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Jussara Derenji, tem uma relação de longa data com o Soledade. “O Cemitério
da Soledade me emociona. Quantas esperanças e sonhos terminaram ali”,
disse, enquanto combinávamos o melhor dia e horário para a entrevista, que
ocorreu pelo telefone. Entre confissões de ambas as partes, sobre quão à
vontade nos sentimos no sítio histórico, localizado no coração de Belém, nossa
convidada especial externou uma enorme preocupação pelo avançado estado
de degradação do Soledade. Entre saudades e afetos, revelou curiosidades e
afirmou que o local é uma reprodução da própria cena urbana – com
desigualdades e ostentações.
T+M: Para além de nos rememorar de um período de dor e riqueza, o que torna
o Soledade tão único? Qual o estado atual dele?
JD: Nesse período do Soledade, que é o primeiro cemitério católico daqui, ele
vai ter exemplos dos europeus, que se transformaram em cemitérios
monumentais e onde trabalham os grandes artistas do período. São artistas
que não necessariamente trabalhavam com arte funerária, mas que,
naturalmente, faziam túmulos de pessoas importantes da sociedade e que
realizaram verdadeiras obras de arte! É um período de enorme realismo e
temos, no Soledade, alguns exemplos da produção funerária de Gênova e da
região de Nápoles também, que primam pelos detalhes, pelas filigranas. Em
pedra, temos os detalhes das rendas, das flores bordadas, a delicadeza dos
cabelos – tudo é muito bem cuidado e com qualidade artística muito boa.
Muitas delas foram feitas na Europa e algumas, nas marmoarias daqui.
Infelizmente, nós não temos tantas identificações. Essa qualidade do que era
feito já se perdeu bastante, pelo estado em que se encontra o cemitério, que já
foi muito dilapidado e desfigurado...
T+M: Criando uma mão-de-obra local especializada, coisa que talvez não
tivéssemos naquela época.
JD: Não tínhamos e agora temos, pela UFPA, o Curso de Conservação e
Restauro, que está formando novos profissionais, mas ainda não há
profissionais em pedra, matéria-prima de 80% das obras. O mausoléu da
família Chermont, que é belíssimo, além de outros, cujas esculturas foram
trazidas de fora [do país].