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Resumo: Este presente trabalho, busca analisar o Cemitério São Miguel localizado no
município de Anápolis-Go como um “lugar de memória” partido do conceito apresentando
pelo historiador Frances Pierre Nora, um objeto ou local se constitui por um “lugar de
memória” a partir do momento em que ele e construído ou criado com a finalidade de
preservar ou eternizar a memória, seja ela individual ou coletiva para que a mesma não caia
no esquecimento. Partindo desta premissa os cemitérios secularizados São locais de memória
revestidos por diversas emoções, como por exemplo, afeto, sensibilidade, saudade, dor e
perca. Se transformando em locais de extrema importância para a compreensão da história e
memória e formação do imaginário social de uma determinada localidade. De acordo com
Clarival do Prado Valadares (1972), o cemitério São Miguel e datado oficialmente no ano de
1926 em decorrência da a transferência do antigo cemitério da cidade, no entanto, sua
iconografia e os símbolos presente ali parece guardar duas centenas anos. Se tornando um
local de projeção, construção e reconstrução da memória coletiva local, sendo extrema
importância para a formação do imaginário social, popular e religioso da sociedade
Anapolina.
Palavras chave: lugar de memória, Cemitério São Miguel, Sociedade Anapolina, Memória
coletiva.
Considerações iniciais:
Média, mas que havia ocupado durante a Antigüidade. (ARIÈS, 2003: 77)
Antes mesmo da elação a condição, a vila de Santana das Antas conquista sua
independência política do município de Bonfim (atual Pirenópolis-Go), em 1892 Lopo de
Souza Ramos, irmão de Gomes de Souza Ramos, e eleito o primeiro Intendente (cargo similar
ao de prefeito) da vila. O mesmo encontra-se Sepultado em túmulo de certa forma simples na
quadra 01 na rua principal próximo ao portão de entrada e na sua lapide possui a seguinte
inscrição “aqui jaz a primeira personalidade política de Anápolis eleita pelo seu povo, Lopo
de Souza Ramos filho da senhora Ana das Dores e irmão do fundador Gomes de Souza
Ramos”. (Lapide de Lopo de Souza Ramos, 1945)
Segundo a pesquisadora Haydee Jayme (2011), devido ao desenvolvimento comercial
e ao aumento significativo da população, finalmente na data de 31 de Julho de 1907 a Vila de
Sant’ana foi elevada à condição de cidade - Anápolis. A partir de sua independência do
município de Bom fim em 1907, a jovem cidade Anápolis começa dar os seus primeiros
passos em direção a modernidade e constituição de seu espaço urbano. Segundo uma matéria
do jornal contexto datada de 30 de julho de 2019, com o titulo “Anápolis – 1819-1939, a fé e
o trabalho foram as marcas dos pioneiros da cidade”, mostra que em 1912 já circula pela
região o primeiro imigrante sírio libanês da cidade o caixeiro viajante Charrud Spir,
conhecido como “Joaquim Turco.
Os anos de 1920 foram de extrema importância para formação urbana da cidade de
Anápolis, a partir da eleição de Graciano Antônio da Silva, mais conhecido como o coronel
Sinato “que fez um importante trabalho para trazer a energia elétrica e o telégrafo, e iniciou o
debate e a construção e chegada dos trilhos ao município” (FERREIRA, 2011: 56).
Os primeiros anos de 1930 foram extremamente importantes para formação história e
da memória local, que se deu através do aumento da população por que da chegada da estação
ferroviária na cidade entre os anos de 1931 e 1933, acarretando um enorme fluxo migratório
na região, Segundo Polonial (2007: 10), a maioria desses indivíduos que chegaram a essa
localidade eram de origem sírio-libanesa através da estrada de ferro fixando residência no
município.
No ano de 1943 em Anápolis um fluxo em massa de imigrantes chegando à cidade
isso ocasionou na criação de uma das primeiras colônias sírio-libanesa do estado. ele destaca a
importância desses povos para a formação econômica/comercial, política, histórica cultural e
política da região. Sendo eles responsáveis pela criação das primeiras grandes casas
comerciais da cidade, das primeiras industriais, da primeira igreja católica ortodoxa do estado
de Goiás em 1951 e da primeira mesquita do estado no final década de 1980. Como retrata a
simbologia presente na iconografia e geografia do cemitério São Miguel.
Nas décadas posteriores Anápolis se firma como uma cidade de extrema importância
no estado na questão política elegendo 3 vice governadores, 1 governador e 8 senadores como
inúmeros deputados e federais tanto a nível federal quanto municipal, na questão econômica
com o desenvolvimento das industrias com a criação do distrito agro industrial Daia na
década de 1970, com o aeroporto de cargas e as rodovias estaduais que cortam a cidade, a
cidade se destacou também na sua diversidade religiosa. Todos esses fatores formam uma teia
de significados e símbolos que se interligam com cemitério São Miguel que se interpretados
descrevendo a historia e a memória da cidade de Anápolis.
Considerações finais:
O espaço do cemitério São Miguel estabelece certo vínculo emocional com muitos
moradores do município, principalmente os mais antigos. É importante citarmos que
Anápolis, desde o seu processo de fundação, possui certo laço emocional com as crenças
religiosas, um fato que vai se sustentar numa base fundada no imaginário social que remete à
crença em uma força superior, ou seja, na vida após a morte. Isso explica o laço que as
pessoas possuem com o cemitério São Miguel, pois este se constitui como um espaço de culto
à memória.
Partido desse principio, destaco que as memórias, histórias, estórias e imaginários que
buscam serem eternizados na iconografia dos cemitérios seculares, possuem um intuito que
vai para além da preservação da memória do morto e de sua família, buscando assim retratar e
relacionar a identidade do sepultado com a sociedade em que o mesmo se encontra inserido.
Por fim, ressalto o reconhecimento e a relevância desta para a história de Anápolis,
que se alça no pressuposto de que o cemitério São Miguel é um espaço de construção e
reconstrução da memória coletiva e possui um acervo de arte e história que dialoga
diretamente com as mudanças culturais, econômicas, políticas e religiosas da cidade no
decorrer do tempo.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
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