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PARA O
PROFESSOR
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Caro professor,
Diários de um Clássico
Contextualização Histórica
Entrevista Imaginária
Caro professor,
Bom trabalho!
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PROJETO LEITURA E DIDATIZAÇÃO
Dialogismos possíveis
Leitura 1
Realismo, realidade e ficção
Estilo do final do século XIX, o Realismo tomou por base a ob-
servação atenta do entorno social para desenvolver seus princi-
pais pensamentos e sistematizar conceitos ao modo da Filoso-
fia. Foi desse olhar mais acurado que essa estética ganhou seu
nome. Um olhar que cuidava das ações exteriores do homem,
mas que se interessava mais pelos caminhos interiores da es-
pécie. A descrição do desejo não revelado, as necessidades con-
traídas na infância, as tradições morais em conflito constante
com a consciência formaram boa parte da “matéria realista”.
TEXTO 1
CAPÍTULO XI. O MENINO É PAI DO HOMEM
Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci na-
turalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os
gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são
menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta
dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, veja-
mos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino
diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais
malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e vo-
luntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma
escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que
estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um
punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura,
fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce
“por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um
moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha
as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de
freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fus-
tigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia –
algumas vezes gemendo –, mas obedecia sem dizer palavra,
ou, quando muito, um “Ai, Nhonhô!”, ao que eu retorquia:
“Cala a boca, besta!”. Esconder os chapéus das visitas, deitar
rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabe-
leiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras mui-
tas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil,
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mas devo crer que eram também expressões de um espírito
robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e
se às vezes me repreendia à vista de gente, fazia-o por sim-
ples formalidade: em particular dava-me beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da mi-
nha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes
os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos
homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os
chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
Outrossim, afeiçoei-me à contemplação da injustiça hu-
mana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classificá-la por
partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao
sabor das circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-
me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações;
mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam
os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a
faz viver, para se tornar uma vã fórmula. De manhã, antes
do mingau, e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me
perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores;
mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e
meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara,
e exclamava a rir: “Ah! Brejeiro! Ah! Brejeiro!”
Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senho-
ra fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula,
sinceramente piedosa – caseira, apesar de bonita, e modesta,
apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O ma-
rido era na terra o seu deus. Da colaboração dessas duas cria-
turas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa
boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa.
Meu tio cônego fazia às vezes alguns reparos ao irmão; dizia-
lhe que ele me dava mais liberdade do que ensino, e mais
afeição do que emenda; mas meu pai respondia que apli-
cava na minha educação um sistema inteiramente superior
ao sistema usado; e por este modo, sem confundir o irmão,
iludia-se a si próprio.
De envolta com a transmissão e a educação, houve ain-
da o exemplo estranho, o meio doméstico. Vimos os pais;
vejamos os tios. Um deles, o João, era um homem de língua
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solta, vida galante, conversa picaresca. Desde os onze anos
entrou a admitir-me às anedotas reais ou não, eivadas todas
de obscenidade ou imundície. Não me respeitava a adoles-
cência, como não respeitava a batina do irmão; com a di-
ferença que este fugia logo que ele enveredava por assunto
escabroso. Eu não; deixava-me estar, sem entender nada, a
princípio, depois entendendo, e enfim achando-lhe graça.
No fim de certo tempo, quem o procurava era eu; e ele gos-
tava muito de mim, dava-me doces, levava-me a passeio. Em
casa, quando lá ia passar alguns dias, não poucas vezes me
aconteceu achá-lo, no fundo da chácara, no lavadouro, a pa-
lestrar com as escravas que batiam roupa; aí é que era um
desfiar de anedotas, de ditos, de perguntas, e um estalar de
risadas, que ninguém podia ouvir, porque o lavadouro ficava
muito longe de casa. As pretas, com uma tanga no ventre, a
arregaçar-lhes um palmo dos vestidos, umas dentro do tan-
que, outras fora, inclinadas sobre as peças de roupa, a batê-
las, a ensaboá-las, a torcê-las, iam ouvindo e redargüindo às
pilhérias do tio João, e a comentá-las de quando em quando
com esta palavra:
– Cruz, diabo!... Este sinhô João é o diabo!
Bem diferente era o tio cônego. Esse tinha muita aus-
teridade e pureza; tais dotes, contudo, não realçavam um es-
pírito superior, apenas compensavam um espírito medíocre.
Não era homem que visse a parte substancial da Igreja; via
o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepe-
lizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia que do altar.
Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração
dos mandamentos. Agora, a tantos anos de distância, não
estou certo se ele poderia atinar facilmente com um trecho
de Tertuliano, ou expor, sem titubear, a história do símbolo
de Nicéia; mas ninguém, nas festas cantadas, sabia melhor o
número e caso das cortesias que se deviam ao oficiante. Cô-
nego foi a única ambição de sua vida; e dizia de coração que
era a maior dignidade a que podia aspirar. Piedoso, severo
nos costumes, minucioso na observância das regras, frouxo,
acanhado, subalterno, possuía algumas virtudes, em que era
exemplar, mas carecia absolutamente da força de as incutir,
de as impor aos outros.
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Não digo nada de minha tia materna, D. Emerenciana,
e aliás era a pessoa que mais autoridade tinha sobre mim;
essa diferençava-se grandemente dos outros; mas viveu pou-
co tempo em nossa companhia, uns dois anos. Outros pa-
rentes e alguns íntimos não merecem a pena de ser citados;
não tivemos uma vida comum, mas intermitente, com gran-
des claros de separação. O que importa é a expressão geral
do meio doméstico, e essa aí fica indicada – vulgaridade de
caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frou-
xidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra
e desse estrume é que nasceu esta flor.
TEXTO 3
O NAVIO NEGREIRO (FRAGMENTOS)
IV
[...]
[...]
VI
TEXTO 4
O CORTIÇO - Capítulo xxiii (FRAGMENTOS)
Leitura 2
Mágoa, pessimismo e morte: máscaras da posteridade 301
TEXTO 5
304
TEXTO 7
ELOGIO DA MORTE
Não sei quem foi que disse que a Vida é feita pela Mor-
te. É a destruição contínua e perene que faz a vida.
A esse respeito, porém, eu quero crer que a Morte mereça
maiores encômios. É ela que faz todas as consolações das nos-
sas desgraças; é dela que nós esperamos a nossa redenção; é ela
a quem todos os infelizes pedem socorro e esquecimento.
Gosto da Morte porque ela é o aniquilamento de todos
nós; gosto da Morte porque ela nos sagra. Em vida, todos
nós só somos conhecidos pela calúnia e maledicência, mas,
depois que Ela nos leva, nós somos conhecidos (a repetição é
a melhor figura de retórica) pelas nossas boas qualidades. É
inútil estar vivendo, para ser dependente dos outros; é inútil
estar vivendo para sofrer os vexames que não merecemos.
A vida não pode ser uma dor, uma humilhação de contí-
nuos e burocratas idiotas; a vida deve ser uma vitória. Quan-
do, porém, não se pode conseguir isto, a Morte é que deve vir
em nosso socorro. A covardia mental e moral do Brasil não
permite movimentos de independência; ela só quer acom-
panhadores de procissão, que só visam lucros ou salários
nos pareceres. Não há, entre nós, campo para as grandes
batalhas de espírito e inteligência. Tudo aqui é feito com o
dinheiro e os títulos. A agitação de uma idéia não repercute
na massa e quando esta sabe que se trata de contrariar uma
pessoa poderosa, trata o agitador de louco.
Estou cansado de dizer que os malucos foram os refor-
madores do mundo.
Le Bon dizia isto a propósito de Maomé, na sua Civili-
sation des Arabes, com toda a razão; e não há Chanceler falsi-
ficado e secretária catita que o possa contestar.
São eles os heróis; são eles os reformadores; são eles os
iludidos; são eles que trazem as grandes idéias, para melho-
ria das condições da existência da nossa triste Humanidade.
Nunca foram os homens de bom senso, os honestos
burgueses ali da esquina ou das secretarias “chics” que fize-
ram as grandes reformas no mundo.
Todas elas têm sido feitas por homens, e, às vezes mes-
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mo mulheres, tidos por doidos.
A divisa deles consiste em não ser panurgianos e seguir
a opinião de todos, por isso mesmo podem ver mais longe
do que os outros.
Se nós tivéssemos sempre a opinião da maioria, estaría-
mos ainda no Cro-Magnon e não teríamos saído das cavernas.
O que é preciso, portanto, é que cada qual respeite a opi-
nião de qualquer, para que desse choque surja o esclarecimento
do nosso destino, para própria felicidade da espécie humana.
Entretanto, no Brasil, não se quer isto. Procura-se aba-
far as opiniões, para só deixar em campo os desejos dos po-
derosos e prepotentes.
Os órgãos de publicidade por onde se podiam elas reve-
lar são fechados e não aceitam nada que os possa lesar.
Dessa forma, quem, como eu, nasceu pobre e não quer
ceder uma linha da sua independência de espírito e inteli-
gência, só tem que fazer elogios à Morte.
Ela é a grande libertadora que não recusa os seus benefí-
cios a quem lhe pede. Ela nos resgata e nos leva à luz de Deus.
Sendo assim, eu a sagro, antes que ela me sagre na mi-
nha pobreza, na minha infelicidade, na minha desgraça e na
minha honestidade. Ao vencedor, as batatas!
TEXTO 9
CAPÍTULO LIX. UM ENCONTRO
TEXTO 10
QUASE
310
.............................................................
.............................................................
SÁ-CARNEIRO, Mario de. Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
TEXTO 11
CAPÍTULO CLX. DAS NEGATIVAS
Leitura 3
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Cientificismo, digressões e flânerie na periferia do capitalismo
Ainda que Brás Cubas não descreva, com detenção, suas ca-
minhadas pela cidade do Rio, ao chegar ao fim das Memórias
póstumas qualquer leitor atento fica com a sensação de ter
caminhado muito ao lado do protagonista. O modo como
conduz a narrativa, “como os bêbados” (capítulo “O senão
do livro”), é, talvez, a digressão que lemos em: “Eis-nos a ca-
minhar sem saber até onde, nem por que estradas escusas;
problema que me assustou, durante algumas semanas, mas
cuja solução entreguei ao destino”, do capítulo “Destino”.
O livre caminhar dos pensamentos durante a exibição
da trama é a mais original característica formal do romance.
Nos deteremos, um pouco, nessa estratégia a partir também
de outros olhares para a mesma questão. Leia os textos pro-
postos com bastante cuidado, levando em consideração o
que se afirmou no início destes exercícios de leitura crítica:
“o Realismo tomou por base a observação atenta do entorno
social para desenvolver seus principais pensamentos e siste-
matizar conceitos ao modo da Filosofia. Foi desse olhar mais
acurado que essa estética ganhou seu nome. Um olhar que
cuidava das ações exteriores do homem, mas que se interes-
sava mais pelos caminhos interiores da espécie”.
TEXTO 12
AO CORRER DA PENA (DOIS FRAGMENTOS)
CRÔNICAS PUBLICADAS NO CORREIO MERCANTIL E NO DIÁRIO DO RIO
ENTRE 1854 E 1855
Rio, 29 de outubro
Quando estiverdes de bom humor e numa excelente
disposição de espírito, aproveitai uma dessas belas tardes de
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verão como tem feito nos últimos dias, e ide passar algumas
horas no Passeio Público, onde ao menos gozareis a sombra
das árvores e um ar puro e fresco, e estareis livres da poeira
e do incômodo rodar dos ônibus e das carroças.
Talvez que, contemplando aquelas velhas e toscas ala-
medas com suas grades quebradas e suas árvores mirradas
e carcomidas, e vendo o descuido e a negligência que reina
em tudo isto, vos acudam ao espírito as mesmas reflexões
que me assaltaram a mim e a um amigo meu, que há cerca
de um ano teve a habilidade de transformar em uma semana
uma tarde no Passeio público.
Talvez pensareis como nós que o estrangeiro que
procurar nestes lugares, banhados pela viração da tarde,
um refrigério à calma abrasadora do clima deve ficar fa-
zendo bem alta idéia, não só do passeio como do público
desta corte.
[...]
Contudo parece-me que o estado vergonhoso do nosso
Passeio Público não é unicamente devido à falta de zelo da
parte do governo, mas também aos nossos usos e costumes,
e especialmente a uns certos hábitos caseiros e preguiçosos,
que têm a força de fechar-nos em casa dia e noite.
Nós que macaqueamos dos franceses tudo quanto eles
têm de mau, de ridículo e de grotesco, nós que gastamos
todo o nosso dinheiro brasileiro para transformar-nos em
bonecos e bonecas parisienses, ainda não nos lembramos
de imitar uma das melhores coisas que eles têm, uma coisa
que eles inventaram, que lhes é peculiar e que não existe
em nenhum outro país a menos que não seja uma pálida
imitação: a flânerie.
Sabeis o que é a flânerie? É o passeio ao ar livre, feito
lenta e vagarosamente, conversando ou cismando, contem-
plando a beleza natural ou a beleza da arte; variando a cada
momento de aspectos e de impressões. O companheiro in-
separável do homem quando flana é o charuto; o da senhora
é o seu buquê de flores.
O que há de mais encantador e de mais apreciável na
flânerie é que ela não produz unicamente o movimento ma-
terial, mas também o exercício moral. Tudo no homem pas-
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seia: o corpo e a alma, os olhos e a imaginação. Tudo se agita;
porém é uma agitação doce e calma, que excita o espírito e a
fantasia, e provoca deliciosas emoções.
A cidade do Rio de Janeiro, com seu belo céu de azul
e sua natureza tão rica, com a beleza de seus panoramas e
de seus graciosos arrabaldes, oferece muitos desses pon-
tos de reunião, onde todas as tardes, quando quebrasse a
força do sol, a boa sociedade poderia ir passar alguns ins-
tantes numa reunião agradável, num círculo de amigos e
conhecidos, sem etiquetas e cerimônias, com toda a liber-
dade do passeio, e ao mesmo tempo com todo o encanto
de uma grande reunião.
Não falando já do Passeio Público, que me parece injus-
tamente votado ao abandono, temos na Praia de Botafogo um
magnífico boulevard como talvez não haja um em Paris, pelo
que toca à natureza. Quanto à beleza da perspectiva, o adro da
pequena igrejinha da Glória é para mim um dos mais lindos
passeios do Rio de Janeiro. O lanço d’olhos é soberbo: vê-se
toda a cidade à vol d’oiseau, embora não tenha asas para voar a
algum cantinho onde nos leva sem querer o pensamento.
Mas entre nós ninguém dá apreço a isto. Contanto que
se vá ao baile do tom, à ópera nova, que se pilhem duas ou
três constipações por mês e uma tísica por ano, a boa so-
ciedade se diverte; e do alto de seu cupê aristocrático lança
um olhar de soberano desprezo para esses passeios pedes-
tres, que os charlatães dizem ser uma condição da vida e
de bem-estar, mas que enfim não têm a agradável emoção
dos trancos, e não dão a um homem a figura de um boneco
de engonço a fazer caretas e a deslocar os ombros entre as
almofadas de uma carruagem.
A boa sociedade não precisa passear; tem à sua disposição
muitos divertimentos, e não deve por conseguinte invejar esse
mesquinho passatempo do caixeiro e do estudante. O passeio
é a distração do pobre, que não tem saraus e reuniões.
Entretanto, se por acaso encontrardes o diabo Coxo de
Lesage, pedi-lhe que vos acompanhe em alguma nova excur-
são aérea, e que vos destampe os telhados das casas da cida-
de; e, se for noite em que a Charton esteja doente e o Cassino
fechado, vereis a atmosfera de tédio e monotonia que en-
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contrareis nessas habitações, cujos moradores não passeiam
nunca, porque se divertem de uma maneira extraordinária.
Felizmente creio que vamos ter breve uma salutar mo-
dificação nesta maneira de pensar. As obras para a ilumi-
nação a gás do Passeio Público e alguns outros reparos e
melhoramentos necessários já começaram e brevemente
estarão concluídos.
Autorizando-se então o administrador a admitir o exer-
cício de todas essas pequenas indústrias que se encontram
nos passeios de Paris para comodidade dos freqüentadores,
e havendo uma banda de música que toque a intervalos, tal-
vez apareça a concorrência, e o Passeio comece a ser um pas-
satempo agradável. [...]
RIO, João do. A rua. In: A alma encantadora das ruas. Organização Raúl
Antelo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 45-53.
5. Em muitos momentos de sua crônica, João do Rio faz uso
da prosopopéia e personifica a rua, ou seja, trata a rua como
um ser vivo com atributos humanos. De que modo essas
expressões revelam a opinião do autor sobre a flânerie?
A opinião do autor vê amparo nas ruas por ele descritas, uma
vez que sustentam a cultura popular em detrimento da cultura
pedante pseudo-erudita, como se vê, por exemplo, no seguinte
trecho: “Os Cândido de Figueiredo do universo estafam-se em
juntar regrinhas para enclausurar expressões; os prosadores
bradam contra os Cândido. A rua continua, matando substan-
tivos, transformando a significação dos termos, impondo aos
dicionários as palavras que inventa, criando o calão que é o
patrimônio clássico dos léxicons futuros. A rua resume para o
animal civilizado todo o conforto humano”.
II – Os devaneios cientificistas
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