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Universidade Federal do Pará

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Estética das Artes Plásticas
Professora: Cybelle Salvador Miranda.
Equipe 4.
Discentes: Camila Araújo de Sousa, Marina Otsuki Guimarães, Noelly Vasconcelos
Santiago, Nathália Fonseca Santa Brígida Arêas, Pablo Ariel da Costa Fernandez,
Ruth Beatriz de Oliveira.

Resenha do capítulo “Imago Urbis” do livro “Paisagens Urbanas”, de Nelson


Brissac Peixoto

Sobre o autor

Mestre em filosofia pela PUC-SP e doutor pela Sorbonne, Nelson Brissac


Peixoto trabalha com questões relativas à arte e ao urbanismo. É professor do curso
de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP.
Publicou A sedução da barbárie, Cenários em ruínas, América, Paisagens urbanas,
Brasmitte e Arte/cidade – intervenções urbanas. Dedica-se também a pesquisas
sobre as dinâmicas territoriais na região sudeste do Brasil e às relações entre arte e
indústria. Foi reconhecido não apenas em obras da sua área, como também em
coletâneas: ​O olhar, O desejo, Ética, Artepensamento, A crise da razão​ e ​Muito
Além Do Espetáculo​.

Sobre a obra

O capítulo “Imago Urbis” se inicia com a seguinte frase “A


contemporaneidade perdeu suas alturas” (pág. 257), esta explica todas as intenções
do texto, que é exatamente mostrar através da análise de diversas obras artísticas,
como a pintura, cinema, literatura, escultura e principalmente através da arquitetura,
o que a contemporaneidade deixou de introduzir na cidade e na vida de quem a
habita, lugares capazes de marcar uma paisagem de evocar presença e a força do
lugar, ou seja, um testemunho cultural, visto que “Perdeu-se a relação entre
construir e morar. Quando se mudam sempre de lugar, criam-se abrigos, não
testemunho cultural” (pág. 257).

A Catedral de Rouen, monumento capaz de inspirar Monet a pintar várias


telas; o cenário veneziano como fundo para o filme Morte em Veneza; os afrescos
pintados por Giotto na Capella degli Scrovegni em Pádua; são os exemplos iniciais
de lugares que marcam uma cidade e paisagem, segundo Brissac. Ao falar sobre a
experiência de estar na Grécia, o autor logo adverte “O lugar não depende de
monumentos. O que lá se apreende é a força do lugar. As colunas que ainda se
erguem aqui e ali nos comovem não por elas próprias, mas como indicativos de uma
paisagem significativa” (pág. 259), ou seja, os gregos na concepção da cidade já
revelavam sua preocupação com a configuração desta, visto que a paisagem por si
só já aparece como templo, diz Butor.

Como transfiguração, Nelson Brissac faz questão de apontar um lugar


passível de ser a catedral contemporânea: o atelier do artista. Ambiente capaz de
fazer com que encontremos “o lugar secreto em nós mesmos” Jean Genet, lugar
passivo de peso e presença causada pela sedimentação de cada objeto, a escultura
então é capaz de tornar como um templo o local que a recebe, e é no atelier que o
evento de ressurreição ocorre. Mas, ainda sim, afirma que o templo pode se
manifestar em todo lugar, a mesquita de Córdoba é mais uma construção citada
para justificar isso, pela memória que esta provoca um momento histórico é
perpetuado, a Capital dos Califas.

Para ver de verdade o lugar é necessário certo esforço de imaginação, diz


Butor, segundo Brissac. Seguindo esse fato imperativo, o autor explica o que o
fotógrafo Eugen Bavcar, mesmo sem enxergar, consegue capturar na mesquita de
Alhambra, orientando-se apenas pelos outros sentidos. Eugen consegue captar em
suas imagens uma certa alma do lugar, “aquilo que não é visível, aquele indizível
que escolhe justamente o templo para se manifestar” (pág. 262), o que significa
para ele é essa evocação que esse monumento emana.

Agora, abarcando a literatura, o autor traz para o texto dois escritores que
descrevem em suas obras as imagens de construções capazes de influenciar na
rotina de todo um vilarejo ou cidade pequena e caracterizar a paisagem destes,
como o batistério de Ruskin e o campanário de Proust. Por conseguinte, como a
visão é a inspiração para a “atmosfera” deste lugar, “a catedral pode se erguer
também em plena metrópole” (p. 263). Para responder um questionamento que dá
origem ao capítulo, “É possível construir catedrais?”, o autor cita o exemplo da
Capela de Rothko, o artista cria uma série de painéis monocromáticos para criar um
dos primeiros ambientes ecumênicos do mundo. Ele converte esses locais de
trânsito (espaços exclusivos da dinâmica urbana moderna) em lugares de
experiência.

Já na metade do capítulo, o cronista dá sequência ao assunto exaltando a


arquitetura como protagonista principal, “A arquitetura é tudo” (pág. 270), sendo esta
capaz de trazer a rearticulação de todas as coisas na cidade pelo contexto e
experiências, opondo-se sensivelmente ao moderno que traz o isolamento ao em
vez de ligação entre as partes. O autor afirma que a arquitetura é tão capaz de
causar presença na paisagem que ela até “confunde-se com as construções
históricas e os monumentos” (pág. 270). A arquitetura vem a ser o lugar que a vida
ocorre, o arquiteto é passível de trazer ao projeto o “invisível”, o que a arquitetura
trás está além das medidas, pois ela pode “Captar o acontecimento antes que ele se
produza, como se o arquiteto pudesse prever o desenvolvimento da vida na casa”
(pág. 271).

Para a cidade, a arquitetura se envolve ao urbanismo. Assim ocorre com a


instalação do Teatro do Mundo de Rossi, com o quarto que hospeda o poeta e o
instiga a criar suas poesias “vinda do chão do prosaico do cotidiano” (pág.275). A
cidade análoga criada na tela de Canaletto, perspectiva de Veneza, que aproxima
os principais monumentos da cidade para compor a tela, mostrando como a
arquitetura reflete no imaginário do pintor e justifica mais uma vez que a ela cabe o
fato urbano e “é nesse sentido que o projeto arquitetônico é diretamente vinculado
ao lugar de inserção, referido a um espaço construído por todos esses elementos,
encarnando a alma da cidade” (pág. 276).

Ao expor e analisar todas as obras de artes contidas no texto percebe-se que


elas apontam para a atmosfera vertiginosa da cidade ou nos obrigam a retroceder e
aprender nelas o que o olhar contemporâneo quase perdeu por completo, pois
“trata-se de construir no construído, de criar lugar sem romper com a paisagem que
se partiu. Um espaço pleno de significado, um lugar carregado de símbolos da
sociabilidade” (pág. 286). Assim, foca na importância de se ter a noção de ​locus,
pois essa vem dar destaque ao espaço indiferenciado, as condições e qualidades
para marcar um fato urbano, logo, “o lugar é delimitado e instaurado pela atividade
simbolizadora do homem” (pág. 287).

Referência:

PEIXOTO, Nelson Brissac. ​Paisagens urbanas​. São Paulo: Senac, 1996.

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