida fora de Moçambique.
esta é expressa através de jogos pouco
Leite de
(...) segredos são segredos publicado Craveirinha,
às futuras:
paradigma gerações
62
MONTEIRO, Magdalena Izabel. Poema
63
fornecido pela autora a Rogério Manjate, MANJATE, Rogério. Poema fornecido pelo
que
próprio poeta.
"Quinta
Produtos da da Boa
descritivo da Colônia de
de cabelo', expressão
de arte popular
angolana (imagem de
Tracy Carise, em África:
Acervo BN)
e a Ilha
Rui Knopfli
de Moçambique
Márcia Glenadel
do império português
desmantelamento
longo do tempo,
se anuncia.
A Tempestade, <le Shakespeare; que
A ilha de Próspero
Curiosamente,
Ao tem suscitado duas grandes
de Sena, um
é dedicada a Jorge
no campo da ideologia: seria
questões de língua
ilustre da literatura
exilado
esta cúmplice da empreitada
peça os
tendo como epígrafe
representante do discurso portuguesa,
colonial,
"Em
Creta, com o
versos de
europeu etnocêntrico, ou um exemplo
Sena em
Minotauro", eternizados por
de anticolonialismo? É evidente que "Eu
loca infecta: sou
Peregrinatio ad
está aberto a
este texto shakespeariano
A /
eu mesmo a minha pátria. pátria
ambas e a
possibilidades que
é a língua em que por
de escrevo
é reforçada que
ambigüidade ele gerada
por •
/ nasci. [...]
acaso de gerações
local de onde o leitor lê/fala.
pelo ainda, a
esquecer, que
Não podemos
de enunciação, destarte, é
O lugar
da
shakespeariana que
a escolha do personagem
fundamental para
de Rui Knopfli era
nome ao livro
"ângulo" será
do esta peça
qual o
um exilado e que próprio
também
focalizada.
tornaria um, três anos
Knopfli se
o título do livro de Rui
De início,
de A ilha de
após a publicação
Knopfli, A ilha de Próspero (1972),
Próspero.
causa estranheza. Entretanto, podemos
a ilha representa
Lembramos que
corno um ato de
interpretar tal título
mítico, e é
um espaço primordial que
uma vez os
ironia e subversão, que
um tema recorrente na literatura
de Próspero darão
de A ilha
poemas de Rui Knopfli, a
moçambicana. Alem
"Outros" um
voz aos e mostrarão
Ilha de Moçambique foi decantada por
seja da Ilha
de decadência,
panorama de Lacerda,
outros escritores: Alberto
seja da filosofia
de Moçambique,
Glória de Sant'Anna, Orlando Mendes,
a ilha do Próspero
colonial. Logo,
Virgílio de Lemos, Júlio Carrilho, Luís
é o retrato do
colonizador
Carlos Patraquim e Eduardo White1, cá chegaste,
quando
Nomear a e a luz
pequena grande
"Muipíti"
Parada de mercadores e de em significa ilha, em
ponto (que
infância.
E tu a roubaste de mim. No início and how the less, / That burn by day and
pp. 131 e 134. was mine own kingl [...] (The Tempest, act I,
~
Idem, p. 131. scene 2) Tradução nossa.
.
253
I/IU.I
Sayer, Rennel, Arrowsmit u.a.m. neu entworfen.(Mapa da África, de GUssefeld, F. L. Acervo BN)
em e a condição de subserviência
que, do alto do minarete,
lá do distante Katiavar,
africanos m'siro é um branco,
(o pó
máscara bantos):
pelos povos
A ilha evocada é o lugar
pelo poeta
minha pseudo-oriental
pachacha
Mas retomo devagarinho as tuas
[...]
"subtil
A voz descobre e Resgatando o de intervenção
poética poder
"máscara"
rompe com a a ela imposta. Ensina-o uma velha sabedoria:
[...]
"Muipíti"
Nota-se em através da enquanto dorme o castelão,
que, penetra
emergem.
"A
Em dama e o Percebe-se neste a
jogral" (IP, poema
"auto-ironia"
336) deparamos a do apropriação de uma tradição literária
p.
bordão.
"marginalização"
As sombras salmodiam tristemente conseqüente de tudo
"verdadeiro
alvenaria nome" ser tanto de
pode
Gayatri:
[...] febre
argila as os muros e as
que pedras,
abram o corpo
a árida
Apesar do título,
que
europeu e o se vê é a [...]
português, que
"Outros": sangue impele
valorização dos do [...] o que estas
do colonizador uma
para posição
"outra",
voz em antagônica e encarregada de copiar
posição pessoa
uma apropriação, de
por parte
esgalgada
e as do retábulo simulam
púrpuras
a Europa.
prendei: [...]
No entanto, o se observa é a
profeta. que
"cadinho
0 uso da escribas desperta constituindo o cultural
palavra
Um dia, avoluma
exótico, diferente, escapa ao olhar quando
que
insuportável
comum:
um rosto esperança,
Do silêncio fita-nos
chegamos, enfim.
trifonte
Ilha de Moçambique]
e nós estamos na encruzilhada [ã
Somos os de Diu,
Ilha de Moçambique, pedreiros
imig rados a
para
engenhosos, capazes
a voz coletiva de prestáveis,
Rui Knopfli assumirá
de todo sacrifício, uma mão-de-
"Os 346):
de Diu (IP, P-
pedreiros
obra
[...]
"castigo",
Assumindo si a fala dos Estéfano o seu
para para por
"Outros",
o sujeito admite, da exemplo, ele se apresenta dócil,
poético
"Canção
deles. Afinal, foram esses mestres-de- Assim sendo, na de Ariel"
Moçambique:
paisagem,
"Terra
Próspero obter sua liberdade; moçambicanos os da
para por quanto
reagir. História:
O de semelhança entre o
ponto
"banquete
o dos traidores" e as A voz conclui com uma
poética
"descendentes"
de Caliban. E agora me falta o feitiço
já que
fornecendo-nos algumas A
livros. Os dois encarnam a pistas.
primeiros
Despindo-se da Próspero, o
A Tempestade encerra com um personagem
"discurso
epílogo, o de Próspero".
liberdade a Ariel e Caliban, abjura da most faint. Now't is true / I must be here
durante o exílio com essas palavras: Gentle breath of yours my sails / Must fill, or
algumas se reabram
escrita. 0 conhecimento (e conseqüente que páginas
"0
tem um nome significativo: livro
(1984) [...]
"Senhor".
segundo o autor, A ilha de Próspero: interlocutor: Atente-se a
para
"Cair
Knopfli apresenta-nos o poema
o fim da
poética proclama performance
encantador de ou
(só que pelas
"espetáculo"
Ele encerra seu
palavras).
"sai "Cair
e de cena" ao do pano".
"Cair
Uma análise mais detida de do
encontra-se no capítulo
pano" primeiro
deste trabalho.
Jogos interpretativos à
parte,
entre as celebrizadas de
[...] personagens
pertence,
"discurso
Ainda se utilize do de
que
"retira-se
de cena", a ela retornar
para
A de Cabo Verde:
poesia
um trajeto identitário
(Manuel Veiga)
da nacional2.
reflexões
Nosso sobre o
papel
meio a esse e malgrado
e da Em processo
na expressão da cultura
poesia
somente o
as marcas profundas que
identidade crioulas, destacando alguns
desabrochou no florescimento de
euforia do funaná dançado, dos poemas
"di expressões novas de cultura, mestiças
engajados, dos contos bóka di
1 e Maio, principalmente
Nas ilhas de Santiago
cabo-verdiano. As cores, as canções alegres, o
na primeira, as Tabancas constituem as
Santo Antônio, a 13 de junho, São João búzios são imagens que destacam o cortejo da
reivindicava o uso do
preponderante
Assim, com o contínuo alargamento
crioulo (hoje tomado como bandeira do
da área de do mulato,
jurisdição nacionalismo literário); Leite
Januário
tornou-se significativo o fato de, numa
(1867-1930); e Guilherme Ernesto
civilização de brancos, criada
por Lopes da Silva, 1889-1967).
(Félix
brancos, desabrochar uma cultura
Neste início do caminho literário, a
mestiça, onde brancos, negros e
aproximação do cabo-verdiano de seu
mulatos se realizam mesmas vias.
pelas
°q
MARIANO, Gabriel. Cultura caboverdeana.
- -
Assevero fronte erguida
portuguesa.
me é honra a mais subida
Em sua instabilidade filial, José Que
da e corais, 5)
insistência em seus o topos [Algas p.
poemas
se reparte: na transpátria
pátria que
citados, colaboradores do
lusitana, colonial se exclusiva, Os poetas
que quer
"a de lembranças Luso-
e numa alternativa, terra onde Almanach
pátria
importante cultural
nascemos", toma Ilha Brasileiro (de papel
que (nativa) por
Aqui um topos
Mas somos filhos, nós, de outros pontuamos
interessante do de busca de
percurso
gigantes
"por identidade crioula: o recurso ao mito
mares nunca de antes
Que,
arsinário ou hesperitano como Origem
navegados"
à idéia de As obras
Nossas Ilhas tiraram do mistério (associada pátria).
84.
1935. p. 497.
p.
como: Ilhas do velho Hespério - das Cardoso. A formulação do mito
pai
Lusíadas 7,8,9) como Cabo Verde as Ilhas de Cabo Verde com a Ilha da
(C.V,
"é "Das
mito hesperitano debitário da Verde: vastas extensões assim
"Irmãos
carencial do arquipélago de Cabo Pedro Cardoso lembra aos
"pisamos
Verde", funcionando isso como Caboverdeanos": / talvez
por (...)
revisitado da Claridade.
pela geração
6 ou A Bevista Claridade é
FERREIRA, Manuel. 0 mito hesperitano (1936-1960)
sobretudo da
França, Corsino Fortes, Gabriel verdiano, pela perseguição
cujo se cristaliza na
Mariano e outros. felicidade protótipo
de Pasárgada. Considerado um
O Brasil, recém-independente e com imagem
Lopes). A imagem de
João Lopes refere, no primeiro (Baltasar
mas evasão,
das ilhas, temos as único, propõe-se; pela
que preencher
como transposição de limites:
com ilações tiradas da sempre
lacunas
do folclore, da o criticou
intertexto nos estudos Ovídio Martins (1962). que
e da "evasionista",
língua, das estruturas sociais como rótulo se
que
Bandeira, na memória de
permanece
Ovídio "Anti-
Martins no citado,
poema E há e ameaças
perigos
evasão".
na noite de
grávida punhais
"Não
Com o vou
grito para
Pasárgada", os do Suplemento
poetas Prepara o braço
Caboverdeamadamente
produções.
A Independência Nacional
a de concursos e
Canto propiciará proliferação
complexa de a
Cabo Verde.) possibilidades;
de estéticas e ideologias
pluralidade
é a tônica desse A
Irmanados aos de Angola e poéticas quadro.
em outro "Onde
contexto, sob novos ângulos, a Pasárgada
poético: passava
visando a conjugação de aspectos agora o
passa pássaro da
paz"(Filinto
nacionais e universais. Manuel Delgado Elísio de Aguiar Correia e Silva, 218)
p.
assim define tal
postura:
(Mirabilis, 347)
p.
"Dia
das mães"
(Mito, p. 392)
Acordemos camaradas
Quando eu O existe
quero que
O existe
que
erótico:
o aspecto humano do
essa dança tão africana que privilegia
e os braços apodrecem
Bó é nhá ómi
(...)
desânimo
de todos os dias
da turva humidade
fenecem
Da chuva à anti-chuva, da
os da colonização a um
primórdios
e de toda uma
processos (jovem)
Para lá da ilha
Só existe a
poesia
Salve
poesia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, Manuel No reino de
(org).
em Letras Vernáculas e
povo, 1990. graduação
SILVEIRA, Onésimo.
Caboverdiano do Livro, 1988.
Consciencialização na literatura
DUARTE, Vera. Amanhã arnadrugada.
Piaget, 2005.
Danças negras na
estética nacionalista:
música
para piano
Guilherme Sauerbronn
terras americanas.1
nacional impôs-se os artistas
para
economia cafeeira,
proporcionada pela nacional estava ainda à
elemento pouco
somada à dos ideais
propagação enfiado como um corpo
vontade,
republicanos, criou as condições básicas
estranho numa ópera italiana2.
- a música em torno da semana de 22, São Bartók, Rio de Janeiro: Funarte/Jorge Zahar,
essa se
material popular, para que
de forma "brasileira1
inconsciente e organizada música
de escrever
racional7.
descoberta da espontaneidade da
6 op.cit., 39.
TRAVASSOS, p.
^ da técnica era
A supervalorização
"Turuna
convincentes com a suíte .
desaparecimento contribuiu
precoce
como realizada.
promessa parcialmente
Sua forte
problemas. personalidade
9
Glauco Velasquez (1884-1914) foi compositor
tende ao atonalismo.
RATH QUE
~
Cur-»My** ^
j~
' 7
*• y i 'v*™"
r T
| 11"
fflj f lUjUiIiLUitefrffii''**'*'!
*.|J||-
if IJ lip HI flTO,fe== |
f f
ft
^i,.„
"Sua
espontâneor musicalidade esse amadurecimento da
primeiro
nacional. m ri
^ "ao
divisores de águas entre o nacionalismo Kasadi esclarece: empregarmos o
'Bantu',
termo estamos fazendo referência ao
^ j j. ^ i ,.'-««J
jP.ftrtydij
I ' L"
"
"'' ';¦
rf^ —1h?vr7 ¦4*^jr
¦'I |^'
'
*-^r ^ * '
f- ' r ^.r~,r :-r ?'-t+ T j"* r .
-^¦jrr-'Qz
;< I jV|-1* «~~— * r-iTj~arzZT1¦', r~-
v"' -v
' Canto de
JL ^ «^teik musica
Francisco Mignone
>1
V# ;;. k^/^1^ 7
''
*
:•, «,
^ . /.,-
f ;^a
\,
\s"V t
de dos do nacionalismo
Teremos a oportunidade princípios
muito em voga no
adaptar ao fantasias para piano,
a técnica composicional
jf'
g|1
— *~~ lH
^ ^
f
trazer o Brasil o e as
para progresso
luzes da civilização.
19
Eusebius e Florestan 9ão as duas principais
"personas"
de Schumann, os heterônimos sob
~~~j
j
^3^=-^=-==—
i i i i- i ^ iL—-T^
i^j
¦— ^tempr ~
™"¦¦
o tema retorna,
orquestrais,
A modulação de mi bemol (tom
a partir do compasso
sol maior confere ainda gradualmente
original) para
como se, após uma longa
ouvem 222. É
brilho ao trecho. Já não se
maior
ou sonho fantastico, nosso
viagem
mais a viola caipira e os instrumentos
"Jeca-Tatu" voltasse a si.
a melodia soa agora
de
percussão:
completo do tema se dá
sobre O retorno
orquestral, lembrando a Fantasia
242; ele não é
no compasso porém,
Brasileiro de
o Hino Nacional
o mesmo, mais confiante
mais parece
Gottschalk. Após essa radical
oitavas na mão direita e seus
com suas
do caráter do tema,
transformação
cheios. A reexposição é quase
do acordes
com ele agudo
Levy pelo
passeia
até o compasso 336, no
literal, qual
cobrindo-o de arpejos que
piano,
inicia-se uma coda resgata
que
a estética impressionista.
prenunciam
elementos oriundos do
intermediária ou
Tem início a seção
modulações: mi bemol
uma série de
lá bemol maior, fá
maior, dó menor,
recriar no efeitos
Levy busca piano
CONGADA20 de Francisco
Mignone
"pelas
era um caso causas
problemático
raciais21 e unilateralidade da
pela
facilidade de assimilação de
prodigiosa
colocado em com um
9fl "CONGOS: justaposição
Dança dramática, cortejo real
tema original do compositor, a
que desfila ao som de cantos, originado no
riqueza do ritmo e do colorido
costume africano de entronizar-se o novo rei.
orquestral, tudo isto deixando
O bailado consta de duas o
partes principais:
cortejo real e a embaixada. transparecer uma notável facilidade
(...) (...)
Musicalmente as duas também são e espontaneidade, uma fluidez de
partes
diferentes, sendo que na primeira há maior inspiração será o melhor e o
que
número de cantigas e louvações" (ANDRADE, deste
pior compositor.24
op.cit, 1989, pp.151 e 152).
91
Descendente direto de italianos, seu pai era "Congada"
A reúne dois
para piano
flautista e sua formação foi feita dentro dos
temas contrastantes; o em dó,
primeiro,
moldes daquele país (Cf. NEVES, op.cit,
tem ritmo bem marcado e desenho
p.64).
" "Música cromático no modo lídio:
ANDRADE, Doce Música" in
~
PP *
~~ * ' '
f 11 j~J ] j
jpp^l
1— '
1
1—-—'—¦ 1 1
i—Z
"habanera 25
espécie de em lá bemol
maior:
é a completa ausência de
partitura
caráter da Na
primitivista peça.
agrupado de 3 em 3, um
que, perfaz
.urfi.fD
rítmica
n
completo do tema.
Allegro Pesante (J»76 » 84)
PIANO '
<f
f ^f=
<^-; ^
iji r
i,l
,' , ' P<rrf. simile
do cultura, sabe,
feérico. É interessante observar que, poderemos, quem
folclórica é legítimo.
ü \
y-v
^
r **1
^ ft
U A
<\
\
ISSN 0104-0626