Você está na página 1de 220

A MEMóRIA É UMA INVENÇÃO

a memória é uma invenção


MEMORY IS AN INVENTION
Coorganização Coorganised by

Patrocínio Estratégico do MAM Rio e Patrocínio do projeto Legados vivos


MAM Rio’s Strategic Sponsor and Supporter of the Legados vivos Project

Patrocínio Estratégico Strategic Sponsors

Realização Presented by
Ministério do Turismo apresenta presents

a memória é uma invenção


MEMORY IS AN INVENTION

2022
O Instituto Cultural Vale tem como um de seus objetivos apoiar a diver-
sidade cultural brasileira. Por isso, unimos forças com o Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro, instituição referência em arte e cultura na
América Latina, para juntos valorizarmos o patrimônio imaterial de
nosso país. O resultado dessa parceria concretiza-se no programa Lega-
dos vivos, uma das 68 propostas contempladas pela Chamada Vale 2020.
O projeto busca fomentar reflexões e diálogos sobre os processos
de construção cultural por meio de encontros educativos, da exposição
A memória é uma invenção e da publicação que chega em mãos até vocês.
O processo de trocas e de construção da programação apresentado aqui
reitera o propósito do Instituto Cultural Vale de contribuir para a pro-
dução cultural, movimentar a economia criativa e ampliar espaços para
o pensar e o fazer cultural por meio da Chamada Vale e dos espaços cul-
turais que mantém.
É especialmente significativo que essa união tenha também possibi-
litado o encontro do Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) com o MAM
Rio, que, juntos, construíram uma programação plural, polifônica e gra-
tuita que aproxima seus diversos públicos e busca provocar movimentos
de reflexão sobre as relações entre a educação, o patrimônio imaterial e
os acervos a partir das perspectivas de cada região.
Esperamos que os legados, que aqui celebramos, permaneçam vivos
nos novos diálogos e práticas entre os espaços culturais e nas relações
com os diversos públicos que pensam e fazem arte, cultura e educação
no Maranhão, no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo.

Instituto Cultural Vale


Preservar a memória é fundamental para a formação da identidade cul-
tural da sociedade e a construção do futuro. Com essa visão, o Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro assumiu o compromisso com a sal-
vaguarda de acervos artísticos, documentais, fílmicos e de narrativas e
outras formas de cultura imaterial.
Atualmente, as reservas técnicas do MAM Rio acolhem mais de 16 mil
obras de arte, das quais 7.137 são da coleção própria. A instituição abriga
também outros acervos, como a coleção Gilberto Chateaubriand, com
6.621 obras, e a de Joaquim Paiva, com mais de 2 mil fotografias. Esses
conjuntos trazem um importante panorama histórico da produção ar-
tística brasileira e de suas relações com movimentos e propostas artísti-
cas internacionais. A Cinemateca do MAM guarda mais de 67 mil filmes
e 3 milhões de documentos sobre cinema. O acervo arquivístico de artes
visuais reúne uma massa documental de 117,55 metros lineares, e a biblio-
teca do museu oferece mais de 29 mil itens para consulta. Esses acervos
constituem importantes centros de patrimônio e memória, contribuindo
com as produções curatoriais, acadêmicas, críticas e editoriais.
O edital do Instituto Cultural Vale ofereceu uma oportunidade excep-
cional para pensar sobre acervos e patrimônio. A colaboração institucio-
nal resultou na exposição A memória é uma invenção, no ciclo de conver-
sas Cenas da cultura imaterial e nesta publicação. A relação entre o MAM
Rio, o Museu de Arte Negra/IPEAFRO e o Acervo da Laje, suas obras e as
pessoas responsáveis por eles trouxe trocas e reflexões sobre patrimônios
material e imaterial, sobre os desafios e as complexidades de trabalhar
com acervos e memória.
Os diálogos que passaram a existir durante esses encontros entre as
pessoas envolvidas no ciclo e na exposição marcam um movimento im-
portante para as nossas ações futuras, justamente porque foi possível ela-
borar novas perspectivas. Em consonância com os princípios do MAM Rio,
este livro nos ajuda a desenvolver um museu para ser habitado por dife-
rentes pessoas e diferentes memórias, além de dedicado à conservação e
ao compartilhamento de acervos.

Paulo Albert Weyland Vieira


diretor executivo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
8
Inventando memórias
Pablo Lafuente

14
As muitas gentes em um museu-casa-escola:
cuidar, conviver e resistir no Subúrbio Ferroviário de Salvador
Entrevista com Vilma Santos e
José Eduardo Ferreira Santos, do Acervo da Laje
Luiza Proença

44
Museu de Arte Negra:
um acervo, infinitas possibilidades
Elisa Larkin Nascimento, Julio Ricardo Menezes Silva

74
Um panorama da coleção de artes visuais do MAM Rio:
décadas de 1940 a 1980
Cátia Louredo, Moema de Bacelar Alves

102
Conjuntos universos
Leno Veras
110
Panorama
Tiganá Santana, Jorge Vasconcellos, Sabrina Moura, Judite Primo,
Marcelo Campos, Denilson Lopes, Ceiça Ferreira, Maria Thaís,
Carolina Pedreira, Naine Terena e Benedito Dielcio Moreira, Casé Angatu,
Carlos Henrique de Lima, María Berríos,
Francisco Huichaqueo, Gabi Ngcobo, Elvira Espejo

152
Sobre a invenção da memória e a materialidade
das coisas para o sujeito contemporâneo e popular
Gabriel Gutierrez

156
Sobre os autores

161
Textos em inglês
Texts in English

190
Artistas na exposição
Artists in the Exhibition

192
Lista de trabalhos na exposição
List of Works in the Exhibition
Inventando memórias1

PABLO LAFUENTE
As molduras continuam penduradas nas paredes. Mas elas não contêm
nada, todas as telas sumiram. As esculturas também: as bases ainda es-
tão lá, mas não há nada em cima delas. Se não fosse pelas molduras e
bases vazias, poderíamos imaginar um extenso espaço habitável, talvez
em uso. Mas os suportes vazios remetem à perda, ao que estava lá e não
está mais. É como se o espaço, a arquitetura e o mobiliário fossem um 9
dispositivo complexo para uma operação que foi descontinuada, por-
que aquilo que justificava a construção sumiu, se perdeu, foi levado para
outro lugar.
1 Este texto foi
Essa imagem, uma das fotografias tomadas no interior do Hermitage
construído a partir
de cinco imagens
em São Petersburgo durante a Segunda Guerra Mundial, quando as obras
guardadas na memória, foram retiradas das salas de exposição na iminência da chegada das tro-
e que só correspondem
pas do Terceiro Reich, registra uma perda temporária, um ato de ocultar
em parte às imagens
originais, sejam
que se manifesta como ato de preservação. O acesso às obras que vieram
fotografias, pinturas a fazer parte de uma memória coletiva oficial, herdada pelo Estado so-
ou situações. Não
viético da família imperial, precisou ser interrompido para garantir que
se trata, aqui, de
realizar comparações
essas obras estivessem disponíveis no futuro, para outros.
entre memória e Se a origem dos acervos museológicos é, como escreve Krzysztof
fatos, mas de explorar
Pomian, um ato de sacrifício,2 o deslocamento das obras do Hermitage
as possibilidades
de reconstruir o
às reservas ou aos trens que as levaram longe da linha de frente foi, na-
passado. Por essa quela ocasião, um sacrifício talvez menor, temporário, compensado por
razão as imagens não um ato de memória. Na história do museu, viraram lenda as visitas que
são reproduzidas
acompanhando o texto.
um dos guias oferecia aos soldados soviéticos, relatando com tanto deta-
2 Krzysztof Pomian, lhe cada uma das telas que antes ocupavam as molduras, que conseguia
Des Saintes Reliques à invocar sua presença na imaginação dos participantes da visita. Em seus
l’art moderne. Venise-
Chicago, XIIIe-XXe siècle,
relatos, a memória atuava como garantia de permanência do patrimônio
Paris: Gallimard, 2003. que não estava mais presente.
Uma segunda imagem mostra outro espaço interno, ainda mais amplo
que o primeiro, sem paredes que o atravessem. Se a imagem inicial regis-
trava ausência com relativa serenidade, aqui tudo é desolação: estruturas,
aparentemente de metal, quebradas e entortadas, misturadas com outros
resíduos que cobrem o piso; esquadrilhas fora de lugar e fragmentos de
teto suspendidos, ameaçando cair. Sem bases, sem molduras, sem lumi-
nárias. Sem obras de arte.
Dessa vez, tal ausência não é o resultado de uma decisão, de uma ten-
tativa de procurar resguardo. A ausência de arte nessa imagem é o resul-
tado de sua aniquilação, causada por um incêndio fortuito que afetou o
MAM Rio em 1978 e destruiu aproximadamente a metade do milhar de
obras que constituíam seu acervo naquele momento, danificando mui-
tas das restantes.
Um acervo com a ambição de representar a arte moderna, abraçando
uma visão importada do Norte e ampliada por meio de trocas com os vi-
zinhos do Sul, virou assim um conjunto de obras remanescentes de um
processo truncado, que precisou ser reinventado a partir dos anos 1980,
quatro décadas depois da fundação do museu. A arte moderna europeia
e dos Estados Unidos, não mais apoiada pela diplomacia da Guerra Fria
10 e indisponível para aquisição, precisava sair do foco para permitir que ele
fosse tomado por outras perspectivas, outras alianças, outros processos
de construção, agora de caráter nacional.
Sempre incorporando mudanças, porque, como parece ser consubs-
tancial aos museus de arte moderna, o processo de crescimento dos seus
acervos não tem fim. A produção de arte moderna eventualmente acaba,
mas os museus de arte moderna continuam acompanhando, às vezes
contribuindo, os múltiplos fins da modernidade e as diversas manifes-
tações do contemporâneo. Como todo processo de memória, estão con-
denados a atuar sempre desde um presente em movimento, obrigados a
acumular lembranças e, com elas, revisar suas narrativas. Até o momento
em que algumas memórias precisam ser abandonadas para dar lugar a
novas memórias.

Dessa vez, uma cena: uma visita às reservas técnicas de um museu com
acervos indígenas coincide com uma visita de rezadores guarani, con-
vidados a examinar peças originárias de seu povo que fazem parte
desse acervo. Os visitantes reconhecem e informam: a cruz de madeira,
guardada em posição horizontal nas gavetas da reserva, “esquenta”, é
necessário que seja mantida erguida, na vertical. Mas o espaço da reserva
não permite. Propõem também: poderiam cantar para diminuir, ao me-
nos temporariamente, a temperatura da cruz. Mas as regras do museu não
deixam. Eles regressam à sua aldeia, e a cruz permanece no museu, na ga-
veta, em posição horizontal.
As ausências aqui são múltiplas – de objetos, de práticas, de pessoas,
de saberes, de entendimentos. E são, como na imagem anterior, tam-
bém o resultado de um processo de aniquilação, aqui de maior escala, e
de longo prazo. As práticas somem porque os modos de vida são elimi-
nados à força, mas alguns dos objetos que faziam parte dessas práticas
encontram um caminho até o museu, dissociados delas, convertidos
em repositórios simbólicos de cosmovisões que se recusam a virar me-
ras memórias.
O museu aqui funciona como museu dos outros: um museu que cria
uma imagem de algo que não somos e, com a ajuda dessa imagem, sugere
por contraste uma imagem de nós mesmos, por meio de objetos que per-
tenciam a outros, e que são em parte testemunhas do processo violento,
de “sacrifício”, que os levou ao museu. Ao mesmo tempo, esse museu­­
‑repositório não autorizado abre a possibilidade de uma retomada: às ve-
zes os objetos podem ajudar a reiniciar práticas, funcionando como um
auxílio de memória coletiva e individual; como ferramentas de recons-
trução; e como armas simbólicas de luta pelo território. 11

A tela mostra alguns objetos espalhados na grama, entre as árvores, e vá-


rios homens interagindo casualmente com eles. Uma escrivaninha, um
vaso ornamental, uma tela sem moldura, uma cadeira, um colar de pé-
rolas e uma capa de pele branca – todos eles objetos de uso e contempla-
ção, sinalizadores de status, e resultado, parece, de mais um sacrifício:
os homens não aparentam ser os donos. Eles parecem, como sugere o
título da obra (Perusal of Ill-begotten Treasures, ou Exame de tesouros de
origem ilícita, 2003, de Lukas Duwenhögger), ter subtraído os objetos de
seus donos “legítimos”, e agora estão avaliando as mercadorias. Mas os
objetos não aparentam desconforto nas mãos dos homens: nem a capa
que cobre o corpo de um deles, nem as pérolas que são acariciadas pela
mão de outro, ou o vaso e a pintura que agora descansam, um apoiado no
outro, ao ar livre, na paisagem.
Podemos imaginar que o apartamento burguês de onde foram sub-
traídos os objetos tem agora uma aparência similar ao Hermitage da pri-
meira imagem. Mas, dessa vez, os objetos não estão na reserva, retirados
da circulação e das relações com o mundo. Ao contrário: é como se esse
local temporário, um lugar onde se criam novas relações de desejo, de
apreciação, de intercâmbio e de custódia, apresentasse um modelo alter-
nativo de museu, talvez mais cândido em relação às transações e aos des-
locamentos que aconteceram, e acontecem, nos processos de construção
de patrimônio e memória coletiva.

A última imagem retorna ao interior de um prédio, muito menor que


os espaços que encontramos no começo. Não está vazio, pelo contrário.
Há objetos por toda parte: pendurados no teto, ocupando quase cada
centímetro das paredes, sobre as mesas, embaixo delas. Esculturas de
madeira, carros e caminhões de metal, conchas, fotos, pinturas, placas,
máscaras, de diversas cores, materiais e tamanhos. Difícil se movimentar
pelo espaço sem que alguma parte do corpo entre em contato com um
objeto ou superfície, e resulta literalmente impossível ganhar distância
para observar uma ou outra obra. A impressão é de estar imerso em um
contínuo, mas um contínuo diferenciado, onde cada coisa encontra seu
lugar junto às outras. Mais que um lugar de sacrifício, parece ser um re-
fúgio onde objetos que foram resgatados coabitam na intimidade com
12 aqueles que os cuidam e os que os visitam.
Cento e dezoito desses objetos e imagens se deslocaram do Acervo da
Laje, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, até o MAM Rio para a exposi-
ção A memória é uma invenção, de 4 de setembro de 2021 a 6 de fevereiro
de 2022. Junto com outras 97 obras do Museu de Arte Negra e 71 obras
incorporadas ao acervo do MAM Rio durante suas primeiras três décadas,
antes do incêndio, os trabalhos foram extraídos de seu lugar de acolhida
e expostos no Rio de Janeiro com o intuito de fazer parte de uma exposi-
ção que, entre outras coisas, é um exercício especulativo de construção
de memória por meio de patrimônio artístico.
Ao articular, dentro do mesmo espaço expositivo, três acervos de tra-
jetórias, redes, dinâmicas e entendimentos de arte diferentes, imagina-
mos que seria possível compreender mais sobre os processos que nos
habilitam a construir coleções que aspiram a ser representativas. Sempre
cientes das exclusões, violências e negações que são constitutivas desses
processos, o que nos obriga a desenvolver estratégias e cuidados que es-
peramos nos façam trabalhar de outros jeitos. Porque ausências de longo
prazo não se resolvem com simples gestos de inclusão.
A exposição é só uma parte. Cenas da cultura imaterial, o ciclo de
conversas desenvolvidas com o Centro Cultural Vale Maranhão sobre
expressões culturais tradicionais, populares e ancestrais, atesta a com-
plexidade da tarefa. Quando patrimônio se refere a práticas de vida, os
processos de preservação institucional não podem esquecer de questio-
nar se sua intervenção é resgate, salvaguarda, apropriação – ou tudo isso
ao mesmo tempo.
Livro, exposição e ciclo fazem parte do projeto Legados vivos, apoiado
pelo Instituto Cultural Vale, que, na tentativa de pensar desde o museu
a relação entre acervo, patrimônio, memória e território, inaugura um
processo no MAM Rio de invenção coletiva de caminhos a partir do que
outros fizeram, e do que pensamos que podemos fazer hoje.

13
As muitas gentes em um
museu-casa-escola:
Cuidar, conviver e resistir
no Subúrbio Ferroviário
de Salvador
Entrevista com Vilma Santos e
José Eduardo Ferreira Santos, do Acervo da Laje1

LUIZA PROENÇA
Uma linha férrea de cerca de 13,5 quilômetros e dez estações se estende
por uma das costas de kirimurê – o “grande mar interior” dos Tupinambá
que os invasores europeus renomearam de Baía de Todos-os-Santos e
onde estabeleceram o primeiro porto do Brasil para a exportação de to-
neladas de açúcar produzidas pelo trabalho escravo de milhares de pes-
soas negras-africanas que desembarcaram por ali. Construída a partir 15
de 1860 para escoar produtos do interior do continente ao porto de Sal-
vador, a ferrovia à beira-mar atravessa cerca de 22 bairros – de Calçada,
na península de Itapagipe (em tupi, “no rio da laje”), a Paripe (“curral de
peixe”), ao sul da baía de Aratu (“barulho da queda”) –, formando a região
conhecida como Subúrbio Ferroviário de Salvador. Foi a presença do
trem que marcou radicalmente a paisagem local e adensou sua popula-
ção, composta em grande parte de operários das fábricas erguidas pos-
teriormente, sendo a mais antiga e conhecida delas a Fábrica de Tecidos
São Braz, de 1875.
A São Braz foi desativada a partir de 1960 e hoje suas instalações es-
tão abandonadas. O trem, após 160 anos de funcionamento, está sendo
substituído por um monotrilho. Mas antes de ser estigmatizada como
uma ruína do capitalismo industrial – periférica, pobre e violenta –, essa
região de vastos recursos naturais foi palco de outras histórias com arcos
temporais mais complexos. Algumas delas repetem as narrativas sobre
apossar, saber, renomear, mandar, atirar, perfurar, extrair e esgotar, como
é o caso da invasão holandesa pela praia de Escada, em 1639, ou da desco-
berta do primeiro poço de petróleo do Brasil, em Lobato, em 1939. Outras
são histórias de resistência, como a Batalha de Pirajá, decisiva na guerra
1 Conversa realizada
por plataforma online
pela Independência da Bahia, em 1823, e o Quilombo do Urubu, liderado
em julho de 2021. por Zeferina, nas matas do Parque São Bartolomeu, por volta de 1826.
São principalmente as histórias de resistência que são rememoradas
pelo Acervo da Laje, o museu-casa-escola criado por José Eduardo Fer-
reira Santos e Vilma Santos, em 2011, atualmente ocupando as duas casas2
onde eles e a família vivem em Plataforma, um dos bairros do Subúrbio
Ferroviário. Mas não são exatamente as macro-histórias do território que
mais interessam os criadores do Acervo da Laje. Munidos de curiosidade
e atenção, José Eduardo e Vilma perambulam a região a pé coletando com
as próprias mãos coisas ou coisinhas diversas na orla das praias, ao redor
dos trilhos do trem, nos bares, na casa de moradores e, muitas vezes, no
lixo. São conchas, sementes, plantas, tijolos, azulejos, pedras, livros, fo-
tografias, pinturas, esculturas, cartas, discos e outros materiais resultan-
tes de uma variedade de agenciamentos humanos, animais, ambientais,
industriais, entre outros, em momentos distintos. Reunidos nas casas de
José Eduardo e Vilma, onde podem ser tocados por quaisquer visitantes,
esses materiais reformulam as próprias noções de “acervo” ou de “museu”
na direção de uma instituição que possa acolher a menor das criações –
micro-histórias elaboradas por artistas “invisíveis” e muitas vezes “inusita-
dos”: operários, donas de casa, pedreiros, vendedoras de acarajé, moluscos,
árvores, o mar, entidades, entre outros autores identificáveis ou anônimos.
Essas micro-histórias são formas variadas e engenhosas de perceber, nar-
rar e fazer mundos nas redondezas. Juntas geram um mosaico cacofônico
16 que se expressa revestindo as paredes do Acervo da Laje. O conjunto ativa
um outro tipo de patrimônio, “imaterial”, correspondente às relações e às
vidas das pessoas e seres que as produziram e que moldam uns aos outros.
Pelo Acervo, o Subúrbio Ferroviário deixa de ser um lugar sem passado
nem futuro, tal como é narrado pelas manchetes de jornal, para trans-
formar-se em um terreno no qual múltiplas artes de viver coexistem e “a 2 O Acervo da Laje
gente” – resultante dessa pluralidade de (a)gentes – se fortalece. teve início na casa

Peço licença para entrar nessas casas e ouvir as histórias que elas têm onde José Eduardo
morava com sua
para contar por meio de seus fundadores, que sempre se expressam com família, e é onde se
largos e cativantes sorrisos no rosto. encontra a maior
parte da coleção. Ela
é chamada de “Casa 1”,
ou “casa mãe”, uma
vez que em 2015 uma
segunda casa foi
construída: a “Casa 2”
Luiza Proença Poderiam contar a história de vocês e a relação com o Su- ou “casa mar”. Hoje,
búrbio Ferroviário de Salvador, antes da criação do Acervo da Laje? José Eduardo e Vilma
residem juntos na
Casa 2, que é também
José Eduardo Ferreira Santos Eu nasci no Subúrbio Ferroviário, mais es- espaço museológico
pecificamente próximo ao Parque de São Bartolomeu, em Novos Alaga- e de atividades

dos, que era área de palafitas. Meu pai mudou para o Subúrbio aos 6 anos, educacionais,
enquanto vislumbram
depois que meus avós faleceram com uma doença que teve no cafezal em a construção de uma
Santo Antônio de Jesus, onde eles moravam. Meu pai trabalhou numa terceira casa.
roça e depois conseguiu emprego na Fábrica São Braz. Ele também ven-
dia banana e eu andava com ele por todo o Subúrbio. Nessas andanças já
prestávamos muita atenção no lixo, pois jogavam muita coisa bonita fora.
O apelido do meu pai era Cabeça e todo mundo o conhecia.
Minha mãe veio de Cruz das Almas e trabalhava numa casa de famí-
lia em Campo Grande. Já casados, meus pais construíram a casa na rua
Nova Esperança, em 1974, que é a casa onde eu nasci e que deu origem
ao Acervo da Laje. Meus pais sempre torceram por tudo que fazíamos.
Levavam todo mundo para andar no Parque São Bartolomeu, na praia,
pela ferrovia… Toda essa vivência foi muito forte para mim.
Quando criança, eu li um livrinho sobre cinema e queria ser cineasta.
Eu sonhava muito. A televisão era o único meio que tínhamos de comu-
nicação. Assistíamos uns nas casas dos outros e ficávamos na laje apon-
tando para a pista da suburbana dizendo que ali era São Paulo, aonde
iríamos quando crescêssemos. O mundo todo da gente era aqui.
A presença comunitária foi muito importante para mim. Todos cui-
davam de todos. Eu tinha contato com moradores mais velhos, que me
mandavam fazer de tudo para não ficar com tempo ocioso, desde pegar
folhas medicinais até carregar água, por exemplo. Eu era muito inquieto
e as pessoas temiam que eu mexesse com o tráfico.
Quando tinha 13 anos, me pagaram um curso de datilografia e, mais
tarde, fui datilografar a dissertação de Vera Lazzarotto, uma carioca 17
que havia se mudado para Salvador para ensinar o método Paulo Freire.
Junto com seu esposo, o missionário italiano Antônio Lazzarotto, ela
criou a primeira escola em Novos Alagados, em 1977, e fundou a Socie-
dade Primeiro de Maio, um núcleo organizador de luta muito impor-
tante na região. Quando terminei de datilografar a dissertação de Vera,
ela me deixou um agradecimento por escrito, e aquilo foi uma bomba
pra mim. Percebi algumas coisas que queria e não queria pra minha vida:
não queria trabalhar quarenta horas, não queria morrer e queria escrever.
Quando o casal viajava para a Itália, eu tomava conta da casa deles e era
um assombro. Lá eu datilografava poemas de Drummond, Manuel Ban-
deira, ouvia discos de MPB e folheava os livros de arte, o que me fez me
deslocar para o centro da cidade para ver coisas.
Trabalhei como porteiro, guarda mirim, até fazer pedagogia e dar aula.
Fui professor de crianças, adolescentes e adultos por muitos anos e em vá-
rios lugares… já tenho trinetos de alunos! Voltei para a universidade para
tratar da violência na região, pois muitos amigos meus foram assassinados.
Na defesa do meu doutorado, sobre a repercussão de homicídios entre jo-
vens, o Gey Espinheira sugeriu que eu estudasse a beleza do Subúrbio. Foi
o fotógrafo italiano Marco Illuminati que me ajudou a ver as cores, as luzes
e os artistas que eu nunca tinha percebido em contraste com a violência
do território. Juntos organizamos a exposição sobre a arte invisível dos
trabalhadores da periferia de Salvador. Daí surge o Acervo da Laje, para
mostrar que a gente não nasceu favela, periferia, pobreza. Nascemos algo
mais do que foi condicionado por fatores econômicos, do crescimento de-
sordenado da cidade e do abandono pelos poderes públicos. Para mostrar
isso, precisamos criar um campo simbólico baseado na leitura e na arte.

Vilma Santos Eu nasci e cresci aqui, mas só fui conhecer mesmo o Subúrbio
quando eu completei 9 anos. Até essa idade eu vivi dentro de casa, onde
fui alfabetizada. Nasci com um problema nos ossos, febre reumática. Sorte
que meu pai era marinheiro e eu tive acesso a bons médicos. Não conheci
minha avó paterna, mas dizem que eu era muito parecida com ela, até nesse
problema dos ossos, que eram atrofiados e eu não podia andar. Ela ensinou
meu pai a escrever o nome dele e ler algumas coisas. Ele conseguiu o em-
prego na Marinha e viajou o mundo todo. Minha mãe é a quarta esposa dele.
Minha mãe era caçula, não foi alfabetizada. Quando o pai dela morreu,
a família ficou sem condições de vida e os três irmãos mais velhos foram
trabalhar na roça e fazer fumo com minha avó para juntar dinheiro. Mi-
nha mãe fugiu de Feira de Santana para Salvador, onde morou em casas de
mulheres solteiras e trabalhou em pensões; já minha avó paterna trabalhou
vendendo cocada de tabuleiro. Minha mãe sempre foi muito tímida, nunca
contava as histórias da vida para a gente. Ficávamos perguntando. Ela era
18 ama de leite e trabalhava na Ribeira passando roupa. Minha mãe cuidava de
todo mundo. Quando ela saía de casa, ela me deixava no berço onde eu dor-
mia, com mingau e tudo mais que eu precisava perto. Eu observava todos
os movimentos dos meus irmãos e primos, que vieram morar perto, mas
eu ficava dentro de casa, pois não podia me locomover. Meus sete primos
me carregavam para onde eles iam, pois tinham que tomar conta de mim.
Com 9 anos eu já andava um pouquinho e pude ir para a escola. Aí en-
tendi que eu poderia conhecer muitas coisas. Mas eu não podia brincar
com as crianças, as professoras tinham medo de eu me machucar. Sempre
fui uma menina frágil e protegida.
Meu pai levava dois ou três anos para nos visitar. Quando ele chegava
do mar, todo vestido de branco, as oito crianças tinham que estar arru-
madas, todos bonitos, para bater continência. Era uma coisa muito rígida.
E ele não sabia o nome de ninguém! A gente não tinha televisão nem ener-
gia, até meu pai conseguir uma casa melhor. A vizinhança amava meu pai,
mas quando ele ia embora, nos viam como bastardos, porque minha mãe
era mulher solteira criando filhos sozinha. Mas ela sempre foi guerreira e
todos os meus irmãos a ajudavam.
Com o tempo, fui criando independência para andar sem meus irmãos.
Depois fui trabalhar em casa de família, achei que iria seguir minha mãe.
Meu primeiro emprego foi tomar conta de criança, pelas manhãs. Com o
salário eu pagava o curso vespertino de datilografia, que era um requisito
para achar trabalho em Plataforma. De noite, eu estudava, pois, por conta
da minha idade, era o único horário em que as escolas me aceitavam.
Conheci o Eduardo no magistério, que a gente cursava no segundo
grau, para se tornar professor de primeira a quarta série. Passei a dar au-
las pela manhã, estagiar de tarde e estudar de noite. No final de semana
eu arrumava casa de rapaz solteiro aqui na região.
Eu sonhava em ser professora. Meu pai queria que estudássemos so-
mente até o segundo grau e depois ficássemos em casa para atender aos
maridos. Mas fui além desse pensamento. Fui mais ousada. E fiz revolu-
ção dentro de casa, pois minhas irmãs mais novas me seguiram. Minha
mãe nunca me contou nada, eu aprendi tudo na rua. Ela nunca me levou
a lugar nenhum. Dentro de casa ela fazia tudo, mas nunca se sentava com
a gente para dialogar.
Mais tarde, entrei na pastoral da criança e passei a cuidar do desenvol-
vimento das crianças: da barriga da mãe até 5 anos. O que eu faço desde
sempre é cuidar das pessoas e considero isso uma troca, pois fui muito
cuidada pela comunidade. Reencontrei Eduardo por causa da Igreja Ca-
tólica e estamos juntos desde 2010. Um dia ele me perguntou: “Ô Vilma,
você quer comigo caminhar, fazer umas pesquisas?”, e eu respondi: “Eu
posso alguns dias durante a semana”. E aí fomos formando o Acervo que
era na casa onde o Eduardo morava.
19
Luiza Vocês se referem muito à beleza do Subúrbio. Me parece que “be-
leza” para vocês é correspondente à potência da vida ou a histórias de
vida singulares. Achei curioso mencionarem a passagem da datilografia
na trajetória de vocês, pois trata-se de uma técnica de escrever de forma
rápida e objetiva, muitas vezes algo que está sendo ditado. Vocês dois dei-
xaram de transcrever histórias já contadas para contar as suas próprias e
ajudar os outros a contarem a deles.

José Eduardo Sim, desenvolver uma autoria. Nós não queríamos repetir
as vidas vividas. Queríamos ter autoria da vida da gente, ter um olhar di-
ferente para as coisas. Já conhecemos a violência, então quem vai cuidar
da outra parte? Quem vai olhar com certo afeto, amorosidade, para nós?
Queremos dar esperança através de outras histórias, fazer as pessoas se
inquietarem e não deixar que elas vivam uma vida que não querem viver.

Luiza Vocês também falam muito de invisibilidades e esquecimento.


O que nos deixa cegos e nos faz esquecer histórias?

José Eduardo Eu repetiria a pergunta de Caetano: “Quem lê tanta notí-


cia?”. Nosso olhar não foi educado para a beleza. Já na infância come-
çamos a ouvir “não” para nossos deslumbramentos e passamos a ver
somente o que as pessoas indicam. Passamos da autonomia para a he-
teronomia do olhar, onde sempre alguém dita o que ver, o que é certo etc.
Mas poderia responder de várias outras maneiras. Penso naquele
conto do Jorge Luis Borges, “Funes, o memorioso”, no qual o persona-
gem tem que esquecer algumas coisas para lembrar. Mas ele não esquece,
então ele morre!
Também diria que não olhamos o chão onde a gente pisa. Que precisa-
mos atentar mais para as coisas ao redor.
Mais especificamente em relação à arte, no Brasil há muita ruptura,
no sentido de não pegar na mão do outro de geração em geração. Per-
cebo também um desinteresse pelas pessoas que fazem arte. A arte é vista
como um substrato. Acho que falta uma educação para a arte.
Penso muito em quando a dona Lina [Bo Bardi] veio para a Bahia para
organizar o Museu de Arte Moderna e trouxe arte popular. Ela entendeu
alguma coisa disso, assim como o Mario de Andrade. Temos que reme-
morar essas cabeças que antecederam a gente, que pensaram a arte, que
quebraram divisões fazendo movimentos de valorizar tanto o artista
que se considera artesão como o que se considera conceitual e deixar es-
paço para todo mundo. Como fazer isso conviver é um problema. Por isso
estou doido para entender o que vai acontecer no MAM do Rio de Janeiro.
Lá tinha o Oiticica dialogando com a Mangueira, com os Parangolés...
20 Essas aproximações arriscadas são importantes. Temos que friccionar
sempre para criar diálogo, o que não pode é afastar totalmente e gerar
guetos. Porque se gerar guetos, a arte fica estranha para a população e
aí temos a volta do reacionarismo de uma forma assustadora, como tem
sido mais frequente hoje em dia.
Então acho genial a provocação “quem puder ter uma obra de arte, te-
nha”. Quando fizemos a exposição Águas suburbanas [em 2012] com mi-
lhares de conchas, as pessoas levavam as conchas embora. Até nos per-
guntamos se deveríamos fazer cartões-postais com foto de concha!

Vilma Foi igual ao OcupaLajes [2016], no qual ocupamos as lajes das pes-
soas com várias atividades artísticas. Na segunda edição percebemos que
tínhamos que deixar alguma memória dentro de cada laje. E aí levamos
uma obra de um artista do Subúrbio como um presente do Acervo da Laje
para aquela casa. O que vão fazer com aquilo não sabemos, mas as pessoas
passaram a ter uma obra!

José Eduardo Isso. Quando éramos crianças, tinha aqui um pintor, Esdras,
que vendia quadro debaixo do braço. Era um quadro totalmente despro-
porcional, retratava uma casa pequena e um homem grande que jamais
iria caber na casa. Esdras nunca foi invisível para a gente, assim como os
artistas das obras que ficavam nos bares. Cada bar tinha uma escultura,
seja uma carranca ou uma obra de Paciência. Isso nos provocava. Acho
que visibilidade é isso. A obra remete a alguma coisa, ao processo de al-
guém. E quem é esse alguém? Essa pergunta surge da materialidade, não
pelo contrário. A materialidade atiça um conhecimento a posteriori. Por
exemplo, recebemos um Exu de uma família do bairro de Pituba, mas só
foi um dia desses, folheando o livro A mão afro-brasileira [org. Emanoel
Araujo, 1988], que descobrimos que ele foi feito por Tamba [Cândido
Santos Xavier], artista lá de Cachoeira. Catálogo também é importante!
E o olhar das outras pessoas é muito bonito. Chegou outro dia um se-
nhor que faz carreto e viu um monte de livros jogados fora e resolveu tra-
zer para o Acervo. Eram livros muito antigos, do início do século 20. Aí
limpamos, arrumamos, faz um momento de escuta etc.
Muito em breve vai ter um surto de esquecimento da arte popular.
O Mercado Modelo vai ser completamente gourmetizado e não vai mais
ter espaço para arte popular lá. Estão vendendo as esculturas de santos,
orixás e outras bem características do Nordeste a preço de banana e nós
estamos comprando tudo!
A aquisição de obras é um fluxo natural para nós, porque um dia va-
mos ver o resultado disso tudo. Estamos criando um mosaico cujas peças
vão ser juntadas. Ainda não sei como. Penso que é um mosaico assusta-
dor. Apostamos na materialidade da memória porque não tinha museu
no Subúrbio e as pessoas não costumam ir aos museus. Ninguém nunca 21
pensou curadoria para o pedreiro. Ninguém nunca fez curadoria para
quem serve café nos museus. Aí aqui fizemos o “cantinho do pensamento”
para fazer licor, porque o Edinho, que sai com a gente para fazer o carreto,
gosta dessas cachaças de folha podre. Aí os mais velhos, quando vêm aqui,
encontram milome, jatobá… encontram cachaças que só quem tem mais
de 50 anos reconhece. São processos de reativação.

Luiza E há os pedreiros que são artistas também.

José Eduardo Isso. Achamos no lixo uma Iemanjá de 2 metros de altura,


de PVC. Quando fomos buscar, correndo debaixo de chuva, os pedrei-
ros que estavam trabalhando aqui na reforma se apaixonaram por ela.
E foram eles que restauraram a Iemanjá e subiram ela até o último an-
dar, como um ritual. Lá em cima, ela foi iluminada para todo mundo ver.
Os pescadores a veem do meio do mar.
Estamos falando de um período da história do Brasil que é retró-
grado, conservador, preconceituoso religiosamente e a arte tem esse
lugar de constituição de afeto. Essa é a pergunta que me tenho feito
muito esses dias: quem faz curadoria para essa galera? Será que che-
gamos perto do afeto dessas pessoas, do desejo delas, de entender que
existe uma arte ali?
Luiza Vocês mencionaram antes a exposição de conchas. Na região do
Subúrbio também existe um dos registros arqueológicos mais antigos
do Brasil: o sambaqui da Pedra Oca, em Periperi, composto de conchas,
pedras e ossos. Ele revela a estreita relação de grupos humanos com o
mar e a atividade de pesca e coleta. Vocês caminham muito pelas praias
do Subúrbio, catando conchas que integram o Acervo e contando histó-
rias da vida marinha. Existe uma quantidade fantástica de seres habili-
dosos no mar, que poderíamos chamar de artistas. A concha é a casa do
molusco, com potencial, talvez, de ser um dos menores museus. Podem
contar mais dessas conchas e sobre as várias formas como vocês coletam
coisas para o Acervo?

Vilma Na nossa infância e adolescência andávamos muito pelas praias,


porque aqui tem muitas marisqueiras e pescadores. Eu mesma maris-
cava quando não tínhamos dinheiro para comprar comida. Os pais de
Eduardo levavam ele para fazer isso. No meu caso eram as vizinhas que
me mostravam os bichinhos. E nossas árvores de Natal não eram só
com bolinhas, não! A gente decorava com cascas de mariscos, pedras...
Eu amava aquelas pedrinhas diferentes.

José Eduardo É que aqui tem muita pedra. O mar é muito fértil, há uma
22 variedade de mariscos muito grande, então se fazia muito artesanato
com marisco.
Quando começamos o Acervo, pensamos em ter todas as sementes,
conchas, pedras que compunham o território. Quando andávamos pela
linha do trem, no meio das pedras de ferro apareciam umas bonitas,
do nada.
Teve muitos naufrágios nas praias daqui, então aparecia porcelana,
azulejo antigo, muita concha bonita. A gente até pegava concha que vi-
nha da África. Nos contaram – isso tem que confirmar – que quando esses
navios gigantescos vêm de outros países, algumas conchas vêm grudadas
neles e se desprendem aqui na costa, onde a água está mais quente.

Vilma Aí a maré vai enchendo e trazendo as conchas para cá. O mar ofe-
rece muita coisa bonita para a gente apreciar.

José Eduardo O Federico Calabrese e a Ana Carolina Bierrenbach [arqui-


tetos] deram essa ideia de coletarmos azulejos quebrados e outras coisas
para revestirmos os espaços externos e internos da Casa 2, formando um
mosaico dessas histórias soterradas que cartografamos ao caminhar.

Vilma De segunda a sexta trabalhávamos e no fim de semana nosso la-


zer era andar.
José Eduardo Descobríamos muita coisa: azulejo antigo, placa de mármore,
umas grades do século 19. Estas não trouxemos, ficamos com medo!

Vilma Não trouxemos porque era pesado! E não sabíamos se iam deixar a
gente trazer no barco ou no ônibus.

José Eduardo Muita coisa é jogada fora. Com meu pai e Vilma percorri todas
as praias do Subúrbio, coletando coisas em potinhos. Muitos visitantes do
Acervo ficam emocionados ao ver a materialidade das conchas, pois mui-
tas não existem mais. Aqui tinha até ostra que dava pérola antigamente. As
pessoas mais velhas contam que elas iam mariscar e encontravam as pérolas.
Aí elas batizavam cada pérola com um pouquinho de sal, porque senão ela
sumia (risos). Crescemos no meio disso. Me contaram que no Rio de Janeiro
não tem concha. Fiquei até assustado, como pode? Aqui todo mundo tinha
concha na cabeceira da cama, concha de peguari no muro da casa etc.
Depois começamos a andar e a encontrar ladrilho hidráulico, azulejos...
E as pessoas nos ajudam. Uma vez encontramos um cemitério de telhas
antigas na Fábrica São Braz. Eram umas telhas fabricadas na olaria dos ir-
mãos alemães Ludolf em Jerônimo de Mesquita [que chegou a ser a maior
empresa na fabricação de cerâmicas do Brasil]. Como nunca estudaram
nosso território arqueologicamente, essas coisas ficam aparecendo sem-
pre. Aqui também teve muito rio tamponado que transborda quando chove, 23
trazendo coisas que a gente nem imagina.
Uma das últimas cenas que eu lembro antes da pandemia era eu e Vilma
na praia da Ribeira, num dia de chuva, Vilma com vestido e guarda-chuva
todo colorido, e só nós dois na praia catando concha.

Vilma Chovia muito! Nesse ano e meio de pandemia sentimos muita falta
de andar não só pela atividade física, mas na alma também.

José Eduardo Por outro lado, agora estamos saindo de carro com Edinho
e coisas inacreditáveis estão acontecendo. Por exemplo, encontramos um
oratório surreal de Oxóssi jogado no lixo. Achamos também uma cabeça
de São Francisco em madeira, da década de 1980, bem grande, na porta de
um bar. Eu pirei! Não quiseram dar pra gente porque protegia o bar, tudo
bem. Mas isso mostra que o olhar continua aguçado.

Vilma Mesmo dentro do carro, estamos ali, querendo se coçar!

José Eduardo Parece que as coisas se jogam para a gente. Educamos nosso
olhar de tal forma que podemos estar na praia que for que aparece alguma
coisa dizendo “olha eu aqui!”. E às vezes a Vilma diz: “Hoje não! Hoje não
estamos trabalhando!” (gargalhadas).
Vilma E agora estamos sentindo falta da linha do trem, pois fecharam tudo.

José Eduardo A linha do trem acabou agora e vai ter um monotrilho. Já


demoliram a primeira estação, a do Lobato, e está sendo um momento
muito duro para a memória. Enquanto fazemos a história, ela nos faz
também, ela atravessa. Vai ter um veículo moderno, mas aquele aspecto
do trem, da memória de andar no trilho, de pegar as pedras... isso já foi.
Veja como é rápido.

Vilma Já até taparam a vista com tapume para ninguém ver o que está
acontecendo. Nem andamos mais ali com medo do que pode acontecer
atrás de um tapume.

José Eduardo É um processo de gentrificação subjetiva. Tira de nós


aquilo que era mais prosaico, que era o andar, descobrir as coisas e ver as
coisas, se fazer conhecido e conhecer.

Luiza As atividades industriais e a ferrovia fazem parte da memória sim-


bólica dos moradores do Subúrbio. Ao mesmo tempo, impactaram forte-
mente o ambiente. Vocês mesmos relatam que já não encontram mais as
pérolas, cavalos-marinhos ou estrelas-do-mar abundantes durante suas
24 infâncias. Isso é uma contradição?

José Eduardo Ninguém nunca nos fez essa questão. Em 1975, a Compa-
nhia Química do Recôncavo despejou mercúrio, que é altamente tóxico,
aqui no mar.3 Se você está comendo marisco, por exemplo, pode ter pro-
blemas relacionados à mobilidade quando ficar mais velho. Aí você vê o
nível de invisibilidade, pois as pessoas que moram aqui não importam
para a cidade. Você entende como a desigualdade atua perversamente.
Por exemplo, a praia que fica na frente da fábrica São Braz tem o apelido
de “alvejado” porque depois que os tecidos eram tingidos despejavam a
água com tinta no mar. Imagina quanta vida foi extinta por causa dessas
ações. É como a Chadler, antiga fábrica de chocolate, ou a Souza Cruz, de
cigarro. Muitas pessoas tiveram problemas respiratórios já na barriga da
mãe. Você andava na Cidade Baixa e ficava desnorteado com a fumaça 3 O fato foi capa
do jornal Tribuna
de fumo e de chocolate. Afetava a sensibilidade, tudo! Se você pensar na da Bahia, ano VI,
insalubridade dos ônibus, ou qualquer outra coisa, estamos lidando com Salvador, de 7 de

a desproporção da desigualdade social no Brasil. E olha que aqui recla- maio de 1975, e pode
ser encontrado no
mamos, gritamos, a mídia sabe etc., mas é tipo um véu que é colocado livro de Alex Ferraz,
sobre os bairros periféricos para que essas questões não venham à tona Tribuna da Bahia:

nessa profundidade. quando a notícia


conta a história, 1 ed.,
Salvador: Integro,
Vilma E estávamos brigando pelos nomes das estações, né? 2010, p. 41.
Luiza Faz sentido a região ser identificada com outro nome, deixar de ser
“subúrbio ferroviário”, uma vez que o trem está desativado?

José Eduardo É uma questão simbólica que remete ao aumento da vio-


lência. Vou te contar a síntese desses processos de apagamento. Achei
um quadro perto do sambaqui da Pedra Oca, que é uma foto antiga de
um menino. Sobre a foto, riscaram o rosto dele violentamente. Esse é o
retrato do que vai acontecer no Subúrbio. É muito forte. É a foto de uma
criança riscada! Quer dizer, é o futuro sendo apagado no presente. É o
devir, o que deveria ser e crescer, sendo apagado no presente, para ele
não existir. Quando vi esse quadro, eu arrepiei. Você tem a possibilidade
de se desenvolver, no entanto, o Estado não ouve, joga coisas de cima de
forma autoritária e sem discutir os projetos. Querem até mudar o nome
do Subúrbio para “área norte de Salvador”.
Da mesma maneira que tiram o trem, vão vender esse Subúrbio. Por
exemplo, vão implementar condomínios e tentar privatizar o Parque
São Bartolomeu, único lugar em Salvador que tem cachoeiras. O que vai
acontecer remete à pergunta de Gey Espinheira que gerou o Acervo da
Laje. Um morador disse para ele: “Aqui é terra cara para gente barata”.
E Gey provocou: “Se é terra cara para gente barata, essa gente barata pro-
duziu o quê?”. O Acervo da Laje é então esse assombro que diz: “Aqui!”.
Essa gente barata produziu tudo o que está no Acervo. 25
Muitas pessoas de Santo Amaro vieram morar aqui no Subúrbio e tem
uns com a cara do Caetano [Veloso]. Essa gente barata produziu Caetano
e Bethânia, pô! Essa gente que é considerada gente barata é um Gonzagui-
nha, um Macalé, não sei quem. Enquanto os poderes pensam a gente en-
quanto gente barata, essa gente, que não é barata, quer assombrar as coisas.

Luiza E qual é a importância das mulheres e do cuidado no Acervo? O que


elas têm a ver com a curadoria de si e do mundo?

Vilma Respeito muito as mães dos meus alunos. Elas sempre se perguntam
o que faço aqui, se eu trabalho, se eu moro... Elas têm que confiar em mim,
pois cuido dos filhos delas. Logo percebi que precisávamos nos aproximar
dessas mulheres, para elas entenderem e também cuidarem do Acervo.
Por exemplo, tem mães com outras religiões, então explicamos que há
santos, há orixás aqui. Pois as crianças, depois que vêm aqui, começam a
perguntar coisas em suas casas. O que fazemos aqui, a mãe também tem
que fazer em sua própria casa. Não é só deixar aqui.
Fizemos também oficinas para mães, para elas produzirem suas pró-
prias artes e ensinarem a comunidade. Tem mulheres que acham que
não são artistas e que só devem cuidar da casa, do marido, da roupa. É a
mesma coisa que meu pai tinha comigo.
José Eduardo Foi muito difícil achar artistas mulheres. Na exposição do
MAM Rio vai ter a Mila Souza e a Daniele Rodrigues, que são duas fotógra-
fas que não se consideram artistas. Imagina! O homem ainda consegue se
impor como artista, a mulher na periferia muitas vezes não. Como pode?!
Tanto que no MAM vão outras, como Ivana Magalhães, que tem que bata-
lhar muito para ela tomar posse de autoria, de pensar fases da carreira, de
imaginar uma trajetória, de revelar sua poética...

Vilma E nossa equipe tem mais mulher do que homem. Toda vez que te-
mos algo para produzir, damos um jeito de trabalhar com mulheres da
comunidade. Elas têm alguma coisa guardada dentro delas, querem fazer
e aprender. No OcupaLajes foram dez mulheres que trabalharam comigo
na produção. Não eram artistas, mas queriam sair de casa, aprender al-
guma coisa com os artistas. Tinham vontade de fazer algo, mas nunca
tiveram a oportunidade.

José Eduardo Aqui tem chegado muita coisa de um armarinho antigo,


são bilhões de botões, linhas, agulhas. E aí vamos distribuindo com o
Fabrício Cumming para as pessoas. Entendemos que não somos acumu-
ladores. A energia chega e a energia vai. Chegou um material e aquilo não
é para nós, então vai pro mundo! O Acervo não tem a intenção de reter
26 tudo só com a gente. Até então nada foi emprestado para lugar nenhum
porque não tínhamos a mínima catalogação. A ideia é com cada edital
que ganharmos ir catalogando mais coisa para que as pessoas tenham
acesso e que mais peças possam viajar.

Luiza Seria um ideal de futuro que cada casa fosse uma espécie de micro-
-Acervo da Laje, uma unidade de produção e preservação de arte e da me-
mória, de modo que a existência do Acervo da Laje não fosse necessária?

José Eduardo Me pergunto sempre o que seria democratizar a arte e os


espaços. O que significa possibilitar acessos, formar público? E quem vai
manter depois de nós? Lidamos com a questão da impermanência. En-
tendo que simplesmente com a comunicação da ideia, de fazer chegar em
quem puder chegar, essa ideia vai reverberar. Como dizia Deoscóredes M.
dos Santos, o alapini Mestre Didi: “O que tem de ser traz força”. Isto está
no prefácio do livro de Diógenes Rebouças Filho falando do pai Agenor.4
O Acervo já cumpriu uma função, gerou muito diálogo, muito encontro.
4 Deoscóredes M.
Essa função da comunicabilidade não pode ser inviabilizada. Você nos dos Santos, “O que
conheceu no calor da Bienal lá em 2013 [31ª Bienal de São Paulo, Como tem de ser traz força”,

falar de coisas que não existem], quando éramos só um casal que tinha uma em Diógenes
Rebouças Filho, Pai
casa com obras de arte. Não tínhamos noção de nada! E quando acei- Agenor, Salvador:
tamos participar da Bienal, pensamos: “Ó, alguma coisa vai acontecer e Corrupio, 1998, p. 6-7.
vamos precisar de maturidade para lidar com processos de curadoria, de
produção, de crítica, de todo esse circuito. Vamos ser uma expressão do
que devemos ser, mas sem tomar o lugar de ninguém, e agregar”. Fizemos
coisas que você não imagina.

Vilma Não atropelamos ninguém e conquistamos o espaço da gente.

José Eduardo O sonho é que esse seja um lugar de diálogo daqui pro mundo.
Se eu pudesse gritar antes de morrer, o que eu pediria é que isso fosse efeti-
vado. Eu não suporto mais a violência. Eu não aguento mais jovem sendo
assassinado. Essa é a frase que eu digo desde que me conheço por gente.
Eu quero que esses equipamentos culturais cheguem aonde o Estado não
chega. Que tenham casas abertas, que possibilitem encontros. Estamos
nas artes visuais, mas pode ser qualquer caminho desde que se tenha um.
É um gesto de força política, no sentido orgânico do termo, de nos mo-
mentos de maior ruptura e crise estarmos jogando e apostando. A arte e o
Acervo deram muita força para nós. Muita gente não pirou por conta do
Acervo, e nós não piramos porque muita gente não pirou e cuidou de nós
quando a gente mesmo estava pirado (gargalhadas)! Claro que falamos do
âmbito da arte, mas socialmente o impacto que queremos tem a ver com o
processo de transformação que esses meninos e meninas fazem aqui. Foi
a primeira vez deles em muitas coisas: em um museu ou numa casa-museu, 27
para tocar numa obra, para que haja um processo irreversível do encon-
tro com algo que seja excedente. A desigualdade brasileira privou muitas
pessoas da experiência de dizer “vi uma coisa bonita, me comoveu”. E isso
retroage para a ideia de “curadoria de si”. Eu vou me cuidar para que eu
possa usufruir cada vez mais de algo que me faça pensar e que mobilize.
Estamos prontos para ir a outros lugares e quanto mais gente eu puder
levar para onde quer que a gente vá, vou levar. O que estamos fazendo é
oferecer para as pessoas aquilo que recebemos. Essa curadoria de si é
para isso. É um desejo grande de que isso chegue nas pessoas.
Estamos já falando num nível muito profundo do que seria a ideia do
Acervo da Laje, com uma perspectiva a longo prazo dentro das periferias,
que é de cuidar de uma certa saúde mental nossa para que tenhamos uma
mínima orientação para o futuro. Coisas vão frutificar, vai ter possibili-
dade de escolha de profissão, vai ter encontros internacionais e intergera-
cionais. Isso vai fazer com que, por exemplo, jovens que estão vivendo um
certo hedonismo hoje por conta da pandemia não precisem se matar nem
ser mortos. A arte aciona um campo simbólico. Os outros museus estão
aos poucos tendo esse olhar para essas artes que estavam fora de seus
eixos, como vocês fizeram na Bienal, pensando coisas que não vemos e
que precisam ser vistas. Aí penso na Maré, na Fundação Casa Grande, em
iniciativas tantas que dão um respiro. Coragem!
28

Zilda Paim
Sem título
Untitled
1985
Bida
O Brasil dá canção,
miscigenação
Brazil Gives Song,
Miscegenation
2008
Autor não identificado
Unidentified author
Sem título
Untitled
sem data
undated
José Eduardo Ferreira
Tinhorão
Heart of Jesus
(Caladium)
sem data
undated

Prentice
Sem título
Untitled
sem data
undated

Reinaldo Eckenberger
Sem título
Untitled
sem data
undated
Adilson Baiano Paciência
Caboclo
sem data
undated

35
Ivana Magalhães
Coleção Traço Colorido
Coloured Line
Collection
2018

Ivana Magalhães
Coleção Traço Colorido
Coloured Line
Collection
2018

Ivana Magalhães
Coleção Ancestrais
Ancestors Collection
2018
Ivana Magalhães
Coleção Ancestrais
Ancestors Collection
2018
38
39
[pp. 38–41]
Mila Souza
Obras sem título
Untitled works
sem data
undated
41
42

Daniele Rodrigues
Sem título
Untitled
sem data
undated
Museu de Arte Negra:
Um acervo,
infinitas possibilidades

ELISA LARKIN NASCIMENTO


E JULIO RICARDO MENEZES SILVA
Eis aqui o chão ancestral
Debaixo dos meus pés seu coração pulsa
O vibrante tantâneo subterrâneo
Trepida a matriz da terra negra
Grávida de tanta lágrima
Tanta vida
Tanta esperança
Meus passos ecoam ao resgate da esperança
Pelo caminho antecedente (nem largo nem estreito)
Soturno ruído de correntes
À luz de Orum incandescente
Olho oculto das sementes
Olho sábio de Orumila
Em minha semente coetânea...
Abdias Nascimento, 1983

1 Abdias Nascimento, O Museu de Arte Negra (MAN) está vivo, em movimento! Trazido à luz
O negro revoltado, em 1950 pelo Teatro Experimental do Negro (TEN), na então capital fe-
2 ed., Rio de Janeiro:
Nova Fronteira,
deral do Brasil, o Rio de Janeiro, o MAN é resultado das discussões em
1982, disponível em torno das considerações de Mário Barata a respeito da escultura afri- 45
<https://Ipeafro.org.br/ cana e da tese Estética da Negritude, apresentada por Ironides Rodri-
acervo-digital/leituras/
obras-de-abdias/o-
gues ao 1º Congresso do Negro Brasileiro. Tanto a trajetória do MAN
negro-revoltado/>, quanto a do TEN estão diretamente vinculadas à de Abdias Nascimento
acesso em 21 fev. 2022; (1914–2011). Poeta, escritor, jornalista, dramaturgo e artista plástico. Ati-
A. Nascimento, Axés do
sangue e da esperança
vista pan-africanista e professor emérito da Universidade do Estado de
(Orikis), Rio de Janeiro, Nova York. Foi deputado federal, senador da República e secretário do
1983, disponível em governo do estado do Rio de Janeiro. Com diversos livros publicados1 2 M. B. de Castro
<https://Ipeafro.org.br/ e M. S. dos Santos,
acervo-digital/leituras/
e uma carreira internacionalmente reconhecida, Abdias Nascimento Abdias do Nascimento
obras-de-abdias/ foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Desse modo, ele é e o Museu de Arte
axes-do-sangue- considerado um dos maiores expoentes e difusores da arte e da cultura Negra, revista MODOS,
e-da-esperanca/>, v. 3, n. 3, set. 2019,
acesso 22 fev. 2022;
negra no Brasil.2 p. 176, disponível
A. Nascimento, Nascido em Franca, interior de São Paulo, em 14 de março de 1914, em <https://
O genocídio do negro Abdias Nascimento teve uma infância simples e plena: periodicos.sbu.
brasileiro: processo unicamp.br/ojs/index.
de um racismo php/mod/article/
mascarado, São Paulo: A natureza, na infância do professor Abdias Nascimento, se des- view/8663189/25050>,
Perspectiva, 2016 acesso em 22 fev. 2022.
cortina como o brinquedo mais encantador, mais saudável, mais
[1978]; A. Nascimento, 3 Abdias
O quilombismo:
inteligente e mais pedagógico. A interação é cotidiana. Ora com Nascimento e Éle
documentos de uma um rio, ora com as árvores, noutros momentos com os pássaros, Semog, Abdias
militância Pan- os ventos, as frutas e os bichos. Todo um universo lúdico, sem Nascimento: o griot
-africanista, 3 ed., e as muralhas, Rio de
São Paulo: Perspectiva,
fronteiras, impossível de ser explorado à sombra do tédio, se Janeiro: Pallas, 2006,
2019 [1980]. movimenta e convida aos seus espaços.3 pp. 29-30.
Na juventude, Abdias Nascimento participou da Frente Negra Brasi-
leira – organização formada em 1931 que virou partido político para de-
fender os direitos das populações negras. Já adulto, ele viajou com os
poetas da Santa Hermandad Orquídea pela América do Sul, apurando
o gosto por aventuras e desafios, e pelo teatro. De volta ao Brasil, foi
preso sem ser julgado e na penitenciária do Carandiru cumpriu pena.
Lá dentro, criou o Teatro do Sentenciado. Mais tarde, no Rio de Janeiro,
fundou o Teatro Experimental do Negro em 1944 com o apoio de artis-
tas, intelectuais e ativistas, como Arinda Serafim, Ruth de Souza, Agui-
naldo Camargo e Ironides Rodrigues; e, mais tarde, com Léa Garcia e
Guerreiro Ramos.
Neste ensaio pretendemos contar de forma resumida parte do cami-
nho construído e trilhado por Abdias Nascimento e o projeto MAN. Para
isso, partimos das infinitas possibilidades de leitura histórica do acervo
do IPEAFRO. Criado por Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento
em 1981, o IPEAFRO guarda o acervo pessoal de Abdias e das organiza-
ções que ele criou. Em um recorte de jornal do acervo encontramos um
dos motivos possíveis, de acordo com Abdias Nascimento, para criar um
museu: “Recolher e divulgar a obra de artistas negros, sem distinção de
gênero, escola ou tendência estética, promovendo-se, assim, a documen-
tação de sua criatividade, estimulando sua imaginação e invenção na am-
46 pla faixa de expressão plástica”. Outro motivo era “recolher também as
obras de artistas não negros – de qualquer origem racial, procedências
culturais e nacionais – onde o negro ou sua cultura estejam representados,
exerçam influência ou desempenham papel inspirador”.4
Mobilizar e juntar pessoas tornou-se uma das marcas pessoais de
Abdias Nascimento. Ao mesmo tempo que se articulava com diversos
setores, buscando consolidar o projeto MAN, ele jamais fugiu a seu papel 4 Abdias Nascimento,

de “boi de piranha”: aquele que abre caminho aos que vêm a seguir. Assim, Correio da Manhã,
jan.–dez. 1968,
ele contribuiu para que jovens talentos desenvolvessem sua produção ar- acervo IPEAFRO,
tística. O pintor Sebastião Januário e o escultor José Heitor, por exemplo, cópias de recortes

estiveram sempre ao lado de Abdias Nascimento e ainda hoje dedicam de jornais doados
pela pesquisadora
suas vidas às artes. Kimberly Cleveland.
Em depoimento feito para a Ocupação Abdias Nascimento no Itaú 5 Carlos Moore,

Cultural, Carlos Moore (2016) sintetiza o esforço de Abdias Nascimento Entrevista, produção
da equipe Itaú Cultural
em dialogar com a diversidade: para a Ocupação
Abdias Nascimento,
São Paulo: Itaú
[Abdias] acreditava fortemente, profundamente, fundamen-
Cultural, 2016, 20 min.,
talmente na possibilidade de uma coexistência neste país e no registro digital, son.,
mundo entre todos os grupos étnicos; que (ele) chegaria algum color., disponível em

dia a encontrar uma plataforma comum para conviver juntos. <https:// www. youtube.
com/watch? v=vOB8
E um dia ele será lembrado como um dos grandes, grandes for- Fu4W5fc&t=227s>,
jadores do pensamento libertário dentro do mundo negro.5 acesso em 13 ago. 2021.
Boa parte da construção desse pensamento libertário “dentro do mundo
negro” teve forte influência a partir das experiências em torno da criação
e direção do Teatro Experimental do Negro (TEN). Fundado em 13 de ou-
tubro de 1944, a companhia não se limitou às finalidades cênicas.

Quando fundamos o Teatro Negro, ficou desde logo estabele-


cido que o espetáculo, a pura representação, seria coisa secun-
dária. O principal, para nós, era a educação, o esclarecimento
do povo. Pretendíamos dar ocasião aos negros de alfabetizar-se
com conhecimentos gerais sobre história, geografia, matemá-
tica, línguas, literatura, e assim por diante.6

Uma das estratégias do TEN para enfrentar o racismo em sua dimensão es-
tética foi a promoção de concursos. Organizou o certame de artes plásticas
sobre o tema do Cristo Negro, por ocasião do 36º Congresso Eucarístico
Internacional, realizado no Rio de Janeiro em 1955. Idealizado por Abdias
Nascimento e Guerreiro Ramos, o concurso teve apoio da revista Forma
e de diversos intelectuais e artistas, como Augusto Frederico Schmidt,
Dinah Silveira de Queiroz, dom Hélder Câmara e Quirino Campofiorito.
Com o concurso, os artivistas do TEN extrapolaram as discussões que
aconteciam há mais de uma década no âmbito da companhia de teatro.
O TEN lançou luz sobre fatos históricos que atribuem uma aparência ne- 47
gra à principal figura do cristianismo, Jesus Cristo. Assim, afirmava uma
estética negro-africana, desconstruindo a representação caucasiana de
Cristo que se tornara hegemônica, sobretudo a partir do Renascimento.
A levar em conta a reação da sociedade dominante, a estratégia foi
bem-sucedida. “Um escândalo”, “aqui não existe racismo”, bradou o ar-
tigo de domingo do Jornal do Brasil (JB) em 26 de julho de 1955. O do-
mingo é para os jornais como o horário nobre para as televisões: maior
audiência, maior influência e maior receita. A escolha do JB não deixa
dúvida. Usou o prestígio do jornal para pedir censura: “As autoridades
eclesiásticas devem o quanto antes tomar providências para impedir a
6 Abdias Nascimento
realização desse atentado feito à Religião e às Artes [...]. Tornou-se ne-
em Elisa Larkin cessário chegar ao descalabro dos nossos dias, as ideias de inovação que
Nascimento, Grandes
nos afligem para pretenderem fazê-lo negro, não como se fosse entalhado
vultos que honraram
o senado: Abdias
no ébano, conservando suas características próprias, mas de carapinha e
Nascimento. Brasília, beiçola desforme”, assina o texto Alice Linhares Uruguay. Vale o registro:
Senado Federal, 2014,
poucos anos depois, o mesmo JB se tornaria um dos jornais que mais so-
disponível em
<https://ipeafro.org.
freria com a censura imposta pela ditadura militar (1964–85).
br/acervo-digital/ Apesar da forte pressão contrária, o concurso foi realizado. Cinquenta
leituras/publicacoes-
e dois artistas listados em catálogo do Teatro Experimental do Negro par-
do-ipeafro/biografia-
abdias-nascimento/>,
ticiparam do certame. Seus trabalhos puderam ser apreciados no prédio
acesso em 21 fev. 2022. do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro, entre os dias 17 e 24 de
julho de 1955. Djanira conquistou o primeiro lugar com seu Cristo na co-
luna. Outros jornais deram espaço à cobertura do concurso. Na Tribuna
da Imprensa de 22 de julho de 1955, a reportagem mostra fotografias de
pinturas de Cleo Navarro e uma de Benjamin Silva. O Diário de Notícias
de 31 de julho destaca que o concurso “suscitou debates artísticos e so-
ciológicos”. A imagem que acompanha o artigo assinado por Clemente
de Magalhães Bastos mostra quatro visitantes observando o quadro do
artista Carlos Bastos.
O tema do Cristo Negro continua como uma referência importante
nas artes plásticas. A coleção IPEAFRO/Museu de Arte Negra recebeu
várias obras ligadas a esse tema depois do concurso de 1955. A mais re-
cente delas é A crucificação (1996), do artista afro-norte-americano LeRoi
Caldwell Johnson (Búfalo, EUA, 1949). Na exposição coletiva Como nos
movemos, como queremos nos mover, realizada em 2019 na Escola de Artes
Visuais do Parque Lage, este coautor, Julio Ricardo Menezes Silva, apre-
sentou o trabalho Nossos passos vêm de longe, homenageando o concurso
de 1955. A instalação ficou exposta na capela da escola e propunha uma
“reparação estética” em peças de um presépio natalino, transformando
as figuras principais do cristianismo – José, Maria e o próprio menino
Jesus – em sujeitos afrodescendentes: o rosto e os braços das peças foram
pintados de preto e seus cabelos ganharam um black power. Um QR code
48 instalado na peça oferecia a possibilidade de o visitante extrapolar a expe-
riência presencial e, no ambiente virtual, um site apresentava evidências
históricas de uma leitura de Cristo Negro.

1968: No meio do caminho do MAN (e da democracia) havia um


governo militar
O ano de 1968 chegou prometendo mudanças. Na Europa e nos Estados
Unidos houve uma explosão de protestos e manifestações sociais no
mundo contra as guerras, o racismo, a devastação ambiental e a violação
de direitos. No Brasil, os protestos contra o regime militar ganhavam in-
tensidade à medida que a repressão aumentava. Nesse contexto, Abdias
Nascimento escreveu o ensaio “Arte negra: um museu para o futuro”, pu-
blicado na revista Galeria de Arte Moderna – GAM. O texto inovador aborda
o problema da criação artística relacionada a uma estética afro-brasileira.
Abdias Nascimento sustenta que o saque colonial europeu sobre
a África, no começo do século 20, e seu consequente tráfego de objetos de
arte influenciaram diretamente a produção artística no velho continente.
Para sustentar seu argumento, cita o caso da obra Les demoiselles d’Avignon,
de Picasso, como “exemplo ilustre do cubismo nascido sob a influência
generosa e afetiva da escultura africana”. Por fim, sem constrangimento,
coloca o dedo na ferida, denunciando o racismo estrutural, e afirma:
As classes ditas superiores mantinham o nosso povo obnubi-
lado pelos padrões estéticos alienados e alienantes da brancura,
constituindo esta uma ideologia corruptora e perversa, ao negar
a beleza negra no contexto vivo da estética brasileira.7

O projeto MAN vinha sendo desenhado para ocupar uma trincheira de


luta antirracista frente à narrativa hegemônica do sistema global de artes.
Em constante choque com relação a essa visão de mundo, Abdias Nasci-
mento sabia que a consolidação do MAN seria um soco no estômago dos
racistas dentro das artes. E o ano de 1968 parecia ter chegado acolhedor
para essa finalidade: “Grande parte do material de arte negra, entre obras
de pintura, escultura e desenho, já foi reunida pelo diretor do Teatro Ex-
perimental do Negro, Abdias Nascimento, que caberá somar dos mes-
mos trabalhos de artistas de todas as raças, sem qualquer descriminação”,
informou reportagem do Correio da Manhã.
Alguns renomados artistas foram citados pela reportagem do Correio
da Manhã como colaboradores: Alfredo Volpi, Bruno Giorgi, Carlos Scliar,
Ana Bella Geiger, Anna Letycia, Di Pietri, Heitor dos Prazeres, Rubens
Gerchman, Bonadei, Benjamin Silva, Cleo Navarro, Maria Ieda, Lygia
Clark, entre outros. Em outro momento, Loio Pérsio afirma que

um museu de arte negra viria, de fato, satisfazer uma neces- 49


sidade secular: o conhecimento das artes e da civilização bra-
sileira, sob ângulo estritamente racional [...] dentro do que se
entende modernamente por museu, isto é, não só acervo de
documentos e monumentos, mas a sede de atividades técnicas
7 Abdias Nascimento,
e científicas paralelas, poderá trazer grande contribuição no
“Arte Negra: museu campo das pesquisas, inventário, classificação, informação e
voltado para o futuro”,
divulgação dessas [artes].8
revista Galeria de
Arte Moderna, Rio de
Janeiro, n. 15, 1968, Em meio a esse burburinho, o MAN realizou a sua primeira exposição no
pp. 43-44 (acervo
Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro. O esforço para or-
IPEAFRO).
8 Abdias Nascimento
ganizar essa exposição, no entanto, começou bem antes, em 1964, resul-
O quilombismo: tado de longo trabalho de organização, marcado pelo curso de introdução
documentos de uma
ao teatro e à arte negra, realizado no auditório do Museu Nacional de
militância Pan-
-africanista, 3 ed.,
Belas-Artes (MNBA), cujo tema principal foi: O significado do despertar
São Paulo: Perspectiva, da África no mundo moderno.9
2019, p. 164. Raimundo Souza Dantas, embaixador e ex-chefe da representação di-
9 Elisa Larkin
Nascimento,
plomática do Brasil em Acra, Gana, afirmou que via a instalação do mu-
O sortilégio da cor: seu como “ponte cultural entre o Brasil e África, permitindo, ao mesmo
identidade, raça e tempo, um estudo mais profundo da participação africana na vida bra-
gênero no Brasil,
São Paulo: Selo Negro,
sileira”. Do Chile, o apoio oficial chegou da Escola e do Instituto de Ar-
2003, p. 302. quitetura da Universidade Católica de Valparaíso, em carta assinada por
Arturo Baeza, diretor dessa escola. Assim como de Alberto Cruz, diretor
da Escola de Arquitetura da mesma cidade chilena. Da Argentina, o ar-
tista Claudio Giroia manifestou solidariedade em promessa de viagem ao
Rio de Janeiro para conhecer o projeto e colaborar com uma doação para
a coleção MAN. Por sua vez, Vicente Barreto, diretor do departamento de
cultura da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro, prometeu
(e jamais cumpriu) uma sede própria.
Nesse momento em que a sonhada sede para o MAN parecia uma rea-
lidade próxima, Abdias Nascimento começou a pintar. Seu primeiro
trabalho, Eva imune ao pecado original, feito com guache misturado com
veículo plástico sobre papel em 13 de setembro de 1968, mede 50 × 70 cen-
tímetros e traz no verso a dedicatória ao artista Sebastião Januário, “ins-
pirador e testemunho da minha aventura pictórica, com fraterno abraço”.
Em 13 de dezembro de 1968, porém, todo o esforço dos últimos dezoito
anos viria por terra. O Ato Institucional número 5 (AI-5) foi baixado pelo
governo autoritário brasileiro, resultando no fechamento do Congresso
Nacional e de partidos políticos; no sequestro, na tortura e no assassinato
de opositores do governo; jogando a chance de construção democrática
na lama. Neste momento, Abdias Nascimento estava nos Estados Uni-
dos beneficiado por uma bolsa de intercâmbio. No Brasil, ele era alvo de
vários IPMs (inquérito policial militar) por sua posição combativa frente
50 ao racismo à brasileira. Sob o risco à vida, ao término de seu intercâmbio,
Abdias Nascimento decidiu permanecer no exílio. “O Museu de Arte Ne-
gra não teve condições de consolidar ou de manter o acervo”.10 Boa parte
da coleção foi danificada ou extraviada no período de ausência de Abdias
Nascimento do país, que durou treze anos. Assim, tanto o MAN quanto o
TEN viram suas atividades interrompidas.
10 Elisa Larkin
Nascimento,
O sortilégio da cor:
(Auto)exílio identidade, raça
Nos Estados Unidos, Abdias Nascimento recorreu aos amigos para e gênero no Brasil,

se manter no país. A artista Ann Bagley e o marido o acolheram em São Paulo: Selo
Negro, 2003, pp. 302-3.
um quarto no apartamento deles em Nova York. “Ali mesmo naquele 11 Elisa Larkin
quarto, usando palitos de fósforo e restos de tinta que a amiga jogava Nascimento, Grandes

fora, ele voltou a pintar”.11 Notório orador, Abdias Nascimento se viu vultos que honraram
o senado: Abdias
constrangido pelo idioma. “Uma coisa sensacional aconteceu comigo. Nascimento, Brasília:
Bloqueado pelo inglês, desenvolvi uma nova forma de comunicação. Senado Federal, 2014,

Descobri que possuía outra forma de linguagem dentro de mim: des- p. 207.
12 Elisa Larkin
cobri que podia pintar; e pintando eu seria capaz de mostrar o que pa- Nascimento, Grandes
lavreado nenhum diria”.12 vultos que honraram

As dificuldades no exterior eram muitas. Para sobreviver, Abdias Nasci- o senado: Abdias
Nascimento, Brasília,
mento recolhia cascos de refrigerante e os entregava em supermercados, o Senado Federal, 2014,
que lhe rendia um cascalho. Em entrevista ao IPEAFRO em 2019, Anna Bella p. 208.
Geiger relembra dos encontros que ela e sua família tiveram com Abdias
Nascimento, à base de “macarronada”, em sua casa em Nova York.13
À medida que se adaptava à nova vida, a arte lhe abriu caminhos. Rea-
lizou exposições individuais na Galeria de Arte do Harlem, na Crypt
Gallery da Universidade Columbia e na Escola de Arte e Arquitetura da
Universidade Yale. Palestrou na Escola de Teatro de Yale e em outras uni-
versidades americanas. Mais tarde, na Universidade do Estado de Nova
York, fundou a cadeira de Cultura Negra nas Américas.

A relevância dessa posição não deixou de ser notada por Hélio


Oiticica que, em carta a Torquato Neto, contou que após o show
de Gilberto Gil, em Búfalo, houve uma “peixada de madrugada”
na casa de Abdias que, disse ele, “está por cima da carne-seca:
casa enorme (ele ensina na Universidade com intérprete espe-
cial pois não fala inglês, sobre cultura africana; calcule!).14

Enquanto atuava como professor universitário nos Estados Unidos e in-


tensificava seu ativismo internacional em diálogo estreito com o mundo
africano, Abdias aperfeiçoava sua pintura afirmando a estética negra.

Com o tempo, a pintura de Abdias evoluiu para além das ima-


gens dos orixás e ícones da cultura religiosa de matriz africana 51
no Brasil. Ao incorporar diversas referências da simbologia
epistemológica africana em diversos países do continente e da
diáspora, Abdias Nascimento pintava o pan-africanismo que
ele vivia no ativismo, na pesquisa e na atividade docente.15

Assim, ele produziu em Búfalo (EUA) uma Oxum em óleo sobre tela, me-
13 Acervo audiovisual
dindo 40 × 50 centímetros. A obra foi doada a Cheikh Anta Diop em en-
IPEAFRO, disponível
em <https://www.
contro realizado no Laboratório de Rádio Carbono, durante o evento
youtube.com/watch?v Alternativas para o Mundo Africano, plenária da União Africana de Es-
=8VybMJJvhaE>,
critores, em Dacar, no Senegal, 1976. Diop, cientista senegalês, está entre
acesso em 13 ago. 2021.
14 Dária Jaremtchuk,
os intelectuais mais importantes do século 20. Ele derrubou o racismo
“Abdias do científico ao provar que o Egito antigo era negro e que o Egito – e não a
Nascimento nos
Grécia – foi o berço da civilização ocidental.
Estados Unidos: um
‘pintor de arte negra’”,
Estudos Avançados,
v. 32, n. 93, 2018, p. 266.
IPEAFRO
15 Elisa Larkin
Nascimento, Grandes
De volta ao Brasil, Abdias Nascimento funda, em coautoria com Elisa
vultos que honraram Larkin Nascimento, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
o senado: Abdias (IPEAFRO). Com apoio de dom Paulo Evaristo Arns, a Pontifícia Univer-
Nascimento, Brasília:
Senado Federal, 2014,
sidade Católica de São Paulo (PUC-SP) acolheu a proposta de criar um
pp. 211-12. setor de ensino e pesquisa de assuntos afro-brasileiros e uma biblioteca
especializada a partir do acervo de Abdias Nascimento. O projeto visava
reorganizar a coleção MAN, que ficou em condições adversas de guarda,
ocasionando extravios e danos às obras.
Em 1982, o IPEAFRO organizou e realizou o 3º Congresso de Cultura
Negra das Américas, primeira ocasião em que vieram ao Brasil represen-
tações do Congresso Nacional Africano da África do Sul e da SWAPO da 16 Disponível em
Namíbia, bem como delegações negras de diversos países das Américas <https://ipeafro.org.

e do Caribe. O relatório deste congresso encontra-se nos volumes 1 e 3 da br/acervo-digital/


leituras/publicacoes-
revista Afrodiáspora.16 do-ipeafro/
Durante uma década, de 1985 a 1995, o IPEAFRO promoveu o curso afrodiaspora-vol-1/>,

Sankofa, conscientização da cultura afro-brasileira, nas dependências acesso em 13 ago. 2021.


17 Elisa Larkin
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O conteúdo temá- Nascimento (org.),
tico deste curso foi publicado inicialmente na revista Afrodiáspora. Mais A matriz africana

tarde, saiu em edição revisada e ampliada em quatro volumes na coleção no mundo, São
Paulo: Selo Negro/
Sankofa: matrizes africanas da cultura brasileira.17 Summus, 2008a; E.
A partir de 2002, o IPEAFRO vem se dedicando a recuperação, preserva- L. Nascimento (org.),

ção, organização e divulgação do acervo de Abdias Nascimento. O objetivo Cultura


em movimento, São
é dar acesso público a essa fonte de informações sobre a cultura e a história Paulo: Selo Negro/
afro-brasileira, assim contribuindo para a efetivação da Lei 10.639/2003. Summus, 2008b;

No período de 2004 a 2006, realizou a exposição Abdias Nascimento Me- E. L. Nascimento


(org.), Guerreiras
mória Viva no Rio de Janeiro, em Brasília e Salvador. Em cada uma dessas de natureza. Mulher
52 mostras, houve intensa visitação de escolas e organizações comunitárias, negra, religiosidade

bem como de pesquisadores e educadores. O IPEAFRO capacitou equipes e ambiente no Brasil,


São Paulo: Selo
de monitores para atender os diversos grupos em visitas guiadas. Negro/Summus,
Em 2007, o Fórum Memória Viva e Ação Educativa, que o IPEAFRO 2008b; E. L.

realizou no Arquivo Nacional, apresentou os conteúdos dessas exposi- Nascimento (org.),


Afrocentricidade,
ções em debates e discussões com educadores sobre a implantação da Lei uma abordagem
10.639/2003. A partir de 2010, o IPEAFRO trabalha com a proposta de arti- epistemológica

cular as exposições com os fóruns de educadores. Realizada inicialmente inovadora, São Paulo:
Selo Negro/Summus,
no Centro Cultural Justiça Federal, em 2011, a exposição África-Brasil: 2009.
ancestralidade e expressões contemporâneas seguiu em versão itinerante a 18 P. L. Barra e

Duque de Caxias, Campos dos Goytacazes, Maricá e São João de Meriti R. Fonseca (orgs.),
Abdias Nascimento:
como parte do Fórum Educação Afirmativa Sankofa. Em 2019, o IPEAFRO um espírito
colaborou com o Museu de Arte Contemporânea de Niterói para realizar libertador, Catálogo

uma exposição individual complementada por seminário e oficinas.18 da exposição do


Museu de Arte
Em 2021, setenta anos depois da idealização do projeto MAN, o IPEAFRO Contemporânea
lançou a campanha Museu de Arte Negra: Tô Dentro! com o objetivo de (MAC), Niterói/RJ,

realizar em ambiente virtual o sonho de criar uma sede para a coleção 2019.
19 Elisa Larkin
reunida, aos trancos e barrancos, por Abdias Nascimento e pelas pes- Nascimento e L. C.
soas que o acompanharam. Assim, sob os desígnios de Olorum, no axé Gá (orgs.), Adinkra,

dos orixás e na sabedoria dos símbolos adinkra,19 buscamos os melhores sabedoria em símbolos
africanos, Rio de
caminhos, entre as infinitas possibilidades desse acervo, para dar vida e Janeiro: IPEAFRO/
continuidade ao legado de Abdias Nascimento e seu projeto. Pallas Editora, 2009.
Agenor Francisco
dos Santos
Sem título
Untitled
1966
54
Chico Tabibuia
Exu Sapo
Exu Frog
1992

Autor não identificado


Unidentified author
Sem título
Untitled
sem data
undated
56

Autor não identificado


Unidentified author
Sem título
Untitled
sem data
undated
Abdias Nascimento
Pomba Gira,
fêmea de 7 Exus
Pomba Gira,
Female of 7 Exus
1970
58

J. Cunha
Pérolas negras
do saber
Black Pearls of
Knowledge
1997
Babatunde Folayemi
Oracle of Ifa
Oráculo de Ifá
1969

60
61

Ben Enwonwu
Negritude – Theme
“Black is Beauty” –
Africa Dances
Negritude – tema
“Negro é beleza” –
A África dança
1971
Anísio Medeiros
Obras sem título
Untitled works
1948
Anna Letycia
Sem título
Untitled
1962
Emanoel Araújo
Mulher com frutas
Sebastião Januário na cabeça
Sem título Woman with Fruits
Untitled on Her Head
2004 1966
65
Israel Pedrosa
[Retrato de
Solano Trindade]
[Portrait of
Solano Trindade]
1967
Inimá de Paula
[Retrato de Abdias
Nascimento Filho]
[Portrait of Abdias
Nascimento Filho]
1967
Heitor dos Prazeres
Sem título
Untitled
1965

68
71

Alcione
Sem título
Untitled
1990
72

José Heitor da Silva


Drama dos
mendigos negros
Drama of the
Black Beggars
1967
73
Um panorama da
coleção de artes visuais
do MAM Rio
Décadas de 1940 a 1980

CÁTIA LOUREDO E MOEMA DE BACELAR ALVES


Considerada uma das coleções de arte do século 20 mais importantes
do país, a coleção do Museu de Arte Moderna do Rio Janeiro (MAM Rio)
tem início na década de 1940 a partir de doações de particulares. Essas
primeiras obras, no entanto, por mais que estivessem sendo agregadas
à coleção desde a organização de suas bases, só receberam o primeiro
registro formal em 1951. Sendo assim, um dos caminhos possíveis para 75
tentar reconstituir a origem desse acervo é recorrer às informações do-
cumentadas nos catálogos de suas primeiras exibições.
No dia 3 de maio de 1948 foi assinada a ata de constituição do Mu-
seu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, oficializando e documentando
seus fins, sua composição e já apresentando seu primeiro projeto de
estatuto. A partir de então, havia uma data solene de inauguração do
museu que, ao mesmo tempo, legalizava as ações até então desenvolvi-
das para sua instituição.
Menos de um ano depois, em janeiro de 1949, o MAM Rio inaugura sua
primeira exposição, Pintura europeia contemporânea, apresentando obras
de artistas da chamada Escola de Paris,1 obras essas presentes em cole-
1 Escola de Paris ções particulares do Rio de Janeiro e uma de Minas Gerais. Segundo in-
é um termo usado
formações de seu catálogo,2 nessa primeira exposição apenas quatro telas
para designar artistas
franceses e não
pertenciam à coleção do recém-criado Museu de Arte Moderna do Rio
franceses que atuaram de Janeiro: uma de Alberto Magnelli, doada por Josias Leão, diplomata,
na França no período
diretor executivo da primeira diretoria do MAM Rio e colecionador com
entre guerras.
2 Museu de Arte
maior número de telas expostas na ocasião; uma de Joan Miró, doada
Moderna do pelo também diplomata Landulpho A. Borges da Fonseca; e duas telas
Rio de Janeiro,
doadas pelo empresário e político estadunidense Nelson Rockefeller,
Pintura europeia
contemporânea, Rio de
sendo uma de Yves Tanguy e a outra, indicada no referido catálogo como
Janeiro, 1949, catálogo. o guache Paisagem, de Marc Chagall. Essa, no entanto, não consta em
qualquer outro registro do museu como tendo pertencido ao acervo e
hoje faz parte do acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universi-
dade de São Paulo (MAC USP), que recebeu a coleção do Museu de Arte Mo-
derna de São Paulo em doação quando este foi temporariamente extinto,
em 1962.3 Tal qual o MAM Rio, o Museu de Arte Moderna de São Paulo foi
fundado em 1948 e teve, como um de seus incentivadores, Nelson Rocke-
feller, que teria doado a tela de Chagall – junto a outras – para a coleção.4 4 Para maiores

Nesses primeiros anos de atuação, o MAM Rio participou como apoio informações,
consultar: Museu de
em parcerias de eventos e exposições, além de realizar mostras próprias, Arte Moderna de São
porém não com obras de seu acervo e, por uma questão de espaço, nem Paulo, MAM 70: MAM

todas realizadas em sua sede provisória. e MAC USP, São Paulo,


2018, catálogo.
Em 1951, Niomar Moniz Sodré assume a diretoria executiva do MAM 5 Niomar Moniz
3 Esse caso pode Rio e passa a atuar muito fortemente para a ampliação da coleção do mu- Sodré realizou muitas
representar desde um
seu, ainda tímida.5 A partir de então, inicia um período de forte articula- viagens ao exterior
equívoco do catálogo para visitar museus,
até uma transação
ção para o crescimento e a consolidação do museu, tanto no que tange sua ateliês e galerias, onde
não concluída, visto coleção quanto na elaboração de uma campanha de sócios para a cons- comprava não só
que a imagem da obra
trução de uma sede própria. obras para o acervo
publicada por ocasião museológico, mas
da exposição de 1949
Niomar e seu marido, Paulo Bittencourt – proprietário do jornal Cor- também livros para a
condiz com a imagem reio da Manhã –, eram muito influentes nos meios intelectuais, políticos biblioteca do MAM Rio.
presente hoje no
e diplomáticos daquele momento. Sua rede de contatos foi fundamental 6 Ana Arruda Callado,
acervo MAC USP. Suas Maria Martins, uma
dimensões diferem em
para que muitas doações e compras pudessem ser concretizadas. Auxi- biografia, Rio de
apenas 1 centímetro, liada, entre outros, pela artista e embaixatriz Maria Martins no contato Janeiro: Gryphus;
o que pode ser
com artistas nacionais e estrangeiros, Niomar pôde, por exemplo, esco- Brasília: Ministério
considerada uma da Cultura; Belo
pequena diferença na
lher obras diretamente do ateliê de muitos expoentes das artes do pe- Horizonte: CEMIG,
medição. Tal fato nos ríodo,6 incluindo Constantin Brancusi e Rufino Tamayo. 2004, pp. 139-141.
aponta, ainda, uma Em janeiro de 1952, o MAM Rio inaugura sua primeira exposição em 7 Museu de Arte
das faces da imbricada Moderna do Rio de
relação estabelecida
nova sede, embora ainda provisória, situada nos pilotis do Palácio Ca- Janeiro, O Museu
na formação dos panema, então prédio do Ministério da Educação e Saúde. A ocasião de Arte Moderna
museus de arte foi dita pelo museu como a “reabertura de sua exposição permanente comemorando seu
moderna daquele aniversário convida,
momento no Brasil.
enriquecida de novas doações”, e se dava em comemoração pelo seu ani- Rio de Janeiro,
Inicialmente, ambas as versário, entendido, nesse momento, como o mês de sua exposição inau- 1952, convite.
instituições contaram gural em 1949, e não de sua oficialização enquanto instituição.7 O catá- 8 A exposição
com o incentivo e contou, ainda, com a
o recebimento de
logo da mostra trazia a relação dessas novas aquisições, reconhecendo, exibição dos quadros
doações de Nelson quando o caso, seus doadores. Agora vemos, além de colecionadores, premiados na 1ª Bienal
Rockefeller, que doou artistas também doando obras, e já temos obras adquiridas por compra, de São Paulo, ocorrida
para o MAM Rio além no ano anterior, uma
da obra Oceanos para
e não apenas por doação. Nessa exposição, já havia a identificação de prática que será
pássaros (1946), de pinturas, desenhos, gravuras e esculturas no acervo, incluindo Compo- recorrente no museu
Yves Tanguy, presente sição (1951), de Georges Mathieu; Xangô (1951), de Lula Cardoso Ayres; por muitos anos.
na exposição de 1949, Foram expostas 83
as obras Composição
e Oitavo véu (1949), de Maria Martins. Foram 38 obras expostas, sendo obras no total. Museu
(1938), de Fernand quatro delas esculturas, o que já aponta o crescimento da coleção desde de Arte Moderna do
Léger; Nº 16 (1950), sua primeira exposição.8 No texto, assinado por Mário Barata, ficava ex- Rio de Janeiro, Museu
de Jackson Pollock; e de Arte Moderna do
Composition (c. 1950),
plícito o entendimento da missão e da importância do Museu de Arte Rio de Janeiro, Rio de
de Robert Motherwell. Moderna do Rio de Janeiro: Janeiro, 1952, catálogo.
Um museu de arte moderna é um museu que respeita a criação
estética do homem onde quer que esteja e quem quer que a faça.
Essa é a condição sine qua non de sua existência. Acolhendo
as obras contemporâneas, divulgando-as e explicando-as – e
nesse tríplice trabalho auxiliando a sua criação – ele deve deixar
ao tempo o poder de excluir o que falhou, de provar o que foi
engano crítico.9

Um museu que respeitava o fazer contemporâneo e o comunicava, divul-


gava, acolhia. Já em seus primeiros anos, as entradas no acervo deixavam
clara a tendência daquela que seria sua característica durante as primei-
ras décadas de sua história: reunir importantes nomes da produção ar-
tística nacional e internacional, buscando poder contar uma história da
arte moderna por meio de peças icônicas e ao mesmo tempo colecionar
e estimular a produção contemporânea.
9 Mário Barata, A coleção do MAM Rio, nesses primeiros anos, portanto, passa a ser com-
[Necessidades do
posta de grandes nomes do modernismo do início do século 20, tais como
Museu de Arte Moderna
do Rio], em Museu de
Pablo Picasso, Candido Portinari e Maria Martins, ao mesmo tempo que
Arte Moderna do Rio se agregava a produção de artistas jovens como Ivan Serpa, Elisa Martins
de Janeiro. Museu de
da Silveira e Mario Cravo Jr. Ao fim dos primeiros dez anos de existência,
Arte Moderna do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro,
a coleção contava com cerca de 460 obras,10 e reunia, entre tantos, nomes
1952, [p. 14], catálogo. como Max Ernst, Fernand Léger, Diego Rivera, Abraham Palatnik, Heitor 77
10 Foi possível chegar
dos Prazeres, Henry Moore, Mary Vieira e Djanira. Artistas que, muitas
a esse número a partir
de levantamentos
vezes, não tinham espaço nas poucas coleções públicas que existiam então.
feitos no livro de Em mais um janeiro para marcar a história do MAM Rio, dessa vez do
registros do museu.
ano de 1958, temos a inauguração do primeiro prédio da sede própria do
11 Museu de Arte
Moderna do Rio de
museu, o Bloco Escola. Após dez anos de existência, o museu muda-se
Janeiro, Museu de Arte para casa própria. O terreno, doado pelo município do Rio de Janeiro
Moderna do Rio de em 1953, recebeu o projeto arquitetônico de Affonso Eduardo Reidy e
Janeiro, Rio de Janeiro,
1958, [p. 3], catálogo.
o paisagístico de Roberto Burle Marx. Por ocasião de sua inauguração,
12 Nessa exposição além da exposição da maquete e da planta do museu, organizou-se a ex-
foram exibidas posição Ben Nicholson e escultores britânicos, e uma exposição do acervo
obras de artistas de
países como França,
artístico do MAM Rio.
Estados Unidos, Pelo catálogo dessa exposição, sabemos que as principais obras de ar-
Itália, Alemanha, tistas brasileiros pertencentes ao acervo do museu estavam compondo a
Portugal, México,
Rússia, Espanha, Grã-
exposição Arte Moderno en Brasil, que itinerou por vários países da Amé-
-Bretanha, Suíça, Chile, rica Latina no ano anterior, não estando ainda disponíveis há tempo da
Bélgica, Holanda e inauguração da nova sede. Sabemos, ainda, que por falta de espaço tam-
Romênia, embora o
acervo já contasse, a
bém não foi incluída a totalidade das obras da coleção que não estavam
essa altura, com obras itinerando, havendo sido feita uma seleção “dentre as mais interessan-
de artistas de outros tes, incluindo doações e compras mais recentes”.11 Com isso, a exposição
países, como Cuba,
Haiti, Argentina,
contou com 64 obras de artistas de diversos países.12 A referência aos
Áustria, entre outros. países de origem dos artistas, precedida pela explicação do critério de
seleção das peças expostas, indica a preocupação em apresentar a cole-
ção do museu, naquele momento de inauguração de sua sede definitiva,
ressaltando a amplitude e o alcance do acervo.
Desde aquela exposição que marcou a mudança de sede em 1952, o
MAM Rio costumava exibir, anualmente, obras de sua coleção, sempre em
crescimento e apresentando as novas aquisições e a forma que tomava o
acervo. Primeiro, chamadas de Coleção permanente, depois, de Patrimô-
nio, quanto mais o acervo crescia, mais comum eram os recortes dessas
exposições, fosse por tema – como a de artistas abstratos presentes no
acervo, em 1965 –, fosse para apresentar as entradas recentes. E assim
manifestações artísticas de países como China, a antiga Tchecoslováquia,
Israel, Japão ou Venezuela vão dotando o acervo do caráter enciclopédico
e global que marcou as primeiras décadas de sua formação.
Muitas das entradas que ocorriam nas décadas de 1950 e 1960 vinham
diretamente de grandes eventos artísticos, como as bienais de São Paulo
e Veneza, ou por meio de correspondência entre representações dos mais
diversos países. Essas relações podiam mobilizar viagens para compra
ou negociação de doação internacional, de modo que o acervo do museu
ia se configurando a partir de uma produção atual, sempre envolvendo
muita diplomacia e articulação. À medida que o acervo se formava a par-
tir de trabalhos recentes de artistas que despontavam no mundo da arte,
78 havia também o registro, via entrada na coleção, não só do que já era dis- 13 Não podemos

putado no mercado de arte entre colecionadores privados, mas também esquecer, também,
que desde 1952 o
de apostas em nomes, técnicas e linguagens artísticas. MAM Rio realizava
De acordo com os registros que possuímos hoje, podemos dizer que exposições com

nos primeiros trinta anos de existência, o MAM Rio reuniu mais de mil trabalhos de crianças
que frequentavam os
itens e se firmou enquanto um museu com relevante atuação não só no cursos que Ivan Serpa
campo das exposições como também pelos cursos que realizava13 e que ministrava no museu.

formou mais de uma geração de artistas pela atividade de sua Cinemateca 14 Os Domingos da
criação foram exercícios
e pelos encontros e grupos que promovia entre artistas visuais, literatos, experimentais que
cineastas, entre outros. Para além de ser um lugar para expor e preservar ocorreram ao longo

a arte moderna, o MAM Rio, igualmente, era um espaço de promoção e do ano de 1971, sendo
seis domingos, e
concepção de arte, sendo conhecido seu ambiente fomentador e de van- parte das atividades
guarda que contribuiu para o surgimento do Grupo Frente (1954) e do do Curso Popular de

grupo de artistas neoconcretos (1959), e ainda abrigou mostras como Arte, nos quais práticas
educativas aconteciam
Opinião 65 (1965), Opinião 66 (1966) e Nova objetividade brasileira (1967), em toda a área externa
que reuniram diferentes vertentes das vanguardas nacionais, sendo con- do museu. Para mais

sideradas verdadeiros marcos nas artes da década de 1960. informações, ver Jessica
Gogan e Frederico
O MAM Rio tinha uma concepção ampla de arte, sendo assim um es- Morais, Domingos da
paço aberto à experimentação. Durante a década de 1970, mesmo ha- criação: uma coleção

vendo forte censura por conta do regime ditatorial vivido no país, mar- poética do experimental
em arte e educação, Rio
caram o período as manifestações artísticas dos Domingos da criação14 de Janeiro: Instituto
(1971), idealizados por Frederico Morais, então coordenador de cursos; MESA, 2017.
a criação da Sala Corpo e Som, que culminou no Departamento Corpo
e Som, integrando as artes plásticas à música, à poesia, ao teatro; e as ex-
posições da Área Experimental, entre 1975–1978, que marcam também
um questionamento de linguagem, de categorias artísticas, do papel do
artista e das próprias instituições dos mundos da arte.15
No entanto, essa intensa movimentação artística dos anos 1970 que
“sacudiu” a cidade do Rio de Janeiro e as artes, de forma geral, pouco
se via refletida na coleção MAM Rio naquele momento. O fomento aos
acontecimentos, o espaço propício à criação e ao questionamento, exis-
tia, mas esses artistas –entre os quais havia alunos, ex-alunos e profes-
sores dos cursos do MAM Rio – e as obras oriundas desse movimento e
exibidas no museu não necessariamente eram incorporados ao acervo.
Nas décadas de 1960 e 1970, obras como performances ou instalações
com materiais perecíveis passaram a ser mais recorrentes. Essas obras,
por sua própria transitoriedade, ainda levantariam questões sobre con-
servação e registro, não sendo, em um primeiro momento, vistas como
algo a ser colecionado.
Alguns poucos nomes desse grupo de artistas tiveram entrada nesse
período, como Cildo Meireles, Anna Bella Geiger e Waltercio Caldas,
mas grande parte da produção dessa fase só passará a fazer parte da cole-
15 Área Experimental
foi um programa de
ção MAM Rio anos depois, a partir, principalmente, de doações (dos pró-
exposições realizado prios artistas, de colecionadores ou diferentes instituições) e do início do 79
no MAM Rio que entre
comodato da Coleção Gilberto Chateaubriand, já na década de 1990, que
seu período de vigência
promoveu quarenta
trouxe nomes como Regina Vater e Antonio Manuel.
exposições envolvendo Todo esse rico programa de atividade e exposições, porém, acabou por
mais de quarenta
ser interrompido a partir da madrugada do dia 8 de julho de 1978, quando
artistas, entre os quais
Anna Bella Geiger,
um incêndio de grandes proporções atingiu o museu.16 Todas as insta-
Sonia Andrade, Tunga lações do Bloco de Exposições, onde funcionavam também os setores
e Cildo Meireles. Para
administrativos do museu e a Biblioteca, foram destruídas, porém as ins-
mais informações, ver
Fernanda Lopes, Área
talações da Cinemateca e sua coleção não foram afetadas. Na ocasião, o
Experimental: lugar, museu apresentava a exposição Arte agora III – América Latina: geometria
espaço e dimensão do sensível, que reunia obras de grandes nomes nacionais e estrangeiros, e
experimental na arte
brasileira dos anos 1970,
um conjunto significativo de 74 obras do artista uruguaio Joaquín Torres
São Paulo: Prestígio García, considerado um dos grandes nomes daquele país, e que foram
Editorial, 2013. completamente consumidas pelo fogo, causando uma grande perda ao
16 Segundo os laudos
da época, o que
mundo da arte.
ocasionou o incêndio À época, acreditava-se que das cerca de mil obras que faziam parte do
foi um curto no
acervo até aquele momento, apenas cinquenta poderiam ser reintegradas.
sistema de iluminação
da Sala Corpo e Som,
Este número, porém, foi mudando conforme os espaços iam sendo libe-
onde, na noite anterior, rados para que Isaura de Carvalho, então chefe do acervo, pudesse rea-
havia ocorrido a
lizar o trabalho de localizar as peças ou o que restou delas nas áreas atin-
apresentação de
um grupo peruano
gidas pelo incêndio. O professor e conservador Edson Motta, na época
chamado Agua. diretor do Museu Nacional de Belas Artes, teve um papel importante
nesse momento, posto que ele foi um dos primeiros profissionais a ter
acesso às áreas atingidas pelas chamas e se prontificou a colaborar com o
museu, restaurando sem custos as obras que poderiam ser recuperadas.17
Uma rede de apoio rapidamente se formou para ajudar o MAM Rio a se
reerguer da tragédia que o assolara. 17 Edson Motta
realizou os primeiros
As reportagens de época citam uma perda de cerca de 90% do acervo, processos de resgate
no entanto, uma pesquisa realizada entre 2015 e 2018 pela museóloga das peças e atendendo

Claudia Calaça trouxe uma nova dimensão para esse episódio.18 Sua à determinação do
ministro da educação
conclusão foi de que o MAM Rio possuía 1.150 obras até julho de 1978, das da época, Euro
quais 50,8% foram irremediavelmente perdidas com o incêndio, número Brandão, realizou os

significativo, mas bem menor do que sempre se divulgou. Hoje, apenas trabalhos coordenando
sua equipe no
um pequeno grupo de peças falta ser identificado. As informações rela- laboratório do Museu
cionadas a essas obras foram inseridas no banco de dados do museu, boa Nacional de Belas

parte delas com imagens, remontando assim a memória não só das peças Artes, garantindo,
assim, a continuidade
que se perderam, mas também da própria coleção. de suas funções
Nos primeiros anos após o incêndio, mesmo enfrentando problemas naquela instituição.

de gestão e com esforços financeiros direcionados às reformas do prédio, 18 Desenvolvida com


base em registros
o acervo continuou crescendo graças, principalmente, às doações de ar- fotográficos de
tistas, particulares e diferentes patrocinadores. A coleção que registrava época e profunda

em torno de 500 obras logo após o incêndio, até meados da década de análise documental
nos arquivos dos
1980 já registrava 1.300 obras.19 Os esforços para remontar a coleção mo- departamentos
80 bilizaram tanto artistas quanto empresários, tanto a sociedade brasileira de Pesquisa e

quanto governos e grupos de vários países. Das 796 peças que passaram Documentação e
Museologia do MAM
a fazer parte do acervo entre 1978 e 1985, cerca de quinhentas foram doa- Rio, foi possível realizar
ções diretamente de artistas, um número bastante significativo e que a identificação obra a

mostra o engajamento da classe na reconstrução da coleção. obra de quase todas as


peças que compunham
As duas telas em grandes dimensões de Victor Vasarely; as quatorze a coleção de artes
gravuras de Edith Behring; as litografias de Gerhard Richter; o políptico visuais do museu até

de Carlos Cruz-Díez; o nanquim de Vieira da Silva; a escultura de Robert meados de 1978. Foram
comparados diversas
Adams; o conjunto de fotografias do casal Bernd e Hilla Becher são exem- listagens, antigas fichas
plos dessas doações. Países como a França, que por meio de sua embai- catalográficas, registros

xada no Brasil intermediou a doação de um conjunto de pessoas entre de arquivos de outras


instituições, uma série
artistas, colecionadores e marchands, tiveram importante papel nesse de documentos doados
momento. De igual modo, o Japão e a Alemanha intermediaram doações pelo neto de Niomar

de obras de artistas de seu país, todas com produção recente. Moniz Sodré, Mauro de
Almeida Moniz Sodré,
Assim, alguns nomes que acabaram sendo apagados da coleção, em além de informações
decorrência do incêndio, voltam a fazer parte dela através de doações. coletadas a partir de

Mas há que se fazer a ressalva, por um lado, de que muitas das obras que consultas aos próprios
artistas.
passaram a fazer parte do acervo nesse período não possuem, se consi- 19 Foi possível chegar
derarmos o conjunto, o mesmo valor existente das obras perdidas em a este número a partir

1978. É o caso, por exemplo, de Pablo Picasso, que antes se fazia presente de levantamentos
feitos no livro de
no acervo pelos óleos Tête de femme (Dora Maar) (1941) e Tête de femme registros e no banco de
(Fernande) (1909), ambos perdidos no incêndio, e que agora passa a ser dados do acervo.
representado por apenas um pastel, doado por Paulo Gustavo de Faria
via embaixada da França no Brasil. Por outro lado, é nesse momento tam-
bém que nomes importantes da produção nacional entram na coleção,
como é o caso de Candido Portinari.
Apesar de terem entrado obras importantes de artistas que possuíam
20 A coleção
uma relação com a história do museu, como é o caso de Tomás Santa Rosa,
de Gilberto Edith Behring, Ivan Serpa, Tomoshige Kusuno, entre outros, a maioria
Chateaubriand
das obras recebidas em doação eram de artistas estrangeiros com produ-
teve início em 1953
e abrange desde
ções nas décadas de 1970 e 1980, sendo um número significativo em papel.
a produção do Ficava cada vez mais evidente que não havia como reconstituir a coleção
modernismo brasileiro
nos moldes em que havia sido montada nas décadas anteriores; ela pre-
do início do século
20 até a produção
cisaria, a partir de então, ter um novo perfil. Apesar dos esforços de dire-
contemporânea. Em tores e colaboradores do museu, nos anos seguintes ao incêndio não foi
1993, quando iniciou o
desenvolvido, de fato, um plano de recuperação efetivo para a instituição.
comodato com o MAM
Rio, foram abrigadas
Diante do quadro que se apresentava, dada a impossibilidade de re-
no museu cerca de compor seu acervo com as mesmas premissas de antes, o MAM Rio optou
quinhentas obras,
por focar seus esforços em contar a história da arte moderna e contem-
porém, hoje, dessa
coleção em constante
porânea brasileiras. Não se perdeu, com essa decisão, o caráter enciclo-
crescimento, o MAM pédico que caracterizava a coleção do museu, mas o recorte passou a ser
Rio abriga cerca de prioritariamente nacional. É nesse sentido que ao fim da década de 1980
6.630 obras.
21 De maio a julho
começa a se configurar a vontade de trazer para o museu, em regime de
de 1981, esteve aberta empréstimo de longo prazo, a Coleção Gilberto Chateaubriand,20 consi- 81
ao público, no MAM
derada, já a essa altura, uma das mais completas coleções de arte nacional
Rio, a exposição
Do moderno ao
no país e que, inclusive, foi exposta pela primeira vez no MAM Rio no ano
contemporâneo – Coleção de 1981,21 indicando a longa relação entre o colecionador e a instituição.
Gilberto Chateaubriand.
A partir de 1985, o museu fechou para uma grande reforma que en-
Era a quinta vez
que o colecionador
volveria também sua reestruturação técnica. Nesse momento, Paulo 22 Apesar de
abria sua coleção ao Herkenhoff, então ocupando o cargo de coordenador de artes, passa a algumas aquisições
público, mas aquela
mobilizar esforços para, por meio de doações e patrocínios, suprir as la- terem ocorrido
foi a maior exposição nos anos que se
da coleção até aquele
cunas identificadas na coleção MAM Rio, em especial a deixada pela falta seguiram, as obras dos
momento. A exposição de obras de artistas dos movimentos concreto e neoconcreto, este último movimentos concreto
marcava, também,
tendo sua história confundida com a da própria instituição.22 Ainda no e neoconcreto
a visita do Conselho ainda são pouco
Internacional
bojo dessa grande reformulação do museu, no ano de 1986, Pedro Vas- representadas no
do Museu de Arte quez é convidado para dar início ao Departamento de Fotografia, Vídeo acervo. Outra lacuna,
Moderna de Nova York
e Novas Tecnologias, que teria como função contar a história dos, até nesse sentido, é a
(MoMA). Gilberto produção de videoarte
Chateaubriand,
então, 150 anos da produção fotográfica nacional e internacional, além nacional, cujas buscas
[Apresentação], de formar uma equipe capaz de expor, preservar e conservar obras fo- por aquisições foram
em Museu de Arte tográficas, vídeos e outras tecnologias que permeavam o fazer artístico empreendidas por
Moderna do Rio de Fernando Cocchiarale
Janeiro, Do moderno
desde a década de 1960. durante sua segunda
ao contemporâneo – gestão como curador
Coleção Gilberto Naquela época ninguém poderia prever os fantásticos desdo- do museu (2016–2020),
Chateaubriand, mas que, infelizmente,
Rio de Janeiro, 1981,
bramentos oferecidos pelas tecnologias de natureza digital, com não chegaram a se
[p. 2], catálogo. o CD Rom se transformando num espaço privilegiado de criação concretizar.
artística e a Internet multiplicando ao infinito as possibilidades
24 Nos anos que
de difusão de imagens, com um alcance superior ao de qual-
se seguiram não foi
quer museu ou instituição congênere. Mas a holografia já havia possível manter uma
sido incorporada por alguns artistas, a primeira câmera digital continuidade no
trabalho de atualização
(a Mavica, da Sony) já era uma realidade e a computer art, apesar
desse acervo, contudo,
de embrionária, deixava entrever desdobramentos fascinantes, no início dos anos
de forma que me parecia muito mais sensato criar não um de- 2000, o colecionador
Joaquim Paiva, que
partamento restrito à fotografia (afinal de contas uma técnica
procurava dar uma
oitocentista) e sim aberto a todas as vertentes da imagem téc- expressão pública à sua
nica, englobando desde aquelas então existentes quanto aquelas coleção, escolheu o MAM
Rio para depositá-la.
ainda por inventar.23
Em 2005 foi assinado
o comodato e
O projeto, tal qual planejado, não permaneceu a longo prazo, mas o in- quatro lotes já foram

tuito inicial da coleção de contar, por meio de seu acervo, a história da depositados no museu,
sendo o último
fotografia se concretizou. Durante o curto período que Pedro Vasquez em 2019. A coleção
esteve à frente do departamento, montou-se um conjunto com cerca de Joaquim Paiva é

3.500 imagens, fruto de intenso trabalho de pesquisa. O resultado reuniu considerada uma
das mais completas
desde exemplares das primeiras manifestações fotográficas de artistas coleções de fotografia
pioneiros de diversas partes do mundo até grandes nomes da produção contemporânea

nacional e internacional do século 20. No ano seguinte, em 1987, a doação nacional e internacional
do país e trouxe
da fotógrafa Hermínia Nogueira Borges, considerada um dos expoen- grande diversidade de
82 tes da fotografia pictorialista no Brasil, trouxe à coleção cerca de qua- artistas e lugares ao

trocentas imagens de sua produção e de outros artistas do Foto Clube acervo do museu, com
significativa presença
Brasileiro,24 algo que acrescentou um importante capítulo da história da de artistas mulheres
fotografia no Rio de Janeiro e no Brasil ao acervo do MAM Rio. Quando e latino-americanos.

o departamento deixou de existir, em 1997, a gestão da coleção passou a Hoje, o MAM Rio tem
sob seus cuidados
ser feita pelo Departamento de Museologia. 2.600 obras que fazem
A segunda metade da década de 1980 marca um importante período parte desse comodato

da história da coleção. É nesse período que passamos a ter, através de e que está prometido
em doação ao museu
importantes doações de artistas, particulares e compras patrocinadas, a após a morte de seu
afirmação de um novo perfil para a coleção, perfil esse que foi seguido por, colecionador.

pelo menos, as duas décadas seguintes. Se adaptando às novas gerações 25 Por conta da
presença da Coleção
e questionamentos da época, mas tendo como foco principal a produção Joaquim Paiva,
nacional contemporânea e a tarefa de preencher as lacunas dos períodos que recebe obras

identificados. Nesse sentido, a busca por dar continuidade à atualização contemporâneas


de diversos países,
da produção nacional vem sendo uma preocupação constante até os dias essa priorização da
atuais.25 Foi nesse período que entraram no acervo, via doação dos pró- produção nacional
23 Pedro Karp
prios artistas, obras significativas da produção nacional em diferentes não se encontra no
Vasquez, Mudando acervo de fotografias
de foco em Museu
períodos, além de obras patrocinadas por grandes empresas ou doadas do museu. Isso se deve,
Histórico Nacional, por galerias e particulares. contudo, ao perfil do
Anais do Museu
Com todo esse movimento, mesmo que de modo mais tímido, alguns colecionador, que
Histórico Nacional, tem participação ativa
Rio de Janeiro, 2000,
grandes nomes internacionais passaram a compor a coleção, chegando a em diversos festivais
v. 32, p. 37. entrar algumas peças clássicas do modernismo, a exemplo do relevo em internacionais.
bronze de Fernand Léger, Femmes au perroquet (193-), e da tapeçaria de Le
Corbusier, Odyssée (1948); bem como peças de artistas sul-americanos já
consagrados, caso da aquarela de Xul Solar, Chaco (1922); e artistas des-
pontando no cenário da arte internacional, representado aqui pelo painel
de Keith Haring, Untitled (1984).
Em outubro de 1989 inaugurou-se a exposição Rio hoje, que marcou
oficialmente a reabertura total do museu após o incêndio. A exposição
contava com pouco mais de 100 obras de 48 artistas brasileiros, mas to-
dos com formação e/ou forte atuação no Rio de Janeiro e com produção
na cidade naquele momento. Embora apresentasse artistas de diferen-
tes gerações e tendências artísticas, as obras expostas eram, em maioria,
produções recentes, sendo datadas da década de 1980, com exceção de
algumas da década de 1970 e das obras de Cildo Meireles, que datavam
da década de 1960. Grande parte do que foi exposto veio da coleção dos
26 Museu de
próprios artistas, mas algo havia da coleção do MAM Rio (inclusive pe-
Arte Moderna do ças restauradas após o incêndio) e de coleções particulares, como a de
Rio de Janeiro,
Gilberto Chateaubriand.26
Projeto – Exposição
Rio hoje, Rio de
Já se falava, naquela altura, de uma decadência cultural da cidade e pre-
Janeiro, [1989], tendia-se contribuir para a reversão desse discurso lançando luzes para a
10 f., projeto.
produção artística local27 paralelamente ao ato de reabertura do Museu
27 Museu de Arte
Moderna do Rio de
de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que esteve fechado para obras por
Janeiro, Listagem três anos.28 Era muito significativa, portanto, a reabertura do museu, local 83
das obras expostas na
ícone da arte moderna e da efervescência cultural da cidade, e a exposição
exposição Rio hoje,
Rio de Janeiro, [1989],
que marcava esse acontecimento deveria ser uma apresentação da inten-
11 f., relação. ção, por parte do museu, de recuperar seu lugar de destaque na vida artís-
28 O vernissage da
tica carioca e brasileira, bem como uma forma de mostrar que seu acervo
exposição contou,
também, com uma
continuaria a receber as mais diferentes gerações e tendências artísticas.
ação da Biblioteca, que Hoje, passados mais de 30 anos dessa reinauguração, vemos o museu,
forneceu biografias de
mais uma vez, buscando se reinventar e colocando novas questões às suas
artistas e informações
sobre a história do
coleções. E se podemos dizer que o acervo do MAM Rio se destaca por ser
museu e a exposição; marcado pelo movimento da arte moderna brasileira e internacional, suas
o Departamento fases, seus atores, seus grupos e tendências, temos também que reconhe-
de Música, então
existente, ofereceu
cer que, no caso de uma coleção de artes visuais de um museu com mais
uma apresentação de 70 anos de história, temos várias camadas de seleções e prioridades
da Orquestra de que cada tempo colocou aos parâmetros de escolha de suas peças. Sem
Cordas Brasileiras; e
a Cinemateca expôs
desprezar a trajetória da instituição e o que caracterizou essas várias ca-
filmadoras antigas de madas que constituem sua coleção, valorizando o processo que acompa-
seu acervo, além de nhou a produção artística do século 20, temos sempre que renovar nosso
exibir filmes clássicos
restaurados. Museu de
olhar para esse acervo, buscando identificar o que nele falta e responder
Arte Moderna do Rio às questões que ele nos coloca. Certamente ainda possuímos lacunas e
de Janeiro, [Release temos nelas uma espécie de motivação para continuar perseguindo o cres-
da exposição Rio hoje].
Rio de Janeiro, [out.
cimento do acervo de modo a torná-lo cada vez mais representativo e con-
1989], 1 f., release. dizente com as questões da arte e da sociedade de seu tempo.
Silvia de Leon Chalreo Margaret Spence
Roda Sem título
Circle Untitled
1950 1945
85
Rubem Valentim
Sem título Carybé
Untitled Cangaceiros
sem data sem data
undated undated
88
Cildo Meireles Ubi Bava
Espaços virtuais: Sem título
cantos 4 Untitled
Virtual Spaces: 1960
Corners 4
1967/1968

89
91

Maria Leontina
Sem título
Untitled
1955
Inimá de Paula
Abstração
Abstraction
1958
Manabu Mabe
Estranho
Strange
1960
Frans Krajcberg
Sem título
Untitled
1963

94
Emanoel Araújo
Sem título
Untitled
sem data
undated

95
96

Heitor dos Prazeres


Sem título
Untitled
1951
Yara Tupynambá
Sem título
Untitled
1968
Lula Cardoso Ayres
Xangô
1951
Ivan Morais
Baianas
1960

99
Elisa Martins
da Silveira
Carnaval
Carnival
1952

101
Conjuntos universos

LENO VERAS
Mnemosyne, a deusa da memória na Grécia antiga, é também a mãe das
nove musas, entidades mitológicas da cosmogonia grega às quais se atri-
bui a capacidade de inspirar a criação artística e científica. Ela antropo-
morfiza a arte da memória, prática que busca associar imagens e lugares,
técnica vital para as sociedades anteriores à da reprodutibilidade técnica
e reconhecida como matriz fundadora da sistematização do conheci- 103
mento no período clássico.
Segundo o mito, as musas se reuniam em uma morada denominada
mouseion. Do termo em grego arcaico originou-se a palavra moderna mu-
seu, cujo significado, entre outras acepções, corresponde a coleção ou ex-
posição de objetos variados dispostos em conformidade com um tema,
uma faixa de tempo ou critérios subjetivos. A palavra foi empregada pela
primeira vez para conceituar a Biblioteca de Alexandria, destruída em
640 d.C., quando o vocábulo entrou em desuso no Ocidente.
Somente no fim da Idade Média é que nos “gabinetes de curiosidades”,
ou “quartos das maravilhas”, o colecionismo retoma configurações me-
morialistas sistematizadas sob metodologias expositivas. Nestes casos,
tais metodologias estavam fortemente atreladas às retóricas imperialis-
tas e muitos dos agrupamentos estavam a serviço da difusão dos imaginá-
rios construídos pelos colonialismos – que ainda hoje são reforçados por
instituições de salvaguarda que deveriam, em vez disso, direcionar ações
de restituição e reparação.
Contudo, a profusão de coleções dá-se somente a partir dos oitocen-
tos, quando os relicários e tesouros, mantidos pelos poderes eclesiásticos
e casas reais, passaram a operar em escala global. Emerge desse cenário
de circulação cultural a prática do desenvolvimento de espaços de pre-
servação de bens tangíveis e simbólicos. O que, a um só tempo, retoma
a mnemônica como arte e refunda a noção de museu, à luz da matriz de
pensamento renascentista, por meio da profusão de conjuntos de obje-
tos cujas categorizações tornam-se distintivas ao longo de sua profícua
ramificação nos séculos posteriores.
É sobretudo desde essa disseminação de coleções no período ilumi-
nista que a mnemotécnica, enquanto exercício de arquitetura da memó-
ria por meio da associação de imagens mentais e lugares virtuais, passa
a ser concebida como instituição – ainda que bastante praticada como
método memorial a serviço da retórica, desde milênios antes do advento
dos meios digitais. Consolida-se a lógica da coleção como estrutura dis-
cursiva, sob a égide das classes dominantes, enquanto mecanismo de
difusão pública com o intuito de comunicar socialmente determinados
conteúdos sob recortes específicos.
Já o século 20 vivenciou o estabelecimento da museologia como campo
do conhecimento. Esse processo foi catalisado pela impossibilidade de
uma área transdisciplinar esquivar-se das discussões acerca das relações
entre salvaguarda de patrimônio e exercício do poder. Nos anos 1970,
instaurou-se um intenso debate público, com centralidade na América
do Sul, que tinha como cerne a ampliação epistemológica do campo de
pesquisa e como intenção a reestruturação de suas teorias e metodologias.
Tais processos intensos se deram tectônicos em período tão curto e
104 conturbado, e incidiram sobre essa área do saber de maneira irreversí-
vel, chegando à proposição de nomenclaturas como “nova museologia”,
prova da expansão de perspectivas pelas quais esses dispositivos vêm a
ser percebidos. Tornou-se possível – intensamente e vertiginosamente,
sobretudo após o advento das tecnologias de informação e comunicação –
uma interação efetiva com estratos sociais até então completamente ali-
jados dos processos de musealização, pelo que os acervos passaram a ser
ativados como repositórios com a missão de constituir coletivamente a
memória social, em vez de estigmatizados como inventários estanques
de discursos patrimonialistas.
Emerge desse cenário, pois, que a transmissão dos significados por-
tados pelas coisas do mundo é a potente dinâmica do engendramento de
novos entendimentos, conservando e recriando conhecimentos. Tendo
em mente esta premissa, e tendo em vista que a potência de um acervo
enquanto universo fechado (ainda que em expansão) é que cada conjunto
de peças é capaz de multiplicar-se por meio de uma combinatória expo-
nencial quando há o encontro com estruturas sígnicas através da colisão
e coalizão com outras coleções, a exposição A memória é uma invenção
dedica-se, justamente, a ocasionar espaço e tempo para a convergência
de matrizes de culturas materiais diversas, tendo, desse modo, a função
de propor-se à busca de um denominador comum sobre o qual podem
arvorar-se inúmeras equações.
Ao questionar sobre os possíveis diálogos que podem ser engendrados
a partir de sistemas de conexão entre obras de arte e artefatos, objetos e
documentos – tais como as coleções do Acervo da Laje, do Instituto de
Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros e do Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro –, investigamos quais são as potências de uma coleção, as
razões de sua constituição e os desdobramentos da continuidade de seus
fluxos. Tendo em vista as particularidades de nosso tempo e espaço – o
Brasil do começo do século 21 – e as mudanças pelas quais a contempo-
raneidade nos confronta a cada dia com a memória, encontramos um
processo em plena metamorfose, como eixo estruturante da cultura.
Para a organização desta publicação, lançamos mão da montagem
enquanto método de trabalho. Através da qual foi possível compor uma
amálgama de escritos de pesquisadores contemporâneos expoentes nos
campos da memória, história e do patrimônio. Vozes se articulam numa
polifonia que pretende sinalizar algumas abordagens aguçadas no que diz
respeito às questões que emergem desse debate a partir de experiências
brasileiras, latino-americanas e sul-globalistas do tempo presente.
Através desta interlocução, almejamos engendrar justaposições e con-
trapontos, ora esgarçando e ora costurando repartições e intersecções
dos pontos de vista que integram este pensamento que se pretende axial
em vez de linear. Ser limítrofe, dessa maneira, torna-se característica
comum, sendo, assim, possível dar conta de que os avizinhamentos são 105
preciosas possibilidades de construir composições adensadas em que um
ponto relaciona-se com várias linhas e variados planos em um mesmo
espaço-tempo. Constelar saberes e fazeres que vertem dos acervos é
dar a ver – antes de mais nada e além de tudo – a relevância das institui-
ções de salvaguarda, como arquivos, bibliotecas e museus, em defesa de
sua maior capacidade de recriação. Parafraseando o grande poeta Waly
Salomão, a memória é uma ilha de invenção.
106
107
108
109
Tiganá Santana
TRADUÇÃO, INTERAÇÕES E COSMOLOGIAS AFRICANAS

As cosmologias negras às quais podemos As pessoas de reflexão e ponderação, em geral,


recorrer, dentro das nossas reflexões e da jamais acreditaram, genuinamente, na força
densidade da nossa carne, são, simultanea- dessas epistemologias, negligenciando-as.
mente, emanações ancestrais, instantes no Poderiam fazer perguntas melhores agora e
presente e devir. Não se trata daquilo que ter desenvolvido a capacidade de receber da
não podemos manifestar e realizar, mas, vida as múltiplas respostas, na e da diferença,
ao contrário, daquilo que, se não incorpo- no contexto da radicalidade real do mundo.
rarmos hoje, no Brasil, e não colocarmos A vida poderia ser mais biose do que pro-
ao lado dos saberes nativos das florestas tocolo e exclusiva efígie de pensares euro-
ameríndias, deixar-nos-á, necessariamente, -centrados. A hierarquia entre as culturas, a
mergulhar no profundo poço da repetição prática discriminatória, as violências assi­
irrepetida de uma colonização, mais do que métricas, a continuidade, enfim, do projeto
antinegra, ontológica. de uma ideologia hegemônica, por seu grau
Ao pensarmos em cosmologias negras, de parentesco com o humanismo europeu,
concedemos que se construíram outras ma- prevaleceram, sob várias formas e intensi-
110 trizes, por meio dos fluxos diaspóricos, ou dades, inclusive, entre aquelas pessoas que,
seja, não temos nas Américas, se quisermos, discursivamente, num sentido mais amplo,
apenas fragmentos e vestígios de narrativas condenam as históricas subalternizações
existenciais egressas de partes do continente exercidas por um certo Ocidente que in-
africano. Urdiram-se novos sistemas, lingua- ventou as raças e os seus lugares e valores
gens, novas materialidades, imaterialidades respectivos.
e impermanências; fizeram-se, conforme A experiência radical a ser vivida diante de
nos lembra Paul Gilroy, criações inacabadas. Outrem, sem pulsão ou razão que o aniquilem,
Negro e negra concernem a uma reto- ou, no limite, quando as éticas do dizer for-
mada da subjugação encaixada na palavra mam o cenário onde atuamos e isso é previsto
para que, numa radical entorse, proponha- por certos sistemas, estamos diante de outra
-se o seu revés como potência pospositiva ao proposta de experiência humana, em que o
ato. Atualmente, o desastre que vivemos no humano, assim como as várias formas de ser,
país, na sua dimensão, sobretudo, institucio- é vetor de força que surge das tranças, redes e
nal, também se deve ao acirramento da igno- conjunções. Não cabe aqui conceber, em ne-
rância em relação às mundividências negras nhuma instância, que algo unitário gerara o
e indígenas em todos os setores desse com- complexo. Pensar numa origem, de qualquer
plexo que chamamos de sociedade brasileira. ordem, é pensar numa relação originária.

Tiganá Santana, “Tradução, interações e cosmologias Africanas”, Poiéticas não europeias em tradução, 2019,
v. 39, n. esp., pp. 65-77. Disponível em <https://www.scielo.br/j/ct/a/YyRsqcM99x8h8GCwcWztKRG/?for
mat=pdf&lang=pt>, acesso em 11 out. 2021.
111

Vista da exposição
View of the exhibition

Chico Tabibuia
Exu Sapo
Exu Frog
1992
Vista da exposição
View of the exhibition

Ray Bahia
Obras sem título
Untitled works
2010

Abdias Nascimento
Pomba Gira, fêmea
de 7 Exus
Pomba Gira,
Female of 7 Exus
1970

112
Jorge Vasconcellos
A LANÇA E O ARCO,
OU POR UM DEVIR QUILOMBISTA DA ARTE

Neste dia, há justos 325 anos, em um 20 de lugar/sítio e espaço/tempo, em ações e prá-


novembro de 1695, Zumbi era traído por um ticas estético-políticas, sejam elas nos ati-
dos seus, emboscado, assassinado e decapi- vismos contemporâneos (o feminismo ne-
tado por Domingos Jorge Velho... e Palma- gro/as lutas indígenas de nossa atualidade)
res caía. Entretanto, seu legado e de todxs ou na arte contemporânea (nas artes visuais,
xs quilombolas palmerinxs permanece co- nas ações performáticas, no cinema de guer-
nosco em ideia e força, articulando o que é rilha, nas literaturas insurgentes).
aqui chamado de Quilombismo. O Quilombismo é, em nossa perspec-
O Quilombismo não é apenas um mo- tiva, um devir-quilombista. Falaremos e
mento histórico do Brasil ou mesmo uma clamaremos nesta intervenção por um de- 113
ideia que se perdeu... Trata-se, antes disso, vir-quilombista da arte. Justamente, neste
de uma força motriz do Povo Preto (negrxs/ devir-quilombista da arte, negrxs-indígenas/
indígenas) brasileiro. Foi e é contrapoder indígenas/negrxs tomam de assalto a casa-
ao processo encarcerador dxs negrxs es- -grande da arte contemporânea, produzindo
cravizadxs nas Américas, fruto da diáspora aquilombamentos e aldeamentos das gale-
atlântica forçada pelo colonialismo, espe- rias/feiras/bienais do mercado capitalista
cialmente dos séculos 17 e 18. E campo de neoliberal das artes... e não só! Isso porque
lutas ao extermínio necropolítico de negrxs esse devir-quilombista é crítica e é clínica
e indígenas. aos poderes instituídos, já que se apresenta
O Quilombismo é pensamento negro- duplamente: como forma de contrapoder; e
-brasileiro nas obras de Abdias Nascimento, como produção de acolhimento e invenção
Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Mestre de outros modos de compor práticas artís-
Nêgo Bispo e, também, abertura possível ao ticas e existências a partir de procedimen-
pensamento de Ailton Krenak e Davi Kope- tos coletivos, comunitários, colaborativos...
nawa. Mas também é possível ser pensado àquelxs que se deixem atravessar por esses
e atualizado em processos e linhas de força devires. “O devir-quilombista da arte é ma-
que chamaremos de devires. Estes devires nual (aberto) de autodefesa do Povo Preto ao
são aquilombamentos e aldeamenteos em campo das artes.”

Jorge Vasconcellos, “A lança e o arco, ou por um devir-quilombista da arte”, Farol, 2021, v. 17, n. 24, pp. 39–44.
Disponível em <https://periodicos.ufes.br/farol/article/view/36353>, acesso em 8 out. 2021.
114
115
Sabrina Moura
MUSEUS, IDENTIDADES E GESTOS POLÍTICOS
NA AGENDA DAS RESTITUIÇÕES

Um ano mais tarde, uma reunião solene no 1965 a 1997] e Macron partilham uma visão
Palais de l’Élysée em Paris marcava a entrega de arte e patrimônio que merece ser objeto
de um relatório elaborado por Felwine Sarr de escrutínio. Especialmente quando as
e Bénédicte Savoy a Macron [o presidente teorias que sustentam as recentes revisões à
da França] e o início de um debate público história da arte apontam uma redefinição de
acerca do processo das restituições. O do- seus objetos e de seus sujeitos.
cumento, intitulado “Rapport sur la restitu- A historiadora da arte Zoë Strother foi
tion du patrimoine culturel africain”, reco- uma das vozes a questionar a noção de “arte”
mendava categoricamente que certas obras que sustenta os argumentos de Sarr e Savoy
pertencentes às coleções francesas deveriam a partir de suas pesquisas com as perfor-
retornar aos seus territórios de origem. Para mances mascaradas entre os Pende orien-
seus autores, falar de restituições significa tais (região sudeste do Congo). Descritas
“reabrir o ventre da máquina colonial e a por Strother como um complexo encadea-
116 questão da memória duplamente apagada mento de ações que englobam a memori-
dos europeus e africanos de hoje, que muito zação de músicas e provérbios, a aprendi-
desconhecem como os seus prestigiados mu- zagem de técnicas de dança, bem como o
seus foram construídos, ou lutam para en- domínio de uma série de protocolos ritua-
contrar o fio de uma memória interrompida”. lísticos, não se restringe à cultura material
Uma das passagens do texto mais citadas ou à materialidade do artefato. Ao focar
pela imprensa (e pelo debate acadêmico) se somente no objeto, considera-se apenas as
refere à constatação de que “quase todo o máscaras utilizadas nessas performances
patrimônio material dos países africanos como sendo arte. “Uma visão tão seletiva
ao sul do Saara é preservado fora do conti- do que constitui patrimônio cultural perpe-
nente africano”. tua o paradigma colonialista de que os feitos
Separados por um arco temporal de mais culturais africanos devem ser definidos por
de quatro décadas e fruto de posicionamen- critérios europeus”, pondera Strother. Sob
tos distintos – a expressar, por um lado, a de- esses termos, a visão de arte e de patrimônio
manda, e, por outro, o compromisso de res- contemplada pelas políticas de restituição
tituição –, Mobutu [Sese Seko, presidente da advogadas por Mobutu e Macron encon-
República Democrática do Congo/Zaire de tram um terreno comum.

Sabrina Moura, “Museus, identidades e gestos políticos na agenda das restituições”, em Paulo de Freitas Costa e
Ana Cristina Moutela Costa (orgs.), Identidades paulistanas. Cadernos da Casa Museu Ema Klabin, 2020, v. 2, pp.
24-35. Disponível em <https://emaklabin.org.br/download/cadernos-da-casa-museu-ema-klabin-identidades-
paulistanas/?wpdmdl=132841&refresh=6153680cd006f1632856076>, acesso em 11 out. 2021.
Vista da exposição
View of the exhibition

Cildo Meireles
Espaços virtuais:
cantos 4
Virtual Spaces:
Corners 4
1967/1968
118
Judite Primo
MUSEUS, HIBRIDAÇÃO CULTURAL E
NOVAS TERRITORIALIDADES

A questão fundamental no campo da me- [...]


mória coletiva e do seu tratamento pela mu-
seologia é de reconhecermos que ela cor- O novo museu, nas suas diferentes formas
responde apenas a uma maneira possível, e tipologias, ao trabalhar com o social pre-
dentre outras, de estabelecer espaços de or- tende responder aos dilaceramentos da vida
ganização e de evocação das referências cul- cultural e social. O social é então totalmente
turais coletivas ao serviço do conhecimento reinvestido na vida das comunidades, tor-
e do desenvolvimento sustentado de siste- nando-se o objeto das ações culturais. 119
mas de administração da memória. Não importa discutir quanto o museu,
O museu foi se transformando num cen- consciente ou inconscientemente, produz
tro de expressão da dinâmica social dos gru- e afirma a ordem estabelecida do presente,
pos que trabalhavam a partir da memória e importa reconhecê-lo como um aparato
das referências do passado para a constru- ideológico do Estado com funções legiti-
ção da sua identidade. madoras para proporcionarem diferentes
A ideia de um novo tipo de museu, mais so- usos da cultura. No entanto, é importante
cializador e dialógico, torna-se incômoda por- reconhecer um outro movimento museoló-
que isso implica abolir ativa e continuamente gico que segue o caminho do contrapoder,
os desvios entre a realidade econômica e tec- onde mais que buscar legitimar a ordem
nológica e a maneira de pensar e viver essa estabelecida, os museus buscam questio-
realidade. O trabalho social ganha nova pers- nar sobre a memória social e os processos
pectiva ao se investir na memória do social. de patrimonialização, tornando-se tam-
Essa nova museologia convoca os sujei- bém instrumento que permite àqueles
tos sociais a intervir ativamente e a resistir que estão preocupados com a construção
aos determinismos da história dos heróis e do presente negociarem e articularem, de
do passado glorioso que exclui suas habili- forma consciente, uma nova relação com
dades e seus conhecimentos. o passado.

Judite Primo, “Museus, hibridação cultural e novas territorialidades”, Cadernos de Sociomuseologia, 2013, v. 46,
pp. 17-28. Disponível em <https://doi.org/10.36572/csm.2013.vol.46.02>, acesso em 8 out. 2021.
Marcelo Campos
ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA NAS FRONTEIRAS
DO PERTENCIMENTO

Torna-se importante ressaltar que, para a ver- ser considerado o fato de que são esses os
tente modernista, um dos pontos mais desta- homens de elite que selecionam o que deve
cados era a construção de uma memória co- ou não constituir um conjunto importante
letiva. Portanto, nas políticas nacionalistas para a construção do sentido de tradição e
do modernismo está presente a construção de memória nacional. Ao contrário, a legi-
120 de uma memória homogênea a partir da cul- timidade do patrimônio é entendida como
tura popular. Os esforços para criar um todo realidade transcendente.
homogêneo ficam explícitos nas políticas pa- Em contraposição a essa ideia homogê-
trimoniais, interessadas em salvaguardar as nea sabemos que, se a realidade é processo
heranças culturais brasileiras. construído, a memória também se coloca
A memória nacional, segundo intelec- como um de seus itens. Cria-se, através da
tuais e políticos, torna-se fator fundamen- memória, uma relação na qual a “cultura
tal para a sobrevivência da nação brasileira constrói e vive sua temporalidade”. Mas o
como “civilização”. Constrói-se, dessa forma, sentido de passado é reelaborado entre o
aquilo que José Reginaldo Santos Gonçalves modernismo e a contemporaneidade, ora
classificou como “a retórica da pedra”. O au- como negação a referências contextuais
tor enfatiza que na gestão de Rodrigo Mello (formalismo), ora como afirmação de ele-
Franco de Andrade, no Serviço do Patrimô- mentos identitários.
nio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN),
a preservação de objetos e monumentos era [...]
qualificada como condição primordial con-
tra o comércio clandestino, o perecimento A contemporaneidade parece nos apontar que
do tempo e a indiferença da população. a intertextualidade, a hibridação e a fragmen-
O que deve ser destacado é que o discurso tação vieram aceitar uma reinvenção concei-
da perda, proferido por esses intelectuais, tual polissêmica. Aqui, como na América
considera o patrimônio a partir de “um pro- Latina, o valor conceitualista do objeto de
cesso histórico objetivo”. Com isso, deixa de arte hibridiza-se com questões políticas
e ideológicas, reinterpretando a frieza mostra que essa alteridade, geograficamente
tautológica do conceitualismo internacional. longínqua, pode estar localizada nas cidades
Vivemos, no Brasil, desde a década de 1960, e nas periferias, e, mais do que isso, na sub-
um pluralismo sociocultural que faz das artes jetividade de cada artista. Configuram-se,
um dos tecidos possíveis num emaranhado de assim, as cidades com suas vozes indistin-
retalhos a que podemos chamar de realidade. tas, celebrando a memória em tribos e tipos
Se a estética modernista pôde nos ofe- urbanos de heterogênea coletividade. Vozes
recer a grandeza da descoberta de um Bra- muito diferenciadas naquilo que podemos
sil interiorano, a cena contemporânea nos denominar identidade.

Marcelo Campos, “Arte contemporânea brasileira nas fronteiras do pertencimento”, Arte & Ensaios, 2007, n. 15,
pp. 106-115. Disponível em <https://www.ppgav.eba.ufrj.br/wp-content/uploads/2012/01/ae15_Marcelo_
Campos.pdf>, acesso em 6 out. 2021.

121
Denilson Lopes
PARA ALÉM DE CARMEM MIRANDA: O CAMP VIVE

A força do protagonista [do filme Madame e panorâmicos de João Carlos Rodrigues e


Satã (2002), de Karim Aïnouz] está em que- Joel Zito Araújo.
rer ser livre, homem, mulher, madame e Sem cair em classificações estanques,
Satã. Assumir o nome num desfile de Carna- guetos, nem apagar todos os sinais e marcas
val, ao fim do filme, é um gesto de afirmação da dor e da injustiça social, Madame Satã,
122 de uma identidade pela máscara, pelo jogo o filme, faz da raiva uma abertura para a
constante na vida e no palco, longe da alegria, nunca para o mero ressentimento.
folclorização e da ridicularização de que fo- A transgressão não está em discursos infla-
ram e são vítimas homossexuais e travestis mados, mas no próprio corpo do protago-
até hoje, como, por exemplo, em programas nista. Sua afronta não precisa de palavras.
de auditório na TV. Basta sua vida, a que somos lançados pela
Sem temer a afetação, a desmunhecação, abundância de closes e planos fechados. So-
o camp é uma forma mesma de resistência mos jogados à sua presença, numa espécie
a um padrão bem comportado de gay de de sedução sem escapatória. Não podemos
classe média, integrado à sociedade con- desviar o olhar; não podemos fingir que não
servadora de consumo em que vivemos. vemos. Tudo está lá, direto, na nossa cara: o
Também estamos bem distantes dos papéis preconceito e a alegria. Não há conciliação
servis que os negros desempenharam com com o público nem com a sociedade. Os in-
tanta frequência na dramaturgia brasileira, comodados que saiam do cinema, pois essa
o que é confirmado por recentes trabalhos Madame veio para retomar o seu lugar sem
sobre suas representações no cinema e na pedir licença. Ela é nosso assombro e nossa
televisão, na esteira dos trabalhos históricos cara, queiramos ou não, gostemos ou não.

Denilson Lopes Silva, “Para além de Carmem Miranda: o camp vive”, em Instituto Mesa e Luiz Camillo
Osório, Flipping. Revisitando Pop: estética e política nas Américas 1967-2017, Rio de Janeiro: Programa de
pós-graduação em artes da cena-UFRJ, 2017, pp. 50-59. Disponível em <https://www.ppgac-ecoufrj.com.br/
publicacao/denilson-lopes-silva/390>, acesso em 8 out. 2021.
Vista da exposição
View of the exhibition

Adilson Baiano
Paciência
São Pedro
Saint Peter
sem data
undated

Chico Tabibuia
Exu Sapo
Exu Frog
1992

José Heitor da Silva


Raízes
Roots
1983

Julio Gero
Inti
1962

123
124
125
Vista da exposição
View of the exhibition
Ceiça Ferreira
AUSÊNCIAS SIGNIFICANTES: GÊNERO E RAÇA NO FILME
E NO LIVRO CAPITÃES DA AREIA

Do universo amadiano salta um conjunto di- Com base em um corpus de 258 obras li- 1 Sueli Carneiro,
“Identidade feminina”,
ferenciado de personagens femininas. Mu- terárias publicadas entre 1990 e 2004, Dal- em Heleieth I. B.
lheres ricas, pobres, devassas, pudicas, sen- castagnè4 constata a predominância de um Saffioti e Monica

suais e valentes que ganham novas versões ponto de vista branco e masculino, já que Muñoz-Vargas (orgs.),
Mulher brasileira é
na cinematografia nacional e se mantêm em homens brancos somam 72,7%. Enquanto assim, Rio de Janeiro:
nosso imaginário. Mas seguindo a orienta- a participação negra é de apenas 2,4% e Rosa dos Tempos e

ção da filósofa e ativista Sueli Carneiro1 em ainda circunscrita aos estereótipos de po- NIPAS, Brasília: Unicef,
1994, pp. 187-194.
sua crítica da noção de identidade feminina, breza, criminalidade, emprego doméstico e 2 Djamila Ribeiro,
vale questionar: “De que mulheres esta- prostituição. O que é lugar de fala?,

mos falando?”. Do filme Capitães da areia (dirigido por Belo Horizonte:


Letramento;
Tal questionamento confirma a necessi- Cecília Amado, neta do escritor) emerge Justificando, 2017.
dade de reconhecer o lugar de fala,2 ou seja, a capacidade da capitã Dora jogar com as 3 Stuart Hall,

a experiência histórica diferenciada das identidades de gênero; da prostituta Dalva “A centralidade da


cultura: notas sobre as
mulheres negras na sociedade brasileira en- subverter o olhar masculino e da mãe de revoluções culturais
quanto sujeitos sociais que têm vivenciado santo Aninha representar a centralidade das do nosso tempo”,

a intersecção do racismo, do sexismo e da mulheres negras na religiosidade afro-bra- Educação & Realidade,
jul./dez. 1997, v. 22,
desigualdade social nas práticas cotidianas sileira. No entanto, embora ausentes dessa n. 2, pp. 15-46; em
e na produção simbólica [...]. adaptação cinematográfica, as “negrinhas do Tomaz Tadeu da Silva

Diante da estreita relação entre os sis- areal” são caracterizadas na ficção amadiana (org.), Identidade e
diferença: a perspectiva
temas de representação e os processos de somente como objeto sexual, são corpos que dos estudos culturais,
construção de identidades,3 vale atentar-se os capitães da areia usavam, mediante o uso Petrópolis: Vozes,

para a natureza discursiva da imagem oficial da força e sem pagamento. Portanto, pelas 2000, pp. 7-72.
4 Regina Dalcastagnè,
do Brasil, naturalizada no imaginário cultu- ausências que significam e pelos silêncios “Entre silêncios
ral brasileiro e disseminada pela literatura, que ressoam constata-se, no filme e no livro, e estereótipos:

pelo cinema e pelos meios de comunicação a reprodução de uma imagem romantizada relações raciais na
literatura brasileira
em geral. da convivência inter-racial brasileira. contemporânea”,
Estudos de
Literatura Brasileira
Ceiça Ferreira, “As mulheres de Jorge Amado: gênero e raça no filme e no livro Capitães da areia”, Comuni- Contemporânea,
cação & Inovação, 2021, v. 22, n. 48, pp. 151-168. Disponível em <https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ jan./jun. 2008, n. 31,
comunicacao_inovacao/article/view/6419>, acesso em 8 out. 2021. pp. 87-110.
Maria Thaís
SER FLORESTAS, E NÃO POMAR

[...] as práticas artísticas, antes de se consti- a campo, as trocas e as tentativas de somar


tuírem como formas estéticas, como obras uma tradição à outra nos revelam um fosso
ou produtos, traduzem as diferentes for- cheio de interrogações e de reconhecimento
mas de existência (de ser – as ontologias) de responsabilidades mútuas, a imensurável
e produzem, a partir delas, diferentes for- lacuna entre dois mundos, o paradoxo de
128 mas de conhecimento (outras epistemolo- que fala a antropóloga Els Lagrou, “já que
gias), que exigem diferentes formas de fazer não partilhamos das mesmas noções de arte”
(outras tecnologias). e eles “parecem representar, no que fazem e
É importante destacar que as relações valorizam, o polo contrário do fazer e pensar
que indagamos aqui encontraram respos- do Ocidente neste campo”. 1
tas singulares na práxis de inúmeros grupos
e companhias e na produção de artistas in- Por que insistimos tanto e durante tanto
dependentes pelo país afora, visto que são tempo para participar desse clube, que
inúmeras as tentativas de diálogo entre os na maioria das vezes só limita a nossa
processos criativos e as formas tradicio- capacidade de invenção, criação, exis-
1 Els Lagrou, “Arte
nais. Porém, nossas observações dirigem tência e liberdade? Será que não estamos
ou artefato? Agência
e significado nas artes
seu olhar para os processos formativos. E sempre atualizando aquela nossa velha
indígenas”, Revista mesmo na produção artística, a partir das disposição para a servidão voluntária? 2
Proa, n. 2, v.1, 2010,
nossas experiências, constatamos que uma
p. 1. Disponível em
<https://www.ifch.
aproximação de tal natureza é um caminho Os processos formativos nem sempre con-
unicamp.br/ojs/index. cheio de equivocações mútuas, que con- sideram que, em nome de uma mestiçagem,
php/proa/article/
fronta interesses, exige acordos, um diálogo que esconde um processo de desigualdade
view/2385>, acesso em
30 nov. 2021.
franco com os guardiões destas tradições, estrutural, conformam coletivos em mais
2 Ailton Krenak, pois não estamos imunes às relações colo- uma “comunidade imaginada”, a brasileira,
Ideias para adiar o fim
nialistas, de dizimação, de extrativismo no- a vida social no país é construída “de forma
do mundo, São Paulo:
Companhia das
civo. Se consideramos legítimo nosso de- mais ou menos contingente, tanto através
Letras, 2019, p. 13. sejo de aproximação como artistas que vão da ação política e bélica quanto por meio da
narrativa capaz de cunhar, no plano discur- senão como objetos ou figurantes”.4 Como
sivo, a identidade comum”.3 também soam uníssonas na hierarquização
O que nos parece evidente é que as vo- de modelos, o que denuncia um privilégio
zes que legitimam essa identidade cultural de perspectiva, produzindo um silencia-
comum, ainda que tenham origem diver- mento que reforça certos mecanismos e
sas, “parecem uníssonas quando se trata ideias universalistas (ou coloniais), e ainda
das vozes que se pretende apagar, dos cor- que não se instaurem explicitamente, cons-
pos que serão retratados em segundo plano, troem um fundo comum, uma mentali-
não identificados com sujeitos históricos, dade estruturante.

Maria Thaís Santos, “Ser florestaS, e não pomar”, em Ailton Krenak e outros, Arte, Cultura e Democracia
no Século XXI, Belo Horizonte: Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, 2019, pp. 47-51 (Cul-
tura e pensamento).

129

3 Sergio Costa,
“A mestiçagem e seus
contrários: etnicidade
e nacionalidade no
Brasil contemporâneo”,
Tempo Social, maio
2001, v. 13, n. 1, p. 145.
4 Texto de
apresentação do
projeto Territórios de
resistência – narrativas
em disputa, realizado
no Sesc Ipiranga,
em parceria com o
Museu Paulista, de
maio a julho de 2019.
130
Carolina Pedreira
IRMÃS DE ALMAS: RITUAIS DE LAMENTAÇÃO
NA CHAPADA DIAMANTINA

Eu não sei ler, por que eu não sei a leitura?


A cabeça não deu...
Agora assunta, por que que a minha cabeça não deu para a leitura?
E tem tanta reza?
E como é isso? 131

Dona Véa de cabuquina

Não pude responder à pergunta de dona Véa É fato que nessa pergunta estão em jogo
no dia em que ela me foi dirigida. Por mais que minha posição de pesquisadora branca,
o treinamento disciplinar tenha me habilitado vinda da capital para entender uma devoção
a conferir o mesmo status de conhecimento da quase sempre de incumbência e proteção de
teoria antropológica ao que se costuma cha- mulheres negras, mestras, e o lugar de uma
mar de teoria nativa, nenhuma dessas palavras senhora que tanto rezou em sua vida, mas
fazia sentido naquela ocasião. Poderia, por que nunca pôde ler o caderno da missa do-
outro lado, ter lançado mão de explicações so- minical na igreja. Em nosso abismo, porém,
cioeconômicas sobre programas governamen- dona Véa e eu compartilhamos a mesma in-
tais de alfabetização ou do privilégio (ou falta quietação: como pode haver um mundo em
de) de algumas classes em relação a outras no que a palavra escrita em forma de texto vale
acesso a direitos primordiais. Mas não parecia mais do que a falada como reza ou rezada
ser sobre isso que dona Véa me arguia. como canto?

Carolina Souza Pedreira, Irmãs de almas: rituais de lamentação na Chapada Diamantina (dissertação). Univer-
sidade de Brasília, 2010. Disponível em <https://repositorio.unb.br/handle/10482/7261>, acesso em 6 out. 2021.
Vista da exposição
com obras de
Indiano Carioca
View of the exhibition
with works by
Indiano Carioca
Naine Terena e Benedito Dielcio Moreira
COMUNICAÇÃO E CULTURA: DIMENSÃO PEDAGÓGICA
DAS NARRATIVAS INDÍGENAS EM AUDIOVISUAL

Ao buscarmos a história da humanidade No mundo contemporâneo, assistimos


vamos encontrar grupos e sociedades em desde o início do século 20, timidamente
tempo e espaços únicos, construindo e pro- em sua fase inicial, até alcançar a sua força
pagando suas culturas nos ritos e nas tecno- avassaladora nos anos 1960 em diante, ao
logias de cada época e lugar. que foi então chamado de cultura das mas-
Ao tempo em que a cultura se constrói sas, uma eficiente indústria cultural, no di-
também pela comunicação, esta se materia- zer dos frankfurtianos, em que essa “estra-
liza como tal na própria expressão da cultura. nha” conexão entre cultura e comunicação
Antes da internet, da televisão, do cinema e se mostrou tão evidente. Ao mesmo tempo
da fotografia, até mesmo da palavra escrita, em que a cultura de massa se industrializava
imagens fixas em cavernas e totens – estes ao e sufocava manifestações culturais tradicio-
mesmo tempo expressões de uma cultura e nais, surgiam movimentos de valorização 133
meios de comunicação – e sons articulados em de culturas locais cujas estratégias de valori-
dialetos de uma cultura edificada, propagada e zação estavam e estão centradas, sobretudo,
reconstruída pela comunicação oral já indica- em ferramentas de comunicação.
vam que tanto as práticas culturais quanto as
de comunicação são socialmente construídas. [...]
Os meios de comunicação, todos eles, as-
sim como seus conteúdos, são utilizados na As comunidades indígenas, como de resto
construção de mundos, são discursos da cul- todos os agrupamentos sociais ao longo da
tura: de um desenho a uma máscara; de um história, tiveram e têm seus modos de vi-
conjunto de sons em um ritual a uma melo- venciar e de transmitir suas culturas. Hoje,
dia; de uma pintura barroca a uma imagem lançar mão de aparatos digitais e eletrônicos
na minúscula tela de um celular; de um pro- de comunicação para documentar suas his-
vérbio popular a slogans publicitários, ou do tórias e culturas é tanto um esforço de pre-
editorial de um jornal à trama de uma tele- servação e propagação como de intervenção
novela, por exemplo. na própria cultura.

Naine Terena de Jesus e Benedito Dielcio Moreira, “Comunicação e cultura: dimensão pedagógica das narra-
tivas indígenas em audiovisual”, em Naine Terena de Jesus e Paulo Sergio Delgado, Povos indígenas no Brasil:
perspectivas no fortalecimento de lutas e combate ao preconceito por meio do audiovisual, Curitiba: Brazil Publi-
shing, 2018, pp. 81-98. Disponível em <https://ufmt.br/povosdobrasil/images/Povos_Indigenas_no_Brasil.
pdf>, acesso em 22 nov. 2021.
Casé Angatu
INDÍGENAS IDENTIDADES PAULISTANAS

Alguns se surpreendem ou até negam a pos- [...]


sibilidade de a capital paulista ser também
uma cidade indígena, composta de memórias, A cidade está cheia de vestígios, territórios,
identidades e territorialidades originárias. memórias indígenas, negras e populares na
Certas pessoas desconhecem até mesmo a forma de falar, andar e nos nomes de lugares.
existência de aldeias e territórios indígenas Porém, para percebê-los é necessário deco-
no município paulistano. No entanto, ponde- lonizar os olhares e espíritos. Trata-se de
ramos que São Paulo nunca deixou de ser tam- reconstruir decolonialmente as narrativas
bém o que denominamos como a indígena históricas. O negacionismo de nossas histó-
Tabatatyba (“aldeia de vários povos”), outrora rias por parte dos donos do poder político e
denominada como Piratininga (“peixe seco”). econômico, além de uma certa elite intelec-
Andando por São Paulo, além dos indí- tual, não envolve só o passado como também
genas das aldeias guaranis localizadas na o presente e o futuro.
cidade, percebemos que muitos de seus mo- Eles continuam negando não só nossas
radores – incluindo os que vivem nas ruas, memórias, mas também direitos atuais. Os
136 praças, viadutos – têm suas ancestralidades genocídios e etnocídios contra indígenas,
ligadas aos povos originários de etnias força- bem como os ecocídios, não aconteceram
das a saírem de suas terras natais. Presença somente no passado, mas ainda ocorrem.
do mesmo modo observada nos nomes de Por vezes, os governos atuam como os ve-
rios, ruas, lugares, bairros e arredores. lhos/novos bandeirantes, retirando direi-
tos originários, parando as demarcações
[...] das terras indígenas, ameaçando as terras
demarcadas, devastando a natureza. Só em
Na nossa compreensão, a construção identi- 2019 foram oito indígenas mortos na luta
tária de São Paulo, em sua diversidade socio- pela terra, o maior número desde 2011. A Co-
cultural, está fortemente ligada à presença vid-19 tem aumentado em muito o número
indígena, caipira, cabocla, negra, imigrante, de indígenas mortos, tornando-se uma arma
migrante e nordestina. Presenças passadas, para o genocídio dos povos originários, ne-
presentes e futuras representando resistên- gros e pobres.
cias e (re)existências em territórios pela ci- Entretanto, costumamos dizer: não te-
dade, nomes dos lugares, nas culturas e na mos rancor, mas possuímos memória.
vida cotidiana.

Casé Angatu, “Indígenas identidades paulistanas”, em Paulo de Freitas Costa e Ana Cristina Moutela Costa
(orgs.), Identidades paulistanas. Cadernos da Casa Museu Ema Klabin, 2020, v. 2, pp. 13-23. Disponível em
<https://emaklabin.org.br/download/cadernos-da-casa-museu-ema-klabin-identidades-paulistanas/?wpd
mdl=132841&refresh=6153680cd006f1632856076>, acesso em 8 out. 2021.
[p. 134, 135] Vista da exposição
Vista da exposição View of the exhibition
com obras de
Abdias Nascimento e Sebastião Januário
outros artistas Lembranças interioranas
View of the exhibition Inland Memories
with works by 1967
Abdias Nascimento
and others artists Abdias Nascimento
Santa Maria Egípcia nº 2
Saint Mary of Egypt n. 2
1968

Antônio Maia
Ramblas
Boulevards
1972
Carlos Henrique de Lima
ATIVISMO E PERFORMANCE: ASPECTOS DA ALIANÇA
DOS CORPOS NAS RUAS

O ativismo urbano que emergiu na última instabilidade e incerteza mais do que a possi-
década em metrópoles no Brasil é formado bilidade de substituir uma prática por outra.
por grupos que efetuam intervenções no Questionam sobretudo princípios. Revelam
138 espaço público. Apresentam base social di- lacunas e por isso apontam possíveis alterna-
versa e não se organizam em estruturas so- tivas para o processo de produção urbana.
ciais prévias – a exemplo de lutas populares O aspecto performático desse ativismo
como a dos sem-teto. Por isso não há iden- estimula novas conexões e deixa resíduos
tidade comum e relativamente estável entre nas formas de agir que são gradualmente
seus integrantes. Observados em conjunto, assimilados por grupos em diferentes espa-
identificamos nesses movimentos ações que ços e contextos urbanos numa confluência
envolvem intervenções de aspecto performá- contínua dissimile e plural. As performan-
tico, fluído e variado. São práticas colabora- ces se modificam a partir de repertórios her-
tivas que envolvem atividades culturais em dados. Nesse curso incorporam-se reivindi-
sentido amplo e buscam uma nova vivência cações, selecionam-se meios, surgem novas
política formada por um entrelinhado em representações. As ações coletivas se trans-
que cada ponto se apresenta como uma ex- formam como resultado de improvisação e
periência de íntima proximidade. Em nossa luta, embora formas de interação estejam
perspectiva, ao tecer essa trama e se posicio- limitadas ao que é inteligível e viável para
nar em franco contraste com a prática urba- ativistas.1 É também nessa direção que se
nística, a performance ativista aguça suas movimentam os argumentos de Judith Bu-
1 Doug McAdam,
Sidney Tarrow
contradições. Esses movimentos produzem tler sobre uma política da performatividade.
e Charles Tilly,
Dynamics of
Contention, Nova Carlos Henrique de Lima, “Ativismo e performance: aspectos da aliança dos corpos nas ruas”, RUA, 2020,
York: Cambridge v. 26, n. 1, pp. 277-295. Disponível em <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rua/article/
University Press, 2001. view/8660002>, acesso em 7 out. 2021.
Vista da exposição
View of the exhibition

Babatunde Folayemi
Oracle of Ifa
Oráculo de Ifá
1969
María Berríos
LUTA COMO CULTURA: MUSEO DE LA SOLIDARIDAD

Um museu pode ser uma arma? [...] A decla- de Pablo Picasso: eles argumentavam que o
ração [emitida pelo Comitê Internacional de Museu de Arte Moderna de Nova York, po-
Solidariedade Artística (CISAC), que dirigia o sicionado no centro da “mais proeminente
Museo de la Solidaridad] colocou os artistas produtora de guernicas da história”, era ina-
140 doadores e suas obras de arte na dianteira e, dequado para o papel de guardião da obra de
simultaneamente, reconheceu sua solida- Picasso. Eles escreveram uma carta expondo
riedade enquanto ação política e forneceu seus argumentos e oferecendo-se a transfe-
um esboço dos princípios que norteariam rir o quadro para o Museo de la Solidaridad,
o museu em andamento – um museu que onde poderia ser “honrado e acomodado de-
denunciou abertamente como o sistema de centemente”. Como [o presidente da CISAC
arte e suas instituições segregadoras, símbo- Mário] Pedrosa observaria em uma carta a
los da concentração de renda, acabaram por outro membro da CISAC, “arte e política são
degradar a arte e os artistas. Nesse sentido, hoje inseparáveis”.
o Museo de la Solidaridad nasceu como um Nos intensos dois anos que se seguiram à
museu contra os museus, um antimuseu: as moção inicial para o Museo de la Solidaridad,
noções básicas do museu proposto são um o projeto continuou a se desenvolver e certas
assalto aos museus de arte existentes, espe- ideias foram esclarecidas. Embora tenha sido
cialmente as instituições prestigiadas e ad- considerado estratégico e fundamental in-
miradas pela metrópole; o museu questio- cluir “artistas de primeira categoria com po-
nou seu próprio monopólio geopolítico ao sições políticas firmes”, o não partidarismo
chamar a atenção para a absoluta incompati- no qual insistiram pode ser observado no
bilidade de sua função social e os princípios grupo de obras reunidas durante esses bre-
das obras (e dos artistas) que foram deixados ves primeiros anos. A coleção é única em sua
aos seus cuidados. Seguindo esta lógica, o heterogeneidade e na forma como encarna
Museo de la Solidaridad iniciou uma moção literalmente uma fatia de tempo e nenhum
que tentaria “recuperar” a Guernica (1937) estilo específico (embora o tipo de obras
recebidas através do processo de doação te- e seus “não objetos”. O próprio museu deve
nha sido revisado com muito zelo). O com- tornar-se um espaço aberto e permeável en-
promisso de mudar o mundo envolvia, inevi- volvendo artistas através de suas próprias
tavelmente, uma concepção da arte enquanto “experiências” e pesquisas. Foi planejado que
mudança, portanto, mantendo uma afinidade os artistas contemporâneos viajassem e pas-
natural com a arte moderna que se refletia na sassem algum tempo no país – como haviam
coleção. Mas, como atestam as correspon- feito na Operação Verdade – para que pudes-
dências entre os membros da CISAC, eles – e sem se familiarizar com a revolução em seus
particularmente Pedrosa – consideraram cru- próprios termos, sem ter em mente resulta-
cial incorporar também “artistas experimen- dos particulares (embora já estivessem ocor-
tais”: novos artistas, não artistas, antiartistas rendo discussões sobre as obras no local).

María Berríos, “Struggle as culture: The Museum of Solidarity, 1971-73”, Afterall, n. 44, outono/inverno 2017.
Disponível em <https://www.afterall.org/article/-struggle-as-culture-the-museum-of-solidarity-1971-73>,
acesso em 14 out. 2021.

141
142
Francisco Huichaqueo
O INSTINTO ESPIRITUAL ANTES DA RAZÃO

Um dia fui procurá-la [a machi].1 Chegamos pifilca antiga. Peguei a flauta e as conservado-
ao centro de Santiago, no Museo Chileno de ras me disseram: “Não a toque”. Eles usavam
Arte Precolombino, onde a diretora da área luvas brancas, nós estávamos daquele jeito.
de conservação nos recebeu. Descemos nos A machi tocou o kultrun e disse: “Toque ela.
elevadores, e as conservadoras nos espera- É nossa”. E eu a toquei, não havia nada a fazer.
vam com as caixas e todas as coisas, que eram
muitas. E lá a machi disse: “Por que o nosso [...]
está debaixo da terra? Por que está frio aqui?
Por que está tudo guardado?”. Aí eu lhe disse: Dois homens ligaram de boa vontade para
“Machi Silvia, este é um museu que guarda as colaborar comigo. Sem saber, me disseram:
nossas coisas”, mas ela me dizia: “Mas por “Estamos aqui para te ajudar, temos expe-
quê? Eu tinha ouvido isso, mas nunca pensei riência”, e eu perguntei: “Que experiência?”.
que fosse verdade. Agora eu vejo, é verdade”. Ao que eles responderam: “Nós montamos o
Ela viu nossas coisas e ficou chateada... por- rewe que está no Museu Orly, na França, é um
que é muito forte. Quando viu os kultruns,2 os machi rewe enorme”. Disse-lhes: “Ah, aquele 143
nossos trapelakuchas,3 as vestimentas de prata que estamos tentando tirar e trazer de volta
das mulheres, disse: “Por que não estão com com os mapuches David Aniñir, Bernardo
suas donas? Por que os kultrun de machi não Oyarzún e Max Corvalán”. Passamos muito
foram passados para o próximo machi ou neta tempo tentando tirá-lo, e David Aniñir en-
ou a uma pessoa x no futuro? Por que eles são trou em transe quando pulamos a barreira
mantidos em caixas?”. Foi-lhe explicado um de contenção, quando entramos para tirá-lo.
pouco. Disse que estava chateada, mas que Eu disse aos montadores: “Por que o coloca- 1 Machi é a protetora
e curandeira do povo
não sabia por que estava inquieta e deu uma ram, se a gente quer tê-lo?”. Eles ficaram sem Mapuche.
ordem de líder. Ela disse: “Coloquem tudo palavras. Eles não foram chamados para este 2 Kultrun ou cultrún

aqui em cima das bancadas”. As conservado- trabalho, porque eles falaram e deslocaram a é um instrumento de
percussão usado pelo
ras disseram não, porque eram muitas coisas. natureza espiritual de tudo. Disse-lhes: “Pa- povo Mapuche.
Era verdade, as peças não iam caber nas ban- rem de falar de arte contemporânea, parem 3 Trapelakucha

cadas. “Então coloquem um pouco de tudo: a de falar de museu, porque isto tem outro sig- é um adorno
peitoral de prata
prataria, coisas para uso espiritual, os rewes4 nificado”. Estamos perante uma nova explo- tradicionalmente
de chemamüll...”.5 Foi colocado tudo ali e ela ração. Além disso, nunca estiveram naquele usado pelas mulheres

fez uma cerimônia. Ela me pediu para tocar lugar, e eu já estive. Considero-o algo mais mapuches.
4 Rewe: altar sagrado
um instrumento, a pifilca, uma flauta, mas eu do que uma exposição, como um reencon- do povo Mapuche.
não estava com a minha naquele dia. Disse- tro para reparar, corrigir, reparar o jarro que- 5 Chemamüll são

-me: “Não, toca essa que está na mesa”, uma brado que somos como cultura. estátuas de madeira
usadas pelo povo
Mapuche para
María Berríos e Francisco Huichaqueo, “El instinto espiritual antes que la razón”, Concreta, n. 16, out. 2020. sinalizar um túmulo.
Gabi Ngcobo
HISTÓRIAS DE FANTASMAS À FLOR DO DIA

Arquivos sempre contêm o que não é dito na publicação que acompanha A Labour of
e o que é indizível. Trabalhar com arquivos Love, o projeto “pode ser visto como a ex-
significa enfrentar seus limites e, ao mesmo ploração de uma gramática que ressuscita
tempo, se render à instabilidade tanto da- referenciais históricos” através de uma co-
quilo que ele contém quanto de seus pontos leção que não havia sido acessada por 28
144 cegos. Esta é uma abordagem que Yvette anos. Gostaria de imaginar que esta inativi-
Mutumba e eu adotamos ao trabalhar com dade “permita o ressurgimento de uma nar-
uma coleção sul-africana de mais de 600 rativa alternativa, que se encontra no pre-
obras de arte adquiridas em 1986 pelo Mu- sente, tal como vem se desenrolando desde
seu Weltkulturen, em Frankfurt, Alemanha. que as obras deixaram o país (África do Sul)
Ao perguntar “como inscrevemos o que durante aquele período político conhecido
era impossível ou invisível no momento como ‘estado de emergência’”.
histórico em que as obras foram criadas e Esta ética definiu a maneira como desen-
a coleção montada?”, concebemos um mé- volvemos All in a Day’s Eye (Tudo ao calor
todo para inserir as vozes das mulheres ar- do dia). Esta exposição foi deliberadamente
tistas que estão em grande parte ausentes e, abordada através das lentes críticas de quatro
assim, “queering a coleção”, a fim de contar mulheres negras – eu mesma, como curadora
as histórias que não eram legalmente pos- convidada, acompanhada por uma equipe
síveis de se expressar naquele período his- composta de três pesquisadoras: a curadora
tórico. A Labour of Love (Um trabalho de Tšhegofatso Mabaso, a artista e educadora
amor), o projeto curatorial que saiu deste Donna Kukama e a artista Simnikiwe Buh-
processo, enlaçou narrativa histórica e pro- lungu. Cada membro da equipe representa
grama pedagógico. Neste último, alunos da uma geração artística ligeiramente diferente
Escola de Artes Wits respondiam à coleção e com pelo menos uma diferença de 20 anos
à sua narrativa, estabelecendo, dessa forma, entre mim, a mais velha e a mais jovem, Buh-
um diálogo intergeracional não só neces- lungu. Isso se torna digno de nota se consi-
sário como muito esperado. Como escrevi derarmos que a África do Sul é oficialmente
uma democracia há apenas 26 anos e que uma inspeção ainda mais detalhada, con-
nossa contemporaneidade se apresenta ir- tei pelo menos 15 obras nas quais a figura da
regular, ainda que semelhante ou relatável, mulher negra é objeto de representação, es-
em termos de geração. Quando apresentei pecialmente, mas não exclusivamente, de
pela primeira vez a lista de obras da Coleção artistas brancos. Aqui, a temática da inocên-
Família Javett, tomei conhecimento de que cia, juntamente com a fixação em representar
Gladys Mgudlandlu (1917–1979) é a única corpos negros, está, muitas vezes, associada a
mulher negra presente na coleção com duas uma ignorância privilegiada em torno de his-
pinturas: Fields, Woman and Cows (1964) e tórias de violência colonial, mesmo quando
African Woman Smoking a Pipe (1963). Em se pinta uma natureza-morta.

Gabi Ngcobo, “Ghost Stories in a Day’s Eye”, em Aileen Burns et al. (orgs.), Uneven Bodies (Reader), New
Plymouth: Govett-Brewster Art Gallery, 2020.

145
Elvira Espejo
MUSEUS COM AS COMUNIDADES: O PROGRAMA DE
EXPOSIÇÕES EM COCURADORIA DO MUSEF

O programa de pesquisa colaborativa e expo- Contudo, a contrapartida dos municípios


sições em cocuradoria do Museo Nacional locais consiste em acondicionar a infraes-
de Etnografía y Folklore (MUSEF), sob a Fun- trutura de seus museus para poder alojar a
dación Cultural del Banco Central de Boli- exposição, numa dinâmica colaborativa.
via (FC-BCB), está funcionando desde 2016.
148 Nasceu devido a pedidos de apoio de várias [...]
comunidades rurais que procuram reforçar
e revalorizar seus museus comunitários. [No caso da exposição Escuchar al viento y la
O programa caracteriza-se por romper piedra (Ouvir o vento e a pedra), inaugurada
com a verticalidade acadêmica comum aos em 2019 em La Paz], a pesquisa e a exposição
processos curatoriais, levando-os a cabo em centraram-se nos aspectos que são fonte de
conjunto com as comunidades locais. As- orgulho para as pessoas de cada uma dessas
sim, uma exposição museológica é alimen- comunidades. No caso de Huarcamarka, a
tada não só pelos materiais arqueológicos ou exposição Escuchar al viento y la piedra fala
etnográficos de uma comunidade, mas tam- do sítio arqueológico homônimo, um im-
bém por visões, conceitos, orgulho, preocu- pressionante complexo de formações ro-
pações e reivindicações. As exposições são chosas íngremes junto com estruturas inca
o resultado de meses de contato profundo e pré-inca. A pedra, neste caso, seja natural
com as comunidades, após os quais os rotei- ou trabalhada, não é para a comunidade um
ros museológicos são trabalhados e valida- resquício inerte de um passado acabado. As
dos com elas antes de serem transformados rochas são formações com agência e espírito
numa exposição temporária, que tem lugar utilizadas em diferentes épocas do ano para
no MUSEF, em La Paz. pedir licenças e dádivas. O percurso pelo
Uma vez retirada essa exposição tempo- Huarcamarka, mais do que a simples obser-
rária, o MUSEF fica em condições de entre- vação das pedras, é um encontro constante
gar a museografia produzida à comunidade com elas, um pedido de licença e um exer-
ou ao município e de apoiar sua montagem. cício da memória. Esse encontro é mediado
por ofertas de coca e álcool, num encontro Calamani, e de pesquisadores posteriores, o
constante com os seres que habitam os luga- sikuri é proposto como uma reivindicação do
res antigos. Foram as considerações de den- próprio pensamento político de Taypi Ayca.
tro da comunidade para o local que tiveram Com grande satisfação, em maio de 2021,
preponderância nessa mostra. recebemos uma comunicação do município
Entretanto, em Taypi Ayca, a comunidade de Mocomoco, indicando que os museus de
escolheu destacar o seu famoso sikuri, a ambas as comunidades tinham sido acon-
dança guerreira e ritual que lhes trouxe fama dicionados para alojar as exposições e soli-
no resto do país. Escuchar al viento y la piedra citando-nos a entrega dos materiais produ-
realçou, assim, os significados e as relações zidos. Uma equipe de montagem de quatro
que as pessoas propõem através dos seus tra- pessoas foi imediatamente formada e os pai-
jes, da dança e da música, com suas memórias néis informativos e outros elementos museo-
e seu ambiente. Assim, o sikuri é proposto não gráficos foram embalados; o nosso caminhão
só como música, mas também como uma re- partiu para Mocomoco e foi recebido em
lação com os ciclos produtivos e a paisagem Huarcamarka e Taypi Ayca de braços aber-
circundante, onde cada elemento do traje e tos e com apoio. Após três dias de montagem,
a coreografia implicam muitos significados. nos quais funcionários do museu e membros
É também a expressão das memórias de uma de ambas as comunidades colaboraram na
comunidade quando os avós lembram que nos transferência de materiais, na colocação de
tempos antigos os músicos sikuri eram utili- peças e vestuário em manequins e outros su-
zados primeiro pela igreja e pelas autoridades portes, e na instalação elétrica de painéis ilu-
coloniais, depois pelo Estado republicano. Por minados, entre outras tarefas, pudemos levar 149
meio das ideias de líderes locais, como Titi a bom termo essa atividade colaborativa.

Elvira Espejo, “Museos con las comunidades: el programa de exposiciones en co-curaduría del MUSEF”,
Tejiendo culturas: boletín institucional de la Fundación Cultural del Banco Central de Bolivia, jun. 2021,
n. 6, p. 27. Disponível em <http://www.fundacionculturalbcb.gob.bo/documentos/boletin-cultural/2021/
boletin_06_2021.pdf>, acesso em 14 out. 2021.
Sobre a invenção da
memória e a materialidade
das coisas para o sujeito
contemporâneo e popular

GABRIEL GUTIERREZ
O Improfanável da pornografia – qualquer improfanável – baseia-
-se no aprisionamento e na distração de uma intenção autentica-
mente profanatória. Por isso é importante toda vez arrancar dos
dispositivos – de todo dispositivo – a possibilidade de uso que os
mesmos capturam. A profanação do improfanável é a tarefa po-
lítica da geração que vem
Giorgio Agamben

A leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta


implica a continuidade da leitura deste
Paulo Freire

Memória do quê? De quem? Para quem? Quando? Onde? 153


Como tratar as expressões populares como imateriais, ou se quiser-
mos citar o embaralhamento e a inversão das ordens pública e privada,
como patrimônio imaterial? Os meios de produção de vida não passam
e são significados pela dimensão material? Não são os pensamentos,
os conceitos, as heranças, as ancestralidades e tantos outros aspectos
vitais, costumeiramente reunidos sob definições generalizantes, per-
petuados por aquilo que o passado nos reenvia a partir da experiên-
cia do real? Como tratar os despojos daqueles que foram prostrados ao
chão? Como sinalizar o crime de assalto aos saberes acumulados dos
oprimidos, sem colocá-los nas prateleiras do improfanável, tirando-os
do uso? De que ponto de vista miramos quando a definição de cultura
imaterial é proposta? Como integrar a história da cultura à história da
luta de classes?
As questões que rondam os conceitos de memória e saberes imate-
riais são múltiplas e não possuem cadeira fixa. Foram tratadas profunda-
mente por diversos filósofos e pensadores que balizaram muitas das in-
quisições presentes neste ensaio. Antes de mais nada, para não ficarmos
presos ao campo das definições, propomos situar o ponto de ação que
nos é interpelado enquanto sujeitos contemporâneos – estar no mundo,
e não fora dele. Grande parcela desse território é o tempo e como nos
relacionamos com ele.
Pela e para a experiência do pensar, partiremos do senso comum, ou
seja, das ideias que dominam a coletividade. Cultura imaterial é entendida
como o conjunto de expressões (materiais inclusive) advindas das classes
dominadas, principalmente no contexto brasileiro. A ela se opõe a cultura
material, que, por definição, são as expressões ligadas de alguma forma à
produção das classes dominantes, ou o que é absorvido por elas para vali-
dar o que elas definem como nação. Esses dois sentidos restritos de cultura
se conectam e são gestados por outro conceito-instituição: o patrimônio,
ou seja, o tratamento da memória, ora como abordagem romântica e apai-
xonada de um passado que não volta e não se adequa ao presente, já que
impossibilitado de uso, ora como fato imutável, verídico, registro da his-
tória institucional e unilateral, inquestionável pelo próprio uso. Quando
tratamos das culturas populares, a configuração proposta por essa imbri-
cação, coroada pela salvaguarda da memória como fim, delimita um campo
fixo e incomunicável, e por isso oposto ao que a realidade da produção dos
modos de vida, calcada no cotidiano, nos indica. Como fixar o infixável?
Antes de tudo, memória é um fluxo contínuo, puro espaço de criação,
mutação, transformação e ressignificação cotidiana. Não é fim, mas dis-
positivo. É a traição das tradições para sua perpetuação no tempo. A mate-
rialização dos saberes ditos imateriais só é possível através do movimento
da memória. Ela funciona como uma peneira, que preserva as dimensões
154 do essencial, preciso e urgente, próprias ao uso das coisas. A memória é
crítica. O movimento que a caracteriza é o de estar no mundo agora, e
quando há falta de memória, é porque nos foi tirada a possibilidade de
uso. Assim, memória e cultura popular são indissociáveis, pois estão na
esfera do uso, no tempo oportuno do agora.
Agamben, em seu ensaio “O que é o contemporâneo?”, intima-nos a
tomar posição frente ao nosso tempo, com a precisão de uma navalha.
Ele sinaliza a falha histórica e nos interpela a ocupá-la de forma precisa.
Para além do que está aparente, ou se apresenta como atual, o autor situa
a dimensão criativa da memória como meio para enxergar a obscuridade
que cada tempo nos lança a partir da condição deslocada, da intempesti-
vidade, do viés, do avesso e, principalmente, de estar à espreita do tempo
oportuno, ou seja, o tempo do uso.
O sujeito contemporâneo, aponta Agamben,

não é apenas aquele que, percebendo o escuro do presente, nele


apreende a resoluta luz, é também aquele que, dividindo e inter-
1 Giorgio
polando o tempo está à altura de transformá-lo e de colocá-lo Agamben, O que é
em relação com os outros tempos, de nele ler de modo inédito a o contemporâneo? e
outros ensaios, trad.
história, de “citá-la” segundo uma necessidade que não provém
Vinicius Nicastro
de maneira nenhuma do seu arbítrio, mas de uma exigência à Honesco, Chapecó:
qual ele não pode responder.1 Argos, 2009, p. 72.
Ele reitera o convite feito por Walter Benjamin de escovar a história a con-
trapelo, colocando a inalienável invenção pela memória como dispositivo
para sobrelevar ativamente o avesso do mundo.
Memória e imaterialidade nos apontam o relacionamento com o
tempo de agora, o único possível. Isso não significa o presente, ao con-
trário. Pensar na memória como forma imaterial de relação com as coisas
é estar deslocado do seu tempo, no vazio e no hiato de criação e transfor-
mação do que nos rodeia. A memória possibilita nosso contato com o
arcaico enquanto origem efêmera, na fundação de novas origens. Con-
siderar a memória como fluxo criativo e ordenador do mundo material é
o que liberta da perversa distorção e depreciação histórica do que é ina-
preensível pela hegemonia, ou seja, a ampla cultura ligada à vontade de
existência, as culturas populares. As produções e expressões culturais
nascidas no seio do efêmero colocam em xeque o sentido restrito da cul-
tura enquanto privilégio de classe e fortalecem o pensamento coletivo e
popular, combustível, como aponta Gramsci, para a consolidação de uma
contra-hegemonia contínua no tempo.
O encontro entre as dimensões da memória e a classificação das ex-
pressões de um povo gera indefinições perigosas. Perguntar ao mundo é
assumir o diálogo enquanto o único dispositivo plausível para o pensa-
mento significador desse mesmo mundo. Só é possível compreendermos
os territórios que ocupamos no presente, enquanto sujeitos contemporâ- 155
neos, se indagarmos ao lado direito pelo lado avesso das coisas, e assim
sucessivamente.
Para compreender e aceitar a complexidade do mundo contemporâ-
neo é preciso olhar para a história resultante pelo prisma da luta de clas-
ses, mas reconhecendo que há mais do que a disputa pelo controle dos
meios de produção ou a transformação de suas engrenagens. Não há jogo
nesse tabuleiro, se desconsiderarmos a importância da produção de cul-
tura e contracultura a partir da perspectiva da organização hegemônica
e contra-hegemônica do mundo. Ser contemporâneo é ser popular em
sua dimensão vital e criativa, que, pela urgência, retoma o uso das coisas.
Não fixar significa colocar abaixo a cristaleira.
sobre os autores
Benedito Dielcio Moreira é jornalista, dou- pela Universidade Estadual Paulista, autor do
tor em filosofia/educação pela Universität livro Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza,
Siegen (Alemanha), pesquisador associado e coautor de Índios no Brasil: vida, cultura e
da Universidade Federal de Mato Grosso e morte, entre outras publicações.
professor do programa de pós-graduação
em estudos de cultura contemporânea, Cátia Louredo, gerente de museologia do
pesquisa comunicação com ênfase em fun- MAM Rio, é museóloga formada pela Univer-
damentos das mídias, mediações culturais, sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
escrita audiovisual científica, cultura cien- (UNIRIO). Sua prática sempre esteve ligada
tífica e educomunicação. aos processos de gestão do acervo, com
especial interesse nos processos de con-
Carlos Henrique de Lima é arquiteto e servação de arte contemporânea. Foi uma
urbanista pela Universidade de Brasília, das organizadoras do workshop “Acervos
doutor em urbanismo pela Universidade contemporâneos: questões práticas”, em 157
Federal do Rio de Janeiro. Professor da 2011, e participou de eventos como “Getting
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Started: A Shared Responsibility, Caring for
Universidade de Brasília. Integra o grupo de TBM Artworks in Collections”, no MoMA,
pesquisa Arquivos, fontes e narrativas: entre em 2018. É inscrita no COREM sob n. 0615-I
cidade, arquitetura e design. 2rg e membro do ICOM desde 2009.

Carolina Pedreira é doutora em antropolo- Ceiça Ferreira é doutora em comunicação


gia pela Universidade de Brasília e docente pela Universidade de Brasília. Professora e
da Universidade Federal do Tocantins. Es- pesquisadora do curso de cinema e audio-
creveu artigos científicos sobre a lamenta- visual da Universidade Estadual de Goiás,
ção das almas e o jarê, candomblé de caboclo desenvolve atividades de ensino, pesquisa,
da Chapada Diamantina. Integrou, em 2012, curadoria e extensão nas áreas de comuni-
uma iniciativa local de patrimonialização cação e cultura, raça, gênero e sexualidade
dos grupos de rezadeiras da região. no cinema e no audiovisual.

Casé Angatu é indígena do Território Tupi- Denilson Lopes é professor da Escola de


nambá Olivença (Ilhéus/BA), taba Gwarïnï Comunicação da Universidade Federal do
Atã, docente na pós-graduação em ensino/re- Rio de Janeiro. Pesquisador do Conselho
lações étnico-raciais da Universidade Federal Nacional de Desenvolvimento Científico
do Sul da Bahia, docente da Universidade Es- e Tecnológico e da Fundação de Amparo à
tadual Santa Cruz, pós-doutorando em psi- Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. É au-
cologia na Universidade Estadual Paulista, tor dos livros Mário Peixoto antes e depois de
doutor pela Faculdade de Arquitetura e Ur- Limite (2021), Afetos, experiências e encontros
banismo da Universidade de São Paulo, mes- com filmes brasileiros contemporâneos (2016) e
tre em história pela Pontifícia Universidade O homem que amava rapazes e outros ensaios
Católica de São Paulo; historiador, também (2002), entre outros.
Elisa Larkin Nascimento é doutora em se envolvido em projetos artísticos, curato-
psicologia pela USP e mestre em direito e riais e educacionais colaborativos, na África
em ciências sociais pela Universidade do do Sul e no âmbito internacional. Projetos
Estado de Nova York (EUA), atua no IPEA- curatoriais recentes incluem All in a Day’s
FRO, Instituto de Pesquisas e Estudos Afro- Eye: The Politics of Innocence in the Javett Fa-
-Brasileiros. Coordena o tratamento técnico mily Collection (Tudo o que faz o cotidiano do
e a difusão do acervo de Abdias Nascimento. olho: a política da inocência na coleção da fa-
Curadora de exposições e fóruns de educa- mília Javett), no Javett Art Centre, University
ção com base nesse acervo, é autora de várias of Pretoria (Javett-UP), em Johannesburgo,
publicações. Organizou os quatro volumes e Mating Birds (Pássaros em acasalamento),
da coleção Sankofa e o livro Adinkra: sabe- na KZNSA Gallery, em Durban. Em 2018 foi
doria em símbolos africanos. curadora da 10ª Bienal de Berlim intitulada
We don’t need another hero (Não precisamos
Elvira Espejo Ayca é uma proeminente ar- de outro herói), e foi uma das cocuradoras da
tista indígena, gestora cultural e pesquisa- 32ª Bienal de São Paulo, Incerteza viva (2016).
dora. Nascida em ayllu Qaqachaka (provín- Além disso, ela é membro fundadora de
cia de Abaroa, Oruro, Bolívia), sua prática NGO – Nothing Gets Organised (2016–) e do
está ligada aos materiais têxteis, à tradição Center for Historical Reenactments (2010–
oral e à poesia. Foi diretora do Museo Na- 2014), plataformas colaborativas com sede
cional de Etnografía y Folklore, em La Paz, em Johannesburgo. Tem textos em várias
entre 2013 e 2020. Recebeu a medalha Goe- publicações, como na compilação Uneven
the 2020, condecoração oficial da Repú- Bodies, da Govett-Brewster Art Gallery, em
blica Federal da Alemanha por seu trabalho Aotearoa New Zealand (2021); The Stronger
e compromisso com o intercâmbio cultural. We Become, catálogo do Pavilhão da África
A importância de sua produção está ligada ao do Sul na 58ª Bienal de Veneza (2019); Pu-
diálogo entre a prática e o conhecimento das blic Intimacy: Art and Other Ordinary Acts
158 comunidades indígenas e a intersecção com in South Africa, do Yerba Buena Center For
a academia, a gestão cultural e os museus. The Arts, de São Francisco (2014); We Are
Com isso, reivindica as epistemologias e Many: Art, the Political and Multiple Truths, da
práticas dos povos originários e camponeses. Verbier Art Summit (2019); e na revista alemã
Texte Zur Kunst, edição de setembro de 2017.
Francisco Huichaqueo é artista visual, ci- Ngcobo é diretora curatorial do Javett-UP.
neasta e professor da Faculdade de Letras e
Artes Visuais da Universidad de Concepción. Gabriel Gutierrez é artista e arquiteto for-
Graduado pela Universidad de Chile, Facul- mado pela Faculdade de Arquitetura e Urba-
dade de Artes Visuais, com mestrado em ci- nismo da Universidade de São Paulo e pela
nema documental pela mesma instituição e Ecole Nationale Supérieure d’Architecture
especialização em ótica pela Escuela Interna- de Paris La Villette, e mestre pela mesma
cional de Cine y Televisión de Cuba. Seu tra- instituição. É diretor do Centro Cultural
balho visual se desenvolve em torno de temas Vale Maranhão e fundador dos espaços in-
relacionados com sua origem mapuche e os dependentes Aurora (2012–2016) e Casa
povos originários. Trabalha com os formatos Peixe – SLZ (2016–). Pesquisa cultura popular
cinema de instalação, cinema documentário e e suas imbricações com as dimensões insti-
cinema de ensaio, circulando por festivais de tucionais nos campos da produção material
cinema nacionais e internacionais. Também e simbólica.
realiza intervenções em espaços coloniais que
armazenam o patrimônio material e imaterial Jorge Vasconcellos, negro-indígena, é dou-
indígena, tais como as coleções arqueológicas tor em filosofia pela Universidade Federal
em museus no Chile e no exterior. do Rio de Janeiro, com pós-doutorado em
arte contemporânea pela Universidade do
Gabi Ngcobo é uma artista, curadora e edu- Estado do Rio de Janeiro. Professor do de-
cadora que vive em Johannesburgo, África partamento de artes e estudos culturais e
do Sul. A partir dos anos 2000, Ngcobo tem do programa de pós-graduação em estudos
contemporâneos das artes na Universidade Marcelo Campos é professor associado
Federal Fluminense. Fez parte do programa do departamento de teoria e história da
Cientista do nosso Estado (Fundação de arte, professor efetivo dos programas
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja- de pós-graduação em artes e programas de
neiro) e é ativista antirracista no Coletivo 28 pós-gradua­ção em história da arte do Ins-
de Maio/C28M. tituto de Artes da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro. Curador-chefe do Mu-
Judite Primo é feminista, antirracista e seu de Arte do Rio. Doutor em artes visuais
sociomuseóloga. Doutora em educação pelo programa de pós-graduação em artes
pela Universidade Portucalense Infante D. visuais da Escola de Belas Artes da Univer-
Henrique, mestre em museologia pela Uni- sidade Federal do Rio de Janeiro. Desenvol-
versidade Lusófona de Humanidades e Tec- veu tese sobre o conceito de brasilidade na
nologias e licenciada em museologia pela arte contemporânea.
Universidade Federal da Bahia. É titular da
Cátedra UNESCO Educação, Cidadania e Di- María Berríos é socióloga, escritora e cura-
versidade Cultural; investigadora principal dora independente. É cofundadora do co-
da Fundação para Ciência e Tecnologia no letivo editorial chileno vaticanochico. Seu
Centro de Estudos Interdisciplinares em trabalho atravessa a arte e a política com
Educação e Desenvolvimento e professora especial interesse em experimentos cultu-
na área da sociomuseologia na Universi- rais coletivos das décadas de 1960 e 1970 e
dade Lusófona. seus formatos expositivos e metodologias
pedagógicas. Ensina e é palestrante na Eu-
Julio Ricardo Menezes Silva é jornalista, ropa e na América Latina e tem publicado
mestrando em história da arte pela UERJ. extensivamente sobre a cultura contempo-
Coordena o projeto do IPEAFRO de criar a rânea na América Latina e além. Entre ou-
sede virtual do Museu de Arte Negra (MAN). tros projetos, Berríos fez a cocuradoria de
Atua no Fórum Permanente Pela Igual- Drifts and Derivations. Experiences, journeys 159
dade Racial (FOPIR) e na Coalizão Negra and morphologies on experimental architec-
por Direitos. tural collectives (com Lisette Lagnado, Mu-
seo Nacional Centro de Arte Reina Sofía,
Leno Veras é comunicólogo, pesquisador Madri, 2010), e fez a curadoria de Nuestro
e professor, é vinculado à Escola de Comu- desconocido, nuestro caos, nuestro mar (Mu-
nicação da Universidade Federal do Rio seo Experimental el Eco, Cidade do México,
de Janeiro, além de associado ao Instituto 2014) e Alberto Cruz: El cuerpo del arquitecto
Warburg, na Escola de Estudos Avançados no es el de un solo hombre (com Amalia Cross,
da Universidade de Londres. Atualmente, é MAVI – Museo de Artes Visuales, Santiago
curador associado à diretoria de informação do Chile, 2017). Foi uma das curadoras da 11ª
na América do Sul do Goethe-Institut, inte- Bienal de Arte Contemporânea de Berlim
gra organizações internacionais como a As- (2019–2021) e atualmente trabalha em um
sociação de Estudos Críticos do Patrimônio projeto no Museo de la Solidaridad Salva-
e a Federação Internacional de Associações dor Allende para celebrar o seu quinquagé-
de Bibliotecas. É responsável pela gerência simo aniversário.
de pesquisa e documentação do Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro. Maria Thaís é professora sênior vinculada
ao Museu do Ipiranga e ao programa de pós-
Luiza Proença é curadora e pesquisadora -graduação em artes cênicas da Universidade
em arte. É mestre em psicologia clínica pelo de São Paulo. Com a Cia Balagan (patrimô-
Núcleo de Estudos da Subjetividade da PUC- nio imaterial da cidade de São Paulo), dirigiu
-SP. Sua investigação enfoca práticas e insti- Programa Pentesiléia, Cabras e Recusa, entre
tuições artísticas e suas respectivas formas outros. Foi diretora residente no Centro de
de resistência no campo social e ambiental. Pesquisa Teatral do Serviço Social do Comér-
Atuou como curadora no MASP e na 31ª Bienal cio de São Paulo com o projeto Vagamun-
de São Paulo, entre outros projetos. dos. Em 2021, com Yghor Boy, codirigiu o
documentário Territórios de Resistência – Flo- Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena (MAR,
restanias, Sertanias, Ribeiria (SescTV) e, com Rio de Janeiro, 2017–2018) e A Singular Form
Julianna Santos, a ópera The Rake’s Progress, (Secession, Viena, 2014). Trabalhou como
no Teatro Municipal de São Paulo. editor para Afterall e Afterall Books, e con-
tinua como editor da série Exhibition His-
Moema de Bacelar Alves é licenciada e tories. Na atualidade é diretor artístico do
bacharel em história pela Universidade Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Federal do Pará (2006), especialista em pa- (MAM Rio) com Keyna Eleison.
trimônio cultural pelo Fórum Landi/UFPA
(2008), mestre (2013) e doutora (2019) pelo Sabrina Moura é professora, pesquisadora
programa de pós-graduação em história da e curadora. Doutora em história da arte pela
UFF. Sua dissertação Do Lyceu ao Foyer: ex- Universidade de Campinas, organizou se-
posições de arte e gosto no Pará da virada do minários e programas públicos em institui-
século XIX para o século XX recebeu o prêmio ções como Videobrasil, Serviço Social do
Roberto Santos, do Instituto Histórico e Comércio de São Paulo, Goethe-Institut e
Geográfico do Pará (2014) e sua tese Quando World Biennial Forum. Editou o livro Pano-
os artistas saem em viagem: trânsito de pinto- ramas do Sul: perspectivas para outras geogra-
res e pinturas na virada do século XIX para o fias de pensamento (2015) e foi pesquisadora
XX, o prêmio Melhores Teses, do Programa visitante no Instituto de Estudos Africanos
de pós-graduação em história da UFF (2020). da Columbia University.
É pesquisadora do MAM Rio e professora no
Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues Tiganá Santana é músico, poeta, tradutor,
da Silveira (CAp-Uerj). É membro do ICOM pesquisador e professor da Universidade
desde 2010. Federal da Bahia, onde se graduou em filo-
sofia. Doutor em letras pela Universidade
Naine Terena de Jesus é doutora em educa- de São Paulo, com estágio pós-doutoral pelo
160 ção, mestre em artes e graduada em comu- Instituto de Estudos Brasileiros, na mesma
nicação social pela Universidade Federal universidade, é autor de vários trabalhos
de Mato Grosso. Mulher do povo Terena, é acadêmicos e artísticos.
pesquisadora, professora universitária, cura-
dora e artista-educadora. Em 2019, foi uma Vilma Soares Ferreira Santos, mulher ne-
das cinco finalistas do Jane Lombard Prize gra, educadora, foi coordenadora voluntária
for Art and Social Justice, oferecido pela da Pastoral da Criança, Pastoral Afro e Pas-
Vera List Center for Art and Politics, de Nova toral Carcerária, e fundadora do Acervo da
York (EUA). Em 2020 e 2021, foi agraciada Laje, onde coordena a seção educativa. Foi
como mestre da cultura de Mato Grosso. Foi curadora e coordenadora de exposições
curadora da exposição Véxoa – nós sabemos como 1ª Exposição Pública do Acervo da Laje
(2020–21), na Pinacoteca de São Paulo, e co- (2011), Novos Alagados; As águas suburbanas
curadora da exposição virtual Rec-Tyty (2021). no Acervo da Laje (2012) e A beleza do Subúr-
É docente da especialização em gestão cul- bio (2013), Plataforma; 3ª Bienal da Bahia
tural – ampliação de repertórios do Instituto (2014), Acervo da Laje, Casa 1, e Memórias
Itaú Cultural. É pesquisadora no projeto afetivas do Subúrbio Ferroviário de Salvador
Cultures of Anti-Racism in Latin America, (2018), Subúrbio 360, bairro de Vista Alegre.
na University of Manchester, e no Labora- Participou como convidada da 31ª Bienal
tório de tecnologias, ciências e criação da de São Paulo na mesa “Usos da arte” (2014).
Universidade Federal de Mato Grosso. Participou da realização e da produção do
projeto #Ocupa Lajes (2016, 2018–19), co-
Pablo Lafuente vive no Rio de Janeiro, onde laborou com o intercâmbio dos estudantes
trabalha como escritor, editor e curador. Foi da Bartlett School de Londres (2016, 2017 e
cocurador da 31ª Bienal de São Paulo (2014), 2018), do Festival Caymmi de música (2017),
do projeto de pesquisa e exposições Zari- além de mediar e mobilizar crianças, jovens,
güeya/Alabado Contemporáneo (Museo del adultos e famílias para a realização de ofici-
Alabado, Quito, 2015–2020) e das exposições nas com artistas.
Memory Is an Invention
Foreword overview of Brazilian artistic production and the space, the architecture and the furniture
Instituto Cultural Vale its relations with international artistic move- together constituted a complex device for an
ments and proposals. The Cinemateca do MAM operation that has been discontinued. Be-
One of the objectives of Instituto Cultural Vale safeguards more than 67 thousand films and cause that which justified the construction has
is to support Brazilian cultural diversity. To three million documents about cinema. The disappeared, it has been lost, taken elsewhere.
this end we have joined forces with the Museu visual arts archive collection brings together This image, one of the photographs taken in-
de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a key in- 117.55 linear metres of documents, and the mu- side the Hermitage in St Petersburg during the
stitution for art and culture in Latin America, seum’s library offers more than 29 thousand Second World War, when the museum staff re-
in order to value the intangible heritage of our items for consultation. These collections con- moved the works from the exhibition rooms in
country together. A direct result of this part- stitute important nuclei of heritage and mem- the imminence of the arrival of the troops of the
nership is the Legados vivos (Living Lega- ory, contributing to curatorial, academic, criti- Third Reich, records a temporary loss, an act of
cies) programme, one of the 68 proposals that cal and editorial productions. concealment that manifests itself as an act of
were part of the call for sponsorship proposals Instituto Cultural Vale’s call for funding pro- preservation. Access to the works that became
Chamada Vale 2020. posals provided an exceptional opportunity to part of official collective memory, inherited by
The project endeavours to foster reflection think about collections and heritage. The in- the Soviet State from the imperial family, had
and dialogue on the processes of cultural con- stitutional collaboration led to the exhibition to be interrupted to ensure that these works
struction through education meetings, the ex- Memory Is an Invention, to the cycle of conver- would be available in the future for others.
hibition A memória é uma invenção (Memory Is sations Scenes from immaterial culture and to If the origin of museum collections is, as
an Invention) and the publication that is now this publication. The relationship between MAM Krzysztof Pomian writes, an act of sacrifice,2
in your hands. The process of exchange and Rio, the Museu de Arte Negra/IPEAFRO and the the displacement of the Hermitage works to
organisation of the programme that is being Acervo da Laje, their works and the people re- the reserves or the trains that took them away
presented here echoes the Instituto Cultural sponsible for them, brought exchanges and from the front line was a lesser, temporary
Vale’s goal to contribute to cultural produc- reflections about tangible and intangible heri- sacrifice, compensated by an act of memory.
tion, stimulating the creative economy, and tage, and about the challenges and complexi- In the museum’s history, the visits offered to
expanding the venues for cultural thinking ties of working with collections and memory. the Soviet soldiers by one of the guides be-
and making through the Chamada Vale and The dialogues that transpired during these came legend: he would describe the canvases
the cultural organisations it supports. meetings between the people involved in the that once occupied the frames so meticulously
It is especially significant that this conjunc- cycle and in the exhibition mark an important that he managed to invoke their presence in
tion has also enabled the coming together of movement for our future actions, precisely be- the imagination of the participants of the visit.
Centro Cultural Vale Maranhão (CCVM) and cause it was possible to create new perspectives. In his accounts, memory acted as a guarantee
MAM Rio, which, together, have built a plural, In line with MAM Rio’s principles, this book for the permanence of the heritage that was no 162
polyphonic, free access programming that helps us develop a museum that can be inhab- longer present.
brings their diverse audiences closer and seeks ited by different people and different memories,
to bring about a reflection on the relationship as well as dedicated to the conservation and ——
between education, intangible heritage and col- sharing of collections.
lections from the perspectives of each region. A second image shows another internal space,
It is our hope that the legacies we celebrate Paulo Albert Weyland Vieira even more spacious than the first, with no
here remain alive in the new dialogues and prac- executive director of Museu de Arte walls within it. If the initial image registered
tices among the cultural organisations, and in Moderna do Rio de Janeiro absence with relative serenity, here everything
the relationship with the various audiences that is desolation: structures, apparently made of
think and make art, culture and education in metal, broken and bent, mixed with debris
Maranhão, Rio de Janeiro, Brazil and the world. that covers the floor; window frames out of
Inventing Memories1 place and fragments suspended from the ceil-
Pablo Lafuente ing, threatening to fall. No bases, no frames,
Foreword no light fixtures. No works of art.
MAM RJ The frames are still hanging on the walls, but This time, such absence is not the result of
they contain nothing. All the canvases are a decision, of an attempt to seek preservation.
Preserving memory is fundamental for the gone. The sculptures too: the bases are still The absence of art in this image is the result of
formation of society’s cultural identity and there, but there is nothing on them. If it were its annihilation, caused by a fortuitous fire at
the construction of the future. Based on this not for the empty frames and bases, one could MAM Rio in 1978 that destroyed approximately
vision, the Museu de Arte Moderna do Rio de imagine an ample inhabitable space, perhaps half of the thousand works that composed its
Janeiro is committed to safeguarding artistic, in use. But the vacant supports refer to loss, to collection at that time, damaging many of the
documentary, film and narrative collections what was there but no longer is. It is as though remaining ones.
and other forms of intangible culture. A collection with the ambition of repre-
Currently, MAM Rio’s technical reserves hold senting modern art, embracing a vision im-
1 This text was written from five images kept in
more than 16 thousand artworks, 7,137 of which ported from the North and expanded through
memory, which only partially correspond to
are from its own collection. The institution also
the original photographs, paintings or situa-
houses the Gilberto Chateaubriand collection, tions. The aim here is not to compare mem-
with 6,621 works, and the Joaquim Paiva col- ory and facts, but to explore the possibilities 2 Krzysztof Pomian, Des Saintes Reliques à
lection, with over two thousand photographs. of reconstructing the past. For this reason, l’art moderne. Venise-Chicago, XIIIe–XXe siècle,
Together, they provide an important historical the images do not accompany the text. Paris: Gallimard, 2003.
exchanges with its southern neighbours, be- ourselves, through objects that belonged to One hundred and eighteen of these objects
came a group of works left over from an inter- others, and which are in part witnesses of the and images moved from the Acervo da Laje, in
rupted process, which needed to be reinvented violent process, of “sacrifice”, that brought the suburbs of Salvador, to MAM Rio for the ex-
from the 1980s onwards, four decades after the them to the museum. hibition Memory Is an Invention, on view from
museum was founded. The European and US 4 September 2021 to 6 February 2022. Together
modern art, at the time no longer supported —— with 97 works from the Museu de Arte Negra
by Cold War diplomacy and unavailable for ac- and 71 works incorporated into MAM Rio’s
quisition, needed to leave the spotlight, which The canvas shows a few objects scattered on collection during its first three decades – be-
allowed for other perspectives, other alliances, the grass among the trees and several men ca- fore the fire –, those pieces were extracted from
other processes of construction to take over, sually interacting with them. A secretaire, an their place of refuge to be exhibited in Rio de
this time national in character. ornamental vase, an unframed canvas, a chair, Janeiro, with the intention of constructing an
Always incorporating changes, because, as a pearl necklace and a white fur cape – all ob- exhibition that, among other things, works as
seems to be essential to modern art museums, jects of use and contemplation, symbols of a speculative exercise of constructing memory
the process of growth of their collections has status, and the result, it seems, of yet another through artistic heritage.
no end. Modern art production eventually ends, sacrifice: the men do not appear to be the own- By articulating, within the same space,
although modern art museums continue to ac- ers. They seem, as is suggested by the title of three collections of such different trajecto-
company the multiple ends of modernity and the work (Perusal of Ill-begotten Treasures, 2003, ries, networks, dynamics and understandings
the various manifestations of the contemporary, by Lukas Duwenhögger), to have taken the ob- of art, we imagine that it would be possible to
sometimes contributing to them. Like every jects from their “rightful” owners, and are now understand more about the processes that en-
memory process, they are condemned to always appraising the goods. But the goods do not ap- able us to gather collections that may claim to
act as a moving present, obliged to accumulate pear uncomfortable in the hands of the men: be representative. Always aware of the exclu-
memories and, with them, to revise its narra- neither the cape covering the body of one of sions, violence and denials that are constitu-
tives. And eventually some memories need to them, nor the pearls that are caressed by the tive of these processes, which forces us to
be abandoned to make way for new ones. hand of another, or the vase and the painting develop strategies and methods of care that
that now rest, one leaning on the other, in the we hope will enable us to work differently. Be-
—— open air, in the midst of the landscape. cause long-term absences are not solved with
We can imagine that the bourgeois flat from simple gestures of inclusion.
And now, a scene: a visit to the museum’s which the objects were taken has now a similar The exhibition is only one part. Cenas da
technical reserves containing indigenous appearance to the Hermitage of the first im- Cultura Imaterial (Scenes of Immaterial Cul-
collections coincides with a visit of Guarani age. Although this time the objects are not in ture), the cycle of conversations developed
163 rezadores,3 invited to examine pieces originat- the reserve, removed from circulation and any with the Centro Cultural Vale Maranhão about
ing from their people that are part of this collec- relations with the world. On the contrary: it is traditional, popular and ancestral cultural ex-
tion. The visitors recognise them and inform: as if this temporary place, a place where new pressions, attests to the complexity of the task.
the wooden cross, kept in a horizontal position relations of desire, appreciation, exchange When heritage relates to life practices, institu-
in the drawers of the reserve, “is heating up”. It and ward are created, presented an alternative tional preservation processes cannot avoid the
needs to be kept upright. But the space of the model of museum, perhaps more candid in re- question of whether their intervention consti-
reserve does not allow it. They also propose: lation to the transactions and displacements tutes an act of rescue, of safeguarding, of ap-
they could sing to reduce, at least temporarily, that happened, and happen, in the processes of propriation – or all of these at the same time.
the temperature of the cross. But the museum construction of heritage and collective memory. The book, exhibition and cycle are part of
rules make it impossible. They return to their the Legados vivos project, supported by the
village, while the cross remains in the museum, —— Instituto Cultural Vale, in an attempt to think
in the drawer, in a horizontal position. about the relationship between the collection,
The absences here are multiple – of objects, The last image returns to a building interior, heritage, memory and territory that inaugu-
practices, people, knowledge, understandings. much smaller than the spaces we found at the rates at MAM Rio a process of collective inven-
And they are, as in the previous image, also beginning. It is not empty, on the contrary. tion of paths based on what others have done
the result of a process of annihilation, here on There are objects everywhere: hanging from and what we think we may do today.
a larger scale and longer-term. Practices dis- the ceiling, occupying almost every inch of the
appear because ways of life are eliminated by walls, on the tables, underneath them – wooden
force. And yet some of the objects that were sculptures, metal cars and trucks, shells, pho-
part of these practices find their way to the tographs, paintings, plaques, masks, of various The many people in a museum-house-school:
museum, dissociated from them, turned into colours, materials and sizes. It is challenging to Caring, living and resisting in
symbolic repositories of cosmovisions that re- move through the space without some part of Subúrbio Ferroviário of Salvador
fuse to become mere memories. your body coming into contact with an object An Interview with Vilma Santos and José
The museum here functions as the museum or surface, and it is impossible to gain distance Eduardo Ferreira Santos of the Acervo da Laje4
of the others: a museum that creates an image to observe one work or another. The impres- Luiza Proença
of something we are not and, with the help of sion is of being immersed in a continuum, but
this image, suggests, by contrast, an image of a differentiated one, where each thing finds its A railway line of about 13.5 kilometres and ten
place next to the others. More than a place of stations stretches along one of the shores of
sacrifice, it seems to be a refuge, where rescued
3 ‘Rezador’ means, literally, ‘he who prays’ objects cohabit in intimacy with those who
(Translator’s note). care and those who visit them. 4 July 2021 online conversation.
kirimurê — the “great inland sea” of the Tu- and their family live in Plataforma, one of the Parque São Bartolomeu, in Novos Alagados,
pinambás that the European invaders renamed neighbourhoods of the Subúrbio Ferroviário. which was an area of stilt houses. My father
Baía de Todos os Santos (Bay of All Saints), and However, it is not exactly the macro-stories moved to the Subúrbio when he was 6 years
where they established the first port in Brazil of the territory that interest the most the cre- old, after my grandparents died of an illness
for the export of tons of sugar produced by the ators of the Acervo da Laje. Armed with curi- at the coffee plantation in Santo Antônio de
slave labour of thousands of Black-African osity and attention, José Eduardo and Vilma Jesus, where they lived. My father worked in a
people who landed there. The seaside railway, wander about the area on foot, collecting, with field and later got a job at the São Braz. He also
which was constructed in 1860 in order to dis- their own hands, various things or little things sold bananas and I walked with him all over the
tribute products from the interior of the con- on beaches, around the train tracks, in bars, in Subúrbio. On these walks we already paid much
tinent to the port of Salvador, spans through the houses of residents and, often, in the rub- attention to the rubbish, because many pretty
some 22 neighbourhoods — from Calçada, bish. These are shells, seeds, plants, bricks, things were thrown away. My father’s nickname
on the Itapagipe Peninsula (in Tupi language, tiles, stones, books, photographs, paintings, was Cabeça (Brains) and everyone knew him.
“on the flagstone river”), to Paripe (“fish pen”), sculptures, letters, records and other materi- My mother came from Cruz das Almas and
south of Aratu Bay (“noise of the fall”) — form- als resulting from a variety of agencies — hu- worked in a family home in Campo Grande.
ing the area known as the Subúrbio Ferroviário man, animal, environmental and industrial, Once married, my parents built the house on
of Salvador. It was the presence of the train that among others, at different times. Gathered in Nova Esperança Street, in 1974, which is the
radically marked the local landscape and thick- the houses of Vilma and José Eduardo, where house where I was born and which gave birth
ened its population, composed mostly of work- they can be touched by visitors, these materi- to the Acervo da Laje. My parents always sup-
ers from the factories that were later built, the als redefine the very notions of “collection” or ported everything we did. They used to take ev-
oldest and best known of them being Fábrica “museum” towards an institution that can re- erybody for walks in Parque de São Bartolomeu,
de Tecidos São Braz,5 from 1875. ceive the smallest of creations — micro-stories on the beach, by the railway... All these life ex-
São Braz fell into disuse in 1960, and now- elaborated by “invisible” and often “unusual” periences were very strong for me.
adays its facilities are abandoned. The train, artists: workers, housewives, builders, acarajé 8 As a child, I read a short book about cinema,
after 160 years of operation, is being replaced sellers, shellfish, trees, the sea and entities, and wanted to be a filmmaker. I used to dream
by a monorail. But before being stigmatised among other authors identifiable or anony- a lot about it. Television was the only commu-
as a ruin of industrial capitalism – peripheral, mous. These micro-stories are varied and inge- nication medium we had. We would watch it in
poor and violent – this region of vast natural nious ways of perceiving, narrating and making each other’s place and stay on the roof point-
resources was the stage for other stories with worlds within the area. Together they generate ing towards the Suburbana Avenue, saying that
more complex temporal arcs. Some of them a cacophonous mosaic that expresses itself by over there was São Paulo, where we would go
repeat the narratives about seizing, knowing, covering the walls of the Acervo da Laje. The set when we grew up. Our whole world was here.
renaming, giving orders, shooting, drilling, activates another type of heritage, “intangible”, The presence of the community was very 164
extracting, and depleting, as in the case of the corresponding to the relationships and lives of important for me. Everyone looked after each
Escada Beach invasion by the Dutch in 1639, or the people and beings who produced them and other. I had contact with older residents, who
in the discovery of the first oil well in Brazil, in who shape one another. Through the Acervo kept asking me to do all kinds of things to keep
Lobato, in 1939. Others are stories of resistance, da Laje, the Subúrbio Ferroviário ceases to be me busy, from collecting medicinal leaves to
such as the Battle of Pirajá — decisive in the War a place without a past or a future, as reported carrying water. I was very restless and people
of Independence of Bahia in 1823 — and the on newspaper headlines, and becomes a terrain were afraid that I would get involved with drug
Quilombo of Urubu led by Zeferina in the for- in which multiple arts of living coexist and the trafficking.
ests of Parque de São Bartolomeu, around 1826. people — the result of this plurality of agents — When I was 13, they paid a touch-typing
The stories of resistance are the ones that are strengthened. course for me, and, later on, I typed the disser-
are mostly recalled by Acervo da Laje6 — the I ask permission to enter these homes and tation of Vera Lazzarotto, who had moved from
museum-house-school created by José Edu- listen to the stories they have to tell through Rio de Janeiro to Salvador to teach the Paulo
ardo Ferreira Santos and Vilma Santos in 2011, their founders, who always express themselves Freire method. Together with her husband,
currently occupying two houses7 where they with broad, captivating smiles on their faces. the Italian missionary Antônio Lazzarotto,
she created, in 1977, the first school in Novos
—— Alagados, and founded the Sociedade Pri-
5 São Braz Textile Factory (TN).
meiro de Maio, a very important centre for the
6 Literally in English “The Rooftop Collection”,
Luiza Proença Could you tell us about your sto- organisation of social and political struggle in
Acervo da Laje is a museum and research
space located in the Subúrbio Ferroviário area ries and your relationship with the Subúrbio the region. When I finished typing Vera’s dis-
of Salvador, state of Bahia. Lajes are common Ferroviário of Salvador before the creation of sertation, she left me a written thank-you note,
structures in favelas, where they function as a the Acervo da Laje? and that was a major turning point for me. I re-
hybrid of private and public spaces (TN). alised some things I wanted and did not want
7 Acervo da Laje began in the house where José Eduardo Ferreira Santos I was born in the in my life: I did not want to work forty hours
José Eduardo lived with his family, and this Subúrbio Ferroviário, more specifically near a week, I did not want to die, and I wanted to
is where most of the collection can be found. write. Whenever the couple travelled to Italy,
It is called Casa 1 (First House), or Casa Mãe
I would take care of their house, and it was a
(Mother House), since in 2015 a second house
wonder. Over there I would type poems by
was built, Casa 2 (Second House) or Casa Mar 8 Acarajé is a dish of African origin made of
(Sea House). Today, José Eduardo and Vilma black-eyed bean dough, which is deep-fried Drummond, Manuel Bandeira, listen to MPB9
live together in Casa 2, which also is a museum in palm oil and then stuffed with spicy pastes
and an educational activities space, while they made of ingredients such as cashews, okra or
envision the construction of a third house. shrimp (TN). 9 Brazilian popular music (TN).
records and glance over art books, which made clothes. My mother took care of everyone. and I consider this an exchange, since our com-
me go to the city centre to see things. When leaving the house, she would leave me in munity also took care of me. I met Eduardo
I worked as a doorman and Guarda Mirim10 the cradle where I was sleeping, with porridge again because of the Catholic Church, and
until I began studying pedagogy and started and everything else that I would need close we have been together since 2010. One day he
teaching. I taught children, teenagers and by. I watched all the movements of my broth- asked me, “Hey, Vilma, would you like to walk
adults for many years and in various places... ers and cousins, who came to live nearby, but I with me, to do some research?”, and I answered,
My students have already given me great- stayed indoors, as I couldn’t move around. My “I can only do it some days during the week”.
great-grandchildren! I went back to university seven cousins carried me wherever they went, And then we started forming the collection,
to study violence in the region, because many as they had to look after me. which was in the house where Eduardo lived.
of my friends were murdered. My PhD thesis When I was 9 years old, I was already walk-
was on the repercussion of homicides among ing a little bit, and was able to go to school. Proença You always mention the “beauty” of
young people, in my viva, Gey Espinheira sug- Then I understood that I could learn many the Subúrbio. It seems to me that “beauty” for
gested that I should study the beauty of the things. But I couldn’t play with the kids, for you corresponds to the power of life, or unique
suburb. It was the Italian photographer Marco the teachers were afraid I would get hurt. I life stories. I found it curious that you men-
Illuminati who helped me see the colours, the was always a fragile and protected little girl. tioned the touch-typing in your journey, it is
lights and the artists that I had never noticed My father used to take two or three years to a technique for writing in a fast and objective
before, in contrast to the violence of the ter- come visit us. When he arrived from the sea, all way, often something that is being dictated.
ritory. Together we organised an exhibition dressed in white, the eight children had to be The two of you stopped transcribing stories
about the invisible art of the workers from the well-groomed and beautiful to salute him. It was that have already been told to tell your own and
outskirts of Salvador. From this the Acervo da a very rigid thing. And he didn’t know anyone’s to help others to tell theirs.
Laje emerged, to show that we were not born name! We had no television or electricity until
solely as slum, periphery or poverty. We were my father got a better house. The neighbours Ferreira Santos Yes, to develop an authorship.
born as something beyond what was condi- loved my dad, but whenever he left, they saw We didn’t want to repeat the lived lives. We
tioned by economic factors, the disorderly us as bastards, because my mother was a single wanted to have the authorship of our lives, to
growth of the city and the abandonment by the woman raising the kids on her own. But she was have a different look at things. We already know
public authorities. To show this, we need to cre- always a warrior and all my brothers helped her. violence, so who is going to take care of the
ate a symbolic field based on reading and art. As time went by, I developed the indepen- other part? Who will look at us with some af-
dence to walk without my brothers. Then I fection and love? We want to give hope through
Vilma Santos I was born and raised here, but went to work in a family home — I thought I other stories, make people restless and not let
I only really got to know the Subúrbio when would follow in my mother’s steps. My first them live a life they don’t want to live.
165 I turned nine. Until that age I lived indoors, job was babysitting in the mornings. With my
where I was taught to read and write. I was salary I paid for the afternoon touch-typing Proença You also talk a lot about invisibility
born with a bone problem — rheumatic fe- course, which was a requirement to find work and oblivion. What makes us blind and forget
ver. Luckily my father was a sailor and I had in Plataforma. I studied at night because, due stories?
access to good doctors. I didn’t know my to my age, it was the only time the schools
grandmother on my father’s side, but they say would accept me. Ferreira Santos I would repeat Caetano’s ques-
I looked a lot like her, even in regard to this I met Eduardo when we were at the teacher tion: “Who reads so much news?”13 Our gaze
problem with the bones, which were atrophied training course, which we did while we were has not been educated for beauty. Already in
and I couldn’t walk. She taught my father how in secondary school, in order to become first childhood we begin to hear “no” to our won-
to write his name and to read some things. He to fourth grade teachers. I started teaching in ders, and we have come to see only what oth-
got a job in the Navy and travelled all over the the morning, doing an internship in the after- ers determine. We go from the autonomy to
world. My mother is his fourth wife. noon and studying at night. On the weekends the heteronomy of the gaze, where someone
My mother was the youngest, and did not I would clean single men’s homes in this area. always dictates what to see, what is right, etc.
learn how to read and write. When her father I dreamed of becoming a teacher. My fa- But I could answer in several other ways.
died, the family was left without the means ther wanted us to study only up to secondary I think of that short story by Jorge Luis Borges,
of survival, and the three older brothers went school, and then stay home to attend to our “Funes the Memorious”, in which the character
to work in the fields, and make tobacco with husbands. But I went beyond this thought. has to forget some things in order to remem-
my grandmother in order to save money. My I was more daring. And I started a revolution ber. But he doesn’t forget, so he dies!
mother fled Feira de Santana to Salvador, at home, because my younger sisters followed I would also say that we don’t look at the
where she lived in single women’s homes and me. My mother never told me anything, and ground we step on. That we need to pay more
worked in guest houses, while my father’s I learnt everything on the streets. She never attention to the things around us.
mother worked selling cocada de tabuleiro.11 took me anywhere. Inside the house she did More specifically in relation to art, in Brazil
My mother was always very shy, she never told everything, but she never sat down to talk to us. there is discontinuity, in the sense of not hold-
us her life stories. We kept asking. She was Later, I joined the Pastoral da Criança12 and ing the other’s hand from generation to gener-
a wet nurse and worked in Ribeira ironing started to look after the development of chil- ation. I also notice a lack of interest in the peo-
dren, from the mother’s womb to 5 years old. ple that make art. Art is seen as a substratum.
What I have always done is to take care of people, I think Brazil lacks artistic education.
10 As part of a youth apprenticeship programme
(TN).
11 Cocada de tabuleiro is a type of sweet made of 12 A Catholic organisation that aims to contrib- 13 Caetano Veloso, “Alegria, Alegria”, from the
grated coconut (TN). ute to the welfare of children (TN). album Caetano Veloso, 1968.
I think a lot about when Lina Bo Bardi came Ferreira Santos Right. When we were children, So, when the older people come here, they find
to Bahia to organise the Museum of Modern there was a painter here, Esdras, who sold milome, jatobá...19 they find cachaças that only
Art and brought in popular art. She understood paintings he carried under his arm. It was a to- those over 50 years of age recognise. These are
something about this, as did Mario de Andrade. tally disproportionate image, for it depicted a reactivation processes.
We have to remember those minds that pre- small house and a big man who would never fit
ceded us, who thought about art, who broke in the house. Esdras was never invisible to us, Proença And there are the builders who are
down boundaries by making movements to just like the artists who created the artworks artists as well.
value the artists who consider themselves that were in the bars. Each bar had a sculp-
craftspeople as well as those who consider ture, be it a Carranca15 or a work by Paciência.16 Ferreira Santos Right. We found, in the trash,
themselves conceptual artists, and leave room This provoked us. I think that this is visibility. a two-metre Iemanjá20 made of PVC plastic.
for everybody. How to make this coexist is a The work refers to something, to someone’s When we went to get it, running in the rain, the
problem. That is why I am dying to understand process. And who is this someone? This ques- builders who were working here on the reno-
what is going to happen at MAM in Rio de Ja- tion arises from materiality, not the other way vation fell in love with her. And it was them
neiro. There they had Oiticica in an open dia- around. Materiality triggers a kind of a poste- who restored and took her up to the top floor,
logue with Mangueira, with the Parangolés...14 riori knowledge. For instance, we received an as if they were performing a ritual. Up there,
These risky approaches are important. We Exu17 from a family from the Pituba neighbour- she was lit up for everyone to see. The fisher-
have to always use friction to create dialogue, hood, but it was just the other day, skimming men are able to see her from the sea.
but what we cannot do is distance ourselves through Emanoel Araujo’s book A mão afro- We are talking about a period of Brazilian
completely and create ghettos. Because if brasileira, that we discovered it was made by history that is reactionary, conservative,
ghettos are created, art becomes strange to Tamba [Cândido Santos Xavier], an artist from marked by religious prejudice, and art has the
the population and then we have the return of Cachoeira. Cataloguing is also important! function of constructing affection. This is the
reactionary politics in a frightening way, as can And the gaze of other people is very beauti- question I have been asking myself a lot these
frequently be seen nowadays. ful. The other day, a man who transports things days: who curates for these people? Do we get
Therefore I think that the provoking phrase came by, he saw a whole bunch of books that had close to the affection of these people, to their
“whoever can have a work of art, should have it” been thrown away and decided to bring them to desire, to understand that there is art there?
is brilliant. We did the exhibition Águas Sub- the collection. They were very old books, from
urbanas [in 2012], with thousands of sea shells, the early 20th century. So we cleaned them up, Proença You previously mentioned the exhi-
and people taking the shells away. We even organised them, had a moment of listening, etc. bition of seashells. In the region there is also
wondered if we should make postcards with Very soon there’s going to be an outbreak one of the oldest archaeological sites in Brazil:
photos of sea shells! of oblivion of popular art. The Mercado Mod- the Pedra Oca shell-mound, in Periperi, which
elo18 will be completely gourmetised and there is made of shells, stones and bones. It reveals 166
Santos It was the same as OcupaLajes [2016], won’t be any more space for popular art there. the close relationship between human groups
during which we occupied people’s rooftops They’re selling sculptures of saints, orixás and with the sea and the fishing and gathering ac-
with various artistic activities. In the second other very characteristic Northeastern sculp- tivity. You walk a lot along the beaches of the
edition we understood that we had to leave tures for almost nothing, and we’re buying Subúrbio, collecting shells that are part of the
some kind of memory on each rooftop. So we everything! collection and telling stories of marine life.
took an artwork by an artist from the Subúrbio The acquisition of art works is a natural flow There is a fantastic amount of skilful beings in
as a gift from the Acervo da Laje to that home. for us, because one day we will see the result the sea, which we could call artists. The shell
We don’t know what people are going to do of all this. We are creating a mosaic whose is the mollusc’s home, with potential, perhaps,
with it, but they now have a piece of art! pieces are going to be put together. I don’t to be one of the smallest museums. Can you
know how yet. I think it is a scary mosaic. We tell us more about these shells and the various
bet on the materiality of memory because ways you collect things for the Acervo?
there were no museums in the Subúrbio, and
14 In 1965 Hélio Oiticica presented Parangolés people from the Subúrbio do not usually go to Santos In our childhood and teenage years we
(a type of cape that is worn with text and museums. Nobody ever thought of curating used to walk a lot along the beaches, because
pictures, designed by the artist) for the first for the builder. Nobody ever curated for the there are lots of shellfish gatherers and fish-
time at the exhibition Opinião 65 (Opinion
people who serve coffee in museums. So here ermen here. I myself used to gather shellfish
65), in which the capes were worn by the art-
we had a “thinking corner” to make liquor, be- when we didn’t have money to buy food. Edu-
ist and members of the Estação Primeira de
Mangueira samba school in a kind of festive cause Edinho, the man who goes out with us ardo’s parents used to take him to do this. In
procession in the area outside MAM Rio. Be- to do the transport likes rotten leaf cachaças. my case it was the neighbours who showed me
tween 12 December 2020 and 7 March 2021, the little creatures. And our Christmas trees
the museum presented the exhibition Hélio
Oiticica: a dança na minha experiência (Hélio 15 A wooden figurehead traditionally used to
Oiticica: Dance in my Experience), which in- protect boatmen from evil spirits, originat- 19 Milome, also known as cipó-mil-homens (a
cluded a contribution from Leandro Vieira, ing from the lower Rio São Francisco, in the thousand men vine), is the common name for
carnavalesco of the Mangueira samba school. Brazilian Northeast (TN). various species in the Aristolochiaceae family,
In February 2021, the museum developed the 16 Adilson Paciência is one of the artists who are known in English as birthwort, Dutchman’s
programme Saberes da Mangueira (Knowl- part of the Acervo da Laje (TN). pipe or pipe vine; Jatobá is also known as
edges from Mangueira), with workshops, 17 Exu is an orixá, a deity present in some Afri- courbaril, or West Indian locust.
performances and seminars led by musicians, can diaspora religions (TN). 20 Iemanjá is an orixá (the goddess of the sea),
dancers and other artists from the school 18 The Mercado Modelo is a traditional arts and and she is a central deity in the Candomblé
(Editor’s note). crafts market in the centre of Salvador (TN). religion (TN).
were not decorated with little balls! We used Then we started walking and finding hydrau- happening. We don’t even walk over there any-
to decorate them with shellfish shells, stones... lic floor tiles, tiles... And people help us. Once we more, for fear of what might be happening be-
I loved those different stones. found a cemetery of old roof tiles in the Fábrica hind the screens.
São Braz. They were roof tiles made in the fac-
Ferreira Santos There are a lot of stones here. tory of the German brothers Ludolf in Jerônimo Ferreira Santos It’s a process of subjective gen-
The sea is very fertile, there is a great variety de Mesquita [which became the largest ceram- trification. It takes away from us what was
of shellfish, so a lot of handicrafts were made ics manufacturing company in Brazil]. As they most prosaic, which was walking, discovering
with shellfish. never studied our territory archaeologically, things and seeing things, making ourselves
When we started the Acervo, we thought these things keep appearing all the time. Here known and getting to know.
about having all the seeds, shells and stones we have also had many rivers that were covered
that made up the territory. When we walked over, and that overflow when it rains, which Proença Industrial activities and the railway
along the train tracks, beautiful stones would bring us things that we can’t even imagine. are part of the symbolic memory of the resi-
appear out of nowhere. There were many One of the last scenes I remember before dents of the Subúrbio. At the same time, they
shipwrecks on the beaches around here, so the pandemic was Vilma and I on Ribeira have had a strong impact on the environment.
porcelain, old tiles and many beautiful shells beach, on a rainy day, Vilma with a dress and You say that one no longer finds the pearls, sea-
appear too. We even got shells that came from a very colourful umbrella, and only the two of horses or starfish that were abundant during
Africa. We were told — although this has to be us on the beach looking for shells. your childhood. Is this a contradiction?
confirmed — that when these giant ships come
from other countries some shells stick to them Santos It rained a lot! During this year and a Ferreira Santos Nobody has ever asked us this
and come off here on the coast, where the wa- half of the pandemic, we really missed walking, question. In 1975, the Companhia Química do
ter is warmer. not only as physical activity, but also as some- Recôncavo dumped mercury — which is highly
thing for the soul. toxic — into the sea22 here. If you are eating
Santos Then the tide starts to rise and brings shellfish, for example, you may have mobility
the shells here. The sea offers many beautiful Ferreira Santos On the other hand, now we are issues when you get older. Then you see the
things for us to appreciate. going out by car with Edinho and unbelievable level of invisibility, because the people who live
things are happening. For example, we found here don’t matter to the city. You understand
Ferreira Santos The architects Federico Ca- an amazing oratory of Oxóssi21 thrown in the how perversely inequality works. For example,
labrese and Ana Carolina Bierrenbach gave rubbish. We also found a very big wooden head the beach in front of São Braz factory is nick-
us this idea of collecting broken tiles and of Saint Francis, from the 1980s, at the door of named “alvejado” (whitened) because after the
other things to cover the external and internal a bar. I went nuts! They didn’t want to give it to fabrics were dyed, they dumped the water with
167 spaces of the second house, forming a mosaic us because it protected the bar, fine. But it goes the dye into the sea. Imagine how much life was
of these buried stories that we map as we walk. to show that the eye is still sharp. extinguished because of these actions. It’s like
Chadler, the old chocolate factory, or Souza
Santos From Monday to Friday we worked, Santos Even inside the car, we are eager to go Cruz, the cigarette factory. Many people had
and at the weekend our leisure was to walk. out and pick up things! breathing problems already in their mothers’
wombs. You would walk in Cidade Baixa and
Ferreira Santos We discovered many things: Ferreira Santos It seems that things are thrown end up dizzy with the smoke of tobacco and
old tiles, marble slabs, and some railings from out for us. We have educated our gaze in such chocolate. It affected your sensibility, every-
the 19th century. We didn’t bring those, we were a way that we can be on any beach and some- thing! If you think about the unhealthy condi-
afraid! thing appears, as if saying “look here!” And tion of the buses, or anything else, we are deal-
sometimes Vilma says: “Not today! We’re not ing with the disproportion of social inequality
Santos We didn’t bring them because they were working today! (laughs). in Brazil. And do have in mind that here we
heavy! And we didn’t know if they were going to complain about it, we shout, the media knows
let us carry them on the boat or on the bus. Santos And now we’re missing the train line, about it, etc., but it is as if a veil were placed over
because they’ve closed everything down. the peripheral neighbourhoods so that these is-
Ferreira Santos A lot of things are thrown away. sues don’t come to light in this depth.
With my father and Vilma, I roamed over all Ferreira Santos The train line is deactivated
the beaches of the Subúrbio, collecting things now, and we’re going to have a monorail. They Santos And we were fighting over the names
in little pots. Many visitors to the Acervo are have already demolished the first station, of the stations, right?
thrilled to see the material aspects of the shells, Lobato, and it is a very hard moment for the
as many no longer exist. Here we even had oys- memory. While we make history, it makes us Proença Does it make sense for the area to be
ters that made pearls in the past. Older people too, it passes through. There will be a modern identified with another name, and no longer a
say that they would go gathering shellfish and vehicle, but that aspect of the train, the mem- reference to the railway suburb, since the train
found pearls. Then they would baptise each ory of walking along the tracks, of picking up is deactivated?
pearl with a little bit of salt, because other- stones... that’s gone. See how fast it goes.
wise they would disappear (laughs). We grew
up in the midst of all this. They told me that in Santos They’ve even covered the view with
22 The incident was the cover story of the Tri-
Rio de Janeiro there are no shells. I got wor- wooden screens so that no one can see what’s buna da Bahia newspaper, year 6, Salvador, 7
ried, how could that be? Here everybody had May 1975, and it can be found in the Alex Fer-
shells on the headboard of their beds, shells of raz’s book Tribuna da Bahia: quando a notícia
peguari on the wall around their houses, etc. 21 Oxóssi is an orixá (TN). conta a história, Salvador: Integro, 2010, p. 41.
Ferreira Santos It’s a symbolic issue that refers to orixás here. Because once the children come audience? And who will maintain such spaces
the increase of violence. I’ll tell you a synthesis of here, they start asking things at home. What we after us? We deal with the issue of imperma-
these processes of erasure. I found a picture near do here, the mother also has to do in her own nence. I understand that simply by commu-
the Pedra Oca shell-mound, an old photograph home. She’s not just leaving it up to us here. nicating an idea, delivering it to those who
of a boy. Over the photograph, they scratched his We also organise workshops for mothers, can be reached, this idea will reverberate. As
face violently. This is the portrait of what is going for them to produce their own arts and teach Deoscóredes M. dos Santos, the Alapini24
to happen in the Subúrbio. It is something very the community. There are women who think Mestre Didi used to say: “What must be, brings
strong. It is the photograph of a scratched child, they are not artists and that they should only strength”. This sentence is in the preface of
which means that the future is being erased in take care of the house, the husband, the clothes. the book written by Diógenes Rebouças Filho,
the present. It is that which would become, what It’s the same attitude that my dad would have where he writes about his father, Agenor.25 The
should be and should grow, being erased in the towards me. Acervo has already fulfilled a function, it has
present, so that it doesn’t exist. When I saw that generated much dialogue, many encounters.
picture I got goosebumps. One has the possi- Ferreira Santos It was very difficult to find fe- This communication function cannot be pre-
bility to develop themselves, however the State male artists. The exhibition at MAM Rio will cluded. You met us in the heat of the Bienal,26
does not listen, throws things at us from above have work by Mila Souza and Daniele Ro- back in 2013, when we were just a couple who
in an authoritarian manner and without discuss- drigues, two female photographers who don’t had a house with works of art. We had no idea of
ing projects. They even want to change the name consider themselves artists. Imagine that! Men anything! And when we accepted to participate
of the Subúrbio to “Northern area of Salvador”. still manage to impose themselves as artists, in the Bienal, we thought: “Oh, something is
In the same way they take away the train, women of the periphery often do not. How can going to happen and we are going to need ma-
they are going to sell this Subúrbio. For ex- this be? So much so that at MAM Rio there are turity to deal with the processes of curatorship,
ample, they are going to build condominiums others, like Ivana Magalhães, who has to work production, criticism, of this whole circuit. We
and try to privatise Parque São Bartolomeu, hard to take ownership of her authorship, to are going to be an expression of what we must
the only place in Salvador that has waterfalls. think about career stages, imagine a trajectory, be, but without taking anyone’s place, and we
What will happen reminds us of Gey Espinhei- reveal her poetics... will aggregate”. We did things you can’t imagine.
ra’s question that generated the Acervo da Laje.
A local resident told him: “This is expensive Santos And our team has more women than Santos We didn’t run over anyone and we con-
land for cheap people”. And Gey challenged men. Every time we have something to pro- quered our own space.
him: “If it’s expensive land for cheap people, duce, we find a way to work with women
what did these cheap people produce?” There- from the community. They have something Ferreira Santos The dream is that this be a place
fore, the Acervo da Laje is this wonder that they keep inside themselves, they want to do of dialogue from here to the world. If I could cry
says: “Here!” These cheap people produced things and learn. In OcupaLajes there were something out loudly before I die, what I would 168
everything that is in the Acervo. ten women working with me in the production. ask is for this to be done. I can’t stand violence
Many people from Santo Amaro came to They were not artists, but they wanted to get anymore. I can’t stand young people being
live here in the Subúrbio, and some of them out of their homes, learn something from the murdered anymore. This is the statement I’ve
look just like Caetano. These cheap people artists. They had the will to do something, but been saying ever since I can remember. I want
produced Caetano and Bethânia, damn! These never had the opportunity to do so. these cultural facilities to reach places where
people who are considered cheap people are a the State does not reach. I want them to have
Gonzaguinha, a Macalé,23 I don’t even know Ferreira Santos A lot of things from an old hab- open houses that allow meetings. We are in
who. While the powers that be think of us as erdashery have been arriving here, billions of the field of visual arts, but it can be any path, as
cheap people, these people, who are not cheap, buttons, threads, needles. And then we dis- long as there is one. It is a gesture of political
want to marvel at things. tribute them to the people alongside Fabrí- strength, in the organic sense of the term, that
cio Cumming. We understand that we are not in moments of great disruption and crisis we
Proença And what is the importance of women hoarders. Energy comes and energy goes. Ma- are playing and betting on. Art and the Acervo
and care in the Acervo? What do they have to terial arrives and it is not for us, then it goes gave us much strength. Many people did not go
do with the curatorship of themselves and of out to the world! The Acervo has no intention nuts because of the Acervo, and we did not go
the world? of keeping everything for us. So far, nothing nuts because many people did not go nuts and
has been loaned anywhere because we hadn’t took care of us when we ourselves had gone
Santos I respect the mothers of my students done any cataloguing at all. The idea is that nuts! (laughs). Of course we speak of the sphere
a lot. They always ask me what I do here, if I with each public call for proposals we win, we of the arts, but socially the impact that we want
work, if I live here… They have to trust me may catalogue more things, so that people can has to do with the process of transformation
because I take care of their children. Soon I have access and more pieces can travel. that these boys and girls create here. It was
realised that we needed to get close to these their first time in many things: in a museum
women, so that they understood and also took Proença Would it be a possible ideal for the
care of the Acervo. future that each home became a kind of micro
For instance, there are mothers with other Acervo da Laje, a unit of production and preser- 24 Alapini is a high-priest of the Egungun Cult,
from the island of Itaparica, in the Baia de To-
religions, so we explain that there are saints and vation of art and memory, so that the existence
dos os Santos
of Acervo da Laje would not be necessary?
25 Diógenes Rebouças Filho, “O que tem de ser
traz força”, Pai Agenor, Salvador: Corrupio,
23 Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gonzagu- Ferreira Santos I always wonder what it would 1998, p. 6-7.
inha and Jards Macalé are all Brazilian musi- be to democratise art and spaces. What does 26 31st São Paulo Biennial — How to Talk About
cians (TN). it mean to make access possible, to form an Things that Do Not Exist.
or in a house-museum, to touch an artwork, so The Museu de Arte Negra (MAN — Black Art During his youth, Abdias Nascimento partici-
that there is an irreversible process of encoun- Museum) is alive and kicking! Brought into pated in the Frente Negra Brasileira (Brazil-
tering something that is additional. Brazilian existence in 1950 by the Teatro Experimental ian Black Front) — an organisation formed in
inequality has deprived many people of the do Negro (TEN — Black Experimental Theatre) 1931 that fought for the rights of Black people
experience of saying “I saw something beauti- in Rio de Janeiro, then the capital of Brazil, and eventually became a political party. As an
ful, it moved me”. And this goes back to the idea MAN is the result of discussions around Mário adult, he travelled with the poets of the Santa
of “self-curating”. I will take care of myself so Barata’s considerations regarding African Hermandad Orquídea (Holy Orchid Brother-
that I can enjoy more and more something that sculpture, and the thesis Aesthetics of Negri- hood) throughout South America, pursuing
makes me think and that mobilises me. tude, presented by Ironides Rodrigues at the his taste for adventures and challenges, and
We are ready to go to other places, and the 1st Congress of the Brazilian Negro. The trajec- for theatre. Back in Brazil, he was arrested
more people I can take to wherever we go, I tory of both MAN and TEN is directly linked to without trial for resisting discrimination and
will. What we are doing is offering people what that of Abdias Nascimento (1914–2011). Poet, served his sentence in the Carandiru peni-
we once received. writer, journalist, playwright and visual artist. tentiary. There, he created the Teatro do Sen-
Self-curating is done for this. It is a strong Pan-Africanist activist and Professor Emeritus tenciado (Convicts’ Theatre). Later, in Rio de
desire that it reaches people. at the State University of New York. He was a Janeiro, he founded the Black Experimental
We are already talking, at a very deep level, federal Congressman, Senator of the Republic, Theatre (TEN) in 1944 with the support of art-
about what the idea of the Acervo da Laje and Secretary to the state government of Rio ists, intellectuals and activists such as Arinda
would be, with a long-term perspective inside de Janeiro. With several books published27 Serafim, Ruth de Souza, Aguinaldo Camargo
the peripheries, which involves taking care of and an international career, Abdias Nasci- and Ironides Rodrigues; and, later, with Léa
our mental health, so that we have a minimum mento was officially nominated for the Nobel Garcia and Guerreiro Ramos.
orientation for the future. Things will come to Peace Prize. He was one of the greatest expo- In this essay, we intend to briefly recount
fruition, there will be the possibility of choos- nents and advocates of Black art and culture some aspects of the path built and trodden
ing a profession, international and intergen- in Brazil.28 by Abdias Nascimento and the Black Art Mu-
erational meetings. This, for instance, means Born in Franca, in the state of São Paulo, seum (MAN) project, starting from the endless
that young people who are experiencing a cer- Brazil, on 14 March 1914, Abdias Nascimento possibilities for historical reading of the Insti-
tain hedonism today because of the pandemic had an infancy and early years that were poor tuto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
will not need to kill themselves or be killed. Art but vibrant with life: (IPEAFRO — Afro-Brazilian Studies and Re-
activates a symbolic field. Other museums are search Institute) documents and arts collec-
slowly developing this gaze that allows them to In Professor Abdias Nascimento’s child- tion. Created by Abdias Nascimento and Elisa
look at these arts that were distant from their hood, nature came forth as the most Larkin Nascimento in 1981, IPEAFRO holds the
169 axis, as you did at the Bienal, thinking about enchanting, the healthiest, most intel- personal archive of Abdias Nascimento and
things that we do not see, but that need to be ligent and formative toy. He interacted the organisations he created. In a newspaper
seen. Then I think of Maré, of Fundação Casa daily with it. With a river, with trees, with clipping from the collection, we find one of the
Grande, and of so many other initiatives that birds, breezes, fruits or animals. An en- possible motives listed by Abdias Nascimento
give me a breath of hope. Courage! tire playful universe, with no barriers, not for creating a museum: “To collect and dis-
a shadow of boredom in its exploration, seminate the work of Black artists, without
constantly in movement and inviting one distinction of genre, school, or aesthetic trend,
into its spaces.29 thus promoting the documentation of their
Museu de Arte Negra: creativity, stimulating their imagination and
One collection, endless possibilities invention within the wide range of plastic ex-
Elisa Larkin Nascimento pression”. Another motive was “to collect, also,
and Julio Ricardo Menezes Silva 27 Abdias Nascimento, O negro revoltado, 2 works by non-Black artists — of any racial ori-
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, gin, cultural or national background — where
Here lies the ancestral ground available at <https://Ipeafro.org.br/acervo- Black people or their culture are represented,
Beneath my feet its heartbeats digital/leituras/obras-de-abdias/o-negro- exert influence, or play an inspirational role”.30
The quivering underground tantrum revoltado/>; A. Nascimento, Axés do sangue Mobilising and bringing people together
e da esperança (Orikis), Rio de Janeiro, 1983,
Shakes the matrix of the black earth became one of Abdias Nascimento’s defining
available at <https://Ipeafro.org.br/acervo-
Pregnant with so many tears traits. At the same time, as he joined forces
digital/leituras/obras-de-abdias/axes-do-
So much life sangue-e-da-esperanca/>; A. Nascimento, with various groups to consolidate the MAN
So much hope O genocídio do negro brasileiro: processo de um project, he never shied away from his role
racismo mascarado, São Paulo: Perspectiva, as a “boi de piranha”: one who paves the way
My steps echo to the rescue of hope 2016 [1978]; A. Nascimento, O quilombismo: for those who follow. In this way, he helped
Along the preceding path (neither wide documentos de uma militância Pan-africanista, young talents develop their artistic produc-
nor narrow) 3 ed., São Paulo: Perspectiva, 2019 [1980]. tion. Painter Sebastião Januário and sculptor
Sombre sound of chains 28 M. B. de Castro and M. S. dos Santos, Abdias José Heitor da Silva, for example, were often at
do Nascimento e o Museu de Arte Negra, MO-
In the blazing light of Orum
DOS magazine, v. 3, n. 3, Sept. 2019, p. 176,
Hidden eye of the seeds
available at https://www.publionline.iar.uni-
Wise eye of Orunmila camp.br/index.php/ mod/article/view/4 235. 30 Abdias Nascimento, Correio da Manhã, Jan-
In my same time seed… 29 Abdias Nascimento and Éle Semog, Abdias Dec 1968, IPEAFRO collection, copies of news-
Nascimento: o griot e as muralhas, Rio de Ja- paper clippings donated by researcher Kim-
Abdias Nascimento, 1983 neiro: Pallas, 2006, pp. 29-30. berly Cleveland.
Abdias Nascimento’s side and today they still used this competition to broaden the field of Silva presented the work Nossos passos vêm de
dedicate their lives to the arts. discussions that had been lively for more than longe (Our Footsteps Come from Far Away) pay-
In a statement made for the Ocupação a decade within the theatre company. TEN ing tribute to the 1955 contest. The installation
Abdias Nascimento exhibit at Itaú Cultural in shed light on historical facts that attributed was shown in the Visual Arts School chapel. It
São Paulo, Carlos Moore (2016) summarises a Black appearance to the foremost figure of proposes “aesthetic reparation”, transform-
Abdias Nascimento’s efforts to dialogue with Christianity, Jesus Christ. In this way, it af- ing the nativity scene of Julio Menezes Silva’s
diversity: firmed a Black African aesthetic, deconstruct- childhood by depicting the most prominent
ing the Caucasian representation of Christ figures of Christianity — Joseph, Mary, and
[Nascimento] believed strongly, pro- that had become hegemonic, especially since baby Jesus himself — as African descendants.
foundly, fundamentally in the possibility the Renaissance. Their faces and arms were painted black, and
of coexistence, in this country and in the Measured by mainstream society’s reaction, their hair was styled with a Black Power hair-
world, among all ethnic groups; that they the strategy was successful. “A scandal!”, “here cut. The artist installed a QR code, inviting the
would someday come to find a common there is no racism!”, roared the Sunday article visitors to extend the face-to-face experience
platform to live together. And one day, he in the major Rio de Janeiro daily Jornal do Bra- to a website that presented historical evidence
will be remembered as one of the great, sil (JB) on 26 July 1955. Sunday is for newspa- supporting the image of Christ as Black.
great shapers of liberation thought within pers what prime time is for television: larger
the Black world.31 audience, influence, and revenue. JB’s choice
left no doubt, as it used its prestige to call for 1968: Blocking MAN’s path (and that of democ-
Much of the construction of this liberation censorship: “The ecclesiastical authorities racy) was a military government
thought “within the Black world” was strongly should take steps as soon as possible to pre- The year 1968 arrived with promising changes.
influenced by the experiences surrounding vent this attack on Religion and the Arts [...]. In Europe and the United States, there was an
the creation and direction of the Black Exper- We have stooped to the lowest rung, the no- explosion of protests, and there were social
imental Theatre (TEN). Founded on 13 October tions of innovation that afflict us, to pretend demonstrations around the world against
1944, the company did not limit itself to work- to make him Black, not as if carved in ebony, wars, racism, environmental devastation,
ing with theatre. conserving his characteristics, but with a scalp and the violation of rights. In Brazil, protests
and a shapeless pout”. The text was signed by against the military regime gained intensity as
When we founded the Teatro Negro, we Alice Linhares Uruguay. It is worth noting that, repression increased. In this context, Abdias
immediately established that the show, the a few years later, the same JB would be one of Nascimento wrote the essay “Black Art: A Mu-
pure act of representation, would be sec- the newspapers most targeted by censorship seum for the Future”, published in the arts
ondary. The main thing for us was educa- from the military dictatorship (1964–85). journal Galeria de Arte Moderna (GAM). His
tion, people’s enlightenment. We wanted Despite intense pressure against it, the arts innovative text addressed the issue of artistic 170
to make it possible for Black people to be- contest on the theme of the Black Christ took creation and Afro-Brazilian aesthetic.
come literate through general knowledge place. More than 120 works were submitted, Abdias Nascimento asserts that European
about history, geography, mathematics, and 52 artists were listed in TEN’s exhibition colonial plunder of Africa in the 19th century,
languages, literature, and other issues.32 catalogue. Their work was shown at the Min- and the resulting traffic in African artworks,
istry of Education building in Rio de Janeiro directly influenced artistic production on the
One of TEN’s strategies to confront racism in between 17 and 24 July 1955. Djanira, a painter old continent. Supporting his argument, he
its aesthetic dimension was the organisation from the Northeast, won first place with her cites Les Demoiselles d’Avignon (1907), by Pablo
of contests. It organised an art contest on the Cristo na coluna (Christ on the Whipping Post). Picasso, as “an illustrious example of Cubism
theme of Black Christ on the occasion of the Other newspapers also covered the contest. born under the generous and moving influ-
36th World Eucharistic Congress, held in Rio In the Tribuna da Imprensa of 22 July 1955, a ence of African sculpture”. Finally, without
de Janeiro in 1955. Conceptualised by Abdias report showed photographs of paintings by hesitation, he puts his finger on the wound,
Nascimento and Guerreiro Ramos, the con- Cleoo Navarro and one by Benjamin Silva. denouncing structural racism, and states:
test had the support the art journal Forma Diário de Notícias of 31 July highlighted that
and of many intellectuals and artists, among the contest “aroused artistic and sociological The so-called upper classes kept our peo-
them Augusto Frederico Schmidt, Dinah Sil- debates”. The image accompanying the arti- ple subject to the alienated and alienating
veira de Queiroz, Dom Hélder Câmara, and cle signed by Clemente de Magalhães Bastos aesthetic standards of whiteness, which
Quirino Campofiorito. The TEN art activists showed four visitors observing the painting by form a corrupting and perverse ideology
the artist Carlos Bastos. that denies Black beauty in the living con-
The theme of the Black Christ remains a text of Brazilian aesthetics.33
31 Carlos Moore, Interview, produced by the prominent reference in the visual arts. The
Itaú Cultural team for the Abdias Nascimento Black Art Museum/IPEAFRO collection has The Black Art Museum (MAN) project was
Occupation, São Paulo: Itaú Cultural, 2016, 20 received several works linked to this theme designed to occupy a trench in anti-racist
min, digital record, son. Colour, available at since the 1955 competition. The most recent battle against the dominant narrative of the
<https://w w w.youtube.com/watch?v=v is The Crucifixion (1996), by African American global art system. Constantly clashing with
OB8Fu4W5fc&t=227s>, accessed 13 Aug 2021.
artist LeRoi Calwell Johnson (Buffalo, USA,
32 Abdias Nascimento in Elisa Larkin Nasci-
1949). In the collective exhibition Como nos
mento, Grandes vultos que honraram o senado:
Abdias Nascimento, Senado Federal, 2014 avail- movemos, como queremos nos mover (How We 33 Abdias Nascimento, ‘Arte Negra: museu
able at <https://ipeafro.org.br/acervo-digital/ Move, How We Want To Move), held in 2019 at voltado para o futuro’, Galeria de Arte Moder-
leituras/publicacoes-do-ipeafro/biografia- the Parque Lage School of Visual Arts in Rio na magazine, Rio de Janeiro, i. 15, 1968, pp.
abdias-nascimento/>, accessed 21 Oct 2021. de Janeiro, co-author Julio Ricardo Menezes 43-44 (IPEAFRO collection).
this worldview, Abdias Nascimento knew of African participation in Brazilian life”. Of- found himself constrained by the language: “a
that MAN’s consolidation would be a kick in ficial support came from Chile’s Architecture remarkable thing happened to me. Blocked by
the stomach of racist criteria in the arts. And School and Institute at the Pontifical Catholic English, I developed a new form of communi-
the year 1968 seemed to have arrived with a University of Valparaíso, in a letter signed by cation. I discovered that I had another form of
welcome to this purpose: “A large collection the school’s director Arturo Baeza. Support language within me: I discovered that I could
of Black artworks, including paintings, sculp- also came from Alberto Cruz, director of the paint, and by painting, I would be able to show
tures and drawings, has already been put to- School of Architecture of the same Chilean what no words could say”.38
gether by Abdias Nascimento, director of the city. From Argentina, artist Claudio Giroia The difficulties abroad were many. To sur-
Black Experimental Theatre (TEN), who has re- expressed his solidarity by promising to travel vive, Abdias Nascimento collected empty soda
ceived donations from artists of all races, with- to Rio de Janeiro to familiarise himself with bottles and delivered them to supermarkets,
out any discrimination”, reported the major the project and donate works to the MAN col- which earned him a pittance. In an interview
Rio de Janeiro daily Correio da Manhã. lection. Vicente Barreto, director of the Rio de with IPEAFRO in 2019, Anna Bella Geiger re-
Some well renowned artists were cited by Janeiro State Education Secretariat’s Depart- calls the meetings she and her family had with
Correio da Manhã as collaborators: Alfredo ment of Culture, promised (but never deliv- Nascimento, over plates of “spaghetti”, at his
Volpi, Bruno Giorgi, Carlos Scliar, Anna Bella ered) a building to house the museum. home in New York.39
Geiger, Anna Letycia, Di Pietri, Heitor dos At this time, when the dreamed-of head- As he adapted to his new life, art opened av-
Prazeres, Rubens Gerchman, Bonadei, Ben- quarters for MAN seemed to be a reality close at enues for him. He held solo exhibitions at the
jamin Silva, Cleoo Navarro, Maria Yedda and hand, Abdias Nascimento began to paint. His Harlem Art Gallery, Columbia University’s
Lygia Clark, among others. At another point, first work, Eva imune ao pecado original (“Eve Crypt Gallery and Yale University’s School of
artist and intellectual Lóio Pérsio writes: immune to original sin”), done with gouache Art and Architecture. He lectured at the Yale
mixed with a plastic vehicle on paper on the School of Drama and other U.S. universities.
A museum of Black art would come to sat- 13 September 1968, measures 50 × 70 cm and Later, at the State University of New York at
isfy a centuries-old need: knowledge of bears on the back a dedication to the artist Se- Buffalo, he founded the chair of Black Culture
the arts and Brazilian civilization, from a bastião Januário: “inspirer and witness of my in the Americas.
strictly rational angle [...] within the mod- pictorial adventure, with a fraternal embrace”.
ern concept of museum, that is, not only a On 13 December 1968, all the efforts of Hélio Oiticica noted the relevance of this
collection of documents and monuments, the last eighteen years would be shattered. position: in a letter to Torquato Neto, Oi-
but a place for parallel technical and sci- The AI-5 (Institutional Act number 5) issued ticica wrote that after Gilberto Gil’s con-
entific activities, it could bring significant by the authoritarian Brazilian government cert, in Buffalo (USA), there was a “peixada
contribution in the field of research, in- shut down the National Congress and all po- de madrugada” (Brazilian fish stew in the
171 ventory, classification, information, and litical parties. A reign of terror ensued, with wee hours) at Abdias’s house, who, Oiti-
dissemination of these [arts].34 kidnapping, torture, murder, and disappear- cica said, “was doing well: living in a huge
ance of the regime’s opponents. Any chance house (teaching African Culture at the
Amidst all this ado, MAN held its first exhibi- of building democracy was thwarted. Abdias University with the help of an interpreter,
tion at the Museu da Imagem e do Som (MIS — Nascimento was in the United States on an because he does not speak English; imag-
Image and Sound Museum) in Rio de Janeiro. exchange scholarship. He was already tar- ine that!).40
But the effort behind organising this exhibi- geted by several IPMs (military police enqui-
tion had begun much earlier, in 1964. Exten- ries) for his combat against racism. His life While working as a university professor in the
sive organisational work had resulted in TEN’s was at risk, so he decided to remain in exile. United States and intensifying his interna-
introductory course on theatre and Black “The Black Art Museum did not have the nec- tional activism in close dialogue with the Af-
art, which was held in the auditorium of the essary conditions to consolidate or maintain rican world, Abdias perfected his painting by
Museu Nacional de Belas-Artes (MNBA — Na- the collection”.36 Much of the collection was affirming Black aesthetics.
tional Fine Arts Museum) in Rio de Janeiro. damaged or lost during Abdias Nascimento’s
This pioneering course brought together out- thirteen-year absence from the country. Both Over time, Abdias’s painting grew beyond
standing Brazilian intellectuals to discuss the MAN and TEN saw their activities interrupted. images of orixás and icons of African re-
central theme “The meaning of Africa’s awak- ligious culture in Brazil. By incorporating
ening in the modern world”.35 various references to African epistemo-
Ambassador Raimundo Souza Dantas, for- (Self)exile logical symbology in several countries of
mer head of Brazil’s diplomatic representa- In the United States, Abdias Nascimento the continent and the Diaspora, Abdias
tion in Accra, Ghana, stated that he saw the turned to friends for support. Artist Ann Nascimento painted the Pan-Africanism
creation of the Black Art Museum (MAN) as Bagley and her husband took him in, providing
a “cultural bridge between Brazil and Africa, a room in their Manhattan flat. “Right there in
allowing, at the same time, a broader study that room, using matchsticks and leftover paint
that his friend was throwing away, he started 38 E. L. Nascimento, Grandes vultos que honr-
painting again”.37 A noted orator, Abdias aram o senado: Abdias Nascimento, Brasília:
Senado Federal, 2014, p. 208.
34 Abdias Nascimento, O quilombismo: docu- 39 IPEAFRO audiovisual collection, available at
mentos de uma militância Pan-africanista, 3 <https://www.youtube.com/watch?v=8VybM
ed., São Paulo: Perspectiva, 2019, p. 164. 36 Ibid. pp. 302-303. JJvhaE>, accessed 13 Aug 2021.
35 Elisa Larkin Nascimento, O sortilégio da cor: 37 Elisa Larkin Nascimento, Grandes vultos 40 Dária Jaremtchuk, ‘Abdias do Nascimento nos
identidade, raça e gênero no Brasil, São Paulo: que honraram o senado: Abdias Nascimento, Estados Unidos: um “pintor de arte negra”’, Es-
Selo Negro, 2003, p. 302. Brasília: Senado Federal, 2014, p. 207. tudos Avançados, v. 32, i. 93, 2018, p. 266.
that he experienced in activism, research Since 2002, IPEAFRO has been dedicating it- An overview of the visual arts collection
and teaching.41 self to the recovery, preservation, organisation of MAM Rio
and dissemination of the Abdias Nascimento 1940s to 1980s
Therefore, he produced in Buffalo an Oxum in arts and archives collection. The goal is to of- Cátia Louredo and Moema de Bacelar Alves
oil on canvas, measuring 40 x 50 cm. The work fer access to this resource on Afro-Brazilian
was donated to Cheikh Anta Diop during a culture and history as a way of contributing to Considered one of the most important art
meeting with him in 1976 at his Radiocarbon curriculum development on African and Dias- collections of the 20th century in Brazil, the
Laboratory in Dakar, Senegal, during the event pora history and culture. From 2004 to 2006, collection of the Museu de Arte Moderna do
Alternatives for the African World, plenary of IPEAFRO produced the retrospective entitled Rio Janeiro (MAM Rio) began in the 1940s with
the African Writers Union. Diop, the Senega- Abdias Nascimento Living Memory, which donations from private individuals. However,
lese scientist, is among the most distinguished was shown in Rio de Janeiro, Brasília, and Sal- although these first works were added to the
intellectuals of the 20th century. He overturned vador. Each showing was intensely visited by collection at the time of its foundation, they
scientific racism by proving that ancient Egypt schools and community organisations, as well were only formally registered in 1951. There-
was Black and that Egypt — not Greece — was as researchers and educators. fore, one possible way to attempt to recreate
the cradle of Western civilisation. In 2007, IPEAFRO held the Living Memory the origin of the collection is to resort to the
and Educational Action Forum, at the Arquivo information documented in the catalogues of
Nacional (National Archive), presenting the the initial exhibitions at the museum.
IPEAFRO material exhibited for debate and discussion On 3 May, 1948, the foundation act of the
On return to Brazil, Abdias Nascimento with educators on curriculum development Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro was
founded, with Elisa Larkin Nascimento, the on African culture. By 2010, IPEAFRO was signed, making it official and documenting its
Afro-Brazilian Studies and Research Insti- working to articulate the exhibitions with ed- purpose and structure, and including its first
tute. With the support of Dom Paulo Evaristo ucators’ forums. Initially held at the Centro draft statute. After the signature, there was a
Arns, the progressive Cardinal Archbishop of Cultural Justiça Federal (Federal Justice Cul- solemn opening ceremony, which, at the same
São Paulo, the Pontifical Catholic University tural Center) in 2011, the Africa-Brazil: Ances- time, legally confirmed the actions previously
of São Paulo (PUC-SP) welcomed the proposal try and Contemporary Expressions exhibi- undertaken towards its foundation.
to create a sector for teaching and research on tion toured to Duque de Caxias, Campos dos Less than a year later, in January 1949, MAM
Afro-Brazilian issues and a specialised library Goytacazes, Maricá, and São João de Meriti Rio opened its first exhibition, Pintura euro-
from Abdias Nascimento’s collection. The as part of the Sankofa Affirmative Education peia contemporânea (Contemporary European
project aimed to reorganise the MAN collec- Forum. In 2019, IPEAFRO collaborated with the Painting), featuring works by artists from the
tion, which had been kept in adverse condi- Museu de Arte Contemporânea (Contempo- so-called School of Paris,46 all of them from
tions, causing loss and damage to the works. rary Art Museum) of Niterói to organise a private collections in Rio de Janeiro and one 172
In 1982, IPEAFRO organised and held the 3rd solo exhibition accompanied by seminars from Minas Gerais. According to information
Congress of Black Culture in the Americas. It and workshops.44 from its catalogue,47 in this first exhibition
was the first time that representatives of the In 2021, seventy years after the idealisation only four canvases belonged to the collec-
African National Congress of South Africa of the MAN project, IPEAFRO launched the cam- tion of the recently created Museu de Arte
and SWAPO of Namibia came to Brazil, also paign Black Art Museum — I’m In! to carry out Moderna do Rio de Janeiro: one by Alberto
Black delegations from several countries of in a virtual environment the dream of creating Magnelli, donated by Josias Leão, diplomat,
the Americas and the Caribbean. The report a site for the collection built by Abdias Nasci- executive director of the museum’s first board
of this congress can be found in volumes 1 and mento and the people who worked with him. and the collector with the largest number of
3 of IPEAFRO’s journal Afrodiáspora.42 Following the designs of Olorum, the axé of canvases exhibited at the time; one by Joan
For a decade, from 1985 to 1995, IPEAFRO the orixás, and the wisdom of the Adinkra45 Miró, donated by fellow diplomat Landulpho
conducted the university extension course symbols, we look for the best ways, among the A. Borges da Fonseca; and two donated by US
Sankofa: Awareness of Afro-Brazilian Cul- infinite possibilities of this collection, to give businessperson and politician Nelson Rocke-
ture, at the State University of Rio de Janeiro life and continuity to Abdias Nascimento’s feller, one by Yves Tanguy and the other, iden-
(UERJ). The thematic content of this course legacy. tified in the catalogue as a gouache by Marc
was initially published in IPEAFRO’s Afrodiás- Chagall titled Landscape. This particular work,
pora journal. Later, it was published in a re- however, does not appear in any other mu-
vised and expanded edition in four volumes seum record as having belonged to the collec-
in the collection Sankofa: African Matrixes of Summus, 2008b; E. L. Nascimento (ed.), tion, and is today part of the collection of the
Brazilian Culture.43 Guerreiras de natureza. Mulher negra, religio- Museu de Arte Contemporânea da Universi-
sidade e ambiente no Brasil, São Paulo: Selo dade de São Paulo (MAC USP), which received
Negro/ Summus, 2008b; E. L. Nascimento the collection of the Museu de Arte Moderna
41 Elisa Larkin Nascimento, Grandes vultos (org.), Afrocentricidade, uma abordagem epis- de São Paulo as donation when it temporarily
que honraram o senado: Abdias Nascimento, temológica inovadora, São Paulo: Selo Negro/
Brasília: Senado Federal, 2014, pp. 211-212. Summus, 2009.
42 Available at <https://ipeafro.org.br/acervo- 44 P. L. Barra and R. Fonseca, R. (ed.), Abdias
digital/leituras/publicacoes-do-ipeafro/ Nascimento: um espírito libertador, Exhibition 46 School of Paris is a term used to designate
afrodiaspora-vol-1/>, accessed 13 Aug 2021. catalogue of the Museum of Contemporary French and non-French artists who worked
43 Elisa Larkin Nascimento (org.), A matriz Art (MAC), Niterói/RJ, 2019. in Paris in the period between World Wars.
africana no mundo, São Paulo: Selo Negro/ 45 Elisa Larkin Nascimento and L. C. Gá (ed.), 47 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
Summus, 2008a; E. L. Nascimento (ed.), Cul- Adinkra, sabedoria em símbolos africanos, Rio Pintura europeia contemporânea, Rio de Ja-
tura em movimento, São Paulo: Selo Negro/ de Janeiro: IPEAFRO/Pallas Editora, 2009. neiro, 1949, catalogue.
closed in 1962.48 Like MAM Rio, the Museu de In January 1952, MAM Rio inaugurated the A museum that respected contemporary art
Arte Moderna de São Paulo was founded in first exhibition in its new, albeit still tempo- making, and communicated, disseminated
1948 and had Nelson Rockefeller as one of its rary, location, on the pilotis of Capanema and welcomed it. Already in its early years,
supporters, who donated Chagall’s canvas — Palace, at the time occupied by the Ministry the works incorporated in the collection made
along with others —​​to the collection.49 of Education and Health. The museum called explicit the trend that would characterise the
In these early years of operation, MAM Rio the occasion the “reopening of its permanent first decades of its history: to gather impor-
participated as a partner in events and exhibi- exhibition enriched by new donations”, and tant names in national and international art,
tions, in addition to holding exhibitions of its celebrated the institution’s third anniversary, with the goal of telling a history of modern
own, but not with works from its collection counting from the date of its opening exhibi- art through iconic pieces while collecting and
and, for reasons of space, not all of them took tion in 1949, and not from the date the institu- stimulating contemporary production.
place in its temporary location. tion was officially founded.52 Consequently, in these early years the MAM
In 1951, Niomar Moniz Sodré became MAM The exhibition catalogue listed these new Rio collection was composed of works by
Rio’s executive director, and began to work acquisitions, acknowledging the donors when major names of early 20th century modern-
on expanding the museum’s still timid col- appropriate. On this occasion, as well as col- ism, such as Pablo Picasso, Candido Portinari
lection.50 From then on, a period of intense lectors, artists also donated works, and some and Maria Martins, with the addition of work
articulation for the growth and consolidation works were acquired by purchase. In the ex- by young local artists like Ivan Serpa, Elisa
of the museum began, both in relation to its hibition, paintings, drawings, engravings Martins da Silveira and Mario Cravo Jr. At
collection and in through a membership cam- and sculptures were already identified as be- the end of its first ten years of existence, the
paign with the goal of constructing a dedi- ing part of the collection, including Composi- collection had some 460 artworks,55 and
cated site for the museum. tion (1951), by Georges Mathieu; Xangô (1951), brought together, among many others, art-
Niomar Muniz Sodré and her husband, by Lula Cardoso Ayres; and Oitavo véu (1949), ists such as Max Ernst, Fernand Léger, Diego
Paulo Bittencourt, owner of the newspaper by Maria Martins. Thirty-eight artworks were Rivera, Abraham Palatnik, Heitor dos Praz-
Correio da Manhã, were very influential in in- exhibited, four of which were sculptures, eres, Henry Moore, Mary Vieira and Djanira,
tellectual, political and diplomatic circles at which shows the development of the collec- many of them artists who rarely had space in
that time. Their network of contacts was fun- tion since the first exhibition.53 In the cata- the few collections accessible to the public that
damental for many of the donations and pur- logue essay, authored by Mário Barata, the existed in the country at the time.
chases. Assisted among others by artist Maria understanding of the mission and relevance In another January that marked MAM Rio’s
Martins, whose husband was an ambassador, of the Museu de Arte Moderna do Rio de Ja- history, this time in 1958, the first section of
in the contact with Brazilian and foreign art- neiro was made explicit: the museum’s own building, the Bloco Escola,
ists, Muniz Sodré was able to choose works di- was inaugurated. After ten years of existence,
173 rectly from the studios of many leading artists A museum of modern art is a museum that the museum moved into its own home. The
at that time,51 including Constantin Brancusi respects man’s aesthetic creation wherever land was donated by the municipality of Rio
and Rufino Tamayo. it is and whoever makes it. This is the es- de Janeiro in 1953, for an architectural project
sential condition of its existence. By wel- by Affonso Eduardo Reidy and the landscap-
coming contemporary artworks, dissemi- ing by Roberto Burle Marx. On the occasion
nating and explaining them — and in this of its inauguration, in addition to a display of
48 This may be the result of a mistake in the cata- threefold task contributing to their cre- the scale model and the floor plan of the mu-
logue or an unfinished transaction, since the
ation — it must leave to time the ability to seum, the exhibition Ben Nicholson e escultores
image of the work published on the occasion
exclude what has failed, to show what was britânicos (Ben Nicholson and British Sculp-
of the 1949 exhibition matches the image that
is today part of the MAC-USP collection. Their a critical error.54 tors) was organised, as well as an exhibition of
dimensions differ by just one centimetre, MAM Rio’s art collection.
which can be considered a negligible differ- According to the exhibition catalogue, key
ence in measurement. This fact also points to works by Brazilian artists belonging to the
one of the aspects of the intertwined relation- museum’s collection that were part of the ex-
ship established in the formation of modern Ministério da Cultura; Belo Horizonte: CE- hibition Arte Moderno en Brasil (Modern Art in
art museums at that time in Brazil. Initially, MIG, 2004, pp. 139-141. Brazil), which had toured various Latin Ameri-
both institutions had as an incentive the re- 52 Museu de Arte Moderna do Rio De Janeiro,
can countries the previous year, were not avail-
ception of works from Nelson Rockefeller O Museu de Arte Moderna comemorando seu
able for the inauguration of the new building.
and donated to MAM Rio, who, in addition to aniversário convida, Rio de Janeiro, 1952,
Oceans for Birds (1946) by Yves Tanguy, in- invitation. We also know that, due to lack of space, not all
cluded in the 1949 exhibition and donated 53 The show also included the exhibition of the works from the collection that were not
to MAM Rio, Composition (1938), by Fernand prize-winning paintings from the 1st Bienal touring were included, but a selection was
Léger, Nº 16 (1950), by Jackson Pollock and de São Paulo, held the previous year, a prac- made “among the most interesting, including
Composition (c. 1950), by Robert Motherwell. tice that became recurrent at the museum for donations and more recent purchases”.56 And
49 For more information, see: Museu de Arte many years. A total of 83 works were exhibited. so the exhibition included 64 works by artists
Moderna de São Paulo, MAM 70: MAM and MAC Museu de Arte Moderna do Rio De Janeiro,
USP, São Paulo, 2018, catalogue. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio
50 Niomar Moniz Sodré made many trips abroad de Janeiro, 1952, catalogue.
to visit museums, studios and galleries, where 54 Mário Barata, ‘Necessidades do Museu de 55 This number is based on information gath-
she bought not only works for the museum Arte Moderna do Rio’, in Museu de Arte ered from the museum’s registry.
collection but also books for MAM Rio’s library. Moderna do Rio De Janeiro. Museu de Arte 56 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
51 Ana Arruda Callado, Maria Martins, uma Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio
biografia, Rio de Janeiro: Gryphus; Brasília: 1952, catalogue, p. 14. de Janeiro, 1958, catalogue, p. 3.
from various countries.57 The reference to the meetings and gatherings it promoted among were not incorporated into the collection. In
artists’ countries of origin, preceded by the ex- visual artists, literati or filmmakers. In addition the 1960s and 1970s, works such as perfor-
planation of the selection criteria of the works to being a place to exhibit and safeguard mod- mances or installations with perishable mate-
exhibited, indicates an interest in presenting ern art, MAM Rio was also a space for the pro- rials became more common. Because of their
the museum’s collection on the occasion of motion and conceptualisation of art, and was very transient nature, they raised questions
the inauguration of its building, stressing its known for encouraging an avant-garde envi- about conservation and registration, and were
breadth and scope. ronment, which contributed to the emergence not seen as something to be collected.
Since that exhibition, MAM Rio exhibited of Grupo Frente (1954) and the Neo-Concrete Only few names from this group of artists
every year artworks from its growing collec- artists’ group (1959), an hosted exhibitions were incorporated during this period, such as
tion, presenting the new acquisitions and the such as Opinião 65 (Opinion 65, 1965), Opinião Cildo Meireles, Anna Bella Geiger and Walter-
form and shape that the collection was taking. 66 (Opinion 66, 1966) and Nova Objetividade cio Caldas, but a large part of the production
Initially called Coleção permanente (Perma- Brasileira (New Brazilian Objectivity, 1967), from this time would only became part of MAM
nent Collection), then Patrimônio (Heritage), which brought together different strands of Rio’s collection years later, mainly through do-
the more the collection grew, the more exhi- the national avant-garde, and were considered nations (by the artists themselves, collectors or
bitions showing specific selections took place, milestones in the arts of the 1960s. diverse institutions) and through the perma-
whether organised by theme — such as abstract MAM Rio presented a broad concept of art, nent loan of the Gilberto Chateaubriand Col-
artists present in the collection in 1965 — or making it an open space for experimentation. lection in the 1990s, which brought in names
presenting recent acquisitions. And thus, ar- The 1970s, even with intense censorship from such as Regina Vater and Antonio Manuel.
tistic manifestations from countries such as the dictatorial regime, were marked by the ar- This rich programme of activities and exhi-
China, the former Czechoslovakia, Israel, Ja- tistic manifestations of Domingos da criação bitions, however, was interrupted in the early
pan or Venezuela endowed the collection with (Creation Sundays, 1971),59 conceived by Fred- morning of 8 July 1978, when the museum was
the encyclopaedic and global character that erico Morais, at the time course coordinator affected by a large-scale fire.61 All the facilities
marked its early decades. at the school; the creation of the Sala Corpo e of the Bloco Expositivo, where the administra-
Many of the incorporations in the 1950s Som (Body and Sound Room), which eventu- tive area of the museum and the Library also
and 1960s came directly from major art events, ally resulted in the Departamento Corpo e Som functioned, were destroyed, although the Ci-
such as the São Paulo and Venice biennials, (Body and Sound Department), integrated vi- nemateca and its collection were not affected.
or through arrangements with representa- sual arts with music, poetry and theatre; and At the time, the museum was presenting the
tives of the most diverse countries. These the exhibitions in the Área Experimental (Ex- exhibition Arte agora III — América Latina: geo-
relationships could mobilise trips for pur- perimental Area), between 1975–1978, which metria sensível (Art Now III — Latin America:
chasing or negotiating international dona- also proposed exercises that questioned lan- Sensitive Geometry), which gathered together
tions, so the museum’s collection was being guages, artistic categories, the role of artists works by leading Brazilian and international 174
shaped through contemporary production, and the very institutions of art.60 names, and a significant set of 74 works by
always involving diplomacy and networks. As However, the intense artistic movement of Uruguayan artist Joaquín Torres García, con-
the collection acquired recent works by art- the 1970s that “shook” the city of Rio de Janeiro sidered one of the great artists of that country,
ists who were at the time emerging in the art and the arts in general was hardly reflected in were completely destroyed by the fire, result-
world, a record was made of the pieces incor- the MAM Rio collection. The museum promoted ing in a great loss.
porated into the collection, documenting not events and a space that allowed for creation and It was believed at the time that from the
only what was already highly disputed in the questioning, but those artists — among whom nearly one thousand artworks that formed
art market among private collectors, but also were students, alumni and teachers from MAM the collection, only fifty survived. The num-
more adventurous choices of names, tech- Rio’s courses — and the works originating from ber, however, was revised as spaces were be-
niques and artistic languages. this movement and exhibited at the museum ing accessed, so that Isaura de Carvalho, head
According to the records that have been kept, of the collection, could carry out the work of
we can say that in the first thirty years of its exis- locating the pieces or what was left of them
tence, MAM Rio gathered more than a thousand 59 Domingos da criação (Creation Sundays) in the areas affected by the fire. Professor and
items and established itself as a museum of rel- were experimental exercises that occurred conservator Edson Motta, then director of the
evance not only in the field of exhibitions but throughout 1971, on six Sundays, and as part Museu Nacional de Belas Artes, played an im-
of the activities of the Popular Art Course, in
also through its art courses,58 which educated portant role, as he was one of the first profes-
which educational practices took place on
more than a generation of artists, through the sionals to have access to the areas affected by
the immediate outside of the museum. For
activity of its Cinemateca and through the more information, see: Jessica Gogan and the flames and worked for free on the resto-
Frederico Morais, Domingos da criação: uma ration of the works that could be recovered.62
coleção poética do experimental em arte e edu-
57 In this exhibition works by artists from cação, Rio de Janeiro: Instituto MESA, 2017.
France, the United States, Italy, Germany, 60 Área Experimental (Experimental Area) was 61 According to reports from the time, what
Portugal, Mexico, Russia, Spain, Great Brit- an exhibition programme held at MAM Rio caused the fire was a short-circuit in the
ain, Switzerland, Chile, Belgium, the Nether- that, during the period in which it was held, lighting system of the Body and Sound Room,
lands and Romania were exhibited, although promoted forty exhibitions involving over where, the night before, there had been a per-
the collection also included works by artists forty artists, among them Anna Bella Geiger, formance by a Peruvian group called Agua.
from other countries, such as Cuba, Haiti, Ar- Sonia Andrade, Tunga and Cildo Meireles. 62 Edson Motta conducted the initial rescue
gentina and Austria, among others. For more information, see: Fernanda Lopes, processes and, responding to a determina-
58 Since 1952 MAM Rio held exhibitions with Área Experimental: lugar, espaço e dimensão tion of Euro Brandão, Minister of Educa-
works by children who attended Ivan Serpa’s do experimental na arte brasileira dos anos 1970, tion at the time, he carried out the work co-
courses at the museum. São Paulo: Prestígio Editorial, 2013. ordinating his team at the laboratory of the
A support network quickly formed, in order such as France, which, through its embassy in first time at MAM Rio in 1981,66 initiating a
to help MAM Rio get back on its feet after the Brazil mediated donations from artists, collec- long-term relationship between the collector
tragedy that had devastated it. tors and art dealers, played an important role. and the institution.
Contemporary reports cite a loss of about Likewise, Japan and Germany mediated dona- In 1985, the museum closed for a major ren-
90% of the collection. However, research con- tions of works by artists from their countries, ovation that also involved technical restruc-
ducted between 2015 and 2018 by museologist all of them recently produced. turing. At that time, Paulo Herkenhoff, then
Claudia Calaça brought a new dimension to And so artists who had been erased from occupying the position of arts coordinator,
this episode.63 Her conclusion was that MAM the collection as a result of the fire, returned began to mobilise efforts through donations
Rio had 1,150 artworks by July 1978, of which to it through donations. Still many of the art- and sponsorship to fill the gaps identified in
50.8% were irredeemably lost to the fire. A sig- works that became part of the collection in this the MAM Rio collection, especially those left by
nificant number, but much smaller than what period don’t have the same value as the works the lack of works by artists from the concrete
had always been reported. Today, only a small lost in 1978. This is the case, for example, of and neoconcrete movements, the latter with
number of pieces are still unidentified. The in- Pablo Picasso, who was initially part of the a history intertwined with that of the institu-
formation related to these artworks has been collection with two oil paintings Tête de femme tion itself.67 Still in the midst of the museum’s
entered into the museum’s database, most of (Dora Maar, 1941) and Tête de femme (Fernande, major reformulation, in 1986 Pedro Vasquez
them accompanied by images, rebuilding the 1909), both lost in the fire, and who is now was invited to create the Department of Pho-
memory not only of the pieces that were lost represented by just one pastel on paper, do- tography, Video and New Technologies, which
but also of the collection itself. nated by Paulo Gustavo de Faria via the French would have the function of telling the story of
In the early years after the fire, with the mu- Embassy in Brazil. On the other hand, it was 150 years of national and international pho-
seum facing management problems and with also at that time that important artists from tographic production, in addition to forming
all financial efforts directed to the renovation Brazil entered the collection, as was the case a team capable of exhibiting, preserving and
of the building, the collection continued to of Candido Portinari. conserving photographic works, videos and
grow thanks mainly to donations from art- Although important works by artists who other technologies that had permeated art
ists, individuals and sponsors. The collection, had a relationship with the museum’s his- making since the 1960s.
which included around 500 artworks after the tory became a part of the collection, such as
fire, already registered 1,300 artworks by the Tomás Santa Rosa, Edith Behring, Ivan Serpa, At that time nobody could have foreseen
mid-1980s.64 The efforts to rebuild the col- Tomoshige Kusuno and others, most of the the fantastic developments offered by
lection mobilised artists, entrepreneurs and works received as donations were authored by technologies of digital nature, with the CD
the Brazilian society, as well as governments foreign artists, made in the 1970s and 1980s, Rom becoming an exceptional space for
and groups from several countries. Of the and a significant number were on paper. It be- artistic creation and the Internet multi-
175 796 pieces that became part of the collection came increasingly clear that there was no way plying to infinity the possibilities for dis-
between 1978 and 1985, around five hundred to reconstitute the collection in the same way seminating images, with a greater reach
were donations made directly from artists, a it had been assembled in the previous decades; than that of any museum or equivalent
very significant number that shows the en- from then on it would need to have a new pro- institution. But holography had already
gagement of the professional community in file. Despite the efforts of the museum’s direc- been incorporated by some artists, the
rebuilding the collection. tors and collaborators, no effective recovery first digital camera (Sony’s Mavica) was al-
The two large canvases by Victor Vasarely, plan was developed for the institution in the ready a reality, and computer art, although
the fourteen etchings by Edith Behring, the years following the fire. embryonic, gave a glimpse of fascinating
lithographs by Gerhard Richter, the polyp- Given the circumstances, and the impos- developments, so it seemed to me much
tych by Carlos Cruz-Díez, the ink drawing by sibility of rebuilding its collection with the
Vieira da Silva, the sculpture by Robert Adams same premises as before, MAM Rio opted to fo-
and the set of photographs by Bernd and Hilla cus its efforts on telling the story of Brazilian 66 From May to July 1981, the exhibition Do mod-
Becher are some of these donations. Countries modern and contemporary art. With this deci- erno ao contemporâneo — Coleção Gilberto Cha-
sion, the encyclopaedic character that charac- teaubriand (From Modern to Contemporary —
terised the museum’s collection was not lost, The Gilberto Chateaubriand Collection) was
Museu Nacional de Belas Artes, thus ensur- but the focus became primarily national. And open to the public at MAM Rio. It was the fifth
ing the continuity of his role at the museum. time the collector had opened his collection
so at the end of the 1980s emerged the idea of
63 Based on photographic records of the time and to the public, and it was the largest exhibition
bringing to the museum as a long-term loan
in-depth documentary analysis of the archives yet. The exhibition also marked the visit of
of MAM Rio’s Research and Documentation the Gilberto Chateaubriand Collection,65 al- the International Council of the New York’s
and Museology departments of MAM Rio, it ready considered at that time one of the most Museum of Modern Art (MoMA). Gilberto
was possible to perform a work by work iden- representative collections of Brazilian art in Chateaubriand, ‘Apresentação’, in Museu de
tification of almost all the pieces that made up the country, and which was exhibited for the Arte Moderna do Rio De Janeiro, Do moderno
the visual arts collection of the museum up un- ao contemporâneo — Coleção Gilberto Chateau-
til mid-1978. A comparison was made of sev- briand, Rio de Janeiro, 1981, catalogue, p. 2.
eral listings, old catalographic cards, records 65 The Gilberto Chateaubriand collection be- 67 Although some acquisitions took place in
from archives of other institutions, a series of gan in 1953 and artworks range from Brazil- the years that followed, the artworks of the
documents donated by Niomar Moniz Sodré’s ian modernism of the early 20th century to concrete and neoconcrete movements are
grandson, Mauro de Almeida Moniz Sodré, contemporary production. In 1993, when still poorly represented in the collection. An-
and information gathered from consultations the loan agreement with MAM Rio began, it in- other gap is Brazilian video art production,
with the artists themselves. cluded around five hundred artworks, but to- which Fernando Cocchiarale attempted to
64 This number was the result of research on the day, MAM Rio houses around 6,630 artworks unsuccessfully tackle during his second term
registry book and the collection database. from this constantly growing collection. as museum curator (2016–2020).
more sensible to create a department that two decades, adapting to the new generations reopening event of the museum, which had
was not restricted to photography (after and questions of the time, but with a focus on been closed for restoration for three years.73
all, a 19th century technique) but open to Brazilian contemporary production and with The reopening of the museum, an iconic site
all the aspects of the technical image, en- the task of filling the gaps of specific periods. for modern art and for the cultural efferves-
compassing both those existing then and In this sense, the search for continuity in the cence of the city, was significant, and the ex-
those yet to be invented.68 process of being up to date with national pro- hibition that marked this event was evidence
duction has remained a constant concern until of the museum’s intention to regain its promi-
The project, as planned, did not last, but the this day.70 During that time in the 1980s, sig- nence in the artistic life of Rio de Janeiro and
collection’s initial intention to tell, through nificant artworks by Brazilian artists from dif- Brazil — and showing at the same time that its
its ensemble of works, the history of photog- ferent periods were incorporated in the collec- collection would continue to receive the differ-
raphy, was accomplished. During the short tion, via donation from the artists themselves, ent generations and artistic trends.
time Pedro Vasquez was in charge of the de- sponsorship by large companies and dona- Today, more than 30 years after this second
partment, around 3,500 images were acquired, tions by galleries and private individuals. inauguration, the museum is once again look-
as the result of intense research work. The Because of all these moves, even if on a ing to reinvent itself, posing new questions
result brought together the earliest photo- timid scale, some major international names to its collections. And if we may say that the
graphic manifestations of pioneer artists from became part of the collection, including classic MAM Rio collection is remarkable for its rela-
around the world as well as key names within works of modernism, such as the bronze relief tion to the Brazilian and international mod-
national and international production from by Fernand Léger, Femmes au perroquet (193-), ern art movement, its phases, actors, groups
the 20th century. The following year, in 1987, a and a tapestry by Le Corbusier, Odyssée (1948); and trends, we must also recognise that, when
donation of works by photographer Hermí- as well as pieces by renowned South American it comes to the visual arts collection of a mu-
nia Nogueira Borges, considered one of the artists, such as Xul Solar’s watercolour Chaco seum with over 70 years of history, there are
most important representatives of pictorial (1922); and artists emerging at the time within several layers of selections and priorities that
photography in Brazil, brought to the collec- the international art scene, such as by Keith at different moments in time set the param-
tion nearly four hundred of her images and of Haring’s and his Untitled panel from 1984. eters for the selection of artworks. Without
other artists from the Foto Clube Brasileiro,69 In October 1989 the exhibition Rio Hoje disregarding the trajectory of the institution
which added an important chapter of the his- (Rio Today) opened, officially marking the re- and what characterised the various layers that
tory of photography in Rio de Janeiro and opening of the museum after the fire. The exhi- constitute its collection, valuing the processes
Brazil to the museum collection. When the bition included over 100 works by 48 Brazilian that accompanied artistic production dur-
department ceased to exist in 1997, the care of artists, all of whom had been educated and/or ing the 20th century, it is fundamental to con-
the collection was taken over by the Museol- had developed their practice in Rio de Janeiro, tinue renewing the ways we look at it, trying
ogy department. and were working in the city at the time. Al- to identify what is missing in it and to answer 176
The second half of the 1980s marked an im- though it featured artists from different gener- the questions it poses. There certainly are gaps,
portant period in the history of the collection. ations and art movements, the artworks exhib- and in them we find a motivation to continue
In this period the museum gained, through ited were mostly recent, dating from the 1980s to enlarge the collection in order to make it
donations from artists, individuals and spon- with the exception of some works from the more representative and consistent in relation
sored purchases, a new profile for the collec- 1970s and the works of Cildo Meireles, which to the issues of art and the society of our time.
tion, that was pursued for at least the next dated from the 1960s. Much of what was exhib-
ited came from the artists’ own collections, but
there were some works from the MAM Rio col-
68 Pedro Karp Vasquez, ‘Mudando de foco’ in lection (including pieces restored after the fire) Sets universes
Museu Histórico Nacional, Anais do Museu and from private collections, such as Gilberto Leno Veras
Histórico Nacional, Rio de Janeiro, 2000, v. Chateaubriand’s.71
32, p. 37. At the time there were already conversa- Mnemosyne, the goddess of memory in an-
69 In the years that followed it was not possible tions about the city’s cultural decay, and the cient Greece, is also mother to the nine muses,
to give continuity to the updating of the collec- idea of the exhibition was to contribute to a mythological entities of the Greek cosmogony
tion. However, in the early 2000s, the collector reversal of this discourse by shedding light on to whom is attributed the ability to inspire ar-
Joaquim Paiva, who was seeking to provide
local artistic production,72 in parallel with the tistic and scientific creation. She anthropo-
a public platform for his collection, chose
morphises the art of memory, a practice that
MAM Rio for a permanent loan. In 2005 a loan
agreement was signed, and four lots have al-
ready been brought to the museum, the last 70 Because of the Joaquim Paiva Collection,
one in 2019. The Joaquim Paiva collection is which includes artworks from several coun- 73 The exhibition opening also included an
considered one of the most comprehensive tries, the museum’s photography collection action by the museum library, which made
collections of Brazilian and international doesn’t have a focus on Brazilian production. available artist biographies and information
contemporary photography in the country, This results from the collector’s own interests on the history of the museum and the exhi-
and has brought great diversity of artists and and actions, and his active participation in in- bition; the no-longer existing Music Depart-
locations to the museum’s collection, with ternational contexts. ment presented a performance by the Brazil-
a significant presence of women and Latin 71 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. ian String Orchestra; and the Cinemateca
American artists. Today, MAM Rio is respon- Projeto — Exposição Rio Hoje. Rio de Janeiro, exhibited old film cameras from its collec-
sible for 2,600 artworks as part of this loan 1989, 10 p., project. tion, as well as restored classic films. Museu
agreement, which has been committed as a 72 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Release
definitive donation to the museum after the Listagem das obras expostas na Exposição Rio da exposição Rio Hoje. Rio de Janeiro, Oct.
collector’s eventual death. Hoje, Rio de Janeiro, 1989, 11 p., listing. 1989, 1 p., release.
seeks to associate images and places, a vital South America, which had as its core the epis- articulated in a polyphony that intends to sig-
technique for societies that precede technical temological expansion of the research field nal some sharp approaches with regards to
reproducibility, and recognised as the found- and the intention of restructuring its theories the issues emerging from this debate based on
ing matrix of knowledge systematisation in and methodologies. Brazilian, Latin American and South-globalist
the classical period. These intense processes turned out to be experiences of the present.
According to myth, the muses gathered in tectonic in such a short and troubled period, Through this interlocution we desire to
a dwelling place called mouseion. From the and impacted this area of knowledge in an ir- engender juxtapositions and counterpoints,
term in ancient Greek originated the modern reversible way, arriving at the introduction of sometimes unravelling and sometimes stitch-
word museum, whose meaning, among others, terminologies like “new museology”, proof of ing the partitions and intersections of the
corresponds to the collection or exhibition of the expansion of perspectives through which points of view that integrate this thought,
various objects arranged in accordance with these devices come to be perceived. It enabled – which is intended to be axial rather than lin-
a theme, a time frame or subjective criteria. in a way that was intense and vertiginous, es- ear. To be on the border, in this way, becomes a
The word was first used to conceptualise the pecially after the advent of information and common characteristic, and thus it is possible
Library of Alexandria, destroyed in 640 AD, communication technologies – an effective to make sense of how contiguities and prox-
when the word fell into disuse in the West. interaction with social strata hitherto com- imities are precious possibilities to build dense
It was only at the end of the Middle Ages pletely ostracised from the musealisation compositions in which a point relates to several
that with the “cabinets of curiosities”, or processes, whereby the collections began to lines and several planes in the same space-time.
“rooms of wonders”, collectionism resumes be activated as repositories with the mission To constellate knowledge and making practices
memorial configurations systematised ac- of collectively constituting social memory, in- that come from collections is to show – first
cording to exhibition methodologies. In these stead of being stigmatised as stagnant invento- and foremost – the relevance of safeguarding
cases, such methodologies were strongly ries of patrimonialist discourses. institutions, such as archives, libraries and mu-
linked to imperialist rhetoric and many of Hence it emerges from this scenario that seums, in defence of their greater capacity for
the groupings were carried out at the service the transmission of meanings carried by recreation. Paraphrasing the great poet Waly
of the dissemination of the imaginaries con- things in the world is the potent dynamic of Salomão, memory is an island of invention.
structed by colonialism – which even today are the engendering of new understandings, pre-
reinforced by safeguarding institutions rather serving and recreating knowledge. Bearing
than doing what they should do: guide their this premise in mind, and considering that African translation, interactions
actions towards restitution and reparation. the power of a collection as a closed (albeit ex- and cosmologies
Nevertheless, the proliferation of collections panding) universe lies in the fact that each set Tiganá Santana
only started in the 1800s, when the shrines and of pieces is capable of multiplying through an
177 treasures, maintained by ecclesiastical powers exponential combinatory manner when there The Black cosmologies to which we can turn
and royal houses, began to operate on a global is an encounter with sign structures through to, within our reflections and the density of
scale. From this scenario of cultural circula- the collision and coalition with other collec- our flesh, are simultaneously ancestral ema-
tion emerges the practice of developing spaces tions. The exhibition A memória é uma inven- nations, instants in the present and the be-
for the preservation of tangible and symbolic ção (Memory Is an Invention) is dedicated coming. It is not a question of what we cannot
goods. This re-engages mnemonics as art and at precisely to producing space and time for the manifest and realise, but on the contrary, of
the same time refounds the notion of museum, convergence of matrices of diverse material what will necessarily plunge us into the deep
in the light of the Renaissance thought matrix, cultures, thus having the function of propos- pit of the unrepeated repetition of a colonisa-
through the profusion of sets of objects whose ing the search for a common denominator on tion that more than anti-Black is ontological,
categorisations become distinctive throughout which countless equations can be set up. if we don’t incorporate it today in Brazil, and
their fruitful ramifications in later centuries. While questioning the possible dialogues place it alongside the native knowledge of the
It is mainly after this dissemination of that can be engendered from the connection Amerindian forests.
collections in the Enlightenment that mne- systems between works of art and artifacts, ob- When we think of Black cosmologies, we
motechnics, as an exercise of memory archi- jects and documents – such as the collections of concede that other matrices have been built
tecture through the association of mental im- Acervo da Laje, Instituto de Pesquisas e Estudos through diasporic flows, that is, we do not have
ages and virtual places, comes to be conceived Afro-Brasileiros and Museu de Arte Moderna in the Americas only fragments and vestiges of
as an institution – albeit widely practised as do Rio de Janeiro –, we investigate what are the existential narratives that broke off from parts of
a memorial method at the service of rhetoric, powers and potencies of a collection, the rea- the African continent. New systems, languages,
since millennia before the advent of digital sons for its constitution and the developments new materialities, immaterialities and imper-
media. The logic of the collection is hence con- of the continuity of its flows. In light of the par- manences were woven; they were made, as Paul
solidated as a discursive structure, under the ticularities of our time and space – Brazil at the Gilroy reminds us, into unfinished creations.
aegis of the ruling classes, as a mechanism of beginning of the 21st century – and the changes Black relates to facing once more the sub-
public dissemination with the aim of socially through which contemporaneity confronts us jugation embedded in the word so that, in a
communicating certain selected content. every day with memory, we find a process in full radical twist, its reversal is posited as power
The 20th century saw the establishment of metamorphosis, as a structuring axis of culture. after the act. Currently, the disaster that we
museology as a field of knowledge. This pro- For the organisation of this publication, we are experiencing in the country, above all in
cess was catalysed by the impossibility of a make use of the installation process as a work- its institutional dimension, is also due to the
transdisciplinary area dodging discussions on ing method. Through which it was possible instigation of ignorance regarding the Black
the relationship between safeguarding heri- to compose an amalgam of writings of con- and Indigenous worldviews in all sectors of
tage and the exercise of power. In the 1970s, temporary authors of reference in the fields this complex that we call Brazilian society.
an intense public debate took place, centred in of memory, history and heritage. Voices are People of thought and reflection, generally,
never truly believed in the strength of these Quilombismo is not just a Brazilian histori- restitution. The document, entitled “Rapport
epistemologies, neglecting them. They could cal moment or even an idea that was lost... It is, sur la restitution du patrimoine culturel afric-
ask better questions now and should have de- in the first place, a driving force for the Brazilian ain” (“Report on the restitution of African cul-
veloped the ability to receive from life the mul- Black People (Black/Indigenous). It was and is tural heritage”), categorically recommended
tiple answers, in and from the difference, in the opposed to the incarceration process of the en- that certain works of art belonging to French
context of the actual radicality of the world. slaved Black people in the Americas, the result collections should be returned to their terri-
Life could be more biosis than the protocol of the Atlantic diaspora forced by colonialism, tories of origin. For its authors, talking about
and the exclusive effigy of euro-centred think- especially in the 17th and 18th centuries. And a restitution meant “reopening the womb of the
ing. The hierarchy between cultures, the dis- field of struggles against the necropolitical ex- colonial machine and the issue of the doubly
criminatory practice, the asymmetric violence, termination of Black and Indigenous peoples. erased memory of Europeans and Africans to-
the continuity, finally, of the project of a hege- Quilombismo is Black-Brazilian thought day, who are very unaware of how their presti-
monic ideology, due to its degree of kinship in the works of Abdias Nascimento, Beatriz gious museums were built, or struggle to find
with European humanism, prevailed in vari- Nascimento, Lélia Gonzalez, Mestre Nêgo the thread of an interrupted memory”.
ous forms and intensities, even among those Bispo, with also a possible opening towards One of the passages of the text that was most
people who, discursively in a broader sense, the thought of Ailton Krenak and Davi Ko- quoted by the press (and within academic de-
condemn the historical subalternisation exer- penawa. But it is also possible to be construed bate) refers to the finding that “almost all the
cised by a certain West that invented the races and updated in processes and in the thrust of material heritage of the African countries
and their respective places and values. what we call becomings. These becomings south of the Sahara is preserved outside the
The radical experience to be lived towards are quilombos and villages in place/site and African continent”.
the Other, without drive or reason to annihi- space/time, in aesthetic-political actions and Separated by a time span of more than
late them, or, at the limit, when the ethics of practices, whether in contemporary activism four decades and the result of different posi-
saying form the scenario where we act and (Black feminism/Indigenous struggles of our tions — expressing, on the one hand, the de-
this is foreseen by certain systems, we are time) or in contemporary art (in the visual arts, mand, and on the other, the commitment to
faced with another proposal for the human in performatic actions, in guerrilla cinema, in restitution — Mobutu [Sese Seko, president
experience, in which the human, as well as the insurgent literatures). of the Democratic Republic of Congo/Zaire
various forms of being, is a vector of force that Quilombismo is, from our perspective, a from 1965 to 1997] and Macron share a vision
arises from braids, networks and conjunctions. quilombist-becoming. In this intervention we of art and heritage that deserves scrutiny. Es-
It is not appropriate here to conceive, in any in- are speaking and invoking a quilombist-be- pecially when the theories that support recent
stance, that something unitary generated the coming of art. Precisely, in this quilombist-be- revisions to art history point to a redefinition
complex. To think of an origin, of any order, is coming of art, Blacks-Indigenous/Indigenous/ of its objects and subjects.
to think of an original relation. Blacks take the big house of contemporary art Art historian Zoë Strother was one of the 178
by storm, producing quilombos and villages in voices to question the notion of “art” that
Tiganá Santana, “Tradução, interações e cosmo- the galleries/fairs/biennials of the neoliberal supports Sarr and Savoy’s arguments based
logias Africanas”, Poiéticas não europeias em capitalist market of the arts... and not only that! on their research into masked performances
tradução, Florianópolis, v. 39, n. esp., 2019, pp. This is because this quilombist-becoming is among the eastern Pende (southeastern
65-77. Available at <https://www.scielo.br/j/ct/a/ critical and clinical to the instituted powers, as Congo). Described by Strother as a complex
YyRsqcM99x8h8GCwcWztKRG/?format=pdf&l it presents itself in two ways: as a form of coun- chain of actions that encompass the memo-
ang=pt>, accessed on 11 Oct. 2021. ter-power; and as a production of welcoming risation of songs and proverbs, the learning
and invention of other ways of composing ar- of dance techniques, as well as the mastery
tistic practices and existences from collective, of a series of ritualistic protocols, it is not re-
The spear and the bow, or towards a community, collaborative procedures... those stricted to material culture or the materiality
quilombista becoming in art who let these becomings pass through them. of the artefact. By focusing only on the object,
Jorge Vasconcellos “The quilombist-becoming of art is the (open) only the masks used in these performances
self-defence manual of the Black People in the are considered art. “Such a selective view of
On this day 325 years ago, 20 November 1695, field of the arts”. what constitutes cultural heritage perpetuates
Zumbi was betrayed by one of his own, am- the colonialist paradigm that African cultural
bushed, murdered and beheaded by Domingos Jorge Vasconcellos, “A lança e o arco, ou por um achievements must be defined by European
Jorge Velho... and Palmares fell. Nevertheless, devir-quilombista da arte”, Farol, 2021, v. 17, n. 24, criteria,” ponders Strother. Under these terms,
his legacy and that of all the Palmares quilom- pp. 39-44. Available at <https://periodicos.ufes.br/ the vision of art and heritage contemplated by
bolas74 remains with us as idea and strength, ar- farol/article/view/36353>, accessed on 8 Oct. 2021 the restitution policies advocated by Mobutu
ticulating what is called Quilombismo. and Macron find common ground.

Museums, identities and political gestures on Sabrina Moura, “Museus, identidades e gestos
74 People who are born or live in quilombos, set- the agenda of restitutions políticos na agenda das restituições”, in Paulo de
tlements in places of difficult access where Sabrina Moura Freitas Costa and Ana Cristina Moutela Costa
from the 16th century onwards enslaved Black
(ed.), Identidades paulistanas. Cadernos da Casa
people took refuge, but also free Blacks, In-
A year later, a solemn meeting at the Palais de Museu Ema Klabin, 2020, v. 2, pp. 24-35. Available at
digenous people and poor whites, oftentimes
with a communal use of the land. In 2019, the l’Élysée in Paris marked the delivery of a report <https://emaklabin.org.br/download/cadernos-
Brazilian Institute of Geography and Statis- prepared by Felwine Sarr and Bénédicte Savoy da-casa-museu-ema-klabin-identidades-pauli
tics (IBGE) estimated there are around 6.000 to Macron [the president of France] and the stanas/?wpdmdl=132841&refresh=6153680cd0
quilombola communities in the country. beginning of a public debate on the process of 06f1632856076>, accessed on 11 Oct. 2021
Museums, cultural hybridisation and new Brazilian contemporary art on the frontiers this geographically distant otherness can be
territorialities of belonging located in cities and in the peripheries and,
Judite Primo Marcelo Campos even more so, in the subjectivity of each artist.
Cities are thus configured with their indistinct
The fundamental issue in the field of collective It is worth stressing that one of the features of voices, celebrating memory in tribes and urban
memory and its treatment by museology is to the modernist strand was the construction of a types of heterogeneous collectivity. Very dif-
recognise that it corresponds to only one pos- collective memory. Therefore, the nationalist ferent voices in what we can call identity.
sible way, among others, of establishing spaces policies of modernism include the construction
of organisation and evocation of collective cul- of a homogeneous memory based on popular Marcelo Campos, “Arte contemporânea brasileira
tural references at the service of knowledge culture. The efforts to create a homogeneous nas fronteiras do pensamento”, Arte & Ensaios,
and of the sustained development of memory whole are explicit in heritage policies, inter- Graduate Programme in Visual Arts-UFRJ, 2007,
management systems. ested in safeguarding Brazil’s cultural heritage. n. 15, pp. 106-115. Available at: <https://www.pp-
The museum transformed itself over time The national memory, according to intel- gav.eba.ufrj.br/wpcontent/uploads/2012/01/ae15_
into a centre for the expression of the social lectuals and politicians, becomes a funda- Marcelo_Campos.pdf>, accessed on 6 Oct. 2021.
dynamics of the groups that worked on the ba- mental factor for the survival of the Brazilian
sis of memory and references from the past to nation as a “civilisation”. Thus “the rhetoric
construct their identity. of stone”, a term coined by José Reginaldo Beyond Carmem Miranda: camp lives
The idea of a new type of museum, which Santos Gonçalves, is constructed. The author Denilson Lopes
was more socialising and dialogical, makes states that during Rodrigo Mello Franco de
people feel uneasy because it implies actively Andrade’s administration at the Serviço do The strength of the protagonist [of the film
and continuously abolishing the deviations be- Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Madame Satã (2002) by Karim Aïnouz] lies in
tween economic and technological reality and (SPHAN), the preservation of objects and monu- wanting to be free — man, woman, madame
the way of thinking and living this reality. So- ments was qualified as a primordial condition and Satã (Satan, in Portuguese). To take on
cial work gains a new perspective by investing against illegal trade, the perishing of time and the name in a Carnival parade, at the end of
in the memory of the social. the indifference of the population. the film, is a gesture of affirmation of identity
This new museology calls upon social sub- What needs to be highlighted is that the through the mask, through the constant game
jects to actively intervene and resist the deter- discourse of loss, delivered by these intellectu- in life and on stage, far from the folklorisation
minism of the history of heroes and the glorious als, considers heritage from “an objective his- and ridicule that homosexuals and transves-
past that excludes their skills and knowledge. torical process”. With this, the fact that these tites have been and still are victims of, as takes
are the elite men who select what should or place in live TV shows, for example.
179 [...] should not constitute an important set for the Without being afraid of affectation, of nanc-
construction of the sense of tradition and of ing around, camp is itself a form of resistance to
By engaging with the social, the new museum, national memory is no longer considered. On the well-behaved standard of the middle-class
in its different forms and typologies, aims to re- the contrary, the legitimacy of the heritage is gay, integrated into the conservative consumer
spond to the rifts in cultural and social life. The understood as a transcendent reality. society in which we live. We are also a long way
social is then totally reinvested in the life of com- In contrast to this homogeneous idea, we from the servile roles that Black people have
munities, becoming the object of cultural actions. know that, if reality is a constructed process, so often played in Brazilian drama, something
It is not important to discuss how much the memory also positions itself as one of its items. confirmed by recent work on their representa-
museum, consciously or unconsciously, pro- Through memory, a relationship is created in tion in films and television programmes, in the
duces and affirms the established order of the which “culture builds and lives its temporality”. wake of the historical and panoramic work of
present. Rather, it is important to recognise it But the sense of the past is reworked between João Carlos Rodrigues and Joel Zito Araújo.
as an ideological state apparatus with legiti- modernism and contemporaneity, either as a Without falling into stagnant classifications,
mising functions to provide different uses of denial of contextual references (formalism), or ghettos or erasing all the signs and marks of
culture. However, it is important to recognise as an affirmation of identitarian elements. pain and social injustice, Madame Satã, the
another museological movement that follows film, turns anger into an opening for joy, never
the path of instituting counterpowers, where [...] for mere resentment. Transgression does not
more than seeking to legitimise the estab- reside in inflammatory discourse, but in the
lished order, museums seek to question social Contemporaneity seems to point out that in- protagonist’s own body. Her affront needs no
memory and the processes of patrimonialisa- tertextuality, hybridisation and fragmentation words. Her life, to which we are thrown into
tion, becoming also an instrument that allows have come to accept a polysemic conceptual with the abundance of close-ups and closer
those who are concerned with the construc- reinvention. Here, as in Latin America, the shots, is enough. We are plunged into her pres-
tion of the present to consciously negotiate conceptual value of the art object is hybridised ence, in a kind of seduction without escape.
and articulate a new relationship with the past. with political and ideological issues, reinter- We cannot look away; we cannot pretend not
preting the tautological coolness of interna- to see. Everything is there, straightforward,
Judite Primo, “Museus, hibridação cultural e no- tional conceptualism. Since the 1960s, we have in our face: the prejudice and the joy. There is
vas territorialidades”, Cadernos de Sociomuseologia, been living a sociocultural pluralism in Brazil no conciliation with the public or with society.
2013, v. 46, pp. 17-28. Available at <https://scholar. that makes the arts one of the possible fabrics Those who are bothered can leave the cinema,
google.com/citations?view_op=view_citation in a tangle of patchwork that we can call reality. because this Madame came to take back her
&hl=pt-PT&user=qRR3Ya4AAA AJ&citation_ If modernist aesthetics can offer us the place without asking for permission. She is our
for_view=qRR3Ya4AAAAJ:eQOLeE2rZwMC>, greatness of the discovery of Brazil’s hinter- astonishment and our face, whether we want
accessed on 8 Oct. 2021. lands, the contemporary scene shows us that or not, whether we like it or not.
Denilson Lopes Silva, “Para além de Carmem is only 2.4% and still limited to stereotypes of as artists who go to the field, the exchanges
Miranda: o camp vive”, Flipping / Revisitando Pop, poverty, crime, domestic work and sex work. and attempts to add one tradition to another
Estética e política nas Américas 1967–2017, Gradu- From the film Capitães da areia (Captains of reveal an abyss teeming with questions and
ate Programme in Performing Arts-UFRJ, 2017, pp. the Sands), directed by Cecília Amado, the au- recognition of mutual responsibilities, the im-
50-59. Available at <https://www.ppgac-ecoufrj. thor’s granddaughter, emerges Captain Dora’s measurable gulf between two worlds, a para-
com.br/publicacao/denilson-lopes-silva/390>, ability to play with gender identities; the sub- dox that anthropologist Els Lagrou refers to,
accessed on 8 Oct.2021. verting of the male gaze by the prostitute “since we do not share the same notions of art”
Dalva and the centrality of Black women in and they “seem to represent, in what they do
Afro-Brazilian religiosity represented by the and value, the total opposite of the West’s do-
Significant absences: gender and race in the mãe de santo79 Aninha. However, although ab- ing and thinking in this field”.80
film and book Captains of the Sands sent from this film adaptation, the “negrinhas
Ceiça Ferreira do areal” (literally, “little Negro women of the Why do we insist so much and for so long
sands”) are characterised in Amado fiction in participating in this club, which most of
From the universe of Brazilian writer Jorge only as sexual objects; they are bodies that the the time only limits our capacity for inven-
Amado, a differentiated set of female char- sand captains used, through the use of force tion, creation, existence and freedom? Is
acters emerge. Rich, poor, wanton, prudish, and without payment. Therefore, by the ab- it possible we are continuously updating
sensual and brave women who acquire new sences that signify and the silences that reso- that old disposition of ours for voluntary
versions in our national cinematography, nate, we observe in the film and in the book the servitude?81
and linger in our imagination. But follow- reproduction of a romanticised image of Bra-
ing the guidance of philosopher and activist zilian interracial coexistence. Formative processes do not always consider
Sueli Carneiro75 in her critique of the notion that, in the name of a crossbreeding which
of female identity, it is worth asking: “which Ceiça Ferreira, “As mulheres de Jorge Amado: conceals a process of structural inequality, end
women are we talking about?” gênero e raça no filme e no livro Capitães da areia”, up forming collectives in another “imagined
Such questioning confirms the need to rec- Comunicação & Inovação, v. 22, n. 48, 2021, pp. 151- community,” the Brazilian one, the social life
ognise the place of speech,76 that is, the differ- 168. Available at <https://seer.uscs.edu.br/index. in the country being constructed “in a more
entiated historical experience of Black women php/revista_comunicacao_inovacao/article/ or less contingent way, through political and
in Brazilian society as social subjects who have view/6419>, accessed on 8 October 2021. warlike action as well as through a narrative
experienced the intersection of racism, sexism capable of forging a common identity on the
and social inequality in their everyday prac- discursive plane”.82
tices and symbolic production [...]. To be forestS, not an orchard What seems evident to us is that the voices
Given the close relationship between rep- Maria Thaís that legitimise this common cultural identity, 180
resentation systems and identity construc- even when having different origins, “seem to
tion processes,77 it is worth paying attention [...] artistic practices, before constituting them- be in unison when it comes to the voices that
to the discursive nature of this official image selves as aesthetic forms, as works or products, are intended to be erased, the bodies that will
of Brazil, familiarised in the Brazilian cultural translate the different forms of existence (of be portrayed in the background, and not iden-
imagination and disseminated by literature, being - ontologies) and produce, from them, tified as historical subjects, but as objects or
cinema and the media in general. different forms of knowledge (other episte- extras”.83 They also sound in unison in the
Based on a corpus of 258 literary works mologies) that require different ways of doing hierarchisation of models, which denounces
published between 1990 and 2004, Dalcast- (other technologies). a privilege of perspective, producing a silenc-
agnè78 points to the predominance of a white It is important to note that the relationships ing that reinforces certain universalistic (or
and male point of view, as white men add up to we examine here have found unique answers colonial) mechanisms and ideas, and even if
72.7%. Whereas participation of Black people in the praxis of countless groups and compa- they are not explicitly established, they build
nies and in the production of independent art- a common ground, and a structuring mentality.
ists nationwide, since there are countless at-
75 Sueli Carneiro, “Identidade feminina”, in tempts at dialogue between creative processes
Heleieth I. B. Saffioti and Monica Muñoz- and traditional forms. However, our observa-
Vargas (eds.), Mulher brasileira é assim, Rio de 80 Else Lagrou, “Arte ou artefato? Agência e sig-
tions direct their attention towards the forma-
Janeiro: Rosa dos Tempos and NIPAS, Brasília: nificado nas artes indígenas”, Revista Proa,
tive processes. And even in artistic production,
Unicef, 1994, pp. 187-194. n. 2, v.1, 2010, p. 1. Available at <https://www.
76 Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala?, Belo based on our experiences, we realise that an ifch.unicamp.br/ojs/index.php/proa/article/
Horizonte: Letramento; Justificando, 2017. approximation of this nature is a path full of view/2385>, accessed on 30 Nov. 2021.
77 Stuart Hall, “A centralidade da cultura: no- mutual misunderstandings that confronts in- 81 Ailton Krenak, Ideias para adiar o fim do
tas sobre as revoluções culturais do nosso terests, demands agreements, and a frank dia- mundo, São Paulo: Companhia das Letras,
tempo”, Educação & Realidade, July/Decem- logue with the guardians of these traditions, as 2019, p. 13.
ber 1997, v. 22, n. 2, pp. 15-46; in Tomaz Tadeu we are not immune to colonial relations of dec- 82 Sergio Costa, “A mestiçagem e seus contrá-
da Silva (ed.), Identidade e diferença: a perspec- imation, of damaging extractivism. If we con- rios: etnicidade e nacionalidade no Brasil
tiva dos estudos culturais, Petrópolis: Vozes, contemporâneo”, Tempo Social, May 2001,
sider legitimate our desire for approximation
2000, pp. 7-72. v. 13, n. 1, p. 145.
78 Regina Dalcastagnè, “Entre silêncios e es- 83 Presentation text of the project Territórios de
tereótipos: relações raciais na literatura resistência – narrativas em disputa (Territories
brasileira contemporânea”, Estudos de Litera- 79 Mãe de santo, also known as yalorixá, is the of resistance - narratives in dispute), event held
tura Brasileira Contemporânea, January/June female spiritual leader of the Afro-Brazilian at Sesc Ipiranga, in partnership with Museu
2008, n. 31, pp. 87-110. religions Umbamda and Candomblé. Paulista, from May to July 2019.
Maria Thaís Santos, “Ser florestaS, e não pomar”, through the rites and technologies of each Indigenous São Paulo identities
in Ailton Krenak and others, Arte, cultura e de- time and place. Casé Angatu
mocracia no século XXI, Belo Horizonte: Fundação Considering that culture is also constructed
Municipal de Cultura de Belo Horizonte, 2019, pp. through communication, communication Some people are surprised or even deny the pos-
47-51 (Cultura e Pensamento programme). materialises as such through the very expres- sibility that the capital of São Paulo is an Indig-
sion of culture. Before the Internet, televi- enous city as well, made up of native memories,
sion, cinema and photography, and even the identities and territorialities. Some people are
Soul sisters: mourning rituals in the written word, still images in caves and totems even unaware of the existence of Indigenous
Chapada Diamantina – which are at the same time expressions of a villages and territories in the São Paulo munici-
Carolina Pedreira culture and means of communication – and pality. However, we consider that São Paulo has
the sounds articulated in dialects of a culture never ceased to be also what we call the Indig-
I don’t know how to read, why can’t I read? erected, spread and reconstructed through enous Tabatatyba (“village of several peoples”),
Didn’t have the head for it… oral communication, already indicated that formerly known as Piratininga (“dry fish”).
Now look here, why didn’t I have the head both cultural and communication practices Walking around São Paulo, besides the Indig-
for reading? are socially constructed. enous people from the Guarani villages located
And all this praying? The media, in all of its forms, as well as its in the city, we notice that many of its residents —
What’s that about? content, are used in the construction of worlds, including those who live in the streets, squares,
and are discourses of culture in themselves: viaducts — have their ancestry linked to ethnic
Dona Véa de Cabuquina from a drawing to a mask; from a set of sounds groups from native peoples that were forced
in a ritual to a melody; from a baroque paint- to leave their homelands. A presence similarly
I could not answer Dona Véa’s question the day ing to an image on the tiny screen of a mobile observed in the names of rivers, streets, places,
she posed it to me. As much as my disciplinary phone; from a popular saying to advertising neighbourhoods and surroundings.
training had enabled me to confer the same slogans, or from a newspaper editorial to the
knowledge status to native theory as anthro- plot of a soap opera, for example. [...]
pological theory, none of these words made In the contemporary world, we have wit-
sense at that time. On the other hand, I could nessed from the beginning of the 20th cen- In our understanding, the identitarian construc-
have resorted to socioeconomic explanations tury, timidly at first, until it reached its over- tion of São Paulo, in its sociocultural diversity,
about government literacy programmes or whelming force in the 1960s onwards, what is strongly linked to the presence of the Indige-
the privilege (or lack of it) of some classes over was then called mass culture, an efficient nous, caipira,84 cabocla,85 Black, immigrant, mi-
others with regards to the access to fundamen- cultural industry in the words of the Frank- grant and nordestino.86 Past, present and future
181 tal rights. But that didn’t seem to be what Dona furt School, in which this “odd” connection presences representing resistance and (re)exis-
Véa was arguing about. between culture and communication became tence in territories throughout the city, names of
It is true that in that question what is in play particularly evident. At the same time that places, in cultures and in everyday life.
is my position as a white researcher, coming mass culture industrialised itself, while also
from the capital to understand a devotion al- stifling traditional cultural manifestations, [...]
most always incumbent on Black woman, and movements emerged for the valorisation of
the position of an elderly lady who prayed so local cultures, whose actual valorisation strat- The city is full of vestiges, territories, Indig-
much in her life, but who could never read egies were and are centred, above all, on com- enous, Black and popular memories in the
the Sunday Mass notebook at church. In our munication tools. way of speaking, walking and the names of
abyss, however, Dona Véa and I share the same places. However, to perceive them it is neces-
concern: How can there be a world where the [...] sary to decolonise the looking and the spirits.
written word in text form is worth more than It is a matter of reconstructing historical nar-
the word spoken as prayer or while prayed in Indigenous communities, like all social groups ratives in a decolonial manner. The rejection
singing? throughout history, have had and still have of our histories by the owners of political and
their own ways of experiencing and transmit- economic power, as well as by a certain intel-
Carolina Souza Pedreira, Irmãs de almas: rituais ting their cultures. Today, making use of digital lectual elite, involves not only the past but also
de lamentação na Chapada Diamantina (disserta- and electronic communication devices to doc- the present and the future.
tion), Universidade de Brasília, 2010. Available at ument their histories and cultures is as much They continue to deny not only our memo-
<https://repositorio.unb.br/handle/10482/7261>, an endeavour to preserve and spread them, as ries, but also current rights. Genocides and
accessed on 6 Oct. 2021 it is an intervention in the very culture itself. ethnocides against Indigenous people, as well
as ecocides, have not only happened in the past,
Naine Terena de Jesus and Benedito Dielcio but still occur today. Sometimes governments
Communication and culture: Moreira, “Comunicação e cultura: dimensão act like the old/new colonists, removing native
the pedagogical dimension of indigenous pedagógica das narrativas indígenas em audiovi- rights, stopping demarcations of Indigenous
audiovisual narratives sual”, in Naine Teresa de Jesus and Paulo Sergio
Naine Terena de Jesus Delgado, Povos indígenas no Brasil: perspectivas no
Benedito Dielcio Moreira fortalecimento de lutas e combate ao preconceito por
84 Individual native to rural areas or areas far
meio do audiovisual, Curitiba: Brazil Publishing, from the big Brazilian cities (TN).
As we search the history of humanity we find 2018, pp. 81-98. Available at <https://ufmt.br/po- 85 Someone of Indigenous descent with a white
groups and societies in unique times and vosdobrasil/images/Povos_Indigenas_no_Bra- father or mother (TN).
spaces, building and spreading their cultures sil.pdf>, accessed on 22 Nov. 2021. 86 Someone born in Northeastern Brazil (TN).
lands, threatening demarcated lands, devas- activists.87 It is also in this direction that Judith note in a letter to another CISAC member, ‘art
tating nature. In 2019 alone eight Indigenous Butler’s arguments about a politics of perfor- and politics are today inseparable’.89
people were killed in the struggle for land, the mativity move. In the intense two years that followed the
highest number since 2011. Covid-19 has greatly initial motion for the Museo de la Solidari-
increased the number of Indigenous people Carlos Henrique de Lima, “Ativismo e perfor- dad, the project continued to develop and
killed, becoming a weapon for the genocide of mance: aspectos da aliança dos corpos nas ruas”, certain ideas were further clarified. Although
native peoples, Black people and the poor. RUA, v. 26, n. 1, 2020, pp. 277-295. Available at it was considered strategic and fundamental
However, we often say: we don’t hold grudges, <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ to include ‘first-category artists with firm po-
but we have memory. rua/article/view/8660002>, accessed on 7 Oct. 2021 litical positions’,90 the non-partisanship they
insisted on can be observed in the group of
Casé Angatu, “Indígenas identidades paulistanas”, works that came together during those brief
in Paulo de Freitas Costa and Ana Cristina Mou- ‘Struggle as Culture’: first years. The collection is unique in its het-
tela Costa (ed.), Identidades paulistanas. Cadernos The Museum of Solidarity, 1971–1973 erogeneity and in the way it quite literally em-
da Casa Museu Ema Klabin, 2020, v. 2, pp. 13-23. María Berríos bodies a slice of time and no specific style (al-
Available at <https://emaklabin.org.br/download/ though great care was taken in reviewing the
cadernos-da-casa-museu-ema-klabin-identi- Can a museum be a weapon? [...] The declara- kind of works received through the donation
dades-paulistanas/?wpdmdl=132841&refresh=615 tion [released by the International Committee process).91 A commitment to changing the
3680cd006f1632856076>, accessed on 8 Oct. 2021. of Artistic Solidarity (CISAC) that ran the Museo world inevitably involved a conception of art
de la Solidaridad] put the donating artists and as change, so in this sense there was a natu-
their artworks at the forefront, and recognised ral affinity with modern art reflected in the
Activism and performance: aspects of the their solidarity as political action. Simultane- collection. But, as correspondences between
alliance of bodies in the streets ously, it provided an outline of the principles CISAC members attest, they — and particularly
Carlos Henrique de Lima guiding the museum underway — a museum Pedrosa — considered it crucial to also incor-
that openly denounced how the art system and porate ‘experimental artists’: ‘new artists, non-
The urban activism that has emerged in the last its segregating institutions of concentrated artists, anti-artists and their “non-objects”’.92
decade in metropolises in Brazil is formed by wealth ultimately degraded art and artists. In The Museum itself should become an open,
groups that make interventions in the public this sense, the Museo de la Solidaridad was permeable space involving artists through
space. They have a diverse social base and are born as a museum against museums, an anti- their own ‘experiences’ and research. It was
not organised into previously established social museum: the basic notions of the proposed mu- planned that contemporary artists should
structures — as is the case with people’s struggles seum were an assault on existing art museums, travel and spend some time in the country —
such as those of the homeless. Therefore, there especially the prestigious and admired institu- as they had done in Operation Truth — so that 182
is no common and relatively stable identity tions of the metropolis; it questioned their geo- they might gain familiarity with the revolution
among its members. When observed together, political monopoly by calling out the absolute on their own terms without particular out-
we identify in these movements actions that in- incompatibility of their social function and the comes in mind (although discussions about in
volve interventions of a performatic, fluid and principles of the artworks (and artists) in their situ works were already taking place).93
varied aspect. They are collaborative practices care. Following this logic, the Museo de la Soli-
that involve cultural activities in a broad sense daridad initiated a motion that would attempt
89 Letter to Dore Ashton, June 1972. Quoted
and seek a new political experience formed by to ‘reclaim’ Pablo Picasso’s Guernica (1937): they
in Carla Macchiavelo, ‘Una bandera es una
an intermingling in which each point presents argued that the Museum of Modern Art in New
trama’, in Claudia Zaldívar (ed.), 40 años Museo
itself as an experience of intimate proximity. York, positioned in the centre of ‘history’s most de la Solidaridad por Chile, op. cit., p. 41.
In our perspective, by weaving this plot and prominent producer of guernicas’, was unfit to 90 M. Pedrosa, letter to D. Ashton, 9 January
standing in stark contrast to urban practice, be its custodian. They wrote a letter explain- 1972, MSSA Archive.
activist performance sharpens its contradic- ing their reasoning and offering to relocate the 91 Dore Ashton quite bluntly affirmed that she
tions. These movements produce instability painting to the Museum of Solidarity, where it did not accept ‘minor works’: they had to be
and uncertainty more than the possibility of could be ‘honoured and housed decently’.88 As relevant works and this frequently meant stu-
replacing one practice for another. Above all, [President of the CISAC Mário] Pedrosa would dio visits and continued conversations. Pedro-
sa’s correspondence is clearly just as careful
they question principles. They reveal gaps and
and attentive to detail in relation to the discus-
therefore point out possible alternatives for
sions around the works to be donated. See the
the process of urban production. The perfor- 87 Doug McAdam, Sidney Tarrow and Charles interview with Ashton in C. Zaldívar (ed.), 40
mative aspect of this activism stimulates new Tilly, Dynamics of Contention, New York: años Museo de la Solidaridad por Chile, op. cit.
connections and leaves residues in the ways Cambridge University Press, 2001. 92 M. Pedrosa, letter to Hélio Oiticica, 9 June
of acting that are gradually assimilated by 88 What remains is a draft of a letter to Picasso, 1972, MSSA Archive.
groups in different spaces and urban contexts as well as detailed notes on how to transport 93 These discussions are attested to in much of
in a continuous dissimilar and plural conflu- Guernica safely to Santiago. See ‘Proyecto de Mário Pedrosa’s correspondence at the time,
ence. Performances are modified from inher- carta a Picasso’, July 1972, MSSA Archive. A sim- where he mentions a proposal to Ferreira Gular
ilar logic was exercised by the Art Workers’ Co- to install his ‘poema enterrado’ (buried poem)
ited repertoires. As this takes place, claims are
alition in the 1970 action involving Guernica as well as an invitation to Hélio Oiticica to re-
incorporated, means are selected, new rep-
as a counter-point to the explicit anti-Vietnam alise an ‘experiencia’ on the future site of the
resentations emerge. Collective actions are war poster And Babies (1969). On the latter, Museum. See MSSA Archive. Regarding Pedro-
transformed as a result of improvisation and see Julia Bryan-Wilson, Art Workers: Radi- sa’s role and vision for the Museum of Solidar-
struggle, although forms of interaction are cal Practice in the Vietnam War Era, Berkeley: ity, see María Berríos, ‘Por el futuro artístico del
limited to what is intelligible and feasible for University of California Press, 2009. mundo’, in Gabriel Pérez Barreiro and Michelle
María Berríos, “’Struggle as Culture’: The Museum said, “Play it. It’s ours.” And I played it, there dialogue. As I wrote in the accompanying pub-
of Solidarity, 1971–73”, Afterall, Issue 44, Autumn/ was nothing else to be done. lication of A Labour of Love, the project “can be
Winter, 2017. Available at <https://www.afterall. seen as the exploration of a grammar for res-
org/article/-struggle-as-culture-the-museum-of- [...] urrecting historical reference points” through
solidarity-1971-73>, accessed on 7 Oct. 2021 a collection that had not been activated for 28
Two men rang me up, in good faith, to collabo- years. I would like to imagine that this inac-
rate with me. Without knowing it, they told me: tivity “enables an alternative narrative to re-
Spiritual instinct before reason “We are here to help you, we have experience”, emerge, one that is located in the present as
Francisco Huichaqueo and I asked: “What experience?”. To which they it has been unfolding since the works left the
replied, “We set up the rewe that’s in the Orly country (South Africa) during that political pe-
One day I went to look for her [for the machi].94 Museum in France, it’s a huge machi rewe”. I told riod known as the ‘state of emergency’”.
We arrived in the centre of Santiago, at the them, “Ah, the one we are trying to remove and This ethic defined the way in which we de-
Museo Chileno de Arte Precolombino, where bring back with the Mapuches David Aniñir, veloped All in a Day’s Eye. This exhibition was
the director of the conservation area welcomed Bernardo Oyarzún and Max Corvalán”. We deliberately approached through the critical
us. We went down in the lifts, and the conser- spent a long time trying to take it out, and Da- lenses of four Black women — myself as guest
vators were waiting for us with the boxes and vid Aniñir went into a trance when we jumped curator with an appointed team of three re-
all the things, which were many. And there over the containment barrier, when we went in searchers comprising curator Tšhegofatso
machi said: “Why is what’s ours underground? to get it out. I said to the installers, “Why did Mabaso, artist and educator Donna Kukama
Why is it cold in here? Why is everything put you set it up if we want to have it?” They were and artist Simnikiwe Buhlungu. Each team
away?” Then I told her, “Machi Silvia, this is a speechless. They were not called for this work, member represents a slightly different artistic
museum that stores our things,” but she said because they talked and displaced the spiritual generation with at least 20 years between my-
to me, “But why? I had heard about that, but I nature of everything. I told them, “Stop talking self, the oldest, and the youngest, Buhlungu.
never thought it was true. Now I see, it’s true.” about contemporary art, stop talking about the This becomes an important point of note if
She saw our things and she was upset... be- museum stuff, because this has another mean- we consider that South Africa has been an of-
cause it was too much to bear. When she saw ing.” We are facing a new exploration. Besides, ficial democracy for 26 years and that our con-
the kultruns,95 our trapelakuchas,96 the silver they have never been in that place, and I have. temporaneity straddles uneven, yet similar
garments of the women, she said, “Why are I regard it as something more than an exhibi- or relatable, generational time frames. When
they not with their owners? Why have the kult- tion, as a reunion to repair, to amend, to repair first presented with the list of works in the Ja-
run of machi not been passed on to the next ma- the broken pitcher that we are as a culture. vett Family Collection, I became aware that
chi or granddaughter or to so and so person in Gladys Mgudlandlu (1917–1979) is the only
183 the future? Why are they kept in boxes?”. It was María Berríos and Francisco Huichaqueo, “El ins- Black woman featured in the collection with
briefly explained to her. She said she was upset tinto espiritual antes que la razón”, Concreta, n. 16, two paintings: Fields, Woman and Cows (1964)
but didn’t know why she was uneasy and gave Oct. 2020. and African Woman Smoking a Pipe (1963). On
an order as a leader. She said, “Put everything even closer inspection I counted at least 15
here on the worktables.” The conservators said works in which the figure of the Black woman
no, because there were too many things. It was Ghost Stories in a Day’s Eye is a subject of representation by, especially but
true, the pieces were not going to fit on the Gabi Ngcobo not exclusively, white artists. Here, the the-
worktables. “So put a little bit of everything: the matics of innocence, together with a fixation
silverware, things for spiritual use, the rewes97 Archives always contain both what is unsaid of representing Black bodies, is often coupled
of chemamüll...”.98 Everything was placed there and what is unsayable. Working with archives with a privileged ignorance around histories of
and she performed a ceremony. She asked me means to strain against their limits and to ren- colonial violence even as one paints a still life.
to play an instrument, the pifilca, a flute, but der unstable both what is contained in them
I didn’t have mine that day. She told me: “No, and their blind spots. This is an approach Gabi Ngcobo, “Ghost Stories in a Day’s Eye”, in Ai-
play the one on the table”, an old pifilca. I took Yvette Mutumba and I took when working with leen Burns and others (ed.), Uneven Bodies (Reader),
the flute and the conservators told me: “Don’t a South African collection of more than 600 New Plymouth: Govett-Brewster Art Gallery, 2020.
touch it”. They were wearing white gloves, but works of art purchased in 1986 by the Weltkul-
we weren’t. The machi touched the kultrun and turen Museum in Frankfurt, Germany. By ask-
ing “how do we inscribe what was impossible Museums with the communities:
or invisible at the historical moment the works the exhibitions programme in cocuration
were created and the collection assembled?”, with MUSEF
Sommer (ed.), Mário Pedrosa. De la naturaleza we devised a method of inserting the voices of Elvira Espejo
afectiva de la forma, Madrid: Museo Nacional women artists which are largely missing and
Centro de Reina Sofía, 2017, pp.86–101. ‘queering the collection’ in order to tell the sto- The collaborative research and exhibitions
94 Machi is the protector and healer of the Ma- ries that were not legally possible to express at programme in cocuration with the Museo
puche people. that historical time. A Labour of Love, the cu- Nacional de Etnografía y Folklore (MUSEF), un-
95 Kultrun or cultrún is a percussion instrument
ratorial project that came out of this process, der the Fundación Cultural del Banco Cen-
used by the Mapuche people.
wove a historical narrative with a pedagogical tral de Bolivia (FC-BCB), has been running since
96 Trapelakucha is a silver chest adornment tra-
ditionally worn by Mapuche women. programme in which students from the Wits 2016. It was born from requests for support
97 Rewe: sacred altar of the Mapuche people School of Arts created responses to the collec- from various rural communities seeking to
98 Chemamüll are wooden statues used by the tion and the narrative around it, thus generat- strengthen and grant more value to their com-
Mapuche people to signal a grave. ing a necessary and overdue cross-generational munity museums.
The programme is characterised by the act implies many meanings. It is also the expres- Memory of what? Of whom? For whom? When?
of breaking away from the academic vertical- sion of the memories of a community when Where?
ity common to curatorial processes, conduct- grandparents remember that in ancient times How can we treat popular expressions as in-
ing them together with the local communities. sikuri musicians were used first by the church tangible, or if we want to quote the intercon-
Thus, the museum exhibition is not only made and colonial authorities, then by the republi- nection and inversion of the public and pri-
up of the archaeological or ethnographic ma- can state. Through the ideas of local leaders vate orders, as intangible heritage? Don’t the
terials of a community, but also of visions, such as Titi Calamani and later researchers, means of production of life go through the
concepts, pride, concerns and demands. The the sikuri is proposed as an assertion of Taypi material dimension, and are they not signi-
exhibitions are the result of months of in- Ayca’s own political thinking. fied by it? Are not thoughts, concepts, heritage,
depth contact with the communities, after With great satisfaction, in May 2021, we ancestry and so many other vital aspects, usu-
which the museum scripts are worked on and were informed by the municipality of Moco- ally gathered under generalising definitions,
validated with them before being transformed moco that the museums in both communities perpetuated by that which the past sends us
into a temporary exhibition, which takes place had been equipped to house the exhibitions, back from the experience of the real? How to
at MUSEF in La Paz, Bolivia. and were requesting us to hand over the ma- treat the spoils of those who were prostrated
Once this temporary exhibition is taken terials produced. A four-person installation to the ground? How do we signal the crime of
down, MUSEF is able to deliver the museogra- team was immediately formed and informa- assault on the accumulated knowledge of the
phy produced to the community or munici- tion boards and other museographic elements oppressed, without putting it on the shelves of
pality and support its re-installation. In return, were packaged; our truck left for Mocomoco the unprofanable, taking it out of use? From
local municipalities equip their museums with and was welcomed in Huarcamarka and Taypi what point of view are we to examine when the
the necessary infrastructure to house the exhi- Ayca with open arms and support. After three definition of intangible culture is proposed?
bition, in a collaborative dynamic process. days of installation, in which museum staff How can we integrate the history of culture
and members of both communities collabo- into the history of class struggle?
[...] rated in transferring materials, placing pieces The issues surrounding the concepts of
and clothing on mannequins and other base memory and intangible knowledge are mul-
[In the case of the exhibition Escuchar al supports, and in the electrical installation of tiple and are not written in stone. They have
viento y la piedra (Listen to the Wind and the illuminated panels, among other tasks, we been dealt with in depth by various philoso-
Rock), which opened in 2019 in La Paz], the were able to bring this collaborative activity phers and thinkers who have guided many
research and exhibition focused on aspects to a successful conclusion. of the enquiries presented in this text. First
that are a source of pride for the people of of all, in order not to get stuck in definitions,
each of these communities. In the case of Elvira Espejo, “Museos con las comunidades: el I propose to locate the point of action that is
Huarcamarka, the Escuchar al viento y la pie- programa de exposiciones en co-curaduría del presented to us as contemporary subjects — to 184
dra exhibition speaks of the archaeological MUSEF”, Tejiendo culturas: boletín institucional de be in the world, and not outside it. A consider-
site of the same name, an impressive complex la Fundación Cultural del Banco Central de Bolivia, able part of this territory is time and our rela-
of steep rock formations alongside Inca and June 2021, n. 6, p. 27. Available at <http://www. tion to it.
pre-Inca structures. The rock, whether natu- fundacionculturalbcb.gob.bo/documentos/ Through and for the experience of think-
ral or sculptured, is not for the community an boletin-cultural/2021/boletin_06_2021.pdf>, ing, I start from common sense, that is, from
inert remnant of a finished past. The rocks are accessed on 14 Oct. 2021 the ideas that dominate the collectivity. In
formations with agency and spirit used at dif- the Brazilian context, intangible culture is
ferent times of the year to ask for permissions understood as a set of expressions (including
and gifts. More than the simple observation On the invention of memory and material expressions) originating from the
of the rocks, a walk through Huarcamraka is the materiality of things for the contemporary dominated classes. It is opposed to material
a constant encounter with them, a request for and popular subject culture, which, by definition, are the expres-
permission and an exercise of memory. This Gabriel Gutierrez sions connected in some way to the produc-
encounter is mediated by offers of coca and tion of the ruling classes, or what is absorbed
alcohol, in a constant encounter with the be- The unprofanable of pornography — ev- by them to validate what they define as a na-
ings that inhabit the ancient places. It was the erything that is unprofanable — is founded tion. These two restricted senses of culture
considerations from within the community on the arrest and diversion of an authen- connect and are conceived by another con-
towards the place that had preponderance in tically profanatory intention. For this cept-institution: heritage, that is, the treat-
this exhibition. reason, we must always wrest from the ment of memory, sometimes as a romantic
Meanwhile, in Taypi Ayca, the community apparatuses — from all apparatuses — the and passionate approach to a past that does
chose to highlight their famous sikuri, the war- possibility of use that they have captured. not return and does not fit the present, since
rior dance and ritual that made them famous The profanation of the unprofanable is the it is impossible to use; sometimes as immuta-
in the rest of the country. Escuchar al viento y political task of the coming generation. ble, true fact, a record of institutional and uni-
la piedra thus highlighted the meanings and lateral history, unquestionable in itself. When
relationships that people propose through Giorgio Agamben dealing with popular cultures, the configura-
their costumes, dance and music, with their tion set up by this conceptual frame, led by
memories and their environment. Thus, the Reading the world precedes reading the the goal of safeguarding memory, delineates
sikuri is proposed not only as music, but also word, and the reading of the latter involves a fixed and incommunicable field that is the
as a relationship with the productive cycles an ongoing reading of the former. opposite of what the reality of the production
and the surrounding landscape, where each of ways of life, based on everyday life shows
element of the costume and the choreography Paulo Freire us. How to fix the unfixable?
First of all, memory is a continuous flow, creation and transformation of what surrounds a professor at the School of Architecture and
pure space of daily creation, mutation, trans- us. Memory enables contact with the archaic as Urban Planning at the Universidade de Brasí-
formation and resignification. It is not an end, an ephemeral origin, in the foundation of new lia, and a member of the research group Arqui-
but an apparatus. It is the betrayal of traditions origins. To consider memory as a creative and vos, fontes e narrativas: entre cidade, arquite-
in order to secure their perpetuation in time. organising flow of the material world is what tura e design (Archives, sources and narratives:
The materialisation of so-called immaterial frees us from the perverse distortion and his- between city, architecture and design).
knowledge is only possible through the move- torical depreciation of what is inapprehensible
ment of memory. It functions as a sieve, which by hegemony, that is, the broad culture linked Carolina Pedreira holds a PhD in anthro-
preserves the dimensions of the essential, pre- to the will to exist, the popular cultures. The cul- pology from the Universidade de Brasília
cise and urgent, proper to the use of things. tural productions and expressions born within and teaches at the Universidade Federal do
Memory is critical. The movement that char- the ephemeral challenge the restricted sense of Tocantins. She has written scientific articles
acterises it is that of being in the world right culture as a class privilege and strengthen col- on the lamentation of souls and jarê, a cabo-
now, and when there is a lack of memory, it is lective and popular thought, which, as Gramsci clo candomblé from the Chapada Diamantina
because the possibility of use was taken away points out, fuels the consolidation of a continu- region, in the state of Bahia. In 2012, she was
from us. Thus, memory and popular culture ous counter-hegemony in time. part of a local initiative for female faith heal-
are inseparable, for they reside in the sphere The encounter between the dimensions of ers in the region to be sanctioned as cultural
of use, in the timeliness of the now. memory and the classification of the expres- and social heritage.
In his brilliant essay “What is the contempo- sions of a people generates dangerous uncer-
rary?”, Agamben urges us to take a stand with tainties. Asking the world means assuming Casé Angatu is an indigenous person from
regards to our time with the precision of a ra- that dialogue as the only plausible apparatus the Tupinambá Olivença Territory, in Taba
zor blade. He points out the historical flaw and for meaningfully thinking about that same Gwarïnï Atã (Ilhéus/state of Bahia), who
challenges us to occupy it in a precise manner. world. It is only possible to understand the ter- teaches at the postgraduate programme in
Beyond what is apparent, or presents itself as ritories we occupy in the present, as contem- education/ethnic-racial relations at the Uni-
current, the author situates the creative dimen- porary subjects, if we enquire about the right versidade Federal do Sul da Bahia, and at the
sion of memory as a means to see the obscu- side through the reverse of things, and so on Universidade Estadual Santa Cruz. Angatu is a
rity that each time exposes us to through our and so forth. postdoctoral student in psychology at the Uni-
displaced condition, through untimeliness, In order to understand and accept the com- versidade Estadual Paulista, and holds a PhD
through bias, through the reverse and, more plexity of the contemporary world, it is neces- from the School of Architecture and Urban
importantly, through being on the lookout for sary to look at the resulting history through Planning of the Universidade de São Paulo,
the right time, that is, the time of use. the prism of class struggle, but recognising and a master’s degree in history from Pontifí-
185 The contemporary subject, Agamben points that there is more to it than just the dispute cia Universidade Católica de São Paulo. He is
out, for control of the means of production or the also a historian from the Universidade Estad-
transformation of its gears. There is no game ual Paulista, the author of the book Nem tudo
is not just the one who, perceiving the on this board, if we disregard the importance era italiano: São Paulo e pobreza, and the co-
darkness of the present, grasps a light that of producing culture and counterculture from author of Índios no Brasil: vida, cultura e morte,
can never reach its destiny; he is also the the perspective of the hegemonic and counter- among other publications.
one who, dividing and interpolating time, hegemonic organisation of the world. To be
is capable of transforming it and putting it contemporary is to be popular in its vital and Cátia Louredo, museology manager at MAM
in relation with other times. He is able to creative dimension, which, due to its urgency, Rio, is a museologist graduated from the Uni-
read history in unforeseen ways, to ‘cite it’ goes back to the use of things. Not fixing versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
according to a necessity that does not arise things means abandoning the glass cabinet.. (UNIRIO). Her practice has always been linked
in any way from his will, but from an exi- to collection management processes, with a
gency to which he cannot respond.99 special interest in contemporary art conserva-
tion processes. She was one of the organisers
He reiterates Walter Benjamin’s invitation to About the authors of the workshop “Contemporary collections:
brush history against the grain, placing the practical issues”, in 2011, and participated in
inalienable invention through memory as an Benedito Dielcio Moreira is a journalist with a events such as “Getting Started: A Shared Re-
apparatus to actively overcome the reverse of PhD in philosophy/education from Universität sponsibility, Caring for TBM Artworks in Col-
the world. Siegen (Germany). He is currently an associate lections”, at MoMA, in 2018. She is registered
Memory and immateriality point us to the researcher at the Universidade Federal de Mato at COREM under n. 0615-I 2rg and has been a
relationship with the time of now, the only one Grosso, where he teaches in the postgraduate member of ICOM since 2009.
possible. This does not mean the present, on programme in contemporary cultural studies.
the contrary. To think of memory as an imma- His research focuses on communication with Ceiça Ferreira holds a PhD in communica-
terial form of relationship with things is to be an emphasis on media foundations, cultural tion from the Universidade de Brasília. She
displaced from your time, in the void and gap of mediations, scientific audiovisual writing, sci- is a professor and researcher at the film and
entific culture and educommunication. audiovisual programme of the Universidade
Estadual de Goiás, and conducts teaching, re-
99 Giorgio Agamben, What Is an Apparatus? and Carlos Henrique de Lima is an architect and search, curatorial and extension activities in
Other Essays, trans. David Kishik and Stephan urban planner from the Universidade de Bra- the areas of communication and culture, race,
Pedatella. California: Stanford University sília, with a PhD in urban planning from the gender and sexuality in the realm of film and
Press, 2009, p. 53. Universidade Federal do Rio de Janeiro. He is audiovisual media.
Denilson Lopes is a professor at the School of interventions in colonial spaces that preserve José Eduardo Ferreira Santos is a pedagogue
Communication at the Universidade Federal indigenous tangible and intangible cultural from the Universidade Católica do Salvador,
do Rio de Janeiro. Researcher at the Conselho heritage, such as archaeological collections with a master’s in psychology and a PhD in
Nacional de Desenvolvimento Científico e housed in museums in Chile and abroad. public health from the Universidade Fed-
Tecnológico and at the Fundação de Amparo eral da Bahia. He carried out postdoctoral
à Pesquisa of the state of Rio de Janeiro. Au- Gabi Ngcobo is an artist, curator and educator research in contemporary culture as part of
thor of the books Mário Peixoto antes e depois living in Johannesburg, South Africa. Since the advanced programme in contemporary
de Limite (2021), Afetos, experiências e encontros the early 2000s Ngcobo has been engaged in culture at the Universidade Federal do Rio de
com filmes brasileiros contemporâneos (2016), collaborative artistic, curatorial and educa- Janeiro, at the Instituto de Psicologia of the
and O homem que amava rapazes e outros en- tional projects in South Africa and on an in- Universidade Federal da Bahia and at the post-
saios (2002), among others. ternational scope. Recent curatorial projects graduate programme on family in contempo-
include All in a Day’s Eye: The Politics of Inno- rary society at the Universidade Católica do
Elisa Larkin Nascimento holds a Ph.D. in psy- cence in the Javett Family Collection, at the Javett Salvador, through the Coordenação de Aper-
chology from the University of São Paulo (USP) Art Centre, University of Pretoria (Javett–UP); feiçoamento de Pessoal de Nível Superior
and Master’s degrees in law and social sciences Mating Birds, at the KZNSA Gallery, Durban. In national postdoctoral programme. Currently,
from the State University of New York at Buf- 2018 she curated the 10th Berlin Biennale, titled he is a professor and researcher at the Univer-
falo (USA). She is Director of IPEAFRO, the Afro- We don’t need another hero, and was one of the sidade Católica do Salvador and chief curator,
Brazilian Studies and Research Institute, and co-curators of the 32nd Sao Paulo Bienal, In- together with Vilma Santos, at the Acervo da
coordinates the technical treatment and diffu- certeza viva (2016). She is a founding member Laje, which brings together artistic and his-
sion of the Abdias Nascimento collection. Cu- of the Johannesburg-based collaborative plat- torical works from the Subúrbio Ferroviário
rator of exhibitions and educational forums forms NGO – Nothing Gets Organised (2016–) area of Salvador and from the entire city. Au-
based on this collection, Elisa is the author of and Centre for Historical Reenactments thor of the books Novos Alagados: histórias do
several publications, including The Sorcery of (2010–2014). Ngcobo’s writing have been pub- povo e do lugar (2005), Cuidado com o vão: re-
Color: Gender, Race, and Identity in Brazil (2003 lished in various publications, including the percussões do homicídio entre jovens da periferia
/ 2007). She edited the four-volume Sankofa reader Uneven Bodies, Govett-Brewster Art (2010), Nascente da beleza (2013) and Acervo da
collection (2008–2009) and the book Adinkra: Gallery, Aotearoa New Zealand (2021), The Laje: memória estética e artística do Subúrbio
sabedoria dos símbolos africanos (2009). Stronger We Become, the catalogue of the South Ferroviário de Salvador (2014).
African Pavilion, Venice (2019), Public Inti-
Elvira Espejo Ayca is a prominent indige- macy: Art and Other Ordinary Acts in South Af- Julio Ricardo Menezes Silva is a journalist
nous artist, cultural manager and researcher. rica, YBCA/SFMOMA (2014), We Are Many: Art, the studying for a master’s degree in Art History
Born in ayllu Qaqachaka (province of Abaroa, Political and Multiple Truths, Verbier Art Sum- at Rio de Janeiro State University (UERJ). He 186
Oruro, Bolivia), her practice is related to tex- mit (2019) and Texte Zur Kunst September 2017. coordinates IPEAFRO’s project to create the
tile materials, poetry and oral tradition. She Ngcobo is Curatorial Director at the Javett-UP. online Black Art Museum (MAN-IPEAFRO). He
was director of the Museo Nacional de Etno- is active in the Permanent Forum for Racial
grafía y Folklore in La Paz between 2013 and Gabriel Gutierrez is an artist and architect Equality and the Black Coalition for Rights.
2020, and again since 2021. She was awarded who graduated from the School of Architec-
the Goethe Medal 2020, an official award by ture and Urban Planning of the Universidade Judite Primo is a feminist, anti-racist and so-
the Federal Republic of Germany, for her work de São Paulo and from the Ecole Nationale ciomuseologist. She holds a doctorate in edu-
and commitment to cultural exchange. The Supérieure d’Architecture of Paris La Vil- cation from the Universidade Portucalense
importance of her work lies above all in the di- lette, with a master’s degree from the same Infante D. Henrique, a master’s in museology
alogue between her first-hand knowledge on institution. He is the director of the Centro from the Universidade Lusófona de Humani-
and practice related to indigenous communi- Cultural Vale Maranhão and founder of the dades e Tecnologias and a degree in museol-
ties, working at the intersection of academic independent spaces Aurora (2012–2016) and ogy from Universidade Federal da Bahia. She
knowledge, cultural management and muse- Casa Peixe – SLZ (2016–). He researches pop- occupies the UNESCO Chair in Education, Cit-
ums. Her work asserts the epistemologies and ular culture and its overlap with institutional izenship and Cultural Diversity; is principal
practices of originary and campesino peoples. dimensions in the fields of material and sym- researcher at Fundação para Ciência e Tec-
bolic production. nologia, Centro de Estudos Interdisciplinares
Francisco Huichaqueo is a visual artist, film- em Educação e Desenvolvimento and is also a
maker and professor at the School of Litera- Jorge Vasconcellos is a Black-indigenous per- professor of sociomuseology at the Universi-
ture and Visual Arts of the Universidad de son, who holds a PhD in philosophy from the dade Lusófona.
Concepción, Chile. He is a graduate of the Universidade Federal do Rio de Janeiro, with
School of Visual Arts, Universidad de Chile, postdoctoral research in contemporary art Leno Veras is a communicologist, researcher
with a master’s degree in documentary film from the Universidade do Estado do Rio de and professor affiliated to the School of Com-
from the same institution and a specialisa- Janeiro. He is a professor of the department of munication of the Universidade Federal do
tion in optics from the Escuela Internacional arts and cultural studies and of the postgradu- Rio de Janeiro, and also affiliated to the War-
de Cine y Televisión in Cuba. His visual work ate programme in contemporary arts studies burg Institute, at the School of Advanced
deals with themes related to his Mapuche at the Universidade Federal Fluminense. He Study, University of London. He is currently
heritage and the indigenous peoples. He uses was part of the Cientista do nosso Estado pro- associate curator with the South American
installation, documentary and film essays to gramme (Rio de Janeiro state Fundação de information directorate of the Goethe-Insti-
express his work, featuring in national and in- Amparo à Pesquisa) and is an anti-racist activ- tut, and is a member of international organ-
ternational film festivals. He also carries out ist and member of Coletivo 28 de Maio/C28M. isations such as the Association for Critical
Heritage Studies and the International Fed- Pentesiléia, Cabras and Recusa, among others. (2014), the Zarigüeya/Alabado Contemporá-
eration of Library Associations. He is respon- She was resident director at the Centro de Pes- neo project (Museo de Arte Precolombino
sible for research and documentation area of quisa Teatral do Serviço Social do Comércio Casa del Alabado, Quito, 2015–ongoing), and
the Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. de São Paulo with the project Vagamundos. In the exhibitions Dja Guata Porã: Rio de Janeiro
2021, she codirected, with Yghor Boy, the docu- indígena (Museu de Arte do Rio, 2017–2018)
Luiza Proença is a curator and art researcher. mentary Territórios de Resistência - Florestanias, and A Singular Form (Secession, Vienna, 2014).
She holds a master’s degree in clinical psychol- Sertanias, Ribeiria (SescTV), and with Julianna He was an editor for Afterall and Afterall Books,
ogy from Núcleo de Estudos da Subjetividade Santos, the opera The Rake’s Progress at Teatro and is currently a Series Editor for the Exhibi-
at PUC-SP. Her research focuses on artistic Municipal de São Paulo. tion Histories series. He is currently the Artis-
practices and institutions and their respec- tic Director of the Museu de Arte Moderna do
tive forms of resistance in the social and en- Moema de Bacelar Alves holds licentiate and Rio de Janeiro, together with Keyna Eleison.
vironmental fields. She has worked as a cura- bachelor’s degrees in History from the Uni-
tor at MASP and at the 31st Bienal de São Paulo, versidade Federal do Pará (2006), a specialist Sabrina Moura is a professor, researcher and
among other roles. in cultural heritage from Fórum Landi/UFPA curator with a PhD in art history from the Uni-
(2008), a master’s degree (2013) and a doctor- versidade de Campinas. She has organised
Marcelo Campos is an associate professor at ate (2019) from the postgraduate programme seminars and public programmes at institu-
the department of art theory and history, a in History at UFF. Her dissertation Do Lyceu tions such as Videobrasil, Serviço Social do
tenured professor in the postgraduate pro- ao Foyer: exposições de arte e gosto no Pará da vi- Comércio de São Paulo, Goethe-Institut and
grammes in arts and postgraduate programmes rada do século XIX para o século XX (From Lyceu World Biennial Forum. She edited the book
in art history at the Instituto de Artes of Uni- to Foyer: art exhibitions and taste in Pará at the Panoramas do Sul: perspectivas para outras geo-
versidade Estadual do Rio de Janeiro. Chief turn of the 19th into the 20th century) received grafias de pensamento (2015), and was a visiting
curator of Museu de Arte do Rio (MAR), he the Roberto Santos award, from the Instituto researcher at the Institute of African Studies at
holds a PhD in visual arts from the postgradu- Histórico e Geográfico do Pará (2014) and her Columbia University.
ate programme in visual arts of the Escola de thesis Quando os artistas saem em viagem: trân-
Belas Artes of Universidade Federal do Rio de sito de pintores e pinturas na virada do século XIX Tiganá Santana is a musician, poet, translator,
Janeiro. He wrote a thesis on the concept of para o XX (When artists embark on a voyage: the researcher and professor at the Universidade
Brazilianness in contemporary art. transit of painters and paintings at the turn of Federal da Bahia, where he graduated in phi-
the 19th into the 20th century), the Best Theses losophy. He holds a PhD in literature from the
María Berríos is a sociologist, writer and in- award from the postgraduate programme in Universidade de São Paulo, and completed a
dependent curator. She is cofounder of the History at UFF (2020). She is a researcher at MAM postdoctoral internship at the Instituto de
187 Chilean editorial collective vaticanochico. Her Rio and a professor at the Instituto de Aplica- Estudos Brasileiros of the same university.
work traverses art and politics, with a special ção Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj). He is the author of several academic and ar-
interest in the collective cultural experiments She has been a member of ICOM since 2010. tistic works.
of the 1960s and 1970s, and their exhibition
formats and pedagogical methodologies. She Naine Terena holds a PhD in education, a mas- Vilma Soares Ferreira Santos is a Black woman
teaches and lectures regularly in Europe and ter’s degree in arts and a degree in social com- and an educator. She was volunteer coordina-
Latin America, and has published extensively munication from the Universidade Federal de tor of Pastoral da Criança, Pastoral Afro and
on contemporary culture in Latin America Mato Grosso. A woman of the Terena people, Pastoral Carcerária, and co-founder of Acervo
and beyond. Among other projects, Berríos she is a researcher, university professor, cura- da Laje, where she coordinates the education
curated along with Lisette Lagnado Drifts and tor and artist-educator. In 2019, she was one section. She has worked as curator and co-
Derivations. Experiences, journeys and mor- of the five finalists for the Jane Lombard Prize ordinator of exhibitions such as 1ª Exposição
phologies on experimental architectural collec- for Art and Social Justice, awarded by the Vera Pública do Acervo da Laje (2011), Novos Alaga-
tives (Museo Nacional Centro de Arte Reina List Centre for Art and Politics in New York dos; As águas suburbanas no Acervo da Laje
Sofía, Madrid, 2010). She also curated Nuestro (USA). In 2020 and 2021, she was awarded the (Subúrbio Waters in the Acervo da Laje, 2012)
desconocido, nuestro caos, nuestro mar (Museo title of Master of Culture of Mato Grosso. She and A beleza do Subúrbio (The Beauty of Sub-
Experimental el Eco, Mexico City, 2014), and was the curator of the exhibition Véxoa - nós úrbio, 2013), Plataforma; 3ª Bienal da Bahia
Alberto Cruz: El cuerpo del arquitecto no es el de sabemos (Véxoa - We know) (2020-21) at Pi- (2014), Acervo da Laje, Casa 1, and Memórias
un solo hombre together with Amalia Cross at nacoteca de São Paulo, and co-curator of the afetivas do Subúrbio Ferroviário de Salvador
MAVI – Museo de Artes Visuales, Santiago de virtual exhibition Rec-Tyty (2021). She teaches (Affective Memories of Subúrbio Ferroviário
Chile, 2017). She was one of the curators of in the specialisation programme in cultural of Salvador, 2018), Subúrbio 360, held in the
the 11th Berlin Biennale of Contemporary Art management – expansion of repertoires at Vista Alegre neighbourhood. She participated
(2019-2021) and is currently working on a proj- Instituto Itaú Cultural. She is a researcher in in the round-table discussion titled “Uses of
ect for the Museo de la Solidaridad Salvador the project Cultures of Anti-Racism in Latin Art” at the 31ª Bienal de São Paulo (2014). She
Allende to celebrate its fiftieth anniversary. America, at the University of Manchester, and also took part in the production of the project
in the Laboratory of Technologies, Sciences #Ocupa Lajes (2016, 2018-19), and collabo-
Maria Thaís is a senior lecturer affiliated to the and Creation at the Universidade Federal de rated with the student exchange programme of
Museu do Ipiranga and to the postgraduate Mato Grosso. the Bartlett School in London (2016, 2017 and
programme in drama at the Universidade de 2018), the Festival Caymmi de música (2017), as
São Paulo. Together with the theatre company Pablo Lafuente lives in Rio de Janeiro, where well as liaising and mobilising children, young
Cia Balagan (recognised as intangible heritage he works as a writer, editor and curator. He people, adults and families to hold workshops
of the city of São Paulo), she directed Programa was co-curator of the 31st Bienal de São Paulo with artists.
ARTISTAS NA EXPOSIÇÃO
Artists in the Exhibition
Artistas na exposição Artists in the Exhibition

Abdias Nascimento Farnese de Andrade Mila Souza


Adilson Baiano Paciência Filipe Salvador Mônica Guimarães
Agenor Francisco dos Santos Firmino Saldanha Myrian Moreira
Agnaldo Manoel dos Santos Frans Krajcberg Octávio Araújo
Alberto da Veiga Guignard Friedrich Vordemberge-Gildewart Oswaldo Goeldi
Alberto Magnelli Gerson de Souza Oton Gliha
Alcione Heitor dos Prazeres Pierre Soulages
Aldemir Martins Henrique Nascimento Polly McDonell
Alexander Calder Henry Moore Poty Lazzarotto
Alfredo Ceschiatti Indiano Carioca Préfète Duffaut
Alfredo Volpi Inimá de Paula Prentice
Almiro Borges Irene Hamar Quirino Campofiorito
Aloísio Magalhães Isa Aderne Ray Bahia
Alvaro Monnini Israel Pedrosa Reinaldo Eckenberger
Amalia Nieto Ivan Morais Robert Motherwell
André Lhote Ivan Serpa Robert O.
Anísio Medeiros Ivana Magalhães Roberto Magalhães
Anita Malfatti J. Cunha Rolando
191 Anna Bella Geiger Jean Pougny Ronaldo Rêgo
Anna Letycia Jocelyn Rubem Valentim
Antônio Maia José Barbosa Sebastião Januário
Babatunde Folayemi José de Dome Serge Poliakoff
Bakari José Eduardo Ferreira Sheila
Ben Enwonwu José Fábio Barbosa da Silva Silvia de Leon Chalreo
Ben Nicholson José Heitor da Silva Simone Santos
Bess Josef Albers Sneed
Bida Julio Gero Tancredi
Carlo Carrà Júlio Vieira Tony Northern
Carlos Scliar Leroi Callwell Johnson Torodê
Carybé LeRoy Clarke Ubi Bava
Cesar Bahia Lucette Laribe Victor Brecheret
Chico Tabibuia Lucio Fontana Vieira da Silva
Cícero Dias Luiza Miller Vincent J. Ibberson
Cildo Meireles Lula Cardoso Ayres Wega Nery
Damião Marcelo de Souza Freitas Lygia Clark William Baziotes
Daniele Rodrigues Manabu Mabe Yara Tupynambá
Darcílio Lima Margaret Spence Zaca Oliveira
Delia del Carril Margret Sander Zé Tarcísio
Dionísio del Santo Maria Bonomi Zilda Paim
Elisa Martins da Silveira Maria Leontina
Emanoel Araújo María Luisa de Pacheco
Emil Nolde Marina Caram 26 autores não identificados
Emílio Ugarte Melvin Edwards 26 unidentified authors
lista de trabalhos
na exposição
List of Works in the Exhibition
ACERVO DA LAJE

Adilson Baiano Adilson Baiano Adilson Baiano Almiro Borges Almiro Borges Almiro Borges
Paciência Paciência Paciência Araci, BA, Brasil, 1933 – Araci, BA, Brasil, 1933 – Araci, BA, Brasil, 1933 –
[s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] Salvador, BA, Brasil, 2010 Salvador, BA, Brasil, 2010 Salvador, BA, Brasil, 2010
Caboclo Monge c/ duas cruzes São Pedro Bahia Colonial Carmo Ladeira do Ferrão Sem título Untitled
sem data undated Monk with Two Crosses Saint Peter sem data undated sem data undated sem data undated
madeira wood sem data undated sem data undated óleo sobre tela óleo sobre tela óleo sobre tela
59 × 19 × 18 cm madeira wood douramento e verniz oil on canvas oil on canvas oil on canvas
123 × 28 × 30 cm sobre madeira 56 × 46 cm 48 × 39,5 cm 68 × 83,5 cm
gilding and varnish
on wood
82,5 × 20 × 40 cm

193

Almiro Borges Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado
Araci, BA, Brasil, 1933 – Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author
Salvador, BA, Brasil, 2010 Nossa Senhora Santa Bárbara Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
Barcos Ribeira das Graças sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
Ribeira Boats sem data undated madeira wood acrílica sobre madeira wood madeira wood
1977 madeira wood 20,9 × 6,5 × 6,5 cm aglomerado 26,5 × 8 × 6 cm 33 × 6 × 5,5 cm
óleo sobre tela 26,5 × 10,1 × 7 cm acrylic on masonite
oil on canvas 130 × 101 cm
76,5 × 59 cm

Bida Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia
Nazaré das Farinhas, BA, Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964
Brasil, 1971 Erê Máscara Caboclo Pena Máscara Omolú Máscara Oxalá Oxalá
O Brasil dá canção, sem data undated Branca Caboclo White Omolú Mask Oxalá Mask sem data undated
miscigenação madeira wood Feather Mask sem data undated 2010 madeira wood
Brazil Gives Song, 16,5 × 17,5 × 7 cm sem data undated policromia sobre madeira madeira wood 28 × 31 × 4 cm
Miscegenation madeira wood polychromy on wood 27 × 19 × 5 cm
2008 38 × 17,7 × 8 cm 40,5 × 23,5 × 5 cm
acrílica e assemblage
sobre tela acrylic and
assemblage on canvas
200 × 200 cm
Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia Cesar Bahia
Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964
Oxum Oxum Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
policromia sobre madeira policromia sobre madeira madeira wood madeira wood madeira wood policromia sobre madeira
polychromy on wood polychromy on wood 15,3 × 5 × 6 cm 33 × 12 × 7 cm 40 × 14 × 11 cm polychromy on wood
36 × 22 × 5 cm 39,6 × 23 × 4 cm 27 × 18,5 × 6,5 cm

194

Cesar Bahia Cesar Bahia Daniele Rodrigues Daniele Rodrigues Daniele Rodrigues Daniele Rodrigues
Salvador, BA, Brasil, 1964 Salvador, BA, Brasil, 1964 Santo André, SP, Brasil, Santo André, SP, Brasil, Santo André, SP, Brasil, Santo André, SP, Brasil,
1964 Xangô 1991 1991 1991 1991
Sem título Untitled sem data undated Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated policromia sobre madeira sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
madeira wood polychromy on wood impressão fotográfica impressão fotográfica impressão fotográfica impressão fotográfica
45 × 11 × 14 cm 22 × 40 × 4 cm sobre papel sobre papel sobre papel sobre papel
photographic print photographic print photographic print photographic print
on paper on paper on paper on paper
40 × 60 cm 60 × 40 cm 40 × 60 cm 40 × 60 cm

Emílio Ugarte Emílio Ugarte Emílio Ugarte Emílio Ugarte Indiano Carioca Indiano Carioca
[s.l.], [193-] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [193-] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [193-] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [193-] – [s.l.], [s.d.] Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira,
Carmo, Bahia Catedral – Sem título Untitled Sem título Untitled PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947
sem data undated Basílica – Bahia sem data undated sem data undated Amor à máquina Sem título Untitled
policromia sobre azulejo sem data undated policromia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo Machine Love 2011
polychromy on tile serigrafia silkscreen polychromy on tile silkscreen on tile 2013 acrílica sobre madeira
15,5 × 15,5 cm 15,5 × 15,5 cm 14,7 × 14,7 cm 14,5 × 14,5 cm acrílica sobre acrylic on wood
compensado 39 × 33 cm
acrylic on plywood
24 × 21 cm
Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca
Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira,
PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
2012 2013 sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
acrílica sobre aglomerado acrílica sobre acrílica sobre acrílica sobre acrílica sobre aglomerado acrílica sobre
acrylic on masonite compensado compensado compensado acrylic on masonite compensado
62,8 × 37,3 cm acrylic on plywood acrylic on plywood acrylic on plywood 26,2 × 40,9 cm acrylic on plywood
28 × 24,8 cm 16,7 × 15 cm 50 × 40 cm 33,8 × 44 cm

195

Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca Indiano Carioca
Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Afogados da Ingazeira,
PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947 PE, Brasil, 1947
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
acrílica sobre tela acrílica sobre tela acrílica sobre tela acrílica sobre tela acrílica sobre acrílica sobre aglomerado
acrylic on canvas acrylic on canvas acrylic on canvas acrylic on canvas compensado acrylic on masonite
30 × 30 cm 30 × 20 cm 30 × 30 cm 34 × 28,5 cm acrylic on plywood 38 × 29 cm
44 × 37 cm

Indiano Carioca Ivana Magalhães Ivana Magalhães Ivana Magalhães Ivana Magalhães José Eduardo Ferreira
Afogados da Ingazeira, Salvador, BA, Brasil, 1974 Salvador, BA, Brasil, 1974 Salvador, BA, Brasil, 1974 Salvador, BA, Brasil, 1974 Salvador, BA, Brasil 1974
PE, Brasil, 1947 Coleção Ancestrais Coleção Ancestrais Coleção Traço Colorido Coleção Traço Colorido Tinhorão
Velocidade da luz Ancestors Collection Ancestors Collection Coloured Line Collection Coloured Line Collection Heart of Jesus (Caladium)
Speed of Light 2018 2018 2018 2018 sem data undated
sem data undated cerâmica policromada cerâmica policromada cerâmica policromada cerâmica policromada impressão sobre azulejo
acrílica sobre aglomerado polychromy ceramic polychromy ceramic polychromy ceramic polychromy ceramic print on tile
acrylic on masonite 8 × 33,5 cm (diâmetro / 8 × 33,5 cm (diâmetro / 9 × 24 cm (diâmetro / 9 × 32,5 cm (diâmetro / 15,5 × 15,5 cm
38 × 28,3 cm diameter) diameter) diameter) diameter)
Mila Souza Mila Souza Mila Souza Mila Souza Mila Souza Prentice
Salvador, BA, Brasil, 1991 Salvador, BA, Brasil, 1991 Salvador, BA, Brasil, 1991 Salvador, BA, Brasil, 1991 Salvador, BA, Brasil, 1991 Salvador, BA, Brasil, 1940
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
impressão fotográfica impressão fotográfica impressão fotográfica impressão fotográfica impressão fotográfica tinta de cerâmica e
sobre papel sobre papel sobre papel sobre papel sobre papel serigrafia sobre azulejo
photographic print photographic print photographic print photographic print photographic print ceramic ink and
on paper on paper on paper on paper on paper silkscreen on tile
70 × 50 cm 70 × 50 cm 70 × 50 cm 70 × 50 cm 70 × 50 cm 15,4 × 15,4 cm

196

Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice


Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e
serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo
ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and
silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile
15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm

Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice


Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e
serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo
ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and
silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile
15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm
Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice Prentice
Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e
serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo
ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and
silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile
15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm

197

Prentice Prentice Prentice Ray Bahia Ray Bahia Ray Bahia


Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1940 Salvador, BA, Brasil, 1954 Salvador, BA, Brasil, 1954 Salvador, BA, Brasil, 1954
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated 2010 2010 2012
tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e tinta de cerâmica e metal metal metal metal metal metal
serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo serigrafia sobre azulejo 72 × 53 × 6 cm 81 × 46 × 5 cm 61 × 40 × 5 cm
ceramic ink and ceramic ink and ceramic ink and
silkscreen on tile silkscreen on tile silkscreen on tile
15,4 × 15,4 cm 15,4 × 15,4 cm 25 × 35 cm

Ray Bahia Ray Bahia Ray Bahia Ray Bahia Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger
Salvador, BA, Brasil, 1954 Salvador, BA, Brasil, 1954 Salvador, BA, Brasil, 1954 Salvador, BA, Brasil, 1954 Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina,
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA,
2012 2012 2015 2015 Brasil, 2017 Brasil, 2017
metal metal metal metal metal metal metal metal Sem título Untitled Cotelete Sunday
38 × 30 × 3 cm 51 × 43 × 3,5 cm 96 × 30,5 × 10 cm 63 × 35 × 5 cm sem data undated Domingo Cotelete
policromia sobre azulejo sem data undated
polychromy on tile policromia sobre azulejo
15,5 × 15,5 cm polychromy on tile
20,5 × 20,5 cm
Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger
Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina,
1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA,
Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
policromia sobre azulejo policromia sobre cerâmica vitrificada e policromia sobre azulejo policromia sobre azulejo policromia sobre azulejo
polychromy on tile cerâmica policromia glazed polychromy on tile polychromy on tile polychromy on tile
21 × 21 cm polychromy on ceramic ceramic and polychromy 31 × 31 cm 30 × 15 cm 22,8 × 16,5 cm
10,5 × 6 cm 15,5 × 15,5 cm

198

Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger
Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina,
1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA,
Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
cerâmica vitrificada e cerâmica vitrificada e policromia sobre policromia sobre policromia sobre azulejo policromia sobre azulejo
policromia glazed policromia glazed cerâmica cerâmica polychromy on tile polychromy on tile
ceramic and polychromy ceramic and polychromy polychromy on ceramic polychromy on ceramic 20 × 20 cm 31 × 31 cm
22 × 22 cm 25 × 15 cm 18,5 × 15 cm 15 × 28 cm

Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger
Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina,
1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA,
Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017 Brasil, 2017
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
policromia sobre azulejo policromia sobre azulejo policromia sobre azulejo cerâmica vitrificada e policromia sobre azulejo e policromia sobre azulejo e
polychromy on tile polychromy on tile polychromy on tile policromia glazed assemblage polychromy assemblage polychromy
30,5 × 61 cm 31 × 31 cm 20,2 × 20,2 cm ceramic and polychromy on tile and assemblage on tile and assemblage
15,1 × 15,5 cm 33,6 × 25,6 × 2,1 cm 31,5 × 19,2 × 2 cm
Reinaldo Eckenberger Reinaldo Eckenberger Simone Santos Zaca Oliveira Zaca Oliveira Zaca Oliveira
Buenos Aires, Argentina, Buenos Aires, Argentina, Belo Horizonte, MG, Salvador, BA, Brasil, 1970 Salvador, BA, Brasil, 1970 Salvador, BA, Brasil, 1970
1938 – Salvador, BA, 1938 – Salvador, BA, Brasil, 1985 Brisa fria Cold Breeze Os sobreviventes Sem título Untitled
Brasil, 2017 Brasil, 2017 Favela sem data undated The Survivors sem data undated
Painéis chez Hueser N’importe quoi nº 2 2013 acrílica e resina líquida sem data undated acrílica sobre tela
Painéis casa de Hueser Qualquer coisa nº 2 óleo sobre compensado sobre tela acrylic and acrílica sobre tela acrylic on canvas
Hueser’s House Panels Anything n. 2 oil on plywood liquid resin on canvas acrylic on canvas 120 × 80 cm
sem data undated sem data undated 54 × 30 cm 120,5 × 80 cm 118 × 79 cm
policromia sobre azulejo cerâmica vitrificada e
polychromy on tile policromia glazed
31,5 × 31,5 cm ceramic and polychromy
25 × 17 cm

199

Zaca Oliveira Zilda Paim Zilda Paim Zilda Paim


Salvador, BA, Brasil, 1970 Santo Amaro da Santo Amaro da Santo Amaro da
Seus azuis Their Blues Purificação, BA, Brasil, Purificação, BA, Brasil, Purificação, BA, Brasil,
sem data undated 1919 – Salvador, BA, 1919 – Salvador, BA, 1919 – Salvador, BA,
acrílica, látex e Brasil, 2013 Brasil, 2013 Brasil, 2013
pigmentos sobre tela Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
acrylic, latex and 1985 sem data undated 1996
pigments on canvas óleo sobre aglomerado policromia e verniz sobre óleo sobre aglomerado
120 × 80 cm oil on masonite compensado oil on masonite
40 × 61 cm polychromy and varnish 39 × 61 cm
on plywood
38,9 × 60,9 cm
MUSEU DE ARTE NEGRA / IPEAFRO

Abdias Nascimento Abdias Nascimento Abdias Nascimento Abdias Nascimento Abdias Nascimento Abdias Nascimento
Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 –
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
2011 2011 2011 2011 2011 2011
A criação nº 2: Obatalá Diagrama ritual sincrético Mediação nº 2: Apis, Padê de Exu Pomba Gira, fêmea Raízes: tributo a
e Exu Creation n. 2: Syncretic Ritual Diagram o boi sagrado Mediation Padê for Exu de 7 Exus Pomba Gira, Aguinaldo Camargo
Obatalá and Exu 1993 n. 2: Apis, the Sacred Ox 1988 Female of 7 Exus Roots: Tribute to
1973 acrílica sobre tela 1973 acrílica sobre tela 1970 Aguinaldo Camargo
acrílica sobre tela acrylic on canvas acrílica sobre tela acrylic on canvas acrílica sobre tela 1988
acrylic on canvas 40 × 50 cm acrylic on canvas 150 × 100 cm acrylic on canvas acrílica sobre tela
152,3 × 101,7 cm 63 × 63 cm 102,5 × 152,6 cm acrylic on canvas
100 × 150 cm

Afro-Brazilian
Theogony n. 2:
Iansã, Obatalá,
Oxum, Oxossi, 200
Yemanjá, Ogum,
Ossaim, Xangô, Exu
Abdias Nascimento Abdias Nascimento 1972 Abdias Nascimento Agenor Francisco Agnaldo Manoel
Franca, SP, Brasil, 1914 – Franca, SP, Brasil, 1914 – acrílica sobre tela Franca, SP, Brasil, 1914 – dos Santos dos Santos
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, acrylic on canvas Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Alagoinhas, BA, Brasil, Ilha de Itaparica, BA,
2011 2011 102 × 152 cm 2011 1932 – SP, Brasil, [1997?] Brasil, 1926 – Salvador,
Santa Maria Egípcia nº 2 Teogonia afro-brasileira Tótem da liberdade Sem título Untitled BA, Brasil, 1962
Saint Mary of Egypt n. 2 nº 2: Iansã, Obatalá, Freedom Totem 1966 Sem título Untitled
1968 Oxum, Oxossi, Yemanjá, 1974 madeira wood 1966
acrílica sobre tela Ogum, Ossaim, acrílica sobre tela 40 × 97 × 36,5 cm madeira wood
acrylic on canvas Xangô, Exu acrylic on canvas 34,5 × 22 × 36 cm
72 × 53 cm 202 × 102 cm

Alcione Aldemir Martins Anísio Medeiros Anísio Medeiros Anísio Medeiros Anísio Medeiros
[s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] Ingazeiras, CE, Brasil, Teresina, PI, Brasil, 1922 – Teresina, PI, Brasil, 1922 – Teresina, PI, Brasil, 1922 – Teresina, PI, Brasil, 1922 –
Sem título Untitled 1922 – São Paulo, SP, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
1990 Brasil, 2006 2003 2003 2003 2003
lã wool [Exu] Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
34 × 43 cm 1966 1948 1948 1948 1948
aguada de nanquim pastel sobre papel pastel sobre papel pastel sobre papel pastel sobre papel
sobre papel pastel on paper pastel on paper pastel on paper pastel on paper
indian ink wash on paper 25 × 35 cm 35 × 25 cm 35 × 25 cm 35 × 25 cm
47 × 37 cm
Anna Letycia Anna Letycia Anna Letycia Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado
Teresópolis, RJ, Brasil, Teresópolis, RJ, Brasil, Teresópolis, RJ, Brasil, Unidentified author Unidentified author Unidentified author
1929 – Rio de Janeiro, RJ, 1929 – Rio de Janeiro, RJ, 1929 – Rio de Janeiro, RJ, Sem título Untitled [Exu de ferro] [Iron Exu] Sem título Untitled
Brasil, 2018 Brasil, 2018 Brasil, 2018 c. 1950 c. 1950 c. 1960
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled ferro iron ferro iron madeira wood
1955 1962 1962 13,3 × 9,5 × 3,5 cm 25,2 × 10 × 18 cm 22,5 × 4 × 7,5 cm
grafite sobre papel nanquim e guache sobre nanquim, grafite e
graphite on paper papel vegetal guache sobre papel
47,4 × 32 cm indian ink and gouache vegetal indian ink,
on tracing paper graphite and gouache
51,2 × 43,3 cm on tracing paper
50,5 × 37,5 cm

201

Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado
Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
1991 sem data undated 1991 1993 1994 1994
bronze bronze madeira e metal bronze bronze policromia sobre madeira bronze bronze madeira wood
43 × 19,5 × 15 cm wood and metal 26 × 7,3 × 7,3 cm polychromy on wood 37,5 × 14 × 14,8 cm 46,3 × 23 × 5,5 cm
54,5 × 20,3 × 6 cm 61 × 12 × 7,3 cm

Escultura proveniente
de Athenas, Grécia.
Presente de Augusto
Boal para Abdias
Nascimento em seu
aniversário Sculpture
from Athens, Greece.
Gift from Augusto
Autor não identificado Boal to Abdias Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado
Unidentified author Nascimento on his Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author
Sem título Untitled birthday Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
2001 2003 sem data undated sem data undated sem data undated
metal e mármore madeira wood madeira wood madeira wood madeira, bronze,
metal and marble 18 × 3 × 7 cm 113,7 × 8,5 × 8 cm 22,5 × 11 × 14 cm cerâmica, miçangas e
28,5 × 17 × 4 cm búzios wood, bronze,
ceramic, miçangas and
cowrie shells
37,8 × 10,5 × 10,8 cm
Reprodução pintada
à mão da aquarela
Panchito con una
naranja (Panchito
com uma laranja,
1945) de Diego
Rivera Handmade
reproduction of Diego
Rivera’s watercolour
Panchito con una
Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado Autor não identificado
naranja (Panchito
Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author Unidentified author
with an Orange, 1945)
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled
sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated sem data undated
metal metal madeira wood madeira wood lápis de cera sobre aguada e impressão
27,5 × 10 × 8 cm 54,4 × 10 × 7,8 cm 56,5 × 7,5 × 11,3 cm papel crayon on paper sobre papel
48 × 18 cm wash on printed paper
39 × 28 cm

202

Autor não identificado Autor não identificado Babatunde Folayemi Bakari Bakari Ben Enwonwu
Unidentified author Unidentified author Nova York, NY, Estados Rio de Janeiro, RJ, Rio de Janeiro, RJ, Onitsha, Nigéria, 1917 –
Sem título Untitled [Ferro de orixá] Unidos, 1940 – Brasil, 1951 Brasil, 1951 Lagos, Nigéria, 1994
sem data undated [Orixá Iron] Santa Barbara, CA, Mask Totem 1 Mask Totem 2 Negritude – Theme
grafite sobre papel sem data undated Estados Unidos, 2012 Máscara totem 1 Máscara totem 2 “Black is Beauty” – Africa
graphite on paper ferro e fita de tecido do Oracle of Ifa 1990 1991 Dances Negritude –
37,5 × 27 cm Senhor do Bonfim Oráculo de Ifá esmalte sobre metal em esmalte sobre metal em tema “Negro é beleza” –
iron and Senhor do 1969 relevo enamel on relevo enamel on A África dança
Bonfim fabric ribbon óleo sobre tela embossed metal embossed metal 1971
31,5 × 23,7 × 13 cm oil on canvas 20 × 51 cm 19 × 9 cm impressão sobre papel
65 × 54,5 cm print on paper
77 × 54 cm

Bess Carlos Scliar Chico Tabibuia Damião Marcelo de Darcílio Lima Emanoel Araújo
[s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] Santa Maria, RS, Brasil, Casimiro de Abreu, Souza Freitas Cascavel, CE, Brasil, Santo Amaro da
Lavadeiras 1920 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1936–2007 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1944 – Cabo Frio, RJ, Purificação, BA, Brasil,
Washerwomen RJ, Brasil, 2001 Exu Sapo Exu Frog 1959 Brasil, 1991 1940
1965 Retrato de Delson III 1992 Paizagem da imaginação, [Cristo Exu Serpente] Mulher com frutas na
água-tinta sobre papel Portrait of Delson III madeira de vinhático a natureza quando si [Exu Christ Serpent] cabeça Woman with
aquatint on paper 1964 persea indica wood clarea Landscape of 1968 Fruits on Her Head
42,5 × 32,5 cm óleo sobre madeira 106,5 × 20 × 20 cm the Imagination, Nature nanquim sobre papel 1966
oil on wood When It Lightens Up indian ink on paper xilogravura woodcut
37 × 28 cm 1987 58 × 40 cm 96 × 66 cm
acrílica sobre tela
acrylic on canvas
12 × 24 cm
Obra doada pela
família de Heitor dos
Prazeres ao Museu
de Arte Negra
Gift from Heitor dos
Prazeres’ family to
Museu de Arte Negra

Emanoel Araújo Filipe Salvador Gerson de Souza Heitor dos Prazeres Heitor dos Prazeres
Santo Amaro da Negage, Angola, 1960 – Recife, PE, Brasil, 1926 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
Purificação, BA, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1898–1966 1898–1966
1940 2006 2008 Sem título Untitled Sem título Untitled
Sem título Untitled Sem título Untitled Altar portátil 1965 1965
1967 1996 Portable Altar óleo sobre tela óleo sobre tela
xilogravura woodcut acrílica sobre aglomerado sem data undated oil on canvas oil on canvas
97 × 69 cm acrylic on masonite xilogravura sobre tecido 49,5 × 60 cm 53,3 × 61 cm
62 × 104 cm woodcut on fabric
33 × 24,5 cm

203

Henrique Nascimento Henrique Nascimento Inimá de Paula Israel Pedrosa J. Cunha Jocelyn
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Itanhomi, MG, Brasil, Alto Jequitibá, MG, Brasil, Salvador, BA, Brasil, 1974 [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.]
1952 1952 1918 – Belo Horizonte, 1926 – Niterói, RJ, Pérolas negras do saber Sem título Untitled
Tapping Civilization Noite estrelada e fim MG, Brasil, 1999 Brasil, 2016 Black Pearls of 1993
Aproveitando a de frevo na praia [Retrato de Abdias [Retrato de Solano Knowledge acrílica sobre tela
civilização Starry Night and End of Nascimento Filho] Trindade] [Portrait 1997 acrylic on canvas
1972 Frevo on the Beach [Portrait of Abdias of Solano Trindade] serigrafia sobre tecido 44,6 × 55,5 cm
serigrafia silkscreen 1986 Nascimento Filho] 1967 silkscreen on fabric
28 × 25 cm serigrafia silkscreen 1967 óleo sobre tela 110,5 × 125,3 cm
58 × 40 cm óleo sobre tela oil on canvas
oil on canvas 55 × 38 cm
73 × 54 cm

José Barbosa José de Dome José Heitor da Silva José Heitor da Silva José Heitor da Silva José Heitor da Silva
Olinda, PE, Brasil, 1948 Estância, SE, Brasil, 1921 – Além Paraíba, MG, Brasil, Além Paraíba, MG, Brasil, Além Paraíba, MG, Brasil, Além Paraíba, MG, Brasil,
Viva Olinda Cabo Frio, RJ, Brasil, 1937 1937 1937 1937
Long Live Olinda 1982 Cabeça de Ídolo Drama dos mendigos Raízes Roots Proteção Protection
1966 Casa vermelha Idol Head negros Drama of the 1983 1967/1968
óleo sobre aglomerado Red House 1967 Black Beggars madeira de carnaúba madeira caviúna
oil on masonite 1964 madeira caviúna 1967 preta black carnauba caviuna wood
38 × 35 cm óleo sobre tela caviuna wood madeira de vinhático wood 110 × 35 × 30 cm
oil on canvas 32 × 19,5 × 18 cm persea indica wood 119,5 × 44,7 × 44 cm
55 × 33,8 cm 119 x 60 x 45 cm
... para aqueles que
rejeitaram uma cruz de
saliva na testa...
1973
óleo sobre tela
oil on canvas
156 × 95 cm

Obra presenteada em
1973 pelo artista a
Abdias Nascimento
José Heitor da Silva Júlio Vieira LeRoi Callwell Johnson LeRoi Callwell Johnson LeRoy Clarke
como resposta à sua
Além Paraíba, MG, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Buffalo, NY, Estados Buffalo, NY, Estados Belmont, Trinidad e
exposição Brazilian
1937 1933–1999 Unidos, 1949 Unidos, 1949 Tobago, 1938 – Porto de
Theogony
Trifacética Sem título Untitled The Crucifixion Sem título Untitled Espanha, Trinidad e
Work gifted in 1973 by
Three-phased 1968 A crucificação 2004 Tobago, 2021
the artist to Abdias
1966 óleo sobre tela 1996 acrílica sobre madeira ... for those who rejected
Nascimento in response
madeira de vinhático oil on canvas acrílica sobre tela acrylic on wood a cross of saliva on their
to the latter’s exhibition
persea indica wood 73 × 50 cm acrylic on canvas 24,2 × 19,2 cm foreheads...
Brazilian Theogony
36,5 × 21 × 14 cm 137 × 116 cm

204

Lucette Laribe Melvin Edwards Mônica Guimarães Myrian Moreira Octávio Araújo Quirino Campofiorito
França, 1913–2014 Houston, TX, Estados [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] Terra Roxa, SP, Brasil, Belém, PA, Brasil, 1902 –
Sem título Untitled Unidos, 1937 Sem título Untitled [Retrato de Cruz e 1926 – São Paulo, SP, Niterói, RJ, Brasil, 1993
1955 Sem título Untitled 1970 Sousa] [Portrait of Cruz Brasil, 2015 Ecce Homo
óleo sobre tecido sem data undated nanquim e guache sobre e Sousa] [Retrato de Léa 1955
oil on fabric bronze bronze papel indian ink and 1998 Garcia-Aioka] óleo sobre tela
99 × 80 cm 47 × 7,8 × 6 cm gouache on paper giz e pastel sobre papel [Portrait of Léa oil on canvas
66 × 51 cm chalk and pastel on Garcia-Aioka] 55 × 46 cm
paper 1956
51 × 39 cm óleo sobre tela
oil on canvas
64,5 × 49,7 cm

Robert O. Robert O. Rolando Ronaldo Rêgo Sebastião Januário Sebastião Januário


[s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Dores de Guanhães, MG, Dores de Guanhães, MG,
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled 1935 Brasil, 1939 Brasil, 1939
1967 1968 1967 [Elegbá] Sem título Untitled Lembranças interioranas
nanquim sobre papel guache sobre papel guache sobre papel 2007 1966 Inland Memories
indian ink on paper gouache on paper gouache on paper bronze bronze guache sobre papel 1967
42 × 29,5 cm 42 × 29,5 cm 73,25 × 49,75 cm 24,5 × 8 × 8 cm gouache on paper guache e selador sobre
28 × 20 cm cartão gouache and
sealer on cardboard
56,6 × 30,6 cm
Sebastião Januário Sebastião Januário Sebastião Januário Sebastião Januário Sebastião Januário Sheila
Dores de Guanhães, MG, Dores de Guanhães, MG, Dores de Guanhães, MG, Dores de Guanhães, MG, Dores de Guanhães, MG, [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.]
Brasil, 1939 Brasil, 1939 Brasil, 1939 Brasil, 1939 Brasil, 1939 Menina Girl
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled sem data undated
1968 2004 2004 sem data undated sem data undated óleo sobre tela
guache e selador sobre acrílica sobre tela acrílica sobre tela nanquim e aguada com aguada sobre papel oil on canvas
cartão acrylic on canvas acrylic on canvas café sobre papel encerado 41,2 × 33,1 cm
gouache and sealer on 69,7 × 80 cm 60 × 80,3 cm Indian ink and wash wash on waxed paper
cardboard with coffee on paper 48 × 33 cm
46 × 32,5 cm 50 × 32 cm

205

Sneed Sneed Sneed Tony Northern Torodê Zé Tarcísio


[s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], [s.d.] – [s.l.], [s.d.] [s.l.], 1942 – Fortaleza, CE, Brasil,
Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Sem título Untitled Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1941
1965 1965 sem data undated 1969 2021 Amai-vos uns aos outros
litografia lithography litografia lithography litografia lithography hidrocor sobre papel Sem título Untitled Love One Another
30,5 × 23 cm 30,5 × 23 cm 30,5 × 23 cm marker on paper 1991 1968
44 × 38 cm madeira, bronze, óleo sobre tela
cerâmica e búzios oil on canvas
wood, bronze, ceramic 125 × 159,8 cm
and cowrie shells
56,3 × 17,7 × 7 cm
MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO

Alberto da Veiga Alberto da Veiga Alberto Magnelli Alexander Calder Alfredo Ceschiatti Alfredo Volpi
Guignard Guignard Florença, Itália, 1888 – Filadélfia, PA, Estados Belo Horizonte, MG, Lucca, Itália, 1896 –
Nova Friburgo, RJ, Brasil, Nova Friburgo, RJ, Brasil, Meudon, França, 1971 Unidos, 1898 – Nova York, Brasil, 1918 – Rio de São Paulo, SP, Brasil,
1896 – Belo Horizonte, 1896 – Belo Horizonte, Nuance répétée NY, Estados Unidos, 1976 Janeiro, RJ, Brasil, 1989 1988
MG, Brasil, 1962 MG, Brasil, 1962 Nuance repetida Sem título Untitled Peixe Fish Sem título Untitled
Retrato de senhora [Itatiaia] Repeated Nuance 1959 1953 sem data undated
Portrait of a Lady 1941 1945 colagem collage bronze bronze têmpera sobre tela
1952 óleo sobre madeira óleo sobre tela 21 × 39 cm 43 × 96 × 20 cm tempera on canvas
óleo sobre madeira oil on wood oil on canvas 110,5 × 75,2 cm
oil on wood 30,7 × 39 cm 100,5 × 81 cm Doação do artista Doação Sra. e Sr. Milton
50 × 39,7 cm Gift of the artist Goldring Gift of Mrs. Doação SulAmérica
Doação Múcio Leão and Mr. Milton Goldring Seguros Gift of
Restaurada com apoio Gift of Múcio Leão SulAmérica Seguros
da Fundação Vitae, 2001
Restored with the
support of Fundação
Vitae, 2001
206

Aloísio Magalhães Alvaro Monnini Amalia Nieto André Lhote Anita Malfatti Anna Bella Geiger
Recife, PE, Brasil, 1927 – Florença, Itália, 1922 – Montevidéu, Uruguai, Bordeaux, França, 1885 – São Paulo, SP, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
Pádua, Itália, 1982 Milão, Itália, 1988 1910 – Montevidéu, Paris, França, 1962 1889 – São Paulo, SP, 1933
Grande composição Sem título Untitled Uruguai, 2003 Paysage du Midi Brasil, 1964 Sem título Untitled
verde Big Green 1958 Máscara-azul-verde Paisagem do sul da O barco The Boat 1965
Composition óleo sobre aglomerado Mask-Blue-Green França Landscape in 1915 gravura em metal
1958 oil on masonite 1963 the South of France óleo sobre tela etching
óleo sobre tela 120,1 × 79,6 cm óleo sobre tela 1950 oil on canvas 60,3 × 36,7 cm
oil on canvas oil on canvas aquarela e grafite sobre 41 × 46 cm
130,5 × 165,5 cm Doação do artista 100 × 116,2 cm papel-cartão Doação da artista
Gift of the artist watercolour and pencil Patrocínio White Martins Gift of the artist
Doação do artista Doação da artista on cardboard Sponsor White Martins
Gift of the artist Gift of the artist 37 × 56,3 cm

Doação Ruth H. M.
C. Leão
Gift of Ruth H. M. C.
Leão
Antônio Maia Ben Nicholson Carlo Carrà Carlos Scliar Carlos Scliar Carybé
Carmópolis, SE, Brasil, Denham, Quargnento, Alexandria, Santa Maria, RS, Brasil, Santa Maria, RS, Brasil, Lanús, Argentina, 1911 –
1928 – Rio de Janeiro, Buckinghamshire, Itália, 1881 – Milão, Itália, 1920 – Rio de Janeiro, 1920 – Rio de Janeiro, Salvador, BA, Brasil, 1997
RJ, Brasil, 2008 Reino Unido, 1894 – 1966 RJ, Brasil, 2001 RJ, Brasil, 2001 Cangaceiros
Ramblas Bulevares Londres, Reino Unido, Sem título Untitled Mulher Woman Retrato de Regina sem data undated
Boulevards 1982 1915 1947 Portrait of Regina nanquim e guache sobre
1972 Still Life óleo sobre cartão óleo e colagem sobre 1964 papel indian ink and
acrílica sobre tela Natureza morta oil on cardboard cartão oil and collage guache encerado sobre gouache on paper
acrylic on canvas 1950 44,3 × 24,3 cm on cardboard madeira waxed 61,1 × 48 cm
50 × 98,5 cm óleo e grafite sobre tela 54,8 × 45,6 cm gouache on wood
oil and pencil on canvas 55,3 × 36,3 cm
Doação Shell Brasil S.A. 55,8 × 68,5 cm Doação Michel Loeb
Gift of Shell Brasil S.A. Gift of Michel Loeb Doação do artista
Restaurada com apoio Gift of the artist
do Banco Opportunity,
2001 Restored with the
support of Banco
207 Opportunity, 2001

Cícero Dias Cildo Meireles Delia del Carril Dionísio del Santo Elisa Martins da Silveira Emanoel Araújo
Escada, PE, Brasil, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Polvaredas, Argentina, Colatina, ES, Brasil, 1925 – Teresina, PI, Brasil, 1912 – Santo Amaro da
Paris, França, 2003 1948 1885 – Santiago, Chile, Vitória, ES, Brasil, 1999 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Purificação, BA, Brasil,
Composição nº 11 Espaços virtuais: 1989 Sem título Untitled 2001 1940
Composition n. 11 cantos 4 Virtual El caballero sin 1970 Carnaval Carnival Sem título Untitled
1951 Spaces: Corners 4 inconveniente serigrafia silkscreen 1952 sem data undated
óleo sobre tela 1967/1968 O cavaleiro sem 54 × 38 cm óleo sobre tela madeira pintada
oil on canvas madeira, laca sobre inconveniência oil on canvas painted wood
129,5 × 162,3 cm madeira e acrílica The Knight without 39 × 56,7 cm 205,5 × 96,5 × 18 cm
sobre tela wood, Impropriety
Doação do artista lacquer on wood and 1958 Doação da artista Patrocínio Funarte
Gift of the artist acrylic on canvas gravura em metal Gift of the artist Sponsor Funarte
301,5 × 185 × 135 cm etching
33,5 × 41,3 cm
Patrocínio Fundação
Nacional de Arte Doação da artista
Restaurada com apoio Gift of the artist
da Tate Gallery em 2008
Sponsor Fundação
Nacional de Arte
Restored in 2008 with
the support of the Tate
Gallery
Emil Nolde Farnese de Andrade Firmino Saldanha Frans Krajcberg Friedrich Heitor dos Prazeres
Nolde, Dinamarca, 1867 – Araguari, MG, Brasil, Santana do Livramento, Kozienice, Polônia, 1921 – Vordemberge-Gildewart Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
Seebüll, Alemanha, 1956 1926 – Rio de Janeiro, RS, Brasil, 1905 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Osnabruque, 1898–1966
[Retrato de senhora] RJ, Brasil, 1996 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2017 Alemanha, 1899 – Sem título Untitled
[Portrait of a Lady] Sem título Untitled 1985 Sem título Untitled Ulm, Alemanha, 1962 1951
c. 1922 1965 Sem título Untitled 1963 Komposition n. 168 guache sobre papel
aquarela sobre papel gravura em metal 1955 papel em relevo colado Composição nº 168 gouache on paper
watercolour on paper etching óleo sobre tela sobre tela e pigmentos Composition n. 168 30 × 28,3 cm
47 × 35 cm 30,5 × 49 cm oil on canvas naturais 1948
64,5 × 80,5 cm paper glued on canvas óleo sobre tela Doação do artista
Doação Fritz Oellers, Doação do artista and natural pigments oil on canvas Gift of the artist
embaixador da República Gift of the artist Doação Marc Berkowitz 89 × 51 cm 77 × 155,5 cm
Federal da Alemanha Gift of Marc Berkowitz
Restaurada com apoio Doação do artista
do Projeto Vitae Gift of the artist
Gift of Fritz Oellers,
ambassador for the FRG
Restored with the 208
support of Projeto Vitae

Henry Moore Inimá de Paula Irene Hamar Isa Aderne Ivan Morais Ivan Serpa
Castleford, Reino Unido, Itanhomi, MG, Brasil, São Paulo, SP, Brasil, Cajazeiras, PB, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
1898 – Perry Green, 1918 – Belo Horizonte, 1919 – Nova York, NY, 1923 – Rio de Janeiro, 1936 1923–1973
Reino Unido, 1986 MG, Brasil, 1999 Estados Unidos, 1973 RJ, Brasil, 2019 Baianas Forma em evolução
Warrior’s Head Abstração Abstraction Sem título Untitled Sem título Untitled 1960 Form in Evolution
Cabeça de guerreiro 1958 sem data undated 1967 óleo sobre tela 1952
1953 óleo sobre tela bronze e fórmica xilogravura woodcut oil on canvas tinta alquídica sobre
bronze bronze oil on canvas bronze and formica 51 × 76 cm 100 × 90,5 cm aglomerado alkyd paint
29 × 21 × 23,5 cm 73 × 60,3 cm 20 × 8 × 8 cm on masonite
Doação da artista Doação do artista 87,5 × 72,5 cm
Reproduced by Doação do artista Doação da artista Gift of the artist Gift of the artist
permission of The Henry Gift of the artist Gift of the artist Doação do artista
Moore Foundation Restaurada com apoio
concedido via Edital
Pró-Artes Visuais, 2012
Gift of the artist
Restored with the
support of Pró-Artes
Visuais, 2012
Ivan Serpa Jean Pougny José Fábio Barbosa Josef Albers Julio Gero Lucio Fontana
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Kuokkala, São da Silva Bottrop, Alemanha, 1888 – Arad (atualmente Rosário, Argentina, 1899 –
1923–1973 Petersburgo, Rússia, Olinda, PE, Brasil, 1948 New Haven, CT, Estados localizada na Romênia), Varese, Itália, 1968
Formas nº 16 1892 – Paris, Protetor dos motoristas Unidos, 1976 Hungria, 1910 – [s.l.], Concetto spaziale
Forms n. 16 França, 1956 no Recife Protector of Formulation: Articulation 1977 Conceito espacial
1952 Interieur Interior Recife’s Drivers Formulação: articulação Inti Spatial Concept
óleo sobre tela 1950 1969 1972 1962 1958
oil on canvas óleo sobre tela madeira wood serigrafia silkscreen ferro iron óleo sobre tela
73,4 × 60,1 cm oil on canvas 61 × 43 × 3,6 cm 38 × 101 cm 86 × 71,5 × 35,5 cm oil on canvas
22,3 × 31 cm 44,4 × 37,7 cm
Doação do artista Doação Ministério dos Doação F.J. Griffin Doação do artista
Gift of the artist Transportes Gift of F.J. Griffin Gift of the artist Doação Alfredo Bonino
Gift of Ministério dos Gift of Alfredo Bonino
Transportes

209

Luiza Miller Lula Cardoso Ayres Lygia Clark Manabu Mabe Margaret Spence Margret Sander
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Recife, PE, Brasil, 1910 – Belo Horizonte, MG, Kumamoto, Japão, 1924 – Santa Bárbara, CA, Colônia, Alemanhã, 1938
1917 – França, 2003 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Brasil, 1920 – Rio de São Paulo, SP, Brasil, Estados Unidos, 1914 – Bild 24
Hipérbole 1987 Janeiro, RJ, Brasil, 1988 1997 [s.l.], [s.d.] Imagem 24 Image 24
Hyperbole Xangô Composição Estranho Strange Sem título Untitled 1965
c. 1950 1951 Composition 1960 1945 gravura em metal
bronze bronze óleo sobre madeira 1952 óleo sobre tela cerâmica vitrificada etching
44 × 83 × 16 cm oil on wood óleo sobre tela oil on canvas glazed ceramic 39,7 × 53 cm
68,5 × 99,5 cm oil on canvas 150 × 184,5 cm 29,5 × 9,5 × 10,5 cm
Doação da artista 73 × 99,5 cm Doação Rolf Meyerheim
Restaurada com apoio do Doação do artista Doação da artista Gift of Rolf Meyerheim
Instituto Tomie Ohtake Doação da artista Restaurada com apoio Gift of the artist
Gift of the artist Restaurada com apoio concedido via Edital
Restored with the concedido via Edital Pró-Artes Visuais, 2012
support of Instituto Pró-Artes Visuais, 2012 Gift of the artist
Tomie Ohtake Gift of the artist Restored with the
Restored with the support of Pró-Artes
support of Pró-Artes Visuais, 2012
Visuais, 2012
Maria Bonomi Maria Leontina María Luisa de Pacheco Marina Caram Oswaldo Goeldi Oton Gliha
Meina, Itália, 1935 São Paulo, SP, Brasil, La Paz, Bolívia, 1919 – Sorocaba, SP, Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Crnomelj, Eslovênia, 1914 –
Pensamento claro 1917 – Rio de Janeiro, RJ, Nova York, NY, Estados 1925 – São Paulo, SP, 1895–1961 Zagreb, Croácia, 1999
Crystal Thought Brasil, 1984 Unidos, 1982 Brasil, 2008 Vento macabro Gromace III
1958 Sem título Untitled Siembra Semeadura Le Juge Macabre Wind 1958
xilogravura woodcut 1955 Sowing O juiz sem data undated óleo sobre tela
69,5 × 23,7 cm série Os enigmas 1952 The Judge nanquim sobre papel oil on canvas
The Riddles series óleo sobre tela 1952 indian ink on paper 76 × 150,5 cm
Doação da artista óleo sobre tela oil on canvas litografia lithograph 23 × 30,8 cm
Gift of the artist oil on canvas 53,5 × 37,3 cm 33 × 24,8 cm Doação Albert Bildner
73 × 100,5 cm Restaurada com apoio
Doação Erni Meira concedido via Edital
Restaurada com apoio Bethlem Pró-Artes Visuais, 2012
do Banco Opportunity, Restaurada com apoio Gift of Albert Bildner
2002 concedido via Edital Restored with the
Restored with the Pró-Artes Visuais, 2012 support of Pró-Artes
support of Banco Gift of Erni Meira Visuais, 2012
Opportunity, 2002 Bethlem 210
Restored with the
support of Pró-Artes
Visuais, 2012

Pierre Soulages Polly McDonell Poty Lazzarotto Préfète Duffaut Robert Motherwell Roberto Magalhães
Rodez, Aveyron, França, Oakes, Dickey County, Curitiba, PR, Brasil, Jacmel, Haiti, 1923 – Aberdeen, WA, Rio de Janeiro, RJ, Brasil,
1919 ND, Estados Unidos, 1911 – 1924–1998 Port-au-Prince, Haiti, Estados Unidos, 1915 – 1940
Sem título Untitled [s.l.], [s.d.] Matadouro 2012 Provincetown, MA, O passeio de satanás
1958 A chaleira The Teapot Slaughterhouse Jacmel Estados Unidos, 1991 The Devil’s Ride
óleo sobre tela 1951 sem data undated 1953 Composition 1965
oil on canvas óleo sobre tela gravura em metal óleo sobre madeira Composição xilogravura woodcut
129,8 × 89,4 cm oil on canvas etching oil on wood c. 1950 50,7 × 44,9 cm
60,5 × 38,5 cm 41 × 30 cm 50,5 × 61,5 cm óleo sobre aglomerado
oil on masonite Doação do artista
Doação Raymundo 60,6 × 75,6 cm Restaurada com apoio
Castro Maia do Banco Opportunity,
Restaurada com apoio Doação Nelson 2001
do Banco Opportunity, Rockefeller Gift of the artist
2000 Gift of Nelson Restored with the
Gift of Raymundo Rockefeller support of Banco
Castro Maia Opportunity, 2001
Restored with the
support of Banco
Opportunity, 2000
Rubem Valentim Serge Poliakoff Silvia de Leon Chalreo Tancredi Ubi Bava Victor Brecheret
Salvador, BA, Brasil, 1922 – Moscou, Rússia, 1900 – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Feltre, Itália, 1927 – Santos, SP, Brasil, 1915 – Farnese, Itália, 1894 –
São Paulo, SP, Brasil, Paris, França, 1969 1905 – Rio de Janeiro, Roma, Itália, 1964 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, São Paulo, SP, Brasil,
1991 Composition RJ, Brasil, 1991 Sem título Untitled 1988 1955
Sem título Untitled Composição Roda Circle 1954 Sem título Untitled Maternidade Maternity
sem data undated 1955 1950 grafite, pastel oleoso 1960 1948-1955
serigrafia silkscreen óleo sobre tela óleo sobre tela e lápis de cera sobre óleo sobre tela bronze e mármore
15,5 × 11 cm oil on canvas oil on canvas cartão pencil, pastel oil on canvas bronze and marble
92 x 73 cm 53 × 55,1 cm and wax crayon on 107,7 × 107,7 cm 28,8 × 10,5 × 6,8 cm
cardboard
Doação Miguel Paranhos 69,5 × 99,2 cm Restaurada com apoio Doação Sandra
do Rio Branco do Banco Opportunity, Brecheret Pellegrini
Restaurada com apoio 2002 Gift of Sandra Brecheret
concedido via Edital Restored with the Pellegrini
Pró-Artes Visuais, 2012 support of Banco
Gift of Miguel Paranhos Opportunity, 2002
do Rio Branco
211 Restored with the
support of Pró-Artes
Visuais, 2012

Vieira da Silva Vincent J. Ibberson Wega Nery William Baziotes Yara Tupynambá
Lisboa, Portugal, 1908 – Bolton-on-Dearne, Corumbá, MT, Brasil, 1912 – Pittsburgh, PA, Estados Montes Claros, MG,
Paris, França, 1992 Yorkshire, Reino Unido, Guarujá, SP, Brasil, 2007 Unidos, 1912 – Nova York, Brasil, 1932
Les Terrasses 1920 Praça e naus NY, Estados Unidos, 1963 Sem título Untitled
Os terraços Composição Town Square and Forma da selva 1968
The Terraces Composition Full-Rigged Ship Jungle Form álbum Minas, a Terra, o
1952 1958 1965 1952 Homem, contendo 12
óleo sobre tela óleo sobre tela óleo sobre tela óleo sobre tela xilogravuras de artistas
oil on canvas oil on canvas oil on canvas oil on canvas diversos
63 × 98,5 cm 46,1 × 37,9 cm 130,2 × 120 cm 46 × 36 cm from the album Minas,
the Land, the Man,
Doação do artista Doação da artista including 12 woodcuts
Restaurada com apoio Restaurada com apoio by several artists
do Banco Opportunity, concedido via Edital xilogravura woodcut
2002 Pró-Artes Visuais, 2012 34,5 × 26 cm
Gift of the artist Gift of the artist
Restored with the Restored with the
support of Banco support of Pró-Artes
Opportunity, 2002 Visuais, 2012
GOVERNANÇA / Governance Armínio Fraga Luiz Guilherme Schymura EQUIPE / TEAM
Camila Goldberg de Oliveira
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO / Claudia Moreira Salles Diretoria executiva /
Administrative Board Claudio Hermolin Benfeitores / Benefactors Executive Director
Eduardo Loyo Gilberto Chateaubriand Paulo Albert Weyland Vieira
Carlos Alberto Gouvêa Elena Landau Joaquim Paiva Diretoria de planejamento,
Chateaubriand Eliane Aleixo Lustosa de Andrade Luiz Carlos Barreto administração e finanças /
Presidente / President Erik da Costa Breyer Planning, Administration and
Fernando Marques Oliveira Financial Director
Armando Strozenberg Fred Gelli PATRONOS / PATRONS Pedro José Rodrigues
Eliane Aleixo Lustosa de Andrade Gilberto Chateaubriand Diretoria artística /
Eugênio Pacelli de Oliveira Pires Haakon Lorentzen Patronos ouro / Gold Patrons Artistic Directors
dos Santos João Marcello Dantas Leite Alec Oxenford Keyna Eleison e Pablo Lafuente
João Maurício de Araújo Pinho Filho Joaquim Paiva Cris e Marcelo Trindade
Livia de Sá Baião José Francisco Gouvêa Vieira Patricia Moraes e Pedro Barboza CURADORIA / Exhibitions
Luiz Roberto Sampaio Katia Mindlin Leite Barbosa Roberta e Daniel Bassan Curadora adjunta /
Nelson Eizirik Livia de Sá Baião Adjunct Curator
Paulo Albert Weyland Vieira Luciana Levacov Patronos prata / Silver Patrons Beatriz Lemos
Luis Felipe Magon Andrea e José Olympio da Assistente de curadoria /
Conselho fiscal / Fiscal Council Luis Paulo Montenegro Veiga Pereira Curatorial Assistant
Cesar do Monte Pires Luiz Carlos Barreto Camila Magnus e Roberto Miranda Natasha Felix
Edson Cordeiro da Silva Marcelo Mesquita de Lima
Ricardo Lopes Cardoso Marcos Falcão Jacqueline e Bruno Szwarc MUSEOLOGIA / Museology
Marta Martins Fadel Lobão Luis Paulo Montenegro Gerente / Manager
Max Perlingeiro Mariana e Rogério Pessoa Cátia Louredo
CONSELHO CONSULTIVO / Michel Wurman Paula Marinho e Coordenadora de museologia /
Advisory Board Miguel Pinto Guimarães Miguel Pinto Guimarães Museology Coordinator
Nara Roesler Renata e João Marcello Camila Pinho
Associados seniores / Oskar Metsavaht Dantas Leite Coordenadora de conservação/
Senior Associates Pablo Sorj Roberta Rolim Machado e Conservation Coordinator
Armando Strozenberg Paula Marinho Sérgio Machado Manuela Pereira
Carlos Alberto Gouvêa Rhanine Rodrigues Pessoa Museóloga / Museologist
Chateaubriand Ricardo Steinbruch Patronos / Patrons Ana Beatriz Cascardo
Eugênio Pacelli de Oliveira Pires Rogerio Pessoa Alessandra Ragazzo D’Aloia, Montadores / Installation
dos Santos Sérgio Gusmão Suchodolski Marcia Cristina Correa Fortes e José Marcelo Peçanha
Gustavo Martins de Almeida Tanit Galdeano Alexandre Monteiro Gabriel Noan Moreira
Heitor Reis Amanda Klabin e Eduardo Tckaz
Helio Portocarrero Comitê de investimentos / André Soares de Sá CINEMATECA / Cinemateca
Henrique Luz Investments Committee Anna Victoria Lemann Gerente / Manager
João Maurício de Araújo Pinho Edmar Bacha Camila Yunes e Conrado Mesquita Hernani Heffner
João Maurício de Araújo Helio Portocarrero Claudia Moreira Salles Coordenador de cinema /
Pinho Filho Luiz Chrysostomo de Eduardo Wanderley Film Coordinator
Luís Antônio de Almeida Braga Oliveira Filho Elizabeth Moraes e Marcus V. José Quental
Luiz Guilherme Schymura Luiz Roberto Sampaio Pratini de Moraes Coordenador de documentação
de Oliveira Pedro Luiz Bodin de Moraes Gilson Finkelsztain de cinema /
Luiz Roberto Sampaio Karla e Eduardo Loyo Film Documentation Coordinator
Nelson Eizirik Comissão de acervo / Leonardo Orsini de Castro Amarante Fábio Vellozo
Paulo Albert Weyland Vieira Collection Committee Ludwig e Luiz Danielian Pesquisador de cinema /
Ronaldo Cezar Coelho Carlos Alberto Gouvêa Luiz Carlos S. Ritter Film Researcher
Chateaubriand Marcelo Mesquita Carlos Eduardo Pereira
Associados plenos / Full Associates Eugênio Pacelli de Oliveira Pires Maria Estellita Lins e Augusto Lins Assessor audiovisual /
Alessandro Horta dos Santos Martha e Sergio Scodro Audiovisual Advisor
André Soares de Sá Luís Antônio de Almeida Braga Sérgio Ribeiro da Costa Werlang Tiago Ferreira
Operadores cinematográficos / COMUNICAÇÃO E DESIGN / Analista administrativo financeira / Mecânicos de refrigeração /
Film Operators Communication and Design Financial Administrative Analyst Refrigeration Mechanic
Edson Gomes Gerente / Manager Juliana Orsolon Reginaldo Pessanha dos Santos
Sidney de Mattos Erika Palomino Auxiliar administrativo / Roberto Monteiro Leocadio
Coordenadora de design / Administrative Assistant Operador de ar-condicionado /
EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO / Design Coordinator Eduarda Seixas Air Conditioning Operator
Education and Engagement Amanda Lianza Assistentes de bilheteria / Marcelo Antonio de Almeida
Gerente / Manager Coordenadora de mídia digitais / Ticket Office Assistants Auxiliares de manutenção /
Renata Sampaio Digital Media Coordinator Brena Araújo Maintenance Assistants
Coordenador de mediação / Domi Valansi Regina Barbosa Antonio Marcos Araújo
Mediation Coordinator Editor de conteúdo digital / Auxiliar de bilheteria / Elvis de Oliveira Rodrigues
Lais Daflon Digital Content Editor Ticket Office Assistant (Auxiliary) Josias da Conceição Madeira
Educadores / Educators Danilo Satou Evelin Damascena
Antônio Amador Designer / Designer Recepcionista / Receptionist PRESTADORAS DE SERVIÇOS /
Daniel Bruno Mariana Boghossian Fabiana Lima Service Providers
Phelipe Rezende Designer assistente / Air Service Ar-condicionado Eireli
Shion Lucas Assistant Designer Supervisora do salão de exposição / Best Force Geradores Eireli EPP
Assistente administrativo / Flávio Vivório Gallery Supervisor Brasil Forte Vigilância e
Administrative Assistant Audiovisual / Audiovisual Ana Paula Pinheiro Segurança Ltda.
Ualace Miliorini Matheus Freitas Auxiliares do salão de exposição / Elevadores Salta
Fotógrafo / Photographer Gallery Assistants Fraga, Bekierman e
PESQUISA E documentAÇÃO / Fabio Souza Joice Jessica Fernandes Cristiano Advogados
Research and Documentation Assessora de imprensa / Press Agent Jucelia de Karla Souto Lacus Tratamento de Água e
Gerente / Manager Mônica Villela Assessoria Serviços Químicos Eireli
Leno Veras Orientadores de público / Leal, Cotrim, Jansen Advogados
Coordenadora de publicações / RELAÇÕES INSTITUCIONAIS / Gallery Team Limppo MultiServiços
Publications Coordinator Institutional Relations Ana Beatriz Carvalho Olivieri & Associados –
Márion Strecker Coordenadora / Coordinator Ana Carolina Brandizzi Consultoria Jurídica
Coordenador de informação / Paula Correia Anderson Albuquerque Palma e Guedes Advogados
Information Coordinator Analistas / Analysts Dária Bento Siciliano Construções e
Tadeus Mucelli Caroline Bellomo Diego Emanuel Fonseca Reformas Eireli
Pesquisadoras / Researchers Michèle Fajardo Eduardo Inácio Paiva Red Safety Segurança
Aline Siqueira Estagiário / Intern Jefferson Borelli Contra Incêndio Ltda.
Moema Bacelar Hariel Martins Leticia Tereza
Arquivista / Archivist Lucas Siqueira
Cláudio Barbosa ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS / Luma Anunciação
Museólogo / Museologist Administration and FINANCES Patrick Magalhães
Maurício Sales Superintendência financeira / Raquel Accacio
Bibliotecário / Librarian Operations Officer Silvia Amancio
Reinaldo Alves Carlos Mineiro Thamires Santos
Auxiliar de biblioteca / Coordenador administrativo Vinicius Lima
Library Assistant financeiro / Financial
Flávio Augusto Administrative Coordinator Gerente de operações e TI /
Jovem aprendiz / Vinícius Fazio Operations and IT Manager
Young Apprentice Coordenadora de projetos/ Cassio Pereira
Brenda Cabral Projects Coordinator Analista de Operações e TI /
Jusele Sá Operations and IT Analyst
PRODUÇÃO / Production Assessora de diretoria / Marayza Almeida
Produtoras / Producers Director’s Secretary Eletricistas /
Ana Terra Diana Quadra Electricians
Julliana Santos Analista de recursos humanos / Edmilson Fernandes Carvalho
Human Resources Analyst João Elias de Almeida
Giselle Lima
A MEMÓRIA É UMA INVENÇÃO MEMORY IS AN INVENTION
MAM Rio 4.9.2021–6.2.2022

Exposição Exhibition Publicação Editorial team

Curadoria / Curated by Equipes externas / Molduras / Frames Organizadores / Editors


Beatriz Lemos External Teams Metara Leno Veras
Keyna Eleison Moldurax Pablo Lafuente
Pablo Lafuente Museologia / Museology
Alana Silva Alves (Salvador) Montagem externa / Coordenação editorial /
Assistência de curadoria / Railda Lemos Sampaio (Salvador) External Art Handlers Editorial Coordinator
Curatorial Assistant Renata Cardoso (Salvador) KBedim Montagem Márion Strecker
Natasha Felix Renilda Santos do Vale (Salvador)
Irene Azambuja (Rio de Janeiro) Transportadora / Shipping Assistentes editoriais /
Museologia / Museology Camila Cardoso (Rio de Janeiro) Millenium Transportes Editorial Assistants
Cátia Louredo Juliana Travassos
Camila Pinho Restauro e conservação / Corretora de seguro / Insurance Natasha Felix
Manuela Pereira Restoration and Conservation Affinité Nilen Cohen
Ana Beatriz Cascardo Libra Cultural
José Marcelo Peçanha Revisora / Copy Editor and
Noan Moreira Produção Acervo da Laje / CICLO CENAS DA CULTURA Proofreader
Production for Acervo da Laje IMATERIAL / Scenes of Daniela Uemura
Pesquisa e documentação / Fabrício Cumming Immaterial Culture Cycle
Research and Documentation 28.7.2021–25.11.2021 Tradutores / Translators
Leno Veras Expografia / Exhibition Design Ana Costa Juan Carlos Urbina
Márion Strecker Juliana Godoy Anderson Buda Júlia Manacorda
Tadeus Mucelli Anelis Assumpção
Aline Siqueira Assistentes de expografia / Beatriz Lemos Revisão da tradução /
Moema Bacelar Exhibition Design Assistants Djuena Tikuna Translation Editor
Cláudio Barbosa Julia Saldanha Elisa Larkin Nascimento Maria Eugênia Freitas
Maurício Sales Gabriela Franco Erika Palomino Roberta Mahfuz
Reinaldo Alves Gabriel Gutierrez
Flávio Augusto Cenotecnia / Exhibition Set Up Gilson Plano Gerente de comunicação e design /
Camuflagem Hanayrá Negreiros Communication and
Produção / Production Haroldo Costa Design Manager
Adriana Salomão Projeto de iluminação / Jô Brandão Erika Palomino
Helena Ramos Lighting Design José Alencar
Ana Terra Samuel Betts José Eduardo Ferreira Santos Coordenação de Design /
Juliana Santos Keyna Eleison Design Coordinator
Iluminação / Lighting Lauande Aires Amanda Lianza
Comunicação e design / Belight Mãe Celina de Xangô
Communication and Design Mauricio Lima Design gráfico / Graphic Design
Erika Palomino Design gráfico / Graphic Design Nadir Cruz Bloco Gráfico
Amanda Lianza Bloco Gráfico Noan Moreira
Domi Valansi Pablo Lafuente Produção gráfica /
Danilo Satou Sinalização / Signage Renata Sampaio Printing Production
Mariana Boghossian Base Comunicação Visual Ubiratã Trindade Lilia Góes
Flávio Vivório Gouvêa Artes Zahy Guajajara
Matheus Freitas Rique Art – Impressão Digital
Fabio Souza
Mônica Villela Assessoria Impressão / Printing
Pandora Pix
Trio Gráfica Digital
Patrocinadores estratégicos / Strategic Sponsors

CRÉDITOS DAS IMAGENS / Instituto Cultural Vale, Petrobras e/and Ternium por
Image Rights meio da/through Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Fabio Souza / MAM Rio (verso da


capa / inside cover, p. 88, 106–109,
111, 112, 114, 115, 117, 118, 123–126, 130, Patrocinadores / Sponsors
132, 134, 135, 137, 139, 142, 146, 147, 150,
151, 188, 189, verso da contracapa / B3, Eletrobras Furnas, Livelo, Mattos Filho, BMA, Itaú,
inside back cover) Taesa, Unipar, BTG Pactual, Gávea Investimentos, UBS,
Wilson Sons, Aliansce Sonae, Becks, Credit Suisse,
Jaime Acioli (p. 84) Icatu, MRS Logística S.A., Sherwin-Williams, Verde Asset
Management e/and Vinci Partners por meio da/through
Rafael Adorján (verso da capa / Lei Federal de Incentivo à Cultura.
inside cover, pp. 28–37, 42, 43, 53–73,
85–87, 89–101, verso da contracapa / Enel e/and Vivo por meio da/through Lei Estadual
inside back cover) de Incentivo à Cultura – Lei do ICMS RJ.

Deloitte, XP Private, Adam Capital, Concremat,


Agradecimentos / Globo e/and Multiterminais por meio da/through
With thanks to Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS RJ.

José Eduardo Ferreira Santos, Gafisa, Fundo Hees de Filantropia e/and Samambaia
Vilma Santos e/and Fabrício Filantropias.
Cumming (Acervo da Laje),
Elisa Larkin Nascimento e/and
Julio Menezes Silva (Museu de Arte
Negra – IPEAFRO), Gabriel Gutierrez Agradecimentos / With thanks to
e/and Ubiratá Trindade
(Centro Cultural Vale Maranhão), Ministério do Turismo e/and Secretaria Especial
Luiz Eduardo Osorio, Hugo Barreto, de Cultura.
Flavia Constant, Christiana
Saldanha e/and Elizabete Moreira Governo do Estado do Rio de Janeiro e/and
(Instituto Cultural Vale), Secretaria de Estado de Cultura e Economia
Instituto Yara Tupynambá. Criativa do Rio de Janeiro.
Artistas na exposição e participantes
do ciclo Cenas da Cultura Imaterial. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e/and
Artists in the exhibition Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
and participants of the Scenes of
Immaterial Culture cycle.
© 2022 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, © 2022 Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
os artistas e os autores. the artists and authors.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode All rights reserved. No part of this publication may be reproduced,
ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma stored in a retrieval system or transmitted, in any form or by any
ou por nenhum meio sem a permissão expressa e por escrito means, without the prior permission expressed in written form
do detentor do copyright. by the copyright owner.

Aviso legal: Todos os esforços foram feitos para identificar os Legal notice: All efforts were made to identify the rights of the
detentores dos direitos das imagens reproduzidos neste livro e owners of the images and the people photographed reproduced
das pessoas fotografadas. Eventuais imperfeições ou omissões in this book. Any eventual imperfections or omissions shall be
serão corrigidos em edições futuras. Por favor, contate-nos corrected in future editions. Please, contact us through the e-mail:
pelo e-mail publicacoes@mam.rio. publicacoes@mam.rio.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M986
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

A memória é uma invenção = Memory is an invention /


Pablo Lafuente; Leno Veras (org.) – Rio de Janeiro:
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2022.
216 pp. il. 76 color. 22 cm × 26 cm.
15,2 mB.; PDF.

ISBN 978-65-88670-11-8 (impresso)


ISBN 978-65-88670-06-4 (recurso eletrônico)

Exposição realizada em 4 set. 2021 – 6 fev. 2022

1. Artes plásticas. 2. Arte contemporânea. 3. História da


arte. 4. Acervo da Laje. 5. Instituto de Pesquisas e Estudos
Afro-Brasileiros. I. Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro. II. Lafuente, Pablo. III. Veras, Leno. IV. Título.

CDD: 069.55

Bibliotecário: Reinaldo Bruno Batista Alves - CRB 6649/2014

Nota de impressão
Este livro foi composto na fonte Romain e impresso em março de 2022
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro pela Ipsis, miolo em papel offset 120 g/m² e capa em papel Supremo
Av. Infante Dom Henrique, 85 Parque do Flamengo Alta Alvura 250g/m².
20021-140
Rio de Janeiro, RJ, Brasil Note on printing
Tel 55 21 3883-5600 This book was typeset in Romain font, and printed in March 2022 by Ipsis
www.mam.rio in offset paper, 120 gsm; cover in Supremo Alta Alvura, 250 gsm.
ISBN 978-65-88670-11-8

versão digital
digital version

Você também pode gostar