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MOÇAMBIQUE HOJE:
antologia da novíssima poesia moçambicana
Alex Dau - Andes Chivangue - Armando Artur - Chagas Levene -
Domi Chirongo - Manecas Cândido - Mbate Pedro - Rinkel -
Rogério Manjate - Sangare Okapi - Tânia Tomé
Ilustrações
João Paulo Quehá
Fotografias
Tomás Cumbana
Organização
Ricardo Riso
Agosto de 2011
1
Revista África e Africanidades - Ano IV - n. 14 – Agosto 2011 – ISSN 1983-2354
ÍNDICE
Palavras Iniciais - Nágila Oliveira dos Santos 3
Apresentação - Ricardo Riso 4
POETAS
Alex Dau 6
Andes Chivangue 14
Armando Artur 23
Chagas Levene 27
Domi Chirongo 36
Manecas Cândido 47
Mbate Pedro 56
Rinkel 66
Rogério Manjate 75
Sangare Okapi 95
Tânia Tomé 105
ENTREVISTA
Domi Chirongo 113
ILUSTRADOR
João Paulo Quehá 115
FOTÓGRAFO
Tomás Cumbana 115
ORGANIZADOR
Ricardo Riso 116
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Revista África e Africanidades - Ano IV - n. 14 – Agosto 2011 – ISSN 1983-2354
Palavras Iniciais
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Revista África e Africanidades - Ano IV - n. 14 – Agosto 2011 – ISSN 1983-2354
Apresentação
A presente antologia pretende contribuir para melhor divulgação de jovens poetas moçambicanos
entre o público brasileiro, ainda de exposição discreta por aqui. Nascidos no decorrer da década de 1970,
esses escritores começam a publicar em suportes como revistas e jornais de Moçambique nos anos 1990,
somente oferecendo a estampa do livro aos seus textos já no primeiro decênio deste século, embora em
tiragens reduzidas que evidenciam os problemas da estrutura editorial do país, por conseguinte, dificultam
o acesso a essas obras, principalmente para os estrangeiros. O único poeta que não se enquadra nessa
geração é Armando Artur, representante da geração Charrua que não possui maior divulgação no Brasil e
se trata de uma escolha pessoal e da admiração poética do organizador que aqui escreve.
Motivado por conhecer esses novos autores e ter contato direto com alguns aqui presentes, decidi
investir no projeto desta antologia para apresentar uma pequena amostragem do atual panorama da poesia
moçambicana. Trata-se de uma excelente oportunidade para sentir como os poetas procuram retrabalhar
temáticas típicas da tradição poética do país em novas propostas estético-formais, mostrando que a tensão
entre o tradicional e as vanguardas contemporâneas revela o vigor do momento poético do país, ora por
uma intensa metapoética, ora pelo erotismo e por um lirismo afetuoso, às vezes o surrealismo marca
presença, assim como a indignação com os problemas sociais e os descaminhos políticos da nação.
Quanto à forma, apenas para citar alguns exemplos, esses poetas navegam pela poesia em prosa, ou pela
versificação livre em versos curtos e rápidos poemas, ou em versos e poemas longos, para além de
experiências com o concretismo, ainda que tímidas. Para os habituados à poesia moçambicana, referências
a poetas como José Craveirinha, Rui Knopfli e nomes mais recentes como Luís Carlos Patraquim e
Eduardo White, principalmente este, são inspiradores para a maioria dos jovens. E em razão do raro
contato com esses poetas, ao final foi inserida uma entrevista que fiz com o poeta Domi Chirongo.
Sendo assim, é gratificante perceber os sopros estimulantes de renovação que esses poetas estão
oferecendo à poesia moçambicana. Alguns ainda com certa timidez; outros, mais ousados, radicalizam
suas propostas, mostram intenso labor, rigor, método, criatividade para desbravar imagens inusitadas e
impactantes revelando que para essa geração a literatura em Moçambique está longe de morrer, mas que se
encontra em processo de busca por uma palavra depurada e de melhor resultado estético, afastando-se de
soluções fáceis e outras vulgaridades.
Encerro com os meus agradecimentos à Profª Nágila Oliveira Santos, idealizadora da revista
África e Africanidades, que desde o primeiro contato se mostrou sensível à proposta da antologia; aos
poetas amigos Manecas Cândido e Domi Chirongo, pela disponibilidade e constante apoio nas
correspondências eletrônicas para realização desta antologia, como também de igual importância o Lucílio
Manjate. Meu sincero agradecimento a todos os participantes – Alex Dau, Andes Chivangue, Armando
Artur, Chagas Levene, Mbate Pedro, Rinkel, Rogério Manjate, Sangare Okapi e Tânia Tomé por
acreditarem neste projeto. Agradecimento especial ao João Paulo Quehá por ceder suas imagens para
ilustrar a antologia e ao Tomás Cumbana, responsável por fotografá-las.
Ricardo Riso
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Revista África e Africanidades - Ano IV - n. 14 – Agosto 2011 – ISSN 1983-2354
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ALEX DAU
Alex Dau é pseudônimo de Paulo Alexandre Dauto da
Conceição.
Em 2009 lança sob chancela da Associação dos Escritores Moçambicanos sua primeira obra
literária intitulada ―Reclusos do Tempo‖. Em 2010 participa numa antologia em sueco de contos
moçambicanos.
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Sedução
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Dupla Solidão
Com a noite
partilho a solidão
e busco-me na imensidão
do céu negro
onde as estrelas
me negam seu brilho
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Terra e Criançãs
Oh terra!
escutai a voz suave
dos teus naturais
vozes de crianças
puras e inocentes
como pássaros
sussurrando entre arvores
na praça do desespero
Oh terra!
escutai brandos contactos
entre o desespero e a esperança
música de presença mortal
de crianças angustiadas
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Nhambaro1
Dançam!
derramam suor alegre
suor de cachaça
que transborda
de poros negros
Se dançam?
dançam nhambaro¹
e como donos da terra
descrevem alegria
na areia de matequenha
1
Nhambaro: Dança tradicional de Quelimane – Zambézia, centro de Moçambique.
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Nicoadala
Não há primavera
nem Outono
o inverno morreu
mesmo antes de nascer
sobreviveu a cacimba
que dá frescura
as manhãs e animo aos homens
de mãos calejadas
que constroem canteiros de mandioca
em Nicoadala
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Licuári
As águas soterram-se
no intimo da terra
o milho murchou
em Licuári
morreu o cântico dos pardais
os milhafres já não voam
na clandestinidade
porque os pintos
Já não piam
Orgasmo aéreo
O orgasmo dos pássaros
é aéreo
e levita em cada ramo morto
da floresta incendiada do interior
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ANDES CHIVANGUE
Andes Adriano Chivangue nasceu a 21 de novembro de 1979, em Xai-
Xai, Moçambique. De 1998 a 2002 foi editor da revista literária Xitende.
Dentre vários, ganhou o prêmio revelação Rui de Noronha, na categoria
de conto, com o título ―A Febre dos Deuses‖, em 2001. Tem textos
publicados em diversas revistas e antologias. Estudou Relações
Internacionais e Diplomacia.
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A tua boca congelada no chão das palavras faz germinar espinhos na língua devorada por
nenúfares outrora ávidos de sol no quintal de mar que foste um dia. É dessa forma que a fala se
prende no musgo dos teus pulmões, e tu cresces, ergues as hastes da tua fúria no lodo agarrado
aos teus dentes donde roseiras brotam em riste à procura dum pântano onde semear um olhar,
um desejo puro de morrer, uma queimadura de amor cicatrizada nos lábios, uma aurora brilhante
em teus seios. Meu corpo de rosas procura-te na multidão de pensamentos adormecidos na
paixão do rouxinol que parte num voo oblíquo e se espeta no navio entre os meus dedos.
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As rosas
As rosas
Se esmagadas contra a palma da mão,
Surpreendem-nos com o cheiro inebriante
De moça virgem que muito cedo
Vê a sua saia incendiada.
As rosas,
Umas vezes transformam-se em vento,
Outras, derramam as pétalas na vertigem da cidade
Quando as pedras
Aquecem a pele dos amantes fortuitos.
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Auto comiseração
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ARMANDO ARTUR
Armando Artur nasceu a 28 de Dezembro de 1962 na província da
Zambézia, Moçambique. Iniciou a sua atividade literária em 1980. Faz
parte da Geração Charrua. Foi Secretário-Geral da Associação dos
Escritores Moçambicanos (AEMO). É membro fundador da
Associação Pan-africana de Escritores (PAWA), da qual é Presidente
para Moçambique. Desempenha, igualmente, as funções de Vice-
Presidente do Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa (FBLP), cargo
que ocupa desde a morte do poeta José Craveirinha. Publicou Espelho
dos Dias (1986), O Hábito das Manhãs (1990), Estrangeiros de Nós
Próprios (1996), Os Dias em Riste (2002), A Quintessência do Ser (2004), No Coração da Noite
(2007). Possui obra dispersa em revistas literárias, livros didáticos, antologias e jornais nacionais e
outras obras traduzidas e publicadas no estrangeiro. É Prêmio Consagração Rui de Noronha –
FUNDAC (2002) e Prêmio Nacional de Literatura José Craveirinha (2003/2004).
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Múmia
(Museu egípcio de Berlim)
Silêncio prozóico
Num acórdão sinistro.
Ritmo prosódico
Num compasso de sistro.
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CHAGAS LEVENE
Chagas Levene nasceu no distrito costeiro de Angoche, província Nampula em
1971.
Tem licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia.
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E mandaste-me passear
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Ao Augusto Tembe
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Amo-te na cama
na rua silenciosa
e por entre os versos que conheces como os teus vestidos
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Minha aurora
Dizes que finjo que tenho um brilho maior que das estrelas.
Hoje ainda podes olhar-me
podes pontapear os poemas que te escrevi
podes pedir meu coração aos teus pés
como se acendesses uma vela
com as roupas de Carnaval com que finjo minha felicidade
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Liberdade
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DOMI CHIRONGO
Domi Chirongo é um terráqueo que nasceu poeta e escritor. Teve uma
infância repleta de viagens com a família, pelas diferentes províncias de
Moçambique.
Fez parte de todos os elencos Diretivos da SOMAS (Sociedade Moçambicana dos Autores), e faz
parte do Corpo Diretivo da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO).
Com efeito, Domi Chirongo é um dos mais destacados escritores da ―2ª República de
Moçambique‖, posterior aos Acordos Gerais de Paz. A sua presença tem sido constante na
apresentação de obras literárias, mesas redondas, conferências, entre outros eventos literários de
intervenção social.
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Atiro-me
Patético
nesta estrada
tudo quero dar
e matar-te de amor
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Tua ...
Tua é a alma iluminando meus tristes caminhos. Não. Não posso ser inimigo dessa alma
escondida em ti. Abre-te. É no teu corpo descoberto, onde encontro o indicador da felicidade.
Por isso, sob o pretexto de combater o stress, tomei a forte decisão de entregar-te o coração.
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S/T
Estas são as cores do coração corajoso tropeçado em ti Pese embora ignores a essência delas Vale
a pena chamar-te à razão Mais uma vez.
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Palhotamento
As crianças gritam
- Dinheiro não traz felicidade.
Eu acrescento
- Imagine a falta dele!
Se hoje sem grana
está difícil ter esposa
padrinho então, nem digo!
Como enfrentar o futuro
assim sozinho?
Desafortunado da humanidade
e da celestialidade,
caminho determinado, envergonhado
apenas com um pau erecto
apenas com um pau preto erecto
que desconsegue ser pão
mandioca então, nem falo
qual apresentação
qual lobolo
qual casamento
qual lua de mel?
Se depois de todo stress
tudo sabe a sal.
Neste arremesso tenho o merecido, sei
minhoca permaneço, mamba não.
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2011
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A bomba arrabentou
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―Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja
feita a vossa vontade...‖,
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Cabeça do velho
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MANECAS CÂNDIDO
Manecas Cândido nasceu a 1 de Julho de 1979 em Quelimane,
Província da Zambézia. Publicou O Sentido das Metáforas (2007),
obra premiada com o Prêmio revelação FUNDAC (2005); co-
organizou a obra Memorial 25 Anos AEMO (2007), assim como as
coletâneas de novos autores: Esperança e Certeza I, II (2006 e
2008), editadas pela Associação dos Escritores Moçambicanos e Da
Astúcia à Vingança do Coelho (2009), editada pela Associação Pan-
Africana dos Escritores - Maputo.
É membro efetivo da Associação dos Escritores Moçambicanos
(AEMO), e tem poesia dispersa em jornais moçambicanos.
Atualmente é docente na Universidade Pedagógica (UP), Delegação de Nampula, e Mestrando
em Educação e Ensino de Biologia na Universidade Pedagógica - Delegação da Beira.
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Cicatriz de infância
onde o entardecer
era o bater exausto das nossas veias
até o dispersar da lua.
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Manhã
O dia acre
uiva prantos de angústia
caminho pela rua à procura de túneis
deparo-me com o céu;
a viver a fome.
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Hidrografia
E
nós
dormimos a ânsia
a ouvir barulho de baldes de água.
Estranhamente,
o Zambeze palmilha ternura,
a geografia do corpo.
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Contingência
A vida arde
e a água impregnada no meu coração
é ténue.
Não sufoca
a tamanha dor.
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Coqueiral da Zambézia
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Granel de Chókwé
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XXVII
Todos os dias
escuto a voz da brisa
no balbuciar suave das acácias.
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MBATE PEDRO
Mbate Pedro, nasceu em 1978 na Cidade de Maputo, capital de
Moçambique. Desde muito cedo interessou-se pela literatura, tendo, no
entanto, iniciado o seu percurso na década de 90. Participou em vários
movimentos literários surgidos na cidade de Maputo. É membro da
Associação dos Escritores Moçambicanos e da União Mundial dos
Escritores Médicos. Colabora na revista brasileira de literaturas africanas
Sarará. Publicou "O Mel Amargo" (2006) e "Minarete de Medos e Outros
Poemas" (2009). É licenciado em Medicina pela Universidade Eduardo
Mondlane
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1.
Este poema
é um disfarce,
um modo despercebido
de furar a segurança
apertadíssima
do idioma e da gramática
do teu corpo.
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80.
O fim
é um meio
de atingir
outro fim
p’ra outro meio
de conseguir
mais um fim
de mais um meio.
O Jornal do opressor
nas mãos do negro
é um meio
de mantê-lo desinformado.
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aqui
um poema faz-se de um grito
agoirento na voragem dos dias
da inglória dos pássaros
da palavra arrombada do insulto fácil
com um búzio com uma revolta
com os mártires de mahlazine
da frustração de um beijo
entre os trôpegos amantes
da ressaca do timbauene
com o forrobodó dos roquetes
com a sacanagem de um paiol
no cu deflagrado de um vagalume
aqui
um poema nasce
de um par de cornos
na cabeça dos mochos
de uma tusa reprimida
na rua de bagamoio
da resignação da naúsea
do arroto das granadas
com a água estagnada
da inspiração estagnada
do preço do pão não estagnado
com o cuspo das formigas
com a tirania de um obus
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uns coleccionam
dívidas mágoas ressacas
pernas estropiadas jardins
de osso nas frontes
dores de cotovelo às carradas
armários com dores implumes
toneladas de livros medíocres
ciúmes de uma vírgula ou até
a naúsea do vómito
outros coleccionam
meia dúzia de garinas
crisântemos margaridas toupeiras
no ânus baboseiras merdas
medos porradas traições
agressões o sexo a despropósito álgida
a noite de um putedo sem chama
amada
quem colecciona o pudor do nu
no cu dos tiranos enfatados?
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Minarete de medos
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Deserção poética
na escuridão da leitura
quem despirá o leitor?
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Lianas do medo
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RINKEL
Rinkel é o pseudónimo de Márcia dos Santos. Moçambicana,
nasceu no dia 10 de Maio de 1977. Reside em Maputo, mas as suas
raízes são da província de Inhambane. É funcionária da Autoridade
Tributária de Moçambique e Mestrada em Linguística Aplicada
pela Universidade de Queensland, Austrália. Tem dois livros de
poesia publicados ―Almas Gémeas‖ de 1998 e ―Revelações‖ de
2006, ambos pela Associação dos Escritores Moçambicanos.
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Maresia
a maresia
não sabia
que nela nadaria
e que nela ficar queria
por mim
nela ficaria
e nunca sairia
a maresia
em sua correria
na orla me encontraria
na maresia
eu nela ficaria
e ela nunca saberia
que foi obra de feitiçaria
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Sinto-me livre
Final de Primavera
Uma tarde de sol
Ao atravessar a estrada
Desvio-me dos carros
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O cúmplice
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Ares paradisíacos
Mar
Areia
Sol
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Minha filhinha
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Chuva no campo
A chuva cai
E o pingar se ouve
Nos telhados de colmo
Cujo barulho embala
Idodos e crianças
A chuva cai
E as esperanças renascem
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ROGÉRIO MANJATE
Rogério Manjate nasceu em Abril de 1972, em Maputo, no bairro da
Malanga, onde cresceu e vive.
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Sonhos Maduros
Em vez de juízo final a mim me preocupa
o sonho final
João Cabral de Melo Neto
Eu ali na fruteira
em cima da mesa – como direi – a mesma
mesa onde a fome do mundo gira
e eu em cima dela vestido de noite:
dois olhos abertos a estrelarem a fruteira de vidro
sobre uma toalha branca bordada de florinhas vermelhas
azuis e verdes a ponto cruz e nódoas de mathapa e vinho
e eu ali
fruta calada sentada na soleira de
uma noite dentro de outra noite de olhos abertos sobre os meus nem adivinho os ácidos e os
açúcares que laboram a química do sonho, o mesmo que torna redondos a fruta e o mundo!
Ah, a faca!....................................................
atalaia-me por dentro e por fora dessa noite
onde apodreço de olhos abertos
gira sobre o meu medo:
serrilha a minha esperança
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não é a ansiedade
que a mim não incomoda
senão deitava fora a expectativa
esta maquineta sem ponteiros que
não se deve enferrujar cá dentro:
quero-me flor na memória
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Oh casa
as estórias que somos
as canções silvestres que se sucedem
nas bocas igualmente silvestres
as danças que nos habitam
são amor do mesmo tambor
e convocam a lua das noites magníficas:
amarramos capulanas
e sentamo-nos no chão em flor
abraçados à mesma fogueira
que destila as velhas karinganas:
pequenas sementes rebentam no coração
a pureza.
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*
As palavras que me apetecem ser
na língua em que sou poema
não fazem milagres:
se o passado é bastante
à escuridão não basta um pirilampo!
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quando eu
só me queria flor na memória.
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Dia e noite
a morte abre uma palavra nova
nas raízes da multidão para respirar
uma respiração tremenda
cujo hálito embacia o céu da tarde na Malanga
da transfusão de imagens
o relâmpago dilacera a treva:
um grito dentro de outro grito
e eles morrem outra vez agarrados à ausência
um outro tempo dentro do mesmo tempo
que não faz com que seja no
vo, nem velho, nem o mesmo.
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atordoado
o passado foge milímetro a milímetro
qual cometa com uma labareda no rabo
planando torto sobre os telhados de zinco.
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ti’Abdul dando de comer aos xiricos na gaiola e querendo na mão outros dois saltitando e
trinando nos galhos da mafurreira que não saltita não trina mas voa na vontade de pássaro que se
anuncia nos quadris das meninas mulheres com latas e bilhas de água na cabeça porque o vento
festeja na roda das saias
as meninas mulheres nem em sonhos sabem dos xiricos na mão vazia do ti’Abdul dois olhos
voando
o olho não sabe pegar no que vê nem mesmo o dos meninos espreitando pelas frestas do caniço
e buracos do zinco às mulheres que tomam banho e baixam a mesma mão da carícia e lavram os
tufos enormes entre as pernas sem que os meninos adivinhem o mundo que lá começa e lá se
perde.
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sequer adivinham para que serve a flor vermelha no par de coxas da Teresana no tanque atrás da
loja do Muchina que lhe paga com um quilo de arroz e feijão e litro de óleo
atrás da cantina no tanque
mas os meninos que espreitam pelas frestas de caniço e buracos de zinco castanho de tão podre
sabem com certeza para que serve o quilo de arroz e feijão e litro de óleo
não no tanque
no estômago
porque onde era fome
nasceu uma flor.
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e o dedo desaponta-se!
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quando
o vento está
de coração aberto
voo antigos
desenhados no teu corpo
germinam fogo.
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(...) e desde aí eu sofro, ignorante, ignorante da minha fatalidade; ignorante se sou o julgado ou o cúmplice, de não saber do
que sofro, sofro de não saber qual é a ferida que você me faz e por onde escorre o meu sangue.
Bernard-Marie Koltès
(Vida diversa)
Minha vida
diversa é redonda
não carece de virar
todo lado é destino
um minuto passa
outro olha
outro ainda sorri
porém no canto
um certo minuto
parado me espera
como olho de boi
atrás da carroça.
E desde aí eu sofro...
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vagabundo
os meus pensamentos
fazem-se nos meus pés:
sou o futuro que o rasto in-augura:
caminho na linha do horizonte
por onde um deus torto
escreverá certo
a minha vida incerta
repleta de paisagens
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(vida inversa)
céu?
sou uma pedra em flor
tenho o céu na ponta do dedo
eu existo em silêncio
na treva da palavra
na garganta do poeta
à espera da centelha
céu...
tenho-o na ponta do dedo
e a mim não falta chão:
minha vida redonda:
todo destino!
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Epílogo para as fantasias do poeta na fruteira com grãos de sol no coração de tanto olhar
o passarinho que tanto cantou até inventá-lo na esperança de sonhos maduros:
FIM
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SANGARE OKAPI
Bacharel em Ensino de Português. Membro efetivo e de
direção da Associação dos Escritores Moçambicanos. Poeta.
Publicou, em 2005, ―Inventário de Angústias ou Apoetose do
Nada‖ e em 2007 ―Mesmos Barcos ou Poemas de Revisitação
do Corpo‖. Está representado na revista brasileira ―Poesia
Sempre‖ (2007). Co-produziu e encenou a peça ―Pereto de
Onti‖, distinguida com mérito no Festival Regional de Teatro
Amador Zona Sul, organizado pela Casa da Cultura do Alto-
Maé (1996). Em 2007, participou, em representação de
Moçambique, no XII Festival de Poesia de Havana, dedicado
a África e Caraíbas. Prêmio Revelação de Poesia AEMO/ICA
(2004) e Menção Honrosa do Prêmio Revelação Rui de
Noronha/FUNDAC (2002).
Foto de Aurélio Furdela.
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Fortaleza
Para G. S.
Tijolo cremado
de sol
vem o vento
com sal
ao mar
dizer baixinho
poesia,
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A língua
é o pão que fermento
os dias todos.
Sílaba
a sílaba.
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Mossuril
mínima elegia ao R. K.
Fechada
toda de agrura,
alguma
amargura
em si trancada,
todo o amor
e mar
é sal e lágrima
no poema.
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Vulva uva
Ao Guita Jr.
à pretexto de Vilankhulo by Night
Todo o fonema
nele contido
sabe a coco,
lanho, que no escroto se
faz sura.
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Cardume de beijos
A brisa, que
da boca escapa
alguma linhagem
marinha
e
oral, me devolve
o cardume de beijos.
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Não sei que manifesta sensação se me apodera, agora. Falta o fogo que queima. O lume que
aquece. O calor. Contudo, gosto desta forma natural da água à nossa volta, ver crescer até tarde.
De outra forma, não poderia viver. Por isso, reinvento-te no meu poema como em Gizé, o
antílope na argila. E não me canso. Repito, apenas: esquece o tempo. O tempo. A razão. Apaga a
cicatriz na epiderme e um escorpião com os dentes esmaga. Leva na boca, ensangüentada, uma
alga verde, verde o sonho da criança que não sonhou para viver. Como um barco, sem porto,
eriça sensível vela do corpo e, frágil, o coração nos sirva de bússola:
os remos dispensa,
temos as mãos
para a navegação.
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TÂNIA TOMÉ
Tânia Tomé (www.taniatome.com), de 29 anos é de Moçambique,
é cantora, compositora, poetisa, declamadora e apresentadora de
espectáculos e televisão. Licenciada em Economia, e pós-graduada
em Auditoria e Controle Gestão, exerce atualmente a sua função de
chefe de crédito e mitigação de riscos em instituição financeira.
Produziu e realizou o primeiro DVD de poesia em Moçambique.
Criou e fundou o conceito e movimento denominado Showesia-
espectáculo de poesia (www.showesia.com)
É presidente da Associação Showesia com objetivos culturais e de
caráter sócio-humanitário, e diretora do Festival Internacional
Showesia.
Representou Moçambique e os Países de Expressão Portuguesa no
Festival Internacional Poetry Africa em 2009, Festival Cup Of
Cultures 2010 (Alemanha Berlin), Festival SADC (Botwana),
Festival Medellin (Colômbia), entre outros variados festivais.
Conta já com vários prêmios internacionais, com destaque para Prêmio Acadêmico da Fundação
Mário Soares (presidente de Portugal), Prêmio Festival da Canção (Porto, Portugal), Prêmio
Soundcity Music Award (África), Prêmio de Música da Organização Mundial de Saúde, Prêmio
de Poesia Millenium Bim.
Lançou em Maio de 2010 em Moçambique seu livro de poesia ―Agarra-me o Sol por Trás‖, que é
uma das referências bibliográficas da Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Finais de 2010 a editora brasileira Escrituras lançou o livro ―Agarra-me
o Sol por trás (e outros escritos & melodias)‖ com prefácio do Brasileiro Floriano Martins e
pintura de Eduardo Eloy.
Faz parte da Antologia World Poetry Almanac 2009 (com 190 poetas do mundo oriundos de 100
países) representando Moçambique e os Palop, e faz parte da Antologia THE BILINGUAL
ANTHOLOGY ON AFRICAN POETRY EM CHINES, lançada em Shangai, China.
Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da Língua e Cultura Portuguesa da
CPLP em Moçambique, ao lado de Mia Couto e Calane da Silva.
É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação dos Músicos
Moçambicanos, da Associação dos Poetas del Mundo e membro correspondente da Academia
Rio-Grandina de Letras do Brasil.
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Sonhamando
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Selvame
Estrelas no chão
deitadas de ventre
Rio incestuoso
onde a noite
tem caroço
Incêndios
Não me salves,
selva-me!
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Rio
Me ancoraste
exactamente aqui
onde te rio.
Ri comigo
meu amor,
vê
como se amplia
o cais.
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Agarra-me
o sol
por trás.
Escuta no vento
a tua mão
secreta.
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Húmus
Por
sobre
a paisagem
macua da infância
um beijo vagaroso
encaracola a memória.
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Meu Moçambique
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Domi Chirongo – Hoje ocorre-me dizer que poesia é o diálogo mais íntimo traduzido na
palavra. É estética, mas também temática. É arte do coração que transcende a razão. É ascensão
para o estágio da liberdade. É o mais erudito desafio a morte. Acho que é isso.
Domi Chirongo – A criação poética nasce em mim a partir das vivências que vou tendo no
quotidiano, associado a alguns momentos marcantes das histórias que leio ou oiço dos outros,
principalmente dos habitantes do meu meio circundante. Na verdade, acho que ela brota
naturalmente e me obriga a registá-la.
Domi Chirongo – Foi através do canto. Em menino o meu desejo foi sempre escrever letras que
fossem entoadas, cantadas e actuassem no povo ao qual estava (e estou) inserido. Como o passar
do tempo comecei a ser confrontado com outras realidades e quando dei por mim já estava nas
leituras e na poesia! Portanto, respondendo directamente a sua pergunta, diria que o meu
primeiro contacto foi harmonioso, ritmado e melódico. E é por isso que ainda estou na poesia e
espero estar para sempre.
RR – Quais escritores influenciaram a sua formação e como esses escritores o motivaram a escrever?
Domi Chirongo – Há tantos. Neste momento lembro-me, por exemplo, de Langston Hughes,
Claude Mckay, Alice Walker, Maya Angelou, Paul Laurence Dunbar, Léopold Sédar Senghor,
Aimé Césaire, Léon Damas, Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa,
T.S. Eliot, Victor Hugo, etc. Esses escritores motivaram-me a escrever, pois a dado passo
comecei a notar a falta de qualquer coisa. Um certo vazio. Não sei bem qual, mas me achava
escolhido para preencher esse vazio. Penso que isso foi decisivo e crucial para me incentivar a
continuar a escrever.
RR – Como é a relação da sua geração com as gerações de escritores anteriores, como Charrua, assim como nomes
históricos que participaram do processo de independência do país?
RR – Como o senhor percebe o panorama literário moçambicano contemporâneo, considerando novos aspectos
estético-formais e inovações temáticas em diálogo ou em confronto com a tradição literária do país, aqui me referindo
a nomes como José Craveirinha, Rui Knopfli, Mia Couto, Luís Carlos Patraquim e Eduardo White?
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RR – Hoje é mais fácil fazer literatura em Moçambique? Como o senhor percebe o mercado editorial e a formação
de um público-leitor?
Domi Chirongo – Acho ser mais difícil! Hoje o custo de vida está elevadíssimo para muitos e
poucos têm acesso a recursos. E esses poucos, por sinal alfabetizados, têm muito pouco interesse
pela literatura por várias razões. Uma delas prende-se com a ideia segundo a qual "a literatura não
dá dinheiro"!
RR – Como o senhor sente a relação entre os países de língua portuguesa, tanto no plano de política cultural entre
os governos quanto no plano literário por parte dos escritores e pesquisadores?
Domi Chirongo – Quanto à política cultural dos países de língua oficial portuguesa, se há
alguma, não se entende e não se sente. Entretanto, a relação no plano literário por parte dos
escritores e pesquisadores é boa, mas poderia ser melhor se houvesse mais apoios de entidades
competentes.
RR – Para finalizar, uma mensagem para o público brasileiro e espaço livre para suas considerações finais.
Domi Chirongo – Para finalizar gostaria de deixar o meu apreço e Khanimambo ao povo
brasileiro pelo estabelecimento da ponte da solidariedade afectuosa. O meu singelo apelo para o
consumo da novíssima poesia moçambicana, pois é maning nice.
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ILUSTRAÇÕES DE
João Paulo Quehá
João Paulo Quehá. Nasceu em Maputo no ano de 1975. Iniciou a
carreira artística em 1991 no atelier do pintor Tinga. Concluiu o 5º
ano de Gráficas na Escola de Artes Visuais em 1998. Participou de
diversas exposições coletivas de pintura em Moçambique e na Suíça.
Tem obras em coleções particulares em Moçambique e outros nove
países.
FOTOGRAFIAS DE:
Tomás Cumbana
Tomás Cumbana. Nascido em Maputo, Moçambique, onde vive e
trabalha como fotógrafo freelancer, fez o curso de fotografia no Centro
de Documentação e Formação Fotográfica em Maputo, quando
trabalhava como impressor fotográfico no mini laboratório a cores na
mesma cidade, no início foi atraído para fotográfica pela fotografia
artística, que o levou a várias experiências do trabalho de gênero. Como
impressor fotográfico processou (revelou e imprimiu) trabalhos de
vários fotógrafos de renomes nacionais e estrangeiros, fato que lhe
conferiu uma visão ampla de fotografia.
Assuntos contemporâneos que afetam o mundo, a forma como soluciona-los e o que o concentra
nos seus trabalhos actualmente, alargando mais os meios que usa para o vídeo.
Já expôs em Moçambique e fora, e os seus trabalhos são publicados em jornais e revistas pelo
mundo.
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ORGANIZADOR
Ricardo Riso
Ricardo Riso é o pseudônimo de Ricardo Silva Ramos de Souza,
nascido a 10/04/1974, no Rio de Janeiro – Brasil, graduado em
Letras pela Universidade Estácio de Sá; concluiu (ouvinte) a pós-
graduação lato sensu em História, Cultura e Literaturas Africanas e
Afro- brasileiras da Universidade Castelo Branco; colaborador da
seção de crítica literária do periódico científico ―África e
Africanidades‖ – www.africaeafricanidades.com.br – (ISSN 1983-
2354); autor do blog ―Riso – Sonhos não envelhecem‖ –
http://ricardoriso.blogspot.com. Desde outubro de 2009 colabora
com resenhas literárias para o semanário cabo-verdiano ―A Nação‖; é titular da coluna
―LiterÁfricas‖ - http://literaciaricardoriso.blogspot.com/, de ―Literacia Revista Cultural‖ –
ttp://www.aliteracia.blogspot.com/.
Para além da atividade crítica, preocupa-se com o acesso do público brasileiro aos livros dos
autores africanos de língua portuguesa. Dentro desse objetivo, concretizou parcerias com as
editoras Artiletra (Cabo Verde), União dos Escritores Angolanos e escritores como António de
Névada (Cabo Verde) e Zaida Sanches (Cabo Verde), e hoje seus livros são encontrados para
venda na Kitabu – Livraria Negra, no Rio de Janeiro. Na mesma livraria, organizou lançamentos
de livros de João Tala (Angola) e Tânia Tomé (Moçambique).
Fez texto de aba de capa de ―Li Cores & Ad Vinhos‖, livro de poesia do cabo-verdiano Filinto
Elísio publicado pela Letras Várias (Lisboa, Portugal) em 2009; Prefácio de ―Contos de Basileia‖,
livro de contos do cabo-verdiano Tchalé Figueira publicado pela Dada Editora (Praia, Cabo
Verde) em 2011; Texto de contracapa de ―Midju di Fogo – Azágua e outras memórias de Cabo
Verde‖, livro de poesia infanto-juvenil do cabo-verdiano Pedro Matos publicado pela Nandyala
Editora (Belo Horizonte, Brasil) em 2011; e Prefácio de ―As Mãos do Tempo‖, livro de poesia do
angolano Nok Nogueira a ser publicado pela União dos Escritores Angolanos (Luanda, Angola)
em 2011.
E-mail: risoatelie@gmail.com
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