Você está na página 1de 17

Revista Tur smo & Desenvolvimento | n.

o 29 | 2018 | [ 47 - 63 ]
e-ISSN 2182-1453

Turismo cemiterial - o «porquê» e o «onde»


Cemetery tourism  the why and the where
JOSÉ AUGUSTO MAIA MARQUES * [jmaiamarques@gmail.com]

Resumo | No século 20, a morte foi considerada tabu, assustadora e fora de controlo. Hoje algo mu-

dou. Vemos como atrações turísticas sítios que estão ligados com a morte, como memoriais e museus

de guerra, campos de batalha, campos de prisioneiros, cemitérios.

Em Portugal o Turismo cemiterial começa a atrair pessoas. Cemitérios históricos são classicados como

Património Nacional, os municípios cuidam-nos, dotam-nos com infraestruturas e as visitas guiadas

tornam-se comuns.

O Turismo cemiterial tem sido visto como um ramo do Turismo Negro. Mas as motivações que levam

os visitantes àqueles locais, indicam outra realidade, como procuraremos mostrar.

Palavra-chave | Turismo negro, turismo cemiterial, motivação turística, recurso turístico


Abstract | In the 20th century death was considered taboo, frightening and uncontrolled. Nowadays

something changed. We now look as tourist attractions sites which relate to death, such as war memo-

rials, war museums, battle elds, prison camps, cemeteries.

In Portugal Cemetery Tourism is beginning to attract people. Historic Cemeteries are classied as Na-

tional Heritage, Municipalities take good care of them, endowing them with infrastructures and guided

tours become common.

Cemeterial Tourism has been considered a branch of Black Tourism. But the motivations that bring

visitors to those places point to another reality, as we will try to demonstrate.

Keywords | Dark tourism, cemeterial tourism, tourist motivation, tourist resources

* Licenciado em História, pela Universidade do Porto. Mestre em Antropologia, pela Universidade do Minho. Douto-
rando em Turismo, Universidade de Aveiro.
48 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

1. Introdução embora as reacções à sua criação te-

nham sido muitas, porque o enterro

O cemitério é, sobretudo, visto como um es- fora das igrejas era mal entendido pela

paço de nitude. E nitude de tudo. Por isso generalidade da população, habituada

também há cemitérios de tudo. De comboios, de a ver sepultada forado espaço sagrado

automóveis, de aviões, de outros seres, de hoje e apenas os maiores dos pecadores (a

de ontem, de civilizações passadas, de outras cul- exemplo dos condenados à forca).

turas, de outras religiões, de outras dimensões. E por isso, para este como para outros cemitérios
A questão da construção de cemitérios em Por- (Agramonte, também no Porto, ou Prazeres, em
tugal, nomeadamente no Norte do País, é um caso Lisboa) se encontram soluções de organização do
de estudo interessantíssimo. espaço de modo a torna-los mais agradáveis, o
Tal como lembram João de Pina Cabral e Rui que fez deles um instrumento de desenvolvimento
Graça Feijó (1985), no Portugal dos inícios de no- urbano. É ainda Rio Fernandes quem arma (Fer-
vecentos os mortos eram sepultados dentro das nandes, 1997: 273):
igrejas paroquiais ou em seu redor. Foi a falta
O cemitério [. . . ] foi um importante
de espaço para sepultamentos dentro dos templos
elemento de construção da cidade de
que fez com que se inumasse o mais perto deles,
nais do século XIX e de boa parte do
isto é, ao seu redor, nos adros.
século actual, apoiando a expansão da
Entretanto um pouco por toda a Europa
mancha urbana e servindo de suporte
desenvolvem-se novas ideias que levam a diferen-
a signicativas concentrações de acti-
tes atitudes quer perante a morte ela mesma, quer
vidades (com natural relevo para mar-
perante a questão de saúde pública que ela fre-
moristas e oristas) [. . . ].
quentemente representava e para a qual se via uma

só solução: proibir os enterramentos nas igrejas e Sepultar fora das igrejas signicou por isso uma

transferir os cemitérios paroquiais para fora das nova moldura arquitetónica, geralmente em meio

povoações. urbano, uma nova moldura artística, que corres-

Entre nós estas novas atitudes acompanham pondia à realização do túmulo, uma nova moldura

as novas ideias que nos chegam com as Invasões económica, eram muito elevadas as verbas gastas,

Francesas. mas sobretudo uma nova moldura sociológica 

Mas as circunstâncias não foram lineares. Por uma nova hipótese de armação social.

exemplo no caso do Cemitério do Prado do Re- De facto, não se tratou apenas de uma ques-

pouso, no Porto, sabemos que as transformações tão de higiene e saúde pública, questão prático-

urbanas, mas também as sociais e políticas, que cientíca e político-social da sociedade oitocen-

a cidade sofreu ao longo do século XIX foram de- tista. Se assim fosse, os cemitérios católicos seriam

terminantes. Como o foram também os desapare- em espaços em descampados, muito sóbrios e com

cimentos ou alterações de uso de mosteiros, con- túmulos de arquitetura padronizada tal como ve-

ventos e quintas e a consequente reorganização do mos no caso de algumas irmandades ou em outras

tecido urbano (Almeida, 2007: 123, 124). religiões.

A propósito, o Geógrafo Rio Fernandes escreve Aliada à questão higiénica surge o novo campo

(Fernandes, 1997: 271): de armação social que o cemitério podia repre-

sentar. Anal, a cidade dos vivos tornou-se um

O cemitério, de facto, é outra das al- espelho da cidade dos mortos e permitiu satisfa-

terações que o triunfo liberal introduz zer o velho anseio de o indivíduo mais abastado se
RT &D | n.o 29 | 2018 | 49

monumentalizar distinguindo-se dos outros atra- comercialização e uma ética comercial que (explí-

vés de uma marca perene, de um objeto de consa- cita ou implicitamente) aceitam a visita (intenci-

gração - o seu túmulo - comparando-se assim aos onal ou incidental) como uma oportunidade para

grandes personagens da história. desenvolver um produto turístico.

É justamente esta condição de cidade dos Procurando uma denição concreta do fenó-

mortos, uma das que mais confere ao cemitério meno, Philip Stone (2010), escreve: "Turismo Ne-

grande potencialidade turística. gro é o ato de viajar e visitar atracões que apresen-

tam a morte, real ou recriada, como tema central.

Jack Kugelmass (1994), especialista em ques-

tões judaicas, e a propósito da razão que leva os

2. Turismo Negro judeus, especialmente os norte-americanos, a es-

colher Auschwitz como destino, lembra que estas

O Turismo Cemiterial tem sido visto como visitas têm o seu quê de redenção, sem que se inte-

um ramo, se assim podemos dizer, do chamado ressem pela cultura local, seja ela judaica ou não,

Turismo Negro ou, em inglês, Dark Tourism. sendo que o seu interesse é nos mortos e não nos

Também designado por Tanaturismo, Necrotu- vivos.

rismo, Turismo Mórbido, Turismo Macabro, Tu- Claro que esta visão nos aproxima estas visi-

rismo Sombrio e até Turismo de Dor, consiste nor- tas às peregrinações. Lennon e Foley (2002) são

malmente em visitar lugares associados à morte também de opinião que esta ideia de peregrinação

e/ou ao sofrimento. está associada à morte de indivíduos ou grupos,

Segundo Lennon e Foley (2000), o Turismo Ne- na sua maioria em circunstâncias ligadas à violên-

gro consiste no ato de viajar e de visitar os locais de cia, como os campos de morte de Choeung Ek no

morte, catástrofes e cenários aparentemente ma- Cambodja, Auschwitz - Birkenau na Polónia, Goli

cabros. Citados por Borges (2011), aqueles inves- Otok na Croácia, o Ground Zero em Nova Iorque,

tigadores destacam três pontos principais sobre o Oradour-sur-Glane e a Ponte de Alma, em França,

Turismo Negro, um dos quais é que os elementos a Capela dos Ossos de Évora e até as ruinas de

educativos dos locais são acompanhados por uma Vilarinho da Furna, de enorme potencial turístico.

Figura 1 | A chama da liberdade tornada Memorial da Princesa Diana (Paris). Fonte: Foto do autor
50 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Aliás lembra-nos James Young (1993) que esta locais associados ao turismo negro, nomeadamente

questão não é nova, já que anal locais como as os designados cemitérios históricos, vai à procura

catacumbas de Roma são respeitados pontos tu- da História, do confronto com a memória deste ou

rísticos já há séculos. daquele, da experiência de estar no mesmo local

Segundo Sharpley (2009), as atrações turísti- onde as coisas aconteceram no passado.

cas sombrias também dão resposta a um senti- Nós próprios, que acompanhamos várias des-

mento de luto nacional e de senso de sobrevivência, sas visitas nomeadamente a cemitérios do Porto,

ajudando o visitante a obter um signicado para a inquirimos os visitantes que nos colocaram exata-

sua própria existência social. mente diante destas motivações. Vários estudos

Mas, se o Turismo Negro está em ascensão de visitantes, ainda inéditos, levados a cabo por

e já vai sendo visto por muitos dentro da nor- investigadores, também parecem ir de encontro a

malidade, para alguns ainda causa desconforto já esta ideia.

que muitas pessoas preferem evitar más memórias, O mesmo parece acontecer com alguns estu-

mesmo que se trate da história dos seus parentes, dos publicados, como os de Stephanie Yuil (Yuil,

das suas famílias, das suas cidades e dos seus paí- 2003), Liliane Afonso (Afonso, 2010), Marijana

ses". Bittner (Bittner, 2011), Brigitta Pécsek (Pécsek,

Por seu lado o psicólogo social Benoit Monin 2015) e Courtney Ann Mundt (Mundt, 2016).

(2007), acredita que o Turismo Negro estabelece De todo o modo, valerá certamente reetir so-

uma ligação entre observador e observado, já que, bre esta questão. Aliás o próprio Philip Stone

quando se está num local de tragédia, há a ten- (Stone, 2011) manifestou já há algum tempo a

dência de o visitante ver o mundo com o mesmo necessidade de novos olhares, sob novas perspe-

olhar da vítima. E em alguns locais há de facto tivas, a propósito da investigação sobre Turismo

uma grande preocupação em inserir o turista no Negro.

mesmo ambiente de quem viveu aquele momento. Há, desde os anos 90, bastante literatura sobre

As razões para viajar para uma região atingida a relação do Turismo Negro, enquanto turismo

por uma catástrofe natural ou para visitar um me- da morte, da dor, do sofrimento não só com o

morial às vítimas de um genocídio são tão vari- Turismo Cultural como com outras áreas do Tu-

adas quanto as motivações para férias em geral. rismo. Já em 1996 o International Journal of He-

Numa série de artigos sobre o Turismo Negro a ritage Studies publicava um número especial, co-
blogger e viajante australiana Amanda Kendle ordenado por Malcolm Foley e John Lennon onde

(Kendle, 2008) refere razões tais como o desejo estas questões eram abordadas. Depois, foi uma

de entender como as pessoas sobrevivem a um de- constante de artigos, números especiais e revistas

sastre e a demonstração de simpatia para com o com contribuições dos maiores especialistas sobre

seu sofrimento, uma homenagem àqueles que mor- o assunto.

reram por uma causa justa, e outros menos louvá- Duncan Light (Light, 2017), da Universidade

veis como o interesse na morte e a depravação. de Bournemouth fez muito recentemente uma ex-

No geral, os adeptos deste tipo de turismo, celente resenha de todas estas contribuições, num

procuram novidade, diversão, aventura e novos co- trabalho que voltaremos a citar mais adiante.

nhecimentos. Ser praticante de turismo negro, no Ora Philip Stone (2006;152) desenvolveu uma

entanto, não é obrigatoriamente sinónimo de ve- tipologia de locais turísticos relacionados com

neração da morte e/ou do sofrimento. morte e outros episódios macabros:

Em muitos casos o turista que visita alguns dos


RT &D | n.o 29 | 2018 | 51

Quadro 1 | Uma tipologia de locais turísticos, segundo Philip Stone (Stone, 2006; 152).

Fonte: Elaboração do autor


52 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Figura 2 | Entrada do Campo de Auschwitz-Birkenau Fonte: Foto do autor

3. Turismo cemiterial vila ou até mesmo de uma cidade. É nos cemi-

térios que se repetem os elementos arquitetónicos

A existência desta tipologia turística não cau- e paisagísticos presentes nas cidades e onde se re-

sará estranheza a quem se interessa por estes te- produz, de fato ou de forma idealizada, a ordem

mas. É que, se meditarmos sobre ele, concluiremos socioeconómica dos vivos.

que geralmente o cemitério, a necrópole, a cidade Casos há em que um cemitério se tornou

dos mortos, é a outra face, o outro lado do espelho mesmo um local que transcende em muito um es-

da cidade dos vivos. paço de morte. Foi o que aconteceu com o cemité-

Michel Vovelle (1993) explica que o lugar dos rio de La Recolecta em Buenos Aires. Este bairro

mortos se modicou signicativamente no decor- conhece o seu desenvolvimento desde os ns do

rer dos tempos. No século XIX, os cemitérios as- século XIX, porque o cemitério aí se encontrava

sumem grande importância no imaginário visioná- instalado. La Recolecta é hoje uma das grandes

rio dos arquitetos. É nesse período que surgem os atrações turísticas de Buenos Aires.

grandes projetos dos cemitérios urbanos, como são Na América do Sul, mormente no Brasil, mu-

conhecidos hoje. São do início do século XIX os dam os paradigmas cemiteriais, quiçá impulsiona-

cemitérios centrais de Viena e de Estocolmo, bem dos quer pelos curiosos sincretismos religiosos quer

como os cemitérios do Père Lachaise, de Montmar- pela falta de espaço nas grandes cidades, quer

tre e de Montparnasse, em Paris. Para o autor, os pela mudança de mentalidades e atitudes perante

cemitérios são espaços de repouso privilegiado, sí- a morte. Começam a surgir os chamados cemité-

tios agrestes repletos de monumentos aptos a aco- rios verticais, escorreitos de formas e de decora-

lher todas as homenagens da memória familiar e ções, sem obras de arte ou mausoléus que possam

do respeito cívico. diferenciar pela sumptuosidade a pessoa ali enter-

Michel Ragon (1981), grande estudioso dos ce- rada, onde apenas pequenas placas de mármore

mitérios, adverte que estes podem ser considera- ou de bronze identicam a sepultura. Apesar das

dos a segunda morada, onde o túmulo é a casa e transformações, continuam a receber visitantes e

o cemitério é a projeção de um quarteirão, de uma turistas, prestando algum tipo de homenagem a al-
RT &D | n.o 29 | 2018 | 53

guém, ídolo futebolístico, cinematográco, ou po- jas, onde há igualmente sepulturas. Ou mesmo os

lítico, que esteja ali sepultado. seus adros. E, claro, as Pirâmides do Egito, para

O cemitério é assim, segundo Osman e Ribeiro só falar nesta grande necrópole.

(2007), um ponto turístico consolidado nos mais Por outro lado, se nos lembrarmos que o Con-

diferentes países do mundo. cílio de Rouen em 1231 proibiu, sob pena de ex-

Creio não ser este o momento de abordar em comunhão quem dançasse nos cemitérios (Afonso,

profundidade a questão da fruição turística de es- 2010), e que em 1405 o Papa retoma a proibição

paços sagrados. Em primeiro lugar porque é uma de dançar, interditando também os jogos de to-

discussão que, ao menos para já, precisa ainda de das as espécies, mímicas, teatros, malabarismos,

muita contribuição reexiva. Depois, porque tem músicos, charlatães, etc. (Ariès, 1975), podemos

de ser posta a vários níveis. E por último porque por como hipótese que a sacralidade desses espa-

só essa abordagem justicaria uma tese, ou várias, ços estava. no mínimo, muito atenuada.

não estando ao alcance de um simples artigo que Por outro lado, cemitérios com caraterísticas

apenas pretende recentrar o modo como se classi- próprias, podem merecer o respeito e a admiração

ca esse tipo de turismo. dos visitantes, não atentando em nada a sua sa-

Aliás o simples enfoque da questão é objeto cralidade.

de discussão. É o cemitério um espaço sagrado? Veja-se o caso, por exemplo, do Cemitério Ju-

Não foi ele dessacralizado no séc. XIX? Não foi daico de Praga, um lugar completamente à parte

ele retirado à inuência da Igreja, quer no aspeto da Cidade, onde nos sentimos transportados para

ritual quer no aspeto administrativo? Não foi ele um mundo diferente, como se numa cápsula do

transformado num espaço neutro onde todos têm tempo, e nos seus escassos metros quadrados so-

lugar, independentemente de terem ou não terem mos levados a reetir sobre o caos e a ordem, o an-

religião? tes e o depois, o nito e o innito. Este tornou-se

E se é polémico o Turismo Cemiterial porque um local obrigatório de visita turística, mas, espaço
1
se pisa o solo sagrado do cemitério, teremos que protegido, o bulício não impede que o local seja ha-

deixar de visitar o Panteão Nacional, ou o Mos- bitat de inúmeras espécies animais, colocando-nos

teiro dos Jerónimos, que também é panteão, ou frente a frente a questão da morte regeneradora de

muitos outros locais, incluindo a maioria das Igre- vida.

1 Mesmo o caráter sagrado (com o signicado exclusivo com que é utilizado nestes debates) do cemitério não é uma
constante histórica. Na preparação de uma palestra monográca sobre um cemitério do distrito do Porto que zemos
há semanas consultamos o seu regulamento, elaborado em julho de 1869. Este determina várias coisas. Uma era que o
diretor era responsável por Velar pela ordem e decoro dentro do cemitério proibindo as discussões irritantes, cantigas,
frases indecorosas, brinquedos de crianças, colóquios de namorados e enm todos os atos incompatíveis com a profunda
gravidade e respeito que deve sempre existir em um lugar que é dedicado aos mortos. A outra mostra-nos como pode-
riam ser então aproveitadas algumas potencialidades dos cemitérios. É que se algo se proibia, é porque se fazia. . . Não
permitir dentro do cemitério plantações de arvores frutíferas, hortaliças ou qualquer vegetal que possa servir de alimento,
e bem assim a criação de aves domésticas ou de quaisquer outros animais (ADP, Fundo do Governo Civil).
54 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Figura 3 | A vida por entre a morte. Cemitério de Praga, 2011 Fonte: Foto do autor

Entretanto, os cemitérios foram-se tornando nos existiram. E, por isso, estarmos relacionados

em mais do que locais de veneração. Lennon e Fo- com o cemitério, ou o cemitério relacionado con-

ley notam que: Agora os turistas, mais do que os nosco.

enlutados familiares, são quem visitam e realizam Enquanto os cemitérios europeus já são refe-

deslocações organizadas ao cemitério (2000: 77). rências para o turismo, os cemitérios portugueses

Para alguns, esses cemitérios transformaram-se, começam a aparecer, aos poucos, nos roteiros tu-

como refere van Herk. São . . . Histórias enigmá- rísticos das cidades. É o caso, no Porto, do Cemi-

ticas de padrões sociais, padrões de assentamento,


a a
tério da Irmandade de N . S . da Lapa e dos Ce-

epidemias como a da varíola ou da gripe, morta- mitérios Municipais de Agramonte e Prado do Re-

lidade no parto, tempestades e tragédias climáti- pouso, e que possuem recursos comuns aos gran-

cas, barreiras étnicas. Distinções sociais - classe, des cemitérios europeus referenciais turísticos, ou

dinheiro e família  também são reencenadas na seja, as obras de arte, as personalidades ali sepul-

própria estruturação do cemitério, famílias sepul- tadas, e o usufruto de um espaço sossegado dentro

tadas no mesmo espaço, os importantes nos locais do bulício urbano.

de eleição, vítimas em valas comuns e, no passado, Não é novo o hábito de visitar alguns dos ce-

suicídios e ateus fora da santidade do recinto (van mitérios portuenses. Esta atividade tem até sido

Herk 1998: 54). levada a cabo com alguma constância por algumas

Também estes aspetos representam referências entidades, como a Câmara Municipal do Porto, e

evocativas de um passado que pode, mais ou me- por algumas personalidades como o Prof. Fran-

nos, ter afetado alguém que conhecemos, ou pelo cisco Queirós. Mas, a um nível mais amplo, são

menos termos conhecimento de que esses fenóme- ainda iniciativas algo isoladas.
RT &D | n.o 29 | 2018 | 55

Figura 4 | Cemitério da Lapa (Porto). Visita Guiada por Francisco Queiroz Fonte: Foto do autor

E é deste autor (Queiroz 2002) que respiga- 4. O porquê e o onde


mos a seguinte armação: De facto, o potencial

turístico de um cemitério não se avalia somente Mas anal, o que é que traz turistas aos cemi-
pelo que contém, mas também pela sua localiza- térios. O que é que motiva a sua visita? O que faz
ção, enquadramento urbano, asseio e, sobretudo, com que ele escolha aquele destino em detrimento
pela questão das dissonâncias no seu interior. Os de outro?
cemitérios históricos e monumentais são como ci- Eduardo Rezende (2006), um geógrafo brasi-
dades em miniatura e também possuem os seus leiro que se converteu ao estudo do fenómeno do
centros históricos, frequentemente descaracteriza- Turismo Cemiterial naquele País, escreve: O ce-
dos por obras mais recentes ou pela alteração da mitério é uma fonte de pesquisa geográca (lo-
própria paisagem original. Ao contrário do que se calização e expansão das cidades), histórica (anti-
passa no mundo anglo-saxónico, os cemitérios por- gos hábitos e razões de inumar), sociológica (como
tugueses degradam-se muito pela renovação e não a sociedade lida com a morte e a memória), an-
tanto pelo abandono. tropológica (representações individuais e coletivas
Mas o interesse pela visita aos cemitérios não da morte), linguística (signos verbais), literária
abrandou, ao menos na Área Metropolitana do (escritos sobre as necrópoles, epitáos), artística
Porto. Continuam as visitas, espera-se a saída (escultura funerária, vidros, metais), arquitetónica
das classicações, encara-se a possibilidade de pu- (construções tumulares), arqueológica (antigos tú-
blicar um Roteiro de Turismo Cemiterial da Área mulos), hidrogeológica (águas subterrâneas cemi-
Metropolitana do Porto, e existe até um grupo no teriais) pedológica (os solos dos cemitérios), ge-
Facebook, chamado Saudade Perpétua, que tem nealógica e heráldica (famílias, nomes, brasões),
como dinamizador principal Francisco Queiroz, e demográcas (imigrantes, casamentos), nobiliár-
que muito embora se estenda a tudo o que é Ro- quica (linhagens nobres), e até, acrescentamos, a
mantismo, tem por epicentro os cemitérios. satisfação da natural curiosidade de saber como os

ilustres das gerações anteriores descansam.

De acordo com a escala de necessidades de


56 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Maslow (1970), o turismo pode ser considerado da satisfação da necessidade/desejo.

uma necessidade social quando a pessoa entende Pearce (1987) pensa, por outro lado, que o

que deve viajar para obter determinado status e as- método ideal é partir não das atividades, mas das

sim ser estimada pelo grupo. De outra forma, se necessidades dos turistas para realizar a viagem.

a pessoa busca no turismo a autorrealização como Assim ele constrói, a partir da teoria de Maslow,

atividade que lhe satisfaça e que lhe traga prazer um esquema que diferencia necessidades, que se

ou autodesenvolvimento por intermédio do conhe- convertem em motivações.

cimento de novas culturas, o turismo virá por úl- Como refere Alvarez Sousa (2010), . . . um

timo na escala de necessidades do homem. mesmo recurso ou produto, por exemplo o Ca-

Resultantes destes desejos e necessidades sur- minho de Santiago, para uns pode servir para se

gem as motivações turísticas, que giram em torno descontrair, para outros para se estimular ou não

de lazer, negócios, férias e recreação, saúde, visita se aborrecer, para outros para não se aborrecer,

a parentes, encontros, conferências, etc. para outros para se relacionar com pessoas, para

Temos então que o estudo da motivação pode outros para elevar a sua autoestima fazendo a via-

ser perspetivado em três variáveis: gem à vista de outras pessoas, e para outros para

se satisfazer a si mesmo mediante um processo de


- O ambiente;
elevação para além da vida mundana. E acrescen-

- As forças intrínsecas ao indivíduo, como se- tamos nós, para muitos serve para alcançar várias

jam necessidade, desejo, vontade, interesse, destas situações ao mesmo tempo.

impulso; Parrinelo por seu lado (2005) arma: A im-

portância da motivação no turismo é muito óbvia.

- O objeto que atrai o indivíduo, por ser Atua como um gatilho que despoleta todos os

fonte de satisfação da força interna que o acontecimentos envolvidos na viagem. Por outras

mobiliza. palavras, representa os porquês e os portantos

do viajar em geral e de uma escolha especíca em

Com base nessas três variáveis, pode particular.

conceituar-se a motivação como sendo o processo Conhecer a motivação do turista é, como se

que mobiliza o organismo para a ação, a partir vê, um ato fundamental para uma boa gestão da

de uma relação estabelecida entre o ambiente, a coisa turística, seja ela qual for.

necessidade e o objeto de satisfação. São muitos os trabalhos sobre este tema, que

Quer isto dizer que, na base da motivação, está aparecem aliás muito bem recenseados por Fran-

sempre um organismo que apresenta uma vontade, cisco Dias (2009), que coloca neste aspeto as

um desejo, uma necessidade ou uma predisposição seguintes questões:

para agir. Na motivação está também inserido o

ambiente que estimula o organismo e que oferece


- Por que é que certas pessoas viajam e ou-
o objeto de satisfação.
tras não?
A cadeia da motivação pode então

esquematizar-se deste modo: - Por que é que determinadas pessoas esco-

Ambiente ⇒ Organismo ⇒ Desejo ou Neces- lhem determinados locais de visita?

sidade ⇒ Objeto de Satisfação.


- Quais os aspetos relevantes na escolha de
Portanto, a motivação é um processo que re-
férias?
laciona desejo/necessidade, ambiente e objeto, e

que predispõe o organismo para a ação em busca - Por que é que algumas pessoas preferem
RT &D | n.o 29 | 2018 | 57

férias de tipo itinerante e outras optam por atração turística tanatológica contri-

permanecer num único local? buem para uma melhor compreensão

do tema ao qual uma certa atração tu-


- Quais os fatores determinantes da satisfa-
rística está ligada, bem como a ideia
ção dos turistas?
de que as atrações tanatológicas fa-

zem parte do património cultural ou


- Como valorizar um destino turístico de
histórico.
modo a satisfazer mais adequadamente as

necessidades dos visitantes? E por sua vez Brigitta Pécsek (Pécsek, 2015), num

artigo sobre o Cemitério Nacional de Budapeste

Mas vejamos alguns casos interessantes. Para arma que o seu trabalho permite:

Mill e Morrison (1985), viajar é satisfazer neces-


. . . reposicionar os cemitérios dentro
sidades, sendo esta a grande motivação. Dann
da oferta turística e mostrar o seu valo
(1977) propõe sete categorias de análise: a via-
como produtos de turismo cultural que
gem como uma resposta a um desejo; os fatores
podem enriquecer as experiências dos
push & pull que fazem desejar a viagem, uns, e
visitantes. Cemitérios urbanos como
que afetam a escolha do destino, outros; a ma-
reunião ritual pontos de vida e morte
terialização/satisfação de uma fantasia; o objetivo
tornaram-se parte integrante do tu-
classicado, como por exemplo visitar parentes, ou
rismo da cidade, e vários cemitérios ur-
estudar; a motivação e as experiências dos turis-
banos como o Père Lachaise em Paris
tas; a motivação como denição e signicado; as
têm uma alta taxa de visita. A Litera-
tipologias motivacionais.
tura de turismo contemporânea incor-
A reexão de Ryan (1991: 25-29) sobre mo-
pora os cemitérios principalmente no
tivações de viagens turísticas, mostra-nos vários
turismo negro ou sobrenatural, negli-
porquês: negócios; desejo de escapar do ambi-
genciando o seu rico potencial em ex-
ente quotidiano; procura de relaxamento e des-
periência de cemitérios como produtos
canso; oportunidade de diversão; reforço dos la-
culturais. Este artigo tem uma visão
ços familiares; prestígio e destaque social; convívio
diferente não incluindo o turismo ce-
social; oportunidades educacionais; realização de
miterial no turismo negro, e muito me-
desejos; compras. A estes, acrescentaria eu o da
nos na subcultura gótica. Como cada
necessidade de se por à prova e de se superar, e o
cemitério é a marca da comunidade e
da regressão no tempo quer por fatores meramente
da cultura local e cada cultura tem sua
culturais quer por razões emocionais.
própria maneira de lidar com questões
Nas conclusões do seu trabalho, Marijana Bitt-
de vida e morte, o turismo cemiterial,
ner (Bittner 2011) escreve:
incluindo os rituais fúnebres que lhe

relacionados, representa uma exposi-


Além disso, o estudo mostra em que
ção cultural fascinante para os turis-
medida os temas tanatológicos são
tas, oferecendo atividades baseadas na
considerados uma atração e se são
natureza e na cultura. Portanto, pode
considerados parte do património cul-
ser legitimamente colocado no turismo
tural ou histórico. As respostas re-
cultural e patrimonial.
cebidas usando o método de entrevis-

tas semiestruturadas mostram em que Este quadro, extraído daquele trabalho, ilustra

medida as experiências de visitar uma uma das questões colocadas nas entrevistas e ques-
58 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

tionários, mas é bem importante para o tema em

apreço.

Quadro 2 | Conceitos associados ao Cemitério Nacional

Fonte: Pécsek, 2015: 54-55

O recente e notável trabalho de Duncan Light procura, a gestão dos espaços, e os métodos de in-

(Light, 2017) a que já nos referimos, para além vestigação. Identica áreas em que a investigação

de elencar dezenas e dezenas de trabalhos sobre deve ser aprofundada ou mesmo iniciada.

este tema produzidos ao longo de duas décadas, É um trabalho de extrema utilidade para esta

vai mais longe. Avalia o progresso dessa produ- questão. Entre muitos outros dados, fornece-nos

ção tendo em conta seis eixos de principais de te- um interessante quadro que se reproduz de se-

mas/debates: denições e conceitos, questões éti- guida.

cas, dimensões políticas e ideológicas, natureza da

Quadro 3 | Inuências das áreas disciplinares no desenvolvimento da investigação em turismo negro e tanaturismo 1996/2016

Fonte: Light, 2017: 293


RT &D | n.o 29 | 2018 | 59

Vericamos que os estudos realizados têm es- o turismo negro se diferenciado do

magadoramente uma predominância do Patrimó- turismo de patrimonial. [. . . ]. O

nio, da Experiência, da Autenticidade, da Sociolo- que é importante é que muitos in-

gia e da Antropologia. vestigadores que se concentram no

Mas mais, nas suas conclusões, Light arma, e uso turístico de lugares associados à

faço uma citação longa pela sua importância: morte e ao sofrimento não veem ne-

cessidade de usar os termos turismo


. . . há evidências limitadas de que o
negro ou tanaturismo como estrutu-
turismo negro ou o tanaturismo re-
ras explicativas, preferindo investigar
presentem partes distintas da procura
conceitos como património dissonante
turística. Ambos os conceitos foram
o"património difícil. Se alguma coisa
baseados na suposição de que (al-
ca, após estes esforços para diferen-
guns) turistas tinham um interesse cla-
ciar o turismo negro e o tanaturismo,
ramente denido na morte ou no so-
é uma crescente convergência com o
frimento. No entanto, um corpo exce-
turismo de património (ilustrado pelo
lente de investigação Mais do que se-
crescente uso de termos como 'patri-
rem motivados por um interesse par-
mónio negro' ou 'turismo de patrimó-
ticular em morte e em sofrimento,
nio obscuro'). (Light, 2017: 294)
muitos visitantes querem intencional-

mente viajar (peregrinar) aprender, Embora o objetivo principal do cemitério seja cons-

compreender, ligar-se, evocar. Como tituir o lugar de descanso eterno do falecido e de

tal, as suas motivações e experiências sua memória para os vivos, ele não é desprovido

são difíceis de distinguir daquelas dos de atratividade turística, e não só. Essa atrativi-

turistas tradicionais. Se há turistas dade estende-se aliás por vários temas, de entre os

com um fascínio especíco pela morte, quais:

parecem ser um fenómeno raro. Defuntos célebres - Este tema é talvez o mais

importante de todos, embora esteja mais relacio-


E mais adiante:
nado com os habitantes do que com o próprio

[O turismo negro] foi originalmente cemitério. Muitos turistas, do simples curioso ao

pensado como algo distinto do tu- verdadeiro admirador, vêm visitar os defuntos mais

rismo patrimonial e muitos outros paí- conhecidos. Uma grande razão da visita ao cemi-

ses adotaram subsequentemente essa tério da Lapa (Porto) é o facto de Camilo Castelo

posição. No entanto, duas décadas Branco aí estar sepultado, embora até em jazigo

de investigação não claramente es- que não é seu.

tabeleceram claramente como é que


60 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Figura 5 | Cemitério da Lapa (Porto). Sepultura de Camilo Fonte: Foto do autor

História - A história de um cemitério pode, tam- na atratividade do lugar. Aparecidas durante o

bém, ser motivo de interesse. Um grande número período romântico, as esculturas que adornam as

de espaços funerários tem já vários séculos de exis- sepulturas, algumas de artistas famosos, são de

tência, tendo evoluído através dos tempos para se interesse especial para o turista, permitindo-lhe

tornar no que são hoje. O turista apaixonado pela por vezes a descoberta de peças de arte magní-

História gostará de conhecer os testemunhos do cas num lugar que se crê triste e austero. Sendo a

período em que se construiu o cemitério e as modi- arte funerária eminentemente simbólica, descobrir

cações que sofreu. Este aspeto está intimamente os signicados dessa simbologia é outro dos aspe-

ligado ao seguinte. tos atrativos.

Arquitetura - A arquitetura do cemitério é com- Cultura local e regional  O cemitério espelha


posta tanto por elementos urbanos (ruas, pra- a comunidade em que se insere. Os seus rituais,

ças), como por materiais vegetais (árvores, ores). as suas atitudes perante a morte, a sua estrati-

Estas duas facetas arquitetónicas denem a at- cação social, a sua organização prossional, níveis

mosfera do lugar e, portanto, têm um grande económicos, gostos artísticos, tudo isso se reete

impacto sobre a sua atratividade turística Além nos cemitérios. Por isso, conhecê-lo, é conhecer a

da sua vegetação, a conceção arquitetónica do ce- outra face da comunidade. Parafraseando o título

mitério confere-lhe um carácter próprio, podendo da tese de mestrado de Ana Paula Pegas (Pegas,

transformá-lo num ponto interessante para o tu- 2013), é O visível que não se vê.

rismo onde seja agradável estar e passear, isto Um exemplo de Cemitério com interesse tu-

sobretudo se se situam em zonas urbanas menos rístico, onde vemos tudo isto, é o parisiense Père

providas de espaços verdes. Arte funerária - A Lachaise. Será talvez o mais famoso cemitério do

beleza do cemitério não se limita apenas ao seu mundo, devido à sua localização no centro da ca-

desenho urbano e ao seu ambiente. A arte fune- pital francesa, à beleza dos seus monumentos e ao

rária, isto é, as capelas, as sepulturas e todos os número de pessoas famosas que aí estão sepulta-

seus aspetos decorativos, são peças fundamentais das. Foi fundado em 1804 numa época em que
RT &D | n.o 29 | 2018 | 61

Paris se embelezava. Por isso se transformou em Referências


breve num verdadeiro Museu ao ar livre com obras
Afonso, L. R. G. (2010) Turismo Cemiterial: O cemi-
de famosos artistas como Bartholdi, Bartholomé, tério como espaço de lazer. Monograa. Apresen-

Chapu, valorizado por todo o espaço verde envol- tada ao Curso de Turismo. Belo Horizonte, Uni-

versidade Federal de Minas Gerais. Disponível em


vente. Aí repousam muitas celebridades de todas
http://centrodocumentacao.turismodeportugal.
as épocas, do cantor ao político do pintor ao es-
pt/Nyron/Library/Catalog/winlibsrch.aspx?skey=
critor. Alguns nomes: La Fontaine, Balzac, De- 84999E5E47E54279A0D70F20AE36D50E&cap=&pesq=5&
lacroix, Théodore Géricault, Champollion, Chopin, thes0=10221&doc=26556. Consultada em 12 de janeiro
de 2017.
Molière, Oscar Wilde, Yves Montand, Edith Piaf,

Jim Morrison, Pierre Bourdieu, etc. Tem como Almeida, M. (2007) Morte, Cultura, Memória: Múltiplas
oferta turística visitas guiadas gerais e temáticas Interseções. Uma interpretação acerca dos cemitérios oi-
tocentistas situados nas cidades do Porto e Belo Hori-
 A simbólica e a arte funerária, A natureza e os
zonte. Tese (Doutorado em História)  Faculdade de
jardins, O Père Lachaise contado aos de 20 anos 
Filosoa e Ciências Humanas da Universidade Federal de

sítio na Internet, plano-guia, postais, etc. Recebe Minas Gerais.

mais de dois milhões de visitantes por ano.


Almeida, M. (2016). A cidade e o cemitério: uma expe-
Mas, e num outro plano, o Père Lachaise é riência em educação patrimonial. Revista M  Dossier
também um aprazível parque com árvores frondo- Morte, Poder e Política, vol. 1, no 1. pp. 217-234.

sas, bancos e bebedouros, semeado de esculturas e


Alvarez Sousa, A. (2010). Sociología del turismo. 2a ed.
de monumentos arquitetónicos. É o maior espaço Madrid: Udima.

verde no interior da cidade de Paris. Enquanto


Ariès, P. (1988) O Homem Perante a Morte. Lisboa;
produto turístico, estabelece o equilíbrio entre a
Europa-América.
fruição do local e a sua nalidade primeira  úl-
Bittner, M. (2011) Dark Tourism Evaluation of Visitors
tima morada, sítio de repouso e de veneração dos
Experience after Visiting Thanatological Tourist Attrac-
falecidos.
tions. In Turizam, Volume 15, Issue 4
Sabemos que um cemitério é um espaço cheio
Borges, G. P. (2007). Turismo Negro. Em Co-
de simbolismos  religioso, artístico, antropoló-
municar, Comunicação e Marketing, disponível em
gico. . . Pode ser um instrumento de memória
http://www.comunicar.com.br/downloads/artigo%
poderoso e importante para o conhecimento do 20Turismo_Negro.pdf. Consultado em 18 de novembro
de 2011.
passado. Também pode constituir-se num com-

ponente essencial da história local de uma comu- Cabral, J. P. C. & Feijó, R. G. (1985). Um conito de

nidade. Mas é igualmente, e cada vez mais, o atitudes perante a morte: a questão dos cemitérios no

lugar onde está sepultado este ou aquele cidadão


Portugal contemporâneo in A Morte no Portugal Con-
temporâneo, dir. de Rui G Feijó, Hermínio Martins, João
mais notório, sobre o qual se concita alguma curi-
de Pina Cabral. Lisboa: Querco, pp. 175-208.
osidade, e o local onde podemos admirar esta ou

aquela peça de arte mais signicativa.


Catroga, F. (1999) O céu da memória: cemitério român-
tico e culto cívico dos mortos. Coimbra: Libraria Minerva
Por isso se avança com a proposta que, por
Editora.
uma questão de melhor enfoque no que toca às
Chiavenato, J. J. (1998) A Morte: uma Abordagem Socio-
motivações, o designado Turismo Cemiterial deixe
cultural. São Paulo: Moderna.
de ser considerado como componente do Turismo

Negro, onde a morbidez e o gosto pelo macabro Coutinho, B. (2012)Há morte nas catacumbas? Um estudo
sobre turismo negro. Aveiro: Universidade de Aveiro.
imperam, e passe antes a ser encarado como um
Dissertação de mestrado. Disponível em https://
produto ligado ao Turismo Cultural, já que são ria.ua.pt/bitstream/10773/10167/1/Dissertacao_
desse domínio as suas principais motivações. Belmira_Coutinho.pdfconsultadoa10demaiode2017
62 |RT&D | n.o 29 | 2018 | MARQUES

Dann, G. S. (1981). Tourist motivation - an appraisal. 2017. Disponível em https://www.sciencedirect.

Annals of Tourism Research, 8(2), pp 187219. com/science/article/pii/S0261517717300092. Con-


sultado em 11 de novembro de 2017.
Del Puerto, C. & Baptista, M. L. (2015) Espaço cemite-

rial e Turismo: campo de ambivalência da vida e morte. Marques, C. (2009). Motivações das Viagens Turísticas
Revista Iberoamericana de Turismo- RITUR, Penedo, para Regiões do Interior - O Caso do Douro. Vila Real:
vol. 5, n.1. Disponível em http://www.seer.ufal. UTAD (Dissertação de Doutoramento).

br/index.php/ritur/article/view/1611/1307. Con-
Martins, F. G. (2015). Arquitectura funerária: conceitos e
sultada em 20 de setembro de 2017.
lógicas propositivas no cemitério do século XX. Disser-
tação de Mestrado em Arquitectura. Lisboa: Universi-
Dias, F. (2009). Visão de síntese sobre a problemática da

motivação turística, Percursos & Ideias - No 1 - 2a série,


dade Lusíada. Disponível em http://hdl.handle.net/
pp. 117-140
11067/1360. Consultada em 12 de março de 2018.

Maslow, A. H. (1970). Motivation and personality. 2nd


Diogo, A. (2017) Património Cemiterial: entre a materiali-
edition, Londres, Harper & Row.
dade e o espírito do lugar. Reexão sobre a valorização e

gestão da morte enquanto património artístico, pertença Meyer, L. & Peters, J. (2001). Tourism  A conser-
e memória coletiva. Revista Memoriamedia, 2. Art. 4. vation tool for St. Louis Cemetery No 1. In: Dead
Space Studio, Univ. of Pennsylvania Disponível em:
Eliade, M. (1999) O Sagrado e o Profano. A Essência das
http://cml.upenn.edu/nola/pdfs/Tourism.pdf. Consul-
Religiões. Lisboa: Livros do Brasil
tado em 6 de novembro de 2013).

Fernandes, J. A. R (1997) Prado do Repouso, o primeiro


Mill, R. C. & Morrison, A.M. (1985). The tourism system:
grande cemitério do Porto. O Tripeiro. Porto, 7 a série,
an introductory text. Englewood Clis: Prentice Hall.
Ano XVI, no . 9-10, p. 270-273, Setembro/Outubro de

1997. Monin, B. (2007). Shedding light on dark tourism. The


Pittsburgh Post Gazette, 13 de Abril de 2007. Disponí-
Hamscher, A. N. (2003) Talking Tombstones: History in
vel em http://www.post-gazette.com/life/travel/
the Cemetery. Magazine of History, Volume 17, Issue 2
2007/04/13/Shedding-light-on-dark-tourism/
stories/200704130300. Consultada em 11 de setembro
Hudson, S. (1999). Consumer Behavior Related to Tou-
de 2016.
rism in Consumer Behavior in Travel and Tourism by

Yoel Mansfeld & Abraham Pizam. Londres, Routledge, Monteiro, G. (2016) Sobre Turismo Cemiterial. Elegia,
1999, pp. 7-32. revista semestral da AAFC, No 4, julho 2016

Joly, D. (2010). The Dark Tourist  sightseeing in the Mumford, L. (1970). The Culture of Cities. Orlando, Har-

world's most unlikely holiday destinations. London: Si- court Brace Jovanovich Publishers.

mon & Schuster.


Mundt, C. A. (2016). Motivation and Behaviour in Ce-

Kendle, A. (2008). Dark Tourism: Exploring the Fine Line metery Tourism: A Case Study of Glasnevin Ceme-

Between Curiosity and Exploitation e Grief Tourism: tery, Dublin, Ireland. Thesis submitted to University

Straddling the Boundary Between Sympathy and Snoo- College Dublin for the Master of Science. Disponível

ping em I'm not a ballerina, I'm a traveler and a thinker, em: file:///C:/Users/jmaia/Downloads/Courtney_
disponível em https://www.notaballerina.com/2008/ Mundt_UCD_MSc_Thesis.pdf. Consultada em 15 de ju-
02/web-pirouette-dark-tourism.html. Consultado lho de 2017.

em 11 de setembro de 2016.
Osman, S. A. & Ribeiro, O. C. F. (2007). Arte, histó-

Kugelmass, J. (1994). Why We Go To Poland: Holocaust ria, turismo e lazer nos cemitérios da cidade de São

Tourism as Secular Ritual. In Young, J. (ed.) The Art Paulo.Licere, Belo Horizonte, volume 10, no .1, pp. 1-15,
of Memory: Holocaust Memorials in History. New York abril de 2007. Disponível em:http://www.anima.eefd.
& Munich: Prestel-Verlag. ufrj.br/licere/pdf/licereV10N01_a6.pdf. Consul-
tada em: 7 de março de 2010.
Lennon, J. & Foley, M. (2010). Dark tourism: the attrac-
Parrinello, G. L. (2005). Motivation and anticipation in
tion of death and disaster. London: Cenage Learning.
post-industrial tourism in The Sociology of Tourism:
Light, D. (2017) Progress in dark tourism and thanatou- Theoretical and Empirical Investigations, edited by Yior-
rism research: An uneasy relationship with heritage tou- gos Apostolopoulos, Stella Leivadi & Andrew Yiannakis.

rism. In Tourism Management, Volume 61, August Londres e Nova Iorque: Routledge, pp 75-89.
RT&D | n.o 29 | 2018 | 63

Pearce, P. L. (1987). Psychological Studies Of Tourist Rezende, E. C. M. (2007). Cemitérios. São Paulo: Necró-

Behavior And Experience, Australian Journal of Psycho- polis.

logy, Volume 39, no 2, pp. 173182, Agosto de 1987.


Rodrigues, J. C. (2006) Tabu da Morte. Rio de Janeiro,
Pécsek, B. (2015). City Cemeteries as Cultural Attracti- Editora Fiocruz.
ons: Towards an Understanding of Foreign Visitors' Atti-

Deturope,
tude at the National Graveyard in Budapest. Ryan, C. (1991). Recreational Tourism: A Social Science
7, 1. http://www.deturope.eu/img/
Disponível em Perspective. Londres: Routledge.
upload/content_42123976.pdf. Consultado em 15 de
julho de 2017. Sharpley, R. & STONE, P.R.  eds. (2009) The Darker

Side of Travel: The Theory and Practice of Dark Tou-


Pegas, A. P. C. (2013) O visível que não se vê e o patrimó- rism. Bristol, UK: Channel View Publications.
nio cemiterial: proposta de criação de uma Rota Turís-
tica dos Cemitérios do Porto. Dissertação de Mestrado. Schwartz, V. R. (1999) Spectacular Realities. Early Mass
Porto: Faculdade de Letras. Culture in Fin-de-Siècle Paris. Berkeley; University of
California Press
Queiroz, J. F. F. (1998) Cemitérios Oitocentistas Portu-

gueses - Os Museus da Morte. Revista Museu. Porto,


Sousa, G. V. (2009). Arte e Sociabilidade no Porto Român-
IV série, no . 7.
tico. Porto: CITAR/ Universidade Católica do Porto.

Queiroz, J. F. F. (2002). Os Cemitérios do Porto e a arte


Stone, P. R. (2006). "A Dark Tourism Spectrum: towards
funerária oitocentista no Norte de Portugal. (Tese de
a typology of death and macabre related tourist sites,
Doutoramento). Porto: Faculdade de Letras da Univer-
attractions and exhibitions". TOURISM: An Interdisci-
sidade do Porto.
plinary International Journal 54.2, pp. 145-160.

Queiroz, J. F. F. (2008). Os cemitérios históricos e o seu

Anuário 21 Gramas,
potencial turístico em Portugal, Em Stone, P. R. (2010) The Dark Tourist Experience: Medi-

no 1. http://www.franciscoqueiroz.
Disponível em ating Between Life and Death in Sharpley R. & Stone

com/Cemiterios_historicos_Potencial_Turistico_ Philip. R. (eds) Tourist Experiences: Contemporary Pers-


Portugal_versao_21_gramas. Consultado em 20 de pectives. London: Routledge.

maio de 2016
Stone, P. R. (2011) Dark tourism: towards a new post-
Queiroz, J. F. F. (2009). A escultura nos cemitérios por- disciplinary research agenda. In Journal of Tourism
tugueses (1835-1910): artistas e artíces. In Ferreira- Anthropology, Vol. 1, Nos. 3/4.
Alves, Natália Marinho (Coord.). A Encomenda. O Ar-
tista. A Obra. Porto: CEPESE .pp. 235-247. Vovelle, M.(1993). L'heure du grand passage: chronique
de la mort. Paris: Gallimard.
Queiroz, F. & Rugg, J. (2003). The development of ceme-

teries in Portugal c.1755  c.1870. In: Mortality, vol. 8 The Texture of Memory: Holocaust
Young, J. E. (1993)
(2). Memorials and Meaning. New Haven: Yale University
Press.
Ragon, M. (1981). L'espace de la mort: essai sur
l'architecture, la décoration et l'urbanisme funéraires. Yuill, S. M. (2003) Dark tourism: understanding visitor mo-
Paris: Albin Michel.
tivation at sites of death and disaster. Texas: Texas

Rezende, E. C. M. (2000) Metrópole da Morte Necrópole A&M University, Dissertação de mestrado. Disponível

da Vida Um estudo Geográco do Cemitério de Vila For- em http://repository.tamu.edu/handle/1969.1/89,


mosa. São Paulo: Carthago Editorial, 2000. consultado a 4 de março de 2017.

Rezende, E. C. M. (2006). O Céu aberto na Terra. Uma VV.AA (s/d) O que é o Grupo Saudade Perpétua,

Leitura Dos Cemitérios na Geograa Urbana de São em https://saudadeperpetua.weebly.com/ e https:


Paulo. São Paulo: Necrópolis. //www.facebook.com/saudadeperpetua/

Você também pode gostar